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Dicionário de Tupi antigo

A língua indígena clássica do Brasil

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raẽ (adv.) - antes, primeiro, primeiramente, em primeiro lugar: Emonã îé abá rekóû raẽ... - Dizem que o homem fez assim antes. (Anch., Doutr. Cristã, II, 100); Abápe îa'u raẽne? - Quem devoraremos primeiro? (Anch., Teatro, 64) [o mesmo que ranhẽ (v.)]
îé2 (part.) - dizem que, diz-se que (VLB, I, 104): Emonã îé abá rekóû rãé. - Dizem que o homem fez assim antes. (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
mosasãî (v.tr.) - 1) espalhar, dispersar: Oré 'anga t'oîosu, sekopoxy mosasãîa. - Que nossa alma ele visite, dispersando os vícios dela. (Anch., Teatro, 118); 2) tornar notório: -"Emonã îé abá rekóû rãé" erépe, ...sekomemûãagûerĩ mosasãîa? - Disseste: "-Assim é que o homem agiu", tornando notórias suas pequeninas maldades? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
pûeraba'ub (ou pûeraeraba'ub) (v. intr.) - convalescer (VLB, I, 81)
ybyrarerekoara (ou ybyraerekoara) (etim. - guardião da cerca de moirões) (s.) - 1) alcaide (VLB, I, 29); 2) governador, governante: Pilatos ybyrarerekoara supé i popûasaba resebé serasóû. - Levaram-no, com suas ataduras, para Pilatos, o governador. (Ar., Cat., 58); 3) juiz (VLB, II, 16)
Guajuvira (PR). De gûaraembira, peixe da família dos gimnotídeos. Pode ser também uma palavra da língua geral meridional que designa um arbusto da família das poligonáceas.
Guarabira (PB). De gûaraembira - guaraviras, peixes da família dos gimnotídeos.
NOTA - Daí, no P.B., GUIRAENOIA ("a chama-pássaros"), ave da família dos cerebídeos.
O escritor Guimarães Rosa usou tal sufixo para a criação do nome de uma obra sua: SAGARANA ("o que parece uma saga").
estrangeiro - maíra; atara; mamõygûaraé ● estrangeiro louro: aîuruîuba
NOTA - Daí, no P.B., GURANHÉM (ou GUARANHÉM, GURAÉM, EMBIRAÉM, EMIRAÉM, IVURANHÊ) (ybyrá + e'ẽ, "madeira doce"), pau-doce, monésia, árvore da família das sapotáceas (Pradosia glycyphloea), habitante da mata pluvial e conhecida pela casca grossa, leitosa e de sabor adocicado; CAAEÉ (ka'a + e'ẽ, "planta doce"), subarbusto da família das compostas, a Stevia, de flores com glicirrizina, tida como adoçante; PIRAÉM (Amaz.) (pirá + e'ẽ, "peixe salgado"), o pirarucu salgado e seco.
marãete'ĩ?2 (interr.) - como? em que condição? de que maneira?: Marãete'ĩpe Jesus o enosẽme? - Como estava Jesus quando ele o fez sair?... (Ar., Cat., 60v); Marãete'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanoĩ suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v) ● Marãete'ĩ-pipó? - Como parece?: Marãete'ĩ-pipó peẽmo? - Como vos parece? (Ar., Cat., 56v)
peẽmo (pron. pess. dat. de 2ª p. pl.) - 1) a vós, para vós, vos - Marãeté'ĩ-pipó peẽmo? - Como vos parece, porventura? (Ar., Cat., 56v); 2) para junto de vós: ...Îase'o rakó perekó peẽmo teîkeara moetesabamo... - Estai com pranto, como modo de honrar o que entra para junto de vós. (Ar., Cat., 85v)
NOTA - Daí, o nome de planta e da localidade mencionada por Guimarães Rosa em "Grande Sertão: Veredas", ANDREQUICÉ (andyrá + kysé, "faca de morcego") e das localidades de ITAQUAQUECETUBA (SP) e TAQUACETUBA (SP) (v. p. 386).
ebanõî (adv.) - daí, dali, desse lugar, dessa parte (onde tu estás) (VLB, I, 89): Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanõî suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v)
(Ferreira) FERREIRA, Pe. João de Sousa, América Abreviada. Suas notícias e de seus naturaes, e em particular do Maranhão [1693]. Publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, LVII, 1894, pp. 5-145.
NOTA - "Agora diremos alguma cousa das tartarugas do Amazonas, chamadas pelos naturaes JURARÁ; e alguns europeos, além do usual nome de tartaruga, a chamam galinha do Amazonas. É animal anfíbio, mas a sua principal vivenda é na ágoa, peixe por certo digno de toda a estimação, não só por grande, se não também por gostoso." (Pe. João Daniel [1757], p. 93)
umari (s.) - UMARI, 1) nome comum a duas plantas da família das icacináceas, Poraqueiba paraensis Ducke e P. cericea Tul.; 2) nome da árvore leguminosa Geoffroea spinosa Jacq.; 3) o fruto dessas árvores (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 121)
konduru (s.) - CONDURU, CONDURU-DE-SANGUE, amapá-doce, grande árvore da família das moráceas (Brosimum paraense Huber) (Sousa, Trat. Descr., 217; Brandão, Diálogos, 171)
Tutoia (MA). "[...] nação Trememé, situada na costa do Maranhão entre o Pereá e a Tutoya [...]" (Pe. José de Moraes [1759], p. 103). De ty + tuî/a - transbordante, que transborda (Anch., Teatro, 28) + suf. -a: rio transbordante, águas transbordantes.
(Calado) CALADO, Frei Manuel, O Valoroso Lucideno e o Triumpho da Liberdade. Primeira Parte. Lisboa, Paulo Craesbeeck Impressor, 1648.
Igarapé (MG). De ygara + (a)pé (r, s): caminho de canoas: "[...] o mar se comunica com os ditos esteiros, que os naturaes chamam garapés, que quer dizer caminho de canoas, como na verdade o são: porque os navegantes, temendo a braveza do mar no descuberto das costas, buscam sempre o asilo dos garapés, por mais seguros." (Pe. João Daniel [1757], p. 80)
NOTA - "É ũa raiz delgada, cheia de nós, e do feitio do genital dos patos, e daqui vem o chamarem-lhe os naturaes pecacuenha, que quer dizer na sua língua genital do pato." (Pe. João Daniel [1757], (p. 414)
Itacoatiara (AM). "Nas margens do Amazonas há ũa paragem, entre Pauxiz, e a foz do Rio Madeira, chamada na língoa dos índios naturaes — Itacotiara — que quer dizer — pedra pintada ou debuxada; vem-lhe o nome de várias figuras, e pinturas delineadas naquelas pedras; e pouco mais acima estão estampadas em outras pedras algũas pegadas de gente." (Pe. João Daniel [1757], pp. 61-62). De itá + kûatiar + -a: pedras pintadas. São marcas do homem pré-histórico brasileiro.
NOTA - Daí, também, no P.B., o verbo PERERECAR, andar de um lado para outro: "Lalino Salãthiel PERERECAVA ali por perto" (Guimarães Rosa, in Sagarana). PERERECA também designa, no P.B., uma pessoa ou um animal pequeno e agitado.
Turiassu (MA). "Correndo do Maranhão para a Capitania do Pará se estende a costa a Es-noroeste até chegar ao rio Tury-assú [...]" (Pe. José de Moraes [1759], p. 16). De turu* (no tupi antigo, turuygûera - v.) + -ûasu: turus grandes, vermes que crescem na madeira podre: "...turu, minhoca d'água, peste da madeira por mais dura que seja, e traça das embarcações [...]". (Pe. João Daniel [1757], p. 359).
Ibiapaba (serra entre o CE e o PI). De yby + 'apaba [do verbo 'ab + suf. -ab + -a]: terra fendida, terra talhada. "O nome Ibiapaba na lingua dos naturaes, vai o mesmo que Terra talhada." (Luiz dos Santos Vilhena [1801], p. 690)
Daí, também, ARAPUCA, URUPUCA (ûyrá + puka, "buraco de aves": "Apanham-se vivos (...) com ũa espécie de gaiolas feitas de canas, ou de paozinhos, a que os naturaes chamam guira puca, que lhe põe nos caminhos estreitos, e caem nelas com facilidade." (Pe. João Daniel, [1757], p. 128); uru + puka, "buraco de urus"), armadilha para apanhar aves pequenas, e por extensão, cilada, armadilha; engodo, logro, embuste; IPUCA ('y + puka, "furo d'água"), furo no igapó; POPUCA (pó + puk + -a, "mão furada"), de pouca resistência; frágil, fraco.
Inhacuru (rio do MT). Variedade de milho nativo: "Há porém ainda nesta mesma espécie outras castas de milho [...] já bem conhecidos. Além do graúdo, há o segundo, a que os naturaes chamam mapira inhacuro (...)" (Pe. João Daniel [1757], p. 311)
Sapopemba (SP). De sapó + pem + -a: raízes angulosas. " [...] as mesmas raízes crescendo fora da terra, e unidas ao tronco umas conchas do feitio de grandes orelhas, a que os naturaes chamam sapopemas [...]." (Pe. João Daniel [1757], p. 39)
ka'ae'õ (etim. - folha desmaiada, folha morta) (s.) - dormideira, sensitiva ou juqueri, variedade de leguminosa-mimosoídea (Mimosa pudica L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 73) "...Tocadas pela mão,... contraem as folhas, que logo depois, porém, se reabrem." (Piso, De Med. Bras., 202). O mesmo que îukeri (v.).
Ipupiara (BA). De 'y + pupé + yûara: o que mora dentro do rio, nome de uma entidade sobrenatural dos antigos tupis: "Estes homens marinhos se chamão na lingua Igpupiára; têm-lhe os naturaes tão grande medo que só de cuidarem nelle morrem muitos, e nenhum que o vê escapa (...)." (Pe. Fernão Cardim [1585], p. 50)
ybyrae'ẽ (etim. - madeira doce) (s.) - 1) nome de uma árvore sapotácea nativa (Pradosia lactescens (Vell.) Radlk.), também chamada guaco, cujo fruto "é produzido cada quatriênio" (Piso, De Med. Bras., I, 6); 2) IVURANHÊ, BURANHÉM, GURANHÉM, EMIRAÉM, BURAÉM ou IVURAÉM, árvore da família das sapotáceas, de boa madeira, muito usada nos séculos XVI e XVII para a construção de navios (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101; Brandão, Diálogos, 171)
embó (t) (s.) - vergôntea (p.ex., da batata), vara tenra, rebento, verga: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha... -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v); itá-embó - verga de ferro, arame; kará-embó - vergôntea de cará (VLB, II, 144); [adj. embó (r, s)] - vergonteado, delgado (como uma vara tenra): Xe rembó nhẽ. - Eu sou muito delgado. (VLB, II, 144)
ybyrapinima (etim. - pau pintado) (s.) - IBIRAPINIMA, IBURAPINIMA, nome de uma árvore (Bettendorff [1698], Crôn. do Maranhão, in RIH, LXXII [1909], 33). "...É o pau mais precioso que se tem descoberto em toda a América Portuguesa." (Pe. José de Moraes [1759], livro IV, p. 502)
FERREIRA, Alexandre Rodrigues [n.d.], Viagem Filosófica ao Rio Negro. Edição fac-similar da primeira edição publicada na Revista do Instituto Histórico e Etnográfico Brasileiro: 48(1):1-234, 49(1):123-288, 50(2):11-141 e 51(1):5-166. [Belém], Museu Paraense Emílio Goeldi, 1983.
COUTO, José Vieira [1801], Appendice sobre a nova lorena diamantina - descripção das minas contidas no terceiro cofre, e dispostas segundo os systemas de linnco, wallerio, e bergman. In Memória sobre as minas - Capitania de Minas Geraes. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994.
îasy1 (s.) - 1) lua: ...o supa îasy rureme - ao vir a lua para visitá-la (Ar., Cat., 75v-76); Îasy mba'e îa'u. (ou Mba'e îasy o'u.) - Algo comeu a lua (isto é, a lua eclipsou-se). (VLB, I, 108); Î aysó, nipó, îasy... - É formosa, certamente, a lua. (Anch., Poemas, 142); 2) mês: Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanoĩ suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v); mokõî îasy - por dois meses [lit., duas luas] (VLB, II, 36) ● îasy-angaîbara - lua minguante (VLB, II, 25); îasy-obagûasu - lua cheia (VLB, II, 25); îasy-semamo - lua nova (VLB, II, 25)
kará1 (s.) - 1) CARÁ, CARANAMBU, CARATINGA, nome de várias plantas da família das discoreáceas. É nome atribuído erroneamente ao inhame. 2) o tubérculo comestível de algumas dessas plantas (D'Abbeville, Histoire, 229v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 29) ● kará-embó - vergôntea de cará (VLB, II, 144)
abá1 (interr.) 1) quem?: Oporakakab? Abá?... - Censuram? Quem?... (Anch., Teatro, 34); ...Abá serã ogûeru? - Quem será que a trouxe? (Anch., Teatro, 4); Abá ra'yrape nde? - Filho de quem és tu? (VLB, I, 87); Abá rokype erekûá? - Na casa de quem passaste? (Anch., Teatro, 44); Abápe nde? - Quem és tu? (Anch., Teatro, 44); Abápe îa'u raẽne? - Quem devoraremos primeiro? (Anch., Teatro, 64); 2) qual? que?: Abápe 'ara pora oîkó nde îabé? - Que habitante do mundo há como tu? (Anch., Poemas, 116) ● abá-abá? - quem (quando se tratar de mais de uma pessoa): Abá-abápe asé resé Tupã mongetasaramo sekóû? - Quem são os que rogam por nós a Deus? (Ar., Cat., 23v); abá supé? - para quem? a quem?: Abá supépe asé îeruréû...? - Para quem a gente reza? (Ar., Cat., 23); Abá-pipó? - Quem é? Quem está aí? (VLB, II, 94)
Amanaiara (CE). Homenagem ao padre Francisco Pinto, trucidado na chapada da Ibiapaba em 1608: "Foi tão grande o conceito que os Indios fizerão da santidade do Venerável Padre (Francisco Pinto), que dali por diante lhe não derão outro nome que o de Amanayára, que quer dizer, Senhor da Chuva." (Pe. José de Moraes [1759], p. 85). É nome de um distrito de Reriutaba (CE), atribuído em 1943.
ra'u (part.) 1) (expressa desprezo ou enfado) - Vamos ver! Vê lá!: ...Eîkuá ra'u nde ri opûaryba'e! - Adivinha, vamos ver, o que bateu em ti! (Ar., Cat., 56v); Erasóne ra'u! - Leva-o, vamos ver! Vamos ver se o levas! (VLB, II, 58); 2) (expressa dúvida) - será?: Pesaûsu ra'upe pe pysyrõana...? - Será que amais vosso salvador? (Ar., Cat., 86); Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé...? - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo? (Ar., Cat., 156v); 3) (expressa ordem, determinação) - ora: Esa'ang ra'u. - Ora, experimenta-o. (VLB, I, 126); 4) (expressa desgosto): Xe angaîpabeté'i ra'u mã! - Ah, eu fui muito pecador! (Anch., Doutr. Cristã, I, 195); Ixé tekatu-eté'ĩ ra'u anhanga ratápe akaîmo mã! - Ah, eu haveria de queimar verdadeiramente no fogo do diabo! (Ar., Cat., 249); 5) (expressa algo imaginário): Peîmo'ang ra'u xe ra'yrĩ gûé, peîmo'ang pe re'õ pupé pe ruba... - Imaginai, ó meus filhinhos, imaginai que estais deitados em vossa morte. (Ar., Cat., 155v)
Tapanhunacanga (MG). De tapy'yîuna (ou tapy'yînhuna) + akanga: cabeça de negro. Nome dado ao minério de ferro: "O revestimento das muralhas é de uma pedra côr de ferro a que nesse país chamam em língua Tupinambá: Tapanhu-acanga, o que quer dizer Cabeça de Negro." (Antônio Pires da Silva Pontes [1781], p. 380); "[...] suposto q.' as Minas Geraes sejão quasi todas de ferro, q.' os Naturalistas nomeão por Emathytis, eos naturaes Tapanhuacanga, q. ^e quer dizer na língua Brasileira Cabeça de preto [...]" (Pontes Leme [n.d.], Memorias sobre a Extracção do Ouro na Capitania de Minas Geraes, p. 420)
NOTA - "A corrente [...] he taõ arrebatada, que encontrando-se vinte leguas da sua boca, Nordeste, Sudueste, com a enchente do mar, a suspende de forte, que por largo tempo lhe disputa o triunfo; resultando deste fatal combate, por causa da repreza da maré, ou fluxo e refluxo das mesmas aguas, humas ondas taõ fortes, e encapelladas, (a que os naturaes chamaõ Pororoca) que depois de vencidas [...] quasi nove horas, enche em menos de hum quarto, ficando a maré caminhando ainda para cima tres horas completas com taõ rapido curso, que parece que voa." (Bernardo Pereira de Berredo [1718], pp. 12-13)
ka'api'a (etim. - folha-testículo) (s.) - CAPIÁ, CAAPIÁ, CAIAPIÁ, CAPIÁ, nome comum a várias espécies de plantas moráceas do gênero Dorstenia; ervas que têm "flores brancas... das quais se faz tinta amarela como açafrão muito fino, do que usam os índios no seu modo de tintas". (Sousa, Trat. Descr., 209; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 228). São também chamadas CARAPIÁ e contraerva, por causa da suposição de sua eficácia no tratamento do envenenamento ofídico. Sua raiz nodosa, moída e tomada com água, serve de antídoto para venenos. (Piso, De Med. Bras., III, 171; Sousa, Trat. Descr., 209; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 52)
karaguatagûasu (etim. - caraguatá grande) (s.) - CARAGUATÁ-AÇU, 1) planta herbácea da família das bromeliáceas, do gênero Bromelia (Bromelia karatas L.), de cujas folhas se extrai fibra para cordoaria, tapetes, etc. É também chamada CARAGUATÁ-PITEIRA, CARUATÁ-AÇU, CURUATÁ-AÇU, GRAVATÁ-AÇU. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 87); 2) nome comum a plantas da família das agaváceas, do gênero Furcraea. Destas, a nativa do Brasil é a Furcraea foetida (L.) Haw, chamada vulgarmente PITA-GRAGOATÁ, piteira-de-terra, etc. (Piso, De Med. Bras., IV, 199-200). Serviam-se os índios de sua madeira para acender o fogo. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273)
eté1 (t) (s.) - 1) verdade, legitimidade; 2) excelência; 3) normalidade; [adj.: eté (r, s)] - 1) verdadeiro, legítimo, autêntico, genuíno: Tupã rendabeté, Tupã raîyra. - Verdadeira estância de Deus, filha de Deus. (Anch., Poemas, 88); T'orosaûsu îandé ruba, îandé monhangareté. - Que amemos nosso pai, nosso verdadeiro criador. (Anch., Teatro, 120); 2) muito bom; excelente, ótimo; fino; enorme, fora do comum, a valer: Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); ka'aeté - mata ótima, de boa madeira (Anch., Cartas, 460); ybyrá-eté - madeira fina, ótima (Anch., Cartas, 460); 3) normal: kunhãeté - mulher normal (isto é, que nunca foi escrava) (VLB, I, 142); karaibeté - cristão normal (isto é, o que não é missionário; leigo) (VLB, II, 20); 4) mais, maior, melhor: Turusueté - Ele é maior. I porangeté - Ele é mais bonito. (VLB, II, 35); Ixé xe katueté. - Eu sou melhor. (VLB, II, 35); (adv.) - muito, bastante; verdadeiramente, de fato: Sekó-te i poxyeté... - Mas sua vida é muito má. (Anch., Teatro, 28); Aûîé; xe rorybeté. - Basta; eu estou muito contente. (Anch., Teatro, 128); 'Arangaturameté... - Dia muito bom. (Anch., Poemas, 94); Adão, oré rubypy, oré mokanhemeté... - Adão, nosso primeiro pai, fez-nos perder verdadeiramente. (Anch., Poemas, 130); Té oureté kybõ Reriûasu mã! - Ah, veio de fato para cá o Ostra Grande! (Léry, Histoire, 341) ● eté-eté (r, s) (adj.) - imenso, grandioso: Tupã myatã-eté-eté... - a imensa força de Deus (Bettendorff, Compêndio, 62); (adv.) - demais, muitíssimo: O'u-eté-eté ahẽ mba'e. - Ele comeu demais aquela coisa. (VLB, II, 118); etekatu - muitíssimo, demais: Xe moaîu-marangatu, xe moŷrõ-etekatûabo, aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me bem, irritando-me muitíssimo, aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); Asé ra'angetekatu... Anhanga...? - Tenta-nos demais o diabo? (Ar., Cat., 92v); eté nhẽ - muito; muito bem (VLB, II, 44); eté'ĩ - muito, verdadeiramente: Xe angaîpabeté'ĩ ra'u mã! - Ah, eu fui muito pecador! (Anch., Doutr. Cristã, I, 195); eté'ĩ ...mã! - ó, como me alegro! graças a Deus!: Our-eté'ĩ xe ruba mã! - Graças a Deus meu pai veio! (VLB, II, 54)
Dicionário por Eduardo de Almeida Navarro