nema (s.) - fedor, mau cheiro: Xe moaîu-te i nema mã! - Ah, mas como me importuna o fedor dele! (Anch., Teatro, 8); îurunema - fedor de boca (VLB, I, 136); (adj.: nem) - fedorento, mal-cheiroso, fétido: Eîori, mba'enem! - Vem, coisa fedorenta! (Anch., Teatro, 44); -Akó tubixanẽmbûera? - Aqueles velhos reis fedorentos? (Anch., Teatro, 64); Xe nem. - Eu sou fedorento. (VLB, I, 136)
Gramática
Playground
Nheengatu
Mbyá
Citando
Dicionário de Tupi antigo
A língua indígena clássica do Brasil
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fedor - nema; katinga
fedorento - nem (v. nema); rem (v. rema); kating (v. katinga)
mã (interj.) - Ah!, Ó! Oh! (Diz o que deseja, admira ou lastima-se.) (Fig., Arte, 147): Xe moaîu-te i nema mã! - Ah, como me importuna o fedor dele! (Anch., Teatro, 8); N'aîukáî xûé temõ mã. - Ah, oxalá não o mate eu! (Fig., Arte, 27); Xe reîtyk korine mã! - Ah, vencer-me-ão hoje! (Anch., Teatro, 26); Ogûerasó temõ sapy'a ybakype Tupana xe ruba mã! - Ah, oxalá Deus logo levasse meu pai para o céu! (Fig., Arte, 99)
rema (s.) - fedor; (adj.: rem) - fedorento: Xe ybĩî-rem. - Eu tenho bafo fedorento. (VLB, I, 136) (o mesmo que nema - v.)
-te3 (part.) - como (no sentido de quão intensamente, quão grandemente): Aîpotá-te kûé kunhã-mendara mã! - Ah, como desejo aquela mulher casada! (Anch., Doutr. Cristã, II, 101); Xe moaîu-te i nema mã! - Ah, como me importuna o fedor dele! (Anch., Teatro, 8)
amanasãî-nema (etim. - mandaçaia fedorenta) (s.) - abelha meliponídea (Piso, De Med. Bras., 178)
enema - o mesmo que enena (v.) (Libri Princ., vol. I, 153)
itaîunema (etim. - ouro fedorento) (s.) - cobre (VLB, I, 76)
itanema (etim. - metal fedorento) (s.) - cobre (VLB, I, 76)
itanemarepoti (etim. - ferrugem de metal fedorento) (s.) - azinhavre, matéria verde que se forma na superfície dos objetos de cobre pela ação dos ácidos ou da umidade; verdete (VLB, I, 49)
karagûatanema (ou karagûatarema) (etim. - caraguatá fedorento) (s.) - babosa, planta liliácea (VLB, I, 121)
manema (s.) - indivíduo que não capturou nenhum adversário; MANEMA, covarde, poltrão, palerma (forma de tratamento injurioso) (VLB, II, 40); pobre, infeliz, azarado, malsucedido (D'Abbeville, Histoire, 359): Xe abé taîasugûaîa; xe manhana, manembûera... - Eu também sou um porco; eu sou um espião, um velho poltrão... (Anch., Teatro, 44); Epytá! Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? Manemusu! Ambu'a! - Fica! Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? Palermão! Centopéia! (Anch., Teatro, 64); Pepytá, manemusu! - Ficai, palermões! (Anch., Teatro, 172)
nhandynema (etim. - óleo fedorento) (s.) - óleo de tubarão ou de baleia (VLB, I, 49)
panema (m) (s.) - carência, imperfeição, inutilidade; azar, desdita, desgraça; o mofino, o desgraçado; (adj.: panem) - PANEMA, carente (falto de algo), imperfeito, azarado (na caça ou na pesca), imprestável, inútil; infeliz na vida, desgraçado, desditoso, aziago; (xe) ficar sem porção ou sem presa (numa distribuição): Xe panem (mba'e) resé. - Eu fico sem porção nas coisas (isto é, não recebo nada numa partilha). (VLB, II, 40, adapt.)
piranema (etim. - peixe fedorento) (s.) - PIRANEMA, PIRAPEMA, peixe marítimo da família dos priacantídeos, de olhos grandes (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 145)
pirapanema (etim. - peixe imprestável) (s. astron.) - 1) estrela-d'alva (VLB, I, 130); 2) o planeta Mercúrio (VLB, II, 36)
sîesîepanema (etim. - ciecié imprestável) (s.) - CIECIÉ-PANEMA, crustáceo da família dos ocipodídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 185)
sirinema (etim. - siri fedorento) (s.) - var. de SIRI (v.) (VLB, I, 67)
Caburunema (BA). De kabaru (VLB, II, 115) + nem + -a: cavalo fedorento.
Capanema (MT). De ka'a + panem + -a: mata imprestável, mata azarada (i.e., que não tem caça).
Curuapanema (rio do PA). De keîruá + panem + -a: curuá imprestável. (v. Curuá)
Ibitinema (RJ). De ybytyra + nem + -a: morro fedorento.
Inema (BA). De 'y + nem + -a: água fedorenta.
Ipanema (bairro do RJ). De 'y + panem + -a: rio aziago, rio azarado (i.e., sem peixes).
Maruimpanema (PA). De marigûi + panem + -a: maruins imprestáveis, insetos ceratopogonídeos.
Paranapanema (rio que separa os estados de SP e PR). Da língua geral meridional paraná + panema: rio azarado (v. Paraná).
Piranema (rio do RJ). De pirá + nem + -a: peixes fedorentos.
Pirapanema (MG). De pirá + panem + -a: peixes imprestáveis.
Upanema, Ponta (RN). A mesma etim. de Ipanema (v.).
azar - panema
imprestável - panem/a
inútil - panem/a
NOTA - No P.B., PANEMA significa, também, "encosto" ou "a vítima de feitiço", "o que tem encosto ou mal-feito". PIRAPANEMA é, no P.B., trecho de um rio onde há pouco peixe.
covardia - abangaba; panema (m); membeka
infeliz - poreaûsub/a; panem/a
NOTA - Daí, o nome geográfico INEMA (BA) (v. p. 386).
NOTA - Daí, o nome geográfico MARUIMPANEMA (localidade do PA), etc. (v. p. 386).
'atybak (xe) (v. da 2ª classe) - voltar o rosto para trás: Urubu mba'enema 'arybo nhemoîereba... îabé, nde atybak. - Como o revolutear de um urubu sobre coisas fedorentas, tu voltas o rosto para trás. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111-112)
monem (v.tr.) - fazer feder, tornar fétido: Xe 'anga omonem tekoangaîpaba. - Minha alma fez feder a vida pecaminosa. (Anch., Poemas, 106); ...Kó taba monema moropotara pupé. - Fazer feder esta aldeia com o desejo sensual. (Anch., Teatro, 138)
NOTA - Daí se originam inúmeros nomes geográficos (v. p. 386) e substantivos comuns no P.B.: PIRAÍ, município situado no Vale do Paraíba, (RJ) (v. p. 386); PIRAPANEMA, trecho de rio onde o peixe é escasso; PIRAQUARA, alcunha que se dá aos habitantes das margens do rio Paraíba do Sul (RJ e SP), etc.
nhemoîereb (etim. - fazer-se virar) (v. intr.) - revolutear, girar ● nhemoîerepaba - tempo, lugar, modo, etc. de revolutear, de girar; o ato de revolutear, o giro: Urubu mba'enema 'arybo nhemoîereba... îabé... - Como o revolutear de um urubu sobre coisas fedorentas... (Anch., Doutr. Cristã, II, 111-112)
NOTA - Desse termo originam-se muitos nomes geográficos no Brasil: PERNAMBUCO, PARANAGUÁ, etc. (v. p. 386). Na língua geral setentrional e na meridional, paranã passou a significar rio (Arronches, O Caderno da Lingoa, p. 230), figurando na toponímia também com esse sentido: rio PARANAPANEMA, rio PARANÁ, JI-PARANÁ (v. p. 386). Hoje, na Amazônia, PARANÃ é braço de rio caudaloso, separado deste por uma ou mais ilhas (in Dicion. Caldas Aulete).
Paraná (estado do Brasil). Paraná é palavra das línguas gerais coloniais. Em tupi antigo (séculos XVI e XVII), paranã significava mar (Fig., Arte, 130-131) ou água do mar (VLB, I, 24). Nos textos setecentistas o termo paraná ou paranã já aparece, inclusive na toponímia, com o sentido de rio (rio Paranapanema, rio Paraná, Ji-Paraná, etc.). "(...) A palavra que significa rio é Paraná" (Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio [1774], p. 113).
Umuarama - Cidade do Paraná. Neologismo feito por nós, com elementos tupis e significa: lugar ensolarado para o encontro de amigos. A primeira forma foi EMBUARAMA, de embu, lugar; ara, cheio de luz, de claridades, bom clima. Depois suavizamos (sic) para Umuarama. A terminação ama é um coletivo, equivalendo a muitos, reunião, etc. A palavra cunhada por nós agradou tanto que há hotéis, cinemas, parques, clubes. Mas designa especialmente a progressista cidade do Estado do Paraná.