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Dicionário de Tupi antigo

A língua indígena clássica do Brasil

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ruim - aíb/a; memûã; poxy
paraíba (etim. - rio ruim) (s.) - nome de um antigo grupo indígena (Léry, Histoire, 152, 1994)
aobaíba (etim. - pano ruim) (s.) - trapo (VLB, II, 135)
aobaigûera (etim. - pano ruim que foi) (s.) - trapo (VLB, II, 135)
'apiraíba (etim. - pele ruim da cabeça) (s.) - usagre, erupção de pústulas com corrimento e crostas que vêm ao rosto e à cabeça das crianças; (adj.: 'apiraíb) (xe) - ter usagre: Xe 'apiraíb. - Eu tenho usagre. (VLB, II, 140)
itaîubaíba (etim. - ouro ruim) (s.) - latão (VLB, II, 19)
'yba4 (etim. - água ruim) (s.) - planta cuja raiz era utilizada para embriagar os peixes; uma variedade de TIMBÓ (D'Abbeville, Histoire, 182)
arasaíba (etim. - araçá ruim) (s.) - ARAÇAÍBA (Psidium guineense Sw.), uma das espécies de araçá ou araçazeiro, nome comum a várias plantas da família das mirtáceas, tipicamente brasileiras, do gênero Psidium (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 105; Sousa, Trat. Descr., 187)
Maíra-poxy (etim. - Maíra ruim) (s. antrop.) - nome de entidade mitológica dos antigos tupis da costa (Thevet, Cosm. Univ., 918)
mba'eaíba1 (etim. - coisa ruim) (s.) - 1) mal, maldade, coisa má: Oré pysyrõ-te mba'eaíba suí. - Mas livra-nos do mal! (Ar., Cat., 13v)
mba'eaíba2 (etim. - coisa ruim) (s.) - peçonha, veneno (VLB, II, 68): A'u temõ mba'eaíba mã a'emo nhẽ xe re'õû... - Ah, quem me dera comer veneno para que eu morresse! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102)
pirapoxy (etim. - peixe ruim) (s.) - nome de um peixe (Léry, Histoire [1580], p. 297)
nhe'engaíba2 (etim. - discurso ruim) (s.) - maledicência, vitupério, injúria; (adj.: nhe'engaíb) - maldizente; (xe) dizer palavras más, falar mal, murmurar: Mba'epoxy koty onhe'engaíbamo... - Dizendo palavras más acerca de coisas nojentas... (Ar., Cat., 71v); Xe nhe'engaíb (abá) resé. - Eu falo mal do homem. (VLB, I, 134, adapt.)
nhemoesakûarasy (etim. - fazer-se ruim a cavidade dos olhos) (v. intr.) - ficar carrancudo, ficar mal-encarado (VLB, I, 140)
obasy (t) (etim. - cara ruim) (s.) - carranca, cara feia, má catadura; [adj.: obasy (r, s)] - carrancudo, mal-encarado; (xe) ficar de cara feia para, ter má catadura para: Ta sobasy umẽ i xupé, serekokatûabo... - Que não fique de cara feia para ele, tratando-o bem. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); Xe robasy. - Eu sou mal-encarado. (VLB, I, 140)
piraíba (m) (etim. - pele ruim) (s.) - 1) doença de bexigas, varíola (Anch., Arte, 31); 2) lepra (VLB, II, 20); (adj.: piraíb) - bexigoso, leproso: Xe piraíb. - Eu sou leproso. (VLB, II, 20)
akûanhaíba (t) (etim. - pênis ruim) (s.) - cavalo (nome vulgar de doença venérea do homem); [adj.: akûanhaíb (r, s)] (xe) - ter cavalo, ter doença venérea: Xe rakûanhaíb. - Eu estou com doença venérea. (VLB, I, 69)
anhasy1 (t) (etim. - dente ruim) (s.) - presa de cobra (VLB, II, 85)
anhasy2 (t) (etim. - coisa ruim do dente) (s.) - peçonha; [adj.: anhasy (r, s)] - peçonhento: Xe ranhasy. - Eu sou peçonhento. (VLB, II, 69)
posangaíba (m) (etim. - poção ruim) (s.) - feitiço (para afastar o mal). "São algumas coisas com que se untam, como o escravo, para que o senhor não o açoute, e a mulher, com medo do marido, etc." (VLB, I, 137)
ygeaíba (t) (etim. - ventre ruim) (s.) - diarréia (forte, perigosa); [adj.: ygeaíb (r, s)] - diarréico; (xe) ter diarréia: Xe rygeaíb. - Eu tenho diarréia. (VLB, I, 64)
kaûĩaîasy (etim. - cauim azedo e ruim) (s.) - vinagre: Mba'e-py'aûpîara kaûĩaîasy resé i monani... - Uma coisa amarga com vinagre misturaram. (Ar., Cat., 63v)
abangaíba (etim. - pessoa da alma ruim) (s.) - pessoa desprezível: Xe abangaíba. - Eu sou uma pessoa desprezível. (VLB, I, 100)
miraibora (etim. - o que tem pele ruim) (s.) - 1) doente de bexigas, de varíola (Anch., Arte, 31); 2) leproso (VLB, II, 20)
NOTA - Daí, no P.B., AÍVA: 1) ruim, mau; 2) mofino; 3) adoentado; 4) desorientado, fora de si; 5) pessoa ou coisa insignificante; 6) doença incurável (in Dicion. Caldas Aulete); CAÍVA, CAÍBA, mato carrasquento; terreno pobre, impróprio à cultura; PIRAÍBA ("peixe ruim"), nome de um peixe pimelodídeo. Daí, também, os nomes geográficos PARAÍBA, PARANAÍBA, ABAÍBA, etc. (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B., PUNGA, 1) ruim, imprestável, o último a chegar (fal. de cavalos de corridas); 2) mole, inepto, tolo.
'yaipuka (etim. - rompimento de água ruim) (s.) - saída de água do útero da mulher que está para dar à luz, também chamada dianteira (VLB, I, 103)
Jaíba, Barreiro do (MG). De 'y-aíba: água ruim, água turva, água velha (D'Abbeville, Histoire, 182v).
Iguaíba (MA). De 'y + kûá + aíb + -a: enseada ruim de rio, i.e., que não se presta para porto de canoas.
Japaraíba (MG). De 'y + apar + aíb + -a: japara ruim (v. Japara).
Iguaraci (PE). De 'y + kûara + asy (r, s): fonte ruim, fonte pestilenta. Nome atribuído em 1948.
Guaíba (ilha do RJ). De kûá + aíb + -a: enseada ruim (i.e., pantanosa).
Jaguariaíva (rio do PR). De îagûara + 'y + aíb + -a: rio ruim das onças.
moangaîpab (ou moangaîpá) (v.tr.) - 1) tornar mau, fazer ruim, perverter, estragar (p.ex., fruta); tornar pecador, fazer pecar: Aîmoangaîpab. - Faço-o ruim. (Anch., Arte, 48v); ...Aîmoangaîpá pá benhẽne. - Farei todos pecarem de novo. (Anch., Teatro, 136); Opá taba moangaîpabi! - Tudo faz a aldeia pecar! (Anch., Teatro, 38); 2) fazer mal a, arruinar, maltratar (a dor ou a doença ao que a tem) (VLB, II, 29): Îapopûaratã, i moangaîpapa. - Amarram-lhe as mãos fortemente, fazendo-lhe mal. (Anch., Poemas, 120) ● moangaîpapara - o que faz pecar, o que faz perverter; pervertedor: ...Tubixá-katu Aîmbiré, apŷaba moangaîpapara. - O grande chefe Aimbirê, o pervertedor dos índios. (Anch., Teatro, 8); Onheŷnhang umã sesé kunumĩ-etá kagûara, kó taba moangaîpapara... - Já se juntaram por causa disso muitos moços bebedores de cauim, os pervertedores desta aldeia. (Anch., Teatro, 24)
Paraitinga (rio de SP). De pará + aíb/a + ting + -a: rio ruim e claro.
Daí, também, no P.B., PARAÍBA (pará + aíb + -a, "rio ruim") (S.), trecho de rio que não pode ser navegado; IGAPARÁ (Amaz.) (ygar + pará, "rio de canoa"), canal largo; braço largo de rio (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - No P.B., JEREBA tem vários sentidos: 1) animal ruim de montaria; 2) arreios; 3) indivíduo desajeitado ou desleixado; 4) (SP Pop.) meretriz; 4) (BA) espécie de raia grande (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - No P.B., CANINANA pode ser, também, uma pessoa ruim, de mau gênio (In Dicion. Caldas Aulete).
Paraibuna (rio de SP). De pará + aíb/a + un (r, s) + -a: rio ruim e escuro.
NOTA - Daí, no P.B., PERAU (pé + a'u - v. a'ub - "caminho ruim"), 1) declive do fundo do mar ou de um rio; barranco; (RS) declive forte que cai para um rio ou arroio; 2) precipício.
Jacirema (nome de pessoa). De 'y + asy (r, s) + rem + -a: água ruim e fedorenta.
pará (s.) - 1) rio (de grande volume d'água)*: pará-aíba - rio ruim (imprestável para a navegação, para a pesca, etc.) (Staden, Viagem, 135); 2) mar: "Por isso os naturais lhe chamam Pará e os portugueses Maranhão, que tudo quer dizer mar e mar grande." (Pe. Antônio Vieira [n.d.], Sermão do Espírito Santo, 418)
NOTA - Daí, no P.B. (região Sul), GUAÍBA (kûá + aíb + -a, "baía ruim"), pântano profundo. Daí se originam, também, os nomes geográficos PARANAGUÁ (PR), ITAGUAÍ (RJ), etc. (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B., GUAPICOBAÍBA [ûapiku + 'ybá + aíb + -a, "fruto ruim (i.e., que não se come) do pica-pau"], nome de uma planta leguminosa e de seu fruto.
Paranaíba (rio de Goiás). Da língua geral meridional paraná* + aíba: rio ruim (v. Paraná).
NOTA - Daí, no P.B., um grande número de palavras: ABARAÍBA ("madeira ruim"), nome de uma árvore anacardiácea; BURATEUA (PR) ("ajuntamento de madeira"), trecho de um braço de mar ou de um manguezal onde se amontoam ...vegetais..., formando um emaranhado de galhos e raízes (in Novo Dicion. Aurélio); BRAÚNA, BARAÚNA ("madeira escura"), árvore leguminosa; IBIRAREMA ("madeira fedorenta"), outro nome do pau-d'alho, etc. Daí, também, os nomes próprios (de pessoas e de lugares) IBIRAPUERA (bairro de São Paulo, SP); UBIRAJARA (nome de pessoa); IBIRANGA (PE); IBIRACATU (MG); UBIRATÃ (nome de pessoa), etc. (v. p. 386).
Paraíba (estado brasileiro e rio que banha sua capital). De pará + aíb + -a: rio ruim.
parabok (etim. - arrancar a variedade) (v.tr.) - selecionar, tirar o que é estranho, vário, ruim; escolher (p.ex., o feijão, tirando-se a parte ruim da boa) (VLB, I, 37)
posanga3 (m) (s.) - feitiço, prodígio: Ererobîápe paîé-aíba mosangyîaramo sekó? - Crês que o pajé ruim é o que tem o dom dos prodígios? (Ar., Cat., 98v); Mosangape ereîpuru ture'ymagûama ri? - Usaste feitiço para que não viessem? (Anch., Teatro, 12)
kakuabe'yma (ou kakugûabe'yma) (etim. - a que não se conduz bem) (s.) - prostituta (VLB, II, 90); mulher ruim (VLB, II, 27)
Carapicuíba (SP). De karapuku - carapucu ou peziza, cogumelo da família das marasmiáceas (VLB, I, 86) + aíb - mau, ruim, desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80) + suf. -a: carapucu ruim (para comer), não comestível. Também pode ser composição de akará + puku + aíb + -a: carás compridos e ruins, carapicus ruins (para comer), peixes gerrídeos. Também há o arbusto carapicu, talvez nome da língua geral meridional, podendo, então, Carapicuíba significar pé de carapicu: carapicu* + 'yba.
abiîu1 (t) (s.) - 1) pêlo de pano, felpa (VLB, I, 144); 2) fibras de madeira de má qualidade ou serrada com serra ruim, que tem uma certa frisa por cima (VLB, I, 144); 3) penugem fina de ave nova (VLB, I, 113); 4) raspa ou raspas como da bota ou de qualquer couro (VLB, II, 97) ● aoba rabiîu - felpas de pano usadas para curar feridas, como se faz hoje com flocos de algodão; sabiîuakytãba'e - o que é felpudo (VLB, I, 144)
katu'ok (etim. - tirar o bom) (v.tr.) - selecionar, tirar o que é bom, escolher (p.ex. o feijão, tirando-se a parte boa da ruim): Aîkatu'ok. - Selecionei-o. (VLB, I, 37)
mombor (v.tr.) - 1) fazer pular, fazer saltar, projetar, lançar fora, atirar, lançar (VLB, II, 18): ...Tekoaíba oromombó. - A vida ruim lançamos fora. (Anch., Poemas, 84); Îasó umẽ, îandé nupã, tatápe îandé mombómo. - Não vamos, ela nos castiga, fazendo-nos saltar no fogo. (Anch., Teatro, 130); Aîmombor ybype. - Lancei-o no chão. (VLB, I, 110); 2) expulsar: Nde reroŷrõ, nde mombóne. - Odeiam-te, expulsar-te-ão. (Anch., Teatro, 136); 3) botar (ovos a ave): Aîupi'a-mombor. - Botei-me os ovos. (VLB, II, 81); 4) tirar, retirar: Naînanĩ temiminõ... o erumûana mombó. - De modo nenhum os temiminós tiram seus nomes antigos. (Anch., Teatro, 144)
upixûara (t) (s.) - TUPUXUARA, demônio ou espírito familiar; espírito protetor; [adj.: upixûar (r, s)] (xe) - ter espírito protetor: Supixûar ikó paîé-angaíba... - Este pajé ruim tem espírito protetor. (Ar., Cat., 98v)
Igaci (AL). Nome atribuído artificialmente em 1904 à localidade de Olho D` Água do Acioli. Quis-se verter olho d'água para o tupi e pôs-se o nome Igaci, que significa, na verdade, água ruim ['y + asy (r, s)]. Cremos que se tentou homenagear o antigo povoador Acioli.
NOTA - Daí, no P.B., TAPIRAPÉ (tapi'ira + apé, "caminho das antas"), nome de um povo indígena do Mato Grosso; CURUAPÉ (kururu + apé, "caminho de sapos"), nome de planta, o cipó-cururu; PERAU (pé + a'u - v. a'ub - "caminho ruim" ), 1) declive do fundo do mar ou de um rio; barranco; (RS) declive forte que cai para um rio ou arroio; 2) precipício. Daí, também, originam-se os nomes geográficos TATUAPÉ (SP), JACARAPÉ (PB), etc. (v. p. 386).
5 (part.) (Com o verbo 'i / 'é na negativa. Forma condicionais.): no caso de, se: Nd'e'i ké ogûatá-pytuna... - Se não andasse de noite... (Fig., Arte, 161); N'e'i ké oguatábo... - Se ele não andasse... ; Nd'e'i ké o angaîpabamo... - Se ele não fosse ruim... (Fig., Arte, 161)
NOTA - A palavra JAGUAR, de origem tupi, está presente em muitas línguas do mundo, passando a designar felinos de outros continentes, como a África. É o nome, também, de uma marca britânica de automóveis. Dali originam-se, no P.B., muitas palavras: JAGUARAÍVA (îagûar + aíb +-a, "cão ruim"), cão que não serve para a caça; JAGUAPITANGA ("cão cinzento"), raposa-do-campo; JAGUAPEBA, JAGUAPEVA (îagûar + peb + -a), variedade de cães domésticos de pernas curtas. Dali originaram-se, também, muitos nomes de lugares no Brasil: JAGUANAMBI (CE), JAGUAQUARA (BA), etc.
aíba1 (s.) - 1) maldade, ruindade; AÍVA, coisa vil (VLB, I, 136; II, 145); ...Îandé aíba t'oîpe'a. - Que afaste nossa maldade. (Anch., Poemas, 182); 2) feiúra: Anotĩ xe aíba. - Envergonho-me de minha feiúra. (VLB, I, 83); 3) grosseria (VLB, I, 151); 4) aspereza (do mato, do caminho) (VLB, I, 44); 5) incompleteza, superficialidade; (adj.: aíb) - 1) mau, ruim, AÍVA, podre (em geral), desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80): Aûîé kunumĩgûasu o ekó-aíbeté oîomim... - Enfim, os moços escondem seus muito maus procedimentos. (Anch., Teatro, 38); I îasear apŷabaíba... - Uniram-se os homens maus. (Anch., Teatro, 54); anhangaíba... - diabo mau (Anch., Poemas, 90); 2) grosseiro, rústico, tosco, bruto: Xe aíbusu. - Eu sou grosseirão. (VLB, I, 151); 3) áspero, impraticável (fal. de mato, de caminho): pé-aíba - caminho impraticável (VLB, I, 45); 4) debilitado, enfraquecido, de saúde corrompida, estragado com o uso: Xe aíb. - Eu estou debilitado. (VLB, I, 83; 130); 5) envelhecido (com o uso; fal. de coisas) (VLB, I, 119); velho: Gûyrá-aibusu - pássaro muito velho (antropônimo) (D'Abbeville, Histoire, 187); 6) incompleto, superficial: mba'easy-aíba - doença superficial, indisposição, doença fraca (VLB, II, 28); (adv.) - 1) mal: Aîkó-aíb. - Vivo mal. (Fig., Arte, 138); Arekó-aíb. - Trato-o mal. (Fig., Arte, 138); 2) falsamente, não completamente, superficialmente: Amanõ-aíb. - Morro falsamente, isto é, desmaio, desfaleço. (VLB, I, 125); Asendub-aíb nde nhe'enga. - Entreouvi tuas palavras (isto é, ouvi-as superficialmente). (VLB, I, 119); 3) com afronta: Aîmondó-aíb. - Mando-o com afronta. (Fig., Arte, 138); 4) tirante a, que tende a: pyrangaíb - tirante a vermelho (VLB, II, 128)
îaeté (s.) - o máximo, o fino “em qualquer arte ou habilidade, em bom ou mau sentido” (VLB, II, 33; 76); obra-prima, coisa muito bem feita: Ixé-tene îaeté. - Obra-prima sou eu. (VLB, II, 86); (adj.) - máximo: Kó-tene i îaeté. - Este é o máximo. (VLB, II, 86); (adv. - tem valor de superlativo junto a nomes) - ao máximo: Kó-tene i angaîpab-y îaeté. - Este é ruim ao máximo; este é péssimo. (VLB, II, 86)
paîé (m) (s.) - 1) pajé, curandeiro, feiticeiro indígena (Thevet, Les Sing. de la France Antart., 65): T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma... - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés. (Anch., Teatro, 118); Kûesé paîé mba'easybora subani. - Ontem o feiticeiro chupou o enfermo. (Fig., Arte, 96); 2) padre (por ordens ou hábito) (VLB, II, 62) ● paîé-aíba (ou paîé-angaíba) - pajé ruim, pajé aliado a espírito malfazejo. Diferenciava-se o paîé-aíba do paîé propriamente dito (às vezes também chamado de paîé-katu, pajé bom), porque o espírito deste último "tudo o que faz é em favor comum, isto é, dar vitórias nas guerras, etc. O espírito deste se chama Gûaîupîá (v.)." O paîé-aíba é "inclinado a matar e causar diversas enfermidades, fomes e fazer ausentar o peixe das pescarias, etc., e por isso também recebe o adjetivo aíb ou angaíb, mau. E são muitos os diabos de que se ajuda. Também se chama mosangyîara, que quer dizer senhor das mezinhas ou feitiços, os quais faz para matar." (VLB, I, 137): T'ereîuká ixébe paîé-aíba supé... - Que o mates para mim diante do pajé ruim. (Ar., Cat., 70v); Supixûar ikó paîé-angaíba... - Este pajé ruim tem um espírito protetor. (Ar., Cat., 98v)
NOTA - Daí, no P.B., NHEENGATU ("língua boa"), língua geral falada atualmente no Amazonas, às margens do Rio Negro, principalmente em vilas e comunidades ribeirinhas e nas cidades de Barcelos, Santa Isabel e São Gabriel da Cachoeira, onde é uma das línguas oficiais. Desenvolveu-se da língua geral amazônica, surgida no século XVIII, como um desenvolvimento histórico do tupi antigo; NHEENGAÍBA ("língua ruim"), povo indígena extinto que habitava a ilha de Marajó (PA).
be'ĩ (adv.) 1) (na afirm.) - um pouco, algum tanto, um pouquinho; mais um pouco; um pouco mais: I katu be'ĩ. - Ele está um pouco melhor (VLB, I, 31; II, 28); ...Xe angaturã be'ĩ temõ erimba'e mã!... - Ah, oxalá futuramente eu seja um pouquinho melhor! (Ar., Cat., 158v); 2) (na neg.) - mais nada, nada mais: ...N'i pori be'ĩ xe aîó. - Não contém mais nada minha bolsa. (Anch., Teatro, 46) ● Pode dar a idéia de "mal por mal", "ruim por ruim": Ahẽ nakó i angaturã-be'ĩ. - Ruim por ruim, ele é, de fato, um pouco melhor (isto é, ele é menos ruim que os outros). (VLB, II, 29)
-sab(a) (suf. nominalizador) - 1) nominalizador de complemento circunstancial. Traduz-se por tempo, lugar, companhia, modo, causa, instrumento, finalidade, etc. Tem os alomorfes -ab(a), -b(a), -á, -ndab(a), etc.: îukasaba - tempo, lugar, instrumento, causa, modo, companhia, etc. de matar (Anch., Arte, 19); ...N'i papasabi. - Não há modo de contá-los. (Ar., Cat., 38); ...i 'ekatûaba kotysaba é... - o que estava à sua direita (isto é, a companhia do lado da sua mão direita) (Anch., Diál. da Fé, 190); Xe 'angorypaba. - A causa da alegria de minha alma. (Anch., Poemas, 106); 2) Forma substantivos abstratos: angaipaba - maldade (lit. - qualidade da alma ruim) (Anch., Teatro, 34)
asy (t) (s.) - 1) dor, pena: 'Y berame'ĩ ikó îandé ratá rasy: n'osyki Anhanga ratá rasy resé. - Eis que a dor de nosso fogo parece a da água: não se equipara à dor do fogo do diabo. (Ar., Cat., 163v); Oîporará Tupã repîake'yma rasy. - Sofrem a dor de não verem a Deus. (Ar., Cat., 48); 2) mal, ruindade; problema: Na sasyî. - Não faz mal, não há problema. (Anch., Teatro, 148, 2006); [adj.: asy (r, s)] - 1) dolorido, doloroso, penoso, trabalhoso, árduo; (xe) doer, ser penoso, ser causa de pesar; pesar; ter dor, sentir dor; sofrer: T'oré pyatã, angá, mba'e-asy porarábo... - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas. (Anch., Teatro, 120); Sasy nakó ygá-pukuîa. - É penoso, de fato, remar canoa. (VLB, II, 134); Sasy nde só ixébe. - Dói-me tua ida. (Também se emprega com o gerúndio.): Sasy-eté ahẽ osóbo. - É doloroso ir-se fulano. Sasy-eté ahẽ oure'yma ixé o enõîndápe. - É muito doloroso não vir fulano ao meu chamado. (VLB, II, 75); Xe rybyt, nde nhyrõ xebo; xe rasy, xe mara'a. - Meu irmão, perdoa tu a mim; eu tenho dor, eu estou doente. (Anch., Teatro, 46); Ta sasy muru supé! - Que eles sofram junto dos malditos! (Anch., Teatro, 56); Mba'epe sasyeté a'epe tekoara supé?... - Que é mais penoso aos que estão ali? (Ar., Cat., 47v); Sasy ixébe. - Dói a mim; pesa-me (alguma coisa). (VLB, I, 105); Anhanga ratá îabépe satá rasyramo? - Como o fogo do diabo o fogo dele é penoso? (Ar., Cat., 48v); Sasy Peró supé. - Pesa a Pedro (alguma coisa); dói a Pedro (alguma coisa). (VLB, I, 105); Sasy-eté abá supé ogûe'õnama anduba. - Dói muito ao homem perceber sua morte. (Ar., Cat., 156); 2) mau, ruim: nhe'engasy - palavra ruim (VLB, I, 40); tobasy - cara ruim, mau humor (VLB, I, 140); (adv.) - demais, de doer, dolorosamente: Saîasy. - Ele está azedo demais (lit., azedo de doer). (VLB, I, 143); Osem okarype oîase'o-asykatûabo. - Saiu para o pátio chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v) ● mba'e rasy - dor (em sentido genérico) (VLB, I, 106)
'y (s.) - 1) água: Oîeypyî 'y-karaíba pupé. - Asperge-se com água benta. (Ar., Cat., 24); Erur 'y ixébe. - Traze água para mim. (Léry, Histoire, 367); Asó 'y gûabo. - Vou para beber água. (VLB, I, 154); Aîeruré 'y resé. - Peço por água. (D'Evreux, Viagem, 144); 2) rio: Xe parati 'y suí aîu... - Eu vim do rio dos paratis. (Anch., Poemas, 110); 3) fonte: Kûãî 'ype. - Vai à fonte. (Léry, Histoire, 367) ● 'y-e'ẽ - água salgada (do mar) (VLB, I, 24); 'y-eté - água doce (VLB, I, 24); madre do rio, o leito dentro de suas margens, que às vezes fica descoberto (VLB, II, 27); fonte, água perene (VLB, II, 73); 'y-katu - águas tranquilas, bonança (VLB, I, 57); 'y anhẽ - água sem mistura (VLB, II, 123); 'y rapé - rego d'água (VLB, I, 65); 'y-embe'yba - margem de rio, praia, ourela de mar ou rio (VLB, II, 60); 'y-apé 'arybo - à flor d'água, na superfície da água (VLB, I, 144); 'y-apyra - cabeceiras de rio (VLB, I, 61); 'y-kûabapûana - corrente d'água (no rio ou no mar); 'y-syryka - água corrente (VLB, I, 82); maré descendente; vazante de maré (VLB, I, 91; II, 142); 'y-îebyra - remanso d'água (VLB, II, 100); 'y-pabe'ymba'e - fonte, água perene (VLB, II, 73); 'y-pytera - meio das águas, alto-mar: 'Y-pytera koty asó. - Fui em direção ao meio das águas; fui para o alto-mar. (VLB, I, 112); 'y-akã - braço de rio (VLB, I, 58); 'y-anhangoty - rio acima, a montante (VLB, II, 106); 'y-ape'ara - tona d' água, superfície d'água; 'y-ape'ara rupi - à tona d'água, na superfície da água (VLB, I, 50); 'y-apyrakoty - rio acima, a montante (VLB, II, 106); 'y-embykoty - rio abaixo, a jusante (VLB, II, 106); 'y-mombukaba - sangradouro de rio (VLB, II, 112); 'y-aíba - água ruim, água turva, água velha (D'Abbeville, Histoire, 182v)
Maruim (SE). De marigûi: maruins, mariguis, meruís, biriguis, insetos ceratopogonídeos.
Maruimpanema (PA). De marigûi + panem + -a: maruins imprestáveis, insetos ceratopogonídeos.
Meruim (ilha do PA). A mesma etim. de Maruim (v.).
marigûi1 (ou maringûĩ) (s.) - MARUIM, MARIGUI, MERUÍ, BIRIGUI, BARIGUI, nome comum a insetos da família dos ceratopogonídeos. As fêmeas são hematófagas. Picam o homem e os animais domésticos, produzindo violenta comichão e inchando a pele. É também chamado MERUIM, MARINGUIM, MIRUIM, MURUIM, mosquito-do-mangue, etc. (D'Abbeville, Histoire, 255; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 257; VLB, II, 43): - Xe su'umo marigûi... - Picar-me-ia o marigui... (Anch., Teatro, 62)
NOTA - Daí, o nome geográfico MARUIMPANEMA (localidade do PA), etc. (v. p. 386).
Maruiim (ig. do AM). Mesma etim. de Maruim (v.).
aîuru'i (etim. - papagaiozinho) (s.) - AJURUIM, var. de papagaio, da família dos psitacídeos (Soares, Coisas Not. Bras. - ms. C, 1286-1288)
Maroim (rio da BA). A mesma etimologia de Maruim (v.).
Dicionário por Eduardo de Almeida Navarro