erĩ (interj.) 1) (expressando raiva, desgosto, irritação) - irra! (VLB, II, 15); Oh! Ah! Ai! Que nada!: Erĩ, aani! Amorambûé; opá xe nhe'engendubi. - Oh não! Frustrei-os; ouviram-me as palavras todas. (Anch., Teatro, 12); Erĩ, sarigûeîa é! - Irra, gambá! (Anch., Teatro, 42); Erĩ! Xe rapy Tupã...! - Ai! Queima-me Deus! (Anch., Teatro, 90); Erĩ! Aîmoaûîé îandune. - Que nada! Vou vencê-los, como sempre. (Anch., Teatro, 138); 2) (expressando satisfação): Erĩ, aûîé! - Ah, muito bem! (Anch., Teatro, 143, 2006)
Gramática
Playground
Nheengatu
Mbyá
Citando
Dicionário de Tupi antigo
A língua indígena clássica do Brasil
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maldição! (interj.) - erĩ!
epyk (s) (v.tr.) - 1) vingar, desagravar: Nd'ereîuri xe repyka? - Não vens para me vingar? (Anch., Teatro, 50); Erĩ! Xe rapy Tupã, o boîá repyka nhẽ. -Ai! Queima-me Deus, vingando seu servo. (Anch., Teatro, 90); ...Nd'e'i te'e o apixara akakapa, sepyka. - Por isso mesmo repreendeu a seu companheiro, desagravando-o. (Ar., Cat., 63); ...Ixé t'oroepyk... - Eu hei de vingar-te. (Ar., Cat., 102); 2) falar em favor de, excusar: Asepy-sepyk. - Fiquei falando em favor dele. (VLB, I, 134)
abangaba (s.) - covardia, desânimo; (adj.: abangab) - acovardado, desencorajado, desanimado, desalentado, desmaiado de medo: Erĩ, nd'oré abangabi! - Ah, não estamos acovardados! (Anch., Teatro, 178)
akaî (interj. de h.) - 1) (expressa desgosto, enfado, irritação, dó, dor): ai, oh!: Akaî! Aseká îepé mytasaba amõ gûitekóbo, erĩ!, xe mosẽ memẽ taba suí abaré... - Ai, por mais que eu esteja procurando alguma pousada, irra, faz-me sair sempre da aldeia o padre. (Anch., Teatro, 126); Akaî! Teumẽ xe rapŷabo! - Ai! Guarda-te de me queimar! (Anch., Teatro, 44); 2) expressa zombaria (VLB, I, 28) (V. tb. kaî e akaîgûá.)
aani2 (pron.) - 1) nada (VLB, II, 46): -Mba'epe aûîeramanhẽ serekopyrama ikó 'ara pupé? -Aani ã biã. - Que é o que será conservado para sempre neste mundo? - Nada. (Ar., Cat., 165); 2) ninguém (VLB, II, 49): Abápe kori xe îá? Erĩ, aani! - Quem, hoje, é como eu? Irra, ninguém! (Anch., Teatro, 132)
aûîeté1 (adv.) - certamente, verdadeiramente, na verdade, decerto: Aûîeté, kó anga andupa, aseîá kûesé xe roka... - Certamente, eis que percebendo isso, deixei ontem minha casa. (Anch., Poemas, 112); Aîemĩngatupe ká; aûîeté na xe repîaki... - Hei de me esconder bem; certamente não me viu... (Anch., Teatro, 32); Erĩ! Aûîeté-pakó aîegûak ûinhemoúna... - Ah! Na verdade hei de me enfeitar, pintando-me de preto... (Anch., Teatro, 60)
putu'u2 (etim. - ingerir alento) (v. intr.) - descansar, repousar; ficar descansado; ficar tranquilo; tomar ou ter refrigério (VLB, II, 99): Tapuîpe gûaîbĩ aru amõ Magûeá suí... A'ereme aputu'u. - Aos tapuias trouxe as velhas de além de Magueá. Então, fiquei descansado. (Anch., Teatro, 12); Ta soryb, oputugûabo. - Que se alegrem, descansando. (Anch., Teatro, 58); Erĩ, aûîé, peputu'u! - Ah, muito bem, ficai tranquilos! (Anch., Teatro, 166, 2006); Aîosub Itaokaîa; i pupé kó aputu'u. - Visito Itaocaia; eis que nela descanso. (Anch., Poesias, 269)
sarigûeîa (ou sarigûé) (s.) - SARIGUEIA, SARIGUÊ, SARUÊ, SAURÊ, gambá, nome comum a mamíferos marsupiais da família dos didelfídeos, do gênero Didelphis L., que aparecem em quase toda a América. São placentários, tendo a fêmea uma bolsa marsupial em que amamenta e protege seus filhotes que aí permanecem durante algum tempo. São onívoros e de vida noturna. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 222): Erĩ, sarigûeîa é! - Irra, gambá! (Anch., Teatro, 42)
saûgûerĩ (ou saûgûerĩote) (adv.) - escassamente (VLB, I, 123)
outrora - erimba'e
ostra - reri
siri - seri; siri
Esquematicamente teríamos:
(Heriarte), HERIARTE, Maurício de, Descripção do Estado do Maranhão, Pará, Corupá e Rio das Amazonas [1667]. Publicado por VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, História Geral do Brasil antes de sua separação e independência de Portugal. Revisão e notas de Rodolfo Garcia. 4ª ed. São Paulo, 1951.
beiço (inferior) - tembé
lábio - (inferior): tembé; (superior): apûã
quando?2 - (referindo-se ao futuro): moîrãpe?; (referindo-se ao futuro ou ao passado): erimba'epe?; (= em que ocasiões?, referindo-se a fatos habituais): marã-nemepe?
redondo - (esférico): apu'a; (circular): amandab/a; apỹî/a
apixaba (s.) - ferimento; cutilada (geralmente na cabeça): Peteumẽ pe poxyramo angiré, t'okanhẽ pe rekopûera: marã 'é, îoapixaba, marandûera. - Guardai-vos de serdes maus doravante, para que desapareça vossa lei antiga: dizer maldades, ferimentos mútuos, antigas guerras. (Anch., Teatro, 54) ● apixapaba - tempo, lugar, modo, etc. de ferir; cutilada; ferida (VLB, I, 88)
egûama1 (t) - ferida mortal ou o lugar dela (VLB, II, 42)
îara'ybá (s.) - JERIVÁ, JERIBÁ, JERIBAZEIRO, espécie de palmeira (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman), comum no litoral brasileiro (VLB, II, 63, 124)
îeremuîé (s.) - JERIMUM, espécie de abóbora, chamada cabaço em Portugal. O mesmo que îurumũ (v.) (Sousa, Trat. Descr., 184)
periná (s.) - PERINÁ, nome de uma planta; outro nome para a pakoka'atinga (v.)
reriapỹîa (ou reriapynha) (etim. - ostra de argola) (s.) - nome comum a crustáceos cirrípodos, frequentes no território brasileiro, da família dos lepadídeos e dos balanídeos, que aderem a substratos sólidos (p.ex., madeira). Aparecem debaixo do costado dos navios ou nos rochedos e também nas carapaças das tartarugas e na casca dos crustáceos decápodos. (VLB, I, 85; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188)
sariama (s.) - SERIEMA, SARIEMA, SIRIEMA, ave da família dos cariamídeos (Cariama cristata L.), que vive nos descampados, comendo insetos, répteis e pequenos roedores. Dorme empoleirada em árvores, em que faz ninhos. É ave típica dos cerrados e das caatingas do Brasil. (D'Abbeville, Histoire, 242; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 203)
serikó (s.) - SERICÓIA, SERICORA, nome de uma ave, espécie de saracura (Brandão, Diálogos, 234)
siri (ou seri) (s.) - SIRI, nome genérico de várias espécies de crustáceos decápodes braquiúros da família dos portunídeos (D'Abbeville, Histoire, 248; VLB, I, 67): Auîebeté kó aîkó, ndébo ko siri reru. - Muito bem, eis que aqui estou, trazendo para ti estes siris. (Anch., Poemas, 154)
teringûá (s.) - TERINGOÁ, espécie de vespa (Sousa, Trat. Descr., 241)
Votupocu (Barueri, SP). Da língua geral meridional, votura* + pucu: morro comprido.
NOTA - Daí, JERICOAQUARA (nome de localidade do CE) (v. p. 386).
reri (s.) - GUERIRI, GURERI, ostra, nome genérico de moluscos bivalves da família dos ostreídeos (D'Abbeville, Histoire, 204; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188; VLB, II, 59): Aruretá kó reri. - Trouxe muitas destas ostras. (Anch., Poemas, 150) ● reri ku'i - cal de ostra (VLB, I, 63)
apixab (v.tr.) - ferir (geralmente na cabeça), dar cutilada: S. Pedro itangapema osekyî morubixaba rembiaûsuba Malko seryba'e apixapa... - São Pedro puxou a espada, ferindo um amigo do chefe, chamado Malco... (Ar., Cat., 76, 1686); ...Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); Ereî'apixabype amõno? - Feriste alguém também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 87)
byter (ou byterĩ) (adv.) - ainda (É usado com o verbo auxiliar 'i / 'é. Leva o verbo principal para o gerúndio.): A'é byter i monhanga. - Ainda o faço. (VLB, I, 28); A'é byter nde raûsupa. - Ainda te amo. (Fig., Arte, 161); A'é byter aîpó gûi'îabo. - Ainda digo isso. E'i byté-byterĩ ahẽ xe amotare'yma. - Ainda, ainda me odeia fulano. (VLB, II, 74)
enondesaba (t) (s.) - período anterior; a véspera: I 'ara renondesaba 'ara îekuakupaba. - O período anterior ao dia dele é dia em que se jejua. (Ar., Cat., 121)
îurumũ (s.) - 1) JERIMUM, JERIMUNZEIRO, aboboreira, nome comum a várias espécies de plantas da família das cucurbitáceas, do gênero Cucurbita, entre as quais a Cucurbita maxima Duchesne, muito importantes para a alimentação. Também são chamadas abóbora, abóbora-amarela, abobreira, abóbora-da-quaresma. 2) o JERIMUM, fruto dessas plantas, muito usado para a fabricação de cabaços e vasilhas para o uso doméstico (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 44)
pereba (m) (s.) - ferida, chaga, PEREBA, PEREVA, BEREBA, BEREVA: Nde nhyrõ... xebe... nde pereba i moetepyreté resé... - Perdoa a mim por tuas chagas veneráveis. (Bettendorff, Compêndio, 128); (adj.: pereb) - PEREBENTO, que tem chaga, ferida: Xe pereb. - Eu tenho ferida; Xe peré-pereb. - Eu sou muito perebento. (VLB, I, 60)
takuîkoîsyka (s.) - material usado para fazer linha de pesca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273)
Botuverá (Itapecerica da Serra, SP). Da língua geral meridional, montanha brilhante (botura* + verá*).
Miriti (RJ). V. Meriti.
îeremũ-pakobá (etim. - jerimum pacova) (s.) - variedade de jerimum (v. îurumũ) (Brandão, Diálogos, 198)
îerumũeté (etim. - jerimum verdadeiro) (s.) - nome de uma planta; variedade de abóbora (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 216)
îukeri (s.) - JUQUERI, nome comum de ervas leguminosas-mimosoídeas do gênero Mimosa L., de flores e frutos venenosos, que têm como antidoto oposto suas próprias raízes. Engordam ovelhas e cabras e são nocivas ao homem. Uma das espécies é a Mimosa pudica L., denominada vulgarmente dormideira, sensitiva, malícia-de-mulher, caaicovê, etc. (Piso, De Med. Bras., III, 170; IV, 202)
ka'anupã (etim. - ferir a mata) (v. intr.) - roçar: Aka'anupã. - Rocei. (VLB, II, 107)
Buriti (MA). De meriti('yba) - miriti, buriti, meriti, var. de palmeira.
Buritirana (MA). De meriti + ran + -a: falsos miritis
Meritiba (MA). De meriti'yba, var. de palmeira.
Muritiba (BA). De meriti'yba, var. de palmeiras.
Piriguá (MA). De perigûá - var. de moluscos marinhos.
Sergi (BA). De seri + îy: rio dos siris.
Seritinga (MG). De seri + ting + -a: siris brancos.
Sernambitiba (RJ). De serinambi + tyba: ajuntamento de cernambis, moluscos bivalves.
antigamente - akûeîme; erimba'e; kûesenhe'ym; raka'e
akypûerindûara (ou akypûerixûara ou akypûerygûana) (t) (s.) - coisa ou pessoa traseira na ordem; o menor em idade; o derradeiro (VLB, II, 35; 135)
ekoporeaûsuba2 (t) (s.) - miséria; infortúnio (VLB, II, 38)
Que, sem no derivar cometer míngua,
ybỹîme (adv.) - interiormente; de forma entranhada (VLB, I, 119)
ybỹîmengatu (adv.) - interiormente; de forma entranhada (VLB, I, 119)
fundo (= parte inferior) - gûyra; typy
quem? - abápe? (referindo-se a mais de uma pessoa): abá-abápe? ● de quem? (ref. a origem, a procedência): abá suípe?; para quem?: abá supépe?
indé / endé (t) [deriv. de in / en(a) (t)] (v. intr. irreg.) - estar à parte: Aindé. - Estou à parte. (Anch., Arte, 58)
îoaby (etim. - diferir um do outro) (v. intr.) - ser diferente: Nd'oroîoabyî. - Não somos diferentes. (VLB, II, 9)
petymbu (etim. - ingerir petima) (v. intr.) - fumar: Moraseîa é i katu, îegûaka, ...petymbu... - A dança é que é boa, enfeitar-se, fumar. (Anch., Teatro, 6)
Daí, no P.B., TAPERI, TAPIRI, choça. Daí, também, o nome geográfico TAPERA (localidade de SE) (v. p. 386).
aningaperé (ou aningaperi ou aningapiri) (s.) - ANINGAPERÊ, ANINGAPIRI, ANHANGA-PICHERICA, NIANGA-PICHERICA, planta melastomácea, provavelmente Clidemia hirta (L.) D. Don, comum em quase todo o Brasil, de propriedades medicinais (Piso, De Med. Bras., IV, 201)
îukeriomanõ (etim. - juqueri da folha morta) (s.) - sensitiva ou dormideira, variedade de erva leguminosa (Caesalpinia bonduc (L.) Roxb.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 64)
kyîa (s.) nome genérico de plantas da família das solanáceas, gênero Capsicum, conhecidas como pimenta (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39)
memûã1 (s.) - 1) grosseria, gracejo grosseiro; trejeito; zombaria (VLB, I, 73); patranha (VLB, II, 68); 2) maldade, malícia, perversidade; 3) falsidade, fingimento, erro; (adj.) 1) grosseiro, zombeteiro; (xe) zombar (por obras ou palavras), fazer zombaria, fazer trejeitos (compl. com supé): ...Sobaké o memûãnamo... - Fazendo zombaria diante dele. (Ar., Cat., 60v); Xe îuru-memûã. - Faço trejeitos com a boca. (VLB, II, 41); nhe'ẽ-memûã - palavras grosseiras, de zombaria (VLB, I, 73); Xe memûã (abá) supé. - Eu zombo das pessoas. (VLB, I, 149, adapt.); abá-memûã - homem grosseiro, zombeteiro (VLB, I, 73); 2) mau, perverso, malicioso, maldoso: Supikatu serã uîba'e ûyrá-memûã mbouri. - Na verdade, esse fez vir um pássaro mau. (D'Abbeville, Histoire, 353); 3) falso, errado, fingido: abá-memûã - homem falso (VLB, II, 99); N'i tybi mba'e-memûã. - Não há nada errado. (Anch., Teatro, 164, 2006); (adv.) mal, maliciosamente, perversamente: Oîkó-memûãba'e renonhena. - Castigar os que procedem mal. (Ar., Cat., 18v); Aîmonhã-memûã. - Fi-lo mal. (Anch., Arte, 2); Memẽ nhẽ moxy îandébo marã e'i-memûã-memûã. - Sempre os malditos para nós dizem maldades, mui perversamente. (Anch., Poemas, 194)
umeri (s.) - UMIRI, MERI, UMIRIZEIRO, árvore alta da família das humiriáceas (Humiria floribunda (Mart.) Cuatr.), de flores brancas, fruto comestível. Verte óleo ao chão no princípio do inverno, sendo de aroma excelente e de propriedades medicinais e usado também como perfume e aromatizante. (D'Abbeville, Histoire, 225)
urugûapupé (s.) - chaga, ferida, cancro (VLB, I, 67)
Uruguai (país sul-americano). "Nos entendemos, que estas Aldeias eram as que então estavam a cargo do Jesuíta o Padre Francisco Dias Tanho, Superior de tôdas as Aldeias até o Uruguai, e Campos dos Guaianazes." (Pedro Taques, Notícias das Minas, p. 68). De urugûá - var. de caracol d'água doce (VLB, I, 66) + 'y: rio dos uruguás. Palavra que deve provir do guarani antigo.
guaîu2 (s.) - nome genérico para danças (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
îabebyra (s.) - nome genérico das arraias ou raias, peixes cartilaginosos da família dos rajídeos (VLB, II, 95; D'Abbeville, Histoire, 244v) ● îabebyrasyka - arraia pitoca (nome de uma aldeia) (Léry, Histoire, 349)
îaratitá (s.) - nome genérico de insetos e vermes comestíveis que nascem dentro de troncos de palmeira (VLB, I, 55)
marakûani (s.) - nome genérico de caranguejos pequenos da família dos ocipodídeos, vulgarmente conhecidos como navalhas ou tesouras, que habitam frequentemente os manguezais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 184; VLB, I, 67)
pati (s.) - nome genérico de certos insetos e vermes comestíveis que nascem dentro de troncos de palmeiras (VLB, I, 55)
py2 (mb) (s.) - 1) interior, vão, centro; parte de dentro, fundo: Îori sekyîa taûîé i py suí... - Vem para arrancá-lo logo do interior dela. (Anch., Poemas, 136); ygá-pype - na parte de dentro da embarcação (isto é, sob a cobertura dela) (VLB, I, 110; 154); 'y pype - no fundo da água (VLB, I, 110); 2) avesso (p.ex., de pano): i py - o avesso dele (VLB, I, 48)
sok1 (-îo-) (v.tr.) - 1) ferir (com coisa que não entra pela carne ou entra quase nada); dar pancadas de ponta (sem furar) (VLB, II, 63); picar, aguilhoar (p.ex., bois), calcar (sem furar): Aîosok. - Feri-o. (VLB, I, 137); Xe sok îõte. - Deu-me pancada de ponta, somente (isto é, sem me furar). (VLB, I, 129); Pedro nde sok. - Pedro te pica. (Fig., Arte, 151); Pedro osok îagûara. - Pedro aguilhoa a onça. (Fig., Arte, 153); 2) moer, pisando (VLB, II, 40); 3) socar, pilar; (fig.) fustigar: 'Ara yby sokeme, xe ruri. - Quando fustigava o sol a terra, eu vim. (VLB, I, 112); Aporosok. - Soco gente. (Fig., Arte, 89); abati soka - pilar milho (Fig., Arte, 73) ● i xokypyra - o que é (ou deve ser) pilado, socado (Fig., Arte, 108); o que é moído, coisa moída (VLB, II, 40)
ybyryba (s.) - BIRIBÁ, BERIBÁ, BIRIBAZEIRO, BIRIBA, 1) árvore mirtácea (Eugenia ligustrina (Sw.) Willd.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 132); 2) nome comum a várias plantas da família das anonáceas. "Servem-se os índios das achas desta madeira como candeias com que se servem de noite à falta delas." (Sousa, Trat. Descr., 216)
centro - (de coisa esférica): apytera; (de coisa plana): pytera ● no centro de, no meio de (coisa plana): pyteri
aibara (s.) - parte superior das brenhas da mata (VLB, I, 59)
aigûyra (s.) - parte inferior das brenhas (da mata): iî aigûyra rupi nhẽ - por baixo das brenhas dela (VLB, I, 59)
aîpi'ĩ-îurumũmirĩ (etim. - aipim-jerimum pequeno) (s.) - variedade de aipim (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
anangûykytinga (s.) - parte superior das coxas traseiras, junto das nádegas (VLB, I, 85)
'ara4 (s.) - parte superior: i 'ara rupi - na parte superior dele (Fig., Arte, 132)
îar2 (v. intr.) - 1) aderir, estar pegado; pegar-se (como a cera a alguma coisa): Oîaratã serã i aoba... i moperé-perebagûera resé? - Pegou-se fortemente sua roupa às suas chagas? (Ar., Cat., 62); Aîar. - Estou pegado. (Fig., Arte, 102); 2) encalhar (p.ex., o navio, no baixio ou na terra) (VLB, I, 113): T'îaîar. - Encalhemos. (VLB, I, 113); 3) soldar-se, pregar-se, atar-se (VLB, II, 120)
kopytá (s.) - parte inferior de lança, de bastão (VLB, I, 81)
kopytaupaba (s.) - parte inferior de lança, de bastão (VLB, I, 81)
maniakaó (s.) - lombo interior (Castilho, Nomes, 33; VLB, II, 24)
mopereb (v.tr.) - fazer feridas em, fazer ferimentos em, ferir: Seté îakatupe ybŷá i moperé-perebi...? - Ficaram fazendo ferimentos em seu corpo todo? (Ar., Cat., 60)
rimba'e - o mesmo que erimba'e (v.)
Iriritiba (ES). De 'y + reri + tyba: jazida de ostras de rio.
ka'aopîá (s.) - planta hipericácea (Vismia guianensis (Aubl.) Pers.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 96)
marakaîamimbaba (s.) - MARACAJÁ XERIMBABO, gato doméstico (VLB, I, 147)
oîeí1 (adv.) - hoje (Referindo-se ao tempo já passado. Às vezes se refere também ao futuro próximo.): I xupé oîeí eresapuká-pukaî. - Para ele ficaste gritando hoje. (Anch., Teatro, 138); Oîeí bé muru kaî... - Ainda hoje os malditos queimam... (Anch., Teatro, 88)
putu'u1 (m) (etim. - o ingerir alento) (s.) - descanso: Mutu'u resé Tupã îekosu-berame'ĩ... - Deus parece obter o descanso. (Ar., Cat., 11v) ● putugûaba (m) - tempo, lugar, modo, etc. de descanso (VLB, I, 96)
sarinambi - o mesmo que serinambi (v.) (VLB, I, 81)
'aretegûasu (etim. - grande feriado) (s.) - Páscoa: 'Aretegûasu îabi'õ ã mundepora moîepé peîmosemukar ixébe îepi... - Eis que a cada Páscoa um prisioneiro fazeis-me libertar sempre. (Ar., Cat., 59v)
embé2 (t) (s.) - beiço inferior (Castilho, Nomes, 39); [adj.: embé (r, s)] (xe) - ter beiço: Xe rembegûasu. - Eu tenho beiço grande. Mba'e-embegûasu! - Coisa beiçuda! (VLB, I, 54) ● sembegûasuba'e - o que tem beiço grande (VLB, I, 54)
îarumũ (ou îurumũ) (s.) - JERIMUM, JERIMU, abóbora, planta cucurbitácea de fruto redondo e grosso, casca delicada e polpa amarela (Cucurbita maxima Duchesne) (D'Abbeville, Histoire, 52v)
maruuru (s.) - arbusto inferior; produz uma flor amarela, um fruto do tamanho e formato da ameixa, amarelo e doce (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 70)
tyabora (s.) - penúria, miséria, falta de mantimentos (VLB, I, 128)
Serinhaém (rio de PE). De seri + nha'ẽ: bacia de siris, alusão a uma forma de relevo fluvial da região. [...] dá a Freguesia o nome de Serinhaem, que na lingoa nacional quer dizer Seri na tigélla [...]. (Jozé Cezar de Menezes [n.d.], Resumo das Freguezias da Comarca de Goyana, e Capitania de Itamaracá, p. 46).
Sernambi (Iguape, SP). De serinambi: cernambis, moluscos bivalves (Sousa, Trat. Descr., 292).
atrás (de) - atuaî; akypûeri (r, s)
eîru (s.) - IRU, nome genérico de abelhas da família dos meliponídeos. "Fazem o ninho no ar... e criam mel muito bom e alvo..." (Sousa, Trat. Descr., 240)
îurubyra (etim. - parte inferior da boca) (s.) - papo; papada (Castilho, Nomes, 32)
îybagûyra (etim. - parte inferior do braço) (s.) - sovaco, axilas (Castilho, Nomes, 32) ● îybagûyraba - pêlos das axilas (Castilho, Nomes, 32)
ka'i (s.) - CAÍ, nome genérico de macacos pequenos da família dos cebídeos (Cebus apella) (Staden, Viagem, 171; D'Abbeville, Histoire, 252v)
sakûãîba'egûyra (etim. - macho inferior; abaixo do que tem pênis) (s.) - mulher de modos masculinos; machona, mulher-macho (que não conhece homem e tem mulher e fala e peleja como homem) (VLB, II, 27)
'u (v. tr. irreg.) - ingerir (comida, bebida, donde "comer", "beber"), inalar (fumo): A'y-'u. - Bebi água. (VLB, I, 53); Nd'ere'uî xó kori xe remindu'une! - Não beberás hoje o que eu mastigo. (Anch., Teatro, 10); Ereîpotápe nde 'u? - Queres que ele te coma? (Anch., Teatro, 32); I aputu'uma t'a'u. - Hei de comer seus miolos. (Anch., Teatro, 66) ● o'uba'e - o que come, o que bebe, o que ingere: O puru'a îuká potá mosanga o'uba'e. - A que ingere uma poção, querendo matar seu feto. (Anch., Diál. da Fé, 209); 'ûara (ou gûara) - o que ingere, o que come, o que bebe: ...mosangygûaba gûara - a que ingere veneno (Ar., Cat., 70); i 'upyra - o que é (ou deve ser) comido, bebido, ingerido: Îasy mba'e i 'upyra. - A lua foi comida (isto é, a lua eclipsou-se). (VLB, I, 108); 'ûaba (ou gûaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de ingerir, de comer, de beber, a ingestão: usá-'ûaba - lugar de comer caranguejos uçás (D'Abbeville, Histoire, 184); 'Ara nde i gûaba pupé bé o'a te'õ nde reséne... - No mesmo dia em que a comeres, cairá a morte em ti. (Ar., Cat., 40); Oîmoasype a'e riré a'e 'ybá 'uagûera? - Arrependeu-se, depois disso, de ter comido aquele fruto? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); Ere'upe so'o i gûabe'yma pupé? - Comeste carne no tempo de não a comer? (Anch., Doutr. Cristã, II, 107); N'i gûabi. - Não tem modo de o comer. (Anch., Arte, 48)
Sirinhaém, Barra do, (PE). V. Serinhaém.
arabori - o mesmo que araberi (v.) (Sousa, Trat. Descr., 285)
îaku (s.) - JACU, nome genérico de aves galiformes da família dos cracídeos. "...São umas aves a que os portugueses chamam galinhas-do-mato e são do tamanho de galinhas e pretas." (D'Abbeville, Histoire, 236v): -Esenõî gûyrá ixébe. -Îaku, mutũ, makukagûá, inambugûasu, inambu, pykasu... - Nomeia as aves para mim: -Jacu, mutum, macucaguá, inhambuguaçu, inambu, rola. (Léry, Histoire, 348)
meeru2 (s.) - MERU, EMBIRI, BERI, BIRU-MANSO, planta ornamental cultivada, da família das canáceas (Canna indica L.) (Marcgrave, Hist. Nat., 4)
tetemõ (part.) - quão bom seria se... (Fig., Arte, 163)
Muritipucu (serra do PA). De meriti + puku: meritis compridos.
akypûera (t) (s.) - 1) parte posterior, traseira; retaguarda (VLB, II, 135); 2) pegada, rastro, esteira (p.ex., que faz o navio ao navegar): ygara rakypûera - esteira da canoa (VLB, I, 128); Nde rakypûera rupi t'osó xe 'anga îepi. - Por tuas pegadas há de ir minh'alma sempre. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., I, 1618); Sakypûera rupi é îasó... - Por seus rastros é que vamos. (Anch., Teatro, 138); 3) vestígio: Asé 'anga suí asé angaîpaba... rakypûera kanhemagûama resé. - Para o desaparecimento dos vestígios da maldade de nossa alma. (Ar., Cat., 91-91v)
gûaxé (s.) - GUAXE, ave passeriforme da família dos icterídeos (Brandão, Diálogos, 230)
i'upyra (etim. - o que é ingerido) (s.) - mantimento, comida (VLB, II, 31)
kambu (ou kamu) (etim. - ingerir leite) (v. intr.) - 1) mamar: Akambu. - Mamei. (VLB, II, 29); Akambu-seî. - Quero mamar. (VLB, II, 29); I kamu-seî kunumĩ... - Deseja o menino mamar. (Anch., Poemas, 162); 2) (v.tr.) - tomar o leite de: ...O sy kambûabo oúpa. - Tomando o leite de sua mãe. (Anch., Poemas, 162)
komandagûyra (etim. - comandá inferior) (s.) - variedade de planta leguminosa, feijão (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 62)
pyeî (etim. - lavar o interior) (v.tr.) - lavar (p.ex., louça): Aîpyeî. - Lavo-a. (VLB, II, 19)
sabîá (s.) - SABIÁ, nome genérico de certos pássaros da família dos turdídeos, apreciados por seu canto e de grande distribuição territorial (D'Abbeville, Histoire, 238v)
Araberi (rio de PE). De araberi - var. de peixe + 'y - rio: rio dos araberis.
Jeribá (MG). De îara'ybá - jerivá, jeribá, var. de palmeira
Jurubatuba (SP). De îara'ybá - jerivá, jeribá, espécie de palmeira + tyba - ajuntamento: ajuntamento de jerivás.
'ari (etim. - na parte superior) - em cima de, sobre (Anch., Arte, 41): I 'ari oîkó-potá. - Querendo estar em cima deles. (Anch., Teatro, 154, 2006)
gûyra (s.) - fundo, parte inferior, parte de baixo: Aîpó îandé ratá gûyra porama... - Aqueles serão os futuros habitantes do fundo de nosso fogo. (Anch., Teatro, 158); ka'a gûyra - a parte de baixo das árvores, a sombra das árvores (D'Abbeville, Histoire, 186v); (adj. - gûyr) - baixo, inferior, deprimido: akã-gûyra - cabeça baixa, desânimo (VLB, I, 95) ● gûyra resé - debaixo, na parte de baixo (Fig., Arte, 126); gûyra rupi - por baixo: i gûyra rupi - por baixo dele (Fig., Arte, 132); gûyra suí - de debaixo: Eresẽ-potá tenhẽ oré pó gûyra suí. - Queres sair em vão de debaixo de nossas mãos. (Anch., Teatro, 172, 2006)
ybỹîa (ou ybỹnha) (s.) - 1) interior, vão, parte de dentro: Tupã-eté rerobîara îaîporaká xe ybỹîa. - A crença no Deus verdadeiro encheu meu interior. (Anch., Teatro, 166); ...Opá okybỹnha supa. - Visitando o interior de todas as ocas. (Anch., Teatro, 20); 2) entranhas (Castilho, Nomes, 32): ...Nde ybỹîa pupé pitangamo oúpa. - Dentro de tuas entranhas como criança estando (deitado). (Anch., Poemas, 116); (adj.: ybỹî) - oco, vão por dentro: Xe kûarybỹî. - Eu tenho um buraco oco. (VLB, II, 53)
Juqueri (serra de SP). De îukeri, nome de uma planta.
absolutamente! (= não! de modo algum!) - erimã!
tempo (= as condições atmosféricas) - 'ara
a'ang7 (s) (v.tr.) - 1) tentar, experimentar, pôr à prova: I abaí xébo sa'anga. - É difícil para mim tentá-los. (Anch., Teatro, 16); ...Tupã nhe'enga asa'ang. - A palavra de Deus experimentei. (Anch., Teatro, 172); T'isa'ang apŷaba marã îandé irũ. - Experimentemos a força dos homens conosco. (Léry, Histoire, 357); 2) exercitar-se em, ensaiar-se em, esforçar-se por: Pesa'ang îepé peuî korite'ĩ nhõte xe pyri, pekere'yma... - Embora vos tivésseis esforçado, estivestes deitados só pouco tempo junto a mim, não dormindo. (Ar., Cat., 53); N'osa'angi-tep'akó nhembo'e ko'arapukuî? - Mas não se esforçam esses por aprender sempre? (Anch., Teatro, 30); 3) provar (dar provas de), demonstrar poder (com um dos verbos no gerúndio): Esa'ang serasóbo. - Prova-o, levando-o; prova que o levas. (VLB, II, 88); 4) provar, gostar (sentir o gosto de): Marã e'ipe sa'ang' iré? - Que disse após prová-la (isto é, a bebida)? (Ar., Cat., 63v);... E'i mo'ema monhanga, mosanga ra'ã-ra'anga... - Mostram-se a urdir mentiras, ficando a provar poções. (Anch., Teatro, 36) ● a'ang îepé (s) - tentar sem que surta efeito: Asa'ang îepé i monhanga (ou Asa'ang îepé i monhangambûera). - Tentei fazê-lo, sem conseguir. (VLB, II, 13); Mbegûé é ko'yté abá tekokuá kanhemi, sesapysopûera kanhemi, ...o nhe'engabûera ra'ang îepébo... - Lentamente, enfim, o homem perde entendimento, sua vista aguda de outrora desaparece, tentando inutilmente a fala. (Ar., Cat., 156); osa'angyba'e - o que tenta, o que prova, etc.: Apŷaba kunhã resé o ekó osa'angîepéba'e nd'e'ikatuî omendá. - O homem que tenta, sem êxito, ter relações sexuais com uma mulher, não pode casar. (Ar., Cat., 131v); a'angara (t) - tentador: Emokanhem xe ra'angara... - Faze sumir meu tentador... (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1686)
paragûá (s.) - PARAGUÁ, nome genérico de certas aves da família dos psitacídeos, de plumagem bem colorida (D'Abbeville, Histoire, 235; Staden, Viagem, 106)
pykutuk (etim. - cutucar o interior) (v.tr.) - escarafunchar, esgaravatar (VLB, II, 37)
1500 1700 Língua geral meridional 1900
Iriri (rio do ES). De 'y + reri: rio de ostras. "Da villa de Benavente em distancia de uma legua encontrei o rio Iriri pequeno, que dá passagem em maré vasia." (Navarro de Campos [1808], p. 456)
Meriti, São João do (RJ). De meriti'yba, var. de palmeira.
anũ (s.) - ANU, ANUM, nome genérico de certas aves da família dos cuculídeos. Vivem em sociedade, nos campos e cerrados. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 193; Brandão, Diálogos, 227)
moîapu (v.tr.) - bater, bater em: ...Erimba'e ipó xe 'anga robaîara... xe rokena moîapuûne re'a... - Futuramente, com certeza, a inimiga de minha alma há de bater em minha porta. (Ar., Cat., 158v)
tamandûá (s.) - TAMANDUÁ, nome genérico de animais mamíferos desdentados da família dos mirmecofagídeos e, principalmente, do Myrmecophaga tridactyla (D'Abbeville, Histoire, 249v): Akó xe îubykarûera, tataûrana, tamandûá ...! - Esse é meu antigo enforcador, uma taturana, um tamanduá. (Anch., Teatro, 62)
Batovi (SP). Da língua geral meridional matuim, mutuí, batovi, batuíra, aves caradriiformes.
Bicuíba (MG). Na língua geral meridional, nome de árvore da família das miristicáceas.
Biriricas (ES). Da língua geral meridional Piririca* (ou Xiririca*) - corredeira.
Cajobi (SP). Da língua geral meridional, designação comum de certas aves galiformes, cracídeas: cajubi, cajubim.
Cambira (PR). Da língua geral meridional, designando um peixe mugilídeo.
Catiguá (SP). Da língua geral meridional, nome de várias árvores da família das meliáceas.
Curiúva (PR). Da língua geral meridional kuri'yba*: pé de pinheiro, i.e., de araucária.
Guaiúba (CE). Da língua geral meridional, nome de peixe do mar.
Guapituba (SP). Da língua geral meridional, guapira* em tupi, 'yapyra (VLB, I, 61) + tyba: abundância de nascentes de rios.
Humaitá (SP). Da língua geral meridional, por influência do guarani antigo, mbaitá, nome de pássaro verde (Montoya, Tes., 212).
Ipiíba (RJ). Da língua geral meridional, ipeúba*: "Madeira de grande duração, e só o fogo a pode extinguir (...)" (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa) [1765], p. 221).
Jequitaí (MG). Da língua geral meridional îekytá* - jequitá, nome de uma palmeira + 'y: rio dos jequitás.
Minduri (MG). Da língua geral meridional, uma var. de abelhas.
Pejuçara (RS). Da língua geral meridional pé + juçara*: caminho comprido.
Piracicaba (SP). Da língua geral meridional, pirá + sykaba: lugar de chegar dos peixes, chegada dos peixes. "Chegar por rio", como fazem os peixes, em tupi antigo, é îepotar. Na língua geral do século XVIII o verbo syk passou a ser usado com esse sentido: "...continuou a penetrar o sertão a parte oriental seguindo o Rio Piracicaba que é o mesmo que dizer lugar onde o peixe chega vindo das barras do mar e dali não passa a subir para cima, por impedido das cachoeiras mui altas que não podem avançar..." (Manuel José Pires da Silva Pontes [n.d.], p. 32].
Votuverava (PR). Da língua geral meridional votura* + beraba*: montanha brilhante.
______As Línguas Gerais Sul-Americanas. In Papia, Revista de Crioulos de Base Ibérica, Vol 4, no 2, 1996.
imẽ / emẽ (t) (v. intr. irreg.) [deriv. de in / en(a) (t) - v.] - estar: Aîmẽ. - Estou. (Anch., Arte, 58) [O mesmo que imbé / embé (t) - v.]
kuîẽîurimũ (etim. - pimenta cuiém jerimum) (s.) - variedade de pimenta da feição da abóbora (Sousa, Trat. Descr., 186)
myîu'i (s.) - andorinha, nome genérico de pássaros da família dos hirundinídeos, de vasta distribuição no mundo (VLB, I, 28)
Camará (AM). De kamará, nome genérico de certas plantas verbenáceas.
Cambará (SP). De kamará, nome genérico de certas plantas verbenáceas.
Criciúma (SC) - Da língua geral meridional, nome comum a várias plantas gramináceas cujo colmo tem largo emprego na fabricação de balaios e cestos; gurixima, quixiúna, etc.
Reriutaba (CE). Lembra os índios Reriús que habitavam a região (fonte: IBGE). De reriú + taba: aldeia dos reriús.
Descripción del Tupinambá en el Período Colonial: El Arte de José de Anchieta. Colóquio Internacional sobre a Descrição das Línguas Ameríndias no Período Colonial. Ibero-amerikanisches Institut, Berlin, 1995.
amby (s.) - ventrecha, parte inferior da barriga, parte do corpo entre o umbigo e a virilha; colo (Castilho, Nomes, 38): Xe ambyî arekó. - Trago-o no meu colo. (VLB, I, 77)
eîmbaba (t) (s.) - MUMBAVO, MUMBAVA, XERIMBABO, animal de criação, criação, o animal que alguém cria, a cria: abá reîmbaba îukábo... - matando as criações de alguém (Ar., Cat., 72v); O eîmbaba îagûara... resé oîepyka, abá n'oîmomba'e'uî... - Para se vingar de seu cão que cria, um homem não o alimenta. (Ar., Cat., 11); xe reîmbaba tapi'ira - a vaca que crio (Anch., Arte, 14v); Xe reîmbaba endé. - Tu és minha cria. (Staden, Viagem, 65); [adj.: eîmbab (r, s)] (xe) - ter criações: Xe reîmbab. - Eu tenho criações. (VLB, I, 85)
gûeti (s.) - GUETI, OITI, nome genérico de árvores altas que produzem frutos amarelos: gûetitoroba, gûetimirĩ e gûetikoroîa (v.). (Piso, De Med. Bras., IV, 183; Brandão, Diálogos, 217). O mesmo que ûiti (v.).
kuri (s.) - GURI, designação genérica dos bagres marinhos (Sousa, Trat. Descr., 282)
Japira (BA). Nome de uma ave icterídea, talvez um termo da língua geral setentrional.
Japu (MG). De îapu, pássaro icterídeo.
Sergipe (estado brasileiro). De seri + îy + -pe: no rio dos siris. Primeira datação: "[...] pera com elle ordenar as cousas que pertencem ao serviço de Nosso Senhor, como ajuntar os Indios de Cerigipe e Apacé [...]" (Pe. Francisco Pires [1559], p. 157)
aty1 (s.) - ATI, gaivota, nome genérico de aves larídeas de penas brancas, cauda grande e estreita, que habitam a costa sul-americana e voam longe no mar para buscar peixes (D'Abbeville, Histoire, 241v)
bibîá (s.) - nome de uma ave passeriforme traupídea (Sousa, Trat. Descr., 251)
inaúba (s.) - nome de uma árvore (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 169)
kururu (s.) - sapo, CURURU, nome genérico de batráquios (D'Abbeville, Histoire, 253v; Piso, De Med. Bras. III, 174; Sousa, Trat. Descr., 264): Ené, rõ, kururu-asyka! Eia, pois, sapo maneta! (Anch., Teatro, 42)
nunduk (v. intr.) - latejar (p.ex., a ferida ou a cabeça, quando doem) (VLB, II, 19)
poreaûsuba (ou poraûsuba) (m) (s.) - 1) miséria, infortúnio (VLB, II, 38), sofrimento, infelicidade, aflição: tekó poreaûsuba - misérias da vida (VLB, II, 38); 2) aflito: ...moreaûsuba rerekoara - protetora dos aflitos (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); (adj.: poreaûsub) - miserável, aflito, infeliz, coitado: Xe poreaûsukatu gûitekóbo. - Estou sendo muito miserável. (VLB, II, 38); Pe poreaûsu korine. - Estareis aflitos hoje. (Anch., Teatro, 42); Abá-poreaûsubĩ. - Homem coitadinho. (VLB, I, 76); I poreaûsubĩ mã! (ou I poreaûsubeté'ĩ mã! ou I poreaûsubĩ ra'u mã!) - Ah, coitadinho dele! Xe poreaûsubĩ mã! (ou Xe poreaûsubeté'ĩ ra'u mã!) - Ah, coitadinho de mim! (A mulher diz também amaeîu - v.) (VLB, I, 76; II, 53; Ar., Cat., 155v)
apûãaba (etim. - pêlos do lábio superior) - bigode (VLB, I, 56); buço (Castilho, Nomes, 29)
'areté (etim. - dia muito bom) (s.) - feriado, dia santo, dia de guarda: Ereîmborype nde rapixara 'aretéreme i porabyky-potareme? - És tolerante com teu próximo ao querer ele trabalhar nos feriados? (Ar., Cat., 100)
sagûi (s.) - SAGUI, SAGUIM, nome genérico de pequenos símios de pêlo cinzento-prateado e cauda longa, da família dos hapalídeos e da família dos calitriquídeos (D'Abbeville, Histoire, 252v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 227)
taboka - o mesmo que îataboka (v.) (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 184)
Geriva, Rib. do (MT). De îara'yba - jerivá, jeribá, jeribazeiro, espécie de palmeira.
abaré (s.) - padre, ABARÉ, ABARUNA; clérigo; frade; sacerdote, religioso (VLB, II, 100): I xupé, ranhẽ, abaré, Tupã mombegûabo, i xóû. - Junto a ela, primeiramente, os padres foram, anunciando a Deus. (Anch., Poemas, 114); Oú tenhẽ xe pe'abo "abaré" 'îaba... - Vêm em vão para me afastar os ditos "padres". (Anch., Teatro, 8)
andyroba - o mesmo que îandyroba (v.) (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 170)
endybagûyaîa (t) (etim. - papo da parte inferior do queixo) (s.) - papada (do gordo); [adj.: endybagûyaî (r, s)] - papudo; (xe) ter papo, ter papada (como o gordo): Xe rendybagûyaî. - Eu tenho papo (ou papada). (VLB, II, 64)
gûarakapema (s.) - nome de peixe acantopterígio que vive em grandes cardumes na região pelágica tropical e subtropical (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 160)
NOTA - Daí, o nome geográfico BEBERIBE (rio de PE) (v. p. 386).
kisimirĩ (s.) - espécie de inseto elaterídeo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 254)
marãmo? (interr.) - por quê? por que seria que? por que razão haveria de?: Marãmo ahẽ rekóû o mba'ekaturamo xe suí? - Por que ele vive tendo coisas boas mais que eu? (Ar., Cat., 109v); Marãmo satãngatue'ymamo? - Por que não seriam muito fortes? (Léry, Histoire, 357); Marãmope xe serasóû? - Por que razão eu o levaria? (VLB, II, 82)
mombak (v.tr.) - acordar, despertar: Okerĩ... Nd'eremombaki! - Ele dorme... Não o acordes! (Anch., Teatro, 32); Aûîé! Teumẽ xe mombaka! - Basta! Não me despertes! (Anch., Teatro, 44); ...Xe keranama mombaka... De meu pesado sono despertando-me. (Anch., Poemas, 92)
mutũ (ou mytũ) (s.) - MUTUM, nome genérico de aves galiformes da família dos cracídeos (D'Abbeville, Histoire, 236): -Esenõî gûyrá ixébe. -Îaku, mutũ, makukagûá... -Nomeia as aves para mim. -Jacu, mutum, macucaguá. (Léry, Histoire, 348)
mutuka (s.) - MUTUCA, BUTUCA, nome genérico de certos insetos da família dos tabanídeos. As fêmeas picam a pele e o couro dos animais e sugam seu sangue. (D'Abbeville, Histoire, 255)
Cajati (SP). Nome da língua geral meridional, designando uma árvore laurácea.
Juqueri-Mirim (Nazaré Paulista, SP). De îukeri, juqueri, var. de ervas + mirĩ: pequenos juqueris.
akarapeasaba (s.) - nome de um peixe, sargo-de-rio (VLB, II, 113)
apûã (s.) - beiço de cima, lábio superior (Castilho, Nomes, 29)
îoba'ok (v. intr.) - alargar-se (como a ferida, a chaga, a roda com água, etc.) (VLB, I, 29)
îoba'u (v. intr.) - alargar-se (como a ferida, a chaga, a roda com água, etc.) (VLB, I, 29)
kamará (s.) - CAMARÁ, CAMBARÁ, nome genérico de plantas verbenáceas do gênero Lantana, dentre as quais se destaca a espécie Lantana camara L., amplamente disseminada no Brasil. O nome aplica-se também, embora mais raramente, a plantas do gênero Lippia. Tais plantas são também conhecidas como CAMARÁ-DE-CHEIRO, CAMARÁ-DE-ESPINHO, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 5; Piso, De Med. Bras., 191; Brandão, Diálogos, 171)
rana (s.) - 1) coisa grosseira, grosseria; rudeza, rusticidade, bruteza; (adj.: ran) - grosseiro, rude, mal feito: Xe ran. - Eu sou grosseiro. Xe ranusu. - Eu sou muito grosseiro, eu sou grosseirão. (VLB, I, 20); I ranusu nhẽ kûé nde remimonhanga. - É muito mal feito aquilo que fazes. (VLB, II, 29); 2) parecença, semelhança; (adj.: ran) - parecido com, semelhante a; o que parece; (xe) parecer (o que não é) (VLB, II, 115): abá-rana - o que parece pessoa (mas não o é); upá-rana - o que parece lago (mas não o é): brejo (VLB, I, 59); îuky-rana - o que parece sal (mas não o é): salitre (VLB, II, 112), okaî-rana (t) - o que parece choça ou curral (VLB, II, 121); Xe ran (ou Xe rã-xe-ran). - Pareço o que não sou. (VLB, II, 65)
Biribiri (MG). A mesma etimologia de Peri-Peri (v.).
Emboabas (MG). Nome que receberam no período colonial, nas Minas Gerais, os portugueses e forasteiros doutras origens. Era nome antes dado, na língua geral meridional, às aves calçudas, isto é, aquelas cujas pernas são cobertas de penas: de mbó (forma absol. de pó - mão, pata + ab/a (r, s) - peludo + -a: patas peludas. Veja-se a explicação para isso nos seguintes textos coloniais: "E voltando dom Fernando as costas com toda a sua comitiva, os reinóis, chamados pelos paulistas emboabas por desprezo, que na sua língua quer dizer galinhas calçudas, o que imitavam pelos calções que usavam de rolos, seguiram-nos em distância que não fossem vistos. (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 206); "...eoropeos chamados emboabas, nome dirivado das gallinhas calsudas por naó largarem as meyas e sapatos em todo o serviso... (Barboza de Sá [1775], Relação das Povoaçoens do Cuyabá em Mato Groso de seos Principios thé os Prezentes Tempos, p. 5).
Guaimbé (SP). Termo da língua geral meridional que designa uma planta trepadeira arácea; imbé.
Janaúba (MG). Termo da língua geral meridional, designando um arbusto da família das apocináceas.
Periquara (CE). A mesma etimologia de Perigara (v.).
meio - ku'a; agûé; (meio de coisa esférica): apytera; (meio de coisa plana): pytera
akûeîme'ĩ (interj.) (com mã! no final do período) - ai, naquele tempo! (expressa saudade do tempo passado) (VLB, II, 120)
akûeîme'ĩe'õ (interj.) (com mã! no final do período) - ai, bons tempos! (expressando saudade do tempo passado) (VLB, II, 120)
akûeîme'ĩka'e (interj.) (com mã! no final do período) - ai, bons tempos! (expressando saudade do tempo passado) (VLB, II, 120)
embe'ytá (t) (s.) - talabardão, alcatrate, série de pranchões que servem de remate dos revestimentos externo e interno do casco das embarcações (VLB, I, 30)
erekomarã (v.tr.) - 1) maltratar, castigar (ferindo, espancando, isto é, com atos. Para maltratar com palavras ou doutra maneira, v. erekomemûã ou erekoaíb.): Arekomarã. - Maltrato-o. (VLB, I, 68); 2) punir: Arekomarã. - Puni-o. (VLB, II, 90)
îeperibe'ĩ (conj.) - mal, ainda bem não: Îeperibe'ĩ asé marã i 'éû, onhemoŷrõ ymûan. - Mal a gente diz algo, já se irrita. (VLB, II, 11)
kutukagûera (etim. - o que foi objeto de ferimento) (s.) - ferida; ferimento de coisa pontuda, de espada, de faca, etc.; estocada (VLB, I, 129): O pó, o py, o yké kutukagûera bépe erimba'e ogûeropu'am? - Ergueu-se com as feridas de suas mãos, de seus pés, de seu flanco? (Ar., Cat., 44v)
moporaraa'ang (v.tr.) - fazer sofrer, fazer experimentar o sofrimento: Eîori i moporaraa'anga... - Vem para fazê-lo experimentar o sofrimento. (Anch., Poemas, 174)
nhemo'areté (v. intr.) - ser dia santo, ser feriado: Nd'e'i te'e ko'yr, onhemo'aretébo, og orybamo... - Por isso mesmo agora, sendo dia santo, eles estão felizes. (Ar., Cat., 5v)
ruru (s.) - 1) inchamento; 2) gravidez: -Erimba'epe i xóû i xupa? -I membyra São João rurureme. - Quando foi para visitá-la? -Por ocasião da gravidez de seu filho São João. (Ar., Cat., 35); (adj.) - 1) inchado, embebido: Xe ruru. - Eu estou inchado. (Fig., Arte, 38); 2) prenhe, grávida (VLB, II, 11)
ybỹîagûyra (etim. - parte de baixo do interior) (s.) - concavidade (VLB, I, 78)
Bituva (rio de SC). Da língua geral meridional bituba*, nome dado a certos peixes loricariídeos.
Camuari (rib. de SP). Da língua geral meridional camuá* - nome de uma palmeira + y (t, t) - rio dos camuás.
Cavoçu (rio de SP). Da língua geral meridional kabusu*, arbusto da família das poligonáceas.
Cotia (SP). De akuti - cutia, nome genérico de diversos mamíferos roedores da família dos caviídeos ou dasiproctídeos.
Guapiaçu (rio do RJ). Da língua geral meridional, guapira* (em tupi, 'yapyra) + -ûasu: grandes cabeceiras.
Inhaí (rio de MG). Da língua geral meridional inhaíba* - grande árvore lecitidácea + 'y: rio das inhaíbas.
Itariri (São Paulo). De itá - pedra + reri - ostra: ostras das pedras.
Jaceguai (rio de SP). Da língua geral meridional, nome de planta da família das cucurbitáceas.
Jarina (rio do MT). Da língua geral meridional, nome de uma palmeira baixa e de estipe grosso.
Juquiá (rio de SP). Da língua geral meridional, designando um aparelho de pescaria.
Macaia (MG). Talvez da língua geral meridional macaia*, tabaco de má qualidade; macaio.
Paranapitanga (rio de SP). Da língua geral meridional paraná* + pytanga: rio avermelhado (v. Paraná).
Pirabanha (rib. de GO). Da língua geral meridional, piraba* - peixe caracídeo + anh/a (r, s) + -a: pirabas dentadas.
quê? (= que coisa?): mba'epe? marãpe? (referindo-se a mais de um): mba'e-mba'epe? marã-marãpe ● que mais?: mba'epe amõ? de quê?: mba'e suípe?; com quê?: mba'e pupépe?; por quê?: mba'e resépe? (com sentido futuro): mba'erama resépe? mba'erama ripe?
yperu (ou iperu) (s.) - tubarão, nome genérico de grandes peixes carnívoros elasmobrânquios, pleurotremados, com fendas branquiais laterais, havendo deles centenas de espécies. São extremamente agressivos e atacam as pessoas nas praias. Entram também na foz de rios, subindo-os alguns quilômetros. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 172)
(Ferreira) FERREIRA, Pe. João de Sousa, América Abreviada. Suas notícias e de seus naturaes, e em particular do Maranhão [1693]. Publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, LVII, 1894, pp. 5-145.
apytera1 (s.) - 1) meio, centro (de coisa esférica): Ogûeîyb yby apyterype... - Desceu para o meio da terra. (Anch., Doutr. Cristã, I, 141); apyterybỹîa - vão oco de alguma coisa, o vazio do meio de alguma coisa (VLB, II, 141); 2) miolo (de pão, etc.); âmago, cerne (de árvore) (VLB, I, 33): i apytera - o miolo dele (VLB, II, 37)
gûyratange'yma (s.) - pássaro da família dos icterídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 192; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 137)
NOTA - Daí, no P.B., o verbo JIBOIAR, digerir tranquilamente uma refeição farta: "Ele está JIBOIANDO o almoço.
ké2 (adv.) - aqui; o mesmo que iké (v.): Rerityba, xe retama, i xuí xe ruri ké. - Reritiba, minha terra, dela venho aqui. (Anch., Poemas, 150); Ké abá rekóû anhẽ... - Aqui os homens estão, na verdade. (Anch., Teatro, 26); Ekûá ké suí ra'a! - Vai-te daqui já! (Anch., Teatro, 32); Xe anama poepyka ké ixé aîkó. - Para vingar minha família aqui eu estou. (Staden, Viagem, 157) ● keygûara - habitante daqui, o daqui: tupinakyîa keygûara - os tupiniquins, habitantes daqui (Anch., Teatro, 140)
membyre'yma (etim. - sem filhos) (s.) - fêmea estéril (VLB, II, 31); (adj.: membyre'ym) - estéril, sem filhos: ...kunhã-marangatu-membyre'yma... - mulher bondosa e estéril (Ar., Cat., 6v)
moapu'a (v.tr.) - arredondar [deixando esférico, como uma bola. Arredondar, deixando plano e circular é moapỹî ou moamandab (v.)] (VLB, I, 42) ● i moapu'apyra - o que é arredondado; bola (VLB, I, 56)
nhe'engybõ (etim. - flechar palavras) (v.tr.) - ferir com palavras, ofender: Ereînhe'engybõpe nde ruba...? - Ofendeste teu pai? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86)
opab (part.) - todo (os, a, as), tudo: ...Opab erimba'e yby pora... 'yporu pupé i mokanhemi. - Todos os habitantes da terra destruiu com um dilúvio. (Ar., Cat., 106v); Setá tenhẽ erimba'e opab aîpó 'îarûera... - Eram muitos mesmo todos os que diziam isso. (Ar., Cat., 157v); Opab arasó. - Levei todos. (VLB, II, 130)
Brejatuba (PR). Talvez, pela língua geral meridional, brejaúba + tyba: ajuntamento de brejaúvas. (v. Brejaúba).
Curê (MT). Talvez, pela língua geral meridional ou pelo guarani, porcos (v. kuré).
Iapu (MG). De îapu: japus, pássaros icterídeos.
Itaguaré (Bertioga, SP). Da língua geral meridional, itá + jaguaré* - um animal carnívoro: jaguaré de pedra.
Pegueri (MG). A mesma etimologia de Piqueri (v.).
Piquiri (PR). A mesma etimologia de Piqueri (v.).
Tijipió (PE). De teiú - teju, tiú, nome genérico para os lagartos + ypyó - grande quantidade, multidão (VLB, I, 81): multidão de tejus.
Voturuvu (serra do PR). Da língua geral meridional votura* + yvy*: terra de morros.
aŷpy1 (s.) - cerviz, cachaço, a parte posterior do pescoço (Castilho, Nomes, 28): ...I aŷpy atyká-tykábo... - Sua cerviz ficando a esmurrar. (Ar., Cat., 56v); (adj.) (xe) - ter cerviz, ter cachaço: Xe aŷpygûasu. - Eu tenho cachaço grande. (VLB, I, 62) ● iî aŷpype (adv.) - pelo cachaço (VLB, II, 100)
NOTA - Lemos em Euclides da Cunha, referindo-se aos últimos dias de Canudos: "A soldadesca, varejando as casas, pusera fora, às portas (...) toda a ciscalhagem de trastes em pedaços, de envolta com a farragem de molambos inclassificáveis: pequenos baús de cedro; bancos e jiraus grosseiros; redes em fiapos; berços de cipó e balaios de taquara; JACÁS sem fundo; roupas de algodão..." (In Os Sertões. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1997)
NOTA - No P.B., CURURU, além de termo genérico para certos sapos grandes, de pele enrugada, pode ser também um termo específico para os do gênero Bufo, o sapo-cururu, propriamente dito. No folclore brasileiro tal palavra está presente: SAPO-CURURU / Da beira do rio / Quando o sapo canta, menino, / Ele está com frio.
mo'am1 (v.tr.) - erguer, fazer estar em pé, erigir, pôr, encostar de pé (p.ex., pau ou lança à parede): A'eîbépe ybŷá cruz mo'ami i atykábo? - Logo, então, a cruz ergueram, fincando-a? (Ar., Cat., 62v); Oîaobok, itá okytá resé i popûá i mo'ama. - Despiram-no, amarrando-lhe as mãos numa coluna de pedra, fazendo-o estar de pé. (Ar., Cat., 60)
mongu'i (etim. - tornar pó) (v.tr.) - moer, pulverizar (com pedra ou moinho) (VLB, II, 40) ● i mongu'ipyra - o que é (ou deve ser) moído (VLB, II, 40)
musu (ou musũ) (s.) - MUÇU, MUÇUM, nome genérico de peixes da família dos simbrânquios, de água salgada ou doce, de hábitos noturnos. Tem corpo que lembra uma serpente, sem nadadeiras, sem escamas ou bexiga natatória. (D'Abbeville, Histoire, 247v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 161; VLB, II, 12)
piripiri (ou piripirĩ) (s.) - PIRIPIRI, PIRI, PERI, espécie de junco da família das ciperáceas (Rynchospora cephalotes (L.) Vahl), dos pântanos e alagadiços; taboa-do-brejo (VLB, I, 56; II, 123)
teîú (s.) - TEIÚ, TEJU, TIÚ, TIJU, nome genérico para os lagartos, répteis lacertílios da família dos teídeos (D'Evreux, Viagem, 207; VLB, II, 17)
Baquirivu-Guaçu (Guarulhos, SP). Da língua geral meridional, designando uma árvore da família das leguminosas, também chamada guapiruvu e baquerubu.
Batuquara (Guararema, SP). Da língua geral meridional batura*, votura* - montanha + quara*: buraco da montanha.
Congonha (riacho da BA). Da língua geral meridional, por influência guarani, nome de vários arbustos cujas folhas servem para chás; mate-falso; (no Sul) erva-mate: "Foraõ esperallo ao sitio das Congonhas, assim chamado por huma herva, que produz deste nome, da qual fazem os Paulistas certa potagem, em que achaõ os mesmos effeitos do xâ." (Rocha Pitta [1730], p. 376)
Guapeva (Juquitiba, SP). Da língua geral meridional, nome de uma trepadeira da família das cucurbitáceas. De 'ybá + peb + -a: frutos achatados.
Iapi (CE). De îapĩ: japins, pássaros icterídeos.
Japiim (lago do AM). De îapĩ, pássaro icterídeo.
Juqueriquerê (serra de Salesópolis, SP). De îukeri-keri - forma reduplicada de îukeri: muitos juqueris.
Morumbi (bairro de SP). Da língua geral meridional, com a mesma etimologia de Marumbi (v.).
Paranaíba (rio de Goiás). Da língua geral meridional paraná* + aíba: rio ruim (v. Paraná).
Paranatinga (rio de Goiás). Da língua geral meridional paraná + tinga: rio claro (v. Paraná).
_____Estudos sobre Línguas Tupi do Brasil. Série Lingüística, n. 11. SIL, Brasília, 1984.
anhyma (s.) - ANHUMA, ANHIMA, INHAÚMA, ave americana anseriforme da família dos anhimídeos (Anhuma cornuta L.), das regiões pantanosas tropicais e subtropicais. Apresenta um espinho na testa e dedos muito compridos. É também chamada alicorne, unicorne, etc. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 38; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 215)
endybagûyra (ou enybagûyra) (t) (etim. - parte inferior do queixo) (s.) - papo, papada (Castilho, Nomes, 39)
îebyr (v. intr.) - voltar, tornar: Oú-îebype erimba'e o boîá reîasagûerype? - Voltou a vir aonde tinha deixado seus discípulos? (Ar., Cat., 53); Aîur gûiîeby. - Vim, voltando. (VLB, II, 133); Omanõba'epûera suí sekobé-îebyri. - Voltou a viver dos que morreram. (Anch., Doutr. Cristã, I, 141) ● îebyraba - tempo, lugar, modo, causa, etc., do voltar; volta, retorno: ...Ebapó ta peîkó pe îebyragûama resé ixé nde momorandube'yma pukuî. - Ali ficai enquanto eu não vos informar acerca de vossa futura volta. (Ar., Cat., 10v); îeby benhẽ - voltar atrás: Aîeby benhẽ, gûixóbo. - Indo, voltei atrás. (VLB, I, 43)
mba'epûera2 (etim. - coisas que foram) (s.) - 1) mexerico, intriga; 2) dizeres vãos, fúteis, coisas equivocadas, baboseiras, tolices: ...Mba'epûera peîépe? - Dissestes tolices? (Ar., Cat., 157v); (adj.: mba'epûer) - mexeriqueiro; (xe) - fazer mexericos, mexericar: Nde mba'epûerype nde rapixarĩ nhe'engûera mombegûabo? - Tu fizeste mexericos, contando as palavras de teu próximo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99); Ereîmombe'upe abá marã'eagûera... nde mba'epûeramo? - Contaste a maledicência de alguém, sendo mexeriqueiro? (Ar., Cat., 108); Xe mba'epûer. - Eu sou mexeriqueiro; Xe mba'epûer-y îá. - Eu costumo mexericar. (VLB, II, 37)
potarĩ (etim. - querer, sem mais) (v.tr.) - preferir: Oîpotarĩ-p'amẽ abá erimba'e... o îuká? - Preferiam outrora as pessoas que as matassem? (Ar., Cat., 83)
-te2 (part.) - 1) mas, no entanto: Abá-tepe erimba'e, pe mba'erama resé apŷaba me'enga'ubi? - Mas quem entregou os índios como coisas vossas? (Anch., Teatro, 28); A'e-te kaûĩ pûaîtara... - Mas são eles os que mandam fazer cauim. (Anch., Teatro, 34); Pero-te t'osó. - Mas que vá Pero. (VLB, I, 36); ...Oré pysyrõ-te îepé mba'e-aíba suí. - Mas livra-nos tu das coisas más. (Ar., Cat., 13v); 2) por outro lado, ao contrário, em vez disso, não obstante, contudo: Xe-te, xe rembiá-potá sabeypora amõ resé. - Eu, em vez disso, quero presas em alguns bêbados. (Anch., Teatro, 150, 2006); -A'epe a'e kunhã n'onherani? -Oîmbory-te... -E aquelas mulheres não resistem? -Ao contrário, comprazem-se com eles. (Anch., Teatro, 154, 2006); Reîamo ereîkó tenhẽ, setá tenhẽ nde boîá, xe-te t'oroporaká... - Apesar de que sejas rainha, apesar de que sejam muitos os teus servos, eu, não obstante, pesco para ti. (Anch., Poemas, 152)
tyryrygûara (s.) - verme que se infiltra em materiais como madeira, abrindo cavidades enormes a partir de um pequeno furo quase imperceptível (D'Abbeville, Histoire, 258)
Botumirim (MG). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) - montanha, morro + mirĩ: morro pequeno.
Boturuna (SP). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) + un (r, s) + suf. -a: montanha escura.
Curitiba (capital do PR). Da língua geral meridional kuri* - pinheiro, araucária + tyba - ajuntamento, jazimento: ajuntamento de pinheiros. "Igual remeça faço agora dos Pinheiros de Curitiba; oxalá cheguem em termos, e q̃. prosigaõ avante nesse Clima." (Franca e Horta [1803], Para o ex.mo snr. d. Rodrigo - N.º 16, p. 192); "Anno de nascim.^to de nosso Senhor Jesus christo de mil e sette centos e vinte e seis annos aos nove dias do mes de Sbr.^o do d.^o anno nesta v^a de nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba". (Manuel de Sam Payo et al. [1726], Cap.os de correição que faz o cap.am Manuel de Sam Payo juiz ordinario, p. 51).
Itapecirica (SP). A mesma etimologia de Itapecerica (v.).
Japi (serra de SP). De îapĩ, pássaro icterídeo.
Reritiba (antigo nome de Anchieta, ES). De reri + tyba: ajuntamento de ostras, sambaquis.
kambeba (etim. - seio achatado) (s.) - fêmea estéril (VLB, II, 31)
karûaba1 (etim. - lugar de comer) (s.) - nome genérico para as cuias, cuipebas, cuiabas, etc., em que os antigos índios da costa do Brasil costumavam comer (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272)
nhemoaîu3 (s.) - 1) estrondo, ruído (VLB, I, 43), vozerio (VLB, I, 131); falatório, reboliço, matinada (VLB, II, 33); 2) revolta (VLB, I, 150)
piã (m) (s.) - PIÃ, pequeno tumor na pele, ferida (Anch., Arte, 31)
tu'ĩtyryka (etim. - tuim arisco) (s.) - TUITIRICA, periquito da família dos psitacídeos, provavelmente a fêmea do pássaro conhecido genericamente como tuim (v. tu'ĩ) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
Cati (ribeirão de GO). Da língua geral meridional, designando uma erva aromática ciperácea.
Jarinu (SP). De um termo da língua geral meridional, jarina*, que designa uma palmeira + 'y - rio: rio das jarinas.
Jerivá, ribeirão do (PR). A mesma etim. de Jeribá (v.).
Peri (MA). De piripiri: piripiris, piris, peris, espécie de junco da família das ciperáceas.
Pirabas, São João de (PA). Da língua geral meridional, piraba* - peixes caracídeos.
îapĩ - JAPIM, JAPI, nome de um pássaro icterídeo (v. îapĩûasu)
marãnamo? (interr.) - por quê? por que razão haveria de? (VLB, II, 82): Marãnamope asé o sybápe îoasaba moíni? - Por que a gente põe a cruz na testa? (Ar., Cat., 21)
mimbaba1 (etim. - lugar de esconder) (s.) - esconderijo: ...Nd'e'ikatuî sesé omendá mimbápe serekó pukuî... - Não pode com ela casar-se enquanto a mantiver em esconderijo. (Ar., Cat., 128v)
posykyîe'yma (etim. - falta de afabilidade) (s.) - severidade, rigor (VLB, II, 105); (adj.: posykyîe'ym) - severo, rigoroso: abaposykyîe'yma - homem severo (VLB, II, 117)
Guatapará (SP). De guatapará*, da língua geral meridional, uma espécie de veado.
apûãtĩ (s.) - pedra para colocar no lábio superior (VLB, II, 69)
îapu (s.) - JAPU, pássaro da família dos icterídeos (D'Abbeville, Histoire, 237v; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 35)
nyng (adv.) - a latejar, em pulsação (p.ex., a ferida ou a cabeça, quando doem): Nyng a'é; Nyn-nyng a'é. - Estou a latejar. (VLB, II, 19; adapt.)
nhe'engaipaba (etim. - maldade de palavras) (s.) - vitupério, injúria: Nd'oîmoasyîpe amõ o nhe'engaibagûera iî a'o ré? - Não se arrependeram alguns de seus vitupérios após o injuriarem? (Ar., Cat., 63)
oîrã (adv.) - 1) no dia seguinte, no dia posterior: Oîrã o e'õ îanondé o emimbo'e pyri o karûápe. - Ao comer junto de seus discípulos antes de sua morte, no dia posterior. (Ar., Cat., 87); 2) posteriormente, mais tarde, depois: Oîrã îandé resé o îeîuká-ukar-y îanondé... miapé rari o pópe... - Mais tarde, antes de se fazer matar por nós, tomou o pão em suas mãos. (Ar., Cat., 84v); 3) amanhã (VLB, I, 33; Fig., Arte, 128)
takypûeri (etim. - no rastro) (adv.) - na parte posterior, após, atrás (Anch., Arte, 41; VBL, II, 135)
tera'umo (part.) - ah se! vamos ver se! que bom seria se! (Leva o verbo para o gerúndio.): Tera'umo ou! - Vamos ver se vem! (Anch., Arte, 57)
tera'ute (part.) - ah se! vamos ver se! que bom seria se! (Leva o verbo para o gerúndio.): Tera'ute oú. - Ah, se viesse! (Anch., Arte, 57); Tera'ute xe gûixóbo! - Que bom seria se eu fosse! (Fig., Arte, 163)
Guaecá (São Sebastião, SP). Da língua geral meridional guaicá*, designando uma pequena árvore laurácea; canela-guaicá.
Inhapi (AL). De îapĩ, japim, japi, pássaros icterídeos.
Piririca (rio de Iguape, SP). Da língua geral meridional, pequena corredeira ou ondulação à tona da água, produzida pelos peixes.
Timbó, Santa Cruz do (SC). De timbó, nome genérico de algumas plantas entorpecentes.
Tubi, Rio do (MG). Talvez da língua geral meridional, nome de abelhas meliponídeas.
arredondar - moamandab ● arredondar, deixando esférico: moapu'a
ikoé / ekoé (t) (v. intr. compl. posp. irreg.) - diferir, ser diferente, ser distinto (de algo ou de alguém: compl. com suí): ...N'oîkoéî o îosuí... - Não diferem uns dos outros. (Ar., Cat., 118); -Anga îápe pe roka? -Oîkoé-katu. - Como estas são vossas casas? -Diferem muito. (Léry, Histoire, 363)
kutuk1 (v.tr.) - espetar, CUTUCAR, pungir, furar; ferir de ponta com coisa que entra pela carne, espinhar (o espinho); arpoar; escarificar: Anambi-kutuk. - Furo orelhas. (Anch., Arte, 50); Oîké îugûasu i akanga kutuka... - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Minusu pupé iî yké kutuki... - Com uma lança espetaram seu flanco. (Anch., Diál. da Fé, 192)
NOTA - Daí, o nome geográfico SÃO JOÃO DO MERITI (RJ) (v. p. 386).
nha'ẽpykytykaba (etim. - instrumento de esfregar o interior do prato) (s.) - esfregão, escova ou bucha de esfregar pratos (VLB, I, 124)
nhemoaîu2 (v. intr.) - fazer estrondo, levantar vozerio, fazer reboliço (p.ex., após beber vinho) (VLB, I, 131; II, 98)
tu'ĩ (s.) - TUIM, TUIETÊ, TIÚ, TUIUTI, o menor periquito do Brasil, pássaro da família dos psitacídeos, que vive em grandes bandos que atacam as plantações (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206; Sousa, Trat. Descr., 231)
tukura (s.) - TUCURA, TICURA, gafanhoto, nome genérico de insetos da ordem dos ortópteros, da família dos tetigonídeos (VLB, I, 146)
umãba'e? (interr.) - qual? quais?: Umãba'e ranhẽpe erimba'e oîkó? - Qual foi o primeiro? (Anch., Doutr. Cristã, I, 158); Umãba'e 'ara pupé asé nhemombe'uû...? - Em quais dias a gente se confessa? (Anch., Doutr. Cristã, I, 212); Umãba'e kunhã resépe abá nd'omendari xûéne? - Com quais mulheres um homem não se casará? (Anch., Doutr. Cristã, I, 226)
Guaxatuba (serra de SP). De guaxé - guaxe, ave icterídea + tyba: ajuntamento de guaxes.
Perigara (MT). Talvez um nome da língua geral meridional, piriguara*, cipó da família das violáceas.
Sumaré (bairro de SP). Nome da língua geral meridional, designando uma variedade de orquídea.
tyabor (v. intr.) - estar na penúria, padecer miséria, sofrer falta de mantimentos: Atyabor. - Estou na penúria. (VLB, I, 128)
Guatambu (Itaquaquecetuba, SP). Da língua geral meridional, nome comum a árvores apocináceas, de boa madeira.
Pequeri (rio de MT). A mesma etimologia de Piqueri (v.).
arumará (s.) - ARUMARÁ, pássaro da família dos icterídeos, do tamanho de um pombo, de hábitos parasíticos, com cabeça, asas e dorso emplumados de negro (D'Abbeville, Histoire, 239)
marãtekoabe'yma (etim. - tempo sem estar em esforço) (s.) - feriado, dia de festa, ocasião de não trabalhar, ocasião em que não se trabalha: Kó 'ara marãtekoabe'yma. - Este dia é feriado. (Ar., Cat., 6v); Ogûeronhe'eng i mendarypyrama Tupãokype marãtekoabe'yma pupé... - Anuncia os que serão casados na igreja nos feriados. (Ar., Cat., 94)
mba'enhemonhangabe'yma (etim. - a não geração das coisas) (s.) - esterilidade (fal. de terra) (VLB, I, 129)
mba'etybe'yma (etim. - não abundância de coisas) (s.) - esterilidade, falta das coisas necessárias, infertilidade (p.ex., da terra) (VLB, I, 128)
mbegûy (s.) - aguadilha, água tênue que sai das feridas ou das tetas que não têm leite (VLB, I, 24)
meriti'yba (etim. - pé de miriti) (s.) - MIRITI, BURITI, MERITI, palmeira altíssima de lugares alagados (Mauritia flexuosa L.), que fornece palmas para cobrir casas. Tem fruto do tamanho de um ovo grande, com casca avermelhada e com manchas pretas. Sua polpa é vermelha e dentro dela há uma noz doce. (D'Abbeville, Histoire, 221)
mimbaba2 (etim. - objeto do esconder) (s.) - MUMBAVO, XERIMBABO, qualquer animal manso que o homem cria ou o animal que ele amansa; animal doméstico, animal caseiro (VLB, II, 31); criação: ...So'o mimbaba roka ogûar og upabamo... - Tomou a casa dos animais de criação como sua pousada. (Ar., Cat., 9v) [o mesmo que eîmbaba (t) - v.]
-no (part.) - 1) também: Ereîapixabype amõno? - Feriste alguém também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 87); 2) de novo, novamente, outra vez (VLB, II, 60): ...Eîorino i mombûeîrapa! - Vem novamente para curá-los! (Anch., Teatro, 120)
tipi (s.) - TIPI, PIPI, planta fitolacácea (Petiveria alliacea L.), de cheiro forte. Também é chamada erva, guiné ou raiz-da-guiné. (Piso, De Med. Bras., 201)
Japitaraca (CE). De îapĩ, pássaro da família dos icterídeos + taraka - som estridente: japi do som estridente.
ba'u (etim. - come pau < 'yba + 'u) (s.) - nome genérico de insetos e vermes comestíveis que nascem dentro de paus, canas, etc. (VLB, I, 55)
îamakaîy (s.) - JAMACAJI, pássaro da família dos icterídeos, de canto ameno e bela plumagem, que vive nas caatingas e em zonas campestres de todo o Brasil leste-setentrional (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 198)
îanondé 1) (posp.) - antes de (expressando tempo anterior a algo que se realizará depois, necessariamente): Xe îebyr-y îanondé. - Antes de minha volta. (Fig., Arte, 158); ...Oporaseî pysaré, oîemopaîeangaípa, tatápe o só îanondé. - Dançaram a noite toda, fazendo feitiçarias, antes de irem para o inferno. (Anch., Teatro, 14); Abá rokype erekûá, tá, nhemim-y îanondé? - Na casa de quem passaste, tomando-as [isto é, as coisas roubadas], antes de te esconderes? (Anch., Teatro, 44); Marã e'ipe asé o ké îanondé...? - Como diz a gente antes de dormir? (Ar., Cat., 24v); Xe angaturam ybakype xe só îanondé. - Eu fui bom antes de ir para o céu. (Anch., Arte, 45); 2) (adv.) antes (comparação): ...Ybakype i pyri o só îanondé Anhanga ratápe o só suí. - Antes sua ida para junto dele no céu que sua ida para o inferno. (Ar., Cat., 110)
ipuku (adv.) - longamente, por longo tempo: Ipuku erimba'e îandé rubypy rekóû îase'o-monhanga... - Longamente nosso pai primeiro esteve chorando. (Ar., Cat., 84); Ipuku xe rekóû i monhanga. - Longamente eu o estive fazendo. (VLB, I, 102); Ipuku aîkó. - Estive por longo tempo; tardei. (VLB, II, 124)
ker (v. intr.) - 1) dormir: Xe porupi xe ra'yra keri. - Ao lado de mim dorme meu filho. (Fig., Arte, 123); ...Iké nhẽ peîkó xe rarõmo, xe pyri, pekere'yma... - Estai aqui esperando-me, junto de mim, não dormindo. (Ar., Cat., 52v); Ereké-pipó eîupa? - Estavas realmente dormindo? (Anch., Teatro, 10); Okerĩ... Nd'eremombaki! - Ele dorme... Não o acordes! (Anch., Teatro, 32); Ereképe, Gûaîxará? - Dormes, Guaixará? (Anch., Teatro, 50); 2) adormecer (VLB, I, 22) ● Aker-akerĩ. - Durmo amiúde. (VLB, I, 106)
opabenhẽ (part.) - todo (os, a, as), tudo: Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'oîa'oû...? - Acaso todos os que estavam ali ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v); Tupã sy opabenhẽ mba'e oîkuab oîkóbo. - A mãe de Deus está sabendo todas as coisas. (Anch., Teatro, 130)
Buturuçu (serra de Itanhaém, SP). Da língua geral meridional botura* (de ybytyra) + -usu: montanhão.
Votorantim (salto de Sorocaba, SP). Da língua geral meridional votura* + tĩ*: morro pontudo.
_____(org.) Estudos sobre Línguas Tupi do Brasil. Série Lingüística Nº 11. SIL, Brasília, 1984.
arũaíba (ou arãíba) (s.) - 1) rufião, janota: Ereîubype erimba'e nde agûasá 'arybo nde arãíbamo? - Estiveste deitado outrora sobre tua amante como um rufião? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95); 2) atos de rufião; janotice: Moropotara semipokuabe'yma, ...arũaíba, tekó-poxy... anga Îandé Îara îandé 'angyme îandé ogûar'iré ybŷá potara oîmoaruab... - O desejo sensual tornado costumeiro, a janotice, o vício, isso Nosso Senhor, após o recebermos nós em nossa alma, impede de se querer. (Ar., Cat., 88v-89); (adj.: arũaíb) (xe) - ser ou agir como rufião [compl. com esé (r, s)]; falar como rufião (compl. com supé): Xe arũaíb (abá) resé. - Eu ajo como rufião a respeito das pessoas. (VLB, II, 109, adapt.); Xe arũaíb (abá) supé. - Eu falo como rufião às pessoas. (VLB, II, 109, adapt.); Xe nhe'engarũaíb. - Eu tenho palavras de rufião. (VLB, II, 109); 3) chocarrice, gracejo, motejo, escárnio; (adj.: arũaíb) - chocarreiro, gracejador, motejador, escarnecedor; folgazão, vanglorioso, garrido: Nde arũaípe nde rapixara 'arybo eîupa? - Tu foste chocarreira, estando deitada sobre teu próximo? (Ar., Cat., 235); Xe arũaíb. - Eu sou garrido. (VLB, II, 141)
be'ĩmo (part. É usada com a part. mã.) - oxalá! bom seria se, deveria por bem (desejando que algo ocorra ou tenha ocorrido): Our be'ĩmo mã! - Oxalá ele viesse! (VLB, II, 61); Aîmbo'e be'ĩmo mã. - Deveria eu por bem ensiná-lo. (VLB, II, 64)
embykyra (t) (s.) - rabadilha ou rabadela, a região superior das nádegas (de pessoa) (VLB, II, 95)
mba'emeémo (part.) [o mesmo que meémo (v.), mas abrindo período]: Mba'emeémo asó... - Se eu tivesse ido... (Anch., Arte, 25v)
NOTA - Daí se originam nomes de lugares como PERI-PERI (BA), PIRITUBA (SP) (v. p. 386) e nomes de pessoa, como PERI. Daí, também, no P.B., PERI, 1) sulco formado pelo escoamento de águas em declive; 2) (MT) a parte baixa de terreno alagada pelas águas de um rio; PERIANTÃ, PARIATÃ (Amaz.), 1) lugar onde há peris; 2) ilha flutuante que desce os rios, formada de plantas aquáticas, camalote; 3) barranco flutuante despegado da margem do rio, e que desce nas enchentes, coberto de canaranas, marurés e outras plantas; matupá (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Daí, os nomes geográficos ITARIRI (SP) e RERITIBA (ES) (v. p. 386).
ygeaíba (t) (etim. - ventre ruim) (s.) - diarréia (forte, perigosa); [adj.: ygeaíb (r, s)] - diarréico; (xe) ter diarréia: Xe rygeaíb. - Eu tenho diarréia. (VLB, I, 64)
Urubici (rio de SC). Talvez nome da língua geral meridional, uruba* - árvore marantácea + ysy (t): fileira de urubas.
îu'iperereka (etim. - rã saltadeira) (s.) - PERERECA, nome genérico de anfíbios anuros, de ventosas nos dedos, que vivem nas moitas e sobem às árvores, pertencentes à família dos hilídeos, com mais de oitenta espécies no Brasil (Sousa, Trat. Descr., 265)
pegûy (mb) (s.) - aguadilha, água tênue que sai das feridas ou das tetas que não têm leite; serosidade (VLB, I, 24); (adj.) (xe) - ter ou lançar aguadilha (VLB, I, 24)
Caiapó (Jandira, SP). Nome, talvez da língua geral meridional, de uma trepadeira herbácea, da família das cucurbitáceas, também chamada purga-de-gentio.
Votupari (Santana do Parnaíba, SP). Da língua geral meridional, votura* + parĩ*: montanha torta.
PITTA, Sebastião da Rocha [1730], Historia da América Portugueza desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento até o de mil setecentos e vinte e quatro. Lisboa, na Officina de Joseph Antônio da Sylva, 1730. Biblioteca Brasiliana, USP.
anhu'ymirĩ (s.) - variedade de anhu'yba (v.) de tamanho inferior (Piso, De Med. Bras., 195)
nhe'engaíba2 (etim. - discurso ruim) (s.) - maledicência, vitupério, injúria; (adj.: nhe'engaíb) - maldizente; (xe) dizer palavras más, falar mal, murmurar: Mba'epoxy koty onhe'engaíbamo... - Dizendo palavras más acerca de coisas nojentas... (Ar., Cat., 71v); Xe nhe'engaíb (abá) resé. - Eu falo mal do homem. (VLB, I, 134, adapt.)
panapanã1 (s.) - PANAPANÃ, o mesmo que panama (v.), nome genérico do tupi para a borboleta (D'Abbeville, Histoire, 255)
Botuquera (Guararema, SP). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) + ker + -a: morro dormente.
Gudiuvira (SP). Nome de peixe, talvez da língua geral meridional.
Jaceguava (Itapecirica da Serra, SP). Da língua geral meridional, nome de planta cucurbitácea + -aba: lugar de jaceguais.
aûsuba (t) (s.) - amor: Tynysẽ Tupã raûsuba nde nhy'ãme erimba'e. - Abundava o amor de Deus em teu coração outrora. (Anch., Teatro, 120)
gûabaîaku (s.) - peixe-coelho, espécie da família dos quimerídeos (VLB, II, 70)
kyîakûy (s.) - pimenta-malagueta, planta solanácea sul-americana (Capsicum frutescens L.) (Piso, De Med. Bras., 198; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39)
pusá (s.) - PUÇÁ, rede de pesca, o mesmo que pysá (v.) (Heriarte, "Descr. Maranhão, Pará", in Varnhagen, Hist., 4ª ed., 1951, III, 185)
Congonhal (São Lourenço da Serra, SP). Da língua geral meridional congonha* + suf. -al do port.: ajuntamento de congonhas.
Guriri (RJ). Planta palmácea, termo da língua geral meridional.
Jandira (SP). Provavelmente é termo da língua geral meridional e designa uma variedade de abelha.
aby1 (v.tr.) - ser desigual de; não se parecer com; diferir de; ser diferente de: N'aîabyî. - Não sou diferente dele, pareço-me com ele. (VLB, II, 65); Oroîoaby. - Somos desiguais um do outro. (VLB, I, 99); Aîpoba'e tenhẽ n'oîabyî mboîa. - Aquele, de fato, não é diferente da cobra. (Ar., Cat., 108v); Oîaby rakó abá rekó xe retama... - É muito diferente, de fato, a morada dos homens da minha residência. (Ar., Cat., 167); Nd'oîabyî muru arara... - O maldito não difere de uma arara... (Anch., Teatro, 62)
akuti (s.) - CUTIA, AGUTI, ACUCHI, ACOUTI, ACUTI, nome genérico de diversos mamíferos roedores da família dos caviídeos ou dasiproctídeos, com nove espécies no território brasileiro, dentre as quais a espécie Dasyprocta leporina, que está associada à Mata Atlântica e à Amazônia. Vivem nas matas e capoeiras, de onde saem à tardinha para alimentar-se de frutos e sementes caídos das árvores, tendo predileção por coquinhos. A coloração varia entre as espécies. (D'Abbeville, Histoire, 96v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 224; Thevet, Les Sing. de la France Antarct., 62v)
arasá (s.) - 1) ARAÇÁ, ARAÇAZEIRO, ARAÇÁ-DO-MATO, nomes genéricos de diversas árvores ou arbustos do gênero Psidium, da família das mirtáceas, dentre as quais se destacam as espécies Psidium cattleianum Sabine e Psidium guineense Sw.; 2) o fruto dessas árvores, "parecido com uma goiaba pequena" (D'Abbeville, Histoire, 225; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 39) ● arasá-tyba - ajuntamento de araçás (Léry, Histoire, 349)
'useî (v.tr.) - 1) querer comer; querer beber; querer ingerir; ter sede (Fig., Arte, 2): Marãba'e so'o ereî'useî? - Que tipo de caça queres comer? (Léry, Histoire, 347); Ereî'useîpe u'i-puba? - Queres comer farinha puba? (Anch., Teatro, 44); Kaûĩaîa 'useîa é, opakatu amboapy. - Querendo beber vinho, tudo esgotei. (Anch., Teatro, 46); 2) desejar: T'oî'useî-katu Tupã rekó... - Que ele deseje muito a lei de Deus. (Ar., Cat., 81v) ● 'useîtara - o que quer comer; o que quer beber; o que deseja: ...tekokatu 'useîtara... - o que deseja a justiça (Ar., Cat., 19); 'useîtaba - tempo, lugar, modo, etc. de querer comer, de querer beber, de desejar; desejo: A'epe muru'apora 'y 'useîtápe... marã? - E as grávidas ao quererem beber água, que acontece? (Ar., Cat., 77v); 'useîbora - sedento: 'Useîbora mbo'y'u. - Dar de beber aos sedentos. (Ar., Cat., 18)
Boturoca (ribeirão de SP). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) + oka (r, s) - casa, refúgio: refúgio da montanha.
me'ĩ (part. de optativo passado; indica algo que poderia ter ocorrido, mas não ocorreu): Aîuká me'ĩ mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Ixé me'ĩ asó mã! (ou Asó me'ĩ mã!) - Ah, quem me dera eu tivesse ido! (Anch., Arte, 24v; Fig., Arte, 142)
me'ĩmo (part. de optativo passado; indica algo que poderia ter ocorrido, mas não ocorreu): Asó me'ĩmo mã! - Ah, quem me dera eu tivesse ido! (Anch., Arte, 24v; Fig., Arte, 142); Aîuká me'ĩmo mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Asó me'ĩmo ybakype mã! - Ah, se eu tivesse ido para o céu! (Anch., Arte, 24); Asepîak me'ĩmo! - Que o tivesse visto! (Anch., Arte, 2)
mutugûaba (etim. - tempo de descanso) (s.) - festa religiosa, feriado religioso, dia santo (VLB, I, 138)
paîemarĩoba (etim. - folha do pajé manco) (s.) - PAJAMARIOBA, MAJERIOBA, MANJERIOBA, nome comum de plantas leguminosas-cesalpinoídeas do gênero Senna, conhecidas também como PAJOMARIOBA, PAIERIABA, folha-de-pajé, mata-pasto, fedegoso-verdadeiro. A espécie mais importante é a Senna occidentalis (L.) Link, espalhada por quase todo o Brasil. (Brandão, Diálogos, 118)
NOTA - Desse termo, que passou para a língua geral meridional, procede o nome do rio paulista JACARÉ-PEPIRA (v. p. 386).
pygûará-gûará (v.tr.) - escarafunchar, esgaravatar, cutucar o interior de (VLB, II, 37)
typyraty (s.) - farinha de mandioca crua, de qualidade inferior (VLB, I, 135)
Guamirim (PR). De 'ybá + mirĩ, talvez pela língua geral meridional: frutos vermelhos, nome de uma planta melastomácea.
Japeri (RJ). De îapĩ + y (t, t): rio dos japis (pássaro icterídeo).
Jerimanduba (ilha do AM). De îarumũ + tyba: ajuntamento de jerimuns, plantas cucurbitáceas.
aûsubar (s) (v.tr.) - compadecer-se de, ter piedade de, ter misericórdia de, ter pena de: Oré raûsubá îepé... - Compadece-te de nós. (Anch., Poemas, 100); Eîori, oré raûsubá... - Vem para te compadeceres de nós. (Anch., Teatro, 120); Ta xe raûsubar... - Que ele se compadeça de mim... (Ar., Cat., 23v); Eresaûsubápe nde sy, nde ruba...? - Compadeceste-te de tua mãe e de teu pai? (Ar., Cat., 101); N'asaûsubari mba'e. - Não tenho pena das coisas (isto é, sou pródigo). (VLB, II, 87) ● saûsubaryba'e - o que tem misericórdia, o que tem pena: Tekokatu-eté rerekoara i poraûsubaryba'e... - Os que têm a bem-aventurança são os que têm pena das pessoas. (Ar., Cat., 19); saûsubarypyra - o que é objeto de compaixão, aquele de quem se tem pena, o que recebe compaixão: Mbobype saûsubarypyra? - Quantos são os que recebem compaixão? (Ar., Cat., 41v); aûsubaraba (ou aûsubasaba) (t) - tempo, lugar, modo, causa, etc. de se compadecer; compaixão: Tupã o aûsubaraûama resé onhemoapysyka. - Consolando-se com a compaixão de Deus. (Ar., Cat., 41); Xe raûsubasápe, xe 'anga moteni. - Por se compadecer de mim, minh'alma faz firme. (Anch., Poemas, 108)
îasytatagûasu1 (etim. - estrela grande) (s.) - estrela-do-mar, nome genérico de animais equinodermos achatados em forma de estrela ou pentágono, com muitos braços, pés ambulacrários e boca na face inferior do corpo (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 29, 30)
îundi'a (ou nhandi'a) (s.) - JUNDIÁ, NHANDIÁ, JANDIÁ, nome genérico para os bagres de rio, peixes da família dos pimelodídeos (Anch., Arte, 6v)
OBSERVAÇÃO - Na sua Arte, 50, Anchieta afirma que não se poderia dizer xe moroting, i moroting, mas, sim, xe ting, ting, o que seu próprio exemplo acima contradiz.
mosykyîe'yma (ou mosykyîee'yma) (etim. - sem afabilidade) (s.) - severidade (VLB, II, 117); crueza, crueldade (VLB, I, 86)
Mirim (SC). Nome de uma abelha, termo da língua geral meridional.
îetyka (s.) - JETICA, JATICA, batata-doce, planta herbácea americana, da família das convolvuláceas (Ipomoea batatas (L.) Lam.), de raízes tuberosas alimentícias e folhas medicinais. É também chamada batata-da-terra, batata-da-ilha. (D'Abbeville, Histoire, 229; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 16) ● îetyky - vinho de batata-doce (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
imbé / embé (t) (etim. - continuar a estar) (v. intr. irreg.) [deriv. de in / en(a) (t) - v.] - ficar, estar (VLB, I, 128): Îesu 'ekatûápe nde nhõ ereimbé. - À direita de Jesus somente tu estás. (Anch., Poemas, 126)
maraká2 (s. etnôn.) - povo indígena tapuia habitante do interior da Bahia (Sousa, Trat. Descr., 350)
openhan2 (s) (v.tr.) - 1) acudir a, socorrer, valer a; salvar de perigo: Asopenhan. - Acudi-o. (VLB, I, 20); 3) ir ao encontro de: 'Y pytera asopenhan. - Fui ao encontro do meio das águas (isto é, para o alto-mar). (VLB, I, 112)
pytera (s.) - meio, centro de um círculo [não de coisa esférica ou com volume, que é apytera (v.)]: ...Kûarasy 'ara pyterype seneme. - Ao estar o sol no meio do mundo. (Ar., Cat., 117); ...Karaibebé pyterype supiri... - No meio dos anjos fê-la subir. (Ar., Cat., 132); ...Amõ 'yba gûemityma pyterype o'amba'e kuabe'enga. - Mostrando-lhe uma certa árvore que estava no meio do seu jardim. (Ar., Cat., 40); ...nhũ-myterype i mbo'îabo. - ...em meio de campo repartindo-os. (Anch., Teatro, 140) ● pyteri - no meio de, no centro de (Anch., Arte, 41); pyterybo - pelo meio de (sentido difuso) (Anch., Arte, 42v)
tu'ĩ'aputeîuba (etim. - tuim do cocuruto amarelo) (s.) - nome de um periquito largamente espalhado em todo o Nordeste, pássaro da família dos psitacídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
îupuîuba (s.) - JAPUJUBA, designação comum a várias aves passeriformes da família dos icterídeos, que têm a cauda longa e amarela e o bico forte, igualmente amarelo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 193)
OBSERVAÇÃO - Segundo o VLB, I, 42, essas orelheiras compridas seriam nambipora (v.) e a nambipaîa seria de outro tipo, um brinco menor. Mas admite que elas se confundem.
nhemoapŷab (v. intr.) - fazer-se homem, tornar homem: ...Aîpó potá é erimba'e nhemoapŷabi, Tupãnamo o ekó po'ire'yma. - Querendo isso, fez-se homem, não deixando de ser Deus. (Ar., Cat., 86)
petyma (s.) - 1) PETIMA, PETEMA, PETUM, PETUME, tabaco, nome genérico de plantas solanáceas (entre as quais a Nicotina tabacum L.), cujas folhas, depois de preparadas, servem para cheirar, fumar ou mastigar (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; Staden, Viagem, 154): Ererupe nde petyma? - Trouxeste teu fumo? (Anch., Teatro, 146); 2) fumaça que se inala ao se fumar (VLB, I, 144) ● petymaoba - folhas de tabaco (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
NOTA - Daí, no P.B., pelo nheengatu ou pela língua geral meridional, MANAUARA ("o morador de Manaus", AM); MARAJOARA, pertencente ou relativo à ilha de Marajó (PA); PARNANGUARA, pertencente ou relativo a Paranaguá (PR); XINGUARA, o que é do Xingu ou nele mora. Daí, também, IGARUANA (ygara + -ygûana, "morador de canoa"), canoeiro navegador.
Aracuí (ES). De aracu* - nome de um peixe na língua geral meridional + 'y - rio: rio dos aracus.
Jaguamimbaba (SP). De îagûara + mimbaba (de mim - esconder): esconderijo das onças.
Japuíba (RJ). De îapu + 'yba: árvore dos japus, pássaros icterídeos.
a'enipó (part.) (ou a'enipoaé, a'enipó com ra'e no final do período) - e parece que: A'enipó (abá) pûari sesé ra'e. - E parece que o homem bateu nele. (VLB, I, 120, adapt.)
'atybakã (s.) - os ângulos que formam os cabelos na parte superior do rosto; entradas (Castilho, Nomes, 30): Aî'atybakã-moín. - Pus entradas nele. (VLB, I, 119)
poraûsubara (ou poroaûsubara) (m) (s.) - 1) compadecedor, clemente, misericordioso, compassivo: Eîori xe poraûsubara... - Vem, compadecedor de mim. (Valente, Cantigas, VIII, Ar., Cat., 1618); 2) compaixão, misericórdia (VLB, II, 38); piedade (VLB, II, 76): Salve Rainha, moraûsubara sy... - Salve Rainha, mãe de misericórdia. (Ar., Cat., 14); moroaûsubara 'yba... - princípio da compaixão (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); [adj.: poraûsubar (m)]: Nde resá-poraûsubara erobak ixé koty. - Teus olhos misericordiosos volta em minha direção. (Anch., Poemas, 146); I poraûsubá-katu Tupã sy... - É muito misericordiosa a mãe de Deus. (Anch., Poemas, 182); pitangĩ-moraûsubara - neném compadecedor (Anch., Poemas, 160)
sûasuarana (ou sugûasuarana) (s.) - SUÇUARANA, SUAÇURANA, felino americano (Puma concolor, L.), de pele malhada, também conhecido como onça-vermelha, onça-parda e puma (D'Abbeville, Histoire, 251v)
OBSERVAÇÃO - A idéia de um dilúvio em tempos imemoriais, que teria destruído quase todos os seres humanos, fazia parte da cosmologia dos tupis antes da chegada dos portugueses.
Tapera (SE). De taba + pûer + -a: aldeia extinta. Durante o período colonial, tapera passou a significar também, fazenda abandonada. É com esse sentido que tal palavra aparece mais comumente na toponímia brasileira: "Por que cuidaes que se arruinam e desfabricam, e estão feitos taperas tantos engenhos?" (Pe. Antônio Vieira [1657], 3.° Sermão da Quarta Dominga da Quaresma, p. 69)
a'ang6 (s) (v.tr.) - 1) pronunciar (p.ex., aquilo que se lê), ler, proferir, declarar: Asa'ang. - Leio-o. (VLB, II, 20); Abápe aîpoba'e oîmonhang erimba'e, sa'angypŷabo? - Quem o fez outrora, começando a pronunciá-lo? (Ar., Cat., 25v); Esa'ãngatu. - Pronuncia-o bem. (VLB, II, 87); 2) celebrar: Missa ra'anga asébe... - Celebrando a missa para a gente. (Ar., Cat., 93v) ● a'angara (t) - o que pronuncia, o que profere, etc.: ...Ladainhas ra'angara... - o que profere as ladainhas (Ar., Cat., 125, 1686); a'angaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de celebrar, de proferir, o proferir, etc.: Ladainhas ra'angaba... - O proferir das ladainhas (Ar., Cat., 126)
NOTA - Daí, no P.B., PUAVA, 1) arisco, bravio; 2) (fig.) raivoso, colérico, irado; 3) (s.) pessoa ou animal puava; arisco; 4) indivíduo valente, destemido (In Dicion. Caldas Aulete). Daí, também, o nome geográfico APIAÍ (SP) (v. p. 386).
enopu'am1 (ou eropu'am) (v.tr.) - ameaçar (com pau, espada, etc., não ferindo): Aropu'am. - Ameacei-o. (VLB, I, 34); Ké abá rekóû anhẽ xe renopu'ã-pu'ama. - Aqui os homens estão, na verdade, para me ficar ameaçando. (Anch., Teatro, 26). (Também pode receber -s- no indicativo.): Asenopu'am Pedro ybyrá pupé. - Ameacei Pedro com um pau. (Anch., Arte, 49)
etobapy (t) (s.) - topete, cabelo ou pêlo levantado na parte anterior da cabeça (de cavalo, de pessoa, etc.): xe retobapy-'aba - cabelo de meu topete; Tetobapy-apûá - ponta de topete, pontinha aguda de cabelo que alguns têm na testa (VLB, II, 131)
mandubi (s.) - MANDUBI, 1) amendoim (Arachis hypogaea L.), nome genérico de plantas leguminosas-papilionoídeas que possuem uma cápsula onde existem duas ou três pequenas nozes ou sementes. São também chamadas MANDOBI, MENDUBI, MENDUÍ, MINDUBI. 2) o nome dessas sementes comestíveis (D'Abbeville, Histoire, 229v)
marã5 (s.) - força: T'isa'ang apŷaba marã îandé irũ. - Que experimentemos a força dos homens conosco. (Léry, Histoire, 357)
monẽ2 (part. que expressa obrigação ou dever remotos) - deveria: Aîmondó-monẽmo. - Deveria mandá-lo. (Anch., Arte, 7v); Kori monẽ asó. - Hoje eu deveria ir. (Anch., Arte, 25)
tata'yba2 (etim. - haste de fogo) (s.) - fuzil, antiga peça de aço, feridor movediço que, nas armas de fogo, sendo percutido com força pela pederneira, fazia cintilar fogo que, caindo em uma pequena porção de pólvora, incendiava-a, produzindo a detonação e a explosão dos projéteis com que a arma estava carregada (VLB, I, 143)
Botucoruvu (morro de Santana do Parnaíba, SP). Da língua geral meridional botura*, morro, montanha + kuruba - seixo + oby (r, s) - verde: morro dos seixos verdes.
Boturuçu (morro de Itanhaém, SP). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) + -usu (suf. aument.): morro grande; montanhão.
Voturana (morro de Santana de Parnaíba, SP). Da língua geral meridional votura* + rana*: falso morro.
gûaîasy (s.) - planta da família das sapotáceas do gênero Pouteria (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101)
itanemarepoti (etim. - ferrugem de metal fedorento) (s.) - azinhavre, matéria verde que se forma na superfície dos objetos de cobre pela ação dos ácidos ou da umidade; verdete (VLB, I, 49)
kyra2 (s.) - o criado, o súdito, o filho em relação a seus superiores ou a seus pais; o subordinado, o que está sob a tutela de: Na oré ruã, oré kyra é. - Não fomos nós, mas nossos subordinados. (VLB, II, 126)
moakangagûá (v.tr.) - fazer cabeça no virote (arma antiga) para não ferir a caça (VLB, I, 61)
poreaûsubok (ou poraûsubok) (etim. - arrancar a aflição; tirar a miséria) (v.tr.) - compadecer-se de: Eporeaûsubok xe 'anga - Compadece-te de minha alma. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., 1618) ● poreaûsubokara - o que se compadece: îandé poreaûsubokara - os que se compadecem de nós (Léry, Histoire, 356)
Guamiranga (PR). De 'ybá + pyrang + -a, talvez pela língua geral meridional: frutos vermelhos; nome de uma planta.
Japeim (ig. do PA). De îapĩ: japim, japi, nome de um pássaro icterídeo (D'Abbeville, Histoire, 183)
_____Novas Cartas Jesuíticas de Nóbrega a Vieira. Brasiliana, série 5ª, vol. 194. São Paulo, 1940.
îagûara1 (ou îaûara) (s.) - 1) JAGUAR, onça, onça-pintada, carnívoro americano da família dos felídeos (Panthera onca), de cor amarelo-avermelhada, com manchas pretas simétricas, arredondadas ou irregulares, pelo corpo. É a fera mais terrível do continente americano, tomando grandes presas. É também conhecida no Brasil como JAGUARAPINIMA, JAGUARETÊ, canguçu, acanguçu: Îaûara ixé. - Eu sou uma onça. (Staden, Viagem, 109); Aîuká-ukar îagûara Pedro supé. - Fiz Pedro matar uma onça. (Fig. Arte, 146); 2) nome dado pelos índios ao cão (VLB, I, 65) [Nesta acepção pode ser acompanhado pelo termo eîmbaba (t) - criação, animal de criação, à diferença de quando o termo significa onça, que nunca se cria domesticamente.]: o apixara reîmbaba îagûara remimomosẽgûera - o que perseguiu o cão de seu próximo (Ar., Cat., 73); I mba'e-potar îagûara. - O cão é ávido (isto é, bom de caça, que quer tudo apanhar). (VLB, I, 62); Îagûara-p'ipó? - É este o cão? (Knivet, The Adm. Adv., 1208) ● îagûara'yra - filhote de cão (VLB, I, 62) (V. tb. îagûareté)
îetinga (s.) - espécie de mosca ou mosquito pequeno que ataca feridas; mosquito-de-cachorro (D'Abbeville, Histoire, 255v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 257; VLB, II, 43)
pypytera (mb) (etim. - meio do pé) (s.) - 1) palmilha da meia, parte inferior da meia onde assenta o pé (VLB, II, 63); 2) planta do pé, sola (D'Evreux, Viagem, 159; Castilho, Nomes, 30)
tapi'ireté (etim. - tapira verdadeira) (s.) - TAPIRETÊ, anta, mamífero perissodáctilo da família dos tapirídeos (Tapirus terrestris L.) de grande parte da América do Sul. É o maior animal da fauna silvestre do Brasil, atingindo até 180 quilos. (o mesmo que tapi'ira, n. 1 - v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 229; D'Abbeville, Histoire, 250; Anch., Cartas, 459)
Voturuna (morro de Pirapora do Bom Jesus, SP). Da língua geral meridional, votura* + una*: montanha escura.
erimba'e?2 (interr.) - quando? (com relação a fato passado ou futuro): Erimba'epe ereîur? - Quando vieste? (Fig., Arte, 166); Erimba'epe sa'angi? - Quando o proferiu? (Ar., Cat., 30v); Erimba'epe i xóû i xupa? - Quando foi para visitá-la? (Ar., Cat., 32v); Erimba'epe aîpó nde 'îaba ereîmopóne? - Quando cumprirás isso que dizes? (Ar., Cat., 111v)
îemo'ẽ (v. intr.) - derramar-se: ...Xe îara Îesu Cristo rugûy-eté..., nde erimba'e morepyramo ereîemo'ẽukar cruz pupé. - Sangue verdadeiro de meu Senhor Jesus Cristo, tu, outrora, como resgate, fizeste derramar-te na cruz. (Ar., Cat., 88)
nhandu'i (ou nhandu'ĩ) (etim. - aranha pequena) (s.) - NHANDUÍ, nome genérico para as aranhas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 248; VLB, I, 40) ● nhandu'i-kesaba - teia de aranha (VLB, II, 125)
pikirana (etim. - falso pequi) (s.) - PEQUIRANA, nome de uma planta [Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist. (4ª edição, 1951, III, 177)]
pirapu'ã (ou pirapu'ama) (etim. - peixe erguido) (s.) - baleia, nome genérico dos grandes cetáceos da família dos balenídeos (Sousa, Trat. Descr., 275)
atuá (ou atyá) (s.) - cogote, ATUÁ, toutiço, nuca, cerviz, parte posterior da cabeça (Castilho, Nomes, 30): Aîatuá-petek. - Esbofeteei a nuca dele. (VLB, II, 75); karipiratyatinga - caripirá da nuca branca (nome de uma ave) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 110) ● atuá-pyko'ẽ - cova da nuca (VLB, I, 84; Fig., Arte, 126)
OBSERVAÇÃO - Entre os tupis de São Vicente servia kori para o pretérito e para o futuro. (VLB, II, 55)
NOTA - URUPÊS é o nome de uma obra de Monteiro Lobato, que queria designar, com tal palavra, os caipiras, os que vivem escondidos no mato como cogumelos.
(Carder) CARDER, Peter, "The relation of Peter Carder of Saint Verian in Cornwall, within seven miles of Falmouth, which went with Sir Francis in his Voyage about the world begun 1577". In Purchas, Samuel, His Pilgrimes, London, 1625.
ekoaba2 (t) (s.) - costume, uso: Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... - E, por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que foi seu costume. (Ar., Cat., 159v); [adj.: ekoab (r, s)] - costumeiro, usual: Sekoab apŷabangaturama i porerekó-katu. - É usual os bons homens tratarem bem as pessoas. (Léry, Histoire, 353) ● sekoaba'e - o que é comum, o que é usual: Sekoaba'e kûé kunhã oré akanga i apiti... - O que é comum é aquela mulher quebrar em pedaços nossas cabeças. (Anch., Teatro, 184, 2006)
NOTA - O nome GUARANI ("os guerreiros"), de nação indígena da América do Sul, deve provir de palavra do Proto-Tupi-Guarani, língua pré-histórica da qual se originou o tupi antigo.
No P.B., JENIPAPO pode ser, também, mancha escura na parte inferior da região dorsal das crianças, tida como sinal de mestiçagem (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Daí, talvez, no P.B. (MG, SP, GO), PARARACA, pela língua geral meridional, 1) lugar, nos rios, onde a água passa rápida e ruidosa sobre pedregulhos: "A água fazia uma PARARACA forte, quase cachoeira, depois sossegava." (Carmo Bernardes, in Jurubatuba, apud Novo Dicion. Aurélio); 2) (adj.) barulhento, palrador, tagarela. (in Novo Dicion. Aurélio).
-û (suf. que marca o modo indicativo circunstancial): ...I kangûerĩ tiruã momba'etéû... - Até mesmo seus ossinhos cultua. (Ar., Cat., 12v); Kó xe rekóû nde reká... - Eis que aqui estou, procurando-te. (Anch., Poemas, 104); Kori i îukáû. - Hoje o matou. (Anch., Arte, 39v)
Paranapanema (rio que separa os estados de SP e PR). Da língua geral meridional paraná + panema: rio azarado (v. Paraná).
é?10 (part. que indica dúvida; de h.) - ora: Abáp'akó é? - Ora, quem seria aquele? (a mulher diz ri - v.) (VLB, II, 58)
rá2 (part.) - já, assim, deste modo, outra vez (põe-se no final do período): Nde ma'enduar ...nde rekó pabagûama resé rá. - Lembra-te já do término de tuas coisas. (Ar., Cat., 154)
Jubaí (MG). Nome de uma árvore, talvez um termo da língua geral meridional.
te'ĩ (interj. que expressa espanto. Leva a part. mã no final do período.) - que! quanto! que grande! (VLB, II, 91): Te'ĩ pirá mã! - Oh, que peixe! (ou Oh, quanto peixe!); Te'ĩ kó ahẽ mã! - Oh, que fulano este! (VLB, II, 57)
Tinguá (RJ). Nome de uma planta não identificada, da língua geral meridional.
aé1 (s.) - âmago; lugar vital, ponto mortal (usava-se para falar de ferimento grave ou perigoso): Xe aépe xe ybõû. - Flechou-me em lugar vital. (VLB, II, 42)
erimãé (interj. de h.) - Não! De modo algum! (VLB, II, 46): -Ereké-pipó eîupa? -Erimãé. -Estavas dormindo? -De modo algum. (Anch., Teatro, 10)
eroko'em (v.tr.) - amanhecer com, fazer amanhecer consigo: -Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'oîa'oû...? -Opabenhẽ, pysaré, serekomemûã bé reroko'ema. -Será que todos aqueles que ali estavam ficaram a injuriá-lo? -Todos, a noite toda, amanhecendo também com maus tratos a ele. (Ar., Cat., 56v)
nhemomungá (v. intr.) - impregnar-se, inchar-se, encher-se: Eresabeypó-potarype erimba'e... kaûĩ pupé enhemomungábo? - Quiseste embebedar-te outrora, impregnando-te de cauim? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
umberi (s.) - UMIRI, planta da família das humiriáceas; o mesmo que umeri (v.) (VLB, I, 64)
ygarembé (etim. - beiço de canoa) (s.) - bordo de canoa, postiças, obras exteriores no costado de uma embarcação para protegê-la e evitar a fácil abordagem (VLB, I, 58)
Curuí (cachoeira do PA). De kuri + 'y: rio dos guris, designação genérica dos bagres marinhos.
Guaraçaí (SP). Árvore leguminosa, groçaí-azeite, termo da língua geral meridional.
Manduri (SP). Abelhas da família dos apídeos, termo da língua geral meridional.
mondarõagûera (etim. - o que foi consequência de uma traição) (s.) - filho adulterino, filho bastardo (Anch., Cartas, 458)
saîimbe'yba (s.) - SAMBAÍBA, árvore da família das dileniáceas (Curatella americana L.), também conhecida como caiveira branca, caimbé (na Amazônia), etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 111)
syk4 (adv.) - no total, na totalidade, totalmente: I angaturam sykype erimba'e Tupã o monhang-ypyreme? - Eram bons na totalidade quando Deus começou a criá-los? (Anch., Doutr. Cristã, I, 160); mokõ-mokõî syk - dois e dois no total (isto é, quatro) (VLB, I, 154)
umby3 (t) (s.) - ancas, quadris (Castilho, Nomes, 40); lombos, pela parte inferior deles, a que chamam cadeiras (VLB, II, 24): -Mba'e-mba'epe asé suí i pitubypyra? -Asé rumby. - Que é ungido de nós? - Nossas ancas. (Ar., Cat., 92)
Botujuru (morro entre Jundiaí e Itatiba). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) - montanha, serra) + îuru - boca: boca da serra.
Jacurutu (ilha do AM). De îakurutu, ave estrigídea, a maior coruja da América (VLB, I, 60).
a'o (v.tr.) - injuriar, desonrar com palavras, insultar: Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'o-îa'oû...? - Por acaso todos os que estavam ali ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v); Nd'e'i te'e moxy onhana... oîoa'o-marangatûabo... - Por isso mesmo as malditas correm, insultando-se muito umas às outras. (Anch., Teatro, 128); Oîa'o-îa'ope o mena emonã sekó reséne? - Ficará injuriando seu marido por ele assim proceder? (Anch., Doutr. Cristã, I, 228) [O gerúndio é agûabo: i agûabo - injuriando-o (Ar., Cat., 74)]
mboîkûatiara (etim. - cobra pintada) (s.) - BOIQUATIARA, cobra da família dos viperídeos (VLB, I, 76; Anch., Cartas, 124)
Cambaquara (SP). De cambá, palavra guarani que passou para a língua geral meridional, designando os negros brasileiros durante a guerra do Paraguai (1865-1870) + kûara: refúgio dos negros.
Piracaia (SP). De pirá + kaî + -a: peixes queimados. Nome da língua geral meridional. Foi criada a freguesia "com a denominação de Piracaia por Lei Provincial no 44, de 05 de março de 1836, no Município de Atibaia". (fonte: IBGE)
îapĩûasu1 (etim. - japim grande) (s.) - var. de JAPIM, pássaro da família dos icterídeos. "Passarinho grande, mosqueado de várias cores." (D'Abbeville, Histoire, 183)
îapuîuba (etim. - japu amarelo) (s.) - JAPUJUBA, nome de ave da família dos icterídeos; o mesmo que îupuîuba (v.) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 138)
mbobyrîõ (pron.) - poucos (em número) (VLB, II, 83); alguns somente: Mbobyrîõ ipó erimba'e kunumĩ kanhemi... - Alguns somente, outrora, morreram meninos. (Ar., Cat., 157v)
memeté (conj.) - 1) quanto mais: Memetémo n'ixé ûixóbo... - Quanto mais eu haveria de ir. (Anch., Arte, 57; Fig., Arte, 137); Memeté rakó pé o eminguabe'yma rupi oguataba'e o angekotebẽnamo, korikorinhẽa'ub 'ara repîaki... - Quanto mais um caminhante por um caminho que não conhece se aflige, mais deseja logo ver o dia. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); 2) tanto mais porque, e principalmente, mesmo porque: Memeté a'e morero'arupîara. - Tanto mais porque eles são adversários de agressores. (Léry, Histoire, 9); Îé t'asóne xe mondoápe. Memeté ixé, xe py'ape, emonã tekó potá... - Sim, hei de ir para onde me mandam. Mesmo porque eu, em meu coração, assim quero fazer... (Anch., Teatro, 22)
Guarani (riacho de PE). De gûarinĩ: guerreiro, nome de povo indígena da América do Sul.
gûititoroba (s.) - GUITITIROBA, GUITIROBA, planta da família das sapotáceas (Pouteria macrophylla (Lam.) Eyma) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 113)
ko'ema (ou ko'ẽ) (s.) - manhã, o amanhecer, as primeiras horas do dia: Mamõpe erimba'e te'yî-katupabẽ Îandé Îara rerasóû Kaiphás roka suí ko'em'iré? - Para onde a multidão numerosíssima levou Nosso Senhor da casa de Caifás após o amanhecer? (Ar., Cat., 58); ...Nde ko'ema, 'ara rorypabeté. - Tu és a manhã, verdadeira alegria do dia. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618) ● ko'emĩneme - ao amanhecer, de manhãzinha; ko'emĩnemebé - de manhãzinha, ao amanhecer; ko'em iã - eis que é manhã; ko'ẽ ã - eis que é manhã, eis que amanheceu; ko'ẽ kó - eis que amanheceu (VLB, I, 33); ko'ẽme - ao amanhecer (VLB, I, 102); pela manhã (Fig., Arte, 128): ...Ko'ẽme gûemi'urama resé onhemosaînana... - De manhã, cuidando de sua comida. (Ar., Cat., 11v)
monhe'eng (v.tr.) - fazer falar: Omonhe'enguká temõ Tupã te'õmbûera...! - Que bom seria se Deus mandasse fazer os cadáveres falarem! (Ar., Cat., 156v)
Pirucaia (Mairiporã, SP). Nome de um peixe cianídeo, termo da língua geral meridional.
a'e?4 (part.) - e? e porventura? (como no latim nunquid?, usada em início de períodos. Serve também para se perguntar sobre fatos já muito bem conhecidos, somente com o intuito de enfatizar a ação ou o processo em questão): -A'epe ké amboaé? -Karaibebé serã... -E o outro, aqui? -Talvez seja o anjo. (Anch., Teatro, 26); A'epe marã apŷabetéramo sekóû îandé îabé? - E de que maneira é homem verdadeiro como nós? (Ar., Cat., 22v); A'e serãne hóstia pupé Îesu Cristo rekóû? - E porventura na hóstia está Jesus Cristo? (Ar., Cat., 87); A'e-p'ikó? - E este? (VLB, I, 153); A'epe n'osóî? - E, porventura, ele não foi? (como que dizendo: todos sabem que foi. Neste sentido emprega-se mais a'e-tepe?) (VLB, I, 120, 121) ● a'e emonãnamo - e portanto (VLB, I, 121); a'e ipó (ou a'e nipó) - e (com reme - no caso de): A'e ipó sekoe'ỹme? - E no caso de ele não estar? (VLB, I, 121); a'e-tepe? - E vai bem? E como está? E que me dizes de? E quanto a? E qual é? (perguntando-se a opinião de alguém): A'e-tepe ahẽ? (ou A'e-tep'ahẽ rekóû?) - E como está ele? A'e-tepe nde? - E quanto a ti? (isto é, qual é tua opinião?) A'e-tepe nde nhe'enga? - E qual é a tua palavra? (i.e, que dizes sobre isso?) (VLB, I, 78). Serve para perguntas em que a resposta já é sabida, mas que tem o efeito de uma ênfase na ação ou no processo em questão: A'e-te-p'ixé n'a sóî? - E eu não fui? (como que dizendo: todos sabem que eu fui). (VLB, I, 120, 121)
eî (-îo-, -s-) (v.tr. irreg. Incorpora -îo- (ou -nho-) e -s- no indicativo e formas derivadas deste.) - lavar: ...Og ugûy pupé xe reî... - Com seu sangue me lavou. (Anch., Teatro, 172); Oîepó-eî te'yîa remiepîakamo. - Lavou-se as mãos à vista da multidão. (Ar., Cat., 61); T'aîeîuru-eî. - Que eu me lave a boca. (Léry, Histoire, 367); Eîori xe 'anga reîa... - Vem para lavar minha alma. (Anch., Poemas, 170)
en2 (-îo-, -s-) (v.tr. irreg. Incorpora -îo- (ou -nho-) e -s- no indicativo e formas derivadas deste.) - derramar, fazer verter, entornar (p.ex., o líquido, a farinha): Anhosen. - Entornei-o. (VLB, I, 118; II, 142)
yapenunga (ou ygapenunga) (r, t) (s.) - onda: Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... yapenunga ryapugûasuramo... - E por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que é seu costume, as ondas fazendo grande estrondo. (Ar., Cat., 159v-160); [adj.: ygapenung (r, t)] - undoso (o mar); (xe) fazer ondas (o mar) (VLB, II, 57)
agûaragûasu (s.) - AGUARAÇU, GUARÁ-GUAÇU, também conhecido como AGUARÁ, GUARÁ, JAGUAPERI e lobo, mamífero canídeo; o mesmo que agûará (v.): Xe agûaragûasu, îagûara. - Eu sou um guará-guaçu, uma onça. (Anch., Teatro, 66)
kûatiar (v.tr.) - 1) escrever, registrar, lavrar: Kó santo o mbo'esara rekopûera erimba'e oîkûatiar îandébo, seîá. - Esse santo a vida de seu mestre escreveu para nós, deixando-a. (Ar., Cat., 134, 1686); 2) pintar; desenhar: Aîkûatiar. - Pintei-o. (VLB, II, 19); 3) esculpir (VLB, I, 124); 4) traçar (a planta de uma edificação) (VLB, II, 134) ● i kûatiarypyra - o que é escrito, desenhado; o escrito, o texto (VLB, I, 68); emikûatiara (t) - o que alguém escreve, etc.: Aîpoepyk semikûatiara. - Retribuí o que ele escreveu (isto é, escrevi-lhe como ele fez a mim). (VLB, I, 90)
yké (s.) - flanco, lado, costado, ilharga: O pó, o py o yké kutukagûera bépe erimba'e ogûeropu'am? - Ergueu-se com as feridas de suas mãos, de seus pés e de seu flanco? (Ar., Cat., 44v); Minusu pupé iî yké kutuki... - Com uma lança espetaram seu flanco. (Anch., Diál. da Fé, 192) ● o ykébo - de lado, de ilharga (VLB, II, 17)
ka'ae'õ (etim. - folha desmaiada, folha morta) (s.) - dormideira, sensitiva ou juqueri, variedade de leguminosa-mimosoídea (Mimosa pudica L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 73) "...Tocadas pela mão,... contraem as folhas, que logo depois, porém, se reabrem." (Piso, De Med. Bras., 202). O mesmo que îukeri (v.).
Burarama (ES). De ybyrá + ama (t), corruptela de etama (t), usado na língua geral meridional: terra de árvores.
Ituiutaba (MG). De 'y + tuîuk + taba: aldeia do rio enlameado. Da língua geral meridional, em referência a índios do tronco macro-jê que ali viviam às margens do rio Tijuco.
Japuí (bairro de Praia Grande, SP). De îapu + 'y: rio dos japus, pássaros icterídeos.
Sarandi (MG). Arbusto da família das euforbiáceas, um termo da língua geral meridional.
_____ Histoire d'un Voyage fait en la Terre du Bresil autrement dite Amerique. Reveue, corrigee et bien augmentee em ceste seconde edition, tant de figures, qu' autres choses notables sur le sujet de l'auteur. Genève, Antoine Chuppin, [1580]. (Edição diplomática com texto estabelecido, apresentado e anotado por Frank Lestringant. L.G.F., Le Livre de Poche, Bibliothèque Classique, Paris, 1994.) (Sempre que não for mencionado o ano de publicação, a edição utilizada foi a de 1578.)
îenosem (ou nhenosem) (v. intr.) - omitir-se; retirar-se: ...Mba'emirĩ tiruã, abá rekoagûerĩ oîenosem a'epene. - Nem sequer uma pequena coisa, nem um só pequeno ato das pessoas omitir-se-á, então. (Ar., Cat., 161v); ...Mba'e resé o nhemoma'enduaragûera a'epe onhenosẽne... - Suas antigas lembranças das coisas aí se retirarão. (Ar., Cat., 161v)
itamembeka2 (etim. - pedra mole) (s.) - esponja, animal metazoário porífero marinho inferior sem simetria nem tubo digestivo, com numerosos poros pelos quais entra e sai a água (Sousa, Trat. Descr., 294)
Guaramana (arroio do RS). De guará + uman + -a: guarás velhos, pela língua geral meridional.
Votuporanga (SP). Nome atribuído artificialmente em 1937, tomado da língua geral meridional: de votura* + poranga*: morro bonito. A etimologia "bons ares", corrente naquela cidade, não tem fundamento.
amyîu (s.) - ABIU, ABI, ABIIBA, ABIU-GRANDE, ABIEIRO, ABIO, 1) árvore sapotácea [Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk.], de folhas compridas, flores brancas, com fruto de casca vermelha e manchada, também chamada caimiteiro; 2) o fruto dessa árvore (D'Abbeville, Histoire, 224v)
erimã (interj. de h.) - De modo algum! Absolutamente não! (Fig., Arte, 134): ...-Aîpó nhõ? -Erimã! -Só isso? -De modo algum! (Léry, Histoire, 342-343); -Anga îápe pe rokybỹîa? -Erimã! -Como este é o interior de vossas casas? -De modo algum! (Léry, Histoire, 363-364)
îanypaba (s.) - 1) JENIPAPO, JENIPAPEIRO, árvore da família das rubiáceas (Genipa americana L.), de grande altura e muito grossa, que aparece em todo o Brasil; 2) JENIPAPO, o fruto dessa árvore, cujo suco era usado por certos indígenas para escurecer a pele, e do qual se faz um licor muito popular no Norte e Nordeste do Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 92; Piso, De Med. Bras., IV, 183-184; Staden, Viagem, 175). "Desta fruta se faz tinta preta; quando se tira é branca e, em untando-se com ela, não tinge logo, mas daí a algumas horas fica uma pessoa tão preta como azeviche." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 43)
pé4 (s.) - casco, escama (p.ex., de peixe, de cobra, etc.), casca (p.ex., de madeira, de ferida, etc.): Aîpé-'ok. - Arranquei-lhe a casca (fal. de árvore ou madeira). (VLB, I, 97); (adj.) - cascudo; (xe) ter casca, ter casco: Xe pé-bur. - Eu tenho casca (de ferida) erguida. (VLB, I, 60) ● i peba'e - o que tem casca, escamas; o escamoso (VLB, I, 122)
poroamotare'yma (m) (etim. - não querer bem as pessoas) (s.) - cólera; (adj.: poroamotare'ym) - colérico, encolerizado: Xe poroamotare'ym. - Eu estou encolerizado. (D'Evreux, Viagem, 147)
umbykyra (t) (s.) - 1) rabadilha, uropígio SAMBIQUIRA; 2) pequeno osso que termina inferiormente à coluna vertebral do homem, cóccix (Castilho, Nomes, 40)
BARBOSA, Francisco de Oliveira [1792], Noticias da Capitania de S. Paulo, da America Meridional: escritas no anno de 1792, por Francisco de Oliveira Barbosa. In Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, n. 17, abril de 1843.
obagûá (t) (s.) - entradas do rosto, os ângulos que formam os cabelos na parte superior do rosto (Castilho, Nomes, 40): Asobagûá-moín. - Pus entradas no rosto dele. (VLB, I, 119)
supiara (etim. - o que domina a verdade) (s.) - mestre (em qualquer arte ou ciência), perito (VLB, I, 72); o que é máximo em qualquer arte ou habilidade (VLB, II, 33)
tapeti1 (ou tapiti) (s.) - TAPITI, coelho-do-mato, nome comum a roedores leporídeos americanos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 223; VLB, I, 76; Léry, Histoire, 347-348)
ypy'oka (t, t) (s.) - líquido ou caldo coalhado, isto é, que perdeu a fluidez, com matéria em suspensão; coalhada (VLB, I, 75): typy'o-ku'i - farinha da mesma água da mandioca crua coalhada (VLB, I, 135)
'ara3 (s.) - 1) ar: 'araíba - mau ar (Léry, Histoire, 359); 2) tempo, as condições atmosféricas (VLB, II, 126)
beémo (part. que expressa o condicional ou o optativo passados): Anhandu beémo erimba'e angûama mã!... - Ah, se tivesse percebido isso outrora! (Ar., Cat., 165v); Îaîuká umã beémo. - Já o teríamos matado. (Fig., Arte, 19)
îapugûasu (etim. - japu grande) (s.) - JAPUAÇU, JAPUGUAÇU, JAPU-GRANDE, nome de pássaro icterídeo ● îapugûasu-kesaba - lugar em que dormem os japuguaçus, também antigo nome da Ilha de Santana, da cota leste do Brasil (VLB, II, 10)
NOTA - Daí se origina, no P.B. (SP), BUJIGUARA (ybỹî + ygûar + -a, "o que está no interior"), espécie de sapinhos na mucosa bucal, i.e., aftas brancas ou amareladas que ali aparecem (in Dicion. Caldas Aulete).
kori2 (s.) - CURI, variedade de argila vermelha usada para tingimentos (Ferreira, América Abreviada, in RIH LVII [1984], 49)
NOTA - Daí, no P.B., pelo nheengatu, MUTÁ, MUITÁ, MUTÃ, escada tosca empregada pelos seringueiros para trepar às árvores (in Dicion. Caldas Aulete).
Graúna (rio do RJ). De gûyrá + un (r, s) + -a: pássaros pretos, nome de certas aves icterídeas.
Guaricanga (SP). Planta da família das palmáceas. Talvez uma palavra da língua geral meridional.
Mundaú (rio de AL). De mondá - ladrão; roubo + 'y - rio: rio dos ladrões. "Alem do referido Putisatuba dezagoa tãobem nesta lagoa o rio Mundahú, que nascendo das faldas da serra chamada Barriga vem correndo quasi paralelo aquelle por muitas legoas athé dezaguarem na lagoa..." (Luiz dos Santos Vilhena [1801], p. 808). É, certamente, uma referência aos quilombolas de Palmares, na serra da Barriga, onde o dito rio nasce.
matu'ĩtu'ĩ (s.) - MATUIM, MUTUÍ, BATOVI, BATUÍRA, nome comum a certas aves do continente americano, que vivem nas praias e margens de rios (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 217)
temone2 (part. que expressa obrigação, dever, probabilidade) - dever: Asó temonemo. - Deveria ir. (Anch., Arte, 25); Kori temone asómo. - Hoje eu deveria ir. (Anch., Arte, 25); "Penhemoma'enduá te'õ resé", e'i temone i nhe'enga. - "Lembrai-vos da morte", deverão dizer suas palavras. (Ar., Cat., 156v); Ahẽ ranhẽ temonemo. - Deveria ser ele, primeiro. (VLB, II, 64)
yby1 (s.) - 1) terra a) (no sentido de mundo, região, pátria): Yby îar, nde angaturameté erimba'e... - Senhor da terra, tu foste muito bondoso. (D'Abbeville, Histoire, 341v); ...Asé i angaîpaba'e ipó ikó ybype Tupã remimotara n'oîmonhangi. - Os que, de nós, são maus são os que não fazem nesta terra a vontade de Deus. (Ar., Cat., 27); ...Our kó xe yby supa rimba'e. - Veio para visitar esta minha terra outrora. (Ar., Cat., 9v); b) (no sentido de solo, matéria rochosa decomposta): Ere'upe yby? - Comeste terra? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); yby-pytanga - terra avermelhada, barro (VLB, I, 52); yby-oka - casa de terra (Anch., Teatro, 184, 2006); 2) chão: Sugûy turusu... ybype osyryka... - Seu sangue era muito, no chão escorrendo. (Anch., Poemas, 120); O'ar ybype. - Caiu no chão. (VLB, I, 72); 3) terra firme (em oposição a mar): Opá ybaka ereîmopó, paranã, yby abé. - Todo o céu preenches, o mar e a terra firme também. (Anch., Poemas, 128) ● mba'e ybybondûara - coisa que costuma estar no chão (Fig., Arte, 139); ybype - em baixo, na lájea (VLB, I, 110)
gûyratinga (ou ûyratinga) (etim. - ave branca) (s.) - GUIRATINGA, ACARATINGA, ave ciconiforme americana da família dos ardeídeos, de cor branca. Era conhecida no século XVI como garça. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 61; VLB, I, 146) ● ûyratingusu - garça grande (Staden, Viagem, 70)
okaîa (t) (s.) - 1) choça (VLB, I, 73); TOCAIA. Nela os índios "se recolhem sós, fazem suas cerimônias e dizem que falam com o Jurupari." (Heriarte, "Descr. Maranhão, Pará", in Varnhagen, Hist. [4ª edição], 1951, III, 172); 2) curral, cercado: tapi'irokaîa - curral de vacas (VLB, I, 88); taîasu rokaîa - curral dos porcos (VLB, I, 73); 3) gaiola; galinheiro: gûyrá rokaîa - gaiola ou galinheiro de pássaros; Asokaîmonhang. - Fiz gaiola para eles. (VLB, I, 146); 4) pocilga (VLB, II, 79)
Sumé (s. antrop.) - Sumé, nome de uma entidade da mitologia dos tupis da costa, que teria ensinado aos índios a agricultura: Pa'i, Sumé pypûera'angaba a'e. - Padre, aquele é o sinal dos pés de Sumé. (Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §20, 123)
Tapanhunacanga (MG). De tapy'yîuna (ou tapy'yînhuna) + akanga: cabeça de negro. Nome dado ao minério de ferro: "O revestimento das muralhas é de uma pedra côr de ferro a que nesse país chamam em língua Tupinambá: Tapanhu-acanga, o que quer dizer Cabeça de Negro." (Antônio Pires da Silva Pontes [1781], p. 380); "[...] suposto q.' as Minas Geraes sejão quasi todas de ferro, q.' os Naturalistas nomeão por Emathytis, eos naturaes Tapanhuacanga, q. ^e quer dizer na língua Brasileira Cabeça de preto [...]" (Pontes Leme [n.d.], Memorias sobre a Extracção do Ouro na Capitania de Minas Geraes, p. 420)
ybyîara (etim. - a que domina a terra) (s.) - IBIJARA, cobra-de-duas-cabeças, cobra-cega, nome genérico de répteis lacertílios da família dos anfisbenídeos. Têm corpo com a mesma grossura da cabeça à cauda; Daí, o nome popular. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 239; VLB, I, 76)
Acajutibiró (antigo nome da Baía da Traição, PB.). De akaîu - caju + tebiró - sodomita; (fig.) estéril, que não gera: cajueiro estéril: "Chama-se esta Bahia pelo gentio Pitiguar Acajutibiro, e os portuguezes, da Traição, por com ella matarem uns poucos de castelhanos e portuguezes que n'esta costa se perderam." (Sousa, Trat. Descr., XI).
Itajobi (SP). Nome artificial: distrito criado com a denominação de Itajubi em 1906. Poderia ser um topônimo com significado se proviesse da composição de itá + îá + oby: repleto de pedras verdes. Mas parece que foi Theodoro Sampaio quem criou o nome, dando-lhe outra significação, que não procede.
ORTIZ-MAYANS, Antônio, Nuevo Diccionario Español-Guarani e Guarani-Español. Buenos Aires, Libreria Platero Editorial, 1973.
moamandab (v.tr.) - arredondar [deixando algo plano, como um círculo. Arredondar, deixando esférico, é moapu'a (v.).]: Aîmoamandab. - Arredondei-o. (VLB, I, 42)
tingasu1 (s.) - TINGUAÇU, ave da família dos cuculídeos, das matas e capoeiras do sul da América (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 179)
yapu (t) (s.) - barulho forte, estrondo (VLB, II, 107): Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... yapenunga ryapugûasuramo. - E por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que é seu costume, fazendo as ondas grande estrondo. (Ar., Cat., 159v-160); [adj. - yapu (r, s)] - barulhento, estrondoso; (xe) soar ou tocar; rugir, fazer barulho ou estrondo: Xe ryapu. - Eu sou barulhento. (VLB, I, 131; II, 107)
mukuîé (s.) - MUCUJÊ, planta da família das apocináceas (Couma rigida Mull. Arg.), cuja característica mais notável é fornecer um látex adocicado e potável, usado como leite. "Quando se hão de escolher, sempre se corta toda a árvore por serem muito altas e se não fora esta destruição houvera mais abundância." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 39)
NOTA - Daí, no P.B. (SP), TUPINA, valente, decidido; TUPIANA, nome proposto por Herman von IIhering para designar a região zoogeográfica que abrange o litoral brasileiro e suas matas. (in Dicion. Caldas Aulete)
andupaba (s.) (etim. - andub; -aba) - sensor; sonda; detector | sensor; probe; detector | nde r-akypûér-i-xûara andup-aba - Instrumento de sentir o que está atrás de ti - Tool to sense what's behind onself (Blog Abanhe'enga, Emerson Costa, 09/01/2013, Propaganda do Fiat Palio Adventure em tupi antigo) - neologismo
temõ (part. usada com o optativo. É acompanhada geralmente por mã ou mûã no final do período.) - oxalá, quem me dera, que bom seria se: Asó temõ ybakype mã! - Ah, quem me dera eu fosse para o céu! (Anch., Arte, 24); Ogûerasó temõ sapy'a ybakype Tupana xe ruba mã! - Oxalá Deus levasse logo a meu pai para o céu! (Fig., Arte, 99); Ikatupe nhẽ temõ mûã! - Oxalá ela estivesse nua! (Ar., Cat., 72); Anhẽ temõ turi mã. - Oxalá ele viesse, de fato. Anheté temõ! - Oxalá fosse verdade! (VLB, II, 59); Apûar temõ sesé mã! - Ah, quem me dera bater nele!. (Ar., Cat., 101v); Asó temõ kori ahẽ irũmo mã! - Ai, quem me dera ir com ele hoje! (VLB, II, 94)
tu'ĩeté (etim. - tuim verdadeiro) (s.) - TUIETÊ, provavelmente o macho do pássaro conhecido genericamente como tuim, da família dos psitacídeos (v. tu'ĩ) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
Bugi (córrego de MG). Talvez a mesma etimologia de Mogi (v.) ou, ainda, pela língua geral meridional, nome de uma erva que brota às primeiras chuvas (in Dicion. Caldas Aulete, 538).
Carandiru (Bairro de SP). De karaná, carandá, var. de palmeira + -'i: carandaí*, na língua geral meridional + ry [de y (t, t)]: rio dos carandaís.
Timburi (SP). Planta leguminosa cujo fruto é utilizado como sabão; termo da língua geral meridional.
(Léry) LÉRY, Jean de, Histoire d'un Voyage fait en la Terre du Bresil autrement dite Amerique. Paris, Antoine Chuppin, 1578.
ekosûer (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - durar muito, ser longevo, existir muito tempo: Na xe rekosûeri. - Eu não duro muito. (VLB, I, 147); Xe rekosûé-katu. - Eu sou muito longevo. (VLB, II, 145)
gûaraky'ynha (etim. - pimenta de guará) (s.) - GUARAQUIM, planta da família das solanáceas (Solanum americanum L.), também conhecida como erva-de-bicho, erva-moura, pimenta-de-rato, carachichu. "É o único remédio para lombrigas e, de ordinário, quem as come, logo as lança." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 49)
karakará (s.) - CARACARÁ, CARCARÁ, carancho, nome de duas aves da família dos falconídeos da América do Sul oriental (D'Abbeville, Histoire, 233)
oîabo (conj.) - assim como... do mesmo modo: Oîabo asé santos 'ara kuabi, oîabo bé asé i kangûerĩ tiruã momba'etéû, o aîuri serekóbo. - Assim como a gente reconhece o dia dos santos, do mesmo modo, também, até mesmo seus ossinhos a gente cultua, tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v)
pesibira (s.) - nome de planta canácea, provavelmente Cana glauca L., denominada vulgarmente MBERI, MERI, BERI, BIRI, IMBIRI ou albará, de propriedades medicinais (Piso, De Med. Bras., 202)
NOTA - Daí, no P.B., TUAIÁ, termo usado na Amazônia, que designa a região mais distante de seringais do alto Xingu e, por extensão, um lugar longínquo, rio acima; CUTIAIA, CUTIUAIA (akuti + ûaî + -a, "cutia de rabo"), nome de um mamífero dasiproctídeo.
ambûer [alomorfe de rambûer (v.) - composição de ram e pûer]: I porangeté kunumĩ, miaûsubambûerĩ mã! - Ah, é muito bonito o menino que poderia ser um escravozinho! (Anch., Poemas, 194); okambûera - casa que seria, o que seria casa (Anch., Arte, 34)
îekyegûasu (s.) - grande massa usada pelos potiguaras para fazer feitiço para aqueles a quem queriam mal, matando-os (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 279)
po'ir2 (etim. - desprender-se a mão) (v.tr.) - parar de, deixar de, "largar a mão de": A'e remebépe erimba'e Tupã abá raûsupo'iri? - Por ocasião disso Deus deixou de amar o homem? (Anch., Doutr. Cristã, I, 162); Asaûsupo'ir. - Deixei de amá-lo. (VLB, I, 96); Ta xe rerobîapo'ir umẽ. - Que não deixem de crer em mim. (Ar., Cat., 160)
Tupiri (Praia Grande, SP). De tupi + ry [y (t, t)]: rio dos tupis. Pode originar-se, também, de taperi [de tapera - aldeia abandonada (Fig., Arte, 76) + suf. -'i]: taperinha, pequena tapera.
îakatu1 (adv.) - por todo (os, a, as), em todo (os, a, as): Seté îakatupe ybŷá i moperé-perebi...? - Fizeram feridas por seu corpo todo? (Ar., Cat., 60); -Mamõpe a'e i boîá sóû a'e riré? -Taba îakatu. -Para onde aqueles seus discípulos foram depois disso? -Por todas as cidades. (Ar., Cat., 45v); I pupé Îesu Cristo rekóû, ...o ekó îakatu tenhẽ i 'anga abé... - Dentro dele está Jesus Cristo, em todo o seu ser e em seu espírito. (Ar., Cat., 85); T'oîkuab pabẽngatu abá yby îakatu okûaba'e karaibamo nde rera rekó. - Que saibam todos os homens que estão em toda a terra que teu nome é santo. (Thevet, Cosm. Univ., II, 925)
ka'atinga (etim. - mata clara) (s.) - CAATINGA, mato raso e cerrado, tipo de vegetação xerófita característica do semi-árido nordestino e norte de Minas Gerais (VLB, II, 133; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
kûesenhe'ymĩkaé (interj. - Expressa saudade do tempo passado. Aparece com a partícula mã no final do período.) - bom tempo aquele em que: Kûesenhe'ymĩkaé xe sóû a'epe mã! - Ah, bom tempo aquele em que lá fui! (VLB, II, 120)
kugupugûasu (s.) - espécie de peixe da família dos serranídeos, frequente no litoral tropical da América (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 169)
mbyryki (s.) - BURIQUI, BURIQUIM, macaco da família dos cebídeos, o maior macaco do continente americano, de pêlo amarelo. Vive em bandos. É também chamado MARIQUINHA, MARIQUINHAS, MURIQUINA, MARIQUINA, MURIQUINHA ● mbyryki-oka - reduto de buriquis (Staden, Viagem, 55)
etama (t) (s.) - 1) região, pátria, terra (habitada, onde se vive ou onde se nasce): ...Nde angaturameté erimba'e, apŷaba, morubixaba, kyre'ymbaba mondóbo xe retama pupé. - Tu foste muito bondoso, enviando homens, chefes e guerreiros, para minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); N'asé retama ruã-tepe ikó yby asé rekoaba? - Mas não é nossa pátria esta terra em que moramos? (Ar., Cat., 26); T'îasó, mbegûé... t'ixapy moxy retama. - Vamos, devagar, para queimar a terra dos malditos. (Anch., Teatro, 24); Eîori nde retamûama repîaka. - Vem para ver tua futura terra. (Léry, Histoire, 341); 2) residência, morada: T'orogûerekó, setã-me, nde pyri, tekó-puku. - Que tenhamos, em sua morada, junto de ti, a vida eterna. (Anch., Teatro, 122); Sekobîarõmbyrape temirekoeté koîpó meneté pe retãmendûara? - Devem ser substituídos a esposa ou o marido verdadeiros que estão em vossas residências? (Ar., Cat., 96); 3) viveiro, lugar onde se criam ou onde habitam animais (VLB, I, 142)
a'emo?2 (part.) - 1) E com tudo isso?: A'emo eresó? - E, com tudo isso, vais? (Fig., Arte, 137); 2) Por que haveria de? Por que razão haveria de?: A'emop'ixé serasó-a'ubi é? - Por que haveria eu de o levar? (VLB, II, 82)
ekoeté (t) (etim. - proceder verdadeiro) (s.) - esforço; magnanimidade (para realizar coisas árduas e perigosas) (VLB, I, 124; II, 28)
kurikaka (s.) - CURACACA, CURICACA, CURUCACA, ave ciconiforme da família dos tresquiornitídeos, da América do Sul, de hábitos gregários e vôo possante, encontrada nos brejos e pantanais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 191)
marãîasûaramo (part. de optativo futuro - Pode aparecer com as partículas mã, temõ... mã ou -mo.) - que bom seria se...! oxalá!: Marãîasûaramo ahẽ kûepe se'õ mã! - Ah, que bom seria a morte do fulano por aí! (Ar., Cat., 101v); Marãîasûaramo asó mã! - Que bom seria se eu fosse! (Anch., Arte, 24v); Marãîasûaramo xe sóû kûesé mã! - Ah, que bom seria se eu tivesse ido ontem! (Anch., Arte, 24v); Marãîasûaramo Tupã xe rerasóû mã! - Ah, que bom seria se Deus me levasse! (VLB, I, 104); Marãîasûaramo turi mã! - Ah, oxalá ele viesse! (VLB, II, 61)
Pipiri (córrego de GO). Nome de uma erva ciperácea, de brejos. Talvez um termo da língua geral meridional.
SAMPAIO, Francisco Xavier Ribeiro de [1642], Relação Geographica Historica do Rio Branco da America Portugueza. Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. 2ª série, tomo sexto, 1850.
îuriti (ou îeruti ou îurutĩ) (s.) - JURITI, JURUTI, nome comum a aves columbiformes da família dos peristerídeos e dos columbídeos (Sousa, Trat. Descr., 230)
NOTA - Daí, no P.B., BORBOREMA (yby + mbor + e'ym + -a, "terra sem habitantes"), lugar despovoado, estéril (in Dicion. Caldas Aulete), donde o nome da Serra da BORBOREMA, no Nordeste; CAIPORA (ka'a + pora, "habitante da mata"), nome de entidade mitológica do Brasil, mas não mencionada nos textos quinhentistas; CAAPORA (Amaz.), homem do mato, roceiro.
NOTA - Daí, no P.B., CATAPORA(S), TATAPORA(S) (marcas de fogo), varicela, doença infecciosa que se caracteriza por febre acompanhada de marcas que se transformam em bolhas, formando-se, depois, crostas.
NOTA - Daí, no P.B., SUPIMPA (supi + pá, "toda a verdade", "totalmente bom"), excelente, muito bom, superior: "Que mulher, que corpo supimpa! (in José Lins do Rego, Pedra Bonita. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1956).
ara'a1 (s.) - lugar não mortal do corpo: Iî ara'ape inhybõû. - Flechou-o em lugar não mortal (ou não perigoso). (VLB, II, 42)
ka'agûasu'yba (etim. - pé de erva grande) (s.) - CAAGUAÇU, CAA-AÇU, planta ornamental, cultivada, da família das eriocauláceas (Eriocaulon sellowianum Kunth), com folhas lanceoladas e flores brancacentas em capítulos globosos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 97)
ranhẽ2 (adv.) - primeiro, antes, primeiramente (na afirm.): ...Ereîkuá ranhẽ meémo emonã nde rekorama... - Deverias ter sabido antes do teu agir assim. (Ar., Cat., 57v); Pedro ranhẽ osó. - Pedro foi primeiro. (Anch., Arte, 45v); T'asóne ranhẽ. - Hei de ir primeiro. (Fig., Arte, 144) ● ranhẽ... ypy - primeiro, em primeiro lugar, pela primeira vez: Kó santo ranhẽ ypy og ugûy mo'ẽ-ukar. - Esse santo, pela primeira vez, fez verter seu sangue. (Ar., Cat., 139); Abá ranhẽpe erimba'e Tupã oîmonhang-ypy ybaka porama? - Quem Deus fez primeiro como habitantes do céu? (Ar., Cat., 44)
sarinambitinga (etim. - cernambi branco) (s.) - CERNAMBITINGA, variedade de molusco bivalve da família dos venerídeos (Sousa, Trat. Descr., 292)
tekatueté3 (ou tekatunheté ou tekatuete'ĩ) (part.) - que pena que...! ai de! (acompanhada de mã no final do período): Omanõ tekatunheté xe ruba mã! - Oh, que pena que meu pai morreu! (VLB, II, 54); Ixé tekatuete'ĩ ra'u, Anhanga ratá aîporará aûîeramanhẽne mã...! - Ah, ai de mim, o fogo do diabo sofrerei para sempre! (Ar., Cat., 161)
Borborema (serra da PB). De yby + mbor(a) (v. pora) + e'ym + -a: terra sem habitantes; lugar despovoado, estéril (in Novo Dicion. Aurélio).
Camapuã (rio do RJ). De camacã*, planta da família das esterculiáceas, talvez termo da língua geral meridional.
Ipuã (SP). Nome atribuído artificialmente em 1944 ao distrito de Olho d'Água. A bem dizer, isso seria, em legítimo tupi clássico, Icuara (de 'y + kûara).
Uberaba (MG). De 'y + berab + -a: água brilhante. É um nome do século XVIII, oriundo da língua geral meridional: "[...] o território do atual Município de Uberaba foi passagem forçada de todos os exploradores que se encaminhavam aos sertões goianos." (fonte: IBGE)
nhandugûasu2 (etim. - nhandu grande) (s.) - NHANDUGUAÇU, NANDU, ema, ave reiforme, da família dos reídeos (Rhea americana L.), dos campos e cerrados do Brasil. Vive em bandos, alimentando-se de frutos e de pequenos animais. Os ovos botados pela fêmea são chocados pelo macho. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 190)
tyrá (s.) - arrepio (Anch., Arte, 14); arrepiamento (p.ex., dos cabelos, dos pelos ou das penas) (Fig., Arte, 76); eriçamento (p.ex., de fibras de madeira); (adj.) - arrepiado, eriçado: 'a-tyrá-tyrá - cabelos muito arrepiados, grenha (VLB, I, 150); Xe 'a-tyragûasu. - Eu tenho cabelos muito arrepiados. (VLB, I, 150)
u'ubá1 (s.) - CANA-UBÁ, UBÁ, cana-de-flecha, planta que produz canas para flechas, espécie de gramínea (Gynerium sagittatum (Aubl.) P. Beauv.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 4) ● u'ubá-tyba - ajuntamento de canas-de-flecha (VLB, I, 65; Staden, Viagem, 67)
Igarapé Miri (PA). De ygara + (a)pé (r, s) + mirĩ: caminho pequeno de canoas. "Chama-se o furo — iguarapé merim — que soa na língoa brasílica — pequeno caminho de canoas." (Pe. João Daniel [1757], p. 46); "[...] o conduzio outro novo eſtreito, a que daõ o nome de Igarapémirim (que quer dizer caminho apertado de canoas) [...]" (Bernardo Pereira de Berredo [1718], p. 321)
aîura (ou anhura) (s.) - 1) pescoço (Castilho, Nomes, 28): Oîabo asé santos 'ara kuabi, oîabo bé asé i kangûerĩ tiruã momba'etéû, o aîuri serekóbo... - Assim como a gente reconhece o dia dos santos, do mesmo modo, também, até mesmo seus ossinhos a gente cultua, tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v); 2) gargalo (de pote, etc.): anhurĩ - gargalo fino (como da cabaça) (VLB, I, 93) ● o aîurybo - pelo pescoço: Aîmondeb o aîurybo. - Meto-o pelo pescoço. (Anch., Arte, 43); Nde mondeb o aîurybo. - Meteu-te pelo pescoço. (Anch., Arte, 43); aîurar - ter o pescoço caído: Xe aîurar. - Eu tinha o pescoço caído (isto é, por um desmaio. Também se diz do figo derrubado, por estar muito maduro.) (VLB, I, 95); aîuri - no pescoço. (Fig., Arte, 126): O îoaîuri aîmoín. - Prendi-os um no pescoço do outro. (VLB, II, 85); anhurĩ - estreitado em forma de pescoço, isto é, com estreitamento entre duas partes bojudas (VLB, I, 93)
epyme'eng (s) (v.tr.) - 1) pagar, pagar por, pagar tributo por: Asepyme'eng. - Paguei-o. (VLB, II, 62); Osepyme'engype erimba'e emonã o ekoagûera...? - Pagou outrora por seu proceder assim? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); Asepyme'eng (abá) supé. - Paguei-o ao homem. (VLB, I, 146, adapt.); 2) dar recompensa por, resgatar ● osepyme'engyba'e - o que paga, o que resgata (Ar., Cat., 168v); epyme'engara (t) - o que resgata, o que paga: ...Ikó 'ara pupé bé o angaîpagûera repyme'ẽngatusarûera ybakype aûnhenhẽ serasó-uká... - Fazendo levar imediatamente para o céu os que resgataram bem seus pecados ainda neste mundo. (Ar., Cat., 159); epyme'engaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de pagar, de resgatar; pagamento, resgate: Ndaeroîaî... o ekoangaîpagûera repyme'engagûama resé o putupabamo. - Nem por isso se importa com o resgate de seus antigos pecados. (Ar., Cat., 155)
As palavras do tupi antigo que originaram nomes próprios no Brasil serão apresentadas no interior dos verbetes abaixo tal como se acham no dicionário tupi-português. Assim, dispensamo-nos de traduzi-las sempre, podendo o consulente ali procurá-las, se o desejar. Se citarmos palavras do nheengatu ou das línguas gerais coloniais, elas serão escritas em itálico ou com asterisco *quando forem hipotéticas e conhecidas somente por sua presença no léxico do português do Brasil.
aûîekatutenhẽ (interj.) - está bem mesmo assim! (Diz isso o que se lastima de não ter conseguido aquilo que queria, mas ainda esperando consegui-lo.) (D'Evreux, Viagem, 246)
obapy1 (t) (etim. - fundo do rosto) (s.) - entradas da cabeça, os ângulos que formam os cabelos na parte superior do rosto (Castilho, Nomes, 40)
NOTA - Daí, no P.B., JUPARABA (îub + parab + -a, "manchado de amarelo"), ave psitacídea com coberteiras superiores maiores da asa amarelas.
NOTA - Da forma reduplicada de tirik provém a expressão FICAR TIRIRICA, irritar-se, enfurecer-se, encolerizar-se.
sabeypora (s.) - 1) bebedeira, embriaguez: ...Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); ...Sabeypora suí 'ara mokanhema... - Perdendo o entendimento por causa de bebedeira. (Ar., Cat., 78); 2) bêbado, o que bebe: Xe-te, xe rembiá-potá sabeypora amõ resé... - Eu, em vez disso, quero presas nas pessoas de alguns bêbados. (Anch., Teatro, 148)
mo'ar2 (ou mbo'ar) (etim. - fazer cair) (v.tr.) - fazer nascer, parir, gerar, dar à luz: ...Marã-pakó xe sy xe mbo'ari erimba'e...? - Por que minha mãe me deu à luz outrora? (Ar., Cat., 163); Aîmo'ar. - Dei-o à luz. (VLB, II, 66); I mbo'a tiruãpe i xy-angaturama rekóû ababykagûere'ymamo?... - Mesmo dando-o à luz sua mãe bondosa estava virgem? (Ar., Cat., 42) ● mo'asara - o que faz dar à luz, o que faz nascer: pitã-mo'asara - a que faz nascer crianças; a parteira (VLB, II, 66)
moretĩ (s.) - BURITI, COQUEIRO-BURITI, BURITIZEIRO, MURITI, MURITIM, MURUTI, nome de uma palmeira (o mesmo que meriti'yba - v.) (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 182v)
gûariba (s.) - GUARIBA, nome de muitos símios da família dos cebídeos, de cor escura, com barba na maxila inferior e com grito característico. São herbívoros e alimentam-se de folhas e frutas, vivendo em grupos de mais de 12 indivíduos, comandados pelo capelão, o macho mais velho do bando. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 226; Sousa, Trat. Descr., 253)
NOTA - A palavra TIJUPÁ, hoje, também designa qualquer palhoça ou rancho feitos em meio a uma roça, um seringal, uma mata, para proteger e abrigar pessoas provisoriamente.
ûaîa2 (t) (s.) - prisioneiro, o que deve servir a outrem: xe rûaîa - meus prisioneiros (i.e., aqueles que são inferiores a mim e que devem servir-me) (Léry, Histoire, 368)
byk (v. intr. compl. posp.) - 1) tocar; achegar-se (de modo a tocar) [complemento com esé (r, s)]: Osetobapé-pytépe erimba'e, sesé obyka bé? - Beijou suas faces, nele tocando também? (Ar., Cat., 54); 2) ter relação sexual, tocar em sentido sexual: Mbobype abá aîpoba'e oîaby kunhã resé onhemomotar'iré koîpó i mongetá roîré sesé o byke'yma pukuî? - Quantas vezes o homem transgride aquele (mandamento) após atrair-se por uma mulher ou após conversar com ela enquanto não toca nela? (Ar., Cat., 71v) ● obykyba'e - o que toca: ..."T'amendáne nde resé" o îoesé obykyba'e supé... e'îara. - A que diz para o que toca em si: - "Hei de me casar contigo". (Ar., Cat., 279); bykaba - tempo, lugar, modo, objeto, etc., do tocar, etc.: kunhã-angaturama abá bykagûere'yma... - mulher bondosa, não tocada por homem (Ar., Cat., 1686, 22v)
Araraquara (SP). De arará - var. de formiga + kûara - buraco, toca: buraco das ararás, ou ainda, pela língua geral meridional, arara + kûara: toca das araras. Distrito criado com a denominação de São Bento de Araraquara por alvará de 30 de outubro de 1817 no Município de Piracicaba. É também nome de morro próximo de Piracicaba: [...] pouzo no mato perto do morro de Arara coara, onde tem gentio, porèm trataõ de sua lavoira, e naõ fazem mal algum aos viagantes [...] (desconhecido [1754], Relaçaõ da chegada que teve a gente de Mato Groço..., p. 246).
Jequeri (MG). Conta-se que tal nome teve origem no nome de uma planta existente na região (fonte: IBGE). De îukeri: juqueri, ervas leguminosas-mimosoídeas.
apupeybyra (t) (s.) - raspas, como de cascas de árvore da parte de dentro (como as da figueira do inferno para as feridas) (VLB, II, 97)
ekoaûîé (t) (etim. - o estar pronto) (s.) - prontidão, presteza; [adj.: ekoaûîé (r, s)] - pronto, prestes, preparado: Marãpe erimba'e sekóû o e'õ îanondé o ekoaûîéramo? - Que fez antes de morrer, estando pronto? (Ar., Cat., 52); Sekoaûîépe gûaîtaká koîpó gûaîanã ra'yra? - Está pronto o guaitacá ou o filho do guaianá? (Anch., Teatro, 62)
tupi1 (s. etnôn.) - TUPI, 1) nome de povo indígena da capitania de São Vicente (Anch., Arte, 1v); 2) designativo genérico dos índios falantes da língua brasílica: -Asó tupi moangaîpapa. -Mba'e apŷabap'aîpó? -Tupinakyîa keygûara. -Vou para fazer os tupis pecarem. -Que índios são esses? -Os tupiniquins, habitantes daqui. (Anch., Teatro, 140)
umari (s.) - UMARI, 1) nome comum a duas plantas da família das icacináceas, Poraqueiba paraensis Ducke e P. cericea Tul.; 2) nome da árvore leguminosa Geoffroea spinosa Jacq.; 3) o fruto dessas árvores (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 121)
Guajuvira (PR). De gûaraembira, peixe da família dos gimnotídeos. Pode ser também uma palavra da língua geral meridional que designa um arbusto da família das poligonáceas.
NOTA - Daí se origina, no P.B., BORBOREMA (yby + mbora + e'ym + -a, "terra sem habitantes"), lugar despovoado, estéril (in Dicion. Caldas Aulete), donde o nome da SERRA DA BORBOREMA, no nordeste do Brasil (v. p. 386).
mogûaî (v.tr.) - 1) cortar (com faca, espada, ferramenta, machado, etc.); dar cutilada (com espada, machado) (VLB, I, 83); 2) ferir (o corpo em geral, exceto a cabeça, para o que se emprega o verbo 'apixab, v.); ferir gravemente (VLB, I, 88; 137)
rambûer1 [(adj.). É uma composição de ram (v.) e pûer (v.). Apresenta também os alomorfes ûambûer, ambûer, etc.] - o que seria: miîukarambûera - o que seria morto (Anch., Arte, 19v)
saporema (etim. - raiz fedorenta) (s.) - SAPOREMA, doença que ataca as plantas, principalmente a mandioca, e se caracteriza por suberização anormal (Anch., Arte, 3v)
moúb (v.tr.) - fazer estar deitado, pôr deitado (Anch., Arte, 58) ● moupaba - tempo, lugar, modo, etc. de pôr deitado: Okerĩ o moupápe... - Dormita no lugar onde o puseram deitado. (Anch., Poemas, 164)
oîoparaba (s) - intercalação: Na tenhẽ ruã 'areté marãtekoaba ri oîoparabamo 'ari îandébo... - Não foi à toa que os feriados surgiram para nós como um intercalação no trabalho. (Ar., Cat., 100); Oîoparabamo orokûab. - Estamos em intercalação. (VLB, I, 119)
kûarasy (etim. - origem deste dia < kó 'ara sy) (s.) - 1) sol: Tó! Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Ó! Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); T'osepîak-y bé umẽ kûarasy! - Que não vejam mais o sol! (Anch., Teatro, 60); Kûarasy nipó oberá, putunusu kûab'iré. - O sol certamente brilha, após passar a grande noite. (Anch., Poemas, 142); Kûarasy onhemoputun... - O sol se eclipsa. (Ar., Cat., 64); 2) verão (VLB, II, 144) ● kûarasy sembaba - lugar do nascer do sol, oriente, leste: ...kûarasy sembaba koty suí ouryba'e... - ...os que vêm do lado em que nasce o sol... (Ar., Cat., 3); kûarasy-ro'y - sol frio, isto é, sol encoberto, tempo nublado (VLB, II, 121); kûarasy reîkeaba - lugar em que o sol se põe, poente, oeste (VLB, II, 54); kûarasy-etymã (ou kûarasy ru'uba) - raio de sol, réstia de sol (VLB, II, 103)
kupîá (s.) - variedade de formiga, de cor castanha, com tenazes que se salientam à maneira de dentes. A secção anterior do corpo tem o tamanho de um grão de ervilha. Num certo tempo adquire quatro asas. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 253)
moapỹî (v.tr.) - 1) colocar em roda (VLB, II, 58); 2) arredondar [deixando plano, como um círculo. Arredondar, deixando esférico, é moapu'a (v.).] (VLB, I, 42)
nhamombykob (v. intr.) - entre os potiguaras era fazer feitiço com massa chamada îekyegûasu (v.), para pessoas a quem se queria mal, para que morressem (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 279)
temone1 (part. que indica o modo optativo. Leva o verbo para o gerúndio. Pode ser acompanhada por -mo no final do período.) - oxalá (VLB, II, 53); ah se... (VLB, II, 59): Temone a'ereme osykamo - Oxalá chegasse então. (Anch., Arte, 57); Temone ko'yr Anhanga ratá pora, abá amõ opu'ama iké îandé re'yîpemo... - Oxalá agora alguma pessoa, habitante do fogo do inferno, levantasse aqui na nossa multidão. (Ar., Cat., 165v); Temone xe gûixóbo... - Ah, se eu fosse... (Fig., Arte, 143)
Guaperuvu (serra de Itanhaém, SP). De gûapurubu*, nome de uma árvore da família das leguminosas, termo da língua-geral meridional.
îabeburapinima (etim. - arraia da cabeça pintada) (s.) - arraia de água doce de um palmo e meio de comprimento, muito redonda, perigosa e peçonhenta (Lisboa, Hist. Anim. Árv. do Maranhão, fls. 173v-174)
kaîupeba (etim. - caju achatado) (s.) - uma das espécies de CAJUEIRO-BRAVO, planta da família das dileniáceas (Curatella americana, L.) (Sousa, Trat. Descr., 220)
gûetépe (etim. - em seu corpo) (adv.) - inteiro, inteiramente, por inteiro (VLB, II, 13): I Tupã irũmo bé kó seté rekóû, pesembûeri pupé bé gûetépe-katu re'a... - Eis que com seu corpo deve estar sua divindade, nos pedacinhos também, inteiramente. (Ar., Cat., 85); ...Itá gûetépe.- Inteiramente de pedra. (Léry, Histoire, 363) ● gûetépe bé (ou gûetépe nhẽ) - por inteiro (VLB, II, 13); todos juntos (VLB, II, 130)
putuẽ (ou pytuẽ) (xe) (etim. - fôlego parado) (v. da 2ª classe) - 1) resfolegar, recobrar o fôlego, tomar alento, tomar refrigério (VLB, II, 99): Ta pe putuẽngatuté irã... pe îemokane'õ ré. - Haveis de bem recobrar o fôlego após vos cansardes. (Ar., Cat., 170); Xe putuẽ-tuẽ. - Eu estou resfolgando. (VLB, I, 50); 2) descansar, sossegar: Nde pytuẽ. Na satãngatuî maíra! - Descansa. Não é muito forte o maíra. (Anch., Teatro, 16)
apyrĩ (ou apyrĩ'i ou apyri'ĩ) (part.) - prestes, a ponto de, na iminência de, já para (fal. de coisas que se realizam posteriormente, ao contrário de sûer (v.), que se refere a coisas que não se realizam); daqui a pouquinho; já, já: A'ar apyrĩ. - Estou prestes a cair. Our apyrĩ. - Está já para vir. Asó apyri'ĩ. - Estou a ponto de ir. Vou daqui a pouquinho. (VLB, II, 75); Aînupã apyri'ĩ. - Daqui a pouquinho castigo-o. (VLB, I, 89)
mondar2 (v.tr.) - suspeitar de: Ereîmondá-mondápe nde rapixara nde py'ape? - Ficaste suspeitando de teu próximo em teu interior? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100); Aîmondar ahẽ xe itaîuba ri. - Suspeito dele acerca de meu dinheiro (isto é, suspeito que foi ele quem o furtou). (VLB, II, 121); Ereîmondá-mondá tenhẽpe nde remirekó abá resé? - Ficaste suspeitando sem motivo de tua esposa por causa de alguém? (Ar., Cat., 236, 1686)
poka (s.) - estouro, estalo, arrebentamento, disparo; (adj.: pok) - estourado, estalado: Xe pé-pok. - Eu tenho casca (isto é, de ferida prestes a sarar) estalada. (VLB, I, 60)
Ipiaú (BA). Nome atribuído artificialmente em 1944 ao município de Rio Novo, desmembrado de Jequié. Em tupi antigo seria Ipiçaçu ('y - rio + pysasu - novo). A forma Ipiaú é do guarani.
Itarumã (GO). Nome atribuído a uma localidade de Goiás em 1943 por decreto-lei. Mas é um nome antigo, da língua geral meridional: "Itaruman- São húas frutas do tamanho e feitio de húa azeitona (...)". (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa [1765], p. 30, folio 8v.)
Irãmaîé (s. antrop.) - nome de personagem mitológico dos antigos tupis, o único homem que se salvou de um incêndio que teria originado o mundo; personagem mitológica da qual teriam provindo todos os homens que viviam antes do dilúvio (Thevet, Cosm. Univ., 913v)
apixarĩ (t) (s.) - o próximo (VLB, II, 89), o companheiro: Nde mba'epûerype, nde rapixarĩ nhe'engûera mombegûabo? - Tu fizeste mexericos, contando as palavras de teu próximo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99); Aûnhenhẽ o apixarĩ resé îepyki... - Imediatamente eles se vingam de seu próximo. (Anch., Teatro, 130); Xe rapixarĩ pabẽ, 'areté-angaturama t'asepîáne! - Meus companheiros, hei de ver o feriado santo. (Anch., Poemas, 150)
NOTA - SARARÁ, no P.B., assumiu outros significados: 1) diz-se da cor alourada ou arruivada do cabelo muito crespo, característico de certos mulatos; 2) diz-se do cabelo crespo e dessa cor: cabelo sarará; 3) diz-se de mestiço com cabelo sarará: mulata sarará (in Novo Dicion. Aurélio).
sapupeybyra (etim. - casca tenra de raiz) (s.) - raspas, como de cascas, da parte de dentro, como as da figueira-do-inferno para as feridas (VLB, II, 97)
ybyrá2 (s.) - cerca; cerca de moirões em torno de aldeia indígena para a defesa contra os inimigos e contra os animais perigosos; estacada (Staden, Viagem, 67): ...Ybyrá itá monhangymbyra kupépe so'o mimbaba roka ogûâr gûupabamo... - Atrás de uma cerca feita de pedras tomou a casa dos animais de criação como sua pousada. (Ar., Cat., 9v); Aybyrá-monhang. - Fiz uma cerca de moirões. (VLB, I, 142) ● ybyrá-patagûy - cerca de redes; ybyrá-pokanga - cerca feita de ramas (VLB, I, 70)
Canapi (AL). De canabi, conabi, arbusto da família das euforbiáceas, tida por medicinal. Devia ser termo da língua geral meridional e da setentrional.
Ituverava (SP). De ytu + berab + -a: cachoeira brilhante. Nome dado em 1899, por causa da cascata do Rio do Carmo dentro do perímetro da cidade. (fonte: IBGE)
sumaúma (s.) - SUMAÚMA, SUMAUMEIRA, árvore da família das bombacáceas (Ceiba pentandra (L.) Gaertn.), de grande altura (Ferreira, América Abreviada, in RIH, LVII [1894], 138)
ysypopytanga (etim. - cipó avermelhado) (s.) - raiz avermelhada utilizada pelos índios para fazer a farinha que lhes servia de matéria-prima para a fabricação do pão (D'Abbeville, Histoire, 230)
Jurupencém (GO). Jurupensém* é nome de peixe silurídeo, jurupoca. De îuru + pesẽ: boca partida. Talvez um nome da língua geral meridional.
NOTA - Daí, no P.B., TITICA (teîtyka, o que se joga fora), excremento de aves, merda; PEITICA (NE) ('yb+eîtyka, "lançar o pau"), pilhéria insistente e de mau gosto, grosseria, impertinência.
kyîaapu'a (etim. - pimenta redonda) (s.) - variedade de pimenta, espécie de planta solanácea (Capsicum baccatum L.), originária da América do Sul (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39; Piso, De Med. Bras., IV, 197)
tyryka (s.) - recuo, afastamento, fuga; (adj.: tyryk) - arredio, arisco, que foge, que se afasta: tu'ĩ-tyryka - tuim arisco, TUITIRICA, periquito da família dos psitacídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
agûará (s.) - LOBO-GUARÁ, AGUARÁ, GUARÁ, mamífero carnívoro da família dos canídeos que vive principalmente nos cerrados da América do Sul, de cor pardo-avermelhada, de pés e focinho pretos e mancha branca na garganta. Alimenta-se também de aves e frutas e tem hábitos noturnos. É um dos mais belos canídeos do Brasil, sendo conhecido também como lobo e jaguaperi. (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 34)
bé2 (adv.) - também (Fig., Arte, 148) [o mesmo que abé (v.)]: ...Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); Îé, kó bé xe pûãpẽ... - Sim, eis aqui também minhas garras. (Anch., Teatro, 40); Oka'u bé xe raîxó... - Bebe cauim também minha sogra. (Anch., Teatro, 46); ...Ingapema bé peru! - Trazei também o tacape! (Anch., Teatro, 64)
momba'eté (ou momba'eeté) (etim. - tornar coisa muito boa) (v.tr.) - honrar, louvar, enaltecer, dignificar, cultuar, prezar (VLB, II, 86) (Referindo-se a coisas más, não se usa momba'eté, mas moeté - v.): ...Opabĩ kunhã sosé nde momba'etébo é. - Honrando-te mais que a todas as mulheres. (Anch., Poemas, 144); ...Opakatu karaíba xe momba'eté-katu. - Todos os cristãos honram-me muito. (Anch., Poemas, 114); Aîmomba'eté nde roka, i pupé gûiporaseîa. - Honro tua casa, dentro dela dançando. (Anch., Poemas, 170); ...I kangûerĩ tiruã momba'etéû... - Até mesmo seus ossinhos cultua. (Ar., Cat., 12v) ● i momba'etepyra - o que é (ou deve ser) honrado, louvado, etc.: 'Ara i momba'etepyra pupé missa rendupa... - Ouvindo missa nos dias que devem ser honrados. (Ar., Cat., 75v); emimomba'eté - o que alguém honra, louva, dignifica, etc.: Nde 'anga Tupã remimomba'eté me'enga anhanga pé... - Entregando tua alma, que Deus dignifica, para o diabo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
pindá2 (s.) - PINDÁ, ouriço-do-mar, nome dado a muitas espécies de equinodermos equinoides, animais de corpos globulares, hemisféricos, revestidos por espinhos móveis (Sousa, Trat. Descr., 294)
ky2 (part. de m.) - 1) expressa determinação, resolução, deliberação, não se traduzindo, às vezes. Vai sempre para o final do período. - haver de... pois, haver de... já: ...A'u nhẽne ky... - Hei de comê-lo, pois. (Ar., Cat., 85); Asóne ky. - Hei de já ir. (Fig., Arte, 139); 2) expressa exacerbação daquilo que se quer responder (como se, perguntando alguém se algo já aconteceu há muito tempo, outrem respondesse: Nossa! Ui!, isto é, há muitíssimo tempo!) (VLB, II, 139). Diz o que vê a coisa longe ou fora de propósito. (Fig., Arte, 147)
pe2 (ênclise que expressa deliberação, para h. e m. É acompanhada por ká (para h.) ou ky (para m.), que se coloca no final do período.) - haver de: ...Aîkó umẽpe mba'epoxy resé sobaké ká... - Não hei de estar na maldade diante dele. (Ar., Cat., 66); Anhenonhẽpe ko'yté ká... - Hei de me corrigir, enfim. (Ar., Cat., 75); Aîemĩngatupe ká. - Hei de me esconder bem. (Anch., Teatro, 32); "Xe katupe ká..." - Hei de ser bom. (Anch., Teatro, 38); Aîmoeté-katupe xe ruba ká... - Hei de louvar muito meu pai. (Ar., Cat., 25v); Asó umẽpe ky. - Não hei de ir (dito por mulher). (Anch., Arte, 23)
tiriba (s.) - TIRIBA, TIRIVA, TIRIBAÍ, TIRIBINHA, nome comum a certos pássaros da família dos psitacídeos; espécie de papagaio (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 188)
ingapenambi (etim. - orelhas de tacape) (s.) - pendentes ou campainhas de penas de diversas cores que ficavam no cabo do tacape que seria usado para matar um prisioneiro (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 117)
'a1 (s.) (em compos. somente): cabeça: Aî'a-kok. - Apoio sua cabeça. (VLB, I, 18); Aî'a-su'u - Mordo-lhe a cabeça. (VLB, I, 94) ● 'a-pixapaba - ferida da cabeça "Às vezes se usa deste nome nas feridas que se dão por outras partes, fora da cabeça, mas impropriamente." (VLB, I, 137)
ybyraoby (etim. - árvore verde) (s.) - pau-ferro, o mesmo que ybyrapyteruna (v.). "É uma das árvores brasileiras que mais crescem, cujo material é duríssimo e vermelho por dentro; não é sujeita à corrupção; não dá fruto; nasce em bosques altíssimos e vales." (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 141)
gûaraabuku (etim. - penas compridas de guará) (s.) - manto de penas de guará usado pelos índios tupis da costa, e que tinha na parte superior um capuz, de sorte que podia cobrir toda a cabeça, os ombros e as coxas até as nádegas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
uruku (ou urukũ) (s.) - URUCU, URUCUM, 1) árvore bixácea (Bixa orellana L.), planta das matas tropicais e subtropicais do continente americano. Das sementes de seus frutos os índios produziam uma tinta vermelha com que se tingiam para se protegerem do sol e dos insetos e coloriam sua cerâmica e suas peças de algodão. Também é conhecida como URUCUZEIRO, URUCUEIRO, URUCUUBA, bixe; 2) nome da tinta que se extrai do urucuzeiro (D'Abbeville, Histoire, 226; Knivet, The Adm. Adv., 1228)
kybõ (ou kûybõ) (adv.) - aqui nestes lados, por aqui, cá nestas partes (VLB, II, 91); para cá; mais para cá (Fig., Arte, 129): Té oureté kybõ Reriûasu mã! - Ah, veio mesmo para cá o Ostra Grande! (Léry, Histoire, 341); Abápe ké sobasẽ, kûybõ oma'ẽ-nhemima? - Quem aqui dá a cara, para cá olhando furtivamente? (Anch., Teatro, 138); Mobype tubixá-katu kybõ? - Quantos são os chefes principais por aqui? (Léry, Histoire, 350) ● kybõ-ngoty - para cá; mais para cá (Fig., Arte, 129); aquém (VLB, I, 40); kybõ-ngoty bé - mais para cá (VLB, II, 91); kybõ-ngoty-pyryb - um pouco mais para cá (VLB, II, 91)
pora4 (mb) (s.) - marca (de pancada ou golpe, que fica no lugar onde se deu); sinal (de cortadura de faca, dentada, unhada, etc.); marca de ferimento, sinal de ferimento, de golpe: kysé-pora - sinal de facada; îyapá-pora - sinal de ferimento com foice; itangapẽ-mbora - marca de espada, sinal de ferimento com espada (Anch., Arte, 31v); mina pora (ou mĩ-mbora) - marca de lança, sinal de ferimento com lança (Anch., Arte, 32); tãî-mbora - marca de dentes, sinal de dentada (VLB, I, 94); itá-pora - sinal de golpe com pedra (VLB, II, 63); ahẽ pûapẽ-mbora - a unhada de fulano, a marca das unhas de fulano (VLB, II, 118) ● porûera - marca antiga, sinal de antigo ferimento ou golpe: itá-kysé-porûera - marca antiga de facada (VLB, II, 118); itá-porûera - marca antiga de pedrada (VLB, II, 63)
NOTA - Daí provém o nome próprio de mulher POTIRA, flor, sendo, também, o da personagem da obra indianista de Machado de Assis, Americanas. Dela disse o escritor, nessa obra, referindo-se ao significado de seu nome: Moça cristã das solidões antigas, / Em que áurea folha reviveu teu nome? (in Poesias Completas. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1977)
tatuapara (etim. - tatu curvo) (s.) - TATUAPARA, APARA, APAR, tatu-bola, mamífero da família dos dasipodídeos, que se encurva por ocasião de perigo, ficando como uma perfeita bola (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 232)
erimba'e1 (ou rimba'e) (adv.) - 1) outrora, antigamente, no passado, outro dia, já não agora; há tempo; tempos atrás (VLB, II, 61): ...Tamũîa... omombab erimba'e... - Destruiu outrora os tamoios. (Anch., Teatro, 52); Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava segundo a lei primeira. (Anch., Poemas, 114); I porang, erimba'e, Mia'y, xe retãmbûera. - Era bela, outrora, Miaí, minha antiga região. (Anch., Poemas, 152); 2) futuramente, algum dia (VLB, I, 31): ...Peẽ bé ybŷá pe tymagûama na peîkuabi, "-rimba'e ipó ixénone" 'ee'yma? -Vós também não reconheceis que vos enterrarão, não dizendo "-futuramente serei eu também"? (Ar., Cat., 155v); (Erimba'e foi muito usado no tupi colonial para assinalar tempo passado, haja vista que, em tupi antigo, o verbo não expressa tempo. Muitas vezes não se traduz.) ● erimba'endûara (ou erimba'endûarûera) - o que é de antigamente, o que é de outrora; coisa antiga (VLB, II, 143): Erimba'endûarûera ixé. - Eu sou o que é antigo, o de tempos atrás. (VLB, I, 91)
'ar2 (ou 'a) (v. intr.) - surgir; despontar (o dia): Na tenhẽ ruã 'areté marãtekoaba ri oîoparabamo 'ari îandébo... - Não foi à toa que os feriados surgiram para nós como um intercalação no trabalho. (Ar., Cat., 100); ...Tupã 'îaba îandé rubypy i mopore'ym'iré, te'õ 'ari sesé îandé resé béno... - Após não realizar nosso pai primeiro o que Deus havia dito, a morte surgiu nele e em nós também. (Ar., Cat., 155); 'Arangaturameté o'a îandébo kori. - Dia muito bom surgiu para nós hoje. (Anch., Poemas, 94) ● o'aba'e (ou o'aryba'e) - o que surge: N'aîkuabi ikó pytuna o'aba'erama pupé xe re'õnama... - Não sei se morrerei nesta noite que surgirá. (Ar., Cat., 76v)
keîrûá (s.) - CURUÁ, QUEIROÁ, rato-de espinho, nome comum a vários roedores da família dos equimiídeos. São como ouriços-cacheiros, caracterizados por seus pelos em forma de cerdas espinhosas. "Criam em covas debaixo do chão." (Sousa, Trat. Descr., 257)
îakarandá (s.) - JACARANDÁ, nome comum a algumas árvores da família das leguminosas, da subfamília papilionoídea, em que se destaca a Machaerium villosum Vogel, comum no Brasil e também conhecida como JACARANDÁ-PAULISTA. Outras espécies importantes são a Machaerium incorruptibile (Vell.) Benth. e a Machaerium legale (Vell.) Benth. (D'Abbeville, Histoire, 223; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 136). "...É muito pesada e não se corrompe nunca sobre a terra, ainda que lhe dê o sol e a chuva, a qual tem muito bom cheiro." (Sousa, Trat. Descr., 221) ● îakarandá-apé - casca de jacarandá (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 192)
akypûeri (r, s) (etim. - nas pegadas) (loc. posp.) - atrás de, no encalço de, em seguida a, no rastro de, pelo rastro de: Nd'osóîpe i boîá amõ sakypûeri? - Não foi algum discípulo seu atrás dele? (Ar., Cat., 55); Sakypûeri aîkó. - Estou atrás dele (isto é, no seu encalço). (VLB, I, 47); Sakypûeri asó. - Vou atrás dele. (VLB, II, 135); Abá 'anga mara'ara i pupé opûeîrá-katu; sakypûeri Tupã rara. - As doenças da alma do homem com ela saram bem; em seguida a ela, a comunhão. (Anch., Teatro, 38) ● o îoakypûeri - um atrás do outro; o îoakypûé-kypûeri - uns atrás dos outros (VLB, I, 154)
kopiara (etim. - caminho da roça) (s.) - COPIAR, alpendre, varanda contígua à casa, formada pelo prolongamento da cobertura, passagem para o exterior (Bettendorff [1698], Crôn. do Maranhão, in RIH, LXXII, [1909], 488)
meémo (part.) - expressa o condicional passado; pode expressar um idéia de dever no passado: Ereîkuá ranhẽ meémo emonã nde rekorama... - Deverias ter sabido antes o que fazias. (Ar., Cat., 57v); Herodes meémo ikó oîme'eng te'õ supé i angaîpaba kuapa... - Herodes teria entregado este à morte, conhecendo suas maldades. (Ar., Cat., 59v); Nde marangatu meémo... - Se tivesses sido bom... (Anch., Arte, 25v); Osó meémo mamõ? - Teriam ido para longe? (Anch., Teatro, 30); ...îandé momburu meémo... - ...ter-nos-iam amaldiçoado... (Anch., Teatro, 38). Pode seguir partícula que precede o verbo: Kori meémo asó... - Se tivesse ido hoje... (Anch., Arte, 25v)
Iguatama (MG). Nome atribuído artificialmente em 1943 a partir das palavras tupis 'y + kûá + etama (t): terra da enseada do rio, para se referir a um remanso do rio São Francisco. (fonte: IBGE)
masarandyba (ou masaranduba) (s.) - MAÇARANDUBA, MAÇARANDUVA, MAÇARANDIVA, MAÇARANDIBA, 1) nomes que designam as espécies de árvores sapotáceas Pouteria procera (Mart.) T.D. Penn. e Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach.; 2) o fruto dessas árvores, de propriedades medicinais (Piso, De Med. Bras., IV 203; Brandão, Diálogos, 171)
enopu'am2 (ou eropu'am) (v.tr.) - erguer-se com; levantar-se com; fazer erguer-se consigo, fazer levantar-se consigo: O pó, o py, o yké kutukagûera bépe erimba'e ogûeropu'am? - Ergueu-se com as feridas de suas mãos, de seus pés e de seu flanco? (Ar., Cat., 44v); I abaeté-katu irã tekó i angaîpaba'e supéne,... o poxy, o eté-una reropu'ama... - Serão muito terríveis os fatos, futuramente, para os que são maus, levantando-se com sua fealdade, com seus corpos escuros. (Ar., Cat., 161)
-e'ym2 (suf. que expressa negação ou privação) - não, sem: sye'yma - o sem mãe, o órfão de mãe (VLB, II, 59); membyre'yma - a sem-filhos, a fêmea estéril (VLB, II, 31); ...Anhanga o îaramo sekó potare'yma. - Não querendo que o diabo esteja como seu senhor. (Ar., Cat., 26v); ...Abá 'angûera amõ soe'ymi ybakype erimba'e? - Não ia para o céu outrora a alma de ninguém? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); Aîukae'ym. - Não mato. (Anch., Arte, 20); I îukapyrûere'yma - O que não foi morto (Anch., Arte, 19v); Miîukae'yma - O que não é morto (Anch., Arte, 19v); Pysaré kó i kere'ymi... - Eis que a noite toda ele não dormiu. (Anch., Teatro, 32); N'oîpotar-ipe Tupã xe re'õe'yma xe retãme ûixóbo...? - Não quer Deus que eu não morra para ir para minha terra? (D'Abbeville, Histoire, 351v) ● e'yma nhõ - não falta mais que; resta somente isto, falta apenas isto: Serasoe'yma nhõ. - Resta apenas levá-lo; Onhe'eng-atã-atã ahẽ o sy supé; i nupãe'yma nhõ. - Ele fala asperamente a sua mãe; falta apenas bater nela. (VLB, II, 103)
NOTA - Desse termo originam-se muitos nomes geográficos no Brasil: PERNAMBUCO, PARANAGUÁ, etc. (v. p. 386). Na língua geral setentrional e na meridional, paranã passou a significar rio (Arronches, O Caderno da Lingoa, p. 230), figurando na toponímia também com esse sentido: rio PARANAPANEMA, rio PARANÁ, JI-PARANÁ (v. p. 386). Hoje, na Amazônia, PARANÃ é braço de rio caudaloso, separado deste por uma ou mais ilhas (in Dicion. Caldas Aulete).
sysyîa (s.) - estremecimento; (adj.: sysyî) - trêmulo, que treme: Xe ro'o-sysyî. - Eu tenho a carne trêmula. (VLB, I, 130); Xe ropé-py-sysyî. - Eu tenho o interior das pálpebras trêmulo. (VLB, II, 136)
Camamu (BA). "A villa pois do Camamú, distante 24 legoas da cidade da Bahia, hé o ponto de reunião de tres grandes rios quaes são Marahú. Serinhaem e Camamú, assim como de sinco outros mais pequenos [...] os quaes todos se juntão naquella villa, motivo por que os Indios formarão o nome de Camamú, vocabulo que na lingua Brasilica quer dizer "agoa do peito da mulher" pela semelhança dos esguichos de leite que reunidos no bico do peito se difundem para diversas partes [...]" (Luiz dos Santos Vilhena [1802], p. 521). De kama - seio + y (t, t) - água, líquido: água do seio.
(Ar.) ARAÚJO Antônio de, Catecismo na Lingoa Brasílica no qual se contem a summa da doctrina christã. Com tudo o que pertence aos Mysterios de nossa sancta Fé & bõs custumes. Reprodução fac-similar da 1a edição (1618), com apresentação do Pe. A. Lemos Barbosa. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1952.
pysyrõ1 (v.tr.) - livrar, libertar; salvar, socorrer (VLB, II, 119); Oré pysyrõ-te îepé mba'e-aíba suí. - Mas livra-nos tu das coisas más. (Ar., Cat., 13v); ...Nde erimba'e xe pysyrõ îepé. - Tu outrora me salvaste. (Ar., Cat., 86v) ● pysyrõana (ou pysyrõsara) - o que livra, libertador; salvador: Iesu moropysyrõana - Jesus salvador da gente. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., 1618); pysyrõaba (ou pysyrõsaba) - tempo, lugar, modo, etc. de libertar, de salvar; libertação; salvação: ...Oromoeté-katu... nde xe pysyrõagûera resé... - Louvo-te muito por tu me teres salvado. (Ar., Cat., 87)
îobaypyîtaba (etim. - instrumento de se aspergir o rosto) (s.) - hissope, bola de metal oca e furada com que se fazem as aspersões de água benta nas cerimônias religiosas (VLB, II, 15)
NOTA - De xe originaram-se, no P.B., as palavras XARÁ (xe rera, "meu nome"), pessoa que tem o mesmo nome que outra (ou XARAPA, XARAPIM, XERA, XERO); XERIMBABO (xe reîmbaba, "minha criação"), qualquer animal de criação ou estimação; XIRU, CHIRU (S.)
ybyrakytã (etim. - nó de árvore) (s.) - MUIRAQUITÃ, pedra verde com que índios da Amazônia compravam mulheres; pedra verde que servia como amuleto (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 172)
MARTIUS, Carl Friedrich Phil. Von, Glossaria Linguarum Brasiliensium. Glossarios de diversas lingoas e dialectos, que fallao os Indios no imperio do Brazil. Leipzig, Friedrich Fleischer, 1867.
agûarakyîa (ou agûarakynha) (etim. - pimenta de aguará) (s.) - AGUARAQUIÁ, pequena erva cosmopolita, da família das solanáceas (relacionadas a Solanum americanum L.), de pequenas flores alvas e diminutos frutos negros. O nome aguaraquinha também designa o Heliotropium elongatum Hoffm. ex Roem. & Schult., uma borraginácea. A primeira também é conhecida como caraxixu, araxixu, erva-de-bicho, erva-moura, maria-preta, maria-pretinha, pimenta-de-galinha. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 55; VLB, I, 121; Piso, De Med. Bras., IV, 198)
ypy'aka (t, t) (s.) - 1) borra de um líquido, isto é, a parte sólida dele que se deposita no fundo de uma garrafa; sedimento (VLB, I, 58); 2) água com matéria coalhada (como, p.ex., mandioca crua); caldo ou líquido coalhado, isto é, que perdeu a fluidez; coalhada, TIPIACA: Typy'a-ku'i - farinha de tipiaca, isto é, feita da mandioca crua coalhada em suspensão na água (VLB, I, 135)
moingatu (etim. - fazer estar bem) (v.tr.) - guardar; firmar: ...Xe nhy'ãme t'ereîké, xe py'a moingatûabo. - Que entres no meu coração, guardando bem meu interior. (Anch., Poemas, 130)
pyko'ẽ (s.) - cova, depressão suave, concavidade (no rosto, na nuca, no chão mal igualado, etc.): atuá-pyko'ẽ - concavidade da nuca, depressão na parte inferior da nuca (VLB, I, 84); (adj.) - côncavo, encovado: nha'ẽ-pyko'ẽ - prato côncavo, prato fundo (VLB, II, 128)
moeté (v.tr.) - honrar, dignificar; reverenciar, comemorar, santificar, louvar, prezar; fazer caso de; adorar, glorificar, venerar (VLB, II, 143) [Para se referir a coisas más, isto é, louvar o vício, também se usa este verbo. Já momba'eté (v.) somente se emprega com relação a coisas boas. (VLB, I, 113)]: Îandé moetébo apŷaba nhemosaraî. - Para nos honrarem os índios fazem festa. (Anch., Teatro, 24); ...N'omoetéî o monhangara... - Não honram seu criador. (Anch., Teatro, 30); Eîmoeté nde ruba nde sy abé. - Honra teu pai e tua mãe. (Bettendorff, Compêndio, 10; Anch., Teatro, 54) ● moetesara - o que honra, o que louva, etc.: Tupã o monhangareté moetesare'yma... - O que não honra a Deus, seu verdadeiro criador. (Ar., Cat., 66); moetesaba (ou moeteaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, causa, etc. de honrar, de louvar; louvor, honra: ...Nde rupiri nde moetesápe. - Fez-te subir por te honrar. (Anch., Poemas, 126); Turagûera moetesabamo... kó 'ara îamoeté. - Como modo de honrar sua vinda, comemoramos este dia. (Ar., Cat., 5); i moetepyra - o que é (ou deve ser) honrado, glorificado, venerado, etc.: S. Filipe, S.Tiago kó 'ara i moetepyra... - São Filipe e São Tiago são os que devem ser honrados neste dia... (Ar., Cat., 5v); I moetepyramo nde rera t'oîkó... - Santificado seja teu nome. (Ar., Cat., 13v); (fig.) o que é íntimo, o que priva com: I moetepyramo aîkó (abá) supé. - Eu privo com os homens, isto é, eu sou o que é honrado junto deles, o que tem intimidade com eles. (VLB, II, 87, adapt.); emimoeté (t) - o que alguém honra, etc.; (fig.) o íntimo, o que priva com: Semimoetéramo aîkó. - Sou íntimo deles, isto é, sou o que eles honram. (VLB, II, 87)
akambûasaba (s.) - 1) nastro, espécie de fita estreita (VLB, II, 48); 2) cordinha de algodão que os índios amarravam na cabeça e da qual pendiam, na parte posterior, algumas compridas penas vermelhas ou azuis (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 270)
NOTA - Daí, os nomes geográficos ARARIPINA (PE), ARARITAGUABA (SP), etc. (v. p. 386). Daí, também, no P.B., PIRARARA ("peixe arara"), peixe pimelodídeo com duas séries de pigmentos amarelo-ouro.
é9 (t) (s.) - sabor, gosto: so'o ré - gosto de carne (VLB, I, 149); Abámo... mba'e-katu 'uagûera n'oîkuabi xûé... sé katûagûera resé o esaraîamo? - Quem não saberia ter comido algo bom, esquecendo-se da excelência de seu sabor? (Ar., Cat., 88v); [adj.: é (r, s)] - gostoso, saboroso: Sé. - Ele é gostoso. (VLB, I, 149) ● seba'e - o que é saboroso: ...Amõ seba'e irũmo nhẽ. - Com algumas coisas que são saborosas. (Ar., Cat., 111); Seba'e-a'uba nhote resé... asé na sesaraî... - A gente não se esquece do que é saboroso só na aparência. (Ar., Cat., 88v); Setápe pirá seba'e? - São muitos os peixes que são gostosos? (Léry, Histoire, 348)
tangaraká (lit, folha de tangarás) (s.) - TANGARACÁ, erva-do-rato, nome dado a várias ervas rubiáceas dos gêneros Psychotria e Palicourea, todas elas caracterizando-se pela elevada toxidez; suas flores e frutos são venenosos e têm como antídoto suas próprias raízes. Também designa uma pequena erva da família das nictagináceas (Boerhavia hirsuta Jacq.) (Piso, De Med. Bras., IV, 193; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 60; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 224)
kanga2 (s.) - 1) osso (Castilho, Nomes, 31): ...I kanga îepotasaba pe'abo o îosuí. - As juntas de seus ossos afastando umas das outras. (Ar., Cat., 62v); ...Asé i kangûerĩ tiruã momba'etéû, o aîuri serekóbo... - Até mesmo seus ossinhos a gente cultua, tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v); 2) espinha (de peixe) ● kanga putu'uma - tutano dos ossos (VLB, II, 138; D'Evreux, Viagem, 159); kangûera - osso fora do corpo, osso descarnado; espinha já fora do peixe (VLB, I, 126)
poxy (m) (s.) - 1) torpeza, abjeção, maldade, desonestidade: ...Oré 'anga poxy reîa. - Lavando a maldade de nossa alma. (Anch., Poemas, 172); 2) feiúra; 3) estrago, deterioração (fal. de alimentos): Nd'ere'uî xûémo; ...i angaîbaratã moxy suí! - Não o comerás; ele está duramente ressequido por deterioração. (Anch., Poemas, 152); 4) maldito, malvado: Eîerok moxy resé... - Arranca-te o nome por causa dos malditos. (Anch., Teatro, 46); Onharõ moxy; xe 'une! - Está bravo o maldito; comer-me-á! (Anch., Teatro, 62); (adj.) - 1) torpe, nojento, abjeto, mau; asqueroso (p.ex., uma ferida ou chaga; um guardanapo, por estar muito sujo), desonesto, imprestável (para se comer): pirá-poxy - peixe imprestável (isto é, que não é bom para se comer) (Léry, Histoire, 297, 1994); "...dão frutos parecidos com as nossas nêsperas, mas muito perigosos; por isso, os selvagens, quando vêem os estrangeiros aproximando-se para colhê-los, repetem muitas vezes seu "i poxy", e advertem-nos para que se abstenham." (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. IX, §6); Eîori, mba'enem, mba'e-poxy! - Vem, coisa fedorenta, coisa nojenta! (Anch., Teatro, 44); Peteumẽ pe poxyramo angiré... - Guardai-vos de serdes maus doravante. (Anch., Teatro, 54); Nde poxype nde remirekó asykûereté amõ resé...? - Tu foste desonesto com alguma irmã verdadeira de tua esposa? (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); 2) feio, disforme: -Emonã abépe i angaîpaba'e reténe? -Aani, i poxy-katune. -Assim também serão os corpos dos que são maus? -Não, eles serão muito feios. (Ar., Cat., 46v); (adv.) torpemente, abjetamente, mal: Penhe'eng poxype pe îoupé...? - Falastes torpemente para vós mesmos? (Ar., Cat., 233); Aîkó-poxy. - Vivo mal. (Anch., Arte, 10v) ● i poxyba'e - o que é torpe, o que é feio, o que é mau, etc.: - Îarekó é rakó mba'e-katu i poxyba'e suí i mouruébo. - Tenhamos as coisas boas, apartando-as do que é torpe. (Ar., Cat., 89); poxŷaba - torpeza, feiúra, abjeção, maldade, etc.: ...o nhe'enga poxŷagûera - a maldade de suas palavras (Ar., Cat., 90)
saûîasobaîa (etim. - sauiá da banda de além) (s.) - SAUIÁ-COBAIA, COBAIA, porquinho-da-índia, mamífero da família dos caviídeos (Cavia porcellus L.), originário da América Andina (as Índias Ocidentais) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 224)
aûîeté2 (ou auîetépe...é ou aûîetéramo ou aûîetéramope ...é) (adv.) - ainda bem que: Aûîeté pakó xe soe'ymi é. - Ainda bem que não fui, pois. (VLB, I, 35); Aûîetéramo erimba'e bé xe angaîpagûera aîpe'a re'a... - Ainda bem que, ainda outrora, repeli meus pecados. (Ar., Cat., 158v)
é8 (s.) - coisa distinta, coisa própria, coisa diferente; (adj.) - próprio, vário, outro, diferente, não comum aos outros, particular; separado (e não de parceria com alguém): Tub-é. - Tem outro pai (isto é, diferente do pai de seu irmão); Xe kó-é. - Eu tenho roça própria (isto é, que não faço com os outros). (VLB, I, 62); (adv.) - variamente, diversamente, à parte: Aindé. Estou à parte. (Anch., Arte, 58); Aîkoé. - Sou diferente. (VLB, I, 103)
Butantã (bairro de SP). De yby - terra, chão + atã (r, s) - duro, firme (reduplicação: atã-atã) - duríssimo: terra duríssima, terra firmíssima, pela língua geral meridional.
takurandá (s.) - TARACUÁ, TACUÁ, TRACUÁ, TRAGUÁ, nome comum a certas formigas que fazem formigueiros nas árvores e que, ao serem tocadas, fazem barulho característico de sopro forte e prolongado (Sousa, Trat. Descr., 239)
tamarutaka (ou tamburutaka) (s.) - TAMARUTACA, TAMBURUTACA, nome comum a algumas espécies de crustáceos marinhos carnívoros, parecidos à lagosta, com patas anteriores preênseis: Eîori, mba'enem, mba'e-poxy..., tamarutaka! - Vem, coisa fedorenta, coisa nojenta, tamarutaca! (Anch., Teatro, 44)
peró (s. - portug.) - português (Staden, Viagem, 61): "Que veut dire que vous autres Mairs et Peros, c'est à dire François et Portugais, veniez de si loin querir du bois pour vous chauffer?" - Por que vocês, maíras e perós, quer dizer, franceses e portugueses, vêm de tão longe procurar madeira para se aquecerem? (Léry, Histoire, cap. XIII)
NOTA - TAPEJARA (ou TAPIJARA) tem, também, o sentido de 1) prático, conhecedor de caminhos ou de uma região: "Naquela escuridão fechada nenhum TAPEJARA seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo" (Simões Lopes Neto, in Contos Gauchescos e Lendas do Sul); 2) (RS) aquele que conduz embarcação com segurança, firme ao leme; pessoa hábil e entendida; 3) (adj.) valentão (in Novo Dicion. Aurélio); TAPIARA (SP pop.) estradeiro, velhaco, espertalhão, trapaceiro, donde o verbo TAPEAR, agir como um tapiara, enganar, iludir, lograr.
embyra1 (s.) - IMBIRA, ENVIRA, nome comum a arbustos ou árvores brasileiras da família das timeleáceas, anonáceas, esterculiáceas ou malváceas que se caracterizam por produzir boa fibra na entrecasca, a qual é usada na fabricação de cordas, etc. Ocorrem nas matas úmidas. (Piso, De Med. Bras., IV, 185)
xûé (part. que acompanha a forma negativa do futuro do indicativo, do condicional e do optativo): N'orogûeruri xûémo ndebe i angaîpabe'ỹmemo... - Não o teríamos trazido a ti se ele não tivesse pecado... (Ar., Cat., 58); N'aîabŷî xûé temõ erimba'e nde nhe'enga mã!... - Ah, quem me dera não ter transgredido outrora tuas palavras! (Ar., Cat., 141v); Nd'oré poreaûsubi xûéne. - Não seremos miseráveis. (Anch., Poemas, 146); N'aîukáî xûéne. - Não o matarei. (Fig., Arte, 34); N'i ma'enduari xûéne. - Eles não se lembrarão. (Fig., Arte, 40)
Avanhandava (SP). De abá - homem, índio + nhan - correr + suf. -aba - lugar: lugar da corrida dos homens: "[...] às onze passamos Itaupabas da Cachoeira Abanhandava merim, que quer dizer homem que corre, ou gente que corre por ser Cachoeira grande, em que todos vaõ por terra, por isso tem este significado [...]" (desconhecido [1754], Relação da chegada que teve a gente de Mato Groço..., p. 247).
Guaxupé (MG) - nome de uma abelha da família dos meliponídeos, termo das línguas gerais coloniais: "Abelhas - Se-tem descoberto 24 especies: Jatíhí, Jatihi merim, Mombuca (...) Uraxupé, q' faz caza nos gr^es arvoredos [...] (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa [1765], p. 175). Stradelli (op. cit., p. 385) registra a forma axupé, com o mesmo sentido.
itapukusama1 (etim. - corda de ferro comprido) (s.) - corrente de ferro (VLB, I, 62); espécie de corrente, argola com corrente de ferro que prende alguém pela parte inferior da perna (VLB, I, 59; D'Abbeville, Histoire, 183v)
NOTA - Em guarani antigo também existia tal palavra, donde proveio o nome do rio URUGUAI, que banha o sul do Brasil, sendo, também, nome de um país sul-americano (v. p. 386).
gûyraúna (etim. - ave escura) (s.) - GRAÚNA, ARAÚNA, UIRAÚNA, CARAÚNA, CRAÚNA, IRAÚNA, nome comum a vários pássaros escuros, geralmente pertencentes à família dos icterídeos (Lisboa, Hist. Anim. Árv. do Maranhão, fl. 186v)
Atibaia (SP). De atybaîa - cabelo crescido que os índios tinham sobre as orelhas (VLB, I, 151). Talvez uma referência a índios da região, que tinham essa característica.
moabaeté1 (ou moabaîté) (v.tr.) - 1) irar, enfurecer, agastar: Anhanga nde moabaîté... - O diabo te agasta. (Anch., Poemas, 144); Xe n'aîu-potari biã, karaíba moabaîtébo. - Eu não queria vir, irando os homens brancos. (Anch., Poemas, 194); 2) odiar, aborrecer, detestar: Osykyîé nde suí Anhanga, nde moabaetébo. - Tem medo de ti o diabo, odiando-te. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618); Nd'e'i te'e ipó asé pecado... moabaetébo te'õ sosé?... - Por isso, na verdade, é que a gente detesta o pecado mais que a morte? (Anch., Diál. da Fé, 232)
ekó2 (t) (s.) - cultura, conjunto de valores: Nde rekokatu potá, aroŷrõ xe rekopûera. - Querendo tua virtude, detesto minha cultura antiga. (Anch., Poemas, 104); Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava de acordo com a cultura primeira. (Anch., Poemas, 114)
Ibateguara (AL). Por decreto-lei estadual de 1943, o distrito de Piquete passou a denominar-se Ibateguara. Foi D. Ranulfo de Farias, então Arcebispo de Maceió, quem sugeriu o topônimo. (fonte: IBGE). De ybaté + ygûara: habitantes das alturas.
Finalmente, lemos acima que UMUARAMA significa "lugar ensolarado para o encontro de amigos." Onde aparece nesse nome o correspondente a encontro de amigos? Onde teria ele aprendido isso?
Embaré (Santos, SP). Árvore da família das bombacáceas, de tronco muito grosso, com grande reserva de água e flores vermelhas. Talvez seja um nome da língua geral meridional, sendo a primeira datação de 1767, de Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], in Memorias para a Historia da Capitania de S. Vicente hoje chamada de S. Paulo, p. 139)
be'ĩ (adv.) 1) (na afirm.) - um pouco, algum tanto, um pouquinho; mais um pouco; um pouco mais: I katu be'ĩ. - Ele está um pouco melhor (VLB, I, 31; II, 28); ...Xe angaturã be'ĩ temõ erimba'e mã!... - Ah, oxalá futuramente eu seja um pouquinho melhor! (Ar., Cat., 158v); 2) (na neg.) - mais nada, nada mais: ...N'i pori be'ĩ xe aîó. - Não contém mais nada minha bolsa. (Anch., Teatro, 46) ● Pode dar a idéia de "mal por mal", "ruim por ruim": Ahẽ nakó i angaturã-be'ĩ. - Ruim por ruim, ele é, de fato, um pouco melhor (isto é, ele é menos ruim que os outros). (VLB, II, 29)
îarakatîá (s.) - JARACATIÁ, nome comum a várias plantas da família das caricáceas, como, por exemplo, a espécie Jaracatiá spinosa (Aubl.) A. DC, árvore muito larga na parte superior, que produz um suco cáustico usado como vermífugo, de frutos pequenos e sem préstimo, conhecida também como mamoeiro-do-mato (D'Abbeville, Histoire, 218v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 128-129)
tenhẽ3 (adv.) - mesmo, antes do que imaginas, de fato, muitíssimo: Og uba îakatu tenhẽpe asé i moetéû? - A gente o honra mesmo como a seu próprio pai? (Ar., Cat., 82); Setá tenhẽ erimba'e opab aîpó 'îarûera... - Eram muitos, mesmo, todos os que diziam isso. (Ar., Cat., 157v); ...I mara'a tenhẽ... - Eles estarão muitíssimo doentes. (Ar., Cat., 161); A'e tenhẽ nde nupãmone. - Vou mesmo castigar-te. (VLB, II, 110)
tanga (s.) - moleza, tenrura, frescor; (adj. - tang) - mole, tenro, fresco: gûyrá-tange'yma (lit., pássaro sem moleza, isto é, pássaro aprumado) - nome de um pássaro da família dos icterídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 192); pitanga (pira + tang + -a: lit. - pele tenra) - criança (VLB, II, 12)
COUTO, José Vieira [1801], Appendice sobre a nova lorena diamantina - descripção das minas contidas no terceiro cofre, e dispostas segundo os systemas de linnco, wallerio, e bergman. In Memória sobre as minas - Capitania de Minas Geraes. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994.
îakurutu (s.) - JACURUTU, INHACURUTU, ave estrigiforme da família dos estrigídeos, do grupo das corujas e dos mochos-orelhudos. Vive nos capões e nas matas. É a maior coruja da América. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 199; VLB, I, 60)
nhanduabiîu (etim. - aranha peluda) (s.) - NHANDUABIJU, escorpião-vinagre, aracnídeo da ordem dos pedipálpidos. "São todos cheios de pêlo e muito peçonhentos, cujas mordeduras são mui perigosas." (Sousa, Trat. Descr., 268)
'yba1 (s.) - guia (p.ex., na dança) (VLB, I, 152); regente (de canto, dança, etc.) (VLB, I, 66); mestre, dirigente, comandante: Apŷaba nd'e'i te'e o 'ybamo nde mo'ama. - Por isso mesmo os homens erigem-te em dirigente deles. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618)
amba'yba (s.) - EMBAÚBA, AMBAÍBA, AMBAÚBA, IMBAÍBA, IMBAÚVA, IMBAÚBA, designação comum a várias espécies de plantas do gênero Cecropia, da família das cecropiáceas. É o alimento preferido do bicho-preguiça, abrigando também formigas agressivas. Tem propriedades medicinais e é também chamada árvore-da-preguiça. (D'Abbeville, Histoire, 220; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 91; VLB, I, 138). Serviam-se os índios de sua madeira para acender o fogo. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273)
îase'o1 (s.) - choro; pranto: Îase'o porarasápe, kunumĩ-poranga ruî. - Suportando o choro, o menino belo está deitado. (Anch., Poemas, 164) ● îase'o monhang - produzir choro, chorar: Ipuku erimba'e îandé rubypy rekóû îase'o monhanga... - Longamente estava nosso pai primeiro chorando. (Ar., Cat., 84); Nd'e'i te'e îase'o anhõ monhanga i mombyke'ymane... - Por isso mesmo será só chorar sem parar. (Ar., Cat.,163); îase'o erekó - ficar em pranto, ter pranto: Aîase'o-rekó. - Fiquei em pranto. (VLB, I, 73); Abá... o a'yra... re'õneme oîase'o-erekó-puku... - O homem, ao morrer um filho seu, fica longamente em pranto. (Ar., Cat., 156)
kupé (s.) - 1) costas (Anch., Arte, 42v); 2) parte traseira; parte de trás (VLB, I, 102) ● kupé koty; kupépe; kupébo - pelas costas, na ausência, à traição (VLB, II, 134); atrás de, na parte anterior de: Xe kupépe é ahẽ aîpó i 'éû. - Na minha aûsência é que ele disse isso. (VLB, I, 48); Xe kupébo aîpó eré. - Pelas minhas costas disseste isso. (VLB, II, 81); Xe kupébo xe mombe'u. - Infamam-me pelas costas. (Anch., Arte, 42v); Xe kupébo erenhe'eng. - Falas pelas minhas costas. (Fig., Arte, 122); ...Ybyrá itá monhangymbyra kupépe so'o mimbaba roka ogûar og upabamo... - Atrás de uma cerca feita de pedras, tomou a casa dos animais de criação como sua pousada. (Ar., Cat., 9v); ó-kupépe - detrás da casa, atrás da casa (VLB, I, 102)
Ocorrem na toponímia de origem tupi muitos nomes que incluem a posposição -pe: Iguape ('y + kûá + -pe: na enseada do rio), Peruíbe (iperu + 'y + -pe: no rio dos tubarões), Sergipe (seri + 'y + -pe: no rio dos siris), etc. Embora pareça estranho para nós, esse era um fenômeno comum naquela língua indígena e de difícil explicação.
kapibara (ou kapi'ibara ou kapi'iûara) (etim. - comedor de capim) (s.) - CAPIVARA, carpincho, o maior roedor do mundo, que pode atingir mais de 50 quilos. Pertence à família dos hidroquerídeos (Hydrochoerus hydrochoeris L.), da América do Sul oriental. Vive à beira dos rios, nos brejos, nas lagoas, sendo grande nadadora, habitando também perto de matas ou cerrados. Sai geralmente à noite, vivendo sempre em bandos. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 230)
kuî (v. intr.) - 1) cair (no sentido de desprender-se, p.ex., a folha, o dente, o fruto, o cabelo, etc.): Okuî rakó amũme 'ybarambûera o 'yba suí 'ybotyramo oîkóbo bé. - Caem, às vezes, os que seriam os frutos das árvores, sendo ainda flores. (Ar., Cat., 157v); 2) nascer: Erenhemombe'upe nde memby-kuî îanondé? - Confessaste-te antes de nascer teu filho? (Anch., Doutr. Cristã, II, 84)
aragûagûá (ou aragûagûa'i) (s.) - ARAGUAGUÁ, ARAGUAGUAÍ, 1) peixe-serra, nome comum a vários peixes marinhos das regiões tropicais, da família dos pristídeos; 2) peixe-espada, espadarte, nome genérico de vários peixes da família dos xifídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 159; VLB, I, 125; II, 70)
NOTA - Daí, no P.B., CANGUÇU (akangusu, "cabeça grande"), outro termo que designa caipira; ACANGAPEVA (akanga + peb + -a, "cabeça achatada"), nome comum a várias espécies de peixes tricomicterídeos; GANGA, CANGA, formas reduzidas de TAPUNHUNACANGA ("cabeça de negro") ou TAPIOCANGA, TAPANHOACANGA, ITAPANHOACANGA, concentração de hidróxidos de ferro na superfície da terra sob a forma de uma carapaça dura, aproveitada, muitas vezes, para se fazerem tijolos; laterita.
NOTA - TAUÁ ou TAGUÁ, no P.B., também podem ser adjetivos, com o sentido de amarelo. Daí, IPECUTAUÁ, pica-pau-amarelo, UIRATAUÁ (ûyrá + taûá, "pássaro amarelo"), nome comum a certas aves passeriformes, icterídeas da Amazônia.
kokoty1 (adv.) - doutra parte (VLB, I, 106); e por outra parte (Fig., Arte, 130); por outro lado, para outra parte (Fig., Arte, 130); para cá, para este lado (VLB, II, 91): ...Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... - E por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que é seu costume. (Ar., Cat., 159v) ● kokoty bé - mais para cá (VLB, II, 91)
muruanha (etim. - biru dentado) (s.) - MERUANHA, BERUANHA, BIRONHA, MURUANHA, BERONHA, variedade de mosca, menor que a mutuca e azulada, da família dos muscídeos. Suga o sangue de animais, provocando feridas. (Sousa, Trat. Descr., 241)
NOTA - O verbo 'u, no deverbal 'ûara / gûara, do tupi, está presente em muitas palavras no P.B.: POTIGUAR (potĩ + gûara, "comedor de camarões"), o natural do Rio Grande do Norte; CERNAMBIGUARA (serinambi + gûara, "comedor de cernambis"), nome de um peixe; BURITIGUARA ("comedor de buritis"), nome de povo indígena extinto; PACAGUARA ("comedor de pacas"), nome de povo indígena extinto; MANIUARA ("comedor de manis"), saúva, var. de formiga; PIRAGUARA ("comedor de peixes"), outro termo para designar o caipira, etc.
Abaremandoava (cachoeira do rio Tietê, SP). De abaré - + ma'enduar + -aba: lembrança do padre. É uma referência a um episódio da vida do padre José de Anchieta: "[...] tem várias cachoeiras, e algumas perigosas, e entre elas um salto Abaremanduaba, por cair nele o venerável Padre José de Anchieta, e ser achado dos índios debaixo da água rezando no Breviário." (desconhecido [n.d.], Cartografia das Monções dos Séculos XVII E XVIII, 118).
ká3 (part. de 1ª p., de h. Expressa decisão, intenção, resolução ou determinação. Muitas vezes não se traduz. Pode vir acompanhada de ênclises, como -pe ou -ne, ocupando, geralmente, o final do período.) - pretendo, hei de, intento: T'anhemombe'une kori bé, te'õ xe resapy'a e'ymebé ká... - Hei de me confessar ainda hoje, antes de me surpreender a morte. (Ar., Cat., 76v); Asó ká. - Intento ir. (Fig., Arte, 139); Xe remo'em ká é aîpó ûi'îabo... - Eu hei de mentir, dizendo isso. (Anch., Diál. da Fé, 215); Asóne-ká. - Hei de ir. (Anch., Arte, 23) (Excepcionalmente pode ser usada com outras pessoas que não a primeira.): ...T'omanõ ká!... - Ele há de morrer! (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); Te'inhẽne oîkóbo ká. - Que o deixem estar. (VLB, I, 92)
Ibitinga (SP). De yby + ting + -a: terra branca. É nome do século XIX: A família Landim fundou a "Vila do Senhor Bom Jesus de Ibitinga" por volta de 1860, ainda na época em que a língua geral meridional era usada na província de São Paulo. (fonte: IBGE)
NOTA - Daí, os nomes de pessoas MOACYR e JURACI (v. p. 386). Foi daí, também, que José de Alencar criou o nome CECI, a personagem do seu romance O Guarani: de sasy, "a dor dele", isto é, a dor de Peri, que, naquele romance, nutria por Ceci um amor não correspondido.
ereroín (v.tr.) - denominar a si, chamar a si, dar o nome a si ● sereroĩmbyra - o que é (ou deve ser) denominado, chamado, etc.: Sereroĩmbyra abá-mondá apŷabaíba... rekoaba é. - Ser chamado ladrão é característica do homem mau. (Ar., Cat., 107v)
bura (s.) - 1) borbotão, borbulho: 'y-bura - borbotão d'água, água que brota para cima (VLB, I, 65); 2) emersão, levantamento, soerguimento, saliência; (adj.: bur) - erguido, saliente: pé-bura - casca erguida (de ferida prestes a sarar); Xe pé-bur. - Eu tenho casca (de ferida) erguida. (VLB, I, 60)
mbour (ou mour ou moú) (v.tr.) - fazer vir, mandar (de lá para cá): Tupã Tuba nde mbouri .... - Deus-Pai fez-te vir. (Anch., Poemas, 100); ...Xe anama xe mbouri. - Minha família fez-me vir. (Anch., Poemas, 154); Oîmbourype erimba'e mba'e-katu amõ ybaka suí o boîaetá supé? - Fez vir outrora alguma coisa boa do céu para seus discípulos? (Ar., Cat., 45); Aîpó maíra... ybytuûasu oîmoú. - Aquele homem branco fez vir a ventania. (Staden, Viagem, 91) ● mbousara - o que faz vir (Fig., Arte, 120); mbousaba - tempo, lugar, modo, etc. de fazer vir (Fig., Arte, 120)
ybyrapinima (etim. - pau pintado) (s.) - IBIRAPINIMA, IBURAPINIMA, nome de uma árvore (Bettendorff [1698], Crôn. do Maranhão, in RIH, LXXII [1909], 33). "...É o pau mais precioso que se tem descoberto em toda a América Portuguesa." (Pe. José de Moraes [1759], livro IV, p. 502)
mobabak (v.tr.) - virar para um e outro lado (p.ex., ao negar), balançar para um lado e para o outro (p.ex., como faz o cão com o rabo): Anheakã-mobabak. - Virei-me a cabeça para um e outro lado (dizendo que não queria). (VLB, I, 48); Aîmobabak xe rûaîa. - Balanço meu rabo. (VLB, II, 95)
aíba1 (s.) - 1) maldade, ruindade; AÍVA, coisa vil (VLB, I, 136; II, 145); ...Îandé aíba t'oîpe'a. - Que afaste nossa maldade. (Anch., Poemas, 182); 2) feiúra: Anotĩ xe aíba. - Envergonho-me de minha feiúra. (VLB, I, 83); 3) grosseria (VLB, I, 151); 4) aspereza (do mato, do caminho) (VLB, I, 44); 5) incompleteza, superficialidade; (adj.: aíb) - 1) mau, ruim, AÍVA, podre (em geral), desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80): Aûîé kunumĩgûasu o ekó-aíbeté oîomim... - Enfim, os moços escondem seus muito maus procedimentos. (Anch., Teatro, 38); I îasear apŷabaíba... - Uniram-se os homens maus. (Anch., Teatro, 54); anhangaíba... - diabo mau (Anch., Poemas, 90); 2) grosseiro, rústico, tosco, bruto: Xe aíbusu. - Eu sou grosseirão. (VLB, I, 151); 3) áspero, impraticável (fal. de mato, de caminho): pé-aíba - caminho impraticável (VLB, I, 45); 4) debilitado, enfraquecido, de saúde corrompida, estragado com o uso: Xe aíb. - Eu estou debilitado. (VLB, I, 83; 130); 5) envelhecido (com o uso; fal. de coisas) (VLB, I, 119); velho: Gûyrá-aibusu - pássaro muito velho (antropônimo) (D'Abbeville, Histoire, 187); 6) incompleto, superficial: mba'easy-aíba - doença superficial, indisposição, doença fraca (VLB, II, 28); (adv.) - 1) mal: Aîkó-aíb. - Vivo mal. (Fig., Arte, 138); Arekó-aíb. - Trato-o mal. (Fig., Arte, 138); 2) falsamente, não completamente, superficialmente: Amanõ-aíb. - Morro falsamente, isto é, desmaio, desfaleço. (VLB, I, 125); Asendub-aíb nde nhe'enga. - Entreouvi tuas palavras (isto é, ouvi-as superficialmente). (VLB, I, 119); 3) com afronta: Aîmondó-aíb. - Mando-o com afronta. (Fig., Arte, 138); 4) tirante a, que tende a: pyrangaíb - tirante a vermelho (VLB, II, 128)
ka'aromosorandyba (etim. - maçaranduba da folha amarga) (s.) - MAÇARANDUBA, nome comum a duas árvores da família das sapotáceas, a Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach., do Leste (ou MAÇARANDUBEIRA) e a Manilkara huberi (Ducke) Chevalieri, do Norte (ou MAÇARANDUBA-DO-PARÁ) (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42)
kyre'ymbaba (s.) - 1) QUIRIMBABA, CURIMBABA, homem valente e bravo, homem poderoso e ditoso nas guerras e capaz de grandes coisas; valentão, magnânimo, venturoso, guerreiro; afouto: ...Tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - Destruiu outrora os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52); ...Kyre'ymbaba mondóbo xe retama pupé. - Enviando homens valentes para dentro de minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Kó a'e xe kyre'ymbaba oîkuá morapiti... - Eis que esses meus valentões sabem assassinar. (Anch., Teatro, 142); 2) valentia, destemor, bravura, audácia: Sekoaba é kyre'ymbaba. - É-lhe natural a valentia. (Anch., Teatro, 164)
posanga1 (m) (s.) - remédio, PUÇANGA, mezinha; antídoto; poção, beberagem, feitiço; remédio preparado pelos pajés; purgante, unguento (VLB, II, 12): mosãngatu - remédio bom (VLB, II, 34); ...Mosanga ra'ã-ra'anga... - Ficando a experimentar poções. (Anch., Teatro, 36); ...mosanga mûeîrabyîara. - remédio portador de cura (Anch., Teatro, 38); Nde îepi oré posanga. - Tu és sempre nosso remédio. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); mboîasy-posanga - remédio contra dor de picada de cobra, antídoto contra veneno de cobra (VLB, II, 137); ...ka'a mosanga ra'anga... - experimentando poções de ervas (Anch., Poesias, 268)
Vamicanga, Córrego do (SP). "Uma legoa mais adiante está a cachoeira Tambatiririca, e com mais 3 legoas de navegação se chega á de Uamicanga." (Vasconcellos de Drummond [1797], p. 240). Nome da língua geral meridional. De uaimĩ* + kanga: osso de velha, talvez o nome de uma árvore de madeira clara, como é a sûasukanga (etim. - osso de veado) (v.), que tem "madeira alvíssima como marfim..." (Sousa, Trat. Descr., 214).
îamakaru (s.) - MANDACARU, JAMACARU - nome dado, no Brasil, às plantas cactáceas do gênero Cereus que têm caule ereto (Cereus jamacaru, DC, Cereus triangularis (L.) Haw). São grandes cactos de porte arbóreo, característicos da caatinga, servindo como alimento para o gado durante as secas. Os Cereus de caule rasteiro têm os nomes vulgares de cumbebe e iumbeba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 126)
Orindiúva (SP). Segundo o IBGE, tal localidade "em 1935, passou a denominar-se Orindiúva (...) devido à grande quantidade, na região, de aroeiras, árvore de lenho muito duro." De urindeúva, um nome da língua geral meridional.
esá (t) (s.) - olho (Castilho, Nomes, 38); vista: Xe resá pupé-katu asepîak nde i mimagûera. - Bem com os meus olhos vi que tu as escondeste. (Anch., Teatro, 176); Nde resá poraûsubara erobak ixé koty... - Teus olhos misericordiosos volta em minha direção. (Anch., Poemas, 146); [adj.: esá (r, s)] - dotado de olho; (xe) ter olho: Xe resá-ynhusu. - Eu tenho olhos esbugalhados. (VLB, II, 56) ● esápe (t) - à vista de, aos olhos de: Tupã resápe ã xe rekóû... - Eis que estou à vista de Deus. (Ar., Cat., 66); Sesé abá pûari nde resápe nhẽ. - Os homens batem nele à tua vista. (Anch., Poemas, 122); gûesá-popybo (ou gûesá-popybonhote) - com o rabo do olho, de esguelha (VLB, II, 56); esá-rorẽ (t) - olhos encovados (VLB, II, 56); esá-tinga (t) - olhos claros (azuis, verdes-azulados, verdes esbranquiçados), tirantes a brancos; olhos enevoados: Xe resá-ting. - Eu tenho olhos claros. (VLB, I, 147); Og uba rupi ahẽ resá-tingamo. - Ele tem olhos claros como seu pai. (VLB, II, 131); esá-îuba (t) - olhos claros, gázeos, tendendo a brancos, zarcos: Xe resá-îub. - Eu tenho olhos zarcos. (VLB, I, 147); esá-kûá-rorẽ (ou esá-kûá-rorẽ-muku) (t) - olhos encovados: Xe resá-kûá-rorẽ. - Eu tenho olhos encovados; esá-kûasó (ou esá-kûasó-puku ou esá-kûarûé-mba'easy) (t) - olhos encovados (como os de um doente) - Xe resá-kûasó-puku. - Eu tenho olhos encovados. (VLB, I, 115); esá-banga (t) - olhos vesgos (VLB, II, 144); esá-oby (t) - olhos enevoados: Xe resá-oby. - Eu tenho olhos enevoados. (VLB, II, 49); esá-tunga (t) - olho quebrado, torto ou todo coberto, mas não vazio (VLB, II, 133); esá-ynhusu (t) - olhos esbugalhados: Xe resá-ynhusu. - Eu tenho olhos esbugalhados. (VLB, II, 56)
OBSERVAÇÃO - O nome da família desse animal é fruto de uma leitura errônea da obra de Marcgrave pelo sábio sueco Lineu. Com efeito, na Historia Naturalis Brasiliae, de Marcgrave, está escrito CAVIA (o que deveria ter sido lido ÇAUIÁ). Foi, também, de uma errônea leitura do naturalista Lineu que se originou a palavra COBAIA, que aparece, naquela obra, junto de ÇAVIÁ, e que entrou para o léxico de muitas línguas do mundo [v. a nota do verbete sobaîa].
tatu (s.) - TATU, nome comum a mamíferos desdentados da família dos dasipodídeos, com muitos gêneros e espécies diferentes. Têm o corpo coberto por uma couraça, formada por placas justapostas. Vivem em galerias abertas no chão. Têm de 4 a 6 filhotes em cada ninhada, em que todos eles têm o mesmo sexo. Têm hábitos noturnos. (D'Abbeville, Histoire, 96v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 231; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 28)
biã2 (part. que expressa idéia adversativa, indicando algo contrário ao que se espera) - 1) mas..., etc., sem resultado: Asó biã. - Fui sem resultado. (Anch., Arte, 21v); Xe n'aîu-potari biã, karaíba moabaîtébo. - Eu não queria vir (mas vim), irando os homens brancos. (Anch., Poemas, 194); Asaûsu biã. - Amo-o (mas nem por isso ele me ama). (Anch., Arte, 21v); Kunhã iké sekóû biã mã! - Oxalá houvesse uma mulher aqui (mas não há)! (Anch., Doutr. Cristã, II, 93); Asé ruba oîmonhang (asé reté) biã, Tupã i monhanga potasápe é. - Nosso pai o fez (i. e., nosso corpo) mas porque Deus o quis fazer, na verdade. (Ar., Cat., 25); Anhanga ratápe ko'yr oîkoba'e, a'epe o só îanondé "-Asó-potar ybakype" e'i biã. - Os que estão no inferno agora, antes de irem para lá diziam (sem resultado): -Quero ir para o céu. (Ar., Cat., 248); 2) embora, apesar de, apesar disso: Xe resy Lorẽ-ka'ẽ, xe morubixaba biã. - Assa-me o Lourenço tostado, embora eu seja um rei. (Anch., Teatro, 90); Oîepé nhõngatu erimba'e karaibebé Tupã nhe'enga abyû biã, sesé nhõ Tupã i moingóû Anhangamo... - Embora tão somente uma vez uns anjos tenham transgredido a palavra de Deus, por causa disso, somente, Deus os fez ser diabos. (Ar., Cat., 112)
mosasãî (v.tr.) - 1) espalhar, dispersar: Oré 'anga t'oîosu, sekopoxy mosasãîa. - Que nossa alma ele visite, dispersando os vícios dela. (Anch., Teatro, 118); 2) tornar notório: -"Emonã îé abá rekóû rãé" erépe, ...sekomemûãagûerĩ mosasãîa? - Disseste: "-Assim é que o homem agiu", tornando notórias suas pequeninas maldades? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
sere'ybuna (etim. - planta escura dos siris) (s.) - SEREIBUNA, mangue-amarelo (Avicennia germinans (L.) L.), planta verbenácea dos manguezais, também conhecida como sereitinga, guapirá, mangue guapirá, mangue branco e MANGUE-SERIVA (Piso, De Med. Bras., IV, 200)
Peri-Peri (serra da BA). De piripiri ou piripirĩ - espécie de junco: "As embarcações, de que este gentio usava, eram de uma palha comprida como a das esteiras de tabúa, que fazem em Santarem, a que elles chamam periperí (...)." (Sousa, Trat. Descr., XIX).
apytera2 (s.) - vértice, ápice, alto, cume (de monte ou outeiro): Ybytyra Olivete seryba'e apyterybo o sy o boîá rerasóû. - Para o alto do chamado Monte das Oliveiras levou sua mãe e seus discípulos. (Ar., Cat., 127) ● apyteri - no vértice, no ápice (Anch., Arte, 41)
nheran (v. intr. compl. posp.) - 1) fazer ataque, fazer agressão, ser bravo (VLB, II, 31), agredir, resistir atacando [a algo ou a alguém: compl. com esé (r, s)]: Anheran sesé. - Resisti-lhe (atacando-o). (VLB, II, 103); Abá marã sekoagûerĩ resé nherane'yma. - Não fazer ataque às pequenas maldades dos homens. (Ar., Cat., 18v); 2) resistir (defendendo-se), opor resistência, estrebuchar (como que para se soltar) (compl. com supé): Anheran i xupé. - Resisti-lhe (defendendo-me). (VLB, II, 103); ...N'onherani xûéne o îoupéne. - Não oporão resistência um ao outro. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); A'epe a'e kunhã n'onherani i momarana? - E aquelas mulheres não resistem, combatendo-os? (Anch., Teatro, 152); O emimotarybo épe erimba'e i nheme'engi og upîarama pé onherane'yma? - Por sua vontade é que ele se entregou aos seus adversários, não resistindo? (Anch., Dial. da Fé, 164) ● onheranyba'e - o que resiste, o que faz ataque, o que agride: Tekokatueté rerekoara onherane'ymba'e. - O que tem a bem-aventurança é o que não agride. (Ar., Cat., 18v-19)
NOTA - Da reduplicação de syryka (syryryka), provém, no P.B. (AM), PINDÁ-SIRIRICA ("anzol escorregadio"), 1) disfarce do anzol com penas de cores; 2) anzol com isca artificial e linha curta. Daí, também, pela língua geral meridional, a palavra XIRIRICA (ou PIRIRICA), trecho de rio onde as águas, dada a inclinação do terreno, correm céleres, e que, muitas vezes, corresponde à última etapa de uma queda-d'água; cachoeira, carreira, correntada, corrida, corredeira, rápido. (in Novo Dicion. Aurélio). PIRIRICA pode ser, também, ligeira ondulação ou tremura à superfície da água, produzida pelos peixes (in Dicion. Caldas Aulete).
ygarapé (etim. - caminho de canoas) (s.) - IGARAPÉ, pequeno rio da bacia amazônica; canal natural que une dois trechos de um mesmo rio; rio pequeno que se aparta dos grandes, retalhando terras e florestas [Ferreira, América Abreviada, in RIH, LVII [1894], 55]
kurupyka'yba (etim. - planta cessa-sarna) (s.) - CURUPICAÍ, leiteira, pau-de-leite, planta da família das euforbiáceas, do gênero Sapium. "As folhas estilam um leite como o das figueiras de Espanha, o qual é único remédio para feridas... "Se lhe picam a casca, deita grande quantidade de visco com que se tomam os passarinhos." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42; VLB, II, 146)
-ba'e (ou -yba'e após temas terminados em consoante) (suf. nominalizador): oîukaba'e - o que mata; osoba'e - o que vai (Anch., Arte, 30v); ...Santa Maria seryba'e... - a que tem nome Santa Maria (Ar., Cat., 22v); Abápe aîpoba'e oîmonhang erimba'e...? - Quem fez isso outrora? (Ar., Cat., 25)
-sûer1 (suf.) (Têm os alomorfes -sûé, -ixûer e -xûer.) - 1) quase, por pouco que: A'arixûer. - Quase caí. (Fig., Arte, 140); Amanõsûer. - Quase morri. (Fig., Arte, 140); Aîukasûer. - Quase o matei. (VLB, I, 19); Asosûé. - Quase fui. (Anch., Arte, 25v); 2) haveria de: Aîukaxûer. - Haveria de o matar; A'arixûer. - Haveria de cair. (VLB, II, 61) ● -sûerĩ - por um triz que não... (VLB, I, 19)
NOTA - Daí, no P.B., TIJUPABA (te'yî + upaba, "lugar de se hospedar a multidão"), cabana feita na mata para abrigo provisório de muitas pessoas que a atravessam; qualquer palhoça ou rancho feitos em meio a uma roça, um seringal, uma mata, para proteger e abrigar pessoas provisoriamente. Daí, também, o nome da localidade de IGARAPAVA (SP) (v. p. 386).
e'yîa (t) (s.) - multidão, bando, ajuntamento, grande número (Fig., Arte, 5; VLB, I, 135); cardume (VLB, I, 67): T'asóne parati'ype, tupinakyîa re'yîpe... - Hei de ir para o rio dos paratis, ao bando dos tupiniquins. (Anch., Teatro, 182); Mamõpe erimba'e te'yî-katupabẽ Îandé Îara rerasóû...? - Para onde a multidão numerosíssima levou Nosso Senhor? (Ar., Cat., 58); itá re'yîa - ajuntamento de pedras (VLB, I, 29); [adj.: e'yî (r, s)] - numerosos, muitos: Se'yî nde rekasara... - São numerosos os que te procuram. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); ...Se'yî i kuabypyre'yma Tupã i monhangara remingûaba nhõ. - São muitos os não conhecidos que Deus somente, o criador deles, conhece. (Ar., Cat., 37); Oré re'yî. - Nós somos numerosos. (VLB, I, 51)
NOTA - Daí provêm, no P.B., BURARA (mby + rara, "prende-pés"), 1) emaranhado produzido pelos ramos caídos no meio da mata, ou árvore tombada que dificulta o trânsito; 2) pequena fazenda ou roça de cacaueiros; 3) lamaçal no interior das plantações de cacau; COIVARA (kó + 'yb + ara, "cata-paus de roça") - 1) restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada, na roça à qual se deitou fogo, e que se juntam para serem incineradas a fim de limpar o terreno e adubá-lo com as cinzas, para uma lavoura; 2) técnica indígena de manuseio da terra, que consiste em queimar restos de troncos, galhos de árvores e mato para preparar a terra para a lavoura, limpando-a; 3) (MA) galhadas e troncos de árvores derrubados pelas cheias e que descem rio abaixo (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Foi de uma errônea leitura deste termo pelo naturalista Lineu que se originou a palavra COBAIA, que entrou no léxico de muitas línguas do mundo. Com efeito, em Marcgrave lê-se CAVIA COBAIA (a grafia correta deveria ser ÇAUIÁ ÇOBAIA, isto é, o sauiá que é da banda de além, ou seja, que não é originário do Brasil, o porquinho-da-índia, oriundo da América Espanhola andina (as Índias Ocidentais). Lineu pensou que COBAIA fosse o nome do animal, quando, na verdade, significava outra coisa, como vimos.
Canhima (arroio do RS). De kanhema: sumiço, sumidouro, abertura por onde um rio desaparece terra adentro, ressurgindo em outros sítios mais baixos; escoadouro. Termo do tupi antigo que assumiu tal sentido na língua geral meridional. No nheengatu, sumidouro é mucanhemotyua, termo que também inclui o verbo kanhem (sumir), do tupi (Stradeli, p. 333).
Itobi (SP). Nome atribuído artificialmente em 1898: "Rio Verde passou a ser chamada Itobi, que, em tupi-guarani, significa água corrente verde ou rio verde." (fonte: IBGE). "Rio verde", em tupi antigo, é 'y-oby. A localidade deveria chamar-se, pois, Iobi e não Itobi.
posyîa (m) (s.) - peso, carga: Nd'e'i te'e sero'a-ro'a... i posyîa suí. - Por isso mesmo ficava caindo com ela por causa do seu peso. (Ar., Cat., 61v); (adj.: posyî) - pesado, grave: Xe rekoposyîkatu. - Eu tenho atos muito graves (isto é, muito sérios); Xe nhe'ẽposyî. - Eu tenho palavras pesadas (isto é, sérias, com pesadas reflexões). (VLB, I, 74); Na xe rekoposyî. - Eu não sou grave nos meus atos. (VLB, II, 21)
ebanõî (adv.) - daí, dali, desse lugar, dessa parte (onde tu estás) (VLB, I, 89): Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanõî suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v)
Anhanga (s.) - ANHANGA, ANHANGÁ, 1) nome de entidade sobrenatural entre os índios (Staden, Viagem, 138): Anhanga koîpó te'õ koîpó Îurupari rekyîa. - Invocando o Anhanga ou a morte ou o Jurupari. (Ar., Cat., 70v); 2) diabo, demônio, em sentido genérico: T'aroŷrõngatu anhanga... - Que deteste muito o diabo. (Anch., Poemas, 98); Îori anhanga mondyîa oré moaûîé suí! - Vem espantar o diabo para que não nos vença! (Anch., Poemas, 102); Aîmosem anhanga xe îosuí. - Lanço o diabo fora de mim. (Fig., Arte, 81) ● anhanga ratá - fogo do diabo; inferno: -A'epe i 'anga mamõ i xóû? -Anhanga ratápe. - E sua alma para onde foi? - Para o inferno. (Ar., Cat., 58-58v)
na (ou nda) (part. de negação. É acompanhada pelo suf. -i ou pela part. ruã, dependendo do termo negado.) - 1) não: N'i nhyrõî. - Não perdoa. (Ar., Cat., 89v); Na xe rorybi. - Eu não estou feliz. (Anch., Arte, 34v); Na emonani xûémo xe sórememo. - Não seria assim se eu fosse. (Fig., Arte, 143); ...Na xe reroŷrõî îepé. - Tu não me detestas. (Anch., Poemas, 96); N'asó-potari mamõ... - Não quero ir para longe. (Anch., Poemas, 100); Na nde ruã-te...? - Mas não foste tu? (Anch., Teatro, 176); Na mboby ruã. - Não são poucos. (Anch., Teatro, 168); Na tenhẽ ruã... - Não foi à toa... (Ar., Cat., 100); Na marã xe rekóreme ruã. - Não porque eu fizesse algum mal. (VLB, II, 46); Na Tupã ruã-tepe a'e? - Mas ele não era Deus? (Ar., Cat., 43); N'i potare'ỹme ruã - Não porque não queira. (Anch., Arte, 34v); Na ixé ruã. - Eu não. (VLB, I, 30); 2) para que não, para não, senão: Taté, taté, kunumĩ, na nde nupãî karaíba... - Cuidado, cuidado, menino, para que não te castigue o homem branco. (Anch., Poemas, 194); Xe renõî umẽ îepé i xupé na xe îukáî. - Não me chames tu pelo nome diante dele senão me mata. (Anch., Teatro, 32, 2006); Penhemongatu mamõ xe suí n'opoapyî. - Sossegai longe de mim senão vos queimo. (Anch., Poesias, 56) ● na... ruã ymã, na... ruã-eté-ymã (ou na... ruã mã ou na... ruã-eté... mã) - tomara fosse, oxalá fosse: Na xe ruba ruã ymã; Na xe ruba ruã iké ymã - Tomara fosse meu pai aqui; Na xe ruba ruã iké turi mã. - Oxalá fosse meu pai que para cá viesse; Na xe ruã-eté ikó mã. - Oxalá não fosse eu. (VLB, II, 47); na... îanondé ruã - não que, não antes que: ...Na abá o aûsubar-y îanondé ruã, na abá o pysyrõ îanondé ruãne... - Não que alguém se compadecerá deles, não que alguém vá libertá-los. (Ar., Cat., 163v); na... e'ymi - não deixar de: N'aîukae'ymi. - Não o deixo de matar. (Fig., Arte, 34); N'aîmonhange'ymi. - Não o deixo de fazer. (Fig., Arte, 34); N'aîpotare'ymi. - Não o deixo de querer. (Anch., Arte, 34v); N'aîpotare'ymi xûéne. - Não deixarei de o querer. (Anch., Arte, 34v)
NOTA - A palavra PIQUIRA, no P.B., designa também: 1) cavalo de pequena estatura; 2) indivíduo insignificante; 3) homem baixinho; 4) miúdo (falando de peixe); 5) uma variedade de lambari (in Dicion. Caldas Aulete). Daí, também, o nome geográfico PIQUERI (v. p. 386).
NOTA - Daí também provém, no P.B., a palavra JAGUATIRICA ("onça que se afasta"), nome de um animal felídeo que não ataca o homem, como o faz a onça. Frei Arronches confirma tal etimologia na língua geral setentrional: "APARTAR, afastando - moteric".
potyrõ (m-) (v. intr.) - trabalhar em conjunto, em grupo: ...Serobîasare'yma potyrõû iî ybõîybõmo... - Os que não acreditavam nele trabalharam em conjunto, ficando a flechá-lo. (Ar., Cat., 3v); Erepotyrõpe 'aretéreme? - Trabalhaste em conjunto por ocasião dos feriados? (Anch., Doutr. Cristã, II, 85)
tenipó (conj.) - mas antes (VLB, II, 32): ...Opá yby rupi te'õmbûera rekobé-îebyri ko'yténe. Oîkoé-koé tenipó o îosuí: i angaturamba'e reté i pokangatu kûarasy sosé oberapa... - Por toda a terra os cadáveres voltarão a viver, enfim; mas, antes, estarão diferindo uns dos outros: os corpos dos que são bons serão sutis, brilhando mais que o sol. (Ar., Cat., 160v-161)
NOTA - Daí, TIJUPABA (te'yî + upaba, "pousada da multidão"), 1. cabana improvisada de índios, aberta dos lados, para abrigo de muitos deles durante suas travessias pela floresta; 2. palhoça que os trabalhadores constroem no meio da mata, nos seringais, roças, etc.
Abaiara (CE). De abá + îara: o senhor dos homens. Nome atribuído artificialmente para homenagear D. Pedro II: "O município foi denominado primitivamente São Pedro, depois Pedro Segundo com o Decreto-Lei nº 448, de 20 de dezembro de 1938 e, posteriormente denominou-se Abaiara, pelo Decreto-Lei nº 1.114, de 31 de dezembro de 1943. (fonte: IBGE).
NOTA - JACUMÃ, no P.B. (Amaz.), designa também 1) pá comprida que, em algumas embarcações, serve no lugar do leme; 2) governo de uma canoa com um remo de mão em uma de suas extremidades: "Sentado ao JACUMÃ, dava grandes remadas espaçadas" (in José Veríssimo, Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Daí, no P.B., TIJUPABA (te'yî + upaba, "pousada da multidão"), 1. cabana improvisada de índios, aberta dos lados, para abrigo de muitos deles durante suas travessias pela floresta; 2. palhoça que os trabalhadores constroem no meio da mata, nos seringais, roças, etc.
NOTA - Daí, no P.B., QUIRIRI, usado na Amazônia e significando "calada da noite", "silêncio noturno" (PDBLP, p. 1020): "...Tudo caiu em enorme silêncio, .... esse silêncio noturno das nossas regiões a que o tapuio chama, talvez imitativamente, QUIRIRI." (José Veríssimo, Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, o nome geográfico IQUIRIRIM (nome de rua de São Paulo) (v. p. 386).
katûaba (s.) - excelência, boa qualidade, virtude, bondade: Katunhẽ eîerurébo oré katûagûama ri! - Eia, roga por nossa virtude! (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); Abámo... mba'e-katu 'uagûera n'oîkuabi xûé... sé katûagûera resé o esaraîamo...? - Alguém não reconheceria ter comido algo bom, esquecendo-se da excelência de seu sabor? (Ar., Cat., 88v)
monẽ1 (part.) - mas antes (Fig., Arte, 143): Peteumẽ xe îabé peîkó-potá, ...xe monẽ pe îabé gûitekóbomo opá mba'easy aîporará ikó 'ara pupé Tupã monhyrõmomo! - Guardai-vos de querer ser como eu, ...mas, antes, se eu estivesse como vós, todas as coisas dolorosas sofreria neste mundo para aplacar a Deus. (Ar., Cat., 165v)
NOTA - Daí, no P.B., AMOIPIRA (amõ + oŷpyra, "os que ficaram no lugar de outros"), povo indígena extinto, de língua do tronco tupi, que vivia na Bahia, às margens do rio São Francisco. Seu nome indica que deve ter ocupado a região de um povo indígena anterior, que a abandonou.
kopa'yba (s.) - 1) COPAÍBA, COPAIBEIRA, pau-de-óleo, bálsamo, árvore frondosa de madeira avermelhada da família das leguminosas (Copaifera llangsdorffii Desf.). Produz um óleo amarelado de propriedades medicinais, bem viscoso. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 130). "...Para feridas é muito estimado e tira todo sinal. Também serve para as candeias, e arde bem." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 41); 2) Designa também a madeira e o óleo ou resina obtidas da seiva de várias das árvores desse gênero, especialmente da copaíba-verdadeira e da copaíba-vermelha. (Piso, De Med. Bras. IV, 178; Sousa, Trat. Descr., 202)
kamasary (etim. - líquido dos olhos dos seios) (s.) - CAMAÇARI, 1) espécie de árvore combretácea (Terminalia fagifolia Mart.); 2) espécie de árvore clusiácea (Caraipa densiflora Mart.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 102). "Cria-se entre a casca e o âmago desta árvore uma matéria grossa e alva, que pega como terebintina... e, se toca nas mãos, não se tira senão com azeite." (Sousa, Trat. Descr., 215)
akaîá1 (ou kaîá) (s.) - ACAIÁ, CAJÁ, CAJAZEIRA, frondosa árvore anacardiácea (Spondias mombin L.), cujo fruto, o cajá, é muito apreciado, sobretudo para o preparo de doces. Também é chamado CAJAZEIRO, CAJÁ, CAJAÍBA, ACAJAÍBA, CAJAZEIRA, taperebazeiro, taperebazeira, taperibazeiro. (D'Abbeville, Histoire, 223; Hist. Nat. Bras., 129)
samambaîa (etim. - corda de pesos, i.e., corda de brincos, de pingentes) (s.) - SAMAMBAIA, SAMAMBAIA-DO-MATO-VIRGEM, gleiquênia, 1) planta bromeliácea, Tillandsia usneoides (L.) L., segundo a Flora de Martius; 2) fetos xerófilos da família das gleiqueniáceas, do gênero Dicranopteris, muito ornamentais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 46)
a'epe1 (adv.) - 1) ali, aí (Fig., Arte, 129): Setama rera Mboîy, a'epe i moîypa, i gûabo. - O nome da terra deles é Mboijy, ali assando-os e comendo-os. (Anch., Teatro, 140); ...A'epe kunhãmuku repenhana, i potasápe. - Ali atacando as moças, por desejá-las. (Anch., Teatro, 34); ...Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'o-îa'oû...? - Por acaso todos os que estavam ali ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v); 2) para ali, para lá: ...a'epe o só îanondé... - antes de irem para lá (Ar., Cat., 1686, 248); 3) por ocasião disso, então: Marãpe Herodes serekó-ukari a'epe? - Como Herodes mandou tratá-lo então? (Anch., Diál. da Fé, 181)
sebypyra (ou sepepyra ou sapopyra) (s.) - SIBIPIRA, SUCUPIRA, designação comum a três árvores da família das leguminosas (Bowdichia virgilioides Kunth., Diplotropis racemosa (Hoehne) Amshoff e Diplotropis brasiliensis (Tul.) Benth.), da floresta densa e úmida, que se caracterizam pela madeira castanho-escura, de fibras amarelas, muito dura e pesada, utilizada em construção e marcenaria. São também conhecidas como SAPUPIRA-DA-MATA, SAPUPIRA e SICOPIRA. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 100)
NOTA - No P.B., JIRAU tem, além dos sentidos acima, mais os seguintes: 1) armação de madeira sobre a qual se edificam as casas a fim de evitar a água e a umidade; 2) (p. ext.) qualquer armação de madeira em forma de estrado ou palanque; 3) cama de varas; 4) (arquit.) no interior de um compartimento, piso a meia altura que cobre, apenas parcialmente, a sua área; 5) sobreloja (in Novo Dicion. Aurélio). "JIRAO chamam no Amazonas ũa como grade de paos levantados da terra, onde costumam secar carnes, peixe, ou qualquer outra cousa (...)" (Pe. João Daniel [1757], p. 300)
îepé6 (adv.) - certamente, sem dúvida, na verdade, com efeito: Xe resemõ îepé itaîuba. - Sobra-me dinheiro, certamente. (VLB, I, 17); Aînhe'engapypyk îepé. - Argumentei contra suas palavras, com efeito. (VLB, I, 17); ...Îamanõ îepémo serã sepîakagûera abá supé mombe'u e'ymebémo. - Morreríamos certamente antes que contasse para as pessoas o que viu. (Ar., Cat., 165v); Kó nhõ anosẽ, îepé, moxy suí. - Somente estas, na verdade, retirei dos malditos. (Anch., Poemas, 150)
Daí, também, no P.B. (MG), TAPUNHUNACANGA ("cabeça de negro") (ou TAPANHOACANGA, ITAPANHOACANGA, TAPIOCANGA, GANGA, CANGA), concentração de hidróxidos de ferro na superfície da terra sob a forma de uma carapaça dura, aproveitada, muitas vezes, para se fazerem tijolos; laterita.
tyba2 (s.) - 1) ajuntamento, reunião, multidão, TIBA, TUBA, conjunto, abundância: Pa'igûasu irũndyba... - a multidão de companheiros do provincial (Anch., Poemas, 114); takûarusutyba - ajuntamento de taquaras grandes (Staden, Viagem, 116); tá-tyba - ajuntamento de aldeias (VLB, II, 84); Rerityba - "ajuntamento de ostras", nome de um lugar (Anch., Poemas, 112); 2) existência, ocorrência: -Nd'e'ikatupe amoaé abá oporomongaraípa abaré suí? -E'ikatu, abaré tybe'ỹme é. -Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? -Pode, no caso de não existência, mesmo, de padre. (Ar., Cat., 80v)
Irauçuba (CE). Nome atribuído artificialmente em 1899: "A partir de junho de 1899, o desembargador Álvaro de Alencar, de acordo com o povo, conseguiu mudar o topônimo para Irauçuba, que na língua indígena significa "amizade". (fonte: IBGE). Na verdade, o nome correto deveria ser Ioauçuba (VLB, I, 34).
poî (-îo-) (v.tr.) - 1) alimentar, dar de comer a, sustentar: Ambyasybora poîa. - Dar de comer aos famintos. (Ar., Cat., 18); ...I poîa-mirĩ nde kama pupé. - Alimentando-o um pouco em teu seio. (Anch., Poemas, 118); Eîori xe poîkatûabo. - Vem para me alimentar bem. (Anch., Poemas, 134); Aruretá kó reri, i pupé nde poî-potá. - Trouxe muitas destas ostras, com elas querendo alimentar-te. (Anch., Poemas, 150); 2) fazer oferendas a: ...Îatyby-poî ma'e amõ nonga... - Fazemos oferendas às sepulturas, pondo algumas coisas (nelas). (Ar., Cat., 8v); 3) convidar para comer (Anch., Arte, 52v); 4) repartir com (alguma coisa: compl. com pupé): Aîopoî ahẽ so'o pupé. - Reparti com ele a carne. (VLB, II, 66) ● emipoîa (t) - o que alguém alimenta, o que alguém convida para comer, etc.: xe remipoîangaîbara - o magro que convido para comer (Anch., Arte, 52v); xe remipoîmembeka - o fraco que convido para comer (Anch., Arte, 52v); i poîpyra - o que é (ou deve ser) alimentado, sustentado, etc. (Fig., Arte, 107); poîtara - o que alimenta, etc. (Fig., Arte, 119); poîtaba - tempo, lugar, modo, etc. de alimentar, de sustentar, etc. (Fig., Arte, 119)
NOTA - Daí provém, no P.B. (SP), a palavra PIRACICABA, lugar que, tendo uma cachoeira ou qualquer outro acidente natural, impede a passagem dos peixes, sendo, assim, excelente pesqueiro (in Novo Dicion. Aurélio). Tal palavra surgiu mais tardiamente, na fase da língua geral meridional (século XVIII), pois, em tupi antigo, chegar por água, como fazem os peixes, é îepotar e syk é chegar por terra. No século XVIII tal distinção não existia mais. Foi justamente nesse século que foi fundada a povoação de PIRACICABA (SP), em 1767, que recebeu esse nome em referência às grandiosas quedas que bloqueiam a piracema no rio que por lá passa. Daí, também, no P.B., MUCICA (mo- + syk + -a, "o fazer aproximar-se", "puxada") (N.E.), empuxão que o pescador dá à linha, quando sente que o peixe mordeu a isca; puxão dado ao boi pela cauda para o derrubar; empuxão dado à linha do papagaio de papel. (in Dicion. Caldas Aulete)
NOTA - Por seu próprio sentido, a posposição -PE (em, para, a) acompanha muitos nomes de lugares em tupi, como, p.ex., JAGUARIBE (îagûar + 'y + -pe, "no rio das onças"). Pode parecer estranho um lugar chamar-se "No Rio das Onças", mas o emprego de -PE com topônimos é uma característica dessa língua e de explicação não muito clara. Alguns dos inúmeros nomes próprios de origem tupi que terminam em -PE ou -BE no Brasil são: PERUÍBE, BEBERIBE, JACUÍPE, MERUÍPE, PIRAGIBE, CAPIBARIBE, SERGIPE, COTEGIPE, IGUAPE, MAPENDIPE, etc.
ekoaba1 (t) (s.) 1) modo de ser, essência, natureza: Sekoaba nhẽpe? - É o modo de ser deles? (ou É natural deles?) (Anch., Doutr. Cristã, I, 158); Sekoaba nhẽ. - É natural dele (p.ex., um sinal que tem no rosto, que sempre ali esteve, que sempre foi assim e não é coisa nova). (VLB, II, 48); 2) característica: ...apŷabaíba... rekoaba é... - característica de homem mau (Ar., Cat., 107v)
Jaguariúna (SP). "Jaguariúna iniciou-se às margens do rio Jaguari (...). Em 1944 o Distrito de Jaguari alterou seu nome para Jaguariúna (...) que significa "rio da onça preta", segundo Theodoro Sampaio." (fonte: IBGE). A etimologia acima fere a gramática da língua tupi. Jaguariúna só poderia significar rio preto das onças. Rio da onça preta, em tupi clássico ou nas línguas gerais dela originárias, seria Jaguaruni.
Marabá (PA). De maraba - filho de francês com índia; bastardo (D'Evreux, Viagem, pp. 142-143). O nome foi atribuído artificialmente a cidade do Pará: "Em 1897, Francisco Coelho da Silva, maranhense residente em Grajaú, acreditando poder enriquecer com o comércio do caucho, transferiu-se para a colônia. Um ano mais tarde, em desavença com o dirigente da colônia, foi estabelecer-se na foz do Itacaiúnas. À sua nova moradia deu o nome de Marabá, em lembrança de sua antiga casa comercial em Grajaú." (fonte: IBGE). Esse nome, contudo, foi inspirado num poema de Gonçalves Dias intitulado Marabá: Eu vivo sozinha, ninguém me procura! / Acaso feitura não sou de Tupá! / Se algum dentre os homens de mim não se esconde: / — "Tu és", me responde, "Tu és Marabá!"
'ẽ (ou 'em) - (v. intr.) - 1) manar, vazar, verter-se, entornar-se, fazer água (p.ex., o navio): O'ẽ. - Faz água. (VLB, I, 136); ...Aûnhenhẽ 'y sugûy abé i xuí i 'emi, osyryka. - Imediatamente, água e seu sangue dele vazaram, escorrendo. (Ar., Cat., 93); 2) poluir-se, ter polução por excitação sexual: O'ẽpe erimba'e nde membyra nde i potasápe? - Poluiu-se outrora teu filho por tu o desejares? (Anch., Doutr. Cristã, II, 97) ● 'ẽaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de verter, de manar, de vazar: Minusu pupé iî yké kutuki... aûnhenhẽ 'y sugûy abé i xuí i 'ẽaûama. - Com uma lança espetaram seu flanco, causa de verterem imediatamente dele água e seu sangue. (Anch., Diál. da Fé, 192)
'apiramõ (etim. - molhar a pele da cabeça) (v.tr.) - 1) mergulhar; regar, aguar (p.ex., a casa) (VLB, I, 24; II, 99); 2) molhar a cabeça de; batizar: 'Y pupé asé 'apiramõû. - Com água nos molham a cabeça. (Ar., Cat., 80v); Marãîasûaramo temõ abaré xe 'apiramõneme xe angaîpab'e'ymebé xe re'õ mã!... - Ah, que bom seria minha morte ao me batizar o padre, antes de eu pecar. (Ar., Cat., 1686, 249)
mombab1 (ou mombá) (v.tr.) - destruir; esmagar; arrasar, acabar com, fazer matança de (como nas guerras) (VLB, II, 33): Eîori, muru mombapa... - Vem para destruir o maldito. (Anch., Poemas, 132); ...Îamombá taba îandune. - Destruiremos a aldeia, como de costume. (Anch., Teatro, 24); ...Tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - Destruiu outrora os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52)
Às vezes houve dificuldades em se saber se uma palavra provinha do tupi antigo ou se era herança das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Quando o termo passou inalterado do tupi quinhentista e seiscentista para aquelas outras línguas, somente um estudo histórico poderia, talvez, dirimir tais dúvidas. Com relação à língua geral meridional, escassíssimos são os textos escritos nela. O que podemos dela saber provém principalmente dos nomes geográficos e dos brasileirismos meridionais. Assim, muitas tentativas de resgate de seus vocábulos não poderiam passar do plano da hipótese.
tamũîa1 (ou tamuîa ou tamỹîa) (etim. - os avós) (s. etnôn.) - TAMOIO, nação indígena que habitava a Baía da Guanabara e o Vale do Paraíba (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 122): ...Xe tamũîusu Aîmbiré... - Eu sou o grande tamoio Aimbirê. (Anch., Teatro, 28); São Sebastião... tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - São Sebastião destruiu os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52)
marãete'ĩ?2 (interr.) - como? em que condição? de que maneira?: Marãete'ĩpe Jesus o enosẽme? - Como estava Jesus quando ele o fez sair?... (Ar., Cat., 60v); Marãete'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanoĩ suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v) ● Marãete'ĩ-pipó? - Como parece?: Marãete'ĩ-pipó peẽmo? - Como vos parece? (Ar., Cat., 56v)
Aricanduva (córrego de SP). O nome aricá aparece registrado em Libanio Augusto da Cunha Mattos [1786], Diario, p. 324): "Enfim com quatro legoas e meia de viagem pousámos defronte da boca do Aricá-assú, rio pequeno que entra no Cuyabá pelo lado de nascente (...)". Deve ser o nome, na língua geral meridional, de um peixe. Assim, Aricanduva significaria ajuntamento de aricás.
a'e2 (dem. pron. e adj.) - 1) - esse (es, a, as); aquele (es, a, as), isso, aquilo: A'e ré kori îasó tubixaba akanga kábo. - Depois disso, hoje vamos quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); N'aîkuabi a'e abá... - Não conheço esse homem... (Ar., Cat., 57); ...A'epûera nongatûabo é îandé îabé apŷabetéramo i nhemonhangi erimba'e... - Para acalmar aquele, como nós ele se fez homem verdadeiro. (Ar., Cat., 84); 2) ele (es, a, as): Osobá-syb aó-tinga pupé; a'e resé sobá ra'angaba pytáû. - Limpou seu rosto com um pano branco; nele ficou a imagem de seu rosto. (Ar., Cat., 62); Karaibebé a'e, moroîubyka puaîtara. - Ele é o anjo que encomenda o enforcamento. (Anch., Teatro, 62); 3) aquele (es, a, as) que: A'e asetobapé-pyténe... peîpysy-katu kori, i popûá... - Aquele que eu beijar na face, agarrai-o, atando-lhe as mãos. (Ar., Cat., 75) ● a'erama ri - para tanto, para isso: A'erama ri Tupã asé rekomonhangaba resé... o ma'enduaramo... - Para tanto, lembra-se a gente dos mandamentos de Deus. (Bettendorff, Compêndio, 92); a'e îabé - outro tanto; da mesma maneira (VLB, II, 61); a'e îá - assim, desse modo: A'e îá bépe gûá i py rerekóû, itapygûá pupé i moîáno? - Assim também fizeram com seus pés, pregando-os com cravos? (Anch., Diál. da Fé, 189)
NOTA - Daí, no P.B. (N.), TUPÉ, esteira geralmente feita de talas de purumã, na qual se espalham os produtos da lavoura, para secarem, e empregada também como tolda de canoa, além de ter uso doméstico (in Novo Dicion. Aurélio): "Rosinha... sentou-se num TUPÉ, no chão, junto da sua almofada de renda." (José Veríssimo, in Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio).
maíra2 (s.) - 1) homem branco: ...Na satãngatuî maíra! - Não é muito forte o homem branco. (Anch., Teatro, 16); Aîpó maíra... ybytuûasu oîmoú. - Aquele homem branco fez vir a ventania. (Staden, Viagem, 91); 2) francês: "Que veut dire que vous autres Mairs et Peros, c'est à dire François et Portugais, veniez de si loin querir du bois pour vous chauffer?" - Por quê vocês, maíras e perós, quer dizer, franceses e portugueses, vêm de tão longe procurar madeira para se aquecerem? (Léry, Histoire, cap. XIII)
Itaparica (ilha do litoral baiano). De itá + pirik + -a, registrado na forma iterativa piririk (VLB, I, 133): pedra faiscante, isto é, pederneira. Mas a forma simples pirik também era usada com esse sentido: Frei Vicente do Salvador (in História do Brasil, livro IV, cap. xxxviii), menciona o nome "João Vaz Tataperica". Tataperica significa fogo faiscante.
pysaîé (s.) - 1) alta noite (Fig., Arte, 128; VLB, II, 145); 2) meia-noite: Asé n'omba'e-'u-angáî pysaîé bé... - A gente não come absolutamente nada desde a meia-noite. (Bettendorff, Compêndio, 87); (adv.) a altas horas: A'e ré, moxy rekóû pysaîé okybỹîa asá-asapa... - Depois disso, os malvados estão, a altas horas, atravessando o interior das ocas. (Anch., Teatro, 150) ● pysaîé-katu ké-gûyrybo - "sob o sono da bem alta noite", isto é, nas horas mortas da noite, em que todos dormem (VLB, I, 32); pysaîe'ĩ (ou pysaîekatu'ĩ) - horas mortas da madrugada, modorra (VLB, II, 40)
Dada a magnitude da influência do tupi antigo na onomástica brasileira, julgamos importante apresentar uma relação, ainda que limitada, de topônimos e antropônimos que tenham origem naquela língua e nas que se desenvolveram historicamente dela, a saber, a língua geral setentrional, a língua geral meridional (uma variante desta, com influências guaranis) e o nheengatu, ainda falado no Vale do Rio Negro, no estado do Amazonas. Daí provêm mais de noventa e cinco por cento dos nomes geográficos brasileiros de origem indígena. As outras línguas indígenas brasileiras têm reduzida participação no sistema toponímico do Brasil.
abiîu1 (t) (s.) - 1) pêlo de pano, felpa (VLB, I, 144); 2) fibras de madeira de má qualidade ou serrada com serra ruim, que tem uma certa frisa por cima (VLB, I, 144); 3) penugem fina de ave nova (VLB, I, 113); 4) raspa ou raspas como da bota ou de qualquer couro (VLB, II, 97) ● aoba rabiîu - felpas de pano usadas para curar feridas, como se faz hoje com flocos de algodão; sabiîuakytãba'e - o que é felpudo (VLB, I, 144)
ybyrarema (etim. - madeira fedorenta) (s.) - IBIRAREMA, nome comum às seguintes plantas fitolacáceas: 1) a Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms, chamada também GORAREMA, GURAREMA, GUAREMA, UARAREMA, GUARAREMA ou pau-d'alho. Quando cortada sua madeira, exala fedor terrível. (Sousa, Trat. Descr., 222); 2) o cipó-d'alho, Seguiera americana L. Essas plantas "a tal ponto rivalizam com as qualidades do alho que, tocadas ainda de mui leve, recendem de acentuadíssimo cheiro bosques e casas inteiros..." (Piso, De Med. Bras., 201)
NOTA - Daí, no P.B. (Amaz.), GARERA (ygar-ûera, "o que foi canoa"), utensílio de madeira, parecido a um cocho, no qual se rala mandioca: "...os apetrechos da fabricação da farinha, os ralos, as gurupemas, os tipitis, as GARERAS ou cochos, umas como ubás a que houvessem cortado as extremidades, onde ralam a mandioca." (José Veríssimo, in Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, IGARUANA (ygara + -ygûana, "morador de canoa"), canoeiro navegador.
îakuakanga (etim. - cabeça de jacu) (s.) - 1) JACUANGA, JACUACANGA, nome vulgar de plantas costáceas, dentre as quais se destaca a espécie Costus spicatus Willd., erva cultivada, ornamental, com propriedades diuréticas e febrífugas, também conhecida como cana-do-brejo, cana-do-mato, cana-roxa, cana-de-macaco, caatinga, paco-catinga, periná, ubacaiá; 2) fedegoso, planta borraginácea (Heliotropium indicum L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 6; Piso, De Med. Bras., IV, 195)
etapokanga (t) (s.) - pouquidão (em relação a outra coisa); [adj.: etapokang (r, s)] - relativamente poucos, poucos em relação a algo que se toma por referência (e não absolutamente), raro: ...Gûyrá setapokang... - Os pássaros eram relativamente poucos. (Ar., Cat., 41v); Oré retapokang. - Nós somos poucos (em relação ao número de pessoas que seriam necessárias). (VLB, II, 83) ● setapokãba'e - o que é raro, poucas vezes visto ou que se não acha a cada passo (VLB, II, 96)
poru1 (ou puru) (v.tr.) - 1) usar, empregar (Anch., Arte, 2v; Fig., Arte, 111): Mosangape ereîpuru...? - Usaste feitiço? (Anch., Teatro, 12); 2) praticar, exercitar: Eîporu nde nhembo'eagûera. - Pratica o que tu aprendeste. (VLB, I, 131); Eîori sa'anga... t'oîpuru tekó-poxy. - Vai para prová-los, para que pratiquem maus atos. (Anch., Teatro, 16); Anhandu beémo erimba'e angûama mã, pe 'erama purûabo! - Ah, se eu tivesse percebido outrora isso, praticando o que dizíeis! (Ar., Cat., 165v); 3) tomar emprestado: Aîporu aoba karaíba suí. - Tomei emprestada a roupa do homem branco; Aîporu abá ygara. - Tomei emprestada a canoa do índio. (VLB, I, 113); 4) aproveitar, usufruir, gozar de (VLB, II, 24) ● oîporuba'e - o que usa, o que pratica, etc.: Tamyîa rekopûera oîporubyteryba'e... - O que pratica ainda os velhos hábitos dos avós. (Ar., Cat., 66v); emiporu (t) - o que alguém usa, pratica, etc.: Eresepyme'engype nde remiporupûera? - Pagaste aquilo que tu usaste? (Ar., Cat., 107v)
pe5 1) (pron. pess. da 2ª p. do pl.) - a) (pron. sujeito) - vós: Pe ma'enduar. - Vós lembrais. (Anch., Arte, 20v); b) (pron. objeto) - vos: Pe îuká xe îara. - Meu senhor vos mata. (Anch., Arte, 12v); Pe rapy tataendyne! - Queimar-vos-ão as chamas! (Anch., Teatro, 42); 2) (poss. da 2ª p. do pl.) - vosso (os, a, as): Aîur ybaka suí pe rokybỹîa rupi... - Vim do céu pelo interior de vossas ocas. (Anch., Teatro, 50)
posé (m) (posp.) - ao longo de, ao lado de, para o lado de, com (pessoa) (Fig., Arte, 121): Our temõ kunhã xe posé mã! - Ah, quem me dera uma mulher viesse para o meu lado! (Ar., Cat., 104); Eîori xe posé. - Vem para o meu lado! (Anch., Doutr. Cristã, I, 227); O sy posé pitanga ruî. - Ao lado de sua mãe a criança está deitada. (Anch., Arte, 44); Xe posé i keri. - Dormiu comigo. (VLB, I, 106); ...mosé esó-potá... - querendo ir tu para o lado de gente (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
pepó (s.) - 1) asa (de ave, de pássaro) (VLB, I, 44); 2) penas das asas (de ave): Aîpepó-'ok. - Arranquei as penas de sua asa. (VLB, I, 94); Aîpepó-pûar. - Amarrei penas de asa nela (isto é, na flecha). (VLB, I, 112); 3) empenadura de flecha; penas de asas de pássaros que eram atadas às flechas (VLB, I, 112) ● pepó-ypy - encontros das asas, isto é, a parte superior delas, onde vão fazendo a volta e onde nascem as penas maiores (VLB, I, 115); u'upepó - empenadura de flecha, isto é, penas de asas de pássaros que eram atadas às flechas (VLB, I, 112)
maraká1 (s.) - MARACÁ, instrumento chocalhante que era usado pelos índios nas solenidades religiosas e guerreiras para marcar o compasso de suas danças; chocalho (D'Abbeville, Histoire, 300; Sousa, Trat. Descr., 339): ...Maraká poraseîa rerobîasara... - O que acredita na dança do chocalho. (Ar., Cat., 66v); itá-maraká - chocalho que contém pedras em seu interior, chocalho com pedras (Staden, Viagem, 153); maraká pu - barulho de maracá (D'Abbeville, Histoire, 188)
pororoka (s.) - POROROCA, 1) explosão, rebentamento; 2) fenômeno de encontro das águas dos grandes rios com a água do mar durante as marés de sizígia, produzindo ondas muito grandes que provocam destruição ao se deslocarem. Acontece particularmente na foz do rio Amazonas. (Figueira, Missão do Maranhão, in Leite, Luiz Figueira [1940], 189-190; Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist. [4ª ed., 1951, III, 176])
marã2 (pron.) - alguma coisa, qualquer coisa, algo [em geral com os verbos 'i / 'é, ikó / ekó (t)]: ...asé 'anga tekokaturama resé marã i 'ereme. - ...quando ele diz algo acerca do bem proceder de nossa alma. (Ar., Cat., 69); T'oîapysaká a'ereme marã o 'anga moingó-katuagûama resé... - Que ouça, então, alguma coisa, para fazer estar bem sua alma. (Ar., Cat., 11v); Îeperibe'ĩ asé marã i 'éû onhemoŷrõ ymûan. - Mal a gente diz algo, já se irrita. (VLB, II, 11) ● marã... 'é tenhẽ (ou marã ... 'é tenhẽ-tenhẽ ou 'é tenhẽ marã) - dizer algo ocioso, dizer asneiras, dizer algo tolo (VLB, II, 54): A'é tenhẽ marã gûi'îabo. - Dizendo algo, digo asneiras. (VLB, II, 54)
eîar (ou eîá) (s) (v.tr.) 1) deixar (no sentido de abandonar): Oîabab i xuí, seîá... - Fugiram dele, deixando-o. (Ar., Cat., 55); ...Aseîá kûesé xe roka... - Deixei ontem minha casa. (Anch., Poemas, 112); Ybaka rasapa, osó, nde reîá... - Atravessando o céu foi, deixando-te. (Anch., Poemas, 124); 2) deixar (no sentido de pôr à disposição, legar, entregar): Kó santo o mbo'esara rekopûera erimba'e oîkûatiar îandébo, seîá. - Esse santo a vida de seu mestre escreveu para nós, deixando-a. (Ar., Cat., 134); 3) omitir, pôr de lado: Xe resaraî é gûitekóbo, n'aseîá-potá ruã! - Eu estava, mesmo, esquecendo, não que o quisesse omitir. (Anch., Teatro, 180, 2006) ● eîasaba (t) - tempo, lugar, companhia, modo, etc. de deixar: Ouîebype erimba'e o boîá reîasagûerype? - Voltou a vir ao lugar em que tinha deixado seus discípulos? (Ar., Cat., 53); emieîara (t) - o que alguém deixa: Cristãos i mongaraibypyra tekokuaparamo Cristo remieîara... - O que Cristo deixa como chefes dos cristãos batizados. (Ar., Cat., 6-6v); seîarypyra - o que é (ou deve ser) deixado: Seîarypyrama ruã-tepe mba'e tetiruã kûáî? - Acaso o que será deixado é tudo? (Ar., Cat., 165)
-mo3 1) part. que expressa o condicional: -I nhyrõ nhẽpemo Îandé Îara i xupé "nde nhyrõ ixébe" o îoupé i 'érememo? -I nhyrõ nhẽmo. -Perdoar-lhe-ia, sem mais, Nosso Senhor, se ele lhe dissesse "perdoa tu a mim"? -Perdoaria. (Ar., Cat., 58); ...Esykyîébomo, ereîkó-katumo. - Tendo medo, farias bem. (Ar., Cat., 112); Nde rurememo, aîuká umûãmo. - Se tivesses vindo, já o teria matado. (Anch., Arte, 22); Xe mondórememo, asómo. - Se me mandasse, iria. (Anch., Arte, 25); Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); 2) part. que expressa o optativo: Aîukámo mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Asómo Tupana pyri mã! - Ah, se eu fosse para junto de Deus! (Fig., Arte, 142)
i4 1) (pron. pess. de 3ª p.) - a) (pron. sujeito) - ele (s, a, as): ...I ndibé nde moetébo. - Com ele honrando-te. (Anch., Poemas, 84); ...I apysy-katueté. - Eles se consolam muitíssimo. (Anch., Poemas, 96); I ma'enduar. - Ele se lembra. (Anch., Arte, 20v); b) (pron. objeto - Assume a forma î quando precedido de vogal.) - o (a, os, as): Aîpysyk-atã. - Segurei-o fortemente. (VLB, I, 38); Aîkutuk. - Feri-o. (VLB, I, 137); Abá sosé pabẽ i momorangi... - Acima de todas as pessoas embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); 2) (poss.) - seu (s, a, as); dele (s, a, as): i îara - seu senhor (Anch., Arte, 12v); ...I 'anga seté monhangi. - Suas almas e seus corpos fez. (Anch., Teatro, 28); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30)
re'ĩ1 (part. de m.) 1) (expressa expectativa, projeção de futuro) - haver de ser, dever ser: ...Xe ruba rekobîara é re'ĩ... - Há de ser o substituto de meu pai. (Ar., Cat., 95v); ...Sesápe xe rekóû re'ĩ... - A seus olhos eu hei de estar. (Ar., Cat., 32); 2) (expressa temor ou má expectativa) - dever, haver de: Omanõ îepémo pitanga xe suí ixé so'o 'useî tenhẽ roîrémo re'ĩ... - Haveria de morrer certamente a criança de mim após eu querer comer caça. (Ar., Cat., 77v); Xe mendûera ipó re'ĩ... - Meu ex-marido há de ser certamente. (Anch., Teatro, 8)
'Ypupîara (etim. - o que está dentro d'água) (s.) - IPUPIARA, nome de entidade sobrenatural dos antigos índios tupis da costa do Brasil (VLB, I, 85). "Eram homens marinhos que atacavam as pessoas, comendo partes de seus corpos." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 57). Era também chamado "homem-marinho", o qual, segundo certos relatos da época colonial, teria sido morto por Baltazar Ferreira no litoral da capitania de São Vicente em 1564. (Sousa, Trat. Descr., 277)
porupi (posp.) - ao longo de (falando-se, p.ex., de dois que dormem em redes diferentes); paralelo a (mas sem estar colado), ao lado de: I porupy aîub. - Paralelo a ele eu estava deitado. (VLB, I, 106); Eké xe porupi. - Dorme ao lado de mim. (Anch., Arte, 43v); Eîotĩ nde kesaba xe porupi. - Amarra tua rede de dormir ao longo de mim. (Anch., Arte, 44); Xe porupi xe ra'yra keri. - Paralelo a mim meu filho dorme. (Fig., Arte, 123)
miaratakaka (s.) - MARITACACA, marita-fede, nome comum a várias espécies de pequenos mamíferos carnívoros da família dos mustelídeos, do gênero Conepatus (dos quais a mais comum é a Conepatus semistriatus), que exalam cheiro terrível que impregna tudo em seu redor. (Sousa, Trat. Descr., 248). É também chamada JAGUACACACA, JAGUARITACA, JARATATACA, JARITACACA, JERITATACA, IRITATACA, MARATATACA.
îepé1 (conj.) - ainda que, embora, por mais que, apesar de, mesmo que: Pesa'ang îepé, peuî korite'ĩ nhote xe pyri... - Embora tentásseis, estivestes deitados só pouco tempo junto a mim. (Ar., Cat., 53); Îepémo asó... - Ainda que eu fosse... (Anch., Arte, 23v); Îepémo xe só umani... - Embora eu já tivesse ido... (Anch., Arte, 24); Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Isso não seria possível enumerar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); I Tupãok îepé, Tupãmongetá-ngetábo, aîmomoxy pabenhẽ ... - Embora eles tenham igrejas para ficar rezando, a todos arruinei. (Anch., Teatro, 132); Ereîpysyrõ îepéne, nde pó suí anosẽne. - Ainda que os libertes, retirá-los-ei de tua mão. (Anch., Teatro, 40); Té! Morapitîara ixé, angaîpaba sykyîeba, morubixaba îepé. - Oh, eu sou assassino, causa do temor aos pecados, mesmo dos reis. (Anch., Teatro, 90)
Amanaiara (CE). Homenagem ao padre Francisco Pinto, trucidado na chapada da Ibiapaba em 1608: "Foi tão grande o conceito que os Indios fizerão da santidade do Venerável Padre (Francisco Pinto), que dali por diante lhe não derão outro nome que o de Amanayára, que quer dizer, Senhor da Chuva." (Pe. José de Moraes [1759], p. 85). É nome de um distrito de Reriutaba (CE), atribuído em 1943.
apé3 (s.) - 1) casca (de ovo, noz, fruta mole, etc.); 2) vagem, legume: îakarandá-apé - vagem de jacarandá (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 192); 3) concha (de marisco) (VLB, I, 79); 4) crosta, superfície, lado direito (o contrário de avesso): iî apé - o lado direito dele (VLB, I, 103); i apé koty - do lado da superfície de, do lado de fora de (p.ex., de um vaso, de algo que tenha lado interior e exterior) (VLB, I, 92); 5) casco (de embarcação): Aîapé-kytyk. - Breei o casco dele. (VLB, I, 59); apé-'yba - pau do casco (da canoa) (VLB, II, 7); (adj.) - cascudo, de casca, que tem casca, crosta ou casco: sypó-tinga-apé - cipó claro de casca (nome de uma planta) (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 197); gûamaîaku-apé - guamaiacu cascudo (nome de peixe que se abriga sob uma carapaça espinhosa sólida, de onde emergem pontas córneas, grossas e resistentes) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 142) ● apepûera - casca arrancada (do ovo, da fruta, etc.); concha vazia (sem o marisco) (VLB, I, 79): ...Inaîagûasu apepûera amõ pupé i nhang'iré... - Após vertê-la dentro de alguma casca de coco... (Ar., Cat., 1686, 353)
pukuî1 (etim. - na extensão) (loc. posp.) - durante, enquanto, no decorrer de, durante o tempo de, ao longo de: Oré raûsubá îepé oré rekobé pukuî. - Tem tu compaixão de nós durante nossa vida. (Anch., Teatro, 122); ...ture'yma pukuî - enquanto ele não vem (VLB, I, 118); Nd'e'ikatuî sesé omendá mimbápe serekó pukuî... - Não pode com ela casar-se enquanto a mantiver em esconderijo. (Ar., Cat., 128v); ...xe só pukuî - enquanto eu vou (Fig., Arte, 126); ...ixé i monhanga pukuî - enquanto eu o faço (VLB, I, 118); pé pukuî - ao longo do caminho, todo o caminho (VLB, II, 130); 'ara pukuî - ao longo do dia, todo o dia (VLB, II, 130)
abá3 (ou abá amõ ou amõ abá) (pron.) - 1) alguém (na afirm. e interr.): Ké abá rekóû anhẽ. - Aqui alguém está, certamente. (Anch., Teatro, 26); 2) ninguém (na neg.): N'opytáî amõ abá maranápe. - Não ficou ninguém no campo de batalha. (Anch., Teatro, 20); Xe rekó i porangeté; n'aîpotari abá seîtyka. - Minha lei é muito bela; não quero que ninguém a lance fora. (Anch., Teatro, 6); -Abápe erimba'e a'e pitanga reterama oîmonhang? -Na amõ abá ruã. -Quem fez outrora o corpo daquela criança? -Ninguém. (Bettendorff, Compêndio, 44)
agûasá (s.) - 1) mancebia: Agûasá pupé aîkó. - Vivo na mancebia, vivo amancebado. (VLB, I, 17); ...I agûasá repîakĩamo... - Permitindo sua mancebia. (Ar., Cat., 69); 2) mancebo (a), amante, adúltero (a) (VLB, II, 30): Ereîpe'ape nde ra'yra, nde remiaûsuba i agûasá suí? - Afastaste teu filho e teu escravo de suas amantes? (Ar., Cat., 100v); 3) (adj.) - amante (VLB, II, 46); amancebado; (xe) amancebar-se, cometer adultério: Xe agûasá gûitekóbo. - Eu estou-me amancebando. (VLB, I, 33) ● i agûasaba'e - o que se amanceba: -Abápe aîpoba'e oîaby? -I aguasaba'e, o mendasabe'yma resé oîkoba'e abé. -Quem transgride aquele? -O que se amanceba e também o que tem relações sexuais com o que não é seu cônjuge. (Ar., Cat., 71); agûasá membyra - filho bastardo, filho do amante (VLB, I, 53)
As etimologias aí dadas por Silveira Bueno não têm nenhum fundamento. Embu não significa "lugar" nem em tupi, nem em guarani, nem nas línguas gerais coloniais. Consultando o próprio Vocabulário Tupi-Guarani-Português, vemos que nem o próprio Silveira Bueno o consigna... Ademais, em que vocabulário antigo ou moderno de tupi, guarani, língua-geral ou nheengatu teria Silveira Bueno visto que "ama" é um coletivo? Em português isso acontece (como em dinheirama, por exemplo). Mas em tupi também seria assim? O autor não o esclarece.
îa'urekaka (s.) - MARITACACA, marita-fede, nome comum a várias espécies de pequenos mamíferos carnívoros da família dos mustelídeos, do gênero Conepatus (dos quais a mais comum é a Conepatus semistriatus), que exalam cheiro terrível que impregna tudo em seu redor. (Sousa, Trat. Descr., 248). É também chamada JAGUACACACA, IRITATACA, MARATATACA JAGUARITACA, JARATATACA, JARITACACA, JERITATACA.
e'ẽ (t) (s.) - sabor; [adj.: e'ẽ (r, s)] - saboroso (doce ou salgado): Îuky-karaíba oîmondeb nde îurupe ta se'ẽngatu Tupã nhe'enga... i xupé... - Sal bento pôs na tua boca para que seja muito saborosa a palavra de Deus a ela. (Ar., Cat., 188) ● se'ẽba'e - o que é saboroso, o que é doce, o que é salgado, o que tem sabor: Salve Rainha, moraûsubara sy, tekobé, se'ẽba'e... - Salve Rainha, mãe de misericórdia, vida, a que é doce. (Ar., Cat., 14); e'ẽ-moxy (r, s) - salgado demais, que não se pode comer: Se'ẽ-moxy. - Ele está salgado demais. (VLB, II, 112); e'ẽ-byk (r, s) - salobra (a água); Se'ẽ-byk. - Ela é salobra. (VLB, II, 112, adapt.)
NOTA - Daí, no P.B., CAABOPOXI (ka'a + oba + poxy, "folhas feias do mato"), nome de uma planta trepadeira convolvulácea, com folhas partidas; MANIÇOBA ("folhas de mani"), prato típico da região Norte do Brasil, preparado com folhas de mandioca cozidas durante vários dias e, depois, misturadas com carne ou peixe; PACOBA ("folhas das pacas"), nome indígena dado à bananeira; CAPERIÇOBA, ACARIÇOBA, nomes de plantas brasileiras, etc.
-pe1 (posp. átona. Forma nasalizada: -me. Há também o alomorfe -ype.) - 1) em (locativo): Sygépe o eterama Tupã tari .... - Em seu ventre Deus tomou seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); ...Xe pópe nhote arasó. - Nas minhas mãos, somente, levei-as. (Anch., Teatro, 46); Tynysẽ Tupã raûsuba nde nhy'ãme erimba'e. - Abundava o amor de Deus em teu coração outrora. (Anch., Teatro, 120); ...setãme... - em sua terra (Anch., Teatro, 122); 2) a, para, em (de direção, com movimento): Asó okype. - Vou para a casa. (Anch., Arte, 40); Eîké kori xe nhy'ãme... - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Asó-potá nde retãme... - Quero ir para tua terra. (Anch., Poemas, 92); ...Mundépe i porerasóû... - Para as armadilhas eles levam gente... (Anch., Teatro, 36); Gûaîxará t'osó tatápe!... - Que vá Guaixará para o fogo! (Anch., Teatro, 56); 3) com deverbais em -sab(a) para construir orações subordinadas finais, causais ou temporais (a fim de, para; por causa de; por ocasião de, quando): ...N'aker-angáî sekasápe... - Não dormi, absolutamente, para procurá-los. (Anch., Teatro, 48); Memẽ anhanga popûari pe ri sembiá-potasápe. - Sempre atam as mãos dos diabos quando querem em vós suas presas. (Anch., Teatro, 54); Pe 'anga raûsukatûápe, o boîáramo pe rari. - Por amar muito vossas almas, como seus discípulos vos tomaram. (Anch., Teatro, 54); Kó oroîkó oronhemborypa nde 'ara momorangápe. - Aqui estamos alegrando-nos para festejar teu dia. (Anch., Teatro, 118); ...xe îukasápe - por ocasião de minha morte, quando me matarem (Anch., Arte, 33)
emimotara (t) (etim. - o que se deseja) (s.) - desejo; vontade: T'onhemonhang nde remimotara... - Faça-se tua vontade. (Ar., Cat., 13v) ● emimotare'yma rupi (t) - contra a vontade de: Kunhã reroîabapara semimotare'yma rupi... nd'e'ikatuî sesé omendá... - O que foge com uma mulher contra sua vontade não pode casar-se com ela. (Ar., Cat., 128v); emimotarybo (r, s) - voluntariamente, por vontade de: Nde membyrápe erimba'e nde remimotarybo? - Tu deste à luz por tua vontade? (Anch., Doutr. Cristã, II, 97); Xe remimotarybo asó. - Vou por minha vontade. (VLB, II, 147); o emimotare'yma - não por vontade, contra a vontade: O emimotare'yma-katu... omendaryba'e. - O que se casa bem contra sua vontade. (Ar., Cat., 128)
mokõîa (num.) - 1) segundo (Fig., Arte, 4): Ogûatá îepé serã i îybá mokõîa itapygûá soarama resé? - Por acaso não chegava seu segundo braço ao lugar de irem os pregos? (Ar., Cat., 62v); 2) segunda vez: i mokõîa - a segunda vez dele (VLB, II, 115) ● mokõîndaba (ou mokoîaba ou momokõîndaba) - segundo; segunda vez: ...Omanõ tenhẽmo i mendarypyagûera: nd'e'ikatuî omendá mokõîagûera resé. - Em vão morreria seu primeiro cônjuge: não pode casar com o segundo. (Ar., Cat., 280); mokõîndara - segunda coisa (em ordem ou número): i mokõîndara (ou i momokõîndara) - a segunda coisa deles (em ordem ou número) (VLB, II, 115)
NOTA - Daí, no P.B., ITAÚNA ("pedra preta"), nome dado às pedras pretas como o basalto, o diorito, etc.; CABIÚNA (ka'a + oby + un +-a, "folhas verdes-escuras"), nome de uma árvore da família das leguminosas papilionáceas; BRAÚNA (ybyrá + un + -a, "madeira preta"), árvore da família das leguminosas; SABIAÚNA ("sabiá preto"), ave turdídea; GRAÚNA (gûyrá + un + -a, "pássaro preto"), pássaro icterídeo.
Carapicuíba (SP). De karapuku - carapucu ou peziza, cogumelo da família das marasmiáceas (VLB, I, 86) + aíb - mau, ruim, desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80) + suf. -a: carapucu ruim (para comer), não comestível. Também pode ser composição de akará + puku + aíb + -a: carás compridos e ruins, carapicus ruins (para comer), peixes gerrídeos. Também há o arbusto carapicu, talvez nome da língua geral meridional, podendo, então, Carapicuíba significar pé de carapicu: carapicu* + 'yba.
Cuiabá (capital de MT). De kuîaba - var. de cuia. Segundo Barboza de Sá [1775], "Destes o primeiro que subiu o rio Cuyabá asim chamado dizem huns que por acharem em suas margens cabaços plantados de que faziam cuias para seus usos, outros que o nome de Cuyabá procedeu de huma cuia que os primeiros que subiram este rio acharam sobre as águas que ia rodando, por donde inferiram que havia gente por ele acima e por esta inferência subiram em procura dela, outros disseram que o nome de Cuyabá é apelido do gentio que nas margens deste rio habitava e cada qual siga a opinião que quiser, que não é ponto de fé nem pragmática de Rei, que eu sempre estou que a nomeação foi derivada dos cabaceiros ou da cuia, que gentio deste nome nunca achei nem tive dele notícia, sendo dos segundos que cultivaram estes sertões e examinei tudo o que neles havia." (in Relação das Povoaçoens do Cuyabá em Mato Groso de Seos Principios thé os Prezentes Tempos, pp. 6-7).
Tambaú (SP). "Legoa e meia acima d'este salto se encontra a cachoeira Avanhandava-mirim, e logo a do Campo, da qual se navega o Tieté pelo espaço de 14 legeas de rio limpo, até à cachoeira Cambayu-voca, a que se seguem as duas Tambaú-mirim, e Tambaú-uassú..." (Vasconcellos de Drummond [1797], Descripção geographica da capitania de mato-grosso: anno de 1797, p. 240). Da língua geral meridional, tambá*, concha bivalve + 'y: rio das conchas.
ra'e1 (part.) - dizem, conforme dizem, dizem que, diz-se que, parece que: Asó ra'e. - Diz-se que vou. (Anch., Arte, 57v); Osó ra'e. - Dizem que foi. (VLB, I, 104); Osó ra'ene. - Dizem que irá. (Anch., Arte, 57v); Osómo ra'emo. - Diz-se que iria. (Anch., Arte, 57v); ...Maria, kunhãngatu, o puru'aramo, ra'e, tekopoxy oîmomburu. - Maria, mulher bondosa, engravidando, conforme dizem, o vício amaldiçoa. (Anch., Poemas, 184); Emonã erimba'e ra'e. - Assim diziam outrora. (Ar., Cat., 40) (Pode expressar maravilhamento ou o cair em si, com -ne, que, nesses casos, não expressa futuro.): Asó serãne ra'e? - Dizem que fui? (Anch., Arte, 57v) ● i'e ra'e - diz-se que, dizem que: Emonã i'e ra'e. - Dizem que é assim. (VLB, I, 104)
kabure'yba (etim. - planta do caburé) (s.) - CABREÚVA, nome de duas espécies de árvores da família das leguminosas-mimosoídeas, do gênero Myrocarpus, o Myrocarpus frondosus Allemão e o Myrocarpus fastigiatus Allemão, da mata atlântica, de madeira, pardo-escura com tons avermelhados, cheirosa, pesada e resistente. Os portugueses do século XVI chamavam-na bálsamo. Serve muito para tratar feridas, além de ter ótimo odor. Também é conhecida como CABRIÚVA, CABURAÍBA, CABRIÚVA-PARDA, CABRUÉ, CABUREÍBA, ÓLEO-CABUREÍBA, óleo-pardo, pau-bálsamo. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 41) ● kabure'ybysyka (ou kabureysyka) - resina de cabreúva, de propriedades medicinais, balsâmicas (VLB, I, 51; II, 55; Piso, De Med. Bras., IV, 179)
NOTA - O verbo CUTUCAR (ou CATUCAR), no P.B., tem os seguintes sentidos: 1) tocar ligeiramente (alguém) com o dedo, o cotovelo, etc., ou algum objeto, principalmente para fazer uma advertência que não se quer ou não se pode fazer de viva voz; 2) introduzir a ponta do dedo, ou objeto fino, pontiagudo, em (orifício do corpo, fechadura, etc.): CUTUCAR o ouvido; 3) (fam.) coçar ou bulir insistentemente em (ferida, machucado); 4) machucar levemente; incomodar: O broche mal fechado CUTUCAVA-lhe o seio. (in Novo Dicion. Aurélio)
îasy1 (s.) - 1) lua: ...o supa îasy rureme - ao vir a lua para visitá-la (Ar., Cat., 75v-76); Îasy mba'e îa'u. (ou Mba'e îasy o'u.) - Algo comeu a lua (isto é, a lua eclipsou-se). (VLB, I, 108); Î aysó, nipó, îasy... - É formosa, certamente, a lua. (Anch., Poemas, 142); 2) mês: Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé oîepé îasy Tupã ebanoĩ suí... o moingobérememo?... - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo se Deus o fizesse viver fora dali um mês? (Ar., Cat., 156v); mokõî îasy - por dois meses [lit., duas luas] (VLB, II, 36) ● îasy-angaîbara - lua minguante (VLB, II, 25); îasy-obagûasu - lua cheia (VLB, II, 25); îasy-semamo - lua nova (VLB, II, 25)
moka'ẽ1 (s.) - 1) ato de MOQUEAR, técnica indígena de preparo de carnes (Sousa, Trat. Descr., 338); 2) MOQUÉM, MOQUETEIRO (SP), grelha onde, a fogo lento, os índios assavam a carne dos inimigos, a caça ou o peixe, formada por quatro forquilhas de madeira, fincadas no chão em forma de quadrado ou retângulo, erguida três pés acima do chão, possuindo largura e comprimento proporcionais à quantidade que seria moqueada (D'Abbeville, Histoire, 294); 3) MOQUÉM, carne assada em grelhas; tostado (VLB, II, 134): Nde ro'o xe moka'ẽ serã... - Tua carne será meu moquém. (Staden, Viagem, 157)
NOTA - Daí, no P.B., IGAPÓ ('y + apó, "raízes d'água"), a parte da floresta amazônica sempre alagada pelos rios (o mesmo que CAAIGAPÓ); SAPOPEMBA (sapó + pem + -a, "raízes angulosas"), raízes tabulares de árvores; SAPOTAIA (sapó + taî + -a, "raízes ardidas"), arbusto da família das caparidáceas; SAPOREMA ou SAPORÉ (SP) (sapó + rem + -a, "raiz fedorenta"), doença das plantas, em especial da mandioqueira, caracterizada por suberização anormal. Daí, também, o nome geográfico SAPOPEMBA (SP) (v. p. 386).
petek (v.tr.) - golpear; esbofetear; bater (com a mão espalmada), espalmar: Aîatypetek. - Esbofeteei suas têmporas. (VLB, I, 56); Morubixaba boîá amõ osobá-petek... - Um servo do príncipe esbofeteou sua cara. (Ar., Cat., 55v); Sebira aîpetek. - Esbofeteei suas nádegas. (VLB, I, 21); Aîpó-petek. - Esbofeteei suas mãos (isto é, bati-lhe com palmatória). (VLB, II, 63) ● petekara - o que bate, o esbofeteador, o que esbofeteia: -Opabenhẽ serã erimba'e a'e petekara iî a'o-îa'oû? - Será que todos aqueles esbofeteadores dele ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v)
nhemoangekoaíb (ou îemoangekoaíb) (etim. - fazer-se estar mal a alma) (v. intr. compl. posp.) - molestar-se; entristecer-se, afligir-se (VLB, II, 40), lastimar-se [por algo: compl. com a posp. esé (r, s)]: ...O apixara mba'e-katu rerekó moasŷabo, sesé onhemoangekoaípa. - Tendo inveja por seu próximo ter coisas boas, entristecendo-se por isso. (Ar., Cat., 109v); Taûîé pe poreaûsubagûama rapirõmo, peîemoangekoaíb peína. - Pranteai logo vossa miséria, estai a vos lastimar. (Ar., Cat., 165-165v)
py'a (mb) (s.) - 1) fígado (Castilho, Nomes, 30): I py'apûera xe potabamo t'oîkó. - Seus fígados hão de ser minha porção. (Anch., Teatro, 64); 2) entranhas, estômago (Léry, Histoire, 365); 3) coração (no sentido de sede dos sentimentos. O fígado era considerado pelos índios tupis a sede das emoções e dos sentimentos.): Omboasy-katu o angaîpaba o py'ape. - Arrepende-se muito de seus pecados em seu coração. (Ar., Cat., 24); 4) interior, íntimo do ser: ...Xe nhy'ãme t'ereîké, xe py'a moingatûabo. - Que entres em meu coração, guardando meu interior. (Anch., Poemas, 130); 5) mente (sede da consciência) ● xe py'ape (ou xe py'ape-katu ou xe py'ape nhote) - cá comigo, em minha mente, por vontade (VLB, II, 13; 36); comigo mesmo, interiormente, de coração (VLB, I, 91): Îé t'asóne xe mondoápe. Memeté ixé, xe py'ape, emonã tekó potá... - Hei de ir para onde me mandam. Mesmo porque eu, por vontade, assim quero fazer... (Anch., Teatro, 22); "Our temõ mã!", a'é xe py'ape. - Disse em meu coração: - Ah, oxalá ele venha! (VLB, II, 72)
NOTA - Daí, o nome ITAPÓ (de localidade do CE) (v. p. 386). Daí, também, no P.B., EMBOABA, EMBOAVA, BOAVA, BOABA (mbó + ab + -a, "mãos peludas"), alcunha que os paulistas davam, nos tempos coloniais, nas Minas Gerais, aos forasteiros portugueses que disputavam consigo a posse das minas de ouro e pedras preciosas ali descobertas, o que ensejaria a Guerra dos EMBOABAS (1707-1709). Era nome atribuído, na língua geral meridional, às aves calçudas, isto é, aquelas cujas pernas são cobertas de penas, as quais os portugueses imitavam com seus calções de rolos e por nunca largarem as meias e os sapatos...
NOTA - Daí provêm, no P.B., BARIRI (SP) (ma'e + ryryî + -a, "coisa que treme"), corrente veloz e precipitada das águas dos rios em trechos acentuadamente declivosos; SIRIRINGA (ty + ryryî + -a, "água que treme"), ar expirado do fundo da água e que sobe em bolhas à superfície; água tremente em consequência da passagem dos peixes (in Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, os nomes dos municípios de BARIRI (SP) e BARUERI (SP) (v. p. 386).
aûîé6 (adv.) - bem, completamente; adequadamente, em boas condições: Aûîé aîub. - Estou bem (deitado). Aûîé aîkó. - Estou bem. (VLB, I, 54) ● Também pode receber intensificadores: aûîé-katu (ou aûîé-katutenhẽ): ...Peîeroŷrõmo aûîé-katu pe îara moingé îanondé. - Desprezando-vos completamente antes de fazer entrar vosso senhor. (Ar., Cat., 86); Ikó aoba niã aûîé-katutenhẽ Tupãnemendarama. - Eis que esta roupa será, adequadamente, de feriado. (VLB, II, 74)
ra'u (part.) 1) (expressa desprezo ou enfado) - Vamos ver! Vê lá!: ...Eîkuá ra'u nde ri opûaryba'e! - Adivinha, vamos ver, o que bateu em ti! (Ar., Cat., 56v); Erasóne ra'u! - Leva-o, vamos ver! Vamos ver se o levas! (VLB, II, 58); 2) (expressa dúvida) - será?: Pesaûsu ra'upe pe pysyrõana...? - Será que amais vosso salvador? (Ar., Cat., 86); Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé...? - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo? (Ar., Cat., 156v); 3) (expressa ordem, determinação) - ora: Esa'ang ra'u. - Ora, experimenta-o. (VLB, I, 126); 4) (expressa desgosto): Xe angaîpabeté'i ra'u mã! - Ah, eu fui muito pecador! (Anch., Doutr. Cristã, I, 195); Ixé tekatu-eté'ĩ ra'u anhanga ratápe akaîmo mã! - Ah, eu haveria de queimar verdadeiramente no fogo do diabo! (Ar., Cat., 249); 5) (expressa algo imaginário): Peîmo'ang ra'u xe ra'yrĩ gûé, peîmo'ang pe re'õ pupé pe ruba... - Imaginai, ó meus filhinhos, imaginai que estais deitados em vossa morte. (Ar., Cat., 155v)
îar1 / ar(a) (t, t) (v. tr. irreg.) - 1) prender, apanhar, tomar, catar, pegar: ...tapuîa rara... - prender tapuias (Anch., Teatro, 8); Abá rokype erekûá tá, nhemim-y îanondé? - Na casa de quem passaste tomando-as, antes de te esconderes? (Anch., Teatro, 44); Eîá-te xe rubixaba! - Mas apanha, antes, meu chefe! (Anch., Teatro, 76); Nd'ogûar-ukarype Îudeus a'e cruz abá supé...? - E os judeus a um homem não mandaram tomar aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); 2) tomar, ingerir (bebida ou comida): Xe potaba kaûĩ rá. - O que me cabe é tomar cauim. (Anch., Teatro, 22); 3) receber; aceitar: Aîar itaîuba (abá) suí. - Aceitei dinheiro do homem. (VLB, I, 19, adapt.); Ahẽ xe re'õ-motareme, aîpotá-katu,... îasuka rara roîré. - Se ele quiser matar-me, bem o desejo, após receber o batismo. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); ...O boîáramo pe rari. - Como seus discípulos receberam-vos. (Anch., Teatro, 54); 4) acatar, assumir: Aûîé, kó temiminõ nd'ogûari Tupã rekó... - Enfim, esses temiminós não acatam a lei de Deus... (Anch., Teatro, 20); ...N'aîari kó sekó-angaturama... - Não acato essa sua boa lei. (Ar., Cat., 25v); 5) tirar (o fogo, com pederneira, com fuzil): Eresaûsubarype i mba'easyreme, satá-á... - Tu te compadeceste deles quando eles estavam doentes, tirando-lhes fogo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86); 6) tomar as feições de, os traços de, sair a: Og uba ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços de seu pai; Og uba resá ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços dos olhos de seu pai. (VLB, II, 131); 7) colher (o que se semeou no chão. Para colher frutas, v. po'o) (VLB, I, 77); 8) resgatar (VLB, II, 102); 9) guardar, observar, praticar: Aîá pá îekuakuba. - Pratiquei todos os jejuns. (Anch., Teatro, 172) ● ogûaryba'e - o que toma, o que apanha, o que recebe, etc.: ...Îekuakubusu îabi'õ Tupã ogûare'ymba'e. - O que não recebe a Deus (isto é, não comunga) a cada Quaresma. (Ar., Cat., 76v); asara (t, t) - o que toma, o que pega, o que recebe: ...I poxyba'e tasara te'õ ogûar o îoupé... - Os que são maus, que o tomam, recebem a morte em si. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1686); ...semiîukapûera rasara - o que apanha o que ele matou (Ar., Cat., 73); emiîara (ou embiîara) (t, t) - o que alguém apanha, toma, pega, etc.: xe remiîara - o que eu tomo (Anch., Arte, 58v); Ogûemimbo'e pyri o karuápe, miapé o pópe gûemiîara i moîebyû... - Ao comer junto dos seus discípulos, o pão que apanhou em suas mãos devolveu-o. (Ar., Cat., 5); tarypyra - o que é (ou deve ser) tomado, pego, etc.: ...Abá remimotara rupi tarypyrama é amoaé mokõî. - Aqueles outros dois deverão ser tomados segundo a vontade das pessoas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 223); asaba (ou araba) (t, t) - tempo, lugar, modo, etc. de pegar, de receber, de tomar; tomada, recepção: E'ikatupe asé aîpoba'e rasápe ogûera rekobîarõmo? - Pode a gente trocar seu próprio nome ao receber aquele? (Ar., Cat., 83v)
Vupabussu (lagoa de MG). Vupabussu foi um dos grandes mitos do Brasil colonial, o sonho de muitos bandeirantes, a lagoa das esmeraldas e da prata: "...sulcando por diversas veredas, o mesmo sertão do reino dos Mapáxós, até o lugar da alagoa Vupavuçu [...] quiz antes morrer em uma cadea [...] do que declarar o sitio onde tinha achado as esmeraldas e prata." (Pedro Taques, Nobiliarquia Paulistana, p. 45). Da língua geral meridional, vupaba* + -usu*: lagoa grande.
abaíba (s.) - dificuldade, pena, inconveniência: ...T'aîabaíbokyne... - Hei de tirar-lhe as dificuldades. (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); (adj.: abaíb ou abaí) - 1) difícil, arrevezado, complicado (de entender, etc.): I abaí xebo sa'anga.- É difícil para mim tentá-los. (Anch., Teatro, 16); I abaíb aîpó nhe'enga. - É difícil essa língua. (Anch., Poemas, 196); Iîabaíbeté aîpó! - Isso é muito difícil! (Anch., Teatro, 156); A'e iîabaíbymo abá supé xe ro'o 'u... - Mas seria difícil para as pessoas comer minha carne. (Ar., Cat., 84v); 2) molesto, penoso, fragoso, íngreme (p.ex., o caminho, a montanha, etc.): Ikó pé bé iî abaí... - Este caminho também é penoso. (Anch., Teatro, 162, 2006); Iîabaíbeté nhẽ rakó... asé atá mysakanga... - São muito molestos, certamente, os tropeços de nossa caminhada. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); 3) inadequado, inconveniente: Nd'erékatuî xûé angiré nde remirekó rerobyka, ã tekó-abaíbeté-katureme. - Não poderás doravante juntar-te a tua esposa por ser isso um procedimento muitíssimo inconveniente. (Anch., Doutr. Cristã, II 94); 4) confuso: Xe abaíb. - Eu sou confuso. (VLB, I, 80)
obá (t) (s.) - rosto, face, cara (Castilho, Nomes, 40): ...Nde robá repîaka'upa .... - Tendo saudades de tua face. (Anch., Poemas, 84); T'asepîáne nde robá... - Hei de ver tua face. (Anch., Poemas, 98); Marã e'ipe Îandé Îara og obá petekarûera supé? - Como disse Nosso Senhor para o que esbofeteou seu rosto? (Ar., Cat., 55v); îagûarobá - cara de onça (Anch., Arte, 9) ● obá-ky'a-ky'a (r, s) (lit., de cara suja, suja) - brusco, feio (fal. do tempo, das condições atmosféricas) (VLB, I, 60)
a'eboé (adv.) - justamente, perfeitamente, é certo que, corretamente, muito a propósito (Fig., Arte, 136); sem mais nem menos (VLB, II, 49, 102): A'eboépe Tupã rasara Tupã rari amõme, îepi? - É certo que o comungante comungue algumas vezes (ou) sempre? (Ar., Cat., 77); A'eboé ebokûé 'ara asé oîmoeté-katune. - Muito a propósito a gente comemorará bem esse dia. (Ar., Cat., 131); A'eboé tuî. - Está muito a propósito, está sem mais nem menos (como se queria). (VLB, II, 102)
îeapyká2 (v. intr.) - reproduzir-se, procriar, multiplicarem-se (as pessoas, os animais), descender: Aîeapyká. - Reproduzi-me, procriei. (VLB, II, 44); Onhemoangaîpabeté serã apŷaba... o îeapyká-eté roîré? - Porventura fizeram-se muito maus os homens após se multiplicarem? (Ar., Cat., 41) ● îeapykaba'e - o que se multiplica; o que descende: N'osaûsubaripe Tupã amõ abá îeapykaba'erama resé...? - Não se compadeceu Deus de alguém por causa dos que descenderiam (dele)? (Ar., Cat., 41v); îeapykaba - tempo, lugar, modo, efeito, etc. de se reproduzir, de procriar; a descendência: ...A'e karaibypy îeapykaba... mondyka. - Destruindo a descendência daquele primeiro homem branco. (Ar., Cat., 155)
'ar3 (v. intr.) - acontecer, ocorrer, suceder: O'ar 'yaíba ixébo. - Sucedeu-me uma tormenta. (VLB, II, 132); Na xe resé ruã i îukasaba 'arine... - Não por minha causa sua morte ocorrerá. (Ar., Cat., 61); Anhẽ te'õ xe resé i 'ara aîpotar. - Verdadeiramente quero que a morte suceda em mim. (D'Abbeville, Histoire, 351v) ● 'araba - tempo, lugar, modo, etc. de suceder; o suceder; a ocorrência: ...O îoesé te'õ 'aragûama andupa... - Percebendo que a morte sucederia a si. (Ar., Cat., 84)
eburusu (t) (s.) - grandeza; estado de crescido, de adulto: Xe putupá bé nde reburusu resé... - Eu estou admirado também por tua grandeza. (D'Abbeville, Histoire, 342); Nde reburusu riré, Tupã syramo ereîkóne. - Após seres grande, serás mãe de Deus. (Anch., Poemas, 146); [adj.: eburusu (r, s) (irreg.)] - 1) grande, crescido: Xe reburusu. - Eu sou grande. Seburusu - Ele é grande. (Anch., Arte, 13v); (Na 3ª p. pode-se usar a forma variante turusu): Turusu-katupe a'e cruz erimba'e? - Era muito grande aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); Kunumĩ turusu. - O menino é grande. (Fig., Arte, 75); Turusupe? - Elas são grandes? (Léry, Histoire, 363); Turusu xe kane'õ. - Grande é meu cansaço. (Anch., Poemas, 152); 2) muito (em quantidade) (VLB, II, 44): Xe ky'a-te turusu... - Mas minha sujeira era muita. (Anch., Teatro, 172); Sugûy turusu. - Seu sangue era muito. (Anch., Poemas, 120) ● eburusu nhote (ou turusu-nhote ou turusu-katu-nhote) (r, s) - meão, médio, não muito grande (VLB, II, 34): Xe reburusu nhote. - Eu sou médio. (VLB, II, 34); turusu bé'ĩ - maior algum tanto (VLB, II, 28); turusu-eté - maior (com suí ou sosé): Peró turusu-eté nde suí. - Pedro é maior que tu. (VLB, II, 28); Xe roka turusu-eté nhẽ opakatu oka sosé. - Minha casa é maior que todas as casas. (Fig., Arte, 80); turusu-katu-eté - muito maior (VLB, II, 28)
-ygûar (suf. que expressa procedência, naturalidade, estância) - o que é de, o que está em; o habitante de, o natural ou o morador de (VLB, II, 48) (A forma nasalizada é -ygûan.): ybakygûara - os habitantes do céu (Ar., Cat., 27); ...opá Paraibygûara... - todos os habitantes do Paraíba (Anch., Teatro, 12); ...Kó tabygûara xe pó gûyrybo sekóû. - Estes habitantes da aldeia sob minhas mãos estavam. (Anch., Teatro, 126); keygûara - os daqui (Anch., Teatro, 136); Erenhomimype erimba'e Tupãokygûara mba'e amõ? - Escondeste alguma coisa que estava na igreja? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99); N'asepîaki kybõygûara. - Não vi os de cá. (Léry, Histoire, 347); Mba'e-katu amõ asé 'anga pupeygûara... - Alguma coisa boa que está dentro da alma da gente. (Bettendorff, Compêndio, 75); Pakataygûara - morador de Pacatá (VLB, II, 41); nhũygûana - cria dos campos (animal ou planta) (VLB, II, 41); ...kó Paranambukygûara - estes habitantes de Pernambuco (Anch., Poesias, 269); 'ygûara ('y + -ygûar + -a) - morador do rio: Eîmonhangukar 'ygûara... - Faze transformar os moradores do rio... (Anch., Poemas, 158)
akaîu (s.) - 1) CAJUEIRO, nome dado principalmente a uma árvore da família das anacardiáceas, gênero Anacardium (Anacardium occidentale L.), de flores pequenas, avermelhadas e perfumadas, que exalam um odor muito forte; 2) CAJU, ACAJU, o fruto dessa árvore e das demais espécies de cajueiros (D'Abbeville, Histoire, 217): Mbobype îasy kanhemi koîpó akaîu 'aîubamo...? - Quantas vezes a lua desapareceu ou o caju madurou? (Ar., Cat., 104v); 3) pedicelo tuberizado, comestível, do fruto do cajueiro (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 94) ● akaîu 'y - licor de caju (VLB, II, 146); akaîu-kaûĩ - vinho feito pelos índios com o suco do caju (D'Abbeville, Histoire, 218); akaîu-'akaîá - castanha de caju (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 269)
pyatã (m) (etim. - pé firme) (s.) - força (VLB, I, 141), valentia, coragem; firmeza, força de espírito (VLB, I, 142): Myatã... ogûeru... - Trouxe a coragem. (Ar., Cat., 5); Tupã myatã-eté-eté... - A imensa força de Deus (Bettendorff, Compêndio, 62); (adj.) - corajoso, valente, forte (de saúde, de boa nutrição), firme: T'oré pyatã, angá... - Que sejamos corajosos, sim. (Anch., Teatro, 120); kunhã-pyatã - mulher corajosa (Anch., Poemas, 126); Eporeaûsubok xe 'anga, t'i pyatã nde resé. - Arranca a miséria de minha alma para que esteja firme em ti. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618); Epu'ã, nde pyatã! - Levanta-te, sê valente! (Anch., Teatro, 162); Na xe pyatãî. - Eu não estou forte (isto é, estou debilitado pela doença, pela fome, etc.). (VLB, I, 143); (adv.) fortemente (VLB, I, 143)
rame'ĩ (conj.) - 1) igual a, semelhante a, como, como que, semelhantemente a (Fig., Arte, 149): A'e rame'ĩpe ybŷá i py rerekóû itapygûá pupé i moîáno? - Semelhantemente a isso fizeram com seus pés, pregando-os também com cravos? (Ar., Cat., 62v); Îagûara rame'ĩ xe repenhani. - Como um cão, atacou-me. (VLB, I, 45); ...Oporomoingobébo rame'ĩ, na supi ruã-te. - Como que fazendo as pessoas viverem, mas não de verdade. (Ar., Cat., 160); Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... - E por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que era seu costume. (Ar., Cat., 159v); ...Pe apysykĩ serã peîkóbo... te'õ repîakare'yma rame'ĩ...? - Será que estais sossegados, como os que não vêem a morte? (Ar., Cat., 166); 2) como quando: Pema'ẽ rame'ĩ ybaka resé, pesepîak i poranga... - Como quando olhais para o céu, vedes sua beleza. (Ar., Cat., 168)
puraké1 (ou poraké) (s.) - 1) POROQUÊ, PORAQUÊ, PURAQUÊ, enguia-elétrica, 1) nome comum a peixes elétricos da família dos eletroforídeos. Realizam descargas elétricas, em sua defesa e para facilitar a captura de outros peixes. "Quem quer que o toca, logo fica tremendo... Morto, come-se e não tem peçonha." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 56); 2) gênero de raia conhecida como peixe-viola, da família dos rinobatídeos, peixe cartilaginoso com a parte anterior do corpo em forma de coração e que também produz descargas elétricas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 151-152)
marana2 (ou marã) (s.) - guerra, batalha: ...Îandé maranirũ, îandé abaîtéba... - Nossa companheira de guerras, causa de nossa bravura. (Anch., Poemas, 88); Oîkuá-katu marana... - Conhece bem as guerras. (Anch., Teatro, 138); Eteumẽ kori marana rerekóbo xe resé. - Guarda-te, hoje, de ter guerra comigo. (Anch., Poemas, 150); Ta peapysyketé irã marana pab'iré. - Haveis de vos consolar muito futuramente, após acabar a batalha. (Ar., Cat., 169-170); Aîkó marana ri. - Estou em guerra. (VLB, I, 152); Asepîak, erimba'e, Gûaîxará maranusu. - Vi, outrora, a grande batalha de Gûaîxará. (Anch., Teatro, 18) ● maranaba - tempo, modo, lugar, etc. de guerra, de batalha: N'opytáî amõ abá maranápe. - Não ficou ninguém no lugar da batalha. (Anch., Teatro, 20)
etá (t) (s.) - 1) grande número, multidão: nde rekobesaba 'ara retá... - o grande número de dias de tua vida (Ar., Cat., 157); Îandé retá îandé pe'abo. - A multidão de nós afastando. (Anch., Teatro, 158, 2006); 2) (aparece como substantivo, muitas vezes, na função de objeto): muitos, muitas coisas, muitas pessoas: Ereruretá serã? - Trouxeste muitas coisas, porventura? (Anch., Teatro, 44); -Ererupe itá kysé amõ? -Aruretá. -Trouxeste algumas facas de ferro? -Trouxe muitas. (Léry, Histoire, 346); Aruretá kó reri... - Trouxe muitas destas ostras. (Anch., Poemas, 150); [adj.: etá (r, s)] - muitos (em número), numerosos, múltiplos, diversos; (xe) ter muitos: kunumĩ-etá - muitos meninos (Anch., Teatro, 24); tatá-endy-etá - muitas chamas de fogo (Ar., Cat., 45); Oré retá. - Nós somos muitos. (VLB, II, 44); Xe retá. - Eu tenho muitos (parentes). (VLB, I, 37); Na setáî xe angaîpaba... - Não são muitos meus pecados. (Anch., Teatro, 76); I porang kó tupãoka, îegûakabetá rerupa! - É bonita esta igreja, contendo muitos enfeites! (Anch., Poemas, 112); (adv.) 1) muitas vezes: Marãnamope asé îobasabetá-etáûne? - Por que a gente se persignará muitas e muitas vezes? (Ar., Cat., 21v); 2) muito, demais: Xe repy-etá. - Eu tenho muito preço. (VLB, I, 88); Okeretápe se'õmbûera...? - Dormiu demais seu cadáver? (Ar., Cat., 44v); 3) No tupi colonial também serviu, às vezes, como desinência de plural, como o -s do português: Emonãnamope asé îeruréû santos-etá supé? - Portanto, nós rezamos aos santos? (Ar., Cat., 23v) ● etá-katu (ou etá-tekatunhẽ ou etá-katutenhẽ) (r, s) - muitíssimos, muitíssimas vezes (VLB, II, 44); etá-eté (r, s) - mais; muito mais (VLB, II, 28); etá nhote (r, s) - mais ou menos (em número), medíocre (em número) (VLB, II, 34)
eté2 (t) (s.) - 1) corpo: Pedro reté - o corpo de Pedro (Fig., Arte, 74); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); Mba'epe asé reté remi'u? - Qual é a comida de nosso corpo? (Ar., Cat., 27v); Tupã aé, o karaíba pupé, i 'anga seté monhangi. - O próprio Deus, com sua santidade, as almas e os corpos deles fez. (Anch., Teatro, 28); Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120); 2) substância, matéria: Oîaby-eté seté tiruã oîkuabe'ymba'e. - Transgride-os muito o que não conhece sequer sua substância. (Bettendorff, Compêndio, 103) ● seteba'e - o que tem corpo, o que é corpóreo (VLB, I, 82)
suí1 (posp.) - 1) de (origem): Ybaka suí ereîur... - Do céu vieste. (Anch., Poemas, 100); Aîur xe kó suí. - Venho da minha roça. (Fig., Arte, 9); Aîur xe roka suí. - Vim de minha casa. (Anch., Poemas, 102); Îaîu kûepe suí. - Viemos de longe. (Anch., Poemas, 96); 2) entre: I mombe'ukatupyramo ereîkó kunhã suí. - Bendita és entre as mulheres (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); ...Oîoîá te'õ rekóû kunumĩgûasu suí tuîba'e suí bé. - A morte está igualmente entre os moços e entre os velhos. (Ar., Cat., 157v); 3) de (expressando a matéria): nha'uma suí i monhangymbyra - o que é feito de barro (Ar., Cat., 15); 4) para não, para que não: ...Îori, anhanga mondyîa, oré moaûîé suí! - Vem, espantando o diabo, para não nos vencer. (Anch., Poemas, 102); O emiamotare'yma rekoápe osó-potare'ymba'e sepîaka suí. - O que não quer ir para onde está o que ele detesta para não o ver. (Ar., Cat., 70-70v); 5) longe de, para longe de, fora de: Emonã rakó sekóû nde suí. - Esta agia assim, longe de ti. (Ar., Cat., 74); ...Obebé îandé suí. - Voa para longe de nós. (Anch., Poemas, 186); 6) por (causa de), de (causa): Oker okûapa tekotebẽ suí nhẽ. - Estavam dormindo por causa da aflição. (Ar., Cat., 53); Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); Eresabeyporype kaûĩ suí, 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v); 7) desde, a partir de, de... em diante: ...Taba moapaîugûá-îugûábo Galilea suí-katu... - Confundindo as aldeias desde a Galiléia. (Ar., Cat., 83, 1686); Eîpe'a Îurupari kó 'ara suí... - Afasta o diabo deste dia em diante. (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); 8) em vez de, afora, que não, a não ser, e não: Nd'e'ikatuîpe amoaé abá oporomongaraípa abaré suí? - Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? (Ar., Cat., 81); ...I xuí amõ resé omendá... - Casando-se com alguém que não seja ele. (Ar., Cat., 280, 1686); Ahẽ nhõ ikó i mba'e-katu, xe suí mã! - Eis que somente ele tem coisas boas, em vez de mim! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102); 9) além de: ...aîpó nde remimombe'uagûera suí... - além daqueles que tu mencionaste (Bettendorff, Compêndio, 74); 10) indicando pertença a um todo que não participa da ação ou do processo descritos pelo verbo: Erepûarype kunhã muru'abora resé, pitanga îukábo i xuí? - Bateste numa mulher grávida, matando o feto dela? (Isto é, só o feto é que foi morto, não a mãe.) (Ar., Cat., 101v); Sasy xe akanga xe suí. - Dói-me a cabeça (e não o corpo na qual ela está, que não participa do processo descrito pelo verbo). (VLB, I, 105); 11) mais que, do que, que, mais do que (no comparativo): Marãmo ahẽ rekóû o mba'e-katuramo xe suí? - Por que ele vive tendo coisas boas mais que eu? (Ar., Cat., 109v); Ybakype i pyri o só îanondé Anhanga ratápe o só suí. - Antes sua ida para junto dele no céu que sua ida para o inferno. (Ar., Cat., 110); Xe katu-eté nde suí. - Eu sou melhor que tu. (Anch., Arte, 43); Aîkuab-eté nde suí. - Sei mais que tu. (Anch., Arte, 43); 12) sem: Amba'e-'u nde suí. - Como sem ti. (Anch., Arte, 43)
supé (posp.) (após i ou y assume a forma xupé) - 1) diante de, perante, junto de, junto a: ...Ybyrá supé nhẽpe asé îerokyû? - Diante de uma madeira a gente se inclina? (Ar., Cat., 22); Ta sasy muru supé! - Que eles sofram junto dos malditos! (Anch., Teatro, 56); Mbype erebasẽ i xupé? - Chegaste perto junto a eles? (ou Achaste-os por perto?) (Anch., Teatro, 46); 2) para, a (dat.): Irũmbûera... aîme'eng abá supé. - Seus antigos companheiros dei aos índios. (Anch., Teatro, 46); A'e iî abaíbymo abá supé xe ro'o 'u... - Mas seria difícil para as pessoas comer minha carne. (Ar., Cat., 84v); Enhe'eng nde ruba supé. - Fala a teu pai. (Fig., Arte, 6); Aporombo'eukar Pedro supé. - Faço a Pedro ensinar gente. (Fig., Arte, 146); 3) contra: Anhanga supé Tupã asé mopyatãgûama resé. - Para Deus nos encorajar contra o diabo. (Ar., Cat., 82v); ...I abaeté muru supé São Sebastião ru'uba... - Foram terríveis contra os malditos as flechas de São Sebastião. (Anch., Teatro, 52); 4) para junto de: ...Karaibebé reîkéû i xupé. - O anjo entrou para junto dela. (Ar., Cat., 30v); 5) por, em busca de: Xe ruba supépe eresó? - Vais em busca de meu pai? (Anch., Arte, 36); Kûaî nde ruba supé. - Vai em busca de teu pai. (Fig., Arte, 122). [Tal posp. usa-se apenas com a 3.ª p.: Pero supé - a Pedro (ou para Pedro). Pode ocorrer com outras pessoas, o que não é errado, mas passa por licença poética: Ixé supé - a mim (ou para mim). (VLB, II, 64)] ● mba'e supé? - para quê? para que coisa? a quê? (VLB, I, 39): Mba'e supépe asé graça i 'éû? - A que coisa chamamos graça? (Ar., Cat., 31); abá supé? - para quem? a quem?: Abá supépe asé îeruréû...? - Para quem a gente reza? (Ar., Cat., 23)
asé (pron.) - 1) a gente; nós (universal: eu, tu e ele; nós, vós e eles): O mba'e, nipó, asé o py'a pupé saûsubi. - Suas próprias coisas, na verdade, a gente ama em seu coração. (Anch., Teatro, 28); Ataramo é asé rekóû ikó yby pupé. - Como peregrinos é que a gente mora nesta terra. (Ar., Cat., 26); 2) se (índice de indeterminação do sujeito): ...Emonãnamo é "xe sy" asé 'éû i xupé. - Por isso é que se diz para ela: - "minha mãe". (Ar., Cat., 33v); 3) da gente, nosso: Moraûsuberekosápe, asé 'anga ereîosub. - Por teres misericórdia, nossa alma visitas. (Anch., Poemas, 102); Abápe asé sumarã? - Quem é o inimigo da gente? (Ar., Cat., 21v)
moingó (v.tr.) - 1) fazer estar, colocar, pôr, estabelecer: Oîaobok serã ybŷa katupe nhẽ i moingóbo?... - Por acaso arrancaram sua roupa, fazendo-o estar nu? (Ar., Cat., 59v); ...Tupã remimotara rupi xe moingóbo... - Pondo-me segundo a vontade de Deus. (Ar., Cat., 23v); 2) fazer viver: Eresapîápe tekopoxy... resé nde moingóreme? - Obedeces a eles quando te fazem viver no vício? (Ar., Cat., 100v); 3) fazer agir, fazer proceder; empregar: Ereîmoingópe abá 'aretéreme marã i moporabykŷabo? - Empregaste alguém por ocasião de um feriado, fazendo-o trabalhar em algo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 85); Pedro aé emonã xe moingó-ukar. - O próprio Pedro mandou-me fazer proceder assim. (VLB, II, 12); 4) transformar: Ybyramo i moingoukare'yma. - Em terra não os mandando transformar. (Ar., Cat., 179v); 5) determinar, estabelecer, definir: Osapîápe asé i nhe'enga, o 'anga rekorama resé o moingóremene? - Obedeceremos a suas palavras quando ele determinar a respeito do futuro procedimento de nossa alma? (Anch., Doutr. Cristã, I, 224); 6) constituir, fazer (no sentido de atribuir funções, como fi-lo capitão, ele foi feito cavaleiro, etc.): Oromoingó tubixabamo. - Constituímos-te chefe. (VLB, II, 81); ...Taba raroanamo nhẽ Îandé Îara xe moingóû. - Nosso Senhor constituiu-me guardião da aldeia. (Anch., Teatro, 50); 7) encarregar: Pe îabi'õ Pa'i Tupã karaibebé moingóû. - De cada um de vós o Senhor Deus encarregou um anjo. (Anch., Teatro, 50) ● moingosara (ou moingoara) - o que faz estar, o que faz viver: ...Tekokatu resé îandé moingoara. - A que nos faz viver na virtude. (Anch., Poemas, 88); Tupã remimotara rupi asé moingosara - O que nos faz estar segundo a vontade de Deus. (Ar., Cat., 37v); i moingopyra: o que é (ou deve ser) colocado, posto, encarregado, etc.: Abaré asé rerekoaramo i moingopyra. - O padre que é colocado como guardião da gente. (Ar., Cat., 94); moingoaba (ou moingosaba) - tempo, lugar, modo, finalidade, causa, etc. de fazer estar, de fazer viver, de estabelecer; determinação, etc.: ...Tuba i moingoaba se'õ a'e i aîarõ. - Parece bem que sua morte fosse a finalidade com que seu pai o fez viver. (Ar., Cat., 4); Ereîkópe... abaré nde moingoaba rupi? - Procedeste segundo a determinação do padre a ti? (Ar., Cat., 98)
NOTA - Daí, no P.B. (NE), IGUPÁ ('y + upaba, "lugar em que jaz a água"), brejo ou lagoeiro produzido pelas águas pluviais; OPABA (BA), terreno arenoso, à beira-mar, que se torna alagado no inverno; PAVUNA (S.), vale profundo e escarpado (In Dicion. Caldas Aulete); ITAIPAVA (itá + upaba, "lagoa das pedras") (ou ITAUPABA, ITAUPAVA, ITAIPABA, ENTAIPAVA, ITUPAVA), rocha que atravessa um rio de margem a margem, causando turbulência na corrente. (In Dicion. Caldas Aulete). Palavra que tem origem na língua geral meridional, do século XVIII: "Este primeiro rio, a que chamam Tieté, é o mais cheio de cachoeiras e das peores. O fundo d'elle é quasi todo pedra, quando esta é assentada por igual, mas com pouco fundo, de modo que algumas partes era calháo, onde roçam as canoas; chamam a isto ITAUPABA..." (D. Antonio Rolim [1751], Relação da Viagem que fez o Conde de Azambuja, D. Antonio Rolim, da Cidade de São Paulo para a Villa de Cuyabá em 1751.)
marã3 (ou marana) (s.) - mal, malefício, coisa má, maldade; doença; aflição: Ikó tabape, marã nd'eréîpe i xupé ranhẽ? - Esta aldeia, não disseste maldades a ela ainda? (Anch., Teatro, 136); Kaûĩ mboapŷareté, a'e marã monhangara... - O que esgota verdadeiramente o cauim, esse é o fazedor de mal. (Anch., Teatro, 6); ...Marã 'é n'opyki xóne... - Não cessarão de dizer maldades. (Anch., Teatro, 36); (adj.: marã ou maran) - mau, maldoso: ...gûaîbĩ-marã... - ...velha maldosa... (Anch., Teatro, 46); (adv.) - maldosamente, no mal, perversamente: Abá marã sekoagûerĩ resé nherane'yma. - Ser cordato com um pequeno proceder no mal de alguém. (Ar., Cat., 18v) ● marã-marã tenhẽ - muito mal, muito perversamente: Marã-marã tenhẽ aîkó. - Procedo muito mal. (VLB, I, 136)
-ûasu (ou -gûasu) (suf.) - 1) -ão (suf. aumentativo, como em matão); grande, GUAÇU, AÇU: Osokendab a'e karamemûã itagûasu pupé. - Fecharam aquele túmulo com uma pedra grande. (Ar., Cat., 64v); piragûasu - peixão, peixe grande (Anch., Arte, 13); Xe tupinambagûasu. - Eu sou o grande tupinambá. (Anch., Poemas, 114); Oîké îugûasu, i akanga kutuka... - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); ...andyragûasu-bebé... - morcegão voador (Anch., Teatro, 26); Reriûasu - Ostra Grande, nome de pessoa (Léry, Histoire, 341); 2) muito (em quantidade): I kaûĩgûasu-pipó xe ramũîa Îagûaruna? - Tem muito cauim, porventura, meu avô Jaguaruna? (Anch., Teatro, 60); 3) muito (em intensidade): Xe kerambugûasu. - Eu ronco muito. (VLB, II, 108) (V. tb. -usu.)
aûîé5 (interj.) - Que bom! Muito bem! É isso! É certo! Perfeitamente! (em aprovação): Aûîé ipó xe rapixara... mba'e-katuramo... - Que bom que meu próximo tenha coisas boas! (Ar., Cat., 109v); Aûîé a'e! - É certo isso! (aceitando como opinião própria) (VLB, I, 19) ● Pode ser acompanhada por partículas ou por temas nominais, ficando com os mesmos sentidos ou com ênfase: aûîé ipó, aûîé nipó, aûîé é, aûîé-katu, aûîé-katu ipó, aûîé tiruã, aûîé-etéramo, aûîé nhẽ: Aûîé ipó! - Muito bem! (consentindo) (VLB, I, 33); (em aprovação) (VLB, II, 44); Aûîé-katu, erimba'e i xóû oré retama pupé; n'osóî tenhẽ ebapó. - Muito bem, eles foram outrora para nossa terra; não foram em vão para lá. (D'Abbeville, Histoire, 342); Aûîé nipó! Kasianamo t'aîkó. - Muito bem! Hei de ser castelhano. (Anch., Teatro, 74)
katu (s.) - o bem; coisa boa; bondade: …Opabĩ abá raûsubi i katurama resé. - A todos os homens ama para o bem deles. (Anch., Teatro, 158, 2006); A'e aé koba'e katu me'engara re'a... - É ele o que dá o bem desses. (Ar., Cat., 66); (adj.) - 1) bom; bondoso; bonançoso (fal. do mar) (VLB, I, 18): Xe katu. - Eu sou bom. (Fig., Arte, 67); ...Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); (fal. de alimentos): I katu nhẽ, t'ere'u. - Estão bons; que os comas. (Anch., Poemas, 154); Abámo... mba'e-katu 'uagûera n'oîkuabi xûé...? - Quem não reconheceria ter comido algo bom? (Ar., Cat., 88v); Xe katupe ká... - Hei de ser bom. (Anch., Teatro, 38); 2) grande, muito: Nde porãngatu raûsupa... - Amando tua grande beleza. (Anch., Poemas, 84); ...tubixá-katu Aîmbiré - o grande chefe Aimbirê (Anch., Teatro, 8); Aîerekoaibeté xe angaîpá-katu suí. - Piorei muito de meu grande mal. (VLB, I, 112); 3) direito (fal. de tronco de árvore) (VLB, I, 103); 4) limpo (VLB, II, 22); 5) airoso: Xe katu. - Eu sou airoso. (VLB, I, 28); 6) polido (VLB, II, 80); 7) delicado (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276); (adv.) - 1) muito, bem, largamente (VLB, II, 18): Nde py'ape-katupe aîpó eré? - Bem no teu coração disseste isso? (Ar., Cat., 102); Turusu-katupe a'e cruz erimba'e? - Era muito grande aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); Aîemĩngatu... - Escondo-me bem. (Anch., Teatro, 32); Abá 'anga mara'ara i pupé opûeîrá-katu... - As doenças da alma do homem com ele saram bem. (Anch., Teatro, 38); 2) exatamente, perfeitamente, precisamente: Îaîpe'a nhẽmope i xuí a'e roîré katu...? - Apartá-lo-íamos dele precisamente depois disso? (Ar., Cat., 96); -Mbobype tekoangaîpaba oîoaname'yma? -Mosapyr katu... -Quantos são os gêneros de pecados? -Três, exatamente. (Bettendorff, Compêndio, 70); 3) por inteiro, inteiramente (VLB, II, 13); completamente: Xe resaraî-te-katu. - Mas eu me esqueci completamente. (Anch., Teatro, 178, 2006); 4) nomeadamente, particularmente: Nde katu nde renõî. - Ele te chama particularmente. (VLB, II, 50); 5) de fato: Xe syramongatu t'oîkó .... - Que seja minha mãe, de fato. (Anch., Poemas, 86) ● i katu! (ou i katu-eté!) - muito bem! (Fig., Arte, 136)
NOTA - Daí se originam muitas palavras no P.B.: CAATINGA (ka'a + ting + -a, "mata branca"), formação vegetal do sertão do Nordeste do Brasil); CAPOEIRA (ka'a + pûer + -a, "mata que foi"), terreno em que o mato foi derrubado ou queimado para o plantio; mata secundária que nasceu nas derrubadas de mata virgem e que não atingiu, ainda, porte de floresta autêntica; CAUBI (ka'a + oby), (Amaz.) mato verde; CATANDUVA, CATANDUBA, CATUNDUVA (ka'a + atã + ndyba, "ajuntamento de mata dura"), cerrado ou mato rasteiro, áspero, com características xerófilas; tipo de solo caracterizado por ser arenoso e de baixa fertilidade. Daí, também, os nomes geográficos CAPÃO (BA), CAAGUAÇU (SP), etc. (v. p. 386).
angaîbara (s.) - magreza; coisa magra (VLB, II, 28); (adj.: angaîbar) - 1) magro; (xe) emagrecer: xe remipoîangaîbara - o magro que convidei (Anch., Arte, 52v); Xe angaîbar. - Eu estou magro. (D'Evreux, Viagem, 151); Nd'e'i te'e opá abá angaîbaramo...-ne. - Por isso mesmo todos os homens emagrecerão. (Ar., Cat., 160); 2) ressequido, mirrado, seco: Nd'aruri amõ parati; oîepé xe pysá pora. Nd'ere'uî xûémo, senhora: i angaîbar-atã moxy suí! - Não trouxe nenhum parati; um só é o conteúdo de minha rede. Não o comerás, senhora: ele está duramente ressequido por deterioração. (Anch., Poemas, 152)
apŷaba2 (s.) - 1) homem, varão (Fig., Arte, 3): ...Sory pakatu apŷaba... - Felizes estão todos os homens. (Anch., Poemas, 146); Tapiîara, tuîba'e, gûaîbĩ, kunumĩgûasu, apŷaba, kunhãmuku, xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Os moradores da aldeia, velhos, velhas, moços, homens, moças, como meus súditos todos em minhas mãos os tenho. (Anch., Teatro, 34); 2) índio livre (VLB, II, 11); gentio: Oîkobé xe pytybõanameté,... tubixá-katu Aîmbiré, apŷaba moangaîpapara. - Existe meu auxiliar verdadeiro, o grande chefe Aimbirê, o pervertedor dos índios. (Anch., Teatro, 8); Abá-tepe, erimba'e, pe mba'erama resé apŷaba me'enga'ubi? - Mas quem, outrora, como vossas coisas os índios deu? (Anch., Teatro, 28); Apŷaba karaíba atûasaba kori oîkó. - Os índios e os cristãos hoje são companheiros. (D'Abbeville, Histoire, 342); 3) nação (de gente) (VLB, II, 46) ● apŷabusu - homem maduro na idade e no juízo (VLB, II, 141); apŷabeté - nome genérico dado aos índios que falavam tupi, em oposição aos tapuias: "Os mais barbaros se chamão in genere Tapuhias, dos quaes ha muitas castas de diversos nomes, diversas lingoas, e inimigos huns dos outros. Os menos barbaros, que por isso se chamão Apuabeté, que quer dizer homens verdadeiros, posto que tambem são de diversas nações, e nomes; [...] comtudo todos fallão hum mesmo lingoagem e este aprendem os Religiosos que os doutrinão por huma arte de grammatica que compoz o Padre Joseph de Anchieta [...]" (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, I, cap. xii)
ynysema (t, t) (s.) - 1) coisa cheia (Fig., Arte, 75); 2) transbordamento; 3) abundância; repleção; [adj.: ynysem ou ynysẽ (r, t)] - cheio, repleto, abundante; (xe) estar cheio, transbordar; abundar [recebe complemento com a posposição esé (r, s)]: Tynysẽngatupe Santa Maria aîpó mba'e-eté "graça" 'îaba resé? - Está muito cheia Santa Maria daquela coisa muito boa chamada "graça"? (Ar., Cat., 31v); ...Tynysẽ umã kaûĩ... - Já transborda o cauim. (Anch., Teatro, 24); Tynysẽ memẽ ygasaba. - Estão sempre cheias as igaçabas. (Anch., Teatro, 34); Tynysẽ Tupã raûsuba nde nhy'ãme erimba'e. - Abundava o amor de Deus em teu coração outrora. (Anch., Teatro, 120) ● tynysemba'e - o que está cheio, o que está repleto: Ave Maria, graça resé tynysemba'e... - Ave Maria, a que está cheia de graça. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139)
angaturama (s.) - 1) bondade natural, afabilidade, virtude: Eîori xe poreaûsubara, nde angaturama ri... - Vem, meu compadecedor, por tua bondade... (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); Aromanõ xe angaturama. - Morro com minha virtude. (Fig., Arte, 92); 2) homem franco, liberal (VLB, I, 143); nobre (s.) (VLB, II, 50); título dado a homem e atribuído àquele que se mostra excelente sobre todos os outros (Thevet, Cosm. Univ., 920v); (adj.: angaturam) - bom, bondoso, virtuoso naturalmente, próspero, santo, digno, afável, sagrado, honrado: 'arangaturam-eté... - dia muito bom (Anch., Poemas, 94); Rerityba, xe retama, tabangaturãngatu. - Reritiba, minha terra, aldeia muito boa. (Anch., Poemas, 112); I angaturam, ko'yré,... xe remiarõ îandune. - Serão bons, doravante, os que eu guardo de costume. (Anch., Teatro, 50); ...T'oré angaturãne Cristo remienõîûera resé. - Que sejamos dignos do que Cristo prometeu. (Ar., Cat., 14v); Xe nhe'engangaturam. - Eu tenho palavras afáveis. (VLB, I, 22); Nde angaturam. - Tu és bondoso. (Fig., Arte, 38); (adv.) perfeitamente (VLB, II, 73) ● i angaturamba'e - o que é bom: ...i angaturamba'e remimonhãngatu - as boas obras dos que são bons (Ar., Cat., 1686, 67); angaturambaba - tempo, lugar, causa, modo, companhia, etc. da bondade; bondade: Tupã syramo oîkóbo é i angaturambabetéramo sekóû. - Sendo mãe de Deus é que ela é a causa verdadeira da bondade dele. (Ar., Cat., 1686, 36)
poraseîa (m) (s.) - dança ritual, PORACÉ, dança exclusivamente masculina: Moraseîa é i katu... - A dança é que é boa. (Anch., Teatro, 6); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30); T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma, moraseîa, mbyryryma... - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés, em danças e rodopios. (Anch., Teatro, 118); Ererobîápe... maraká poraseîa? - Acreditas na dança do maracá? (Ar., Cat., 98v) ● poraseî-tapuîa - dança tapuia, tipo de dança realizada pelos tupinambás do Maranhão no séc. XVII, caracterizada por muitos deslocamentos, movimentos da cabeça e das mãos, por batidas dos pés na terra ao som da voz e do maracá. (D'Evreux, Viagem, 173)
monhang (v.tr.) - 1) fazer: a) no sentido de fabricar: Aîkó-monhang xe ruba. - Faço a roça de meu pai. (Fig., Arte, 87); Aîmonhang oka. - Fiz uma casa. Xe rokûama aîmonhang. - Faço minha futura casa. (VLB, I, 108); b) no sentido de causar, levar a: ...Ybakype îandé sorama monhanga... - Fazendo-nos ir para o céu. (Ar., Cat., 53, 1686); c) no sentido de criar, gerar: N'asé ruba ruã-tepe asé reté oîmonhang? - Mas não foi nosso pai que fez nosso corpo? (Ar., Cat., 25); d) no sentido de realizar, proceder, agir, cometer: ...Semimonhangûera îamonhangyne. - Faremos o que ele fez. (Ar., Cat., 122, 1686); e) no sentido de proferir: ...Opakatu abá sóû ladainhas monhanga... - Todas as pessoas vão fazendo as ladainhas. (Ar., Cat., 126); 2) transformar (com a posp. -ramo): Mba'epe erimba'e oîmonhang 'aramo? - Que transformou outrora em mundo? (isto é, de que fez o mundo?) (Anch., Doutr. Cristã, I, 159); ...'Y anhẽ monhangi kaûĩnamo... - A água transformou em vinho. (Ar., Cat., 12); Aîmonhang itá pindáramo. - Transformo o ferro em anzol. (Anch., Arte, 43v); So'o ragûera aobamo îaîmonhang. - A lã em roupa transformamos (isto é, da lã fazemos roupa). (VLB, I, 136); 3) urdir, maquinar: ...E'i mo'ema monhanga... - Mostram-se a urdir mentiras. (Anch., Teatro, 36); 4) modelar, dar forma, tender (os pães, a partir de uma massa) (VLB, II, 126) ● monhangara - o que faz (Fig., Arte, 120); criador, autor, causador (VLB, I, 48): ...O monhangaramo nde rekó kuapa... - Reconhecendo que tu és o seu próprio criador. (Ar., Cat., 26); emimonhanga (t) - a obra, o feito, o que alguém faz ou gera: ...T'oîkuab ybaka piara, Tupana remimonhanga. - Que conheça o caminho do céu, obra de Deus (lit., o que Deus faz). (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); monhangaba - tempo, lugar, etc. de fazer, de gerar, de criar; geração, criação: ...T'ereîub moreaûsuba monhangápe. - Que estejas prostrado no lugar de se fazerem sofrimentos. (Anch., Teatro, 48); i monhangymbyra - o que é (ou deve ser) feito, criado; feito de: ...ybyrá itá-monhangymbyra kupépe... - atrás de uma cerca feita de pedras (Ar., Cat., 9v); Tupã syrama ri i monhangymbyra... - Para mãe de Deus é feita. (Anch., Poemas, 88)
rumby (part. - Leva o verbo para o gerúndio.) - enfim; eis que enfim, então (contando alguma coisa) (VLB, I, 118); depois disso (Anch., Arte, 57); finalmente (VLB, I, 139): Rumby, ...xe rapîá. - Enfim, obedeceram-me. (Anch., Teatro, 140); Ybyoka asapekóne, Itaoka abé aîpobu, rumby, Îupaogûaóne. - Hei de frequentar Ibioca, revirarei também Itaoca e, enfim, Jupaoguaó. (Anch., Teatro, 182); Rumby Tupã Ta'yra... îandé rekomonhangane... - Enfim, o Filho de Deus nos julgará. (Ar., Cat., 162); Rumby gûixóbo. - Enfim eu vou. (VLB, I, 111); Rumby xe ruba obasema. - Eis que, enfim, chega meu pai. (VLB, I, 109) ● Pode ser acompanhado no período por ko'yté: Rumby ahẽ oú ko'yté. - Finalmente ele vem. (VLB, II, 115)
Guarapuava (PR). A primeira referência aos Campos de Guarapuava é de 1768: "Por baixo do Salto Grande se acham os Campos de Guarapava [...]" (S. Paio e Sousa [1768], p. 71). Essa região do atual Paraná não é o habitat das aves chamadas guarás, como imaginou Martius (Glossaria, p. 500). Estas vivem nas regiões alagadiças dos litorais e nos manguezais. Essas terras eram, sim, habitat do aguará, também conhecido como lobo guará ou somente guará, mamífero canídeo das regiões abertas do N. da Argentina, do Paraguai e do Brasil. Assim, a etim. do nome Guarapuava, da língua geral meridional, deve ser: agûará + pu + suf. -aba: barulho dos (lobos) guarás ou lugar do barulho dos (lobos) guarás.
moîar1 (v.tr.) - 1) pregar, colar, soldar, grudar (VLB, I, 151): ...Eîmoîar ybyraîoasaba resé... - Prega-o na cruz. (Ar., Cat., 59v); ...Krusá sosé nhẽ xe îara moîá. - Sobre a cruz pregando meu senhor. (Anch., Poemas, 122); 2) encalhar: Aîmoîar ygara. - Encalhei a canoa. (VLB, I, 113); 3) entalar (VLB, I, 118); 4) cerrar, fechar (sem fecho nem chave, como, p.ex., a porta) (VLB, I, 71) ● i moîarypyra - o que é (ou deve ser) pregado, etc.: Aîpó i pyri i moîarypyrûera abé. - Aqueles pregados junto dele também. (Ar., Cat., 63); moîaraba (ou moîasaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de pregar, de colar, etc.: Cruz Cristo Îandé Îara moîaragûera îudeus otym erimba'e... - A cruz, lugar em que se pregou a Cristo, Nosso Senhor, os judeus a enterraram. (Ar., Cat., 5v)
Há, contudo, topônimos atribuídos artificialmente e que datam de poucas décadas, em ambientes em que já não mais havia falantes das línguas em que o topônimo foi atribuído. Com efeito, no século XX a frente pioneira do Brasil passou pelo oeste paulista, pelo norte e oeste paranaenses, pelo centro-oeste do país, para onde se deslocou a própria capital do Brasil. Getúlio Vargas apregoou, na década de quarenta, a Marcha para o Oeste, tendo havido a fundação de centenas de municípios nas sobreditas regiões. Pujantes cidades nelas surgiram muito tempo depois que a língua geral meridional desapareceu. Por outro lado, a primeira metade do século vinte foi marcada, no Brasil, por forte nacionalismo político, econômico e cultural. O Modernismo, surgido com a Semana de 22, a Revolução de 30, a Era de Vargas, tudo conduzia a uma busca de referenciais da pátria brasileira. Surgem tupinistas nas universidades brasileiras, alguns dos quais passarão a ter a incumbência de dar nomes aos novos municípios que se fundavam nessa época. Aparecem, assim, muitos topônimos de origem tupi no século XX. Alguns são composições corretas, da índole do tupi antigo, das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Outros são fruto da elaboração fantasiosa de amadores, que resolveram embrenhar-se por um campo de estudo sem conhecimento suficiente das línguas. Em alguns casos, etimologizar tais palavras é uma tarefa inútil, a de tentar atinar com significados, quando eles não existem. É o caso do nome Umuarama, cidade do Paraná, criado por Silveira Bueno a pedido de seus fundadores. Tal palavra não significa absolutamente nada. Perderia o seu tempo o pesquisador que tentasse procurar a sua etimologia. O próprio Silveira Bueno mostra-nos por quê:
Carioca (ribeirão do RJ e nome de antiga aldeia indígena da Guanabara, a mais próxima da vila de São Sebastião, fundada por Estácio de Sá). De kariîó, carijó, nome de grupo indígena com origem no Paraguai + oka (r, s): casa de carijós: "Yaupa Moçupiroka, Yequej, guatapitiba, [...] Carijo oca, Pacucaya, Araçatiba." (Anchieta, Poemas [Auto de São Lourenço], versos 147-151). Os carijós também estavam na costa: "(...) destes ha infinidade e correm pela costa do mar e sertão até o Paraguay." (Pe. Fernão Cardim, [1585], Do principio e origem dos Indios do Brasil, p. 103). De nome de lugar passou a designar, ainda no período colonial, também os que nascem no Rio de Janeiro: "[...]os Cariocas e Americanos eram fracos, vis, patifes e pusillanimes (Jeronymo de Castro e Souza [1789], Carta do Alferes Jeronymo de Castro e Souza, Denunciando o Tiradentes", pp. 266-267)
amotare'ym (ou amotare'ỹ) (v.tr.) - detestar, odiar, querer mal, mal-querer, ser inimigo de: Oîoa'o-a'o gûaîbĩ, oîoamotare'ỹ... - Insultam-se as velhas, odeiam-se. (Anch., Teatro, 36); I amotare'ym-etébo, perekó-aí-aí. - Detestando-os muito, tratai-los muito mal. (Anch., Teatro, 40) ● amotare'ymbara - o que quer mal, o que detesta (VLB, II, 12); malquerente (VLB, II, 29): Oré pysyrõ îepé... oré amotare'ymbara suí. - Livra-nos tu dos que nos querem mal. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); emiamotare'yma (t) - o que alguém detesta, o que alguém odeia: "Marã îasûaramo ahẽ kûepe se'õ mã" erépe nde remiamotare'yma supé? - Disseste para o que tu detestas: "-Ah, que bom seria a morte do fulano por aí"? (Ar., Cat., 101v); amotare'ymbaba - tempo, lugar, modo, etc. de detestar, de odiar; ódio: Tupã nhe'enga abŷagûera t'ereîmombe'u: ...nde poroamotare'ymagûera, nde poropotaragûera, nde mondarõagûera... - Que confesses a transgressão da palavra de Deus: teu antigo ódio às pessoas, teu desejo sensual, teus furtos. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); i amotare'ymymbyra - o que é (ou deve ser) malquisto (VLB, II, 29)
aani1 (adv.) - não (com ênfase); nunca, de maneira nenhuma, de modo algum, absolutamente (Fig., Arte, 129): Aani! Aîemoŷrõ. - Não! Irritei-me. (Anch., Teatro, 42); -Setápe asé nhemongaraíbi? - Aani. - A gente batiza-se muitas vezes? - De maneira nenhuma. (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); -N'asé ruã-tepe o emi'urama oîmonhang? - Aani... - Mas não é a gente que faz sua comida? - De modo algum... (Ar., Cat., 27v) ● aani nhẽ - não (Fig., Arte, 134); aani rakó - não (Fig., Arte, 134); aani re'a - não é assim (de h.) (Fig., Arte, 134); aanirĩ - não é assim (de m.) (Fig., Arte, 134); aani xûémo - não (hipotético): -Nd'oîporaráî xûémop'asé mba'e amõ 'ara pupé oîkóbomo? - Aani xûémo. - Não sofreria a gente coisa alguma vivendo no mundo? - Não (sofreria). (Anch., Doutr. Cristã, I, 162); Aani xûéne - não (com relação a fatos futuros); nunca: -Oîporará bépe mba'e amõ a'epe oîkóbone? -Aani xûéne. - Sofrerão ainda alguma coisa aí vivendo? - Não. (Ar., Cat., 47); aani-xûé ipóne - não há de ser (futuro) (VLB, II, 47); aani xûé ko'yténe - nunca mais (VLB, II, 52); aani ã - isso não (Fig., Arte, 135)
sosé (posp.) - 1) acima de: Ixé nde sosé (ou Nde sosé ixé). - Estou acima de ti. (VLB, II, 119); 2) em cima de, sobre: xe sosé - em cima de mim; itá sosé - sobre a pedra (Anch., Arte, 43v); ...Krusá sosé nhẽ xe îara moîá. - Sobre a cruz pregando meu senhor. (Anch., Poemas, 122); 3) mais que (comparativo), mais de; melhor que, maior que: ...Kûarasy sosé o poranga kuabe'enga... - Mostrando sua própria beleza mais que o sol. (Ar., Cat., 4v); Nde sosé ixé. - Eu sou mais que tu. (VLB, I, 48); Kó oka sosé. - Maior que esta casa. (VLB, II, 28); Ixé nde sosé. - Eu sou maior que tu. (VLB, II, 28); vinte sosé - mais de vinte (VLB, II, 67); I xosémo nã ky xe re'õ. - Melhor que isso me seria, pois, morrer. (VLB, II, 38); Aîkuab mba'e nde sosé. - Sei mais que tu. (Fig., Arte, 121)
mba'e3 (ou ma'e) (s.) - 1) coisa: O mba'e, nipó, asé o py'a pupé saûsubi. - Suas próprias coisas, na verdade, a gente ama em seu coração. (Anch., Teatro, 28); Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); 2) bens, riqueza, haveres, mercadoria, objeto, tudo o que pertence a alguém: Kó abá semirekó abé opá o mba'e mombabi... - Esse homem e sua esposa também fizeram acabar todas as suas riquezas... (Ar., Cat., 7); Aîpó abá ma'e îara îandébe. - Esses homens são os que portam riquezas para nós. (Léry, Histoire, 355); A'epe n'oerekóî pe rubixaba ma'e? - E vosso rei não tem riquezas? (Léry, Histoire, 362); 3) animal, bicho, ser inferior: mba'e-kagûera - gordura de animal (VLB, I, 117); 4) termo usado para chamar alguém de forma depreciativa ou vulgar: Mba'e-embegûasu! - Coisa beiçuda! (VLB, I, 54); Mba'e-mondá! - ladrão! (lit., coisa que rouba); Mba'e-poru! - Comedor de carne humana! (Anch., Arte, 32); Mba'e-u'uma...! - Coisa enlameada! (Anch., Teatro, 44); (adj.) - rico, (xe) ter bens: Xe mba'e. - Eu tenho bens. (VLB, I, 54) ● i mba'eba'e - o que tem coisas, o que é rico: I mba'eba'e ixé. - Eu sou o que é rico. (VLB, II, 105)
emirekó (t) (etim. - a que alguém faz estar consigo) (s.) - esposa (com a qual um homem se une com ânimo marital ou não): A'epe o mena koîpó o emirekó mũetéramo sekó mombe'ue'yma, marã? - E não confessando ser parente, de fato, de seu marido ou de sua esposa, que acontece? (Ar., Cat., 71v); Nde ererupe nde remirekó? - Tu trouxeste tua esposa? (Léry, Histoire, 352); Ogûemirekó resé, i mena nd'o'u-poûsubi... - Por causa de sua esposa, o marido dela não temeu comê-lo. (Anch., Poemas, 178); xe remirekorama - minha futura esposa (Thevet, Cosm. Univ., II, 932) ● emirekó-eté (t) - 1) esposa legítima, com a qual alguém se casou na igreja; 2) a "mulher mais estimada ou mais querida, a qual, muitas vezes, é a última que se tomou... " (Anch., Cartas, 459)
koty1 (posp.) - 1) em direção a, na direção de, rumo a, para: Eboûĩ nde resá i poraûsubaryba'e erobak oré koty... - Esses teus olhos compadecedores volta em nossa direção. (Ar., Cat., 14v); ...Ybaté koty ogûetymã moîarukari,'yba koty o akanga. - Para cima suas pernas mandou pregar e, para baixo, sua cabeça. (Ar., Cat., 9); 'Y-pytera koty asó. - Fui na direção do meio das águas. (VLB, I, 112); 2) ao lado de, da direção de, do lado de: ...Anheté pesepîak irã Tupã tuba 'ekatûaba koty xe gûapyka xe renane... - Na verdade, ver-me-ás futuramente estar sentado ao lado da mão direita de Deus-Pai. (Ar., Cat., 56v); i apé koty - do lado de fora dele (p.ex., de um vaso, de algo que tenha lado interior e exterior) (VLB, I, 92); ...Mosapyr morubixaba "reis" 'îaba kûarasysembaba koty suí ouryba'e... - Três chefes chamados "reis" que vêm da direção do Oriente... (Ar., Cat., 3); 3) com relação a, a respeito de, acerca: -Abápe aîpó Tupã nhe'enga oîmomaran? -Tupã nhe'enga morombo'esaba koty "-anhẽ ra'upe" e'iba'e. -Quem combate aquela palavra de Deus? -O que diz com relação ao ensinamento da palavra de Deus: -Vamos ver se é verdade! (Ar., Cat., 66); Mba'e-poxy koty onhe'engaíbamo... - Dizendo palavras más acerca de coisas nojentas. (Anch., Diál. da Fé, 211); 4) contra: ...Tupã rekó koty nhe'enga reîtyka. - Lançando palavras contra a lei de Deus. (Ar., Cat., 98v) ● kotypendûara - o que está ao lado de: ...mba'easybora nde kotypendûara... - o doente que está ao teu lado (Ar., Cat., 111)
mba'e?1 (ou ma'e?) (interr.) - 1) quê? que coisa?: Mba'e-tepe peseká kó xe retama pupé? - Mas que procurais nesta minha terra? (Anch., Teatro, 28); Mba'epe ké tuî...? - Que está deitado aqui? (Anch., Teatro, 42); ...Mba'epe ké kanindé-oby îasûara? - Que há aqui semelhante a um canindé azul? (Anch., Teatro, 62); Mba'epe te'õ? - Que é a morte? (Ar., Cat., 43v); Mba'e-takó? - Que era, mesmo, aquilo? (como quem se esquece do que passou) (VLB, II, 92); Mba'e-pipó? - Quê? Que é? (respondendo ao que chamou) (VLB, II, 92); 2) qual? que...?, qual coisa?: Mba'e abépe asé 'anga remi'u? - Qual é também o alimento de nossa alma? (Ar., Cat., 28); Mba'e apŷabap'aîpó? - Que índios são esses? (Anch., Teatro, 142, 2006) ● mba'e-mba'e? - que? (referindo-se a mais de um), que coisas?: Mba'e-mba'epe Anhanga oîpotar? - Que coisas quer o diabo? (Ar., Cat., 27v); mba'e? (ou mba'epe? ou mba'ehẽ? ou mba'e-pipó?) - Quê? Que dizes? (como quem não entendeu bem o que se disse) (VLB, II, 91); mba'e-embiarĩ-pakó? - que coisa é? qual é a coisa? (em adivinhação): Mba'e-embiarĩ-pakó og ubixaba robá resé opûá-opûar? - Que coisa é que fica batendo no rosto de seu próprio chefe? (VLB, II, 92); mba'e-tepe? - não é mesmo? (isto é, verás que te digo a verdade) (VLB, II, 55)
A busca de etimologias de topônimos pode ser uma importante ferramenta do estudo histórico quando eles foram atribuídos naturalmente por índios, caboclos ou quaisquer colonos falantes do tupi ou das línguas gerais coloniais. Revelam-nos aspectos do ambiente físico e humano do passado. Os topônimos continuam a existir, muitas vezes, mesmo depois que esse ambiente já se modificou. Com efeito, o topônimo é um verdadeiro fóssil linguístico, segundo o geógrafo Jean Brunhes. Muitos topônimos têm fácil etimologia. Outros, contudo, necessitam, para se compreender seu perfeito significado, de estudo dos mais antigos documentos históricos disponíveis para se averiguar a motivação de sua atribuição, sua mais antiga grafia ou, ainda, explicações etimológicas daqueles que falavam tupi ou as línguas gerais. Isso foi feito quando possível, neste trabalho, com emprego de grande documentação.
amõ1 (pron. subst. e adj.) 1) (na afirm. e interr. afirm.): algum (ns, a, as); certo (os, a, as); alguém; vários (as): Kó bé xe rembiaretá t'ame'ẽne amõ endébo... - Eis que também minhas muitas presas hei de dar algumas a ti. (Anch., Teatro, 46); Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); ...I xupé o apixara amõ me'enga... - Dando para ele alguma semelhante a si. (Ar., Cat., 72); Oîmonhangype Îandé Îara amõ sobaké? - Fez Nosso Senhor algum (milagre) diante dele? (Ar., Cat., 58v); "Ixé-temõ aîmombuk mã," erépe amõ supé? - Disseste a alguém: "-Ah, quem me dera desvirginá-la"? (Ar., Cat., 103v); 2) (na neg.): nenhum: Nd'aruri amõ parati... - Não trouxe nenhum parati. (Anch., Poemas, 152); ...Abá 'angûera amõ soe'ymi ybakype erimba'e? - Não ia para o céu outrora a alma de nenhum homem? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); 3) outro (os, a, as): ...amõ taba rapekóbo. - ...outras aldeias frequentando. (Anch., Teatro, 4); Eîar-y bé amõ. - Toma mais outro. (VLB, II, 60); Amõ abá abé mokõî robaké omendare'ymba'e n'omendari. - Não estão casados os que não se casam diante de duas outras pessoas também. (Ar., Cat., 128); ...Umãba'e bépe amõ sosé sekóû?... - Qual está acima dos outros? (Bettendorff, Compêndio, 42); 4) mais, além disso: Mba'epe amõ? - Que mais? (Léry, Histoire, 343); 5) um pouco de, uns poucos: Inimbó'i amõ reru. - Trazendo um pouco de linha. (VLB, I, 154) ● amõ amõ - 1) alguns (as); vários (as), diversos (as) (s. ou adj.): ...Amõ amõ o poti'a resé opûá-pûá... - Alguns ficavam batendo no peito. (Ar., Cat., 64); ...amõ amõ santos... - alguns santos (Ar., Cat., 139, 1686); Karaíba amõ amõ i angaîpá... - Vários homens brancos são pecadores. (Anch., Poesias, 55); 2) outros: Oîmoeté bé asé amõ amõ 'ara, i pupé oporabykye'yma. - Honra a gente também outros dias, neles não trabalhando. (Ar., Cat., 12v)
moabaíb (v.tr.) - 1) dificultar: Ereîmoarûabeté ã nde rekó, i moabaípa. - Eis que estorvas muito tua vida, dificultando-a. (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); 2) impossibilitar: ...Mendara omoarûab i moabaibuká... - Impedem os casamentos, mandando impossibilitá-los. (Ar., Cat., 127v-128); 3) ter dificuldades em: Tupã raûsupareté... n'oîmoabaíbi Tupã asé rekomonhangaba rupi o ekó. - O que ama verdadeiramente a Deus não tem dificuldades em viver segundo os mandamentos de Deus. (Ar., Cat., 41); 4) atrasar (Ar., Cat., 41) ● moabaipaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de dificultar, de impossibilitar, de atrasar; impossibilidade, atraso: Setá mba'e mendara moabaipaba... - São muitas as coisas que são causa de impossibilitar os casamentos. (Ar., Cat., 277); Okûabetápe erimba'e seîxu, ybakype abá só moabaîpaba? - Os anos passaram muitas vezes, causa de atraso da ida do homem para o céu? (Ar., Cat., 41)
Cunhambebe (RJ). Era o nome de um famoso chefe tamoio do século XVI: "Foi continuando a derrota até á Ilha dos Porcos, a que uma sesmaria antiga chama Tapéra de Cunhambéba, por nella ter existido uma aldêa, de que era cacique Cunhambéba, aquelle indio, que na sua canôa conduzio para S. Vicente ao veneravel Padre José de Anchieta, quando voltava de Iperoyg." (Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], Memorias para a Historia da Capitania de S. Vicente hoje Chamada de S. Paulo, p, 118.). De kunhã + mbeb (forma nasalizada de peb) + -a: mulher achatada (i.e., sem seios, de seios muito pequenos). Tal etimologia não parecerá estranha se se lembrar que há o termo kambeba (kama + peb + -a: seio achatado), que designa uma fêmea estéril (VLB, II, 31). Cunhambeba devia ter um peito bem desenvolvido e musculoso.
morubixaba (ou mborubixaba) (etim. - chefe de gente) (s.) - 1) chefe tribal, MORUBIXABA, MURUMUXAUA, MURUXAUA, cacique: ...Apŷaba, morubixaba, kyre'ymbaba mondóbo xe retama pupé. - Homens, chefes e pessoas valentes enviando para minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Morubixaba tuîba'e onhe'eng memẽ i xupé... - Os chefes velhos falam sempre a eles. (Anch., Teatro, 34); ...mosapyr morubixaba - três chefes (Ar., Cat., 3); 2) príncipe; rei (Knivet, The Adm. Adv., 1208): Xe resy Lorẽ-ka'ẽ, xe morubixaba biã. - Assa-me o Lourenço tostado, embora eu seja um rei. (Anch., Teatro, 90); Morubixaba Anás seryba'e supé. - Para um príncipe que tinha nome Anás. (Ar., Cat., 55); 3) juiz: Morubixaba mondá îaînambi-'okukar... - O juiz mandou desorelhar o ladrão. (Anch., Arte, 36v); 4) governador; superior (Fig., Arte, 9); 5) senhor: Morubixaba, nde akanga omanõ? - Senhor, tua cabeça dói? (D'Abbéville, Histoire, 327)
nupã (v.tr.) - 1) castigar: Ké turi îandé nupãmo! - Aqui vêm para nos castigar! (Anch., Teatro, 26); N'oînupãî xûé-tepe abá o a'yra o embiaûsubane? - Mas não castigará o homem seu filho e seu escravo? (Ar., Cat., 69v); 2) açoitar, espancar, dar pancadas em, dar em: Ata'y-nupã xe atûasaba. - Açoito o filho de meu compadre. (Fig., Arte, 88); Sugûy mombukapa, îaînupã-nupã. - Derramando o seu sangue, ficaram a açoitá-lo. (Anch., Poemas, 120) ● nupãsara - o que castiga, etc.: - Setápe i nupã-nupãsara? - Eram muitos os que estavam a castigá-lo? (Ar., Cat., 60); nupãsaba (ou nupãma): lugar, tempo, companhia, resultado, etc. de castigar, de açoitar: Oîaratã serã i aoba i nupãsagûera i moperé-perebagûera resé? - Pegou-se fortemente sua roupa com que ele foi castigado por o ficarem ferindo? (Ar., Cat., 62); i nupãmbyra (ou i nupãpyra) - o que é (ou deve ser) castigado, açoitado, etc. (Anch., Arte, 3; 52v)
mboryb2 (ou moryb ou mbory) (v.tr.) - consentir; dar consentimento a, permitir, aceitar, tolerar, ser tolerante com, admitir: Asé aé oîemoabangá i mborypa... - A gente mesma acovarda-se, consentindo-o. (Anch., Diál. da Fé, 231); Na xe poromborybi. Eu não sou tolerante com as pessoas. (VLB, II, 114); Ereîmorype abá paîé rerobîaragûama resé? - Toleraste as pessoas em sua crença no pajé? (Ar., Cat., 98v); Ereîmorype i nhe'enga...? - Aceitaste as palavras deles? (Ar., Cat., 100v) ● morypaba - tempo, lugar, modo, etc. de consentir; consentimento: ...Tupã nhe'engaby morybagûera... - consentimento na transgressão da palavra de Deus (Ar., Cat., 90); mborypara (ou morypara) - o que consente; o que permite, o que tolera: ...'Aretéreme i porabyky-potaryba'e mborypara... - O que tolera o que quer trabalhar nos feriados. (Ar., Cat., 68v); omboryba'e - o que tolera, o que permite: Mba'e-poxy resé oporomboryba'e. - O que tolera as pessoas em coisas más. (Anch., Diál. da Fé, 209); ...O ké-poxy omboryba'e... - O que se compraz em seu sonho mau. (Anch., Diál. da Fé, 211)
îo-1 (ou nho- em ambiente nasal) (pref. obj. refl. ou recíp. de 3ª p.) - 1) uns aos outros, um(s) do(s) outro(s), um(s) com o(s) outro(s), um(s) ao(s) outro(s), etc.: ...îo'u... - comer um ao outro (Anch., Teatro, 8); Peîoîuká. - Vós vos matais uns aos outros. (Fig., Arte, 80); ...O îoirũmo bé... i îukáû... - Uns com os outros também o mataram. (Ar., Cat., 6v); Oroîoîuká. - Matamo-nos um ao outro. (Anch., Arte, 35v); ...Oroîo'u raka'e. - Comíamos uns aos outros. (D'Abbeville, Histoire, 341v-342); Onhomongetá. - Conversam uns com os outros (ou um com o outro). (Fig., Arte, 80); ...O îoybyri se'õmbûera paranã ybyri i kûáî. - Ao lado uns dos outros seus cadáveres estavam ao longo do mar. (Anch., Teatro, 52); Oroîoapi. - Golpeamos um ao outro. Oroîoapi-api. - Ficamos golpeando um ao outro. (VLB, II, 32); 2) (pref.) - mútuo, recíproco, comum: îoapixaba - ferimentos mútuos (Anch., Teatro, 54); ikó îope'asagûera - este desterro comum (Ar., Cat., 14v); îoa'o - injúria recíproca (com palavras) (VLB, II, 12); Îarekó îandé îomba'e. - Temos nossas coisas comuns. (Anch., Arte, 16); oré îomba'e - nossas coisas mútuas (Anch., Arte, 16); i îomba'e - suas coisas comuns (Anch., Arte, 16) (As formas o îo podem ser usadas para se referirem a outras pessoas que não somente à terceira): Îarekó o îomba'e. - Temos coisas comuns. (Anch., Arte, 16)
-(r)amo (posp. átona - sua forma nasalizada é -namo): 1) como, na condição de; em [Com o verbo ikó / ekó (t) forma locução correspondente ao verbo ser do português.]: ...Ybyramo i moingó-ukare'yma. - Em terra não os fazendo transformar. (Ar., Cat., 179v); ...Serekoaramo ûitekóbo... - Estando como seu guardião (ou sendo seu guardião). (Anch., Teatro, 4); Pitangamo seni Maria îybápe. - Como criança está sentado nos braços de Maria. (Anch., Poemas, 108); Nde manhanamo t'oîkóne! - Ele há de ser (ou há de estar na condição de) teu espião! (Anch., Teatro, 32); ...Xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Como meus súditos em minhas mãos bem os tenho a todos. (Anch., Teatro, 34); Pitangĩnamo ereîkó… - Uma criancinha és (ou na condição de uma criancinha estás). (Anch., Poemas, 100); 2) segundo, conforme: Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava segundo a lei primeira. (Anch., Poemas, 114); 3) Forma o gerúndio de predicados nominais: ...o mba'epûeramo... - sendo coisa antiga (Ar., Cat., 74); O angaîpabamo... - Sendo mau. (Ar., Cat., 27); Xe katuramo. - Sendo eu bom; Nde katuramo. - Sendo tu bom. (Anch., Arte, 29); 4) Forma o modo indicativo circunstancial dos verbos da segunda classe: Koromõ xe rorybamo. - Logo eu estou feliz. (Anch., Arte, 40)
iké2 / eîké (t) (v. intr. compl. posp. irreg.) - 1) entrar; penetrar (compl. com pe, pupé ou supé): -Oîképe a'e i boîá aé Anás rokype? -Oîké. -Entraram aqueles mesmos discípulos seus na casa de Anás? -Entraram. (Ar., Cat., 55); -Marã Santa Maria rekóremepe, karaibebé reîkéû i xupé? -Como estava Santa Maria quando o anjo entrou para junto dela? (Ar., Cat., 30v); Eîké kori xe nhy'ãme... - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Oîké îugûasu, i akanga kutuka... - Penetram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Oîké itapygûá nde 'anga pupé. - Penetram os cravos dentro de tua alma. (Anch., Poemas, 122); ...nde rokype oîkébo - entrando em tua casa (Anch., Poemas, 124); Aîké nhãîmbiara pupé. - Entrei nos caminhos das fontes. (Anch., Teatro, 46); 2) pôr-se (o sol); recolher-se: Tó! Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Ó! Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38) ● oîkeba'e - o que entra: ...Pe 'angyme oîkeba'epûera... - O que entrou em vossas almas. (Ar., Cat., 89); eîkeara (t) - o que entra: ...Îase'o rakó perekó peẽmo teîkeara moetesabamo... - Com pranto estai como modo de louvar o que entra junto a vós. (Ar., Cat., 85v); eîkeaba (t) - tempo, lugar, modo, causa, etc. de entrar; entrada: Oîepé karaibypy rekoangaîpaba ikó 'ara pupé seîkeagûera... - O pecado de um primeiro homem branco foi a causa de sua entrada neste mundo. (Ar., Cat., 154v-155) (O gerúndio de iké / eîké tem duas formas: gûiteîkébo ou gûikeabo, eîkébo ou eîkeabo, etc. Isso acontece também com verbos derivados dele, como moingé, îemoingé, etc.)
moasy (ou mboasy) (etim. - fazer doer) (v.tr.) - 1) invejar: Abá mba'ekatu moasy. - Invejar as coisas boas de alguém. (Anch., Doutr. Cristã, I, 151); 2) ressentir-se de; levar a mal: Aûîé sapirõmbyre'yma o moetee'yma oîmoasy... - Enfim, o que não é pranteado ressente-se de não o honrarem. (Ar., Cat., 85v); 3) sentir a dor de, ter dor por, lamentar: Aîmoasy nde só. - Lamento tua ida. (VLB, II, 75); Xe mba'e-moasy îá. - Eu lamento-me, de costume (isto é, reclamo de qualquer coisa). (VLB, I, 106); ...O sy suí o 'aragûera moasŷabo... - Lamentando terem nascido de suas mães. (Ar., Cat., 163-163v); ...O kaîa moasŷabo... - Tendo dor de suas queimaduras. (Ar., Cat., 161); 4) arrepender-se de: O ekó moasy riré, abá sóû îemombegûabo... - Após arrependerem-se de seus atos, os índios vão confessar-se. (Anch., Teatro, 38); Nd'oîmoasyîpe amõ o nhe'engaibagûera? - Não se arrependeram alguns de seus vitupérios? (Ar., Cat., 63); 5) fazer sofrer: Tupã sy îandé senõîa oîmoasy-katu-eté. - O nosso chamado à mãe de Deus fá-lo sofrer muito. (Anch., Poemas, 186) ● moasŷaba - tempo, lugar, modo, etc. de ressentir-se, de arrepender-se, etc.; arrependimento: ...I moasyagûera... repyramono. - Como recompensa também de seu arrependimento delas (isto é, das coisas más). (Ar., Cat., 169v); i moasypyra - aquilo de que se arrepende ou de que se deve arrepender; o que é (ou deve ser) lamentado, lastimado, o que é doído: ...Seroŷrõmo opakatu ikó 'ara pupé i moasypyra, seroŷrõmbyra sosé. - Detestando-os mais que tudo o que deve ser lamentado e o que se deve detestar neste mundo. (Ar., Cat., 220)
in / en(a) (t) (v. intr. irreg.) - 1) estar (em posição sem movimento), estar parado, estar quieto, estar quedo, estar sentado, estar assentado, estar estabelecido, ficar: Aín. - Estou sentado. (Fig., Arte, 58); Aĩngatu. - Estou bem estabelecido (isto é, estou firmemente assentado). (VLB, I, 139); Marãpe seni og uba mongetábo? - Como estava orando a seu pai? (Ar., Cat., 52v); Pitangamo seni Maria îybápe. - Como criança está nos braços de Maria. (Anch., Poemas, 108); Opukubo taba reni. - A aldeia está assentada de comprido. (Anch., Arte, 43); 2) estar preso, ficar preso: Itá resé aín. - Estou preso nos ferros. (VLB, II, 85); ...Aîpoûsub ikó mundépe xe rena... - Temo ficar preso nesta armadilha... (Ar., Cat., 165); Itá xe resé seni. - Os ferros em mim estão presos. (VLB, II, 85); 3) eis aqui estar: Aín. - Eis que aqui estou. (VLB, I, 109) ● endaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de estar (parado, quieto, sentado, etc.); assentamento: Îandé rubypy-angaturametá 'angûera rendagûera erimba'e... - Lugar em que estavam outrora as almas de muitos de nossos primeiros santos pais. (Bettendorff, Compêndio, 50); ...nde membyra rendaûama - lugar onde estará teu filho (Anch., Poemas, 134); inĩ - estar quieto, sem mais, estar sentado, sem mais: Ainĩ. - Estou quieto. (VLB, II, 93)
re'a (part. de h.) - 1) (expressa desprezo) - vamos ver! vê lá!: Oîmonhang ipó kori milagre amõ xe robakéne re'a... - Vamos ver se fará hoje realmente algum milagre diante de mim. (Ar., Cat., 58v); 2) (expressa expectativa, projeção de futuro) - há de ser, se Deus quiser, com certeza, queira Deus, tomara: ...Nd'e'i ipó xe re'õnama ranhẽ re'a. - Minha morte não há de ser ainda. (Ar., Cat., 157v); ...N'aîkóî ipó irã tuîba'eramo ranhẽne re'a... - Tomara não seja eu o que jazerá primeiro... (Ar., Cat., 157v); Oîeruré-pytubaramo kûesenhe'ym, "re'a" o'îabo... - Estando cansados de pedir, havia muito tempo, dizendo: -Queira Deus. (Ar., Cat., 7); Xe irũ ã re'a. - Esta há de ser minha companheira, com certeza. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); 3) (expressa alívio, regozijo): Aûîeteramo rimba'e Tupã xe pysyrõ Anhanga suí re'a... - Ainda bem que Deus me livrou do diabo! (Ar., Cat., 168v); 4) (expressa temor ou má expectativa) - dever, haver de: Omanõ îepémo oîemongaraíb'e'ymebé re'a... - Haveria de morrer, na verdade, antes de se batizar. (Ar., Cat., 81); Emonã ipó sekóû re'a. - Deve certamente ter agido assim. (Anch., Doutr. Cristã, II, 100); Akanhem kó ixé re'a. - Eis que agora eu hei de perecer! (Ar., Cat., 156); 5) (expressa repúdio, ódio) - Maldito! Miserável!: Mendûera kó re'a nd'e'i oîeakakapa. - Os ex-maridos, esses, malditos, não se repreendem. (Anch., Teatro, 154, 2006)
OBSERVAÇÃO - Assim escreveu o jesuíta Fernão Cardim sobre esse fato cultural: "Entrando-lhe algum hóspede pela casa, a honra e agasalho que lhe fazem é chorarem-no. Entrando, pois, logo o hóspede na casa, o assentam na rede e, depois de assentado, sem lhe falarem, a mulher e filhas e mais amigas se assentam ao redor, com os cabelos baixos, tocando com a mão na mesma pessoa, e começam a chorar todas em altas vozes, com grande abundância de lágrimas e ali contam em prosas trovadas quantas coisas têm acontecido desde que se não viram até aquela hora e outras muitas que imaginam e trabalhos que o hóspede padeceu pelo caminho e tudo o mais que pode provocar a lástima e o choro. O hóspede, nesse tempo, não fala palavra, mas depois de chorarem por bom espaço de tempo, limpam as lágrimas e ficam tão quietas, modestas, serenas e alegres que parece (que) nunca choraram e logo se saúdam e dão o seu Ereiupe, e lhe trazem de comer, etc., e depois dessas cerimônias contam os hóspedes ao que vêm." (in Tratados da Terra e Gente do Brasil)
potar (v.tr.) - 1) querer, desejar: Nde akanga îuká aîpotá korine. - Tua cabeça quererei quebrar hoje. (Staden, Viagem, 156); N'aîpotari nde só. - Não quero tua ida. (Fig., Arte, 157); Aîuká-potar. - Quero matá-lo. (Fig., Arte, 157); N'asó-potari mamõ… - Não quero ir para longe. (Anch., Poemas, 100); Ma'epe ereîpotar? - Que queres? (Léry, Histoire, 347); 2) desejar sensualmente: Eporopotar umẽ ... - Não desejes gente. (Ar., Cat., 70v); Kunhã potá nhote... - Só desejando mulher. (Ar., Cat., 71); 3) ter propensão para, ser propenso a: Xe resaraî-potar. - Eu tenho propensão a esquecer, eu sou esquecidiço. (VLB, I, 127); Xe mba'easy-potar (ou Xe mba'easy-potar îá). - Eu sou enfermiço, doentio (isto é, eu tenho propensão para doenças). (VLB, I, 105) ● oîpotaryba'e - o que quer, o que deseja: ...omendá-potaryba'e... - os que querem casar-se (Ar., Cat., 132); potasara - o que quer, o que deseja, o desejoso: ...Tekokatu potasara - a que deseja a virtude (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618); potasaba (ou potaraba) - lugar, tempo, causa, etc. de querer, de desejar (inclusive sensualmente); vontade; desejo: O'ẽpe erimba'e nde membyra nde i potasápe? - Poluiu-se outrora teu filho por tu o desejares? (Anch., Doutr. Cristã, II, 97); ...I angaîpab-eté... kó pe rembiá potasaba. - É muito má a vontade destas vossas presas. (Anch., Teatro, 156, 2006); ...i potarypyra - o que é (ou deve ser) desejado: A'e anhõ opakatu i potarypyra sosé. - Só isso está acima de tudo o que deve ser desejado. (Ar., Cat., 47); i îuká-potarypyra - o que se deseja matar (VLB, I, 79); emimotara (t) - o que alguém quer ou deseja; vontade: Îesu, xe remimotara. - Jesus, o que eu desejo. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618)
pupé (posp.) - 1) dentro de: Mba'epe ererur nde karamemûã pupé? - Que trouxeste dentro de tua caixa? (Léry, Histoire, 342); 2) com (instr.): Oîeypyî 'y-karaíba pupé. - Asperge-se com água benta. (Ar., Cat., 24); ...Opîá o akangaobĩ pupé. - Cobrindo-o com seu véu. (Ar., Cat., 62); itá pupé - com uma pedra (VLB, I, 77) 3) em (temp.): kó semana pupé... - nesta semana (Ar., Cat., 4); 4) em, para, para dentro de: ...Apŷaba... mondóbo xe retama pupé. - Enviando homens para minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Mba'e-tepe peseká kó xe retama pupé? - Mas que é que procurais nesta minha terra? (Anch., Teatro, 28); ...Ybyrá pupé omanõmo... - Morrendo na cruz. (Anch., Poemas, 90); ...Purgatório pupé osoba'e... - as que vão para o purgatório (Ar., Cat., 136, 1686); 5) dentro do mesmo lugar de; no mesmo lugar de; com (de companhia): A'ar nde pupé. - Embarco contigo. (Anch., Arte, 40v); A'a nde pupé. - Caí no mesmo lugar de ti (isto é, caí em teus costumes); 6) entre, no meio de, junto com: Arasó nde mba'e xe mba'e pupé. - Levei as tuas coisas entre as minhas coisas. (Anch., Arte, 40v) ● pupé-ndûara (ou pupé-sûara) - o que está dentro de; o que é interior, o interno (VLB, II, 13)
eté1 (t) (s.) - 1) verdade, legitimidade; 2) excelência; 3) normalidade; [adj.: eté (r, s)] - 1) verdadeiro, legítimo, autêntico, genuíno: Tupã rendabeté, Tupã raîyra. - Verdadeira estância de Deus, filha de Deus. (Anch., Poemas, 88); T'orosaûsu îandé ruba, îandé monhangareté. - Que amemos nosso pai, nosso verdadeiro criador. (Anch., Teatro, 120); 2) muito bom; excelente, ótimo; fino; enorme, fora do comum, a valer: Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); ka'aeté - mata ótima, de boa madeira (Anch., Cartas, 460); ybyrá-eté - madeira fina, ótima (Anch., Cartas, 460); 3) normal: kunhãeté - mulher normal (isto é, que nunca foi escrava) (VLB, I, 142); karaibeté - cristão normal (isto é, o que não é missionário; leigo) (VLB, II, 20); 4) mais, maior, melhor: Turusueté - Ele é maior. I porangeté - Ele é mais bonito. (VLB, II, 35); Ixé xe katueté. - Eu sou melhor. (VLB, II, 35); (adv.) - muito, bastante; verdadeiramente, de fato: Sekó-te i poxyeté... - Mas sua vida é muito má. (Anch., Teatro, 28); Aûîé; xe rorybeté. - Basta; eu estou muito contente. (Anch., Teatro, 128); 'Arangaturameté... - Dia muito bom. (Anch., Poemas, 94); Adão, oré rubypy, oré mokanhemeté... - Adão, nosso primeiro pai, fez-nos perder verdadeiramente. (Anch., Poemas, 130); Té oureté kybõ Reriûasu mã! - Ah, veio de fato para cá o Ostra Grande! (Léry, Histoire, 341) ● eté-eté (r, s) (adj.) - imenso, grandioso: Tupã myatã-eté-eté... - a imensa força de Deus (Bettendorff, Compêndio, 62); (adv.) - demais, muitíssimo: O'u-eté-eté ahẽ mba'e. - Ele comeu demais aquela coisa. (VLB, II, 118); etekatu - muitíssimo, demais: Xe moaîu-marangatu, xe moŷrõ-etekatûabo, aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me bem, irritando-me muitíssimo, aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); Asé ra'angetekatu... Anhanga...? - Tenta-nos demais o diabo? (Ar., Cat., 92v); eté nhẽ - muito; muito bem (VLB, II, 44); eté'ĩ - muito, verdadeiramente: Xe angaîpabeté'ĩ ra'u mã! - Ah, eu fui muito pecador! (Anch., Doutr. Cristã, I, 195); eté'ĩ ...mã! - ó, como me alegro! graças a Deus!: Our-eté'ĩ xe ruba mã! - Graças a Deus meu pai veio! (VLB, II, 54)
ri2 [posp. - o mesmo que esé (r, s), não usada com o pron. pess. i] - 1) por, por causa de: Pe rory, xe ra'yretá, xe ri. - Alegrai-vos, meus filhos, por minha causa. (Anch., Teatro, 50); Ema'ẽngatu oré ri... - Vela por nós. (Anch., Poemas, 102); 2) para (final.): Tupã syrama ri i monhangymbyra... - Foi ela feita para ser a futura mãe de Deus. (Anch., Poemas, 88); 3) em (locat. não geográfico): temporal): ...Marãpe xe ri erepûá? - Por que bates em mim? (Anch., Teatro, 32); 4) em (temp.): ...Eresó, kó 'ara ri. - Vais, neste dia. (Anch., Poemas, 94); 5) em, na pessoa de: Ereporu-eté raka'e oré anama ri. - Comias muito carne humana nas pessoas de nossos parentes. (D'Abbeville, Histoire, 350); ...Kunhã ri i moreká. - Sua busca de gente nas pessoas das mulheres. (Anch., Teatro, 150, 2006); 6) a respeito de, acerca de, de: ...Nde ri xe nhemboryryîa. - Ocupando-me de ti. (Anch., Poemas, 98); 7) com (comp.): Nde resé i îeruréû nde remimbûaîa ri t'oroîkó. - Pede a ti que estejamos com teus súditos. (D'Abbeville, Histoire, 342); 8) com (instr.) Xe abá nhe'enga ri. - Com minha palavra de homem. (Anch., Teatro, 154, 2006); 9) contra: T'irekó ikó apŷaba îandé robaîara ri. - Que tenhamos estes homens contra nossos inimigos. (Léry, Histoire, 357) ● mba'e ri? (o mesmo que mba'e resé?) - por quê? mba'erama ri? - por quê? (referente a algo posterior a um determinado marco temporal): Mba'erama ri bépe asé santos 'ara kuabi? - Por que mais a gente reconhece o dia dos santos? (Ar., Cat., 24)
-reme (posp.) [Possui os alomorfes -eme, -me e -neme (forma nasalizada). Expressa condição, causa e tempo.] - 1) (condicional) no caso de, se: Aîpó xe re'õnama rambûera abaíme, t'onhemonhang umẽ xe remimotara. - No caso de ser difícil frustrar-se essa minha morte, que não se faça minha vontade. (Ar., Cat., 53); Tupã i potare'ỹme, n'aîpotari. - Se Deus não o quiser, não o quero. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Nd'îasóî xûé-tepemo ybakype se'õe'ỹmemo? - Mas não iríamos para o céu se ele não morresse? (Ar., Cat., 43v); mboîa kunhã îukáreme... - se a cobra matar a mulher... (Fig., Arte, 8); 'yreme - se houver água; emonãneme - se for assim (VLB, II, 114); 2) (causal) por causa de, por, porque: Pedro osó o mondóreme. - Pedro vai porque o mandam. (Fig., Arte, 84); Asaûsub Pedro og uba raûsume. - Amo Pedro por amar a seu pai. (Anch., Arte, 16v); Omanõ o îukáreme. - Morre porque o matam. (Fig., Arte, 84); 3) (temporal) por ocasião de, no momento de, quando; sempre que, sempre quando: Oîerokype asé Jesus 'ereme? - Inclina-se a gente sempre quando diz Jesus? (Ar., Cat., 23): Xe îekyîme, t'ereîu... - Quando eu morrer, que venhas. (Anch., Poemas, 102); I kambuneme, sory. - Quando ele mama, ela fica alegre. (Anch., Poemas, 162); ...Oito 'ara sykeme, ...i 'apira mondoki... - Quando chegou o dia oito, cortaram seu prepúcio. (Ar., Cat., 3); A'epe... 'aretéreme eresó. - Ali ias por ocasião dos feriados. (Anch., Poemas, 154)
kuab (ou kuá ou kugûab) (v.tr.) - 1) - conhecer, saber: Marãpe i kugûabine? - Como o saberão? (Anch., Doutr. Cristã, I, 229); Tupana kuapa, ko'y asaûsu xe îara Îesu. - Conhecendo a Deus, agora amo meu senhor Jesus. (Anch., Poemas, 106); N'aîkuabi a'e abá... - Não conheço esse homem. (Ar., Cat., 57); 2) reconhecer, conhecer de novo: ...O îarĩ kuapa aunhenhẽ. - Seu senhorzinho reconhecendo imediatamente. (Anch., Poemas, 118); 3) agradecer, reconhecer (algum bem): Aîkugûab. - Agradeci-o. (VLB, I, 23); Marãnamope asé santos 'ara kuabi? - Por que a gente reconhece o dia dos santos? (Ar., Cat., 24); 4) adivinhar: ...Eîkuá ra'u nde ri opûaryba'e...! - Adivinha, vamos ver, aquele que bateu em ti! (Ar., Cat., 56v); 5) interpretar (VLB, II, 13); 6) julgar (o que é duvidoso) (VLB, II, 16); 7) perceber, sentir: N'aîkugûabi xe îybá (ou xe îybá-e'õ). - Não sinto meu braço (ou meu braço morto). (VLB, II, 130) ● oîkuaba'e (ou oîkuabyba'e) - o que conhece - Oîabyeté seté tiruã oîkuabe'ymba'e. - Transgride-os muito o que não conhece sequer sua substância. (Bettendorff, Compêndio, 103); kuapara - conhecedor, o que conhece, sabedor: Abá angaîpá-nhemima i kuapare'yma supé mombegûabo. - Contando os pecados escondidos de alguém para quem não os conhece. (Ar., Cat., 73v); kuapaba: lugar, tempo, modo, instrumento, etc. de conhecer, de reconhecer, etc.; conhecimento, reconhecimento: A'e kuapápe, ko'y asaûsu... - Por conhecê-lo, agora amo-o. (Anch., Poemas, 108); Oîkuapá-me'eng umûãpe Îudas Îandé Îara îudeus supé erimba'e? - Já tinha dado Judas aos judeus o meio de reconhecer Nosso Senhor? (Ar., Cat., 54); eminguaba (t) - o que alguém sabe, o conhecido, o sabido: ...O eminguá-katue'yma oîmombe'uba'e... - O que conta o que não sabe bem... (Ar., Cat., 67); i kuabypyra - o conhecido, o sabido: ...Se'yî i kuabypyre'yma... - São numerosos os que não são conhecidos. (Ar., Cat., 37); i kugûabypypabẽ - o que é totalmente conhecido, coisa notória por fama (VLB, II, 51); i kuabypyre'yma - o que não é conhecido, coisa secreta (VLB, II, 114)
marã?1 (interr.) - 1) por quê?: Marãpe xe soe'ymi? - Por que não vou eu? (Fig., Arte, 98); Marãpe nd'erenhemimi? - Por que não te escondes? (Anch., Teatro, 32); Akaîgûá! Marãpe xe ri erepûá? - Ai! Por que bates em mim? (Anch., Teatro, 32); 2) de que maneira? como?: Marãpe asé monhangi? - Como ele nos fez? (Ar., Cat., 25); 3) como assim? que dizes? (Diz quem não entendeu bem o que ouviu.): Marã? Ybyrá supé nhẽpe asé îerokyû? - Como assim? Diante de uma madeira a gente faz reverência? (Ar., Cat., 22); 4) que acontece? como fica? que faz? que vai? (Fig., Arte, 133) (Vem, com esse sentido, no final de sentenças sem -pe interrogativo.): A'epe o mena... mũetéramo sekó mombe'ue'yma, marã? - E não confessando ser parente verdadeira de seu marido, que acontece? (Ar., Cat., 71v); Oîá nhote kagûarape, marã? - O que bebe somente o suficiente, que acontece? (Ar., Cat., 78); Kagûarape marã? Nd'oîabyîpe Tupã nhe'enga? - E os que bebem cauim, como ficam? Não transgridem a palavra de Deus? (Anch., Diál. da Fé, 203); 5) qual?: Marãpe moranduba? - Quais as novidades? Quais as novas? (VLB, II, 92); Marãpe nde rera? - Qual é teu nome? (Léry, Histoire, 341); 6) quê? que coisa? [geralmente com os verbos 'i / 'é e ikó / ekó (t)]: Marãpe ereîkó? - Que fazes? (VLB, II, 92); Teté marã e'îabo mã!? - Ah, que dizes!? (Anch., Teatro, 50); Marãpe sekóû ybakypene? - Que farão no céu? (Ar., Cat., 47); 7) Usado sozinho significa que queres? que buscas? (VLB, II, 92); 8) E quanto a? E no que toca a?: Marãpe nde, Mboîusu? - E quanto a ti, Boiuçu? (Anch., Teatro, 154, 2006) ● marã-marã? - refere-se a mais de um (quais? que coisas?, etc.): Marã-marã-pakó îeí xe rekóû?... - Que coisas, pois, hoje eu fiz? (Ar., Cat., 74v); Marã-marãpe Santíssima Trindade rera? - Quais são os nomes da Santíssima Trindade? (Anch., Doutr. Cristã, I, 157); marãpemo? - por que seria que? por que razão haveria de? (VLB, II, 82); marã-pipó? - 1) quê? que dizes? (como o que não entendeu bem o que outrem disse ou respondendo ao que chamou) (VLB, II, 91, 92); 2) Que queres? Que buscas? (VLB, II, 92); marã-takó? - como mesmo? (isto é, pergunta-se sobre algo de que se sabia mas de que já se esqueceu): Marã-takó ahẽ rera? - Qual era mesmo o nome dele? (VLB, I, 77); marã-te? (ou marã-tepemo? ou marãmo-tepe?) - Como, pois? Como, então? Como seria, pois? Se não é assim, como seria? (VLB, I, 77); marã-tepene? - E pois, como há de ser? (VLB, I, 121); marã-te-p'iã-ne? - E, pois, como há isto de ser? (VLB, I, 121)
erekó1 (v.tr.) - 1) fazer estar consigo, ter: ...Toryba rerekóbo... - Tendo alegria. (Anch., Teatro, 54); ...Saûsuba rerekóbo... - Tendo-lhe amor. (Anch., Poemas, 86); Pitangĩ abé îandé rubypy angaîpaba nhõ ogûerekó. - As criancinhas também têm somente o pecado de nosso pai primeiro... (Anch., Doutr. Cristã, I, 201); Orogûerekó xe ra'yramo. - Tenho-te como meu filho. (Anch., Arte, 41v); 2) cuidar de, pastorear (o gado): Erekó-katu nde ma'easy ko'y. - Cuida bem da tua doença agora. (D'Abbeville, Histoire, 350); 3) tratar, portar-se com: O tupãnamo ta xe rerekó... - Que me tratem como a seu próprio deus. (Ar., Cat., 160); Marãpe i boîá rekóû emonã o îara rerekó repîaka? - Como seus discípulos procederam vendo tratar assim a seu senhor? (Ar., Cat., 54v); I angaîpá kó nde boîá, na xe rerekó-katuî. - São maus estes teus servos, não me tratam bem. (Anch., Poemas, 154); Ererekó-memûãpe nde sabeypora? - Portaste-te mal com tua embriaguez? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); 4) manter, conservar: Sepîakypyra niã aîpoba'e re'ombûera o marane'yma rerekó mosapyr koîpó oîoirundyk seîxu ybŷá o tym'iré... - São vistos os cadáveres daqueles manterem sua incorruptibilidade três ou quatro anos após os enterrarem. (Ar., Cat., 179v); ...Okaî oúpa... o ekobé rerekóbo... - Estão queimando, conservando suas vidas. (Ar., Cat., 248); 5) guardar, reter...: A'e aé ipó xe rerekó... - Ele mesmo certamente me guarda. (Ar., Cat., 25v); 6) fazer com: I aogûerape marã serekóû? - E suas velhas roupas, que fizeram com elas? (Ar., Cat., 62); Marãpe serekóû i tym-y îanondé? - Que fizeram com ele antes de o enterrarem? (Ar., Cat., 64v) ● erekoara (ou erekosara) (t) - o que tem; o que cuida, o que trata, etc.: Tekokatu-eté rerekoara onherane'ymba'e... - O que tem a bem-aventurança é o que é manso. (Ar., Cat., 18v); São Sebastião abé, marana rerekoarûera, tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - São Sebastião também, o que cuidava das guerras, destruiu os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52); emierekó (t) - o que alguém tem, o que alguém faz estar consigo, o que alguém guarda, etc.: Xe rureme, asobaîtĩ xe remierekopûera. - Ao vir eu, encontrei o que guardara. (Léry, Histoire, 375); Oîekûabokyba'eramape tekopuku ybakype semierekorama? - A vida eterna que eles terão no céu é a que mudará? (Ar., Cat., 47); erekoaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de ter, de fazer estar consigo, de cuidar, de tratar, de guardar, etc.; a posse, o ter, o trato, a guarda: Eîkuab abaré nde mongaraipápe nde rerekoagûera... - Conhece o modo pelo qual o padre te tratou ao te batizar. (Ar., Cat., 187); serekopyra - o que é tido, guardado, mantido, tratado, etc.: Emonã serekopyra rakó abá obasẽ-porang... - Assim tratada, certamente, uma pessoa chega bem. (Ar., Cat., 85v); -Na peamotare'ymipe oré rubixaba? -Erimã. Serekó-katupyre'ymetémo. -Não detestais nosso chefe? -Absolutamente. Ele não seria muito bem tratado (se o detestássemos). (Léry, Histoire, 353); Mba'epe aûîeramanhẽ serekopyrama ikó 'ara pupé? - Que é o que será mantido para sempre neste mundo? (Ar., Cat., 165)
asy (t) (s.) - 1) dor, pena: 'Y berame'ĩ ikó îandé ratá rasy: n'osyki Anhanga ratá rasy resé. - Eis que a dor de nosso fogo parece a da água: não se equipara à dor do fogo do diabo. (Ar., Cat., 163v); Oîporará Tupã repîake'yma rasy. - Sofrem a dor de não verem a Deus. (Ar., Cat., 48); 2) mal, ruindade; problema: Na sasyî. - Não faz mal, não há problema. (Anch., Teatro, 148, 2006); [adj.: asy (r, s)] - 1) dolorido, doloroso, penoso, trabalhoso, árduo; (xe) doer, ser penoso, ser causa de pesar; pesar; ter dor, sentir dor; sofrer: T'oré pyatã, angá, mba'e-asy porarábo... - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas. (Anch., Teatro, 120); Sasy nakó ygá-pukuîa. - É penoso, de fato, remar canoa. (VLB, II, 134); Sasy nde só ixébe. - Dói-me tua ida. (Também se emprega com o gerúndio.): Sasy-eté ahẽ osóbo. - É doloroso ir-se fulano. Sasy-eté ahẽ oure'yma ixé o enõîndápe. - É muito doloroso não vir fulano ao meu chamado. (VLB, II, 75); Xe rybyt, nde nhyrõ xebo; xe rasy, xe mara'a. - Meu irmão, perdoa tu a mim; eu tenho dor, eu estou doente. (Anch., Teatro, 46); Ta sasy muru supé! - Que eles sofram junto dos malditos! (Anch., Teatro, 56); Mba'epe sasyeté a'epe tekoara supé?... - Que é mais penoso aos que estão ali? (Ar., Cat., 47v); Sasy ixébe. - Dói a mim; pesa-me (alguma coisa). (VLB, I, 105); Anhanga ratá îabépe satá rasyramo? - Como o fogo do diabo o fogo dele é penoso? (Ar., Cat., 48v); Sasy Peró supé. - Pesa a Pedro (alguma coisa); dói a Pedro (alguma coisa). (VLB, I, 105); Sasy-eté abá supé ogûe'õnama anduba. - Dói muito ao homem perceber sua morte. (Ar., Cat., 156); 2) mau, ruim: nhe'engasy - palavra ruim (VLB, I, 40); tobasy - cara ruim, mau humor (VLB, I, 140); (adv.) - demais, de doer, dolorosamente: Saîasy. - Ele está azedo demais (lit., azedo de doer). (VLB, I, 143); Osem okarype oîase'o-asykatûabo. - Saiu para o pátio chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v) ● mba'e rasy - dor (em sentido genérico) (VLB, I, 106)
'i / 'é1 (v. tr. irreg.) 1) dizer: Marã e'ipe asé, karaibebé o arõana mongetábo? - Que a gente diz, conversando com o anjo seu guardião? (Ar., Cat., 23v); Aîpó eré supikatu... - Isso dizes com razão... (Anch., Teatro, 32); 2) rezar, enunciar-se, prescrever: Aîpó tekoangaîpaba robaîara nã e'i. - Os opostos daqueles pecados assim se enunciam. (Ar., Cat., 18); 3) querer dizer, querer significar, pensar, supor, presumir, cogitar, julgar: Marã e'ipe asé o py'ape aîpó o'îabo i xupé? - Que quer dizer a gente em seu coração, dizendo isso para ela? (Ar., Cat., 31v); "Osó ipó re'a" a'é. - Presumo que ele deve ter ido. (VLB, II, 86); 4) concluir, julgar por indícios: Emonã ûĩ re'a a'é. - Concluo que talvez isso seja assim. (VLB, II, 16); Amõ îuká-potá ûĩ sekóû a'é. - Concluí que ele está querendo matar alguém. (VLB, II, 16) ● e'iba'e - o que diz: Mendara... "xe mena koîpó xe remirekó re'õ ré t'îamendar îandé îoesé" e'iba'e, se'õ nhẽ roîré nd'e'ikatuî sesé omendá. - O cônjuge que diz: "-Após a morte de meu marido ou de minha esposa havemos de nos casar", após sua morte não pode casar-se com ele (ou ela). (Ar., Cat., 1686, 279-280); 'îara (ou e'îara) - o que diz; o indicador: Îaîuká memẽ aîpó 'îara... - Matemos juntos o que diz isso. (Ar., Cat., 79); ...Îasytatá serekoarama resé... pé 'îaramo i xupé... - Por causa da estrela sua guardiã,... como indicadora do caminho para eles. (Ar., Cat., 3); ...Marã e'îara... - As que dizem coisas más. (Anch., Teatro, 36); "...-Our temõ anhanga xe rerasóbo mã" e'îara. - O que diz: -Oxalá venha o diabo para me levar... (Ar., Cat., 67); 'îaba (ou 'eaba ou 'esaba) - 1) tempo, lugar, modo, etc. de dizer; o dizer: Okaî oupa aûîeramanhẽ... o îurupe nhote aîpó o 'eagûera repyramo. - Estão queimando para sempre como pena de dizerem isso somente em suas bocas. (Ar., Cat., 1686, 248); 2) o que alguém diz, o chamado por alguém, o dito: Ybytyra Monte Calvário 'îápe... - Para o monte chamado Calvário (Ar., Cat., 89); Erimba'epe aîpó nde 'îaba ereîmopóne? - Quando cumprirás isso que tu dizes? (Ar., Cat., 111v); O'u nhẽpe a'e 'ybá, tegûama, Tupã 'îaba? - Comeu aquele fruto, causa da morte, que Deus dissera? (Ar., Cat., 40v); Aîpó i 'eagûera rerekóbo, semimbo'e-etá... miapé rari o pópe... - Tendo isso que ele disse, seus discípulos tomaram o pão em suas mãos. (Ar., Cat., 84v)
esé (r, s) (posp.) - 1) com [sentido de companhia, levando o verbo para o plural]: Nde resé memẽ oroîkó... - Contigo sempre estou. (Anch., Poemas, 84); N'ereîkuabipe ko'yr te'õ nde resé sekó? - Não sabes que agora a morte está contigo? (D'Abbeville, Histoire, 350); Mba'e-py'aûpîara kaûĩaîasy resé i monani... - Uma coisa amarga com vinagre misturaram. (Ar., Cat., 63v); Sesé orosó. - Vou com ele. (Anch., Arte, 44v); Penheŷnhang pabẽ sesé! - Ajuntai-vos todos com eles! (Anch., Teatro, 60); 2) a respeito de, de: ...Sesé oma'enduaramo. - A respeito dele lembrando-se. (Ar., Cat., 22); Ma'e resé îandé mongetáû? - A respeito de quê conversamos? (Léry, Histoire, 358); 3) em (em sentido locativo não geográfico): Tupana resé aîkó. - Vivo em Deus. (Fig., Arte, 166); ...Xe aé aporomoingó moropotara resé. - Eu mesmo pus gente no desejo sensual. (Anch., Teatro, 36); atuá resé - na nuca (Fig., Arte, 126); Sesé i moîarypyramo omanõmo... - Nela (isto é, na cruz) morrendo crucificado. (Ar., Cat., 22); Enhonong nde itaingapema nde ku'a resé. - Põe tua espada na tua cintura. (Fig., Arte, 125-126); 4) em (em sentido temporal): Putuna amõ resé... - Numa certa noite... (Ar., Cat., 7); 5) na pessoa de: Na xe ra'y-potari nde resé. - Não quero meu filho na tua pessoa (isto é, não te quero ter por filho). (Fig., Arte, 124); Xe rembiá-potá sabeypora amõ resé... - Eu quero presas nas pessoas de alguns bêbados. (Anch., Teatro, 150, 2006); 6) por; por causa de [às vezes com um deverbal em -sab(a)]: Abápe asé resé Tupã mongetasara sekóû? - Quem é a que fala a Deus por nós? (Ar., Cat., 23); Eîerok moxy resé ta nde rerapûãngatu. - Arranca-te o nome por causa dos malditos, para que sejas muito famoso. (Anch., Teatro, 46); Aîeruré aoba resé Pedro supé. - Peço a Pedro por roupa. (Anch., Arte, 44); ...Mba'e-asy porarábo Tupana resé... - Suportando as coisas dolorosas por causa de Deus. (Anch., Teatro, 120); Oromoeté-katu... nde xe pysyrõagûera resé. - Louvo-te muito por me teres salvado. (Ar., Cat., 87v); 7) para [com o sentido de finalidade; às vezes com um deverbal em -sab(a)]: Tupã... moeteagûama resé. - Para honrar a Deus. (Ar., Cat., 24); Ne emongetá nde Tupã t'okûab é amanusu îandé momarane'yma resé. - Roga a teu Deus para que passe a tempestade para não nos arruinar. (Staden, Viagem, 66); 8) contra: Aîtyk nhe'enga sesé. - Lanço palavras contra ele. (Anch., Arte, 44v); Quatro tekoangaîpaba ybaka resé oposẽ-posemba'e. - Quatro são os pecados que ficam bradando contra os céus. (Bettendorff, Compêndio, 17); 9) de (de posse, pertença), destinado a, tocante a, cabível a: Xe resendûara ebokûea. - Isso é o que é destinado a mim. (VLB, II, 74, 129); 10) no encalço de, atrás de (a perseguir, a importunar): Xe resé-katu ahẽ rekóû. - Fulano está muito atrás de mim (isto é, fica no meu encalço, a importunar-me). (VLB, II, 74); So'o resé aîkó. - Estou atrás de caça. (VLB, II, 41) ● mba'e resé? - por quê? (VLB, II, 82); mba'erama resé? - 1) por quê? (referente a algo posterior a um determinado marco temporal): Mba'erama resépe Tupã i me'engi asébe? - Por que Deus os deu para a gente? (Ar., Cat., 23v); 2) para quê?: -Mba'erama resépe Tupã semirekorama monhangi? -I pytybõsarama resé... - Para que Deus criou a esposa dele? -Para sua futura ajudante... (Ar., Cat., 48); mba'e-resémo? - por que seria que? por que razão haveria de? (VLB, II, 82)
ikó2 / ekó (t) (v. intr. irreg.) - 1) estar (em geral ou em movimento): Oîkó-po'ipe i tupã se'õmbûera pupé? - Deixou de estar sua divindade em seu cadáver? (Ar., Cat., 44); Nde resé memẽ oroîkó... - Contigo sempre estamos. (Anch., Poemas, 84); 2) morar: Kó taba pupé aîkó. - Moro nesta aldeia. Aîkó iké xe roka pupé. - Moro aqui em minha casa. Aîkó Pero irũnamo. - Moro com Pedro. (VLB, II, 41); Umãmepe sekóû? - Onde ele mora? (Ar., Cat., 50v); 3) ser (acompanhado ou não da posposição -ramo): N'i xyîtepe Tupã-etéramo oîkóbo? - Mas não teve mãe, sendo Deus verdadeiro? (Ar., Cat., 22v); -Mba'epe Santa Madre Igreja Católica îekuapabeté? -Oîepé nhõ sekó... - Qual é o verdadeiro sinal da Santa Madre Igreja Católica? -Ser ela uma só. (Bettendorff, Compêndio, 54); Pitangĩnamo ereîkó... - És um nenenzinho. (Anch., Poemas, 100); Asé rarõanamo-tepe karaibebé rekóû? - Mas os guardiães da gente são os anjos? (Ar., Cat., 23v); 4) viver: Aîkó-katupe i îabé ká... - Hei de viver bem como eles. (Ar., Cat., 24); I xupépe asé îeruréû o 'anga rekorama resé? - A ele a gente pede pelo futuro viver de sua alma? (Ar., Cat., 93v); Aîkó tekokatu resé. - Vivo na virtude. (Anch., Arte, 44); -Endépe ereîkó? - Tu vives? (Fórmula de saudação a quem chega.) (VLB, II, 113); 5) proceder, portar-se, agir, fazer (no sentido de portar-se, comportar-se): Aîkó nde nhe'enga rupi. - Procedo conforme tua palavra. (VLB, II, 53); Pysaré serã ereîkó arinhama mokanhema...? - Será que a noite toda ages para fazer sumir as galinhas? (Anch., Teatro, 30); Marã oîkóbo bépe abá i abyû? - Procedendo de que forma o homem o transgride? (Ar., Cat., 69v); Ixé aé emonã aîkó. - Eu mesmo fiz assim. (VLB, I, 135); 6) ter relações sexuais, fazer sexo [é regido, com este sentido, somente pela posposição esé (r, s)]: Aîkó sesé. - Tenho relações sexuais com ela. (Anch., Arte, 44); Oîkó kunhã resé. - Tem relações sexuais com uma mulher. (Fig., Arte, 124); 7) casar [compl. com a posposição upi (r, s)]: Aîkó kunhã rupi. - Caso com uma mulher. (Anch., Arte, 43v); 8) ter a ver, interessar [compl. com esé (r, s)]: Nd'oroîkóî aîpó resé... - Não temos a ver com isso. (Ar., Cat., 57v); N'aîkóî sesé ko'yté. - Não tenho a ver com ele, enfim (isto é, desisti dele). (VLB, I, 99); 9) haver, existir: Nd'oîkóîpe mba'e amõ Tupã 'ara monhang'e'ymebé? - Não havia nada antes de Deus fazer o mundo? (Anch., Doutr. Cristã, I, 159); ...Aûîebeté ereîkó xe îar-y gûé!... - Que bom que existes, ó meu senhor! (Ar., Cat., 86); 10) ocorrer, suceder: Ereîopykype nde remirekó, sugûy sekóreme? - Cobriste tua esposa quando sucedia o sangue dela (isto é, na sua menstruação)? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98); 11) ter pendências, contendas, problemas [é regido, com este sentido, pelas posposições esé (r, s) ou ri]: Aîkó sesé. - Tenho pendências com ele. (Anch., Arte, 44); 12) negociar, trabalhar [com as posposições esé (r, s) ou ri]: Paranãmbora ri aîkó. - Trabalho com mariscos. (VLB, II, 32); 13) acostumar-se, estar acostumado [compl. com a posp. esé (r, s)]: N'aîkóî (abá) resé. - Não estou acostumado com homens. (VLB, I, 95, adapt.); 14) eis aqui estar: Aîkó. - Eis-me aqui, eis que aqui estou. (VLB, I, 109); 15) deter-se: Ymûanĩ ahẽ rekóû. - Por longo espaço de tempo ele se deteve. (VLB, I, 125); 16) buscar, estar em busca [é regido, neste caso, pela posp. esé (r, s)]: So'o resé aîkó. - Estou em busca de caça. (VLB, II, 41); Mba'e resépe ereîkó? - Que coisa buscas? (VLB, II, 92) ● oîkoba'e - o que vive, o que está, o que habita, o que tem relações sexuais, etc.: ...Tupã pyri oîkoba'e - o que está junto de Deus (Anch., Teatro, 16); ...O mendasabe'yma resé oîkoba'e... - O que tem relações sexuais com o que não é seu cônjuge. (Ar., Cat., 71); ekoara (t) - o que está (sempre ou ocasionalmente), o que vive, o que procede, etc.: Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'o-îa'oû...? - Por acaso todos os que estavam ali ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v); Marataûãme tekoara ogûerobîá xe nhe'enga... - Os que moram em Maratauá acreditam em minhas palavras. (Anch., Teatro, 12); ...Emonã tekoarûera îaîpe'a. - Separemos os que assim procederam. (Ar., Cat., 128); ekoaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de estar, de viver, de morar, de proceder, etc.; o viver, o proceder, etc.: Marãpe erimba'e Tupã îandé rubypy rerekóû emonã sekoagûera ri? - Que fez Deus outrora com nosso pai primeiro por causa de seu proceder assim? (Anch., Doutr. Cristã, I, 162)