quando1 (= por ocasião de) - reme
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Nheengatu
Mbyá
Citando
Dicionário de Tupi antigo
A língua indígena clássica do Brasil
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quando?2 - (referindo-se ao futuro): moîrãpe?; (referindo-se ao futuro ou ao passado): erimba'epe?; (= em que ocasiões?, referindo-se a fatos habituais): marã-nemepe?
erimba'e?2 (interr.) - quando? (com relação a fato passado ou futuro): Erimba'epe ereîur? - Quando vieste? (Fig., Arte, 166); Erimba'epe sa'angi? - Quando o proferiu? (Ar., Cat., 30v); Erimba'epe i xóû i xupa? - Quando foi para visitá-la? (Ar., Cat., 32v); Erimba'epe aîpó nde 'îaba ereîmopóne? - Quando cumprirás isso que dizes? (Ar., Cat., 111v)
moîrã? (interr.) - quando? (referente a fato futuro): Moîrãpe turine? - Quando virá? (Ar., Cat., 46)
erumbynhẽ (adv.) - senão quando; e nisto; finalmente (VLB, II, 115)
aane'yme (conj.) - senão; quando não: -Emonãnamo onhemosaînã-eté pabẽpe Tupã nhe'enga kuabaûama?... -Emonãnamo, aane'yme anhanga ratápe i xóûne. - Portanto cuidarão bem todos de conhecer a palavra de Deus? - De fato, senão irão para o inferno. (Bettendorff, Compêndio, 104); E'u umẽ ikó 'ybá... aane'yme opabinhẽ pemanõne... - Não comas este fruto, senão todos morrereis. (Bettendorff, Compêndio, 38) ● aane'yme? (ou aane'yme é?) - E quando não? (VLB, I, 121)
kykypeé (adv.) - de vez em quando; raramente (VLB, I, 101)
kykypenhõ (adv.) - de vez em quando; raramente (VLB, I, 101)
marangatuabé (adv.) - de vez em quando; raramente (VLB, I, 101); rarissimamente (VLB, II, 96) ● marangatuabé é - rarissimamente (VLB, II, 96)
hé1 (interj.) - ã... (Usada quando, pensando-se no que se ouve, deseja-se responder. Cala-se, porém, para não ser tido por importuno.): -Mba'epe sepyrama? -Arurĩ. -Hé... -Qual é o preço delas? -Trouxe-as por trazer. -Ã... (Léry, Histoire, 344)
îase'opapara (s.) - lástima, o que se diz quando se chora (VLB, I, 74)
-tene2 (part.) - enfim, finalmente (quando se conta alguma coisa) (VLB, I, 109; Fig., Arte, 148): Aîpoba'e-tene n'oîabyî mboîa. - Esse, enfim, não é diferente da cobra. (Ar., Cat., 108v); Nde nhyrõ-tene xébo... - Tu, finalmente, perdoa a mim. (Ar., Cat., 11-12, 1686)
peîepé (pron. pess. da 2ª p. do pl., usado quando o objeto é da 1ª p. do sing. ou pl.) - vós: Xe ipó xe rekar peîepé... - A mim certamente é que vós procurais. (Ar., Cat., 54v); Xe îuká peîepé. - Vós me matais. (Anch., Arte, 37)
esapykanga (t) (s.) - ribanceira (É propriamente quando o mar cava a praia de maneira que fica dificultosa a subida para o lado do mato, seja grande ou pequeno o desnível produzido.): yby-esapykanga - ribanceira da terra (VLB, I, 52)
îepé5 (pron. pess. da 2ª p. do sing., usado quando o objeto é da 1ª p. do sing. ou pl.) - tu: Xe mĩ-te îepé i xuí! - Mas esconde-me tu dele! (Anch., Teatro, 32); T'aîpapáne i angaîpaba ta xe rerobîá îepé. - Hei de contar os pecados deles para que tu me acredites. (Anch., Teatro, 34); Xe pysyrõ îepé! - Livra-me tu! (Anch., Teatro, 48); Aûîé, xe îuká îepé! - Basta, tu me matas! (Anch., Teatro, 76); Oré moingobé îepé. - Faze-nos tu viver. (Anch., Poemas, 82); ...Na xe reroŷrõî îepé... - Tu não me detestas. (Anch., Poemas, 96)
gûyapy3 (v. intr.) - desarmar-se (a armadilha, quando quebra a corda do pinguelo) (VLB, I, 63)
pepek1 (v. intr.) - bater asas: gûyrá pepekeme - quando a ave bate asas (VLB, I, 66)
'apuba (s.) - fase madura (fal. da fruta; isto é, quando perde a primeira cor e se faz mole); (adj.: 'apub) - maduro (fal. de fruto) (VLB, II, 27): ...'ybá-'apuba kuîa ra'anga... - imitando a queda das frutas maduras (Ar., Cat., 157v)
marãtekoarûere'yma (etim. - o que não agiu mal) (s.) - inocente (quando acusado de algo que não fez) (VLB, II, 12)
îu'igûara'i-gûara'i (s.) - variedade de rã pequena. "...No inverno, quando há de fazer sol e bom tempo, cantam toda a noite no alagadiço, onde se criam.... São verdes..., também esfoladas se comem e são muito boas." (Sousa, Trat. Descr., 265)
mba'ereme? (etim. - por ocasião de que coisas?) (interr.) - quando? em que situação? por ocasião de quê? (Fig., Arte, 133); em que hora? (Fig., Arte, 127) ● mba'e-mba'ereme? - quando? em que situações? em que ocasiões? em que horas: Mba'e-mba'eremepe asé îeruréû i xupé? - Em que situações a gente reza para ele? (Ar., Cat., 23v); Mba'e-mba'eremepe asé nhemombe'une? - Em que ocasiões a gente se confessará? (Ar., Cat., 90v-91)
nunduk (v. intr.) - latejar (p.ex., a ferida ou a cabeça, quando doem) (VLB, II, 19)
té1 (adv.) - enfim, finalmente; até que enfim, eis que (quando se conta alguma coisa) (VLB, I, 109; 111): Té osyka. - Enfim chegou. (Anch., Arte, 57); Îandé té t'îabebé Tupãrorypápe nhẽ... - Nós, enfim, havemos de voar para o paraíso. (Anch., Teatro, 186, 2006) ...Kó té mi'u-eté... - Eis que este é o pão verdadeiro. (Ar., Cat., 85); Té ixé gûixóbo. - Eis que eu vou. (VLB, I, 109) ● té... ko'yté - finalmente: Té ahẽ serasóbo ko'yté. - Finalmente ele a levou. (VLB, I, 139); Tépe? - E finalmente? (VLB, I, 139); E enfim? (Como quem diz: -acaba o que estavas contando.) (VLB, I, 111)
sobrinho - (filho do irmão ou primo de h.): ta'yra, tyky'yra2 (quando mais velho); (filho do irmão ou primo de m.): penga (m); (filho da irmã ou prima de m.): i'yra
puruk (v. intr.) - estalar (como a árvore ou a viga da casa quando caem) (VLB, I, 127) ● pururuk (redupl.) - ficar estalando: kapi'ĩ-pururuka - capim que fica estalando, junco (VLB, II, 16)
apó1 (dem. pron. e adj.) - aquele (es, a, as), aquilo (como quando se esquece do nome): Apó é. - Aquele mesmo. (VLB, I, 39); T'i îerobîar apó abá ri. - Confiemos nesses homens. (Léry, Histoire, 355)
erumby1 (adv.) - 1) finalmente, enfim (Fig., Arte, 148); 2) senão quando; e nisto (VLB, II, 115)
pa'ũpa'ũ (adv.) - com intervalos; uma vez sim, outra não; de vez em quando: Aîké-pa'ũpa'ũ nhote Tupãokype. - Entro na igreja só de vez em quando. (VLB, II, 13)
pita'i (m) (s.) - borbulhas, empolas pequenas da pele que se fazem quando se entra n'água muito fria ou com o vento; arrepiamento (p.ex., de frio); (adj.) - arrepiado; (xe) ter borbulhas: Xe pita'i-ta'i. - Eu estou muito arrepiado. (VLB, I, 57)
nyng (adv.) - a latejar, em pulsação (p.ex., a ferida ou a cabeça, quando doem): Nyng a'é; Nyn-nyng a'é. - Estou a latejar. (VLB, II, 19; adapt.)
-te?1 (part.) - 1) pois? porventura? por acaso? mas? (Negando, como quando se diz: Porventura ele foi?, sabendo-se que não foi.) (VLB, II, 82): Abá-tepe osó? - Quem foi, pois? (como que perguntando: -Não foi ninguém?) (Anch., Arte, 36); Asó-tepe ixé? - Fui eu, pois? (como que dizendo: -Eu não fui.); Osó ruã-tepe é? - Foi, porventura? (Anch., Arte, 36); 2) (expressa admiração) - então?: Osó-tepe ra'e é? - Então foi? (Anch., Arte, 36)
kub (v. intr.) - estar (em sentido geral. Usa-se apenas no plural, quando não se sabe ou não se tem interesse em se definir a posição em que está o sujeito.): Mokõnhõ... kó taba pupé sekóû, oîepysyrõmo okupa. - Poucos nesta aldeia moram, estando a salvar-se. (Anch., Teatro, 16); Oîkó kûepe mba'e resé nde ma'enduara,... enhemongetábo ekupa? - Estava longe tua lembrança das coisas, estando a conversar contigo mesmo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 105); Orokub ikó. - Eis que aqui nós estamos. (VLB, I, 128); ...Nde membyramo orokupa... - Como teus filhos estando nós. (Anch., Poemas, 148)
umby2 (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - torcer-se (como o lagarto que, quando o matam, revira o rabo ou a metade do corpo para cima, em arco) (VLB, II, 132)
NOTA - Daí, no P.B., MUCICA (NE.), empuxão que o pescador dá à linha quando sente que o peixe mordeu a isca; empuxão dado à linha do papagaio de papel; FAZER MUCICA: puxar o boi pela cauda para o derribar (in Dicion. Caldas Aulete).
seîxu (s. astron.) - 1) a constelação das plêiades ou setestrelo, que, quando começava a ser vista pelos índios, em meados de janeiro, fazia, segundo eles, chegar as chuvas. (D'Abbeville, Histoire, 316v); 2) ano: Seîxu îabi'õ nhemombe'u - confessar-se a cada ano (Ar., Cat., 17); ...mosapyr koîpó oîoirundyk seîxu ybŷá o tym'iré... - ...três ou quatro anos após os enterrarem. (Ar., Cat., 179v)
'ara6 (s.) - entendimento, juízo: ...Asé îemongaraíme o 'ara moíni?... - Quando a gente se batiza, põe seu próprio entendimento?... (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); Eresabeyporype kaûĩ suí 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v); T'asabeypóne 'ara mokanhema... - Hei de me embebedar para perder o juízo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
kanugûá (ou kanûá) (s.) - resplendor (de diversas cores, como o de pássaros quando lhes dá o sol); (adj.) - resplandecente (de diversas cores): Xe kanugûá. - Eu sou resplandecente. (VLB, II, 103)
'apytera1 (s.) - o alto da cabeça: Îandé 'apytera 'arybo 'ara rume, xe ruri. - Quando o sol estava no alto de nossas cabeças, eu vim. (VLB, I, 112; Castilho, Nomes, 29)
ybyranupã (etim. - os bate-paus) (s. etnôn.) - nome de nação indígena tapuia. "Quando justam com os contrários, fazem grandes estrondos, dando com uns paus nos outros." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
NOTA - Em Rego de Carvalho lemos: "Até os caçadores mais espertos se arrepiam quando a CANGUÇU dá aquele rugido ao ser baleada." (in Somos Todos Inocentes, apud Novo Dicion. Aurélio)
abyky2 (v.tr.) - 1) apalpar, tocar: Nde rorype abá nde abykyreme? - Tu te alegras quando um homem te apalpa? (Ar., Cat., 234); 2) fazer de mãos, tratar com as mãos, manusear: Aîabyky. - Manuseio-o. (Anch., Arte, 49v) (Anch., Arte, 50)
NOTA - Daí, o nome do chefe TAMANDIBA, um dos morubixabas aliados dos portugueses quando da fundação de São Paulo de Piratininga, em 1554.
erekorekó (v.tr.) - 1) confundir; misturar, fazer confusão (p.ex., de uma coisa com outra, quando se conta algo); dizer e desdizer: Arekorekó. - Fiz confusão. (VLB, I, 80); Arekorekó i mombegûabo. - Contando-o, digo-o e desdigo-o. (VLB, I, 104); 2) falar com dificuldade (como o que quer mentir), tartamudear (VLB, II, 125)
Guapimirim (localidade do RJ). "Nossa Senhora D'Ajuda de Aguapeí Mirim foi seu primeiro nome, quando fundada em 1674." (fonte: IBGE). De agûapé + 'y + mirĩ: rio pequeno dos aguapés.
mombe'uabaíb (etim. - contar com dificuldade) (v.tr.) - confundir, misturar (uma coisa com outra quando se conta algo) (VLB, I, 80)
marãneme? (interr.) - em que horas? em que conjunção de tempo? (Fig., Arte, 133); em que ocasiões? quando?: Marãneme-tepe asé îobasabine? - Mas quando a gente se benzerá? (Ar., Cat., 21v)
A busca de etimologias de topônimos pode ser uma importante ferramenta do estudo histórico quando eles foram atribuídos naturalmente por índios, caboclos ou quaisquer colonos falantes do tupi ou das línguas gerais coloniais. Revelam-nos aspectos do ambiente físico e humano do passado. Os topônimos continuam a existir, muitas vezes, mesmo depois que esse ambiente já se modificou. Com efeito, o topônimo é um verdadeiro fóssil linguístico, segundo o geógrafo Jean Brunhes. Muitos topônimos têm fácil etimologia. Outros, contudo, necessitam, para se compreender seu perfeito significado, de estudo dos mais antigos documentos históricos disponíveis para se averiguar a motivação de sua atribuição, sua mais antiga grafia ou, ainda, explicações etimológicas daqueles que falavam tupi ou as línguas gerais. Isso foi feito quando possível, neste trabalho, com emprego de grande documentação.
poti1 / epoti (t) (v. intr. irreg.) - defecar: Apoti. - Defeco. (Anch., Arte, 58); sepotireme - quando ele defeca (Anch., Arte, 58) ● potîara - o que defeca; potîaba - tempo, lugar, modo, etc. de defecar (Fig., Arte, 63)
Tocantins (estado brasileiro). "Chama-se rio dos Tocantins, por uma nação de índios dêste nome, que quando os portugueses vieram ao Pará o habitavam [...]" (Pe. Antônio Vieira [1654], Carta ao Padre Provincial do Brasil, p. 376). De tukana + tĩ: bicos de tucanos.
ruru (s.) - 1) inchamento; 2) gravidez: -Erimba'epe i xóû i xupa? -I membyra São João rurureme. - Quando foi para visitá-la? -Por ocasião da gravidez de seu filho São João. (Ar., Cat., 35); (adj.) - 1) inchado, embebido: Xe ruru. - Eu estou inchado. (Fig., Arte, 38); 2) prenhe, grávida (VLB, II, 11)
NOTA - Daí, no P.B., CAAETÉ, CAETÊ, CAETÉ ou CAITÉ, a parte da floresta amazônica que só se inunda quando das grandes enchentes. Daí, também, o nome geográfico CAETETUBA (SP) (v. p. 386).
marãete'ĩ?2 (interr.) - como? em que condição? de que maneira?: Marãete'ĩpe Jesus o enosẽme? - Como estava Jesus quando ele o fez sair?... (Ar., Cat., 60v); Marãete'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanoĩ suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v) ● Marãete'ĩ-pipó? - Como parece?: Marãete'ĩ-pipó peẽmo? - Como vos parece? (Ar., Cat., 56v)
Ubajara (CE). Nome de um cacique que habitou a região. De ubá + îara: dono de canoas. Tal nome foi atribuído quando foi criado o município, em 1915. (fonte: IBGE)
gûará1 (s.) - GUARÁ, ave ciconiforme da família dos tresquiornitídeos, que vive em mangues e áreas pantanosas. "Quando nasce é preto e depois se faz pardo; quando já voa faz-se todo branco e, depois, faz-se vermelho claro e, enfim, torna-se vermelho... e nesta cor permanece até a morte." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 62; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 270)
amopira (s.) - cadilhos, fios primeiros de um tecido que não levam teagem de fios atravessados e que ficam soltos quando se cortam as teias (VLB, I, 62)
buîeîa (s.) - BUIJEJA, espécie de lagarta nativa, "a qual é muito resplandescente...; parece uma candeia acesa e, quando anda, é ainda mais resplandescente" (Sousa, Trat. Descr., 270)
mogûyapi (v.tr.) - 1) derrubar, lutando (VLB, I, 95); 2) fazer cair, fazer desarmar-se (p.ex., a armadilha de peso, quando se quebra a corda do pinguelo) (VLB, I, 96)
pynõ1 / epynõ (t) (v. intr. irreg.) - emitir ventosidade, peidar: Apynõ. - Peido. (Anch., Arte, 58); sepynõneme - quando ele peida (Anch., Arte, 58) ● pynõsara - o que peida (Fig., Arte, 63); pynõsaba - tempo, lugar, modo, etc. de peidar (Fig., Arte, 63)
atá1 (s.) - caminhada: Iîabaíb-eté nhẽ rakó îasy putuneme, asé atá mysakanga... - São muito molestos, certamente, quando a lua está escura, os tropeços de nossa caminhada. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); Xe atá-pûan. - Eu tenho uma caminhada ligeira, ando depressa. (VLB, I, 35); atá-irũ - acompanhante de caminhada (VLB, II, 73)
atãngatu (t) (etim. - muito firme) (s.) - 1) valente, forte, rijo (Segundo D'Abbeville, era como os índios se chamavam quando se consideravam guerreiros. In Histoire, 293v); 2) força, valentia: Pe ratãngatu resé gûiîekoka, asó-potá... - Apoiando-me na vossa valentia, quero ir. (Anch., Teatro, 146-148); [adj.: atãngatu (r, t) ou (r, s)] - valente; forte: ...Eîmombe'u pakatu nde angaîpagûera... nde ratãngaturamo... - Conta todos os teus pecados, sendo forte. (Ar., Cat., 98); Epytá! Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? - Fica! Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? (Anch., Teatro, 64)
aír (s) (v.tr.) - fazer incisão em, riscar: Eresaírype nde ra'yra îasy semypyreme? - Fizeste incisões em teu filho quando a lua começou a sair? (Ar., Cat., 99); Opá nde reté raíri itatiãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120) ● aisaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de riscar; risco, risca, incisão (VLB, II, 106)
me'engaba1 (etim. - dom, oferta) (s.) - 1) cônjuge: O me'engabeté re'õneme, abá nd'e'ikatuî omendá i asykûera amõ resé. - Quando morre seu cônjuge verdadeiro, uma pessoa não pode casar-se com algum irmão ou irmã dele. (Ar., Cat., 280); 2) noivo (a), prometido (a): O me'engabeté pyky'yra koîpó tykera... resé obykyba'e n'e'ikatuî omendá o me'engabeté resé tiruã... - O que tocou na irmã mais moça ou na irmã mais velha de sua noiva verdadeira não pode casar-se nem mesmo com sua noiva. (Ar., Cat., 131)
îu'i-îia (s.) - JUÍ-JIA, batráquio da família dos hilídeos, variedade de rã. "São brancacentas e andam sempre na água e, quando chove muito, falam de maneira que parecem crianças que choram." (Sousa, Trat. Descr., 265)
karaîu (s.) - nome de uma ave, "grande como um falcão. Os escravos negros o temem porque eles são bicados por estas aves quando estão no trabalho." (Griebe, Brasil Holandês, vol. III, 81)
aanumẽ (ou aanymẽ) (part.) - 1) não: Aanumẽne! Asabeypó... - Não! Estou bêbado. (Anch., Teatro, 46); 2) não seja assim (como quando um admoesta ou roga a outra pessoa que desista de algo) (VLB, II, 47)
marãbirĩ (ou marãmirĩ) (adv.) - mal, perversamente, no mal: O a'yra marãbirĩ sekóreme senonhene'yma. - Não corrigindo seu filho quando ele estiver no mal. (Anch., Diál. da Fé, 206); N'abasẽ-mirĩ-angáî marãbirĩ ikó abá rekopûera amõ supé... - Não encontrei nem um pouquinho, absolutamente, algum ato deste homem no mal. (Ar., Cat., 58v)
poesemõ (etim. - encher as mãos) (v.tr.) - encher, abarrotar, repletar: Ereîmoîebyrype kaûĩ nde poesemõneme? - Vomitaste cauim quando te encheu? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103) [v. tb. esemõ] (VLB, I, 17)
'ara2 (s.) - sol: Asé 'apyterype 'ara ruî. - No alto de nossas cabeças o sol está. Îandé 'apytera 'arybo 'ara rume, xe ruri. - Quando o sol estava no alto de nossas cabeças, eu vim. (VLB, I, 112); 'Ara yby sokeme, xe ruri. - Ao fustigar o sol a terra, eu vim. (VLB, I, 112)
moîoakypûer (v.tr.) - fazer um atrás do outro, repetir um depois do outro: Aîmoîoakypûer (mba'e). - Faço as coisas uma atrás da outra (quando são só duas). (VLB, I, 154, adapt.); Aîmoîoakypûé-kypûer. - Faço-as umas atrás das outras (se são muitas). (VLB, I, 154)
syk4 (adv.) - no total, na totalidade, totalmente: I angaturam sykype erimba'e Tupã o monhang-ypyreme? - Eram bons na totalidade quando Deus começou a criá-los? (Anch., Doutr. Cristã, I, 160); mokõ-mokõî syk - dois e dois no total (isto é, quatro) (VLB, I, 154)
Às vezes houve dificuldades em se saber se uma palavra provinha do tupi antigo ou se era herança das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Quando o termo passou inalterado do tupi quinhentista e seiscentista para aquelas outras línguas, somente um estudo histórico poderia, talvez, dirimir tais dúvidas. Com relação à língua geral meridional, escassíssimos são os textos escritos nela. O que podemos dela saber provém principalmente dos nomes geográficos e dos brasileirismos meridionais. Assim, muitas tentativas de resgate de seus vocábulos não poderiam passar do plano da hipótese.
mangará (s.) - MANGARÁ, nome comum a diversas espécies de plantas aráceas com tubérculos comestíveis (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 47). "...Quando se colhem, arrancam-nos debaixo da terra em touças... e tiram-se de cada pé duzentos e trezentos juntos." (Sousa, Trat. Descr., 181)
gûebirãîari (adv.) - forçadamente, com constrangimento, com violência, pelos cabelos, pressionado: Gûebirãîari nhote aîkó. - Estou pressionado (isto se diz quando já se está para ir). (VLB, I, 61)
marã2 (pron.) - alguma coisa, qualquer coisa, algo [em geral com os verbos 'i / 'é, ikó / ekó (t)]: ...asé 'anga tekokaturama resé marã i 'ereme. - ...quando ele diz algo acerca do bem proceder de nossa alma. (Ar., Cat., 69); T'oîapysaká a'ereme marã o 'anga moingó-katuagûama resé... - Que ouça, então, alguma coisa, para fazer estar bem sua alma. (Ar., Cat., 11v); Îeperibe'ĩ asé marã i 'éû onhemoŷrõ ymûan. - Mal a gente diz algo, já se irrita. (VLB, II, 11) ● marã... 'é tenhẽ (ou marã ... 'é tenhẽ-tenhẽ ou 'é tenhẽ marã) - dizer algo ocioso, dizer asneiras, dizer algo tolo (VLB, II, 54): A'é tenhẽ marã gûi'îabo. - Dizendo algo, digo asneiras. (VLB, II, 54)
arará (s.) - ARARÁ, espécie de formiga alada branca, semelhante ao cupim, também chamada irará.... "Não saem do ninho senão depois que chove muito... e quando saem fora é voando e sai tanta multidão que cobre o ar..." (Sousa, Trat. Descr., 239)
tataûrana1 (etim. - falso fogo escuro) (s.) - TATURANA, TATARANA, nome comum a lagartas de insetos lepidópteros que causam sensação urticante, de queimadura, quando tocam a pele; é também conhecida como lagarta-de-fogo: Akó xe îubykarûera, tataûrana...! - Esse é meu antigo enforcador, uma taturana... (Anch., Teatro, 62)
mboîpeba (etim. - cobra chata) (s.) - BOIPEVA, BOIPEBA, GOIPEVA, PEPÉUA, PEPEVA, cobra-chata, cabeça-chata, cobra não peçonhenta da família dos colubrídeos, que, quando irritada, achata o corpo (Piso, De Med. Bras., III, 171; VLB, I, 76)
Eu não troco o meu ranchinho / Amarradinho de cipó / Por uma casa na cidade / Nem que seja bangalô / Eu moro lá no deserto / Sem vizinho, eu vivo só / Só me alegra quando pia / Lá prá aqueles cafundó / É o nhambuxitão e o xororó.
îeke'i (s.) - 1) covo pequeno de peixes: Ereîosubype abá îeke'i kûara? - Visitaste o buraco do covo de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99); 2) pequena nassa que serve quando as águas transbordam do curso do rio (Léry, Histoire, 360)
pungá (m) (s.) - 1) hidropisia (VLB, II, 8); 2) inchamento, intumescimento; (adj.) - 1) hidrópico (VLB, II, 8); 2) intumescido, cheio (p.ex., a vagem com feijões); inchado, quando molhado (p.ex., a farinha, o livro): Xe pungá. - Eu estou inchado. (VLB, II, 11); Topé-pungá - vagem cheia (VLB, II, 140, adapt.)
sobrinha - (filha do irmão ou primo de h.): taîyra; (filha da irmã ou prima de h.): îetypera; (filha do irmão ou primo de m.): penga (m); (filha da irmã ou prima da m.): tykera (quando mais velha), piky'yra (quando mais moça)
mukuîé (s.) - MUCUJÊ, planta da família das apocináceas (Couma rigida Mull. Arg.), cuja característica mais notável é fornecer um látex adocicado e potável, usado como leite. "Quando se hão de escolher, sempre se corta toda a árvore por serem muito altas e se não fora esta destruição houvera mais abundância." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 39)
Canguaretama (RN). De kangûer + etama (t): região de esqueletos. "A história de Canguaretama registra o episódio denominado "Martírio de Cunhaú", em 1645, durante o domínio holandês, quando o judeu alemão Jacob Rabi, delegado do Conde Maurício de Nassau junto a tribo dos Janduís, ali chegou, convocando os moradores para um encontro pacífico, após a missa dominical. Nesse domingo, por ocasião da elevação da hóstia, mandou que os índios invadissem a capela, matando todos os presentes, e até os que se encontravam na casa grande do engenho foram massacrados." (fonte: IBGE)
NOTA - "Tôdas estas invenções por um vocábulo geral chamam "Caraíba", que quer dizer como coisa santa ou sobrenatural; e por esta causa puzeram êste nome aos portuguêses, logo quando vieram, tendo-os por coisa grande, como do outro mundo, por virem de tão longe por cima das águas." (José de Anchieta [1584], Informação do Brasil e de suas Capitanias, p. 49)
momara'ar2 (v.tr.) - fazer doente, deixar doente, fazer adoecer: ...O moaîureme o momara'areme a'e i arybeba'erama biã sasyeté, memetipó i arybeba'erame'yma... - Se ele tem muita dor quando o empalidece e quando o deixa doente aquilo que se abrandará, quanto mais aquilo que não se abrandará. (Ar., Cat., 165); Aîmomara'ar. - Faço-o doente. (Anch., Arte, 48)
ûapiku (s.) - var. de pica-pau, ave da família dos picídeos. "...Têm o corpo preto e as asas pintadas de branco e bico comprido, tão duro e agudo que fura com ele as árvores... e quando dão as picadas no pau, soa a pancada a oitenta passos e mais." (Sousa, Trat. Descr., 238)
Capão (BA). Mancha de mata em meio a um descampado [de ka'a - mata + 'ypa'ũ - ilha: ilha de mata]. "[...] outras vezes se vão esconder em algũas ilhas de matos fechados, que de quando em quando se acham nestas campinas, a que chamam caapões, que quer dizer ilhas de mato [...]" (Pe. João Daniel [1757], p. 75)
naani1 (adv.) - não, de modo algum, absolutamente não (Bettendorff, Compêndio, 42): -Mba'epe asé oîmoeté abaré itaîukamusi rupireme? Akó itaîukamusi anhõtepe? -Naani... -Que a gente honra quando o padre ergue o cálice? Aquele cálice somente? -De modo algum. (Ar., Cat., 153-154)
îu'iponga (etim. - rã batedeira) (s.) - JUIPONGA, sapo-ferreiro, sapo-tanoeiro, anfíbio anuro da família dos hilídeos, que vive junto aos alagadiços e rios e trepam nas árvores. "São grandes e quando cantam parecem caldeireiros que malham nas caldeiras..., as quais se comem e são muito alvas e gostosas." (Sousa, Trat. Descr., 264)
nakamẽ (adv.) (o mesmo que nakó amẽ) - geralmente, costumeiramente, de costume (VLB, II, 120): I nhe'engetá tenhẽ nakamẽ abá ogûe'õ kakareme... - Tem o homem, geralmente, muitas palavras em vão quando se aproxima de sua morte. (Ar., Cat., 156)
ybysosokypyra (etim. - terra socada) (s.) - 1) entulho de terra (VLB, I, 119); 2) taipa de pilão, isto é, parede de barro socado entre duas tábuas paralelas, que lhe servem de molde e que são retiradas quando seca o barro (VLB, II, 123)
aratupeba (etim. - aratu achatado) (s.) - ARATUPEBA, espécie de crustáceo dos mangues, da família dos grapsídeos. Vive em árvores ou arbustos, nos quais sobe facilmente, curiosamente se deixando cair quando ouve um ruído estranho. (D'Abbeville, Histoire, 248; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 183 e 185)
po'ẽ2 (s.) - tipo de armadilha (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §122, 99); pinguela de esteira, isto é, tipo de esteirinha ou grade feita de varinhas delgadas que toma quase todo o vão da armadilha. Quando se arma, fica essa esteirinha dois ou três dedos levantada do chão e, assim que a caça põe os pés para passar por cima dela, faz desarmar o pinguelo que se apoiava em uma das varinhas da extremidade. (VLB, II, 77)
anhõte (ou anhotenhẽ) (adv.) - tão somente: Ixé anhotenhẽ. - Eu, tão somente. (VLB, II, 118); -Mba'epe asé oîmoeté abaré itaîu-kamusi rupireme? Akó itaîu-kamusi anhõtepe? -N'aani... -Que a gente adora quando o padre ergue o cálice de ouro? Aquele cálice de ouro, tão somente? -Não. (Ar., Cat., 153-154)
ypy1 (v.tr.) - começar a (com verbo incorporado): ...sa'ang-ypŷabo - começando a pronunciá-lo (Ar., Cat., 25v); Osepîápe karaibebé Tupã o monhangara o monhang-ypyreme? - Viram os anjos a Deus, seu criador, quando ele começou a criá-los? (Ar., Cat., 37v)
umûã (ou umûan) (adv.) - já: Aîuká umûã tupi. - Matei já os tupis. (Anch., Teatro, 142); Ixé aé ã a'é umûã nakó peẽme. - Eu mesmo, como se viu, já vos disse isso. (Ar., Cat., 54v); Nde rureme aîuká umûan. - Quando tu vieste, já o tinha matado. (Anch., Arte, 21v)
ungá (s) (v.tr.) - apalpar, apertar com os dedos: Eresungápe nde rygé nde membyra îukábo...? - Apalpaste teu ventre para matar teu filho? (Ar., Cat., 102); Nde rorype... nde kama abá sungáreme? - Tu te alegras quando um homem apalpa teus seios? (Ar., Cat., 234, 1686)
yaíba (r, t) (etim. - água má) (s.) - tormenta do mar bravo; tempestade do mar: O'ar yaíba ixébo. - Caiu-me uma tormenta. (VLB, II, 125); [adj.: yaíb (r, t)] - tempestuoso (VLB, II, 126); (xe) - fazer ondas (o mar, quando em tormenta) (VLB, II, 57) ● yaíbusu (r, t) - grande tormenta do mar (VLB, II, 132)
pîar (ou pîá) (-îo-) (v.tr.) - 1) cercar (p.ex., os inimigos), rodear: Aîopîar. - Cerquei-os. (VLB, I, 70); Marãnamo-pakó tobaîara nde retama pîareme ko'arapukuî pysaré ereîkó sesé enhemosako'îabo, ekere'yma? - Por que, quando os inimigos cercam tua terra, o dia todo e a noite toda, estás preocupando-te com eles, não dormindo? (Ar., Cat., 158); 2) escudar, cobrir, defender: ...I katupenhẽ, i xy aé ipó opîá o akangaobĩ pupé. - Ele estava nu, cobrindo-o sua própria mãe com seu véu. (Ar., Cat., 62); I xy, i aso'ikatûabo, oîopîá ro'y suí... - Sua mãe, cobrindo-o bem, defende-o do frio. (Anch., Poemas, 162)
pirãîa1 (ou piranha) (etim. - peixe dentado) (s.) - PIRANHA, nome comum a várias espécies de peixes carnívoros da família dos caracinídeos. Possuem muitos dentes e atacam pessoas e animais que entram n'água, principalmente quando percebem sangue. (D'Abbeville, Histoire, 247; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 164)
ybyrarema (etim. - madeira fedorenta) (s.) - IBIRAREMA, nome comum às seguintes plantas fitolacáceas: 1) a Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms, chamada também GORAREMA, GURAREMA, GUAREMA, UARAREMA, GUARAREMA ou pau-d'alho. Quando cortada sua madeira, exala fedor terrível. (Sousa, Trat. Descr., 222); 2) o cipó-d'alho, Seguiera americana L. Essas plantas "a tal ponto rivalizam com as qualidades do alho que, tocadas ainda de mui leve, recendem de acentuadíssimo cheiro bosques e casas inteiros..." (Piso, De Med. Bras., 201)
Avaré (SP). De abaré - padre. Nome antigo de rio que banha a região, atribuído artificialmente ao município no final do século XIX. "(...) Nome de um monte avistado ao longe onde, segundo a lenda, fora encontrado um monge quando os posseiros ali penetraram." (fonte: IBGE)
akaûã (ou kaûã) (s.) - ACAUÃ, MACAGUÃ, MACAUÃ, ACANÃ, NACAUÃ, UACAUÃ, CAUÃ, ave da família dos falconídeos, conhecida por seu canto, que se dá geralmente no crepúsculo e no alvorecer. É predador de cobras, mesmo peçonhentas. "E quando o gentio vai de noite pelo mato que se teme das cobras, vai arremedando estes pássaros para as cobras fugirem." (Sousa, Trat. Descr., 234)
NOTA - Daí, no P.B., CAPEPENA (ka'a + pẽ-pena, "ficar quebrando o mato"), 1) sinal feito na mata, quebrando-se ramos e galhos por onde se passa para se reconhecer o caminho na volta: "Governam-se pelo sol, lua e estrelas; e só quando os matos são pouco limpos por baixo ex vi dos arbustos, que nascem à sombra dos arvoredos, costumam fazer um sinal, a que chamam caapeno, que significa mato quebrado, e é o irem quebrando com a mão alguns raminhos daqueles arbustos, que vão deixando semiquebrados e dependurados, para que na volta sirvam de balizas, e mostradores, que lhes apontem o caminho pelo qual tornem a sair ao mesmo lugar. (Pe. João Daniel [1757], p. 252); 2) picada aberta deste modo (in Dicion. Caldas Aulete).
kûatimundé (etim. - quati de armadilha) (s.) - QUATI-MUNDÉU, macho adulto dos quatis (Nasua nasua), que foi expulso do bando. Os quatis possuem uma organização social dominada por fêmeas. No bando, além destas, somente os machos jovens são admitidos. Quando chegam à idade adulta, estes são expulsos. O macho adulto é maior e, em geral, de coloração avermelhada. Como vive desgarrado de um bando, tendo vida solitária, é mais facilmente aprisionado, donde seu nome. (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1130-1137)
umbu (s.) - UMBU, IMBU, 1) nome de duas árvores da família das anacardiáceas (Spondias purpurea L. e Spondias tuberosa Arruda), também chamadas UMBUZEIRO, IMBUZEIRO, AMBUZEIRO; 2) o fruto dessas árvores, o qual tem casca e polpa muito amarelas, quando maduro. É muito empregado no Norte do Brasil para o preparo de uma bebida, a UMBUZADA ou IMBUZADA. "Dá-se esta fruta ordinariamente pelo sertão, no mato que se chama a caatinga." (Sousa, Trat. Descr., cap. LIII).
kamusuîara (etim. - o que porta grandes seios) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena do sertão. O nome se deve à crença de que esses índios portavam grandes seios (kama + -usu + îara): "Estes têm mamas que lhes dão por baixo da cinta e perto dos joelhos e, quando correm, cingem-nas na cinta." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
supikatu2 (s.) - verdade, justiça: Supikatu i kuabypyra supé "aan nhẽ" o'îabo tenhẽ. - Dizendo não para a verdade conhecida. (Bettendorff, Compêndio, 16) ● supikatundûara - o que é verdade, o que é justo, o que é verdadeiro: ...Marana supikatundûaramo sekóreme é. - Quando a guerra for aquilo que é justo. (Ar., Cat., 103)
Itaipaba (CE). De itá + upaba: lagoa das pedras, itaupaba, itaupava, barra transversal, recife ou rocha, por cima da qual passam as águas de um rio. "Este primeiro rio, a que chamam Tieté, é o mais cheio de cachoeiras e das peores. O fundo d'elle é quasi todo pedra, quando esta é assentada por igual, mas com pouco fundo, de modo que algumas partes era calháo, onde roçam as canôas; chamam a isto itaupaba (...)." (D. Antonio Rolim [1751], Relação, p. 475).
tinga1 (s.) - 1) brancura: Akó aoba i putukapyra sosé o 'anga tinga. - Mais que a roupa batida é a brancura de sua alma. (Ar., Cat., 188, 1686); 2) coisa branca: Mba'e-tepe kûé tinga asé remiepîaka abaré hóstia rupireme...? - Mas que é aquela coisa branca que vemos quando o padre ergue a hóstia? (Bettendorff, Compêndio, 84); 3) claridade; (adj.: ting) - 1) branco [irregular: xe ting - eu (sou) branco; ting - ele é branco - O t- vale pelo pronome de 3ª p.]: Osobá-syb aó-tinga pupé. - Limpou seu rosto com um pano branco. (Ar., Cat., 62); ...ybyku'i-tinga gûyri... - sob a areia branca (Anch., Teatro, 170); ...Ûyrá-tinga our xebe. - Um pássaro branco veio a mim. (D'Abbeville, Histoire, 353); 2) claro: Xe resá-ting. - Eu tenho olhos claros. (VLB, I, 147)
NOTA - No P.B., CURURU, além de termo genérico para certos sapos grandes, de pele enrugada, pode ser também um termo específico para os do gênero Bufo, o sapo-cururu, propriamente dito. No folclore brasileiro tal palavra está presente: SAPO-CURURU / Da beira do rio / Quando o sapo canta, menino, / Ele está com frio.
morerekoara1 (etim. - o que está com as pessoas) (s.) - guardião, o que cuida, o que agasalha, o responsável [por algo ou por alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Eresaûsubápe nde sy nde ruba i mba'easy tume, sesé nde morerekoaramo...? - Tens compaixão de tua mãe e de teu pai quando eles estão deitados, doentes, sendo responsável por eles? (Ar., Cat., 101); (adj.: morerekoar) - agasalhador, guardião (VLB, I, 23): Nde morerekoar xe ri... - Tu és guardião de mim. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618)
NOTA - Daí, os nomes geográficos CATETE (RJ), TAMANDUATEÍ (rio de SP), etc. (v. p. 386). Daí, também, no P.B., ABAETÊ, homem honrado, honesto; AJURUETÊ, papagaio-verdadeiro, nome de ave psitacídea; CAAETÊ (ka'a + eté, "mata verdadeira"), região da floresta amazônica que só se inunda quando das grandes enchentes; JAGUARETÉ, o "jaguar verdadeiro", a onça; SUAÇUETÊ, veado, etc.
NOTA - Daí provém, no P.B., ABAITÉ, pessoa feia, repulsiva. Daí também se origina o nome geográfico LAGOA DO ABAETÉ ("lagoa do terror"), próxima de Salvador, BA, considerada um lugar mal-assombrado. Dorival Caymmi escreveu uma canção dedicada a essa lagoa, cuja letra diz: "De manhã cedo, quando a lavadeira / Vai lavar roupa no ABAETÉ / Vai-se benzendo porque diz que ouve / Ouve a toada do batucajé.
i4 1) (pron. pess. de 3ª p.) - a) (pron. sujeito) - ele (s, a, as): ...I ndibé nde moetébo. - Com ele honrando-te. (Anch., Poemas, 84); ...I apysy-katueté. - Eles se consolam muitíssimo. (Anch., Poemas, 96); I ma'enduar. - Ele se lembra. (Anch., Arte, 20v); b) (pron. objeto - Assume a forma î quando precedido de vogal.) - o (a, os, as): Aîpysyk-atã. - Segurei-o fortemente. (VLB, I, 38); Aîkutuk. - Feri-o. (VLB, I, 137); Abá sosé pabẽ i momorangi... - Acima de todas as pessoas embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); 2) (poss.) - seu (s, a, as); dele (s, a, as): i îara - seu senhor (Anch., Arte, 12v); ...I 'anga seté monhangi. - Suas almas e seus corpos fez. (Anch., Teatro, 28); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30)
iké2 / eîké (t) (v. intr. compl. posp. irreg.) - 1) entrar; penetrar (compl. com pe, pupé ou supé): -Oîképe a'e i boîá aé Anás rokype? -Oîké. -Entraram aqueles mesmos discípulos seus na casa de Anás? -Entraram. (Ar., Cat., 55); -Marã Santa Maria rekóremepe, karaibebé reîkéû i xupé? -Como estava Santa Maria quando o anjo entrou para junto dela? (Ar., Cat., 30v); Eîké kori xe nhy'ãme... - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Oîké îugûasu, i akanga kutuka... - Penetram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Oîké itapygûá nde 'anga pupé. - Penetram os cravos dentro de tua alma. (Anch., Poemas, 122); ...nde rokype oîkébo - entrando em tua casa (Anch., Poemas, 124); Aîké nhãîmbiara pupé. - Entrei nos caminhos das fontes. (Anch., Teatro, 46); 2) pôr-se (o sol); recolher-se: Tó! Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Ó! Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38) ● oîkeba'e - o que entra: ...Pe 'angyme oîkeba'epûera... - O que entrou em vossas almas. (Ar., Cat., 89); eîkeara (t) - o que entra: ...Îase'o rakó perekó peẽmo teîkeara moetesabamo... - Com pranto estai como modo de louvar o que entra junto a vós. (Ar., Cat., 85v); eîkeaba (t) - tempo, lugar, modo, causa, etc. de entrar; entrada: Oîepé karaibypy rekoangaîpaba ikó 'ara pupé seîkeagûera... - O pecado de um primeiro homem branco foi a causa de sua entrada neste mundo. (Ar., Cat., 154v-155) (O gerúndio de iké / eîké tem duas formas: gûiteîkébo ou gûikeabo, eîkébo ou eîkeabo, etc. Isso acontece também com verbos derivados dele, como moingé, îemoingé, etc.)
kama (s.) - mama, teta (Castilho, Nomes, 31), seio (de mulher ou de homem) (VLB, II, 29); úbere (VLB, II, 139): Endé, nde îybápe, Îesu eresupi i poîa-mirĩ nde kama pupé. - Tu, em teus braços, Jesus ergueste para alimentá-lo um pouco em teu seio. (Anch., Poemas, 118); Nde rorype... nde kama abá sungáreme? - Tu te comprazes quando um homem apalpa teus seios? (Ar., Cat., 234) ● kamapûá - ponta, bico de seio (Castilho, Nomes, 31); kama pora (ou kambora) - o que está no seio, o conteúdo do seio (Anch., Arte, 31v)
Cunhambebe (RJ). Era o nome de um famoso chefe tamoio do século XVI: "Foi continuando a derrota até á Ilha dos Porcos, a que uma sesmaria antiga chama Tapéra de Cunhambéba, por nella ter existido uma aldêa, de que era cacique Cunhambéba, aquelle indio, que na sua canôa conduzio para S. Vicente ao veneravel Padre José de Anchieta, quando voltava de Iperoyg." (Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], Memorias para a Historia da Capitania de S. Vicente hoje Chamada de S. Paulo, p, 118.). De kunhã + mbeb (forma nasalizada de peb) + -a: mulher achatada (i.e., sem seios, de seios muito pequenos). Tal etimologia não parecerá estranha se se lembrar que há o termo kambeba (kama + peb + -a: seio achatado), que designa uma fêmea estéril (VLB, II, 31). Cunhambeba devia ter um peito bem desenvolvido e musculoso.
moingó (v.tr.) - 1) fazer estar, colocar, pôr, estabelecer: Oîaobok serã ybŷa katupe nhẽ i moingóbo?... - Por acaso arrancaram sua roupa, fazendo-o estar nu? (Ar., Cat., 59v); ...Tupã remimotara rupi xe moingóbo... - Pondo-me segundo a vontade de Deus. (Ar., Cat., 23v); 2) fazer viver: Eresapîápe tekopoxy... resé nde moingóreme? - Obedeces a eles quando te fazem viver no vício? (Ar., Cat., 100v); 3) fazer agir, fazer proceder; empregar: Ereîmoingópe abá 'aretéreme marã i moporabykŷabo? - Empregaste alguém por ocasião de um feriado, fazendo-o trabalhar em algo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 85); Pedro aé emonã xe moingó-ukar. - O próprio Pedro mandou-me fazer proceder assim. (VLB, II, 12); 4) transformar: Ybyramo i moingoukare'yma. - Em terra não os mandando transformar. (Ar., Cat., 179v); 5) determinar, estabelecer, definir: Osapîápe asé i nhe'enga, o 'anga rekorama resé o moingóremene? - Obedeceremos a suas palavras quando ele determinar a respeito do futuro procedimento de nossa alma? (Anch., Doutr. Cristã, I, 224); 6) constituir, fazer (no sentido de atribuir funções, como fi-lo capitão, ele foi feito cavaleiro, etc.): Oromoingó tubixabamo. - Constituímos-te chefe. (VLB, II, 81); ...Taba raroanamo nhẽ Îandé Îara xe moingóû. - Nosso Senhor constituiu-me guardião da aldeia. (Anch., Teatro, 50); 7) encarregar: Pe îabi'õ Pa'i Tupã karaibebé moingóû. - De cada um de vós o Senhor Deus encarregou um anjo. (Anch., Teatro, 50) ● moingosara (ou moingoara) - o que faz estar, o que faz viver: ...Tekokatu resé îandé moingoara. - A que nos faz viver na virtude. (Anch., Poemas, 88); Tupã remimotara rupi asé moingosara - O que nos faz estar segundo a vontade de Deus. (Ar., Cat., 37v); i moingopyra: o que é (ou deve ser) colocado, posto, encarregado, etc.: Abaré asé rerekoaramo i moingopyra. - O padre que é colocado como guardião da gente. (Ar., Cat., 94); moingoaba (ou moingosaba) - tempo, lugar, modo, finalidade, causa, etc. de fazer estar, de fazer viver, de estabelecer; determinação, etc.: ...Tuba i moingoaba se'õ a'e i aîarõ. - Parece bem que sua morte fosse a finalidade com que seu pai o fez viver. (Ar., Cat., 4); Ereîkópe... abaré nde moingoaba rupi? - Procedeste segundo a determinação do padre a ti? (Ar., Cat., 98)
syk3 (v. intr.) - 1) acabar - ...Ikó îope'asagûera syk'iré esepîá-ukar orébe... - Após acabar este desterro comum, faze-nos vê-lo. (Ar., Cat., 14v); A'epe ikó 'ara pupé sepy syke'ỹme? - E no caso de não acabar sua dívida neste mundo? (Anch., Dial. Fé, 229); 2) completar-se: ...O membyra Maria rerasóû... mosapyr ro'y sykeme. - Levou sua filha Maria quando se completaram três anos. (Ar., Cat., 8v); 3) transcorrer ● sykaba - tempo, lugar, modo, etc. de acabar, de completar-se, de transcorrer: ...Oîoirundyk îeapyká sykápe. - No transcorrer de quatro gerações. (Ar., Cat., 129)
moanhan (ou moanhã) (v.tr.) - empurrar, dar encontrão em: ...Oîmoanhã satápe... - Empurra-o para seu fogo. (Anch., Poemas, 188); Xe-te xe mboú kori pe moanhana, pe mondóbo ikó setama suí. - E a mim é que faz vir hoje para vos empurrar, enxotando-vos desta sua terra. (Anch., Teatro, 180); Ereîmomaranype nde mena... "-t'oropyk" i 'éreme, i moanhana? - Resististe a teu marido quando ele disse: "-hei de te cobrir", empurrando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98)
pak (v. intr.) - acordar: Nd'eréî epaka ranhẽ. - Ainda não acordaste. (Fig., Arte, 25); Nd'a'éî gûipaka ranhẽ. - Ainda não acordei. (Fig., Arte, 25); Opaka bé sesé o ma'enduaramo... - Lembrando-se dele assim que acorda. (Ar., Cat., 74v); Apak gûitupa. - Estou acordando. (VLB, I, 20) ● pakaba - tempo, lugar, modo, etc. de acordar: "...-I katupe nhẽ temõ mã!" erépe nde pakagûerype? - Disseste quando acordaste: "-Oxalá ela estivesse nua!"? (Ar., Cat., 104v)
manema (s.) - indivíduo que não capturou nenhum adversário; MANEMA, covarde, poltrão, palerma (forma de tratamento injurioso) (VLB, II, 40); pobre, infeliz, azarado, malsucedido (D'Abbeville, Histoire, 359): Xe abé taîasugûaîa; xe manhana, manembûera... - Eu também sou um porco; eu sou um espião, um velho poltrão... (Anch., Teatro, 44); Epytá! Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? Manemusu! Ambu'a! - Fica! Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? Palermão! Centopéia! (Anch., Teatro, 64); Pepytá, manemusu! - Ficai, palermões! (Anch., Teatro, 172)
mo'ang1 (etim. - idear, fazer idéia) (v.tr.) - supor, pensar em, crer, imaginar, presumir, ter para si, julgar, considerar, entender: Îandé repenhã-penhã, îandé momoxy mo'anga. - Fica-nos atacando, pensando em perverter-nos. (Anch., Poemas, 188); N'aîmo'angi nde só. - Não entendo tua ida, não entendo que tu vás. (VLB, II, 110); ...Oú-mo'ang pe mondyîa. - Pensa em vir para vos espantar. (Anch., Teatro, 182, 2006); Te'õ o îoesé i 'a-mo'angeme. - Quando supõe cair em si a morte. (Ar., Cat., 88); "-Ikatupe temõ mã!" erépe, nde gûyrype kunhã resé nde rekó mo'ang'iré? - Disseste: "-Ah, quem me dera estivesse nua!", após imaginares estar com uma mulher debaixo de ti? (Anch., Doutr. Cristã, II, 93); ...Santa Maria o membyrá-kakara omo'ã-mo'ang... - Santa Maria está pensando na aproximação de seu parto. (Ar., Cat., 9); Xe ra'yt, aîmo'ang nde re'õaûama... - Meu filho, penso que tu morrerás. (Bettendorff, Compêndio, 118); ...Peîmo'ang pe re'õ pupé pe ruba... - Imaginai, em vossa morte, estardes vós deitados. (Ar., Cat., 155v) ● oîmo'angyba'e - o que pensa, o que supõe, o que imagina, etc.: Nhandy-karaíba pupé abaré omanõ-mo'angyba'e pytuba. - Ungir o padre com óleo bento o que supõe morrer. (Anch., Doutr. Cristã, I, 219)
îanypaba (s.) - 1) JENIPAPO, JENIPAPEIRO, árvore da família das rubiáceas (Genipa americana L.), de grande altura e muito grossa, que aparece em todo o Brasil; 2) JENIPAPO, o fruto dessa árvore, cujo suco era usado por certos indígenas para escurecer a pele, e do qual se faz um licor muito popular no Norte e Nordeste do Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 92; Piso, De Med. Bras., IV, 183-184; Staden, Viagem, 175). "Desta fruta se faz tinta preta; quando se tira é branca e, em untando-se com ela, não tinge logo, mas daí a algumas horas fica uma pessoa tão preta como azeviche." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 43)
NOTA - Foi de uma errônea leitura deste termo pelo naturalista Lineu que se originou a palavra COBAIA, que entrou no léxico de muitas línguas do mundo. Com efeito, em Marcgrave lê-se CAVIA COBAIA (a grafia correta deveria ser ÇAUIÁ ÇOBAIA, isto é, o sauiá que é da banda de além, ou seja, que não é originário do Brasil, o porquinho-da-índia, oriundo da América Espanhola andina (as Índias Ocidentais). Lineu pensou que COBAIA fosse o nome do animal, quando, na verdade, significava outra coisa, como vimos.
monhemombe'u (etim. - fazer confessar-se) (v.tr.) - confessar, ouvir confissão: ...Asé monhemombegûabo... - Confessando a gente. (Ar., Cat., 93v) ● monhemombe'ûara (ou monhemombegûara) - confessor, o que ouve a confissão de: ...o monhemombe'ûarama resé oîkotebẽmo... - ...tendo falta de um confessor seu... (Ar., Cat., 76); monhemombegûaba - tempo, lugar, modo, etc. de confessar; confissão: Ereîmombe'upe abá rera abaré nde monhemombegûápe...? - Contas o nome de alguém quando te confessa o padre? (Ar., Cat., 108)
nhõ (adv.) - só, somente, apenas: ...Nde nhõ nde moetekatûabo! - A ti somente louvando-te muito! (Anch., Poemas, 92); Mba'e i 'upyra resé nhõpe asé îeruréû Tupã supé? - A gente pede a Deus somente pelas coisas que deve comer? (Ar., Cat., 27v); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); Aîpó nhõ-pipó nde rera? - Esse somente é, de fato, teu nome? (Anch., Teatro, 44); Epytá! Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? - Fica! Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? (Anch., Teatro, 64)
abá1 (interr.) 1) quem?: Oporakakab? Abá?... - Censuram? Quem?... (Anch., Teatro, 34); ...Abá serã ogûeru? - Quem será que a trouxe? (Anch., Teatro, 4); Abá ra'yrape nde? - Filho de quem és tu? (VLB, I, 87); Abá rokype erekûá? - Na casa de quem passaste? (Anch., Teatro, 44); Abápe nde? - Quem és tu? (Anch., Teatro, 44); Abápe îa'u raẽne? - Quem devoraremos primeiro? (Anch., Teatro, 64); 2) qual? que?: Abápe 'ara pora oîkó nde îabé? - Que habitante do mundo há como tu? (Anch., Poemas, 116) ● abá-abá? - quem (quando se tratar de mais de uma pessoa): Abá-abápe asé resé Tupã mongetasaramo sekóû? - Quem são os que rogam por nós a Deus? (Ar., Cat., 23v); abá supé? - para quem? a quem?: Abá supépe asé îeruréû...? - Para quem a gente reza? (Ar., Cat., 23); Abá-pipó? - Quem é? Quem está aí? (VLB, II, 94)
Contudo, se tiverem sido corretamente formados ou, dependendo de suas fontes, saber seu significado não é algo desprezível. Muitas vezes, o que é artificial é o ato de nomear, não o nome em si. É o caso, por exemplo, do nome Moema, bairro de São Paulo. Foi atribuído há poucas décadas, porém tomado da obra de Santa Rita Durão, Caramuru, publicada em 1781. Esse nome é do tupi antigo e significa mentira. O autor assim chamou a uma das amantes do herói dessa epopéia, Diogo Álvares Correia, a qual morreu nas águas do mar quando tentava alcançar o navio em que seu amado partia para a Europa. Ela simbolizava o amor "mentiroso" de uma amante em oposição ao amor conjugal da heroína Paraguaçu, que se casara com Diogo. Assim, saber o significado do nome do bairro Moema, fora dessa contextualização, resultaria inútil, algo desprovido de interesse algum. Dentro daquele contexto, porém, é um rico mergulho na literatura do Brasil colonial e na língua tupi.
sok1 (-îo-) (v.tr.) - 1) ferir (com coisa que não entra pela carne ou entra quase nada); dar pancadas de ponta (sem furar) (VLB, II, 63); picar, aguilhoar (p.ex., bois), calcar (sem furar): Aîosok. - Feri-o. (VLB, I, 137); Xe sok îõte. - Deu-me pancada de ponta, somente (isto é, sem me furar). (VLB, I, 129); Pedro nde sok. - Pedro te pica. (Fig., Arte, 151); Pedro osok îagûara. - Pedro aguilhoa a onça. (Fig., Arte, 153); 2) moer, pisando (VLB, II, 40); 3) socar, pilar; (fig.) fustigar: 'Ara yby sokeme, xe ruri. - Quando fustigava o sol a terra, eu vim. (VLB, I, 112); Aporosok. - Soco gente. (Fig., Arte, 89); abati soka - pilar milho (Fig., Arte, 73) ● i xokypyra - o que é (ou deve ser) pilado, socado (Fig., Arte, 108); o que é moído, coisa moída (VLB, II, 40)
îa-6 (pref. num.-pess.) - 1) (pref. da 1ª p. do pl. inclusiva. Pode ser usado com o indicativo, o imperativo, o permissivo e o gerúndio): Îaîuká. - Matamos. (Anch., Arte, 17v); Aîmbiré, îarasó muru taûîé... - Aimbirê, levemos os malditos logo. (Anch., Teatro, 40); Ene'ĩ, t'îasó taûîé... - Eia, vamos logo. (Anch., Poemas, 182); ...Îasó tubixaba akanga kábo. - Vamos para quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); Îamanõmo - Morrendo nós. (Anch., Arte, 29); Îaru! - Tragamo-lo! (Anch., Arte, 23); 2) (pref. de 3ª p. quando o foco do discurso é o objeto e não o sujeito): Mboîa Pedro îaîxu'u. - A cobra mordeu a Pedro. (Anch., Arte, 36v); Xe ruba tobaîara îa'u. - Meu pai os inimigos comeram. (Anch., Arte, 36v); Ygasápe kaûĩ-tuîa, a'e ré, îamomotá... - O cauim transbordante nas igaçabas, depois disso, atrai-os. (Anch., Teatro, 28); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30); Îapopûar-atã... - Amarram suas mãos fortemente. (Anch., Poemas, 120); Sugûy mombukapa, îaînupã-nupã. - Derramando o seu sangue, ficaram a açoitá-lo. (Anch., Poemas, 120); 3) (pref. de 3ª p. usado para indeterminar o sujeito): Îaîuká. - Matam (ou mataram). (Anch., Arte, 36v)
amongoty (adv. e loc. posp.) - 1) alhures, em outra parte, para outra parte; para lá (Fig., Arte, 132): ...Xe raûsubá-mirĩ temõ abaré, amongoty nhõte xe moinuká mã!... - Ah, quem me dera tivesse o padre um pouquinho de piedade de mim, mandando-me pôr em outra parte! (Ar., Cat., 164v); Serenduba rupibé amongoty xe nhemimi. - Logo ao ouvir o nome dela eu me escondo em outra parte. (Anch., Teatro, 126); 2) desde outra parte (VLB, I, 100); doutra parte (VLB, I, 106); 3) longe de, afastado de: Ereîmomaranype nde mena nde reroby-potareme i amongoty eîupa...? - Resististe a teu marido quando quis chegar-se a ti, estando deitada longe dele? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98); 4) adiante de, para adiante de, para além de, do outro lado de, além de: Lisboa amongoty - para adiante de Lisboa (VLB, I, 48); ybytyra amongoty - além das montanhas (VLB, I, 31) ● amongoty nhõ - de uma só parte, de um só lado (VLB, I, 92)
ka'u2 (v. intr.) - tomar cauim, tomar bebida alcoólica: E'ikatupe abá... okagûabo...? - Pode alguém beber cauim? (Ar., Cat., 76v); T'aka'une! - Vou beber cauim! (Anch., Teatro, 10); Saraûaî, îori ekagûabo. - Sarauaia, vem para beber cauim. (Anch., Teatro, 60) ● kagûara - bebedor de cauim: Onheŷnhang umã sesé kunumĩetá kagûara... - Já se juntaram por causa disso muitos moços bebedores de cauim. (Anch., Teatro, 24); kagûaba - lugar, tempo, modo, etc. de beber cauim: Nd'e'i te'e kunumĩgûasu... oîkébo memẽ kagûápe... - Por isso mesmo os moços entram sempre no lugar de beber cauim. (Anch., Teatro, 34); Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? - Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? (Anch., Teatro, 64)
îagûara1 (ou îaûara) (s.) - 1) JAGUAR, onça, onça-pintada, carnívoro americano da família dos felídeos (Panthera onca), de cor amarelo-avermelhada, com manchas pretas simétricas, arredondadas ou irregulares, pelo corpo. É a fera mais terrível do continente americano, tomando grandes presas. É também conhecida no Brasil como JAGUARAPINIMA, JAGUARETÊ, canguçu, acanguçu: Îaûara ixé. - Eu sou uma onça. (Staden, Viagem, 109); Aîuká-ukar îagûara Pedro supé. - Fiz Pedro matar uma onça. (Fig. Arte, 146); 2) nome dado pelos índios ao cão (VLB, I, 65) [Nesta acepção pode ser acompanhado pelo termo eîmbaba (t) - criação, animal de criação, à diferença de quando o termo significa onça, que nunca se cria domesticamente.]: o apixara reîmbaba îagûara remimomosẽgûera - o que perseguiu o cão de seu próximo (Ar., Cat., 73); I mba'e-potar îagûara. - O cão é ávido (isto é, bom de caça, que quer tudo apanhar). (VLB, I, 62); Îagûara-p'ipó? - É este o cão? (Knivet, The Adm. Adv., 1208) ● îagûara'yra - filhote de cão (VLB, I, 62) (V. tb. îagûareté)
NOTA - Daí, no P.B. (NE), IGUPÁ ('y + upaba, "lugar em que jaz a água"), brejo ou lagoeiro produzido pelas águas pluviais; OPABA (BA), terreno arenoso, à beira-mar, que se torna alagado no inverno; PAVUNA (S.), vale profundo e escarpado (In Dicion. Caldas Aulete); ITAIPAVA (itá + upaba, "lagoa das pedras") (ou ITAUPABA, ITAUPAVA, ITAIPABA, ENTAIPAVA, ITUPAVA), rocha que atravessa um rio de margem a margem, causando turbulência na corrente. (In Dicion. Caldas Aulete). Palavra que tem origem na língua geral meridional, do século XVIII: "Este primeiro rio, a que chamam Tieté, é o mais cheio de cachoeiras e das peores. O fundo d'elle é quasi todo pedra, quando esta é assentada por igual, mas com pouco fundo, de modo que algumas partes era calháo, onde roçam as canoas; chamam a isto ITAUPABA..." (D. Antonio Rolim [1751], Relação da Viagem que fez o Conde de Azambuja, D. Antonio Rolim, da Cidade de São Paulo para a Villa de Cuyabá em 1751.)
Assim, corremos o risco de dar etimologias de nomes criados artificialmente há poucas décadas. Procuramos, contudo, sempre que possível, identificar tais nomes em nossa relação de topônimos. Eles aparecem, principalmente, a nomear municípios de regiões colonizadas no século XX: Potirendaba, Piacatu, Ecatu, etc. Figuram, também, na nomeação de algumas ruas e praças de grandes cidades. Dificilmente incidem na microtoponímia, i.e., nos nomes dos cursos d'água, dos acidentes de relevo, etc., o que torna nosso trabalho bem mais simples, mormente com as facilidades trazidas pela rede internacional de computadores (INTERNET), que faculta fácil identificação de topônimos dessa natureza, principalmente quando nomeiam municípios.
erekomemûã (v.tr.) - 1) maltratar, ofender (com palavras, moralmente, mas sem agressão física): ...abá ogûerekomemûãeté suí onheangûabo... - Tendo medo de que alguém o maltrate muito. (Ar., Cat., 128); 2) estragar: Ererekomemûãpe nde rapixara mba'e...? - Estragaste as coisas de teu próximo? (Ar., Cat., 107v); 3) enganar (VLB, I, 116); 4) escandalizar (VLB, I, 122) ● erekomemûãsara (t) - maltratador, o que trata mal, o que estraga, etc.: Nde nhyrõ oré angaîpaba resé orébe oré rerekomemûãsara supé oré nhyrõ îabé. - Perdoa tu nossas maldades a nós como nós perdoamos aos que nos tratam mal. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); serekomemûãmbyra - o que é (ou deve ser) maltratado: ...Morubixabamo sekóreme serekomemûãmbyramo sekóû. - Quando era ele rei, foi maltratado. (Ar., Cat., 15); erekomemûãsaba (t) - tempo, lugar, modo, causa, ato, etc. de maltratar, de estragar; ofensa, mau trato; estrago: ...Aó-tinga mondebuká sesé serekomemûãsabamo. - Roupa branca mandando colocar nele como meio de maltratá-lo. (Ar., Cat., 59); Nde rorype... abá serekomemûãagûera resé? - Tu te alegraste por alguém estragá-las? (Ar., Cat., 109v)
rame'ĩ (conj.) - 1) igual a, semelhante a, como, como que, semelhantemente a (Fig., Arte, 149): A'e rame'ĩpe ybŷá i py rerekóû itapygûá pupé i moîáno? - Semelhantemente a isso fizeram com seus pés, pregando-os também com cravos? (Ar., Cat., 62v); Îagûara rame'ĩ xe repenhani. - Como um cão, atacou-me. (VLB, I, 45); ...Oporomoingobébo rame'ĩ, na supi ruã-te. - Como que fazendo as pessoas viverem, mas não de verdade. (Ar., Cat., 160); Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... - E por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que era seu costume. (Ar., Cat., 159v); ...Pe apysykĩ serã peîkóbo... te'õ repîakare'yma rame'ĩ...? - Será que estais sossegados, como os que não vêem a morte? (Ar., Cat., 166); 2) como quando: Pema'ẽ rame'ĩ ybaka resé, pesepîak i poranga... - Como quando olhais para o céu, vedes sua beleza. (Ar., Cat., 168)
NOTA - Daí provém, no P.B. (SP), a palavra PIRACICABA, lugar que, tendo uma cachoeira ou qualquer outro acidente natural, impede a passagem dos peixes, sendo, assim, excelente pesqueiro (in Novo Dicion. Aurélio). Tal palavra surgiu mais tardiamente, na fase da língua geral meridional (século XVIII), pois, em tupi antigo, chegar por água, como fazem os peixes, é îepotar e syk é chegar por terra. No século XVIII tal distinção não existia mais. Foi justamente nesse século que foi fundada a povoação de PIRACICABA (SP), em 1767, que recebeu esse nome em referência às grandiosas quedas que bloqueiam a piracema no rio que por lá passa. Daí, também, no P.B., MUCICA (mo- + syk + -a, "o fazer aproximar-se", "puxada") (N.E.), empuxão que o pescador dá à linha, quando sente que o peixe mordeu a isca; puxão dado ao boi pela cauda para o derrubar; empuxão dado à linha do papagaio de papel. (in Dicion. Caldas Aulete)
basem1 (ou mbasem ou basẽ) (v. intr. compl. posp.) - chegar: ...Ybaté t'orobasẽ... - Que cheguemos ao alto. (Anch., Poemas, 148); Anhangerekó îepé, aîpó supé n'abasemi. - Embora me interessasse por elas, junto àquelas não cheguei. (Anch., Teatro, 176); Santa Maria resé tekopoxy nd'obasemi. - A Santa Maria o pecado não chegou. (Anch., Poemas, 180); T'orobasẽne ybakype... - Havemos de chegar ao céu. (Ar., Cat., 27); ...T'obasem esapy'a o îukaûãme... - Que chegue logo ao lugar de o matarem. (Ar., Cat., 61v) ● mbasemaba (ou mbasembaba) - tempo, lugar, modo, etc. de chegar: O îara reká, reîá mbasembápe... sory nde py'a. - Buscando seu Senhor, ao chegarem os reis, alegrou-se teu coração. (Anch., Poemas, 118); Te'õ mbasembápe, Tupã Tuba pyri Îesu nde rupiri... - Quando chegou a morte, para junto de Deus-Pai Jesus fez-te subir. (Anch., Poemas, 126)
tenhẽ1 (adv.) - em vão, debalde, à toa, sem resultados, sem motivos, sem razão, de graça, por engano: Oú tenhẽ xe pe'abo... - Vêm em vão para me afastar. (Anch., Teatro, 8); T'asendu tenhẽ... - Hei de ouvir em vão... (Anch., Teatro, 34); Agûatá-gûatá tenhẽ. - Fico andando à toa. (VLB, II, 140); Îandé ramỹîa remiepîá-potá tenhẽ our é. - O que nossos avós quiseram ver, sem resultado, veio mesmo. (Léry, Histoire, 356); Aîme'eng tenhẽ. - Dei-o de graça. (VLB, I, 105); Aîuruîuba mokaba ogûeru tenhẽ... - Os franceses trouxeram pólvora em vão. (Anch., Teatro, 52); Ereîar tenhẽpe abá mba'e amõ...? - Tomaste, sem razão, alguma coisa de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99) ● marã... 'é-tenhẽ (ou marã... 'é-tenhẽ-tenhẽ ou 'é tenhẽ-tenhẽ marã) - dizer ociosidades, falar parvoíces, asneiras (VLB, II, 54): A'é tenhẽ marã gûi'îabo. - Dizendo, digo asneiras (isto é, quando digo algo, digo asneiras). (VLB, II, 54)
poxy (m) (s.) - 1) torpeza, abjeção, maldade, desonestidade: ...Oré 'anga poxy reîa. - Lavando a maldade de nossa alma. (Anch., Poemas, 172); 2) feiúra; 3) estrago, deterioração (fal. de alimentos): Nd'ere'uî xûémo; ...i angaîbaratã moxy suí! - Não o comerás; ele está duramente ressequido por deterioração. (Anch., Poemas, 152); 4) maldito, malvado: Eîerok moxy resé... - Arranca-te o nome por causa dos malditos. (Anch., Teatro, 46); Onharõ moxy; xe 'une! - Está bravo o maldito; comer-me-á! (Anch., Teatro, 62); (adj.) - 1) torpe, nojento, abjeto, mau; asqueroso (p.ex., uma ferida ou chaga; um guardanapo, por estar muito sujo), desonesto, imprestável (para se comer): pirá-poxy - peixe imprestável (isto é, que não é bom para se comer) (Léry, Histoire, 297, 1994); "...dão frutos parecidos com as nossas nêsperas, mas muito perigosos; por isso, os selvagens, quando vêem os estrangeiros aproximando-se para colhê-los, repetem muitas vezes seu "i poxy", e advertem-nos para que se abstenham." (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. IX, §6); Eîori, mba'enem, mba'e-poxy! - Vem, coisa fedorenta, coisa nojenta! (Anch., Teatro, 44); Peteumẽ pe poxyramo angiré... - Guardai-vos de serdes maus doravante. (Anch., Teatro, 54); Nde poxype nde remirekó asykûereté amõ resé...? - Tu foste desonesto com alguma irmã verdadeira de tua esposa? (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); 2) feio, disforme: -Emonã abépe i angaîpaba'e reténe? -Aani, i poxy-katune. -Assim também serão os corpos dos que são maus? -Não, eles serão muito feios. (Ar., Cat., 46v); (adv.) torpemente, abjetamente, mal: Penhe'eng poxype pe îoupé...? - Falastes torpemente para vós mesmos? (Ar., Cat., 233); Aîkó-poxy. - Vivo mal. (Anch., Arte, 10v) ● i poxyba'e - o que é torpe, o que é feio, o que é mau, etc.: - Îarekó é rakó mba'e-katu i poxyba'e suí i mouruébo. - Tenhamos as coisas boas, apartando-as do que é torpe. (Ar., Cat., 89); poxŷaba - torpeza, feiúra, abjeção, maldade, etc.: ...o nhe'enga poxŷagûera - a maldade de suas palavras (Ar., Cat., 90)
aba (t) (s.) - 1) penugem, pena miúda [isto é, aquela que a ave tem pelo corpo todo. A pena grande das asas é pepó (v.)]: xe raba - minha pena; saba - sua pena; gûyrá raba - a pena do pássaro (Fig., Arte, 71); -Mba'epe ereru nde karamemûã pupé? - Aoba. -Marãba'e? -Pykasu-aba. -Que trouxeste dentro de tua caixa? -Roupas. -De que tipo? -De pena de pomba. (Léry, Histoire, 342-343); Moraseîa é i katu, îegûaka, ...sa-mongy... - A dança é que é boa, enfeitar-se, untar suas penas. (Anch., Teatro, 6); 2) pêlo ou cabelo do corpo, de homem ou animal (pêlo ou cabelo da cabeça é 'aba - v.) (Castilho, Nomes, 37); 3) lã (VLB, II, 17); 4) felpa: Xe rabusu. - Eu tenho muita felpa. (VLB, I, 137) ● a-ura (t) ou a-popora (t) - penugem fina de ave que começa a emplumar-se (VLB, I, 113; II, 71); agûera (t) - pêlo retirado do corpo (VLB, II, 114); tukana tá-poraseîa - pena de tucano para dança “isto é, pena que os índios levavam comumente quando dançavam” (Léry, Histoire, 283, 1994)
-reme (posp.) [Possui os alomorfes -eme, -me e -neme (forma nasalizada). Expressa condição, causa e tempo.] - 1) (condicional) no caso de, se: Aîpó xe re'õnama rambûera abaíme, t'onhemonhang umẽ xe remimotara. - No caso de ser difícil frustrar-se essa minha morte, que não se faça minha vontade. (Ar., Cat., 53); Tupã i potare'ỹme, n'aîpotari. - Se Deus não o quiser, não o quero. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Nd'îasóî xûé-tepemo ybakype se'õe'ỹmemo? - Mas não iríamos para o céu se ele não morresse? (Ar., Cat., 43v); mboîa kunhã îukáreme... - se a cobra matar a mulher... (Fig., Arte, 8); 'yreme - se houver água; emonãneme - se for assim (VLB, II, 114); 2) (causal) por causa de, por, porque: Pedro osó o mondóreme. - Pedro vai porque o mandam. (Fig., Arte, 84); Asaûsub Pedro og uba raûsume. - Amo Pedro por amar a seu pai. (Anch., Arte, 16v); Omanõ o îukáreme. - Morre porque o matam. (Fig., Arte, 84); 3) (temporal) por ocasião de, no momento de, quando; sempre que, sempre quando: Oîerokype asé Jesus 'ereme? - Inclina-se a gente sempre quando diz Jesus? (Ar., Cat., 23): Xe îekyîme, t'ereîu... - Quando eu morrer, que venhas. (Anch., Poemas, 102); I kambuneme, sory. - Quando ele mama, ela fica alegre. (Anch., Poemas, 162); ...Oito 'ara sykeme, ...i 'apira mondoki... - Quando chegou o dia oito, cortaram seu prepúcio. (Ar., Cat., 3); A'epe... 'aretéreme eresó. - Ali ias por ocasião dos feriados. (Anch., Poemas, 154)
-ndûar (suf. que nominaliza complementos circunstanciais) - 1) o que é, o que está: Oîerokype asé... santos ybakypendûara... supé bé? - A gente se inclina para os santos que estão no céu também? (Ar., Cat., 22); Oré remi'u 'ara îabi'õndûara eîme'eng kori orébe. - Nossa comida, a que é de cada dia, dá hoje para nós. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); Opakatupe Tupã asé py'apendûara tiruã repîaki? - Tudo, mesmo o que está no coração da gente, Deus vê? (Anch., Doutr. Cristã, I, 158); ...O îoesendûara pabẽ... - Todos os que estão consigo... (Bettendorff, Compêndio, 103); mba'e ybybondûara - coisa que está no chão (Fig., Arte, 139); Ikendûara n'ikó. - O que é daqui é este. (VLB, II, 74); 2) o referente a, o que diz respeito a, o que toca a: Ereîmombe'u ymã mene'yma resé nde rekoangaîpagûera; ko'yr t'ereîmombe'u mendara resendûarûera. - Já confessaste teus pecados com as solteiras; que confesses agora os que dizem respeito às casadas. (Ar., Cat., 109); xe soremendûara - o que toca a quando eu fui (Anch., Arte, 10v); 3) natural, o que é ou está naturalmente, habitante (animal ou planta): nhũbondûara (ou nhũmendûara) - natural dos campos, o que está (naturalmente) pelos campos (VLB, II, 41) (V. tb. -sûar)
-pe1 (posp. átona. Forma nasalizada: -me. Há também o alomorfe -ype.) - 1) em (locativo): Sygépe o eterama Tupã tari .... - Em seu ventre Deus tomou seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); ...Xe pópe nhote arasó. - Nas minhas mãos, somente, levei-as. (Anch., Teatro, 46); Tynysẽ Tupã raûsuba nde nhy'ãme erimba'e. - Abundava o amor de Deus em teu coração outrora. (Anch., Teatro, 120); ...setãme... - em sua terra (Anch., Teatro, 122); 2) a, para, em (de direção, com movimento): Asó okype. - Vou para a casa. (Anch., Arte, 40); Eîké kori xe nhy'ãme... - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Asó-potá nde retãme... - Quero ir para tua terra. (Anch., Poemas, 92); ...Mundépe i porerasóû... - Para as armadilhas eles levam gente... (Anch., Teatro, 36); Gûaîxará t'osó tatápe!... - Que vá Guaixará para o fogo! (Anch., Teatro, 56); 3) com deverbais em -sab(a) para construir orações subordinadas finais, causais ou temporais (a fim de, para; por causa de; por ocasião de, quando): ...N'aker-angáî sekasápe... - Não dormi, absolutamente, para procurá-los. (Anch., Teatro, 48); Memẽ anhanga popûari pe ri sembiá-potasápe. - Sempre atam as mãos dos diabos quando querem em vós suas presas. (Anch., Teatro, 54); Pe 'anga raûsukatûápe, o boîáramo pe rari. - Por amar muito vossas almas, como seus discípulos vos tomaram. (Anch., Teatro, 54); Kó oroîkó oronhemborypa nde 'ara momorangápe. - Aqui estamos alegrando-nos para festejar teu dia. (Anch., Teatro, 118); ...xe îukasápe - por ocasião de minha morte, quando me matarem (Anch., Arte, 33)
îar1 / ar(a) (t, t) (v. tr. irreg.) - 1) prender, apanhar, tomar, catar, pegar: ...tapuîa rara... - prender tapuias (Anch., Teatro, 8); Abá rokype erekûá tá, nhemim-y îanondé? - Na casa de quem passaste tomando-as, antes de te esconderes? (Anch., Teatro, 44); Eîá-te xe rubixaba! - Mas apanha, antes, meu chefe! (Anch., Teatro, 76); Nd'ogûar-ukarype Îudeus a'e cruz abá supé...? - E os judeus a um homem não mandaram tomar aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); 2) tomar, ingerir (bebida ou comida): Xe potaba kaûĩ rá. - O que me cabe é tomar cauim. (Anch., Teatro, 22); 3) receber; aceitar: Aîar itaîuba (abá) suí. - Aceitei dinheiro do homem. (VLB, I, 19, adapt.); Ahẽ xe re'õ-motareme, aîpotá-katu,... îasuka rara roîré. - Se ele quiser matar-me, bem o desejo, após receber o batismo. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); ...O boîáramo pe rari. - Como seus discípulos receberam-vos. (Anch., Teatro, 54); 4) acatar, assumir: Aûîé, kó temiminõ nd'ogûari Tupã rekó... - Enfim, esses temiminós não acatam a lei de Deus... (Anch., Teatro, 20); ...N'aîari kó sekó-angaturama... - Não acato essa sua boa lei. (Ar., Cat., 25v); 5) tirar (o fogo, com pederneira, com fuzil): Eresaûsubarype i mba'easyreme, satá-á... - Tu te compadeceste deles quando eles estavam doentes, tirando-lhes fogo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86); 6) tomar as feições de, os traços de, sair a: Og uba ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços de seu pai; Og uba resá ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços dos olhos de seu pai. (VLB, II, 131); 7) colher (o que se semeou no chão. Para colher frutas, v. po'o) (VLB, I, 77); 8) resgatar (VLB, II, 102); 9) guardar, observar, praticar: Aîá pá îekuakuba. - Pratiquei todos os jejuns. (Anch., Teatro, 172) ● ogûaryba'e - o que toma, o que apanha, o que recebe, etc.: ...Îekuakubusu îabi'õ Tupã ogûare'ymba'e. - O que não recebe a Deus (isto é, não comunga) a cada Quaresma. (Ar., Cat., 76v); asara (t, t) - o que toma, o que pega, o que recebe: ...I poxyba'e tasara te'õ ogûar o îoupé... - Os que são maus, que o tomam, recebem a morte em si. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1686); ...semiîukapûera rasara - o que apanha o que ele matou (Ar., Cat., 73); emiîara (ou embiîara) (t, t) - o que alguém apanha, toma, pega, etc.: xe remiîara - o que eu tomo (Anch., Arte, 58v); Ogûemimbo'e pyri o karuápe, miapé o pópe gûemiîara i moîebyû... - Ao comer junto dos seus discípulos, o pão que apanhou em suas mãos devolveu-o. (Ar., Cat., 5); tarypyra - o que é (ou deve ser) tomado, pego, etc.: ...Abá remimotara rupi tarypyrama é amoaé mokõî. - Aqueles outros dois deverão ser tomados segundo a vontade das pessoas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 223); asaba (ou araba) (t, t) - tempo, lugar, modo, etc. de pegar, de receber, de tomar; tomada, recepção: E'ikatupe asé aîpoba'e rasápe ogûera rekobîarõmo? - Pode a gente trocar seu próprio nome ao receber aquele? (Ar., Cat., 83v)
Há, contudo, topônimos atribuídos artificialmente e que datam de poucas décadas, em ambientes em que já não mais havia falantes das línguas em que o topônimo foi atribuído. Com efeito, no século XX a frente pioneira do Brasil passou pelo oeste paulista, pelo norte e oeste paranaenses, pelo centro-oeste do país, para onde se deslocou a própria capital do Brasil. Getúlio Vargas apregoou, na década de quarenta, a Marcha para o Oeste, tendo havido a fundação de centenas de municípios nas sobreditas regiões. Pujantes cidades nelas surgiram muito tempo depois que a língua geral meridional desapareceu. Por outro lado, a primeira metade do século vinte foi marcada, no Brasil, por forte nacionalismo político, econômico e cultural. O Modernismo, surgido com a Semana de 22, a Revolução de 30, a Era de Vargas, tudo conduzia a uma busca de referenciais da pátria brasileira. Surgem tupinistas nas universidades brasileiras, alguns dos quais passarão a ter a incumbência de dar nomes aos novos municípios que se fundavam nessa época. Aparecem, assim, muitos topônimos de origem tupi no século XX. Alguns são composições corretas, da índole do tupi antigo, das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Outros são fruto da elaboração fantasiosa de amadores, que resolveram embrenhar-se por um campo de estudo sem conhecimento suficiente das línguas. Em alguns casos, etimologizar tais palavras é uma tarefa inútil, a de tentar atinar com significados, quando eles não existem. É o caso do nome Umuarama, cidade do Paraná, criado por Silveira Bueno a pedido de seus fundadores. Tal palavra não significa absolutamente nada. Perderia o seu tempo o pesquisador que tentasse procurar a sua etimologia. O próprio Silveira Bueno mostra-nos por quê:
enõî (s) (v.tr.) - 1) chamar, invocar, nomear, dar o nome de, chamar pelo nome: Xe renõî umẽ îepé i xupé, na xe îukáî! - Não me chames pelo nome diante dele, senão me mata! (Anch., Teatro, 30); Esenõî mbá. - Nomeia tudo. (Léry, Histoire, 343); Asenõî apŷabetá... - Chamo os homens. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); "Anheté" eré tenhẽ umẽ, Tupã rera renõîa... - Não digas em vão: "-É verdade", invocando o nome de Deus. (Ar., Cat., 67); 2) evocar, trazer à lembrança: ...xe îara re'õ renõîa... - Evocando a morte de meu Senhor. (Anch., Teatro, 168); Mba'epe asé osenõî i xupé, o îerobîasabamo? - Que a gente evoca diante dele como sua esperança? (Ar., Cat., 30); 3) prometer, jurar (VLB, II, 87); 4) culpar: Asenõî tenhẽ. - Culpei-o falsamente. (VLB, I, 87) ● enõîndara (ou enõîtara) (t): o que invoca, o que chama, o que promete, etc.: O'anga koîpó abá 'anga koîpó santo amõ ybakype tekoara renõîndara abé o îuraragûaîamo nhẽ, marãpe? - E mentindo aquele que invoca sua própria alma, a alma de alguém ou também algum santo que está no céu, que acontece? (Ar., Cat., 67); emienõîa (t) - o que alguém chama; o chamamento; o invocado, o que alguém invoca, promete ou jura: ...T'oré angaturãne Cristo remienõîûera resé... - Para que sejamos dignos do que Cristo prometeu. (Ar., Cat., 14v); enõîndaba (ou enõîtaba) (t) - tempo, lugar, modo, etc. de invocar, de chamar, etc.: Our ogûenõîndápe. - Vem aonde o chamam. (Fig., Arte, 84); A'ereme bé opá omanõba'epûera 'angûera ruri o enõîndápe... - Então também as almas de todos os que morreram virão quando forem chamadas. (Ar., Cat., 160v); Marãpe i mongaraibypyramo renõîndabeté? - Qual é o modo verdadeiro de chamar os batizados? (Ar., Cat., 22v); senõîmbyra - o que é (ou deve ser) chamado, prometido, culpado, etc.: Grácia sera, kó nde rainhamo senõîmbyra... - Graça é seu nome, eis que esta é a que deve ser chamada "tua rainha". (Anch., Poemas, 156)
'i / 'é1 (v. intr. irreg.) 1) dizer: Marã e'ipe asé, karaibebé o arõana mongetábo? - Que a gente diz, conversando com o anjo seu guardião? (Ar., Cat., 23v); Aîpó eré supikatu... - Isso dizes com razão... (Anch., Teatro, 32); 2) rezar, enunciar-se, prescrever: Aîpó tekoangaîpaba robaîara nã e'i. - Os opostos daqueles pecados assim se enunciam. (Ar., Cat., 18); 3) querer dizer, querer significar, pensar, supor, presumir, cogitar, julgar: Marã e'ipe asé o py'ape aîpó o'îabo i xupé? - Que quer dizer a gente em seu coração, dizendo isso para ela? (Ar., Cat., 31v); "Osó ipó re'a" a'é. - Presumo que ele deve ter ido. (VLB, II, 86); 4) concluir, julgar por indícios: Emonã ûĩ re'a a'é. - Concluo que talvez isso seja assim. (VLB, II, 16); Amõ îuká-potá ûĩ sekóû a'é. - Concluí que ele está querendo matar alguém. (VLB, II, 16) ● e'iba'e - o que diz: Mendara... "xe mena koîpó xe remirekó re'õ ré t'îamendar îandé îoesé" e'iba'e, se'õ nhẽ roîré nd'e'ikatuî sesé omendá. - O cônjuge que diz: "-Após a morte de meu marido ou de minha esposa havemos de nos casar", após sua morte não pode casar-se com ele (ou ela). (Ar., Cat., 1686, 279-280); 'îara (ou e'îara) - o que diz; o indicador: Îaîuká memẽ aîpó 'îara... - Matemos juntos o que diz isso. (Ar., Cat., 79); ...Îasytatá serekoarama resé... pé 'îaramo i xupé... - Por causa da estrela sua guardiã,... como indicadora do caminho para eles. (Ar., Cat., 3); ...Marã e'îara... - As que dizem coisas más. (Anch., Teatro, 36); "...-Our temõ anhanga xe rerasóbo mã" e'îara. - O que diz: -Oxalá venha o diabo para me levar... (Ar., Cat., 67); 'îaba (ou 'eaba ou 'esaba) - 1) tempo, lugar, modo, etc. de dizer; o dizer: Okaî oupa aûîeramanhẽ... o îurupe nhote aîpó o 'eagûera repyramo. - Estão queimando para sempre como pena de dizerem isso somente em suas bocas. (Ar., Cat., 1686, 248); 2) o que alguém diz, o chamado por alguém, o dito: Ybytyra Monte Calvário 'îápe... - Para o monte chamado Calvário (Ar., Cat., 89); Erimba'epe aîpó nde 'îaba ereîmopóne? - Quando cumprirás isso que tu dizes? (Ar., Cat., 111v); O'u nhẽpe a'e 'ybá, tegûama, Tupã 'îaba? - Comeu aquele fruto, causa da morte, que Deus dissera? (Ar., Cat., 40v); Aîpó i 'eagûera rerekóbo, semimbo'e-etá... miapé rari o pópe... - Tendo isso que ele disse, seus discípulos tomaram o pão em suas mãos. (Ar., Cat., 84v)
mombe'u (v.tr.) - 1) proclamar, anunciar: ...Tupã rekó mombegûabo. - Proclamando a lei de Deus. (Anch., Teatro, 8); 2) contar (p.ex., segredo): Abá angaîpá-nhemima i kuapare'yma supé mombegûabo. - Contando as maldades escondidas de alguém para quem não as conhece. (Ar., Cat., 73v); 3) acusar, denunciar, infamar, queixar-se de (VLB, II, 94): Nd'oromombe'uî xóne. - Não te denunciarei. (Anch., Teatro, 32); Marã e'ipe îudeus i xupé, i mombegûabo? - Que disseram os judeus, acusando-o? (Ar., Cat., 56); Xe kupébo xe mombe'u. - Infamam-me pelas costas. (Anch., Arte, 42v); 4) confessar: Eîmombe'u-katu Tupã ra'yramo nde rekó orébe. - Confessa bem a nós que és o filho de Deus. (Ar., Cat., 56); 5) citar, mencionar: Ereîmombe'upe abá rera... abaré supé? - Mencionaste o nome de alguém para o padre? (Ar., Cat., 108); Opá mendara moarûapaba aîmombe'u ymã... - Todos os impedimentos do casamento já mencionei. (Ar., Cat., 132); 6) determinar, orientar, mandar: Oîemombe'u-potá Santa Madre Igreja i mombe'u rupi. - Querendo confessar-se segundo o que determina a ele a Santa Madre Igreja. (Anch., Doutr. Cristã, I, 210); 7) descrever: Emombe'u nde retama ixébe. - Descreve tua terra para mim. (Léry, Histoire, 360); 8) narrar: Xe moory-katu îepé, inã tekó mombegûabo. - Tu me alegras muito, narrando assim os fatos. (Anch., Teatro, 14); 9) afirmar, declarar: Îaîmombe'u aîpó i momorangymbyra. - Afirmamos que isso é o que deve ser festejado. (Anch., Teatro, 6); 10) dar notícia de: Aîmombe'u (abá) supé. - Dou notícias dela para o homem. (VLB, II, 51, adapt.); 11) prometer (VLB, II, 87); 12) externar: Aîur-y bé xe roryba mombegûabo. - Vim de novo para externar minha alegria. (Anch., Poesias, 57) ● oîmombe'uba'e - o que conta, o que anuncia, o que confessa, etc.: Abá angaîpá-nhemima... oîmombe'uba'e. - O que conta os pecados escondidos de alguém. (Anch., Diál. da Fé, 215); mombegûara - o contador, o que conta, o que proclama, o proclamador, etc.: ...i nhe'enga mombegûara. - ...o que proclama suas palavras. (Ar., Cat., 154); mombegûaba - lugar, tempo, modo, instrumento, etc. de proclamar, de contar, de anunciar: ...Itaîuba morubixaba, Reiamo sekó mombegûaba... - O ouro era o meio de anunciar que ele era um príncipe, um rei... (Ar., Cat., 3-3v); i mombe'upyra - o que é (ou deve ser) contado, anunciado, etc.: I marangatu supi é i mombe'upyra rekóreme é... - Ele é bom quando o que é contado é mesmo verdade. (Ar., Cat., 67v); emimombe'u (t) - o que alguém conta, confessa, proclama, orienta, etc.: ...O emimombe'upûera o emikuakugûera irũmo bé i mombe'uîebyrine. - Todos os que confessou com os que escondeu voltará a confessar. (Ar., Cat., 90) (O gerúndio de mombe'u é mombegûabo.)
ikó2 / ekó (t) (v. intr. irreg.) - 1) estar (em geral ou em movimento): Oîkó-po'ipe i tupã se'õmbûera pupé? - Deixou de estar sua divindade em seu cadáver? (Ar., Cat., 44); Nde resé memẽ oroîkó... - Contigo sempre estamos. (Anch., Poemas, 84); 2) morar: Kó taba pupé aîkó. - Moro nesta aldeia. Aîkó iké xe roka pupé. - Moro aqui em minha casa. Aîkó Pero irũnamo. - Moro com Pedro. (VLB, II, 41); Umãmepe sekóû? - Onde ele mora? (Ar., Cat., 50v); 3) ser (acompanhado ou não da posposição -ramo): N'i xyîtepe Tupã-etéramo oîkóbo? - Mas não teve mãe, sendo Deus verdadeiro? (Ar., Cat., 22v); -Mba'epe Santa Madre Igreja Católica îekuapabeté? -Oîepé nhõ sekó... - Qual é o verdadeiro sinal da Santa Madre Igreja Católica? -Ser ela uma só. (Bettendorff, Compêndio, 54); Pitangĩnamo ereîkó... - És um nenenzinho. (Anch., Poemas, 100); Asé rarõanamo-tepe karaibebé rekóû? - Mas os guardiães da gente são os anjos? (Ar., Cat., 23v); 4) viver: Aîkó-katupe i îabé ká... - Hei de viver bem como eles. (Ar., Cat., 24); I xupépe asé îeruréû o 'anga rekorama resé? - A ele a gente pede pelo futuro viver de sua alma? (Ar., Cat., 93v); Aîkó tekokatu resé. - Vivo na virtude. (Anch., Arte, 44); -Endépe ereîkó? - Tu vives? (Fórmula de saudação a quem chega.) (VLB, II, 113); 5) proceder, portar-se, agir, fazer (no sentido de portar-se, comportar-se): Aîkó nde nhe'enga rupi. - Procedo conforme tua palavra. (VLB, II, 53); Pysaré serã ereîkó arinhama mokanhema...? - Será que a noite toda ages para fazer sumir as galinhas? (Anch., Teatro, 30); Marã oîkóbo bépe abá i abyû? - Procedendo de que forma o homem o transgride? (Ar., Cat., 69v); Ixé aé emonã aîkó. - Eu mesmo fiz assim. (VLB, I, 135); 6) ter relações sexuais, fazer sexo [é regido, com este sentido, somente pela posposição esé (r, s)]: Aîkó sesé. - Tenho relações sexuais com ela. (Anch., Arte, 44); Oîkó kunhã resé. - Tem relações sexuais com uma mulher. (Fig., Arte, 124); 7) casar [compl. com a posposição upi (r, s)]: Aîkó kunhã rupi. - Caso com uma mulher. (Anch., Arte, 43v); 8) ter a ver, interessar [compl. com esé (r, s)]: Nd'oroîkóî aîpó resé... - Não temos a ver com isso. (Ar., Cat., 57v); N'aîkóî sesé ko'yté. - Não tenho a ver com ele, enfim (isto é, desisti dele). (VLB, I, 99); 9) haver, existir: Nd'oîkóîpe mba'e amõ Tupã 'ara monhang'e'ymebé? - Não havia nada antes de Deus fazer o mundo? (Anch., Doutr. Cristã, I, 159); ...Aûîebeté ereîkó xe îar-y gûé!... - Que bom que existes, ó meu senhor! (Ar., Cat., 86); 10) ocorrer, suceder: Ereîopykype nde remirekó, sugûy sekóreme? - Cobriste tua esposa quando sucedia o sangue dela (isto é, na sua menstruação)? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98); 11) ter pendências, contendas, problemas [é regido, com este sentido, pelas posposições esé (r, s) ou ri]: Aîkó sesé. - Tenho pendências com ele. (Anch., Arte, 44); 12) negociar, trabalhar [com as posposições esé (r, s) ou ri]: Paranãmbora ri aîkó. - Trabalho com mariscos. (VLB, II, 32); 13) acostumar-se, estar acostumado [compl. com a posp. esé (r, s)]: N'aîkóî (abá) resé. - Não estou acostumado com homens. (VLB, I, 95, adapt.); 14) eis aqui estar: Aîkó. - Eis-me aqui, eis que aqui estou. (VLB, I, 109); 15) deter-se: Ymûanĩ ahẽ rekóû. - Por longo espaço de tempo ele se deteve. (VLB, I, 125); 16) buscar, estar em busca [é regido, neste caso, pela posp. esé (r, s)]: So'o resé aîkó. - Estou em busca de caça. (VLB, II, 41); Mba'e resépe ereîkó? - Que coisa buscas? (VLB, II, 92) ● oîkoba'e - o que vive, o que está, o que habita, o que tem relações sexuais, etc.: ...Tupã pyri oîkoba'e - o que está junto de Deus (Anch., Teatro, 16); ...O mendasabe'yma resé oîkoba'e... - O que tem relações sexuais com o que não é seu cônjuge. (Ar., Cat., 71); ekoara (t) - o que está (sempre ou ocasionalmente), o que vive, o que procede, etc.: Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'o-îa'oû...? - Por acaso todos os que estavam ali ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v); Marataûãme tekoara ogûerobîá xe nhe'enga... - Os que moram em Maratauá acreditam em minhas palavras. (Anch., Teatro, 12); ...Emonã tekoarûera îaîpe'a. - Separemos os que assim procederam. (Ar., Cat., 128); ekoaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de estar, de viver, de morar, de proceder, etc.; o viver, o proceder, etc.: Marãpe erimba'e Tupã îandé rubypy rerekóû emonã sekoagûera ri? - Que fez Deus outrora com nosso pai primeiro por causa de seu proceder assim? (Anch., Doutr. Cristã, I, 162)
As palavras do tupi antigo que originaram nomes próprios no Brasil serão apresentadas no interior dos verbetes abaixo tal como se acham no dicionário tupi-português. Assim, dispensamo-nos de traduzi-las sempre, podendo o consulente ali procurá-las, se o desejar. Se citarmos palavras do nheengatu ou das línguas gerais coloniais, elas serão escritas em itálico ou com asterisco *quando forem hipotéticas e conhecidas somente por sua presença no léxico do português do Brasil.
enosem (v.tr.) - 1) retirar, arrancar, fazer sair consigo: Mamõpe Pilatos senosemi a'ereme? - Para onde Pilatos retirou-o, então? (Ar., Cat., 60v); Kó nhõ anosẽ îepé moxy suí... - Na verdade, somente estas retirei dos malditos. (Anch., Poemas, 150); 2) resgatar: I momiaûsubypyra renosema. - Resgatar os cativos. (Ar., Cat., 18v); 3) desembarcar, descarregar (p.ex., embarcação): Anosem mba'e ygara suí. - Descarreguei as coisas da canoa. (VLB, I, 97) ● enosemara (t) - o que retira, o que resgata: ...N'oîeruré-pytubari Tupã supé ogûenosemarûera resé. - Não se cansam de pedir a Deus pelos que os resgataram. (Ar., Cat., 8v); enosembaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de retirar; retirada: Arobîar... asé rubypy-karaibetá 'angûera a'epe turama osarõba'e renosemagûera bé. - Creio que ele retirou também as almas dos nossos primeiros e santos pais (da mansão dos mortos), que aí esperavam sua vinda. (Ar., Cat., 16); emienosema (t) - o retirado, o que alguém faz sair consigo, o que alguém retira: Marãpe a'e semienosegûama rekóû a'epe? - Que faziam aí os que ele faria sair consigo? (Ar., Cat., 44); Anosẽ-nosem (ou Anosẽ-nosemĩ). - Vivo retirando-o; Anosẽ-sem. - Vivo retirando-as [quando são muitas coisas]. (VLB, II, 129)