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Dicionário de Tupi antigo

A língua indígena clássica do Brasil

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isca - potaba (m)
kotypotaba (etim. - isca de cilada) (s.) - 1) homem corredor que, na guerra, vai por negaça e põe os inimigos em cilada (VLB, I, 82); 2) negaça, engodo, isca (em guerra) (VLB, II, 48)
monharûama (s.) - negaça, isca, chamariz (VLB, II, 48)
potaba2 (m) (s.) - engodo, isca (VLB, I, 71)
NOTA - No P.B. (N.E.), POTABA (ou POTAVA) é isca própria para apanhar pitu (in Dicion. Caldas Aulete).
monharõ1 (etim. - fazer investir) (v.tr.) - fazer isca ou chamariz para, atrair (a caça ou as aves com assobios ou reclamos) (VLB, II, 48): Ereîmonharõpe kunhã amõ nde rapixara pyri? - Atraíste alguma mulher para junto de teu próximo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
NOTA - Daí, no P.B., MUCICA (NE.), empuxão que o pescador dá à linha quando sente que o peixe mordeu a isca; empuxão dado à linha do papagaio de papel; FAZER MUCICA: puxar o boi pela cauda para o derribar (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Daí, no P.B., a palavra CAMINA (Amaz.) (îaká + mina, "lança de cesto"), vara em cuja ponta é amarrado um cesto com isca, que se mergulha na água para apanhar peixes.
NOTA - Daí, no P.B. (PE), coisa de pouca monta, pequena quantia (por alusão às espécies pequenas (desse peixe), usadas como isca) (in Dicion. Caldas Aulete). Daí, também, o nome do estado do PIAUÍ (v. p. 386).
porenonhandara (m) (etim. - o que faz correr consigo as pessoas) (s.) - 1) corredor na guerra que vai por negaça e põe os inimigos em cilada (VLB, I, 82); 2) negaça, isca (na guerra) (VLB, II, 48)
NOTA - Da reduplicação de syryka (syryryka), provém, no P.B. (AM), PINDÁ-SIRIRICA ("anzol escorregadio"), 1) disfarce do anzol com penas de cores; 2) anzol com isca artificial e linha curta. Daí, também, pela língua geral meridional, a palavra XIRIRICA (ou PIRIRICA), trecho de rio onde as águas, dada a inclinação do terreno, correm céleres, e que, muitas vezes, corresponde à última etapa de uma queda-d'água; cachoeira, carreira, correntada, corrida, corredeira, rápido. (in Novo Dicion. Aurélio). PIRIRICA pode ser, também, ligeira ondulação ou tremura à superfície da água, produzida pelos peixes (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Daí provém, no P.B. (SP), a palavra PIRACICABA, lugar que, tendo uma cachoeira ou qualquer outro acidente natural, impede a passagem dos peixes, sendo, assim, excelente pesqueiro (in Novo Dicion. Aurélio). Tal palavra surgiu mais tardiamente, na fase da língua geral meridional (século XVIII), pois, em tupi antigo, chegar por água, como fazem os peixes, é îepotar e syk é chegar por terra. No século XVIII tal distinção não existia mais. Foi justamente nesse século que foi fundada a povoação de PIRACICABA (SP), em 1767, que recebeu esse nome em referência às grandiosas quedas que bloqueiam a piracema no rio que por lá passa. Daí, também, no P.B., MUCICA (mo- + syk + -a, "o fazer aproximar-se", "puxada") (N.E.), empuxão que o pescador dá à linha, quando sente que o peixe mordeu a isca; puxão dado ao boi pela cauda para o derrubar; empuxão dado à linha do papagaio de papel. (in Dicion. Caldas Aulete)
beliscar - pixam
piscar - nhemoesabyk (r, s) (xe); sapumim
riscar - aír (s)
kusubyra (s.) - faíscas de folhagem queimada, sejam vivas ou não (VLB, I, 133)
piririka (s.) - faísca, fagulha: Nd'e'i te'e moxy onhana tatá piririka îá... - Por isso mesmo as malditas correm como faíscas de fogo. (Anch., Teatro, 128); (adj.: piririk) - faiscante; (xe) faiscar, lançar faíscas, fagulhas (como o fogo que é assoprado) (VLB, I, 133)
saybi (v. intr.) - chuviscar; cair lentamente (a chuva): Osaybi amana. - A chuva caiu lentamente. (VLB, I, 74)
mopiririk (etim. - fazer faiscar) (v.tr.) - fazer estalar: Aîepó-mopiririk. - Faço-me estalar as mãos. (VLB, I, 68)
motyk (v.tr.) - puxar, beliscar (p.ex., o peixe ao anzol) (VLB, II, 77)
moendyîab (v.tr.) - produzir faísca de, tirar faísca de (p.ex., com um machado num pau): Aîmoendyîab. - Tirei faísca dele. (VLB, I, 137)
atrair - momotar ● atrair com iscas: monharõ
aír (s) (v.tr.) - fazer incisão em, riscar: Eresaírype nde ra'yra îasy semypyreme? - Fizeste incisões em teu filho quando a lua começou a sair? (Ar., Cat., 99); Opá nde reté raíri itatiãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120) ● aisaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de riscar; risco, risca, incisão (VLB, II, 106)
îuruũ (v.tr.) - pintar o rosto com uma risca ou com riscas que vão das orelhas até os cantos da cabeça (VLB, II, 78)
obagûang (s) (v.tr.) - pintar o rosto de (com riscas vermelhas) (VLB, II, 78)
etapurũ (s) (v.tr.) - pintar o rosto (com uma risca ao longo do cabelo que toma toda a testa e vem morrer junto às orelhas ou que vem da ponta do cabelo por entre as sobrancelhas até a ponta do nariz) (VLB, II, 78)
Jaguatirica (PR). De îagûara + tyryk + -a: onça arisca.
nhemoesabyk (etim. - apertar-se o olho) (v. intr. compl. posp.) - piscar (para alguém: compl. com supé): Anhemoesabyk (abá) supé. - Pisquei para o homem. (VLB, I, 19, adapt.)
sapumim (etim. - mergulhar os olhos) (v. intr.) - pestanejar, piscar: Asapumim. - Pisco. (D'Evreux, Viagem, 158); Eresapumimype amõ supéno? - Piscaste para alguma, também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 90)
kusuba (etim. - plantas de grande queimada < kaî-usu-'yba) (s.) - faíscas de folhagem queimada, sejam vivas ou não (VLB, I, 133)
itatîãîa (s.) - lança, ferro aguçado: Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com lanças. (Anch., Teatro, 120)
pixam (ou pixã) (v.tr.) - 1) picar (p.ex., o pássaro com seu bico) (VLB, II, 77); 2) beliscar: Xe pixã korine, mã! - Ah, beliscar-me-á hoje! (Anch., Teatro, 178)
NOTA - Daí provém, no P.B., o nome da árvore GUARAPICICA ("pega-guará"), além da palavra TIPISCA (ty + pysyka, "segura água") (AM), lagoa que se forma na época da enchente, no rio Amazonas e em seus afluentes ocidentais, dum lado pela sinuosidade do leito fluvial e de outro pelo impulso da água, que tende a correr em linha reta, convertendo em lençóis de água as curvas forçadas que as margens apresentam. (in Novo Dicionário Aurélio).
pin (-îo- ou -nho-) (v.tr.) - 1) aparar, raspar, descascar (VLB, I, 37); rapar (p.ex., com navalha); acepilhar; 2) beliscar (comida) (VLB, II, 96): Aîpĩ-pin. - Fiquei-a beliscando. (VLB, I, 94) ● pinara (ou pindara) - o que apara, o que rapa, etc. (Anch., Arte, 3); pindaba - tempo, lugar, modo, etc. de aparar, de rapar, etc. (Anch., Arte, 3)
Itaparica (ilha do litoral baiano). De itá + pirik + -a, registrado na forma iterativa piririk (VLB, I, 133): pedra faiscante, isto é, pederneira. Mas a forma simples pirik também era usada com esse sentido: Frei Vicente do Salvador (in História do Brasil, livro IV, cap. xxxviii), menciona o nome "João Vaz Tataperica". Tataperica significa fogo faiscante.
NOTA - Daí, no P.B. (PE pop.), MAPIRONGA (ma'e + pi(r) + ungá, "coisa que aperta a pele"), espinha; furúnculo; MUÇUNGA, beliscão (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Lemos em Euclides da Cunha, referindo-se aos últimos dias de Canudos: "A soldadesca, varejando as casas, pusera fora, às portas (...) toda a ciscalhagem de trastes em pedaços, de envolta com a farragem de molambos inclassificáveis: pequenos baús de cedro; bancos e jiraus grosseiros; redes em fiapos; berços de cipó e balaios de taquara; JACÁS sem fundo; roupas de algodão..." (In Os Sertões. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1997)
NOTA - Daí, no P.B., SAMBARÉ (samburá + é, "samburá diferente"), espécie de samburá usado em certas regiões da Amazônia; JAGUARÉ (îagûar + é, "cão diferente"), nome de um cãozinho selvagem com riscas no pelo.
taîasu1 (etim. - dentes grandes) (s.) - TAIAÇU, TAJAÇU, TANHAÇU, animal mamífero da família dos taiaçuídeos (Tayassu pecari), espécie de porco silvestre que tem no dorso uma glândula que produz forte cheiro almiscarado. Tem cor escura e pelos longos nas costas (D'Abbeville, Histoire, 249; Sousa, Trat. Descr., 249; Staden, Viagem, 171); 2) porco (em geral) (VLB, II, 82): Endé-te, nde resemõ arinhama, taîasu. - Mas a ti, sobram-te galinhas e porcos. (Anch., Poemas, 152); Pedro taîasu. - O porco de Pedro. (Fig. Arte, 77) ● taîasu-kunhã - porca fêmea (VLB, II, 82); taîasua'yra (ou taîasua'yrusu) - bacorinho (VLB, I, 50); leitão (VLB, II, 20). V. tb. taîasugûaîa.
NOTA - Daí, no P.B., JACUMAÍBA, JACUMAÚBA (PA e MA, pela língua geral setentrional) (îakumã + 'yba, "comandante do jacumã", i.e., do lugar de guiar a canoa), piloto de canoa que navega pelas baías e lagos onde a navegação é arriscada (in Dicion. Caldas Aulete): "O jacumaúba amazonense... ficou largo tempo constrangido entre as barracas dos rios" (Euclides da Cunha, in À Margem da História. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999); CÃIBA (akang + 'yba, "comandante de cabeça"), cada uma das partes laterais do freio dos animais de montaria.
eté2 (t) (s.) - 1) corpo: Pedro reté - o corpo de Pedro (Fig., Arte, 74); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); Mba'epe asé reté remi'u? - Qual é a comida de nosso corpo? (Ar., Cat., 27v); Tupã aé, o karaíba pupé, i 'anga seté monhangi. - O próprio Deus, com sua santidade, as almas e os corpos deles fez. (Anch., Teatro, 28); Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120); 2) substância, matéria: Oîaby-eté seté tiruã oîkuabe'ymba'e. - Transgride-os muito o que não conhece sequer sua substância. (Bettendorff, Compêndio, 103) ● seteba'e - o que tem corpo, o que é corpóreo (VLB, I, 82)
îá2 (conj.) - como, da mesma maneira que, assim como: Abebé kó ybytu îá... - Vôo como este vento. (Anch., Teatro, 40); Anga îá, angaîpabora aîuká... - Como a esses, matarei os que costumam pecar. (Anch., Teatro, 92); T'oré pyatã, angá, mba'easy porarábo... nde îá. - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas como tu. (Anch., Teatro, 120); Nd'e'i te'e moxy onhana tatá piririka îá... - Por isso mesmo as malditas correm como faíscas de fogo. (Anch., Teatro, 128); Abápe kori xe îá? - Quem, hoje, é como eu? (Anch., Teatro, 132); kó îá - como este (VLB, II, 123); koba'e îá - como isto, como este (VLB, II, 9; 124) ● îandûara - o que é igual a algo ou a alguém (VLB, II, 9) (V. tb. îakatu e îabé)
Dicionário por Eduardo de Almeida Navarro