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Dicionário de Tupi antigo

A língua indígena clássica do Brasil

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atĩ (t) (s.) - ponta, extremidade: itá-atĩ - ponta de pedra (Anch., Arte, 9); seîkûaratĩba'e - o que tem ponta em forma de nádegas (Léry, Histoire, 346); [adj.: atĩ (r, s)] - pontudo: kabatĩ - vespa pontuda (VLB, I, 55)
Itati (BA). De itá + atĩ: pedras pontudas.
Itatim (BA). De itá + atĩ: pedras pontudas.
Itatins (serra de MT). De itá + atĩ: pedras pontudas.
NOTA - Daí, no P.B., IGARATIM (ygar + atĩ, "canoa pontuda"), var. de canoa indígena. Daí, também, o nome geográfico ITATINS (MT) (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B., CAMBURIAPEVA (kamuri + 'a + peb + -a, "camuri da cabeça achatada"), nome de um peixe centropomídeo; POTIATINGA (potĩ + 'a + ting + -a, "camarão da cabeça branca"), espécie de camarão da família dos peneídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188); IPECUATI (ypeku + 'a + atĩ, "pica-pau da cabeça pontuda"), nome de uma ave.
amoreatĩ (etim. - moréia pontuda) (s.) - peixe da família dos batracoidídeos, que vive na lama da foz dos rios. "Picam por debaixo o pé ou mão que lhes toca." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 56)
apỹîatĩ (etim. - aro pontudo) (s.) - madeiras que eram introduzidas nas narinas perfuradas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
atĩapyra (t) (s.) - ponta (de faca, de espada, etc.) (VLB, II, 80)
eîkûaratĩ (t) (etim. - saliência do ânus) (s.) - hemorróidas (VLB, I, 32)
gûambaîakuatĩ (s.) (etim. - baiacu pontudo) - o mesmo que gûamaîakugûará (v.) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 52)
îabakatĩ (s.) - JAGUACATIM, ave coraciforme da família dos alcedinídeos que vive à beira dos rios, andando pela água em busca de peixinhos de que se mantém. "Tem o bico comprido, o peito vermelho, a barriga branca, as costas azuis." (Sousa, Trat. Descr., 229)
îagûasatĩ (s.) - nome de uma ave (Libri Princ., vol. I, 95)
itau'ubatĩ (etim. - ponta de flecha de ferro) (s.) - seta de ponta (VLB, II, 66)
îuatĩ (etim. - ponta de juá) (s.) - espinho: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha... -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v)
îyatĩmuku (etim. - ferramenta pontuda comprida) (s.) - escopro, instrumento de cortar usado por carpinteiros, entalhadores, estatuários, etc. (VLB, I, 123)
îyatĩmukupyûaîa (etim. - ferramenta pontuda comprida e côncava) (s.) - goiva, instrumento de marceneiro (VLB, I, 148)
kabatĩ (etim. - vespa pontuda) (s.) - inseto da família dos vespídeos (VLB, I, 55)
matĩaré (s.) - fome (VLB, I, 141)
mbyatĩ (etim. - pontas das patas) (s.) - esporas; esporão de galo (VLB, I, 127)
moreîatĩ - o mesmo que amoreatĩ (v.)
nheatĩapyr (v. intr.) - dar um tombo, dar cambalhota, dar um trambulhão (VLB, II, 147): Anheatĩapyr. - Dei uma cambalhota. (VLB, I, 64)
nhupatĩ (v. intr.) - sofrer, padecer: ...A'epe bé rakó abá nhupatĩû... - Aí também, certamente, o homem sofre. (Ar., Cat., 165)
piraatĩatĩ (etim. - peixe muito pontudo) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 64)
piratĩ (m) (etim. - saliências da pele) (s.) - varíola, bexigas (VLB, I, 55)
piratĩapûá (etim. - peixe do focinho pontudo) (s.) - peixe da família dos serranídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 157, 180; VLB, I, 50)
tatĩapyra (s.) - entrada de lugar povoado, onde começam as casas (VLB, I, 119)
teîkûaratĩ (etim. - extremidade de nádegas) (s.) - rabo de tiro, como de certas armas de fogo antigas (VLB, II, 95)
tu'ĩatĩ'yba (etim. - planta do tuim de penas brancas) (s.) - árvore "de casca cinzenta, madeira frágil, que cresce até atingir a amplidão da macieira silvestre" (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 136)
ubatĩ1 (s.) - variedade de milho, o milho-da-guiné ou zaburro. "A cor geral deste milho é branca." (Sousa, Trat. Descr., 182)
ubatĩ2 (etim. - fruto pontudo) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 218)
ûyratĩ - o mesmo que ûyratinga (v.) (D'Abbeville, Histoire, 241)
'ybatĩ (etim. - fruto pontudo) (s.) - nome de planta, provavelmente uma asclepiadácea do gênero Ibatia. Tem um fruto acuminado na extremidade, com muitas proeminências como espinhos, que derrama um suco lácteo, glutinoso. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 19-20)
ypekatĩapûá (etim. - pato da crista ressaltada) (s.) - pato-de-crista, pato crestudo, ave da família dos anatídeos, de coloração branca e preta, com tuberosidade sobre o bico. Habita regiões pantanosas. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 218)
YPEKATĩAPÛÁ (fonte: Marcgrave)
aty1 (s.) - ATI, gaivota, nome genérico de aves larídeas de penas brancas, cauda grande e estreita, que habitam a costa sul-americana e voam longe no mar para buscar peixes (D'Abbeville, Histoire, 241v)
atyûasu (etim. - ati grande) (s.) - 1) ATIUAÇU, ATINGAÇU, ave da família dos cuculídeos. Vive na mata e à beira da mata, no cerrado e no cerradão. "...Tem as costas pardas, o peito e a barriga brancas, o rabo comprido, as pernas verdoengas, os olhos vermelhos." (Sousa, Trat. Descr., 238; VLB, I, 146)
espirrar - atîam (xe)
espirro - atîama
ombro - ati'yba
pontiagudo - atîaî/a (r, s)
pontudo - atîaî/a (r, s)
Itaguaçu (Atibaia, SP). De itá + -ûasu: pedra grande.
catinga - katinga
Jacaré Catinga (SP). De îakaré + katinga: catinga dos jacarés.
desenhar - kûatiar
escrever - kûatiar
milho - abati
nuvem - ybatinga; ybytinga
pernilongo - nhati'ũasu
pintar - kûatîar; (pintar de branco): moting; (pintar de vermelho): mopyrang; (pintar de preto): moún; (pintar de amarelo): moîub
volta - nhatimana; nhemoîereba
Marombas (Itatiaia, RJ). O termo maromba é, talvez, das línguas gerais coloniais e tem muitos significados (v. Marumbi).
fumaça - tatatinga; timbora
garça - gûyratinga
apysyka (s.) - satisfação; consolo, sossego, agrado; (adj.: apysyk) - 1) satisfeito, farto (inclusive do que se come): Xe apysy-katu sekoápe. - Estava muito satisfeito na morada deles. (Anch., Teatro, 10); 2) (xe) consolar-se; quietar-se internamente consigo; sossegar, estar sossegado; satisfazer-se: Îasepenhan, îaîpysyk i apysyk' e'ymebé... - Ataquemo-los, prendamo-los antes que se consolem... (Anch., Teatro, 66); ...Sesé nhõ abá resá apysykamo ybakype... - Somente com Ele os olhos dos homens se satisfazem no céu. (Ar., Cat., 167); Pe apysykĩ serã peîkóbo pe rekomemûã aty-atyra pupé...? - Será que estais sossegados, sem mais, com vossos montes de maldades? (Ar., Cat., 166): Na nde apysyki, tobaîara rekorama kuabe'yma... - Tu não sossegas, não sabendo as ações dos inimigos. (Ar., Cat., 158); 3) (xe) agradar-se, regozijar-se, gostar [compl. com esé (r, s)]: Xe apysyk (mba'e) resé. - Agrado-me com as coisas. (VLB, I, 27, adapt.); I apysyk pabẽ sesé. - Todos gostaram delas. (Anch., Poesias, 259); 4) (xe) bastar a (compl. verbal no gerúndio): N'i apysyki xûépemo serobîasara o py'ape nhote serobîá? - Não bastaria ao crente acreditar nele em seu coração somente? (Bettendorff, Compêndio, 33) ● apysykaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de se consolar; consolo: Mba'epe asé apysykabamo a'ereme? - Qual é nosso consolo, então? (Ar., Cat., 92v)
îasuka (s.) - batismo: Xe ryke'yr, ereîeruré îasuka ri. - Meu irmão, pedes pelo batismo. (D'Abbeville, Histoire, 350)
îatiman - v. nhatiman
nhatiman (ou îatiman) (v. intr.) - andar à roda, andar em círculos, rodar (não no chão, como uma roda de carroça, mas como a roda do engenho, a roda de mão, roda de algodão, etc.) (VLB, I, 35); fazer voltas, descrever círculo (p.ex., o caminho) (VLB, II, 147)
nhati'ũ (s.) - JATIUM, espécie de mosquito pequeno da família dos culicídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 257; VLB, II, 43)
paty (s.) - PATI, PAXIÚBA, variedade de palmeira (Syagrus botryophora (Mart.) Mart.). O tronco fornece madeira para construções rústicas e ripas de ótima qualidade. É também chamada coco-da-quaresma. (Sousa, Trat. Descr., 198)
patygûá (s.) - PATIGUÁ, espécie de cesto; o mesmo que patûá (v.) (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §120, 98; VLB, I, 65)
ponga (s.) - batida, percussão; (adj. - pong) - que bate, que percute: gûyrá-ponga - "pássaro que bate", ARAPONGA. Seu canto parece os sons metálicos do bater de ferro em bigorna. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 201)
tatatinga - v. atatinga (t)
espinho - îu; îuatĩ
abati'imirĩ (s.) - ABATIMIRIM, planta da família das gramíneas, variedade de arroz com grão avermelhado e pequeno (VLB, I, 44)
aratiku (s.) - ARATICUM, ARATICUNZEIRO, ARATICUZEIRO, 1) árvore do cerrado (Annona crassiflora Mart.), da família das anonáceas, de frutos grandes, pesados e comestíveis; 2) nome de outras espécies de árvores anonáceas, do gênero Annona (Annona montana Macfad. e Annona glabra L.), também conhecidas como araticum-cortiça, marolo; 3) o fruto dessas árvores (D'Abbeville, Histoire, 219v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93; Brandão, Diálogos, 216)
aratikuponhẽ (s.) - ARATICUM-PANÃ, ARATICUM-DE-PACA, árvore anonácea (Annona montana Macfad.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 97)
kûati (s.) - QUATI, COATI, QUATI-DE-BANDO, nome comum a mamíferos carnívoros que vivem em bandos de oito a dez, da família dos procionídeos, do gênero Nasua, que aparecem em todo o Brasil, dentre os quais se destacam as espécies Nasua socialis Newied, Nasua nasua L. e Nasua narica L., esta semelhante à raposa, tendo fina cauda de até 1,20 m de comprimento (D'Abbeville, Histoire, 251; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 228)
balançar - (tr.): moîatimung; (intr.): atimung
fedor - nema; katinga
akaîakatinga (s.) - CAJATI, variedade de cedro brasileiro, árvore da família das lauráceas (Cryptocarya mandioccana Meisn.), da mata atlântica (Sousa, Trat. Descr., 212)
atitara (ou 'ybatitara) (s.) - TITARA, JACITARA, planta palmácea sarmentosa (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 64)
gûyratinga (ou ûyratinga) (etim. - ave branca) (s.) - GUIRATINGA, ACARATINGA, ave ciconiforme americana da família dos ardeídeos, de cor branca. Era conhecida no século XVI como garça. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 61; VLB, I, 146) ● ûyratingusu - garça grande (Staden, Viagem, 70)
îupati1 (s.) - JUPATI, nome de mamífero marsupial, da família dos didelfídeos, do gênero Philander. "Não se comem, os quais criam em troncos das árvores velhas." (Sousa, Trat. Descr., 254-255)
mopytubar (v.tr.) - fatigar, aborrecer, deprimir: Iî abaibeté nhẽ rakó... asé atá mysakanga..., asé mopytubara... - São muito molestos, certamente, os tropeços de nossa caminhada, o fatigar-se. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79)
parati1 (s.) - PARATI, peixe da família dos mugilídeos, do Atlântico sul (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 181): Nd'aruri amõ parati. - Não trouxe nenhum parati. (Anch., Poemas, 152) (D'Abbeville, Histoire, 244v)
tabatinga (s.) - TABATINGA, TAUATINGA, TOBATINGA, argila esbranquiçada usada para caiar casas; o mesmo que tobatinga (v.) (Monteiro, "Rel. da Prov. Bras.", in Leite, S., Hist., VIII, 411, 1949; Brandão, Diálogos, 208)
tamatîá (ou tamatîã) (s.) - TAMATIÁ, ave ciconiforme dos mangues, das beiras dos rios e lagos, da família dos coclearídeos, de bico largo e achatado (D'Abbeville, Histoire, 241; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 208)
tobatinga (s.) - TOBATINGA, TABATINGA, var. de barro branco como cal (VLB, I, 52; Anch., Arte, 14v)
tupi'atinga - v. upi'atinga (t)
a'ang5 (s) (v.tr.) - atirar (VLB, I, 47); atirar ao alvo (p.ex., flecha): Asa'ang. - Atiro-a. (VLB, II, 129)
abati (s.) - 1) AVATI, ABATI, AUATI, milho, planta da família das gramíneas (Zea mais L.) (Staden, Viagem, 67): Atupá-rung abati. - Estabeleci uma plantação de milho. (VLB, II, 81); 2) o grão dessa planta ● abati-'y - ABATINI, variedade de bebida feita de milho; vinho de milho (D'Abbeville, Histoire, 207; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; Thevet, Les Sing. de la France Antart., 56v); abati-tyba - milharada, milharal; abatigûasu (ou abati-atã ou abatipeba) - milho zaburro; abati-una - milho preto; abati-eté - milho verdadeiro (em oposição às suas variedades menos comuns); abati-tinga - milho de que se faz pão (VLB, II, 38)
apynhang (s) (v.tr.) - atiçar (o fogo): Asapynhang. - Aticei-o. (VLB, I, 47)
aratikupaná (s.) - 1) ARATICU-PANÁ, ARATICU-DO-BREJO, árvore anonácea (Annona glabra L.); 2) outra espécie a que também se aplica a denominação araticu-paná é a Duguetia furfuracea (A. St.-Hil.) Saff. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93). "Das raízes destas árvores fazem bóias para redes e são tão leves como cortiças." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 40)
arumatîá (s.) - ARAMATIÁ, inseto da família dos fasmídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 251)
atapy (s) (v.tr.) - atiçar o fogo para: Esatapy nde remimõîa. - Atiça o fogo para o que cozinhas. (VLB, I, 47)
îupaty2 (etim. - pati de espinhos) (s.) - JUPATI, espécie de palmeira da subfamília das lepidocarináceas (Sousa, Trat. Descr., 256)
nhati'ũasu (etim. - jatium grande) (s.) - variedade de pernilongo (Sousa, Trat. Descr., 243)
obamoîar (s) (v.tr.) - atiçar (p.ex., o fogo) (VLB, I, 47)
patyoba (etim. - pati folhudo) (s.) - variedade de palmeira do gênero Syagrus, com folhas largas. "Dá palmitos pequenos, mas muito gostosos." (Sousa, Trat. Descr., 199)
NOTA - Daí TAMATIATUBA (nome de localidade do RN) (v. p. 386).
NOTA - Daí, SOCATINGA (nome de localidade do CE) (v. p. 386).
Catinga (BA). De katinga (de aby'aka + ting + -a - nhaca enjoativa): mau cheiro. Pode provir, também, de ka'atinga (mata clara), formação vegetal do semi-árido nordestino.
Pati (RJ). De pati, var. de palmeira.
feder - nem (xe); kating (xe)
rodar (intr.) - nhatiman; pararang; (rodar como pião): pyryrym
aratikuapé (etim. - araticum de casca) (s.) - ARATICUM-APÊ, árvore anonácea, Annona montana Macfad. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93)
aratikugûasu (etim. - araticum grande) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 171)
îarakatîá (s.) - JARACATIÁ, nome comum a várias plantas da família das caricáceas, como, por exemplo, a espécie Jaracatiá spinosa (Aubl.) A. DC, árvore muito larga na parte superior, que produz um suco cáustico usado como vermífugo, de frutos pequenos e sem préstimo, conhecida também como mamoeiro-do-mato (D'Abbeville, Histoire, 218v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 128-129)
kûatimundé (etim. - quati de armadilha) (s.) - QUATI-MUNDÉU, macho adulto dos quatis (Nasua nasua), que foi expulso do bando. Os quatis possuem uma organização social dominada por fêmeas. No bando, além destas, somente os machos jovens são admitidos. Quando chegam à idade adulta, estes são expulsos. O macho adulto é maior e, em geral, de coloração avermelhada. Como vive desgarrado de um bando, tendo vida solitária, é mais facilmente aprisionado, donde seu nome. (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1130-1137)
tipirati (s.) - TIPIRATI, farinha de mandioca crua com que se faziam bijus (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67; Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §74, 149)
Aratingaúba (SC). De aratinga - ave psitacídea + 'yba - planta das aratingas.
Aratinguara (MG). De aratinga - ave psitacídea + kûara - toca das aratingas.
Categipe (MG). De kûati + îy + -pe: no rio dos quatis.
Quati (MT). De kûati, mamífero procionídeo.
Quatiguaba (CE). De kûati + 'y + 'u + -aba: lugar em que os quatis bebem água.
Quatituba (MG). De kûati + tyba: ajuntamento de quatis.
fome - ambyasy; matĩaré
ene'ĩhengûy - forma negativa de ene'ĩ (v.) (VLB, II, 58)
tamatîãgûasu (etim. - tamatiá grande) (s.) - ave de belíssimas penas, provavelmente da família dos ardeídeos. "Voa sempre muito por alto, por onde vai formando umas vozes que parecem humanas." (Brandão, Diálogos, 229)
Tabatinga (AM). De tobatinga ou tabatinga - var. de barro branco como cal (VLB, I, 52).
Tamatiatuba (RN). De tamatîá - ave ciconiforme dos mangues, das beiras dos rios e lagos + tyba: ajuntamento de tamatiás.
îate'i (s.) - JATAÍ, JATI, variedades de abelhas da família dos meliponídeos (VLB, I, 18)
NOTA - Daí, MANGARATIBA (nome de localidade de SP) (v. p. 386).
Guaratinga (BA). De gûaratinga: garças.
Guaratinguetá (SP). De gûaratinga - garça + etá (r, s) - muitos(as): muitas garças.
ALMEIDA NOGUEIRA, Batista Caetano de, "Esboço gramatical do Abáñeê ou língua guarani, chamada também no Brasil língua tupi ou língua geral, propriamente Abañeenga". Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, pp. 1-90. Rio de Janeiro, 1879.
NOTA - Daí, no P.B., JATICÁ, arpão de haste longa com o qual se arpoam tartarugas.
îetyka (s.) - JETICA, JATICA, batata-doce, planta herbácea americana, da família das convolvuláceas (Ipomoea batatas (L.) Lam.), de raízes tuberosas alimentícias e folhas medicinais. É também chamada batata-da-terra, batata-da-ilha. (D'Abbeville, Histoire, 229; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 16) ● îetyky - vinho de batata-doce (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
Daí, no P.B., ITAQUATIARA, inscrições feitas pelos índios pré-históricos nas pedras; QUATIARA, COTIARA, BOICOATIARA ou BOIQUATIARA (mboî + kûatiar + -a - "cobra pintada"), nome de uma serpente da família dos crotalídeos. ITAQUATIARA também é nome de muitos lugares no Brasil (v. p. 386).
marãîasûaramo (part. de optativo futuro - Pode aparecer com as partículas mã, temõ... mã ou -mo.) - que bom seria se...! oxalá!: Marãîasûaramo ahẽ kûepe se'õ mã! - Ah, que bom seria a morte do fulano por aí! (Ar., Cat., 101v); Marãîasûaramo asó mã! - Que bom seria se eu fosse! (Anch., Arte, 24v); Marãîasûaramo xe sóû kûesé mã! - Ah, que bom seria se eu tivesse ido ontem! (Anch., Arte, 24v); Marãîasûaramo Tupã xe rerasóû mã! - Ah, que bom seria se Deus me levasse! (VLB, I, 104); Marãîasûaramo turi mã! - Ah, oxalá ele viesse! (VLB, II, 61)
me'ĩ (part. de optativo passado; indica algo que poderia ter ocorrido, mas não ocorreu): Aîuká me'ĩ mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Ixé me'ĩ asó mã! (ou Asó me'ĩ mã!) - Ah, quem me dera eu tivesse ido! (Anch., Arte, 24v; Fig., Arte, 142)
me'ĩmo (part. de optativo passado; indica algo que poderia ter ocorrido, mas não ocorreu): Asó me'ĩmo mã! - Ah, quem me dera eu tivesse ido! (Anch., Arte, 24v; Fig., Arte, 142); Aîuká me'ĩmo mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Asó me'ĩmo ybakype mã! - Ah, se eu tivesse ido para o céu! (Anch., Arte, 24); Asepîak me'ĩmo! - Que o tivesse visto! (Anch., Arte, 2)
Aracatiara (CE). De îarakatîá - jaracatiá, nome comum a várias plantas da família das caricáceas.
Jaracatiá (MG). De îarakatîá, planta caricácea.
girar - (intr.): îereb; îatiman; (tr.): moîereb
mosquito - (variedades): îati'ũ; marigûi; nhetingaruru
akaîukatinga (etim. - caju catinguento) (s.) - ACAJU-CATINGA, var. de cedro, árvore alta da família das meliáceas (Cedrela fissilis Vell.), de casca grossa e de propriedades medicinais (VLB, I, 70)
NOTA - Daí, no P.B., ABATIAPÉ (abati + apé, "milho cascudo"), arroz encontrado em estado silvestre nas margens dos lagos amazônicos; arroz-bravo.
îekuakub (v. intr.) - 1) praticar o couvade, isto é, um conjunto de restrições alimentares e de ritos observados por um homem durante a gravidez da mulher e logo depois do nascimento da criança; fazer resguardo: Ereîekuakupe nde remirekó membyrara resé? - Fizeste resguardo por causa do parto de tua mulher? (Ar., Cat., 99); 2) jejuar (como prática cristã): -Abá abépe nd'oîabyî oîekuakube'yma? - Quem mais não o transgride, não jejuando? (Anch., Diál. da Fé, 203) ● oîekuakuba'e - o que jejua, o que faz resguardo: Oîaby bépe aîpó o emirekó membyrara resé oîekuakuba'e...? - Transgride também aquele (mandamento) o que faz resguardo por causa do parto de sua esposa? (Ar., Cat., 66v-67); îekuakupaba - tempo, lugar, modo, etc. de jejuar; jejum: 'Ara i pîasaba, îekuakupaba. - Dia de guarda e de jejum. (Ar., Cat., 4)
îoîtyîtyk (etim. - ficar atirando um no outro) (v. intr. compl. posp.) - lutar [apenas no plural] (com alguém: compl. com esé (r, s) ou ndi]: Oroîoîtyîtyk Peró ndi (ou Peró resé). - Lutei com Pedro. (VLB, II, 25)
NOTA - Daí, no P.B., JUATI, erva da família das solanáceas, de inúmeros acúleos pungentes, também conhecida como juá-arrebenta-cavalo.
'ybatitara - o mesmo que atitara (v.)
Itatiaia (RJ). De itá + atîaî/a (r, s) + -a: pedras pontudas.
Jatimana (BA). De 'y + îatiman + -a: giro, volta, curvas de rio, i.e., os meandros do rio ou, ainda, rio meândrico.
clara (de ovo) - tupi'atinga
melancia - 'ybae'ẽ; anhumatiroba
inhati'ũ - o mesmo que îati'ũ (v.) (Sousa, Trat. Descr., 242)
moytarõ (v.tr.) - saciar, satisfazer, fartar (Anch., Arte, 39): Îé, aîpó xe moytarõ... - Sim, esses me satisfazem. (Anch., Teatro, 60) ● i moytarõmbyra - o que é (ou deve ser) saciado, satisfeito: A'eba'e i moytarõmbyramo sekóûne. - Aqueles serão saciados. (Ar., Cat., 19)
tĩkupeara (s.) - esporão: ygá-tĩkupeara - esporão de embarcação (VLB, I, 127)
tinga2 (s.) - coisa enjoativa, coisa que enfastia (Anch., Arte, 14; Fig., Arte, 77); enjôo; (adj.: ting) - enjoativo: I ting xe remi'u. - É enjoativa minha comida (VLB, I, 135); I ting pirá ixébo. - O peixe é-me enjoativo. (VLB, I, 115)
carta - papera (port.); kûatiara
aratikurana (etim. - falso araticum) (s.) - árvore semelhante ao araticu, de região de mangue, de madeira mole e lisa (Sousa, Trat. Descr., 223)
erokaba (t) (s.) - nome de batismo: Marãpe nde rerokaba abaré reminongûera? - Qual o teu nome de batismo que o padre pôs? (Anch., Teatro, 168, 2006)
îepykixûera (s.) - pessoa vingativa (VLB, II, 145); (adj.: îepykixûer): Xe îepykixûer. - Eu sou vingativo. (VLB, II, 146)
kûatimondi - o mesmo que kûatimundé (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 228)
NOTA - Daí, no P.B., CANGATĩ (akanga + tĩ, "cabeça pontuda"), nome de um peixe siluriforme.
ybyrakûatiara - o mesmo que kûatiara2 (v.) (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, IV, cap. xxxviii)
Patipe (rio da BA). De pati, var. de palmeira + 'y + -pe: no rio dos patis.
_____Léxico, Produção e Criatividade. Processos de Neologismo. 2.ª ed. Ed. Global, São Paulo, 1981.
NOTA - Daí no P.B (AM), ABATINGA ("cabelos brancos"), pessoa velha, pessoa encanecida; ABATIRÁ ('aba + tyrá, "cabelos arrepiados"), nome de um antigo grupo indígena de Porto Seguro).
abatiputá (s.) - JABUTAPITÁ, BATIPUTÁ, o mesmo que aîabutipytá (v.) (Brandão, Diálogos, 202)
aîabutipytá (s.) - JABUTAPITÁ, BATIPUTÁ, arbusto da família das ocnáceas [Ouratea parviflora (DC.) Baill.], "do comprimento de cinco, seis palmos; é como amêndoa e preta e assim é o azeite que estimam muito e se untam com ele em suas enfermidades." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 43). Esse óleo é a chamada manteiga de batiputá, usada na medicina popular.
aîurukatinga (etim. - papagaio-catinga) (s.) - AJURUCATINGA, ave psitacídea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 207)
ka'asyka2 - o mesmo que ka'atîá (v.) (Piso, De Med. Bras., IV, 196)
NOTA - Daí, no P.B., MARACATIM (maraká + tĩ, "ponta de chocalho"), nome de um tipo de embarcação indígena; MARACABÓIA ("cobra de maracá"), outro nome dado à cascavel. Esta cobra também recebe o nome de MARACÁ.
OBSERVAÇÃO - Pode formar vocativo com -p: xe rup!: Meu pai! (Anch., Arte, 8v)]
atîãîa2 (t) (s.) - ponta; [adj.: atîãî (r, s)] - pontiagudo, pontudo, incisivo (p.ex., o raio solar); (xe) lançar raios, setas, pontas (p.ex., o sol, o ouriço-cacheiro, o porco espinho, etc.) (VLB, II, 95)
eno- pref. da voz causativo-comitativa (v. ero-)
katinga (etim. - nhaca enjoativa < aby'aka + ting-a) (s.) - mau cheiro, CATINGA, fedor, cheiro desagradável, nauseabundo; (adj.: kating) - fedorento, CATINGUENTO, CATINGOSO; (xe) ter CATINGA, CATINGAR: Xe kating. - Eu tenho fedor; eu catingo. (VLB, I, 73)
ûyratinga - o mesmo que gûyratinga (v.)
Paratiji (rio da BA). De parati - peixes mugilídeos + îy - rio: rio dos paratis.
Tabatinguera (rua de SP). De tabatinga + -ûer + -a: barreiro extinto.
îasuk (v. intr.) - lavar-se; batizar-se: Aîasuk. - Lavo-me. (Fig., Arte, 102) ● oîasukyba'e - o que se batiza (VLB, I, 53); i moîasukypyra - o batizado; o cristão; moîasukaba - tempo, lugar, modo, etc. de se lavar, de se batizar (VLB, II, 76)
momiaûsub (v.tr.) - escravizar, cativar ● i momiaûsubypyra - o escravizado, o cativo: I momiaûsubypyra renosema. - Resgatar os cativos. (Ar., Cat., 18v)
ranhẽ1 (adv.) - ainda (na negativa e na interrogativa, com o verbo auxiliar 'i / 'é): Nd'a'éî saûsupa ranhẽ. - Não o amo ainda. (Anch., Arte, 56); Nd'eréîpe esóbo ranhẽ? - Não foste ainda? (Fig., Arte, 144); Nd'a'éî gûixóbo ranhẽ. - Ainda não vou. (Fig., Arte, 162); Nd'eréîpe mba'e monhanga ranhẽ? - Ainda não fizeste nada? (Fig., Arte, 162)
'ab - (v.tr. irreg.; no indicativo é usado somente com objeto incorporado): abrir; cortar, rachar, fender, talhar: Aybyrá-'ab. - Corto madeira. (Fig., Arte, 145); Ayby-'ab. - Abro a terra. (Fig., Arte, 145); Aî'ybab. - Cortei o pé dela (isto é, da parreira, da mandioca, etc.). (VLB, I, 83); Aîasy-'ab. - Cortei um pedaço dela. (VLB, I, 83); Morubixaba ybyragûype ahẽ sóû ybyrá 'apa. - Para a coutada do rei ele foi para cortar madeira. (VLB, II, 141) ● 'apaba - tempo, lugar, modo, etc. de abrir, de rachar; abertura, rachadura, corte: yby 'apaba - rachadura da terra; cava, cova, buraco, vala, fosso, barreiros (VLB, I, 69)
apepokumã (s.) - PICUMÃ, PUCUMÃ, TATICUMÃ, fuligem (da chaminé, das labaredas de fogo, etc.) (VLB, I, 138)
kurusá (s. - portug.) - cruz: O ati'yba ri kurusá osupi. - No seu próprio ombro levanta a cruz. (Anch., Poemas, 122); Kurusá xe pópe sekóreme... t'our é Îurupari... - Se a cruz estiver em minhas mãos, que venha o Jurupari. (D'Abbeville, Histoire, 357)
poromongaraipaba (m) (etim. - lugar de batizar as pessoas) (s.) - pia batismal, pia de batizar (VLB, II, 76)
Inhatium, Banhado do (RS). De îati'ũ - inseto culicídeo.
Jaratimana (BA). Mesma etim. de Jatimana (v.).
lombriga - sapoaîobaîa; teîkûatatina
NOTA - Daí provêm, no P.B., ABATIAPÉ ("milho de casca"), variedade de arroz encontrado em estado silvestre nas margens dos lagos amazônicos, arroz-bravo; ABATIGUERA (abati + pûer + -a, "milho que foi"), milharal já colhido e extinto, roça depois de efetuada a colheita; BATUERA, BATUEIRA (abati + pûer + -a, "milho que foi"), sabugo de milho; BATITÉ (ou CATETE ou CATETO) (abati + eté, "milho muito bom"), certa espécie de milho miúdo.
'ar6 (v. intr. compl. posp.) - atinar, compreender [complemento com esé (r, s)]: A'ar ko'yté aîpó resé. - Atinei, enfim, com isso. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277)
imongaraibypyre'yma (etim. - o que não é batizado) (s.) - pagão (VLB, II, 62): Cristãos rekokatu repîaka é ipó imongaraibypyre'yma... - Vendo os pagãos a virtude dos cristãos. (Ar., Cat., 26v)
karũîé (s.) - CARUNJE, árvore nativa semelhante ao loureiro "...nas folhas, na casca e no cheiro..." (Sousa, Trat. Descr., 220)
mbo- prefixo da voz causativa, alomorfe de mo- (v.)
ruî - forma do modo indicativo circunstancial do v. îub / ub(a) (t, t) (v.)
Itatiaiuçu (MG). De itá - pedra + atîaî (r, s) - pontudo, pontiagudo + suf. -ûasu: pedras muito pontudas.
temõ (part. usada com o optativo. É acompanhada geralmente por mã ou mûã no final do período.) - oxalá, quem me dera, que bom seria se: Asó temõ ybakype mã! - Ah, quem me dera eu fosse para o céu! (Anch., Arte, 24); Ogûerasó temõ sapy'a ybakype Tupana xe ruba mã! - Oxalá Deus levasse logo a meu pai para o céu! (Fig., Arte, 99); Ikatupe nhẽ temõ mûã! - Oxalá ela estivesse nua! (Ar., Cat., 72); Anhẽ temõ turi mã. - Oxalá ele viesse, de fato. Anheté temõ! - Oxalá fosse verdade! (VLB, II, 59); Apûar temõ sesé mã! - Ah, quem me dera bater nele!. (Ar., Cat., 101v); Asó temõ kori ahẽ irũmo mã! - Ai, quem me dera ir com ele hoje! (VLB, II, 94)
Caiobá (pico da Serra dos Itatins, MT). De ka'i: caí, var. de macaco + obá (t) - cara, rosto: cara de caí.
Paratiguassu (ribeiro do RJ). De parati + ûasu: grandes paratis, peixes mugilídeos.
-bo2 (posp.) 1) em, por, per (locativo, expressando difusão, indeterminação do lugar, não um lugar específico): kóbo - nas roças (Anch., Arte, 42); pelas roças (Anch., Arte, 42v); ka'abo - pelas matas (VLB, II, 81); nhũbo - pelos campos (VLB, II, 81); kóbo - por aqui (VLB, II, 81); 2) segundo, de acordo com, conforme: ...Cruz resé i moîari, i îeruresabo é... - Conforme seu próprio pedido, na cruz o pregaram. (Ar., Cat., 9); ...Îudeos ekomonhangábo i 'apira mondoki. - Segundo o rito dos judeus, seu prepúcio cortaram. (Ar., Cat., 3); 3) para (dativo, com pron. pess.):... - O'a îandébo kori. - Nasceu para nós hoje. (Anch., Poemas, 94); 4) por, no caso de [com deverbais em -sab(a)]: Nde i potasábo-katu é, t'onhemonhang... - No caso de o desejares muito mesmo, que se faça (tua vontade). (Ar., Cat., 53)
umẽ (part. usada para a negativa dos modos imperativo e permissivo) - não: Eporapiti umẽ. - Não mates gente. (Ar., Cat., 69v); Xe pe'a umẽ îepé. - Não me desterres tu. (Anch., Poemas, 102); Îori anhanga mondyîa, ta xe momoxy umẽ. - Vem para espantar o diabo, para que não me dane. (Anch., Poemas, 132); (Pode separar-se do verbo e vir após partículas.): Nde nhõ umẽ eîuká. - Não o mates tu sozinho. (Anch., Arte, 22v); T'osepîak-y bé umẽ kûarasy! - Que não vejam mais o sol! (Anch., Teatro, 60)
Itatuba (SP). A mesma etim. de Itatiba (v.).
(Carder) CARDER, Peter, "The relation of Peter Carder of Saint Verian in Cornwall, within seven miles of Falmouth, which went with Sir Francis in his Voyage about the world begun 1577". In Purchas, Samuel, His Pilgrimes, London, 1625.
atatinga (t) (s.) - fumaça: Xe run tatatinga suí. - Eu estou preto de fumaça. (VLB, I, 92); [adj.: atating (r, s)] - fumegante: Xe ratating. - Eu estou fumegante. (VLB, I, 144)
NOTA - Daí, o nome geográfico ATIBAIA (SP) (v. p. 386).
gûararymá (s.) - nome de uma ave aquática (Brandão, Diálogos, 234)
ka'atinga (etim. - mata clara) (s.) - CAATINGA, mato raso e cerrado, tipo de vegetação xerófita característica do semi-árido nordestino e norte de Minas Gerais (VLB, II, 133; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
FERREIRA FRANÇA, Ernesto, Crestomatia da Língua Brasílica,Leipzig, 1859.
fedorento - nem (v. nema); rem (v. rema); kating (v. katinga)
akaratinga (etim. - cará claro) (s.) - CARATINGA, peixe da família dos gerrídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 161)
ityk / eîtyk(a) (t) (v.tr.) - 1) lançar, atirar, jogar, lançar à água (um navio ou uma canoa): Aîtyk ygara. - Lanço [à água] a canoa. (VLB, II, 48); Eîori, muru mombapa, satápe seîtyka nhẽ. - Vem para destruir o maldito, em seu fogo lançando-o. (Anch., Poemas, 132); 2) lançar fora, jogar fora: T'aîtyk pá koty... - Que eu lance fora todas as armadilhas. (Anch., Poemas, 130); Xe rekó i porang-eté; n'aîpotari abá seîtyka... - Minha lei é muito bela; não quero que ninguém a lance fora. (Anch. Teatro, 6); T'oroîtyk oré poxy... - Que lancemos fora nossa maldade. (Anch., Teatro, 118); Opá xe ramyîa ma'epûera aîtyk. - Todos os bens de meus avós joguei fora. (Léry, Histoire, 356); ...Xe 'anga ky'a reîtyka... - Lançando fora a sujeira de minha alma. (Ar., Cat., 86); 3) derrubar, vencer, derrotar: Eîori xe sumarã reîtyka... - Vem para derrotar meus inimigos... (Anch., Teatro, 178); Xe reîtyk korine mã! - Ah, vencer-me-ão hoje. (Anch., Teatro, 26) ● eîtykara (t) - o que lança, o que derruba (Fig., Arte, 61); emityka (t) - o que alguém lança, o que alguém derruba: ...Tekoangaîpab-ypy moroesé Adão remitykûera pe'abo. - Afastando o pecado original, o que Adão lançou na gente. (Ar., Cat., 6); eîtykaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de lançar, de derrubar, de lançar fora, de atirar; ato de lançar, lançamento: Nd'ereîkuabype Tupã... opakatu ikó 'ara pupé îandé remimborará-tyba abé seîtykagûera? - Não sabes que Deus lançou neste mundo também tudo o que a gente sofre costumeiramente? (Ar., Cat., 112) ● ityk nhe'enga - dizer mal de alguém, murmurar [compl. com ri ou esé (r, s)]: Aîtyk nhe'enga (abá) resé. - Digo mal do homem. (VLB, II, 28, adapt.); Tupã resé tiruã kó nhe'enga reîtyki... - Eis que até mesmo contra Deus murmura. (Ar., Cat., 56v)
kará1 (s.) - 1) CARÁ, CARANAMBU, CARATINGA, nome de várias plantas da família das discoreáceas. É nome atribuído erroneamente ao inhame. 2) o tubérculo comestível de algumas dessas plantas (D'Abbeville, Histoire, 229v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 29) ● kará-embó - vergôntea de cará (VLB, II, 144)
membeka (s.) - 1) fraqueza, moleza: O ati'yba ri krusá osupi. Membeka suí, Îesu sero'ari. - No seu próprio ombro levanta a cruz. De fraqueza, Jesus fá-la cair consigo. (Anch., Poemas, 122); 2) molengão (VLB, II, 40); o mole, o covarde, o fraco, o tímido: xe remipoîmembeka - o molengão que convido (Anch., Arte, 52v); (adj.: membek) - mole, fraco, MEMBECA; molengão: ...I membek, Anhanga pó gûyrybo nhẽ sekóû... - É mole, está sob as mãos do diabo. (Ar., Cat., 31v); Xe membek. - Eu sou molengão. (VLB, II, 40)
mo-1 (ou mbo-) (pref. da voz causativa): Emoîerekûab orébo... - Faze perdoar a nós. (Anch., Poemas, 84); ...O pyri pe mogûapyka. - Junto a si fazendo-vos sentar. (Anch., Poemas, 158)
NOTA - Daí, o nome geográfico BATINGA (BA, SE) (v. p. 386).
ybyapetekypyra (etim. - parede de terra batida < yby + pyá + petek + pyr + -a) (s.) - taipa de mão ou francesa (isto é, parede que se barreia à mão) (VLB, II, 123)
NOTA - Daí, o nome geográfico ITATIAIA (RJ) (v. p. 386).
ybyratinga (etim. - pau branco) (s.) - IBIRATINGA, árvore da família das apocináceas, com cuja madeira se faziam hastes de lança e dardos (Sousa, Trat. Descr., 222)
Botujuru (morro entre Jundiaí e Itatiba). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) - montanha, serra) + îuru - boca: boca da serra.
Itaquaciara (SP). A mesma etim. de Itaquatiara (v.).
Itaquatiara (BA). A mesma etim. de Itacoatiara (v.).
palmeira - (variedades): pindoba; tukũ; pati; pysandó; îeîsara; inaîá; karaná; îupati; maraîa'yba; karana'yba, etc.
api2 (v.tr.) - 1) golpear; apedrejar, atirar; dar pancadas em; dar pedradas em; acertar (o alvo sem o atravessar ou furar) (VLB, II, 63); picar (com coisa sem ponta ou sem penetrar o corpo, atirando algo com a mão, com arco), dar marrada (p.ex., o carneiro, etc.) (Difere de sok porque o uso deste implica não se largar da mão o objeto com que se pica.) (VLB, II, 77): ...I pupé Îudeus nheŷnhangi Santo Estêvão apîá-apîábo... - Nele os judeus juntaram-se para ficar atirando pedras em Santo Estêvão. (Ar., Cat., 138-139); Nde serã i poepyka tekomemûã..., poropotara... ereîapi ko'arapukuî. - Tu, talvez, para retribuir, a vida má, o desejo sensual atiras nele o dia todo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); Aîapi-api. - Fiquei-o apedrejando. (VLB, I, 38); 2) dar topadas em (p.ex., em parede, como quem anda às escuras): Aîapi okytá. - Dou topadas no esteio. (VLB, II, 32)
îemongaraíb (ou nhemongaraíb) (v. intr.) - batizar-se ● oîemongaraiba'e - o que se batiza: T'ogûerobîá oîemongaraiba'erama... - Para que creiam os que se batizarão... (Anch., Doutr. Cristã, I, 200-201); nhemongaraipaba (ou nhemongaraibaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de se santificar, de se batizar; ato de se santificar, de se batizar; santificação: Oîpotá-katu o nhemongaraibagûama... - Quer muito a sua futura santificação. (Ar., Cat., 80v)
kuîẽpiá (s.) - variedade de pimenta nativa (Sousa, Trat. Descr., 186)
piratinga (etim. - peixe branco) (s.) - PIRATINGA, nome de um peixe da família dos esparídeos (VLB, II, 65)
ubá1 (s.) - CANA-UBÁ, nome de cana nativa, o mesmo que u'ubá (v.) (Sousa, Trat. Descr., 208)
Auati-Paraná (rio do AM). Do nheengatu auati + paraná: rio do milho.
korine'yba (s.) - CORINDIÚBA, CORINDIBA, QUATINDIBA, nome comum a plantas arbustivas e espinescentes da família das ulmáceas, de boa madeira (Sousa, Trat. Descr., 204)
parati'yba (m) (etim. - pé de mandioca parati) (s.) - antebraço (Castilho, Nomes, 35)
sabîatinga (etim. - sabiá branco) (s.) - SABIATINGA, pássaro da família dos traupídeos (Sousa, Trat. Descr., 236)
temone1 (part. que indica o modo optativo. Leva o verbo para o gerúndio. Pode ser acompanhada por -mo no final do período.) - oxalá (VLB, II, 53); ah se... (VLB, II, 59): Temone a'ereme osykamo - Oxalá chegasse então. (Anch., Arte, 57); Temone ko'yr Anhanga ratá pora, abá amõ opu'ama iké îandé re'yîpemo... - Oxalá agora alguma pessoa, habitante do fogo do inferno, levantasse aqui na nossa multidão. (Ar., Cat., 165v); Temone xe gûixóbo... - Ah, se eu fosse... (Fig., Arte, 143)
(suf. que marca o modo indicativo circunstancial): ...I kangûerĩ tiruã momba'etéû... - Até mesmo seus ossinhos cultua. (Ar., Cat., 12v); Kó xe rekóû nde reká... - Eis que aqui estou, procurando-te. (Anch., Poemas, 104); Kori i îukáû. - Hoje o matou. (Anch., Arte, 39v)
Quatiguá (PR). A mesma etimologia de Catiguá (v.).
barro - nhau'uma ● barro branco: tobatinga; barro vermelho ou amarelo: tagûá
vespa - kaba; (variedades): kabapuã; kabatĩ; kabesé; kabobaîuba; kasunununga, etc.
amati'ã (t) (s.) - clítoris (VLB, II, 35), TAMATIÁ (AM pop.): Xe ramati'ã - meu clítoris, meu tamatiá (Léry, Histoire, 366)
NOTA - Daí, os nomes geográficos ARATICU (PA), ARATICUM (BA), etc. (v. p. 386).
(e)ro- [pref. que indica a voz causativo-comitativa. Assume, antes de nasal, a forma (e)no-.]: Abebé kó ybytu îá; anonhan, arobebéne... - Vôo como este vento; fá-los-ei correr comigo, fá-los-ei voar comigo... (Anch., Teatro, 40); ...Xe anametá aroporaseî seru. - Meus parentes trazendo, faço-os dançar comigo. (Anch., Poemas, 138)
re'ĩ1 (part. de m.) 1) (expressa expectativa, projeção de futuro) - haver de ser, dever ser: ...Xe ruba rekobîara é re'ĩ... - Há de ser o substituto de meu pai. (Ar., Cat., 95v); ...Sesápe xe rekóû re'ĩ... - A seus olhos eu hei de estar. (Ar., Cat., 32); 2) (expressa temor ou má expectativa) - dever, haver de: Omanõ îepémo pitanga xe suí ixé so'o 'useî tenhẽ roîrémo re'ĩ... - Haveria de morrer certamente a criança de mim após eu querer comer caça. (Ar., Cat., 77v); Xe mendûera ipó re'ĩ... - Meu ex-marido há de ser certamente. (Anch., Teatro, 8)
tuî1 - forma de 3ª p. do modo indicativo circunstancial de îub /ub(a) (t, t) (v.) (Anch., Arte, 58)
ybyîa (s.) - nome de um carnívoro aquático (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 234)
Araticum (BA). A mesma etimologia de Araticu (v.).
Ererê (PA). De aîriré: irerês, aves anatídeas.
(Fig.) FIGUEIRA, Luís, Arte de Grammatica da Lingoa Brasilica. Miguel Deslandes, Lisboa, 1687 (Ed. facsimilar de Julius Platzmann, sob o título Gramática da língua do Brasil). B. G. Teubner, Leipzig, 1878.
gûyratyryka (etim. - pássaro arisco) (s.) - GUIRATIRICA, nome comum a vários pássaros da família dos fringilídeos, que aparecem em todo o Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 211)
kamaratinga (etim. - camará branco) (s.) - CAMARATINGA, CAMARÁ-BRANCO, planta verbenácea, Lantana brasiliensis Link. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 5)
mboîkûatiara (etim. - cobra pintada) (s.) - BOIQUATIARA, cobra da família dos viperídeos (VLB, I, 76; Anch., Cartas, 124)
nhe'engetá (etim. - muitas palavras) (s.) - desatino, palavra desatinada; (adj.) - desatinado; (xe) ter palavras desatinadas: Xe nhe'engetá. - Eu tenho palavras desatinadas. (VLB, I, 96)
opóbo (etim. - em suas mãos) (adv.) - de gatinhas: Agûatá opóbo (ou Opóbo nhẽ agûatá). - Ando de gatinhas. (Anch., Arte, 43; Fig., Arte, 122; VLB, I, 35)
Itacuaxiara (SP). Mesma etimologia de Itacoatiara (v.).
Putiri (rio do ES). De potiry - aves anatídeas.
Sucatinga (CE). A mesma etimologia de Socatinga (v.).
Tobati (MG). A mesma etimologia de Tabatinga (v.).
apysakarara (s.) - surdo (como se dizia em Piratininga) (VLB, II, 122)
-i3 (suf. que expressa o modo indicativo circunstancial) - Koromõ xe kanhemi. - Logo fujo. (Anch., Arte, 39v); Koromõ sepîaki. - Logo o viu. (Anch., Arte, 39v); Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez uma certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); Abá sosé pabẽ i momorangi... - Mais que a todos os seres humanos embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); Emonãnamo, xe ruri... Portanto, eu vim. (Anch., Poemas, 100)
-ûasu (ou -gûasu) (suf.) - 1) -ão (suf. aumentativo, como em matão); grande, GUAÇU, AÇU: Osokendab a'e karamemûã itagûasu pupé. - Fecharam aquele túmulo com uma pedra grande. (Ar., Cat., 64v); piragûasu - peixão, peixe grande (Anch., Arte, 13); Xe tupinambagûasu. - Eu sou o grande tupinambá. (Anch., Poemas, 114); Oîké îugûasu, i akanga kutuka... - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); ...andyragûasu-bebé... - morcegão voador (Anch., Teatro, 26); Reriûasu - Ostra Grande, nome de pessoa (Léry, Histoire, 341); 2) muito (em quantidade): I kaûĩgûasu-pipó xe ramũîa Îagûaruna? - Tem muito cauim, porventura, meu avô Jaguaruna? (Anch., Teatro, 60); 3) muito (em intensidade): Xe kerambugûasu. - Eu ronco muito. (VLB, II, 108) (V. tb. -usu.)
a'e?4 (part.) - e? e porventura? (como no latim nunquid?, usada em início de períodos. Serve também para se perguntar sobre fatos já muito bem conhecidos, somente com o intuito de enfatizar a ação ou o processo em questão): -A'epe ké amboaé? -Karaibebé serã... -E o outro, aqui? -Talvez seja o anjo. (Anch., Teatro, 26); A'epe marã apŷabetéramo sekóû îandé îabé? - E de que maneira é homem verdadeiro como nós? (Ar., Cat., 22v); A'e serãne hóstia pupé Îesu Cristo rekóû? - E porventura na hóstia está Jesus Cristo? (Ar., Cat., 87); A'e-p'ikó? - E este? (VLB, I, 153); A'epe n'osóî? - E, porventura, ele não foi? (como que dizendo: todos sabem que foi. Neste sentido emprega-se mais a'e-tepe?) (VLB, I, 120, 121) ● a'e emonãnamo - e portanto (VLB, I, 121); a'e ipó (ou a'e nipó) - e (com reme - no caso de): A'e ipó sekoe'ỹme? - E no caso de ele não estar? (VLB, I, 121); a'e-tepe? - E vai bem? E como está? E que me dizes de? E quanto a? E qual é? (perguntando-se a opinião de alguém): A'e-tepe ahẽ? (ou A'e-tep'ahẽ rekóû?) - E como está ele? A'e-tepe nde? - E quanto a ti? (isto é, qual é tua opinião?) A'e-tepe nde nhe'enga? - E qual é a tua palavra? (i.e, que dizes sobre isso?) (VLB, I, 78). Serve para perguntas em que a resposta já é sabida, mas que tem o efeito de uma ênfase na ação ou no processo em questão: A'e-te-p'ixé n'a sóî? - E eu não fui? (como que dizendo: todos sabem que eu fui). (VLB, I, 120, 121)
aîriré (s.) - IRERÊ, ave da família dos anatídeos (Brandão, Diálogos, 234)
biã2 (part. que expressa idéia adversativa, indicando algo contrário ao que se espera) - 1) mas..., etc., sem resultado: Asó biã. - Fui sem resultado. (Anch., Arte, 21v); Xe n'aîu-potari biã, karaíba moabaîtébo. - Eu não queria vir (mas vim), irando os homens brancos. (Anch., Poemas, 194); Asaûsu biã. - Amo-o (mas nem por isso ele me ama). (Anch., Arte, 21v); Kunhã iké sekóû biã mã! - Oxalá houvesse uma mulher aqui (mas não há)! (Anch., Doutr. Cristã, II, 93); Asé ruba oîmonhang (asé reté) biã, Tupã i monhanga potasápe é. - Nosso pai o fez (i. e., nosso corpo) mas porque Deus o quis fazer, na verdade. (Ar., Cat., 25); Anhanga ratápe ko'yr oîkoba'e, a'epe o só îanondé "-Asó-potar ybakype" e'i biã. - Os que estão no inferno agora, antes de irem para lá diziam (sem resultado): -Quero ir para o céu. (Ar., Cat., 248); 2) embora, apesar de, apesar disso: Xe resy Lorẽ-ka'ẽ, xe morubixaba biã. - Assa-me o Lourenço tostado, embora eu seja um rei. (Anch., Teatro, 90); Oîepé nhõngatu erimba'e karaibebé Tupã nhe'enga abyû biã, sesé nhõ Tupã i moingóû Anhangamo... - Embora tão somente uma vez uns anjos tenham transgredido a palavra de Deus, por causa disso, somente, Deus os fez ser diabos. (Ar., Cat., 112)
erokarûera (t) (s.) - padrinho ou madrinha (de batismo ou crisma): xe rerokarûera - meu padrinho (VLB, II, 27)
5 (part.) (Com o verbo 'i / 'é na negativa. Forma condicionais.): no caso de, se: Nd'e'i ké ogûatá-pytuna... - Se não andasse de noite... (Fig., Arte, 161); N'e'i ké oguatábo... - Se ele não andasse... ; Nd'e'i ké o angaîpabamo... - Se ele não fosse ruim... (Fig., Arte, 161)
mbyr - forma nasalizada do suf. deverbativo -pyr (v.)
nhemongaraibypyra (etim. - o tornado cristão) (s.) - o batizado, pessoa batizada: Memetipó nhemongaraibypyra tekokatu abŷara... abaré... supé ogûasema, sorybetéûne... - E ainda mais um batizado, transgressor da boa lei, encontrando um padre, alegrar-se-á muito. (Ar., Cat., 219)
NOTA - Daí, no P.B. (AM) MOPONGA, MUPUNGA, batição, processo de pesca que consiste em bater a água de um rio com uma vara, ou com a mão, a fim de afugentar o peixe na direção desejada. Há a locução bater MOPONGA (in Novo Dicion. Aurélio).
2 (part. que acompanha a forma negativa do futuro do indicativo, do condicional e do optativo): Nd'oromombe'uî xóne. - Não te denunciarei. (Anch., Teatro, 32); ...Marã 'é n'opyki xóne... - Não cessarão de dizer maldades. (Anch., Teatro, 36) (o mesmo que xûé - v.)
xûé (part. que acompanha a forma negativa do futuro do indicativo, do condicional e do optativo): N'orogûeruri xûémo ndebe i angaîpabe'ỹmemo... - Não o teríamos trazido a ti se ele não tivesse pecado... (Ar., Cat., 58); N'aîabŷî xûé temõ erimba'e nde nhe'enga mã!... - Ah, quem me dera não ter transgredido outrora tuas palavras! (Ar., Cat., 141v); Nd'oré poreaûsubi xûéne. - Não seremos miseráveis. (Anch., Poemas, 146); N'aîukáî xûéne. - Não o matarei. (Fig., Arte, 34); N'i ma'enduari xûéne. - Eles não se lembrarão. (Fig., Arte, 40)
Guaratuba (rio de SP). A mesma etim. de Guaratiba (v.).
Inhacuru (rio do MT). Variedade de milho nativo: "Há porém ainda nesta mesma espécie outras castas de milho [...] já bem conhecidos. Além do graúdo, há o segundo, a que os naturaes chamam mapira inhacuro (...)" (Pe. João Daniel [1757], p. 311)
buîeîa (s.) - BUIJEJA, espécie de lagarta nativa, "a qual é muito resplandescente...; parece uma candeia acesa e, quando anda, é ainda mais resplandescente" (Sousa, Trat. Descr., 270)
itaky (s.) - mó ou pedra de afiar: itaky-nhatimana - pedra de afiar que gira, pedra de afiar de barbeiro (VLB, II, 39)
Itajutiba (MG). A mesma etimologia de Itajubatiba (v.).
atîama (s. onomat.) - espirro (VLB, I, 127); (adj.: atîam) (xe) - espirrar: Xe atîam. - Eu espirro. (VLB, I, 126)
kumari (s.) - CUMARI, variedade de pimenta nativa (Capsicum frutescens L.), arbusto da família das solanáceas (Sousa, Trat. Descr., 186; Brandão, Diálogos, 195)
patûá (ou patygûá ou patugûá) (s.) - PATUÁ, PATIGUÁ, PICUÁ, canastra, cesta de folhas de palmeira, balaio: Ereru patûá? - Trouxeste patuás? (D'Evreux, Viagem, 245)
sabiîuîuba (ou sabiîeîuba) (s.) - SABIJUJUBA, vinhático amarelo, planta vinhática da família das leguminosas-mimosoídeas (Plathymenia reticulata Benth.) (VLB, II, 146)
(Anch.) ANCHIETA, Joseph de, Arte de Grammatica da Lingoa mais usada na Costa do Brasil. Edição facsimilar da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1933.
aseopyãîa (s.) - paladar ou céu da boca; véu palatino (VLB, II, 62; Castilho, Nomes, 28)
bîar2 (v. intr.) - estar acostumado, estar prático: N'abîari. - Não estou acostumado. (VLB, II, 47)
gûaîaná-timbó (etim. - timbó dos guaianás) (s.) - GORANÁ-TIMBÓ, GUAJANA-TIMBÓ, GUATIMBÓ ou TIMBÓ DE RAIZ, planta leguminosa-papilionada (Dahlstedtia pinnatum (Benth.) Malme, de cuja raiz é extraído entorpecente usado para matar peixes e para o tratamento das afecções parasitárias da pele e, ainda, como analgésico geral e hipnótico (Piso, De Med. Bras., IV, 201)
poroŷrõ (v. intr.) - 1) encruar-se (p.ex., pela ingratidão de alguém), encruescer-se; 2) ficar cru (p.ex., o que se assa ou se coze) (VLB, I, 115)
NOTA - Daí se origina, no P.B., a palavra ABATIRÁ ('aba + tyrá, "cabelos arrepiados"), nome de um antigo grupo indígena de Porto Seguro.
LORENZI, Harri et al., Palmeiras no Brasil (nativas e exóticas). Editora Plantarum, Nova Odessa, 1996.
itaurapara (etim. - tacape de ferro) (s.) - besta (de atirar, instrumento de tiro) (VLB, I, 55)
mboryb1 (ou moryb ou mbory) (v.tr.) - 1) alegrar, satisfazer: Maria t'îambory... - Que alegremos a Maria. (Anch., Poemas, 188); 2) alegrar-se de, ter gozo em, deleitar-se com, comprazer-se de: ...O kera pupé o pupukûera morypa... - Deleitando-se com sua polução em seu sono. (Ar., Cat., 72); Arakaîá-te ombory... - Mas os aracajás deleitam-se com eles. (Anch., Teatro, 36); Ereîmborype nde angaîpagûera resé nde ma'enduasaba? - Tiveste gozo com tuas lembranças de teus pecados antigos? (Ar., Cat., 233) ● omboryba'e - o que alegra; o que se compraz em: ...O ké-poxy omboryba'e... - O que se compraz em seu sonho mau. (Anch., Diál. da Fé, 211); mborypara (ou morypara) - o que alegra, o que se deleita com: -Abá abépe oîaby? -Kunhã me'engara... koîpó i mborypara. -Quem mais o transgride? -O que entrega mulheres e o que se deleita com elas. (Ar., Cat., 71); morypaba - tempo, lugar, modo, etc. de alegrar, de deleitar-se com; regozijo, gozo, deleite: ...O morybagûera poepyka... - Retribuindo seu regozijo com ele. (Ar., Cat., 89)
NOTA - Daí, o nome do Parque Nacional do ITATIAIA (RJ) (v. p. 386).
nhemoîegûak (v. intr.) - enfeitar-se, adornar-se: Xe Parati 'y suí aîu Tupã sy repîaka, gûinhemoîegûá-îegûaka... - Eu vim do rio dos paratis para ver a mãe de Deus, ficando a enfeitar-me. (Anch., Poemas, 110)
-sar(a) [suf. nominalizador. Forma deverbais ativos, com o sentido de agente. Tem os alomorfes -ar(a), -an(a). Corresponde, geralmente, aos sufixos -or, -dor, do português.]: Pesaûsu pe monhangara... - Amai vosso criador. (Anch., Teatro, 54); so'ombo'isara - retalhador de carne, açougueiro (VLB, II, 28); moroîtykara - vencedora (Anch., Poemas, 88); ...Îandé rekobé me'engara... - Doador de nossa vida. (Anch., Poemas, 90); morapitîara... - trucidador (Anch., Poemas, 90)
sarigûeîmbeîu (etim. - sarigué biju) (s.) - carnívoro aquático da família dos mustelídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 234; VLB, II, 32). O mesmo que ybyîa (v.).
2 (interj.) - ah! oh! eta! (expressa prazer, satisfação): Té, xe resemõ toryba... - Ah, sobra-me alegria. (Anch., Teatro, 10); Té, aûîé-katutenhẽ! - Ah, excelente! (Anch., Teatro, 24); Té, aûîé nipó! - Oh, muito bem! (Léry, Histoire, 341); Té, temõ oú mã! - Oh, oxalá viesse! (Anch., Arte, 57)
takó1 (part.) - haver de (com um verbo no indicativo ou no gerúndio): Nã takó îomomoranga re'a...! - Assim havemos de nos acariciar! (Ar., Cat., 234); Abá-angaîpabĩ takó mba'e-katu ogûerekó xe suí mã!... - Ah, um homem pecador há de ter mais coisas boas que eu! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102); ...Emonã takó aîkó... - Hei de viver assim. (Anch., Diál. da Fé, 211)
2 (s.) - 1) ponta, saliência: Kuîa nhẽ i tĩ-ngá-tĩ-ngábo... - Das cuias quebrando as pontas. (Anch., Teatro, 168); 2) proa (de embarcação) (VLB, II, 87); 3) esporão (de barco, de navio) (VLB, I, 127)
pakoka'atinga (etim. - pacova da folha clara) (s.) - PACÓ-CAATINGA, nome de duas espécies de ervas da família das zingiberáceas, a Costus spicatus (Jacq.) Sw. e a Costus spiralis (Jacq.) Roscoe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 102)
porepŷana (m) (s.) - contrato com alguém que estava cativo, após seu resgate (VLB, I, 81)
poromoîasukaba (m) (etim. - lugar de lavar gente) (s.) - pia batismal, pia de batismo (VLB, II, 76): Moromoîasukaba pupé onhemongaraípa... - Santificando-se na pia batismal. (Anch., Doutr. Cristã, I, 133)
NOTA - Daí provém o nome do município de GUARATINGUETÁ (SP) (v. p. 386).
manati (s.) - peixe-boi, cetáceo da família dos manatídeos. O mesmo que gûaragûá (v.) (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. XII, §1)
moaîu (v.tr.) - importunar, incomodar, molestar, desatinar (VLB, II, 33): Xe moaîu-marangatu... aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me muito aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); Anhanga xe moaîu... - O diabo me importuna. (Anch., Poemas, 132); Oporomoaîu oîkóbo... - Está molestando as pessoas. (Ar., Cat., 83)
nhemongyr (v. intr.) - levantar-se, erguer-se, sair da inatividade, mexer-se (VLB, I, 57)
NOTA - Daí também provém, no P.B., a palavra JAGUATIRICA ("onça que se afasta"), nome de um animal felídeo que não ataca o homem, como o faz a onça. Frei Arronches confirma tal etimologia na língua geral setentrional: "APARTAR, afastando - moteric".
______Moluscos do Brasil. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1982.
abakatuaîa (s.) - ABACATUAIA, ABACATUIA, ABACATÚXIA, ABACATINA, peixe da família dos carangídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 161)
ati'yba (s.) - ombro: Okarype senosemi, cruz nonga i ati'yba ri. - Retiraram-no para o pátio, colocando uma cruz no ombro dele. (Ar., Cat., 61v); Xe ati'yba ri aîar. - Tomo-o no meu ombro. (VLB, II, 56); O ati'yba ri krusá osupi. - No seu próprio ombro levanta a cruz. (Anch., Poemas, 122) ● o îoati'yba ri - sobre os ombros de duas pessoas, de um e do outro ombro (como a levar uma escada muito comprida) (VLB, II, 56)
rakó2 (part. que expressa o imperfeito do indicativo): Ixé rakó. - Era eu. (VLB, I, 121); Akûeîme rakó pirá asekyî-marangatu... - Antigamente pescava bem os peixes. (Anch., Poemas, 152)
NOTA - Daí, os nomes geográficos ANHANGUERA, TABATINGUERA, etc. (v. p. 386).
Quatiara, Salto da (SP). A mesma etimologia de Itaquatiara (v.)
AGUIAR, Manoel Gonçalves de [n.d.], Notícia - 1.ª prática e resposta que deu o sargento-mor da praça de santos, manoel gonçalves de aguiar, às perguntas que lhe fez o governador e capitão general da cidade do rio de janeiro, e capitanias do sul, antonio de brito e menezes, sobre a costa e povoações do mesmo mar. Ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq).
beémo (part. que expressa o condicional ou o optativo passados): Anhandu beémo erimba'e angûama mã!... - Ah, se tivesse percebido isso outrora! (Ar., Cat., 165v); Îaîuká umã beémo. - Já o teríamos matado. (Fig., Arte, 19)
NOTA - Daí se originam muitas palavras no P.B.: CAATINGA (ka'a + ting + -a, "mata branca"), formação vegetal do sertão do Nordeste do Brasil); CAPOEIRA (ka'a + pûer + -a, "mata que foi"), terreno em que o mato foi derrubado ou queimado para o plantio; mata secundária que nasceu nas derrubadas de mata virgem e que não atingiu, ainda, porte de floresta autêntica; CAUBI (ka'a + oby), (Amaz.) mato verde; CATANDUVA, CATANDUBA, CATUNDUVA (ka'a + atã + ndyba, "ajuntamento de mata dura"), cerrado ou mato rasteiro, áspero, com características xerófilas; tipo de solo caracterizado por ser arenoso e de baixa fertilidade. Daí, também, os nomes geográficos CAPÃO (BA), CAAGUAÇU (SP), etc. (v. p. 386).
karapîasaba (s.) - CARAPIAÇABA, peixe da família dos dasiatídeos. "...São redondos como choupinhas e pintados de pardo e amarelo e são sempre gordos, muito bons para doentes." (Sousa, Trat. Descr., 288)
NOTA - Daí se originam os nomes de plantas BRACATINGA, ABÓBORA-CATINGA, AÇAÍ-CATINGA, ACAJU-CATINGA, ARATICUM-CATINGA, etc.
nhemoîasuka (ou îemoîasuka) (etim. - o fazer-se lavar) (s.) - batismo: Ereîpotápe... nde nhemoîasuka? - Queres teu batismo? (Ar., Cat., 118v)
nhemongaraibe'yma (s.) - paganismo, o tempo em que não se era batizado: ...Nde nhemongaraibe'yma pupé oîkoba'e mosema nde 'anga suí. - Fazendo sair de tua alma o que havia no teu paganismo. (Ar., Cat., 188)
pakurypari (etim. - bacuri torto) (s.) - BACURIPARI, BACURIPATI, árvore da família das clusiáceas (Garcinia macrophylla Mart.). "Dá esta árvore um fruto tamanho como fruta nova, que é amarelo e cheira muito bem." (Sousa, Trat. Descr., 191)
potiry (s.) - 1) PATURI, PATURÉ, ave da família dos anatídeos (D'Abbeville, Histoire, 241v); 2) ganso (VLB, I, 21)
NOTA - Daí se originam os nomes geográficos TABATINGUERA, antiga rua de São Paulo (SP) e TABATINGA (AM), este último pelo nheengatu (v. p. 386). TABATINGA, no P.B. (GO), pode ser também terra argilosa de cores variegadas (in Dicion. Caldas Aulete).
a'ypaba (t, t) - esfalfamento, esgotamento (pela muita atividade sexual); [adj.: a'ypab (r, t)] - esfalfado (pela muita atividade sexual): Xe ra'ypab. - Eu estou esfalfado. (VLB, I, 124)
Daí, também, os nomes geográficos TAGUÁ (CE), TAGUATINGA (serra de GO), etc. (v. p. 386).
______Peixes da Água Doce. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1987, 4ª ed.
Daí também, pelo nheengatu, o nome geográfico AUATI-PARANÁ (AM) (v. p. 386).
apy1 (adv.) - completamente, totalmente (na forma negativa, expressa o nunca terminar de fazer algo, como que gastando muito tempo): O'u-apy ahẽ mba'e. - Fulano come completamente as coisas; Nd'o'u-apyî ahẽ mba'e. - Nunca acaba de comer, não come fulano completamente as coisas. (VLB, II, 52)
pata'yba (s.) - ripa para casas do tronco da palmeira pati, "...que é tão dura que com trabalho a passa um prego..." (Sousa, Trat. Descr., 198)
moîasuk (v.tr.) - 1) lavar (VLB, II, 19); 2) lavar na água do batismo; batizar: Xe moîasuk îepé, pa'i... - Batiza-me tu, padre. (D'Abbeville, Histoire, 349v) ● i moîasukypyra - o batizado (VLB, I, 53)
nhemoîasuk (ou nhemoîasyk) (etim. - fazer-se lavar) (v. intr.) - batizar-se (Bettendorff, Compêndio, 113): ...A'eboé Tupã ra'yramo anhemoingó re'a, gûinhemoîasukuká... - Muito a propósito comportei-me como filho de Deus, fazendo-me batizar. (Ar., Cat., 169)
agûapé (s.) - AGUAPÉ, UAPÉ, UAPÊ, nome comum a plantas aquáticas flutuantes de flores violáceas e ornamentais, que crescem nos rios pantanosos, das quais a Eichhornia crassipes (Mart.) Solms e a Nymphaea ampla (Salisb.) DC. são as mais comuns. Também conhecidas como golfão, mururé, AGUAPÉ-DAS-LAGOAS, nenúfar, orelha-de-veado, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 23; VLB, I, 149)
e- (pref. de 2ª pess. do sing.) 1) (pref. do modo imperativo): Eîuká! - Mata-o! (Anch., Arte, 18); Enhemim!... - Esconde-te! (Anch., Teatro, 32); Eîepe'a! Ekûá ké suí ra'a! - Afasta-te! Vai-te daqui já! (Anch., Teatro, 32); Emoîerekûab orébo... - Faze perdoar a nós. (Anch., Poemas, 84); 2) (pref. do gerúndio com verbos intransitivos da 1ª classe): Tupãnamo eîkóbo bé. - Sendo tu Deus também. (Anch., Poemas, 100)
ebira2 (t) (s.) 1) sodomia passiva; 2) sodomita passivo, o patiens (VLB, II, 68): Ereîkópe tebira amõ resé? - Tiveste relações sexuais com algum sodomita? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
enõîndaba (ou enõîtaba) (t) (etim. - meio de chamar) (s.) - designativo; nome: Ixé Saûîaetá. Serapûã xe renõîndaba. - Eu sou Sauiaetá. Famoso é meu nome. (Anch., Poemas, 156); Esenõî nde reté renõîndabetá ixébe. - Nomeia os muitos designativos de teu corpo para mim. (Léry, Histoire, 364)
itatîãîa (s.) - lança, ferro aguçado: Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com lanças. (Anch., Teatro, 120)
mikûatiara (s.) - carta, escrito (VLB, I, 68) [o mesmo que emikûatiara (t) - v. kûatiar]
aby2 (v.tr.) - errar, falhar com; enganar-se em, deixar de atingir, desviar-se de, não acertar em: Tatapynha n'oîabyî; oîeí bé muru kaî... - As brasas não falham com eles; ainda hoje os malditos queimam... (Anch., Teatro, 88); Aîaby-îaby. - Fiquei-as errando (isto é, as flechas atiradas.) (VLB, I, 38); T'oîaby umẽ Tupã o monhangara. - Que não se desvie de Deus, seu criador. (Ar., Cat., 187)
esebé (r, s) (posp.) - com, juntamente com, assim como: São Matias... S. Pedro o irũetá resebé tari apóstoloramo. - São Pedro, com seus companheiros, tomou São Matias como apóstolo. (Ar., Cat., 121-122); Asaûsub Pedro ta'yra resebé. - Amo Pedro, assim como a seu filho. (Anch., Arte, 44v); ...Anhanga pe'abo, te'õ resebé. - Afastando o diabo, assim como a morte. (Anch., Poemas, 108); Îaîpó-asá-sá i py resebé, krusá sosé nhẽ xe Îara moîá. - Atravessam suas mãos, assim como seus pés, sobre a cruz pregando meu Senhor. (Anch., Poemas, 122)
NOTA - Daí, GUARAQUEÇABA (nome de município do PR), GUARATIBA (nome de localidade do RJ), etc. (v. p. 386).
ybyraygara (etim. - madeira de canoa) (s.) - IBIRAIGARA, árvore nativa do sertão da Bahia, da qual "...fazem umas embarcações para pescarem pelo rio e navegarem." (Sousa, Trat. Descr., 220)
atimung (v. intr.) - oscilar, balançar: I ku'a-bok serã moxy oatimunga? - Por acaso estava com a cintura fendida o maldito, balançando? (Ar., Cat., 57v)
îatimung (v. intr.) - oscilar, balançar: I ku'a-bok serã moxy oatimunga? - Por acaso estava o maldito com a cintura fendida, balançando? (Ar., Cat., 57v)
kyîasarapó (etim. - pimenta sarapó) (s.) - variedade de pimenta nativa, planta solanácea do gênero Capsicum (Piso, De Med. Bras., IV, 198)
atiman (v.tr.) - fazer girar; fazer voltar; fazer retornar ● atimandaba - tempo, lugar, modo, etc. de retornar, o retorno: xe atimandápe - por ocasião de meu retorno (VLB, II, 132)
(-îo-, -s-) (v.tr. irreg. Incorpora -îo- (ou -nho-) e -s- no indicativo e formas derivadas deste.) - lavar: ...Og ugûy pupé xe reî... - Com seu sangue me lavou. (Anch., Teatro, 172); Oîepó-eî te'yîa remiepîakamo. - Lavou-se as mãos à vista da multidão. (Ar., Cat., 61); T'aîeîuru-eî. - Que eu me lave a boca. (Léry, Histoire, 367); Eîori xe 'anga reîa... - Vem para lavar minha alma. (Anch., Poemas, 170)
en2 (-îo-, -s-) (v.tr. irreg. Incorpora -îo- (ou -nho-) e -s- no indicativo e formas derivadas deste.) - derramar, fazer verter, entornar (p.ex., o líquido, a farinha): Anhosen. - Entornei-o. (VLB, I, 118; II, 142)
NOTA - Daí, no P.B., o nome da histórica localidade de PARATI (RJ) (v. p. 386).
______Entre o Gambá e o Macaco. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1984.
nhemongaraíba (etim. - o tornar-se caraíba, o tornar-se cristão) (s.) - batismo: -Marãpe aîpó mosangypy rera...? -Nhemongaraíba. -Qual é o nome daquele primeiro remédio? -Batismo. (Ar., Cat., 80)
tyba1 (s.) - Forma nominal que expressa o aspecto frequentativo, indicando ação costumeira, frequente, contínua. É usada com nomes deverbativos: xe rekoatyba - lugar onde eu comumente estou; xe soatyba - lugar aonde eu comumente vou; minha ida costumeira (VLB, I, 78; II, 7); xe pindaeîtykatyba - lugar costumeiro de minha pescaria (VLB, II, 75); mba'e o emimboraratyba... - coisas que costuma sofrer (Anch., Diál. da Fé, 231); ...Eboûĩ abá 'anga rupîatyba a'e... - Eis que ele é o adversário costumeiro das almas dos homens. (Ar., Cat., 89); ...Opakatu mba'e-aíba rasy-abaeté porarasatyba... - Lugar de sofrimento contínuo de dores terríveis de todas as coisas más. (Bettendorff, Compêndio, 49); xe remi'utyba - o que eu como costumeiramente (VLB, I, 78)
- forma irreg. do verbo îub, ub(a) (t, t) (v.), no modo indicativo circunstancial
NÓBREGA, M., Cartas do Brasil, 1549-1560. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 1988.
pintado (= que tem pintas): pinim/a; piting/a; (= que tem pintura): kûatiar/a
îakarepetymbûaba (etim. - jacaré-cachimbo) (s.) - cavalo-marinho, peixe singnatídeo de corpo revestido de anéis ósseos e com grande cauda preênsil. O macho possui uma bolsa abdominal em que os ovos são incubados, nadando sempre ereto. (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 33)
pe'yba (etim. - caminho-guia) (s.) - trilha; (adj.: pe'yb) - trilhado, batido (fal. de caminho), seguido, limpo de erva, etc.: I pe'ybĩ nakó tapiti kûara. - Está limpa, como se vê, a cova da lebre. (VLB, II, 114)
NOTA - TAPEJARA (ou TAPIJARA) tem, também, o sentido de 1) prático, conhecedor de caminhos ou de uma região: "Naquela escuridão fechada nenhum TAPEJARA seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo" (Simões Lopes Neto, in Contos Gauchescos e Lendas do Sul); 2) (RS) aquele que conduz embarcação com segurança, firme ao leme; pessoa hábil e entendida; 3) (adj.) valentão (in Novo Dicion. Aurélio); TAPIARA (SP pop.) estradeiro, velhaco, espertalhão, trapaceiro, donde o verbo TAPEAR, agir como um tapiara, enganar, iludir, lograr.
______O Mundo dos Artrópodes. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1982.
______O mundo dos artrópodes. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1982.
petymbûaba2 (etim. - instrumento de fumar, cachimbo) (s.) - PETIMBABO, catimbu, catimbó, catimbaua, catimbaba, cachimbo indígena feito do coco da pindoba (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; Brandão, Diálogos, 293)
potirygûasu (etim. - paturi grande) (s.) - ganso, ave da família dos anatídeos, introduzida no Brasil com a colonização (VLB, I, 146)
gûanhamỹ (s.) (etim. - extensão semântica) - constelação | constellation | - - (TPK; Cabral, 2024; 2024, 114; 109) - neologismo
gûyri (loc. posp.) - abaixo de (em sentido pontual); menos (comparativamente); menor que: xe gûyri bé - menor ainda que eu (VLB, II, 35); xe gûyri - abaixo de mim, mais pequeno que eu (Anch., Arte, 41) ● gûyri nhote - menor ou menos que: akûeîa gûyri nhote - menos ou menor que aquele (VLB, II, 28); gûyri-pyryb (ou gûyri-pyrybĩ) - algum tanto menor, um pouco menor ou menos que (VLB, II, 35)
mbegûé (s.) - lentidão, vagar; fleugma; (adj.) - vagaroso, lento, fleumático, molengão (VLB, II, 40): Xe mbegûé. - Eu sou fleumático, eu sou vagaroso. (VLB, I, 143; II, 140); (adv.) 1) devagar; aos poucos, lentamente, vagarosamente: T'îasó, mbegûé, îapu'ama... - Vamos, devagar, para fazer o assalto. (Anch., Teatro, 24); Mbegûé-katu aîmonhang. - Bem devagar o fiz. (VLB, II, 140); 2) baixo (som ou voz): Mbegûé îaîomongetá, t'onhandu umẽ abá. - Conversemos baixo, para que não o percebam os índios. (Anch., Teatro, 146) ● mbegûé-mbegûé (nhẽ) - pouco a pouco (VLB, II, 83), aos poucos: Mbegûé-mbegûé gûyrá nhemoaî. - Aos poucos a ave se torna papuda. (Isto é, como se diria em português: "de grão em grão a galinha enche o papo".) (VLB, I, 150); Sobaké suí mbegûé-mbegûé i xóû oîeupi... - De diante deles ele foi, aos poucos, subindo. (Ar., Cat., 4v); mbegûé-katu - brandamente, suavemente (VLB, I, 34); tardiamente (VLB, II, 125); mbegûé irã - logo mais: -N'asepîaki xópene? -Mbegûé irã. -Não as verei? -Logo mais. (Léry, Histoire, 345); mbegûé nhote - devagar; mbegûé'ĩ (ou mbegûé'ĩ nhote) - devagarinho; mbegûé-mbegûé nhote (ou mbegûé-mbegûé nhẽ) - aos passinhos, devagarinho (p.ex., como anda o doente) (VLB, II, 67)
xebe (pron. pess. dat. de 1ª p. do sing.) - 1) a mim, para mim: ...Ûyrá-tinga our xebe. - Um pássaro branco veio a mim. (D'Abbeville, Histoire, 353); ...Tupã îepîakukari xebene... - Deus revelar-se-á a mim... (Ar., Cat., 38); 2) para junto de mim: ...xebe teîkeara... - o que entra para junto de mim (Ar., Cat., 85v)
ybatinga (etim. - brancura do céu) (s.) - nuvem: -Marãpe irã turine? -Ybatinga 'arybo. -Como virá futuramente? -Sobre as nuvens. (Ar., Cat., 46v; VLB, II, 52)
Itaquaxiara (Itapecirica da Serra, SP). A mesma etimologia de Itaquatiara (v.).
Patatiba (rio da BA). Nome de um pássaro em língua geral: [...] patatibas, coleirinhos, canarios, e outros, que em menos ajustada solfa, tambem agradavelmente cantaõ. (Rocha Pitta [1730], p. 28).
ikomarã1 / ekomarã (t) (etim. - estar em labuta) (v. intr. irreg.) - estar ativo, produzir (com as mãos) (VLB, II, 53)
kuîemusu (etim. - pimenta cuiém grande) (s.) - variedade de pimenta nativa. É "grande e comprida e depois de madura faz-se vermelha". (Sousa, Trat. Descr., 176)
îabebyretepinima (etim. - jabebiretê pintado) (s.) - peixe da família dos dasiatídeos, uma variedade de raia (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 36
mombor (v.tr.) - 1) fazer pular, fazer saltar, projetar, lançar fora, atirar, lançar (VLB, II, 18): ...Tekoaíba oromombó. - A vida ruim lançamos fora. (Anch., Poemas, 84); Îasó umẽ, îandé nupã, tatápe îandé mombómo. - Não vamos, ela nos castiga, fazendo-nos saltar no fogo. (Anch., Teatro, 130); Aîmombor ybype. - Lancei-o no chão. (VLB, I, 110); 2) expulsar: Nde reroŷrõ, nde mombóne. - Odeiam-te, expulsar-te-ão. (Anch., Teatro, 136); 3) botar (ovos a ave): Aîupi'a-mombor. - Botei-me os ovos. (VLB, II, 81); 4) tirar, retirar: Naînanĩ temiminõ... o erumûana mombó. - De modo nenhum os temiminós tiram seus nomes antigos. (Anch., Teatro, 144)
potuká (v.tr.) - lavar (p.ex., roupa) batendo ● i potukapyra - lavado, batido: Morotĩngatu nde 'anga, aoba i potukapyra rame'ĩ ... - Tua alma está muito branca, como roupa lavada. (Ar., Cat., 81v)
Catete (MA). De ka'a + eté-eté: mata imensa. Catete (ou cateto ou batité) designa, também, uma variedade de milho miúdo. Primeira datação: "Dada neste Arrayal do Cathete aos 15 dias do mez de Janeiro de 1711." (Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho [1710], III - Cartas De Sesmaria, p, 261.)
periná (s.) - PERINÁ, nome de uma planta; outro nome para a pakoka'atinga (v.)
ybyrae'ẽ (etim. - madeira doce) (s.) - 1) nome de uma árvore sapotácea nativa (Pradosia lactescens (Vell.) Radlk.), também chamada guaco, cujo fruto "é produzido cada quatriênio" (Piso, De Med. Bras., I, 6); 2) IVURANHÊ, BURANHÉM, GURANHÉM, EMIRAÉM, BURAÉM ou IVURAÉM, árvore da família das sapotáceas, de boa madeira, muito usada nos séculos XVI e XVII para a construção de navios (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101; Brandão, Diálogos, 171)
gûe'y (interj. de h.) - ó! (do que chama, dizendo o nome ou um designativo qualquer para a pessoa chamada): Pero gûe'y! - Ó Pero! (VLB, II, 60)
-usu1 (suf. de temas terminados em consoante) - expressa o aumentativo: Pytunusupe émo i xóûmo. - Para uma grande escuridão é que iriam. (Ar., Cat., 80); okusu - casarão, casa grande (Anch., Arte, 13v); Xe, anhangusu-mixyra... - Eu, o diabão assado... (Anch., Teatro, 6); Kó xe 'akusu... - Eis meus chifrões... (Anch., Teatro, 40); Kó xe musuranusu. - Eis aqui minha grande muçurana. (Anch., Teatro, 64)
Mogi-Guaçu (SP). De moîa, mboîa - cobra + 'y - rio + -ûasu - suf. de aumentativo: rio grande das cobras.
setá (adv.) 1) muitas vezes: Setápe asé nhemongaraíbi? - A gente se batiza muitas vezes? (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); Anhemombe'u... ndebe, pa'i abaré setá nhẽ xe angaîpagûera resé... - Confesso-me a ti, senhor padre, por causa do meu pecar muitas vezes. (Ar., Cat., 20, 20v); 2) de diversos, de muitos, em muitos, por muitos: ...Tupã oîmonhyrõ o îoupé setá nhẽ seîxutatá tekoangaîpaba repy-mondykápe... - Fazem aplacar a Deus a si mesmos para eliminar a dívida dos pecados de diversos anos. (Ar., Cat., 142v); Nde moingobé Tupã, nde rerekóbo n'oîepé îasy nhõ ruã, n'oîepé seîxu nhõ ruã, setá nhẽ seîxu-te... - Deus te fez viver, guardando-te, não somente por uma semana, não somente por um ano, mas por muitos anos. (Ar., Cat., 157); 3) muito, bastante: Xe asykyîé setá. - Tenho muito medo. (D'Evreux, Viagem, 147); Nde angaîbar setá. - Tu estás muito magro. (D'Evreux, Viagem, 152) ● setá setá-eté - muitíssimos (Fig., Arte, 4)
tubixaba2 (s. irreg.) - coisa grande; o que é grande, o muito maior (superlativo) (VLB, II, 28): ...Oîmombe'u o angaîpá-mirĩ anhõ. Tubixabeté oseîá, abaré suí i mima. - Confessam seus pecadilhos somente. Os que são muito grandes deixam-nos, escondendo-os do padre. (Anch., Teatro, 160, 2006); (adj.: tubixab) - grande, imenso; enorme; principal; grosso (p.ex., o mato); membrudo: Tubixabeté. - Ele é muito grosso. (VLB, I, 151); abá-tubixaba - homem membrudo (VLB, II, 35); ...Xe angaîpá-tubixagûera amosẽne. - Meus antigos e grandes pecados farei sair. (Anch., Teatro, 38) ● tubixabeté - (o) muito maior (superlativo) (VLB, II, 28)
Paxiúba (ig. do AM). Da língua geral setentrional paxi + yba: pés de patis, var. de palmeiras.
karipirá (s.) - CARAPIRÁ, GRAPIRÁ, nome comum de aves da família dos fregatídeos, também conhecidas como tesouras e que fazem grande luta com os peixes-voadores (D'Abbeville, Histoire, 241v; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 61)
_________________, Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1980.
Daí provêm, também, muitos nomes de lugares no Brasil: CURITIBA, ITATIBA, ARAÇATUBA, SAPETUBA, CARAGUATATUBA, SEPOTUBA, ITAMARATI, etc. (v. p. 386).
Vamicanga, Córrego do (SP). "Uma legoa mais adiante está a cachoeira Tambatiririca, e com mais 3 legoas de navegação se chega á de Uamicanga." (Vasconcellos de Drummond [1797], p. 240). Nome da língua geral meridional. De uaimĩ* + kanga: osso de velha, talvez o nome de uma árvore de madeira clara, como é a sûasukanga (etim. - osso de veado) (v.), que tem "madeira alvíssima como marfim..." (Sousa, Trat. Descr., 214).
poapyîa (m) (s.) - ligeireza de mãos; (adj.: poapyî) - ligeiro de mãos (p.ex., para atirar o arco): Xe poapyî. - Eu sou ligeiro de mãos. (VLB, II, 22)
'angaingaíba (s.) - mania, loucura (VLB, II, 31); (adj.: 'angaingaíb) - maníaco, doido, desatinado, sem juízo, enlouquecido; (xe) endoidecer: Xe 'angaingaíb. - Eu sou (ou estou) doido. (VLB, I, 115; II, 31) ● 'angaingaibora - desatinado, sem juízo, enlouquecido, maníaco (VLB, I, 96; II, 31)
îekuakuba (s.) - 1) couvade, conjunto de restrições alimentares e de ritos praticados por um homem durante a gravidez da mulher e logo depois do nascimento da criança; 2) jejum (significação assumida após a chegada dos missionários): Îekuakuba oîkoé so'o gûabe'yma suí... - O jejum difere de não comer carne. (Ar., Cat., 10v); Aîá pá îekuakuba... - Guardei todos os jejuns. (Anch., Teatro, 172)
ka'aroba (ou karoba) (etim. - folha amarga) (s.) - CAROBA, jacarandá-preto ou barbatimão, designação comum a várias árvores pequenas, da família das bignoniáceas, do gênero Jacaranda, de propriedades medicinais (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42; Piso, De Med. Bras., IV, 185)
NOTA - Daí provêm muitos nomes de lugares no Brasil: ITAPETININGA, PIRATININGA, etc. (v. p. 386).
îekosub1 (v. intr. compl. posp.) - regozijar-se, gozar, deleitar-se, ter prazer ou satisfação [compl. com esé (r, s) ou ri]: Sekó-katu rerekóbo, îandé 'anga îekosubi. - Sua vida bondosa tendo, nossa alma regozija-se. (Anch., Poemas, 180); Nd'e'i te'e... mba'e-katu... resé oîekosube'yma... - Por isso mesmo eles não se deleitam com as boas coisas. (Ar., Cat., 179); Ta pesó peîekosupa i potarypyra ri... - Que vades regozijar-vos com o que é desejado. (Anch., Teatro, 56) ● îekosupaba (ou îekosubaba) - tempo, lugar, modo, causa, etc. de regozijar-se; regozijo: T'oré angaturãne... oré îekosubagûama ri. - Que sejamos dignos do lugar futuro de nosso regozijo. (Ar., Cat., 14v)
py'i1 (m) (s.) - rapidez, destreza, habilidade; (adj.: py'i) - rápido, destro, hábil, atilado: Xe pó-py'i emonã gûitekóbo. - Eu tenho mãos rápidas para assim agir. (VLB, I, 34); Xe nhe'ẽ-mby'i. - Eu tenho fala rápida. (VLB, I, 133)
etapokanga (t) (s.) - pouquidão (em relação a outra coisa); [adj.: etapokang (r, s)] - relativamente poucos, poucos em relação a algo que se toma por referência (e não absolutamente), raro: ...Gûyrá setapokang... - Os pássaros eram relativamente poucos. (Ar., Cat., 41v); Oré retapokang. - Nós somos poucos (em relação ao número de pessoas que seriam necessárias). (VLB, II, 83) ● setapokãba'e - o que é raro, poucas vezes visto ou que se não acha a cada passo (VLB, II, 96)
îabebyreté (etim. - jabebira verdadeira) (s.) - JABEBIRETÊ, peixe da família dos dasiatídeos. Tem o aspecto de papagaio de papel. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 175)
îeupir (v. intr.) - elevar-se, subir, ascender, trepar, montar (p.ex., em cavalo): ...São Matias, ybakype Tupã Ta'yra îeupir'iré, S. Pedro o irũ-etá resebé... tari apóstoloramo. - São Pedro, com seus companheiros, tomou como apóstolo a São Matias, após subir Deus-Filho ao céu. (Ar., Cat., 121) ● îeupiraba - tempo, lugar, modo, etc. de subir; subida: Arobîar ybakype i îeupiragûera... - Creio na subida dele ao céu. (Ar., Cat., 16)
kyrirĩ (s.) - silêncio (VLB, II, 117); QUIRIRI; (adj.) - silencioso, quieto, calado, pensativo, QUIRIRI: Enhemim, nde kyrirĩ... - Esconde-te, fica quieto. (Anch., Teatro, 32)
-pe1 (posp. átona. Forma nasalizada: -me. Há também o alomorfe -ype.) - 1) em (locativo): Sygépe o eterama Tupã tari .... - Em seu ventre Deus tomou seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); ...Xe pópe nhote arasó. - Nas minhas mãos, somente, levei-as. (Anch., Teatro, 46); Tynysẽ Tupã raûsuba nde nhy'ãme erimba'e. - Abundava o amor de Deus em teu coração outrora. (Anch., Teatro, 120); ...setãme... - em sua terra (Anch., Teatro, 122); 2) a, para, em (de direção, com movimento): Asó okype. - Vou para a casa. (Anch., Arte, 40); Eîké kori xe nhy'ãme... - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Asó-potá nde retãme... - Quero ir para tua terra. (Anch., Poemas, 92); ...Mundépe i porerasóû... - Para as armadilhas eles levam gente... (Anch., Teatro, 36); Gûaîxará t'osó tatápe!... - Que vá Guaixará para o fogo! (Anch., Teatro, 56); 3) com deverbais em -sab(a) para construir orações subordinadas finais, causais ou temporais (a fim de, para; por causa de; por ocasião de, quando): ...N'aker-angáî sekasápe... - Não dormi, absolutamente, para procurá-los. (Anch., Teatro, 48); Memẽ anhanga popûari pe ri sembiá-potasápe. - Sempre atam as mãos dos diabos quando querem em vós suas presas. (Anch., Teatro, 54); Pe 'anga raûsukatûápe, o boîáramo pe rari. - Por amar muito vossas almas, como seus discípulos vos tomaram. (Anch., Teatro, 54); Kó oroîkó oronhemborypa nde 'ara momorangápe. - Aqui estamos alegrando-nos para festejar teu dia. (Anch., Teatro, 118); ...xe îukasápe - por ocasião de minha morte, quando me matarem (Anch., Arte, 33)
pe3 (Ênclise usada para a interrogação em tupi. O termo que se quer enfatizar, na pergunta, aparece no início da frase, com -pe enclítico.): Xepe asóne? - Eu irei? Asópe ixéne? - Irei eu? (Fig., Arte, 166); Abá nhe'engûerape aîpó? - Palavras de quem são aquelas? (Ar., Cat., 32v); Ereîukápe? - Mataste? (Anch., Arte, 35v); Xe rubape osó? - Meu pai foi? (Anch., Arte, 36); Ndepe nde îuká? - A ti é que matam? (Anch., Arte, 36); Ereîpotápe itaîuba? - Queres ouro? (Anch., Teatro, 44)
porerokarûera (m) (etim. - o que retirou o nome de pessoas) (s.) - padrinho, madrinha (de batismo ou crisma) (VLB, II, 27): Abaré koîpó amõ abá pyri morerokarûera nd'e'ikatuî omendá gûemierokûera resé... - Os padrinhos junto ao padre ou a outra pessoa não podem casar-se com o que batizaram. (Ar., Cat., 129)
tining1 (v. intr.) - ser seco; ser ou estar mirrado (VLB, II, 38); secar (VLB, II, 114): Atining-atã. - Sequei muito, sequei duramente. (VLB, II, 114)
umanĩ2 (part. Leva o verbo para o gerúndio. É usada com verbos na forma negativa.) - acabar de começar: Nd'a'éî umanĩ mba'e gûabo. (ou A'é umanĩ mba'e'ue'yma.) - Não acabei de começar a comer. (Anch., Arte, 56v)
mba'emoîo'ara (s.) (etim. - mba'e; moîo'ar) - multiplicação; cálculos básicos | multiplication; basic arithmetic | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
Cati (ribeirão de GO). Da língua geral meridional, designando uma erva aromática ciperácea.
Itaparica (ilha do litoral baiano). De itá + pirik + -a, registrado na forma iterativa piririk (VLB, I, 133): pedra faiscante, isto é, pederneira. Mas a forma simples pirik também era usada com esse sentido: Frei Vicente do Salvador (in História do Brasil, livro IV, cap. xxxviii), menciona o nome "João Vaz Tataperica". Tataperica significa fogo faiscante.
aîereba1 (s.) - JEREBA, AIEREBA, espécie de arraia pardo-escura, da família dos dasiatídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 175; VLB, I, 41)
kûatiara1 (s.) - 1) livro (D'Evreux, Viagem, 250); 2) escultura (VLB, II, 19); 3) pintura: i kûatiara - pintura dele (VLB, II, 78); 4) letra (D'Abbeville, Histoire, 184); (adj.: kûatiar) - escrito; pintado; desenhado; esculpido: Kó bé ingapé-kûatiara. - Eis aqui também a ingapema pintada. (Anch., Teatro, 66)
nhemoaîu3 (s.) - 1) estrondo, ruído (VLB, I, 43), vozerio (VLB, I, 131); falatório, reboliço, matinada (VLB, II, 33); 2) revolta (VLB, I, 150)
uba3 (t, t) (s.) - 1) pai: Enhe'eng nde ruba supé. - Fala a teu pai. (Fig., Arte, 6); Asopatĩ xe ruba. - Armo a rede a meu pai. (Fig., Arte, 88); Korite'ĩ Pedro xe ruba mongetáû. - Agora Pedro com meu pai falou. (Fig., Arte, 96); 2) tio paterno (Ar., Cat., 116v); 3) primo paterno (Ar., Cat., 116v); 4) padrinho de pia (VLB, II, 62); 5) os pais, os progenitores (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276); [adj.: ub (r, t)] (xe) - ter pai: Xe rub. - Eu tenho pai; Nde rub. - Tu tens pai; Tub. - Ele tem pai. (Fig., Arte, 39) ● tugûera - o que foi pai (VLB, II, 62); o pai extinto, antigo (Anch., Arte, 33v); xe ruba xe monhangara - meu pai, o que me gerou (para não haver confusão com outros parentes que também eram chamados tuba) (Anch., Cartas, 459); xe membyra ruba - o pai de meus filhos (isto é, meu marido legítimo) (Anch., Cartas, 459)
îasanãgûasu (ou îasanãûasu) (etim. - jaçanã grande) (s.) - nome aplicado a várias aves aquáticas distintas (Piso, De Med. Bras., 154; Griebe, Brasil Holandês, vol. III, 79)
Mooca (bairro de SP). De mũ + oka (r, s): casa de parentes. Ou, talvez, do pref. causativo mo- + oka: fabricação de casas.
1 (s.) - 1) nariz (Castilho, Nomes, 39); focinho: tĩgûasu - nariz grande, narigão; abá-tĩgûasu - homem do nariz grande; tĩpema - nariz anguloso; tĩmbeba - nariz achatado (VLB, II, 48); Mba'erama ripe asé tĩme o endy moíni? - Por que põe sua saliva no nariz da gente? (Ar., Cat., 81v); tĩ-apyra - ponta do nariz (Castilho, Nomes, 39); 2) bico de ave (VLB, I, 140); 3) tromba (VLB, II, 137): tĩmuku - lit., tromba comprida, gorgulho, inseto coleóptero (VLB, I, 149); 4) crista: ypekatĩapûá - pato da crista pontuda, ave anatídea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 218) ● tĩmbûera - bico de pássaro fora do corpo (VLB, I, 55)
aîry (s.) - AIRI, IRI, COCO-DE-IRI, espécie de palmeira silvestre [Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret], também chamada brejaúva ou brejaúba (VLB, II, 63)
(e)miaûsuba2 [ou (e)mbiaûsuba)] (r, s) (s.) - o que alguém ama, o amado de, o amigo (no sentido ativo): Marã oîkóbo-tepe asé Anhanga rembiaûsubamo sekóû? - Mas procedendo de que modo se está como amigo do diabo? (Ar., Cat., 26v); T'arasó pá xe ratápe... sembiaûsuba resebé. - Hei de levar todos para meu fogo, com seus amigos. (Anch., Poesias, 269)
-'ĩ1 (ou -ĩ) (suf. que expressa o aspecto lusivo, isto é, indica que uma ação é praticada sem propósito especial, sem finalidade, por fazer, sem problemas, sem mais, como no castelhano "no más". A oclusiva glotal ' cai após tema em consoante, ficando o sufixo com a forma -ĩ.): Aîme'engĩ. - Dei-o por dar (isto é, de graça). (VLB, I, 90); Aîmonhangĩ nhẽ. - Fi-lo por fazer (sem algum fim, sem mais, porque quis). (Anch., Arte, 54); Osó nhẽmope asé ybakype o nhemongaraibireme? - Iria a gente para o céu ao batizar-se, sem mais? (Anch., Doutr. Cristã, I, 201); -Mba'epe sepyrama? -Arurĩ. -Qual é o preço delas? -Trouxe-as por trazer. (Léry, Histoire, 344)
Caxinduba (ig. do PA). Da língua geral setentrional caxinga + tyba: ajuntamento de caatingas.
îa-6 (pref. num.-pess.) - 1) (pref. da 1ª p. do pl. inclusiva. Pode ser usado com o indicativo, o imperativo, o permissivo e o gerúndio): Îaîuká. - Matamos. (Anch., Arte, 17v); Aîmbiré, îarasó muru taûîé... - Aimbirê, levemos os malditos logo. (Anch., Teatro, 40); Ene'ĩ, t'îasó taûîé... - Eia, vamos logo. (Anch., Poemas, 182); ...Îasó tubixaba akanga kábo. - Vamos para quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); Îamanõmo - Morrendo nós. (Anch., Arte, 29); Îaru! - Tragamo-lo! (Anch., Arte, 23); 2) (pref. de 3ª p. quando o foco do discurso é o objeto e não o sujeito): Mboîa Pedro îaîxu'u. - A cobra mordeu a Pedro. (Anch., Arte, 36v); Xe ruba tobaîara îa'u. - Meu pai os inimigos comeram. (Anch., Arte, 36v); Ygasápe kaûĩ-tuîa, a'e ré, îamomotá... - O cauim transbordante nas igaçabas, depois disso, atrai-os. (Anch., Teatro, 28); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30); Îapopûar-atã... - Amarram suas mãos fortemente. (Anch., Poemas, 120); Sugûy mombukapa, îaînupã-nupã. - Derramando o seu sangue, ficaram a açoitá-lo. (Anch., Poemas, 120); 3) (pref. de 3ª p. usado para indeterminar o sujeito): Îaîuká. - Matam (ou mataram). (Anch., Arte, 36v)
okara (r, s) (s.) - 1) área aberta entre as ocas nas aldeias dos índios tupis; OCARA, pátio, terreiro: ...Aûnhenhẽ eresó nde rokápe enhe'engá... - Imediatamente vais para teu terreiro para cantar. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111); Osem okarype oîase'oasykatûabo. - Saiu para o pátio chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v); okarusu - ocara grande (Staden, Viagem, 109); 2) rua (VLB, II, 109) ● okara koty - de fora, do lado da rua (VLB, I, 92); okarype - fora, na rua (VLB, I, 141)
panakũ (s.) (etim. - extensão semântica) - constelação; o mesmo que gûanhamỹ | constellation; the same as gûanhamỹ | - - (TPK; Cabral, 2024; 2024, 114; 109) - neologismo
NOTA - Em Iracema, de José de Alencar, lemos "O coração de Iracema está como o ABATI n'água do rio", significando, aí, arroz.
'ara6 (s.) - entendimento, juízo: ...Asé îemongaraíme o 'ara moíni?... - Quando a gente se batiza, põe seu próprio entendimento?... (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); Eresabeyporype kaûĩ suí 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v); T'asabeypóne 'ara mokanhema... - Hei de me embebedar para perder o juízo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
nhatimanĩ (v. intr.) - girar em círculos, rodear (p.ex., o navio para o lugar donde saiu): Anhatimã-timanĩ. - Fico girando em círculos, fico rodeando (como o que se perdeu ou que busca alguma coisa). (VLB, I, 43)
Ocara (CE). De okara (r, s), área aberta entre as ocas nas aldeias dos índios tupis; pátio, terreiro.
endybaaba (ou enybaaba) (t) (etim. - pêlos do queixo) (s.) - barba (Castilho, Nomes, 39): xe rendybaá-tinga - minha barba branca (VLB, I, 65); [adj.: endybaab (r, s)] - barbado; (xe) ter barba: Xe rendybaá-îub. - Eu tenho barba ruiva. (VLB, II, 109) ● sendybaá-îuba'e - o que tem barba ruiva (VLB, II, 109); tendybaaba rerekoara - o que tem barba; o barbudo (D'Evreux, Viagem, 158)
îé3 (part.) - sim, está bem, de acordo, é isso aí: Îé, aîpó xe moytarõ. - Sim, esses me satisfazem. (Anch., Teatro, 60); -Nde ranhẽ eporandub. -Îé. Marãpe nde retama rera? -Tu primeiro pergunta. -De acordo. Qual é o nome de tua terra? (Léry, Histoire, 361); Kó xe 'akusu, xe ranha... Îé, kó bé xe pûapẽ... - Eis aqui meus chifrões, meus dentes... Sim, eis aqui também minhas garras... (Anch., Teatro, 42, 2006)
timbor (v. intr.) - fumegar, soltar fumaça (p.ex., o fogo), soltar vapor, bafejar (com a boca): Atimbor. - Bafejo. (VLB, I, 144)
gûatar (ou gûatá) (v. intr.) - faltar (como no comprimento ou no número); não alcançar, não atingir, não chegar: Ogûatá îepé serã i îybá mokõîa itapygûá soarama resé? - Por acaso não chegava seu segundo braço ao lugar de irem os pregos? (Ar., Cat., 89, 1686)
nhatimana (s.) - tornada, retorno de algum lugar para onde se foi; giro, volta, curva; (adj.: nhatiman) - que gira em círculos, que roda: itakynhatimana - pedra de amolar que gira, pedra de barbeiro (VLB, II, 39)
tinga1 (s.) - 1) brancura: Akó aoba i putukapyra sosé o 'anga tinga. - Mais que a roupa batida é a brancura de sua alma. (Ar., Cat., 188, 1686); 2) coisa branca: Mba'e-tepe kûé tinga asé remiepîaka abaré hóstia rupireme...? - Mas que é aquela coisa branca que vemos quando o padre ergue a hóstia? (Bettendorff, Compêndio, 84); 3) claridade; (adj.: ting) - 1) branco [irregular: xe ting - eu (sou) branco; ting - ele é branco - O t- vale pelo pronome de 3ª p.]: Osobá-syb aó-tinga pupé. - Limpou seu rosto com um pano branco. (Ar., Cat., 62); ...ybyku'i-tinga gûyri... - sob a areia branca (Anch., Teatro, 170); ...Ûyrá-tinga our xebe. - Um pássaro branco veio a mim. (D'Abbeville, Histoire, 353); 2) claro: Xe resá-ting. - Eu tenho olhos claros. (VLB, I, 147)
NOTA - NO P.B., -TINGA é um elemento de composição presente em dezenas de palavras: CAATINGA, CAMARATINGA, COUVETINGA, CAPINTINGA, GAVIÃOTINGA, GUIRATINGA, JABUTITINGA, JACUTINGA, etc. Aparece também em inúmeros nomes de lugares no Brasil: ITATINGA (SP), CARATINGA (MG), CURURUTINGA (BA), etc. (v. p. 386).
gûaîraká (s.) - JAGUACACACA, cachorro-d'água, lontra brasileira, mamífero mustelídeo semi-aquático, de pelos longos, pardo-acinzentados. Alimenta-se de peixes. (VLB, II, 24)
NOTA - COIVARA passou a ter, no P.B., mais sentidos: 1) restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada, na roça à qual se deitou fogo, e que se juntam para serem incineradas a fim de limpar o terreno e adubá-lo com as cinzas, para uma lavoura; 2) (MA) galhadas e troncos de árvores derrubados pelas cheias e que descem rio abaixo (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - No P.B., POTIGUAR também significa 1) o natural do Rio Grande do Norte; 2) (adj.) relativo àquele estado brasileiro, rio-grandense-do-norte.
ybyrababaka1 (etim. - madeira que se move para um lado e para o outro) (s.) - pedaço de pau para atirar a alguma coisa, como para derrubar alguma fruta da árvore, etc. (VLB, II, 69)
HAENSCH, Günther et al., La Lexicografia de la Lingüística Teórica a la Lexicografia Prática. Madrid, Gredos, 1982.
kûatiar (v.tr.) - 1) escrever, registrar, lavrar: Kó santo o mbo'esara rekopûera erimba'e oîkûatiar îandébo, seîá. - Esse santo a vida de seu mestre escreveu para nós, deixando-a. (Ar., Cat., 134, 1686); 2) pintar; desenhar: Aîkûatiar. - Pintei-o. (VLB, II, 19); 3) esculpir (VLB, I, 124); 4) traçar (a planta de uma edificação) (VLB, II, 134) ● i kûatiarypyra - o que é escrito, desenhado; o escrito, o texto (VLB, I, 68); emikûatiara (t) - o que alguém escreve, etc.: Aîpoepyk semikûatiara. - Retribuí o que ele escreveu (isto é, escrevi-lhe como ele fez a mim). (VLB, I, 90)
ûará2 (s.) - GUARÁ, nome de peixe (o mesmo que gûará2 - v.): -Setápe pirá seba'e? -Nã: kurimã, parati, ...ûará, kamurupyûasu. -São muitos os peixes que são gostosos? -Ei-los: curimã, parati, uará, camurupi-guaçu. (Léry, Histoire, 348-349)
upaba5 (t, t) (etim. - lugar de estar estendido) (s.) - campo (limpo) para plantação: Atupá-rung abati. - Estabeleci uma plantação de milho. (VLB, II, 81)
a'i (s.) - 1) mãe: Kó a'i Tupã Marie. - Eis a mãe de Deus, Maria. (D'Evreux, Viagem, 73); 2) s. vocativo de 1ª p. - minha mãe! (h. e m.): A'i, eîori! - Minha mãe, vem! (Ar., Cat., 268)
Ka'aîara2 (etim. - o que domina a mata) (s. antrop.) - espírito que incomodava os índios em suas atividades (Léry, Histoire, 360)
NOTA - Daí, no P.B., CAJUÍ (akaîu'ĩ, "cajuzinho"), nome de planta anacardiácea; IPEQUI (ypekĩ, "patinho"), ave heliornitídea, também conhecida como patinho-d'água; CURURUÍ ("sapinho"), nome comum a várias espécies de sapos ou anuros de pequeno porte; TAMANDUAÍ ("tamanduazinho"), variedade de tamanduá, animal mirmecofagídeo. Daí, também, os nomes geográficos ITAIM (bairro de SP), BOIM (PA), BARRA DO PIRAIM (MT), etc. (v. p. 386).
momokõîndûara (s.) - o segundo: I momokõîndûara mendara moîekosupaba. - A segunda (virtude) dele é a satisfação dos cônjuges. (Ar., Cat., 283, 1686)
apererá2 (s.) - coisa rasa e baixa (como o mato, a barba, etc.); (adj.) - raso e baixo (como o mato, a caatinga); tosado (fal. de barba) (VLB, II, 133)
suban (v.tr.) - chupar, sugar (a parte molesta do corpo de um doente, para retirar-lhe o mal, prática comum entre os feiticeiros): Kûesé paîé mba'easybora subani. - Ontem o feiticeiro sugou o enfermo. (Fig., Arte, 96); Aporosuban. - Chupo gente. (Fig., Arte, 89) ● oîxubanyba'e - o que chupa, o que suga: Paîé-a'uba supé... amõ abá oîxuban-ukaryba'e... - O que manda um falso pajé sugar outra pessoa. (Ar., Cat., 66v); i xubanymbyra - o que é (ou deve ser) chupado, sugado (Fig., Arte, 107)
NOTA - Daí, no P.B. (AM), ARACATU, dia de tempo firme. Daí deve originar-se, também, a palavra ARACATI, vento que, em regiões nordestinas, (especialmente no CE) sopra de N.E. para S.O.: "Era o tempo em que o doce ARACATI chega do mar, e derrama a deliciosa frescura pelo árido sertão." (José de Alencar, in Iracema). Daí, também, os nomes geográficos ARACATI, ARACATIMIRIM (CE), etc. (v. p. 386).
kamurupyûasu (etim. - camurupi grande) (s.) - CAMURUPIAÇU, var. de peixe: -Setápe pirá seba'e? -Nã: kurimã, parati, ...kamurupyûasu. -São muitos os peixes que são gostosos? -Ei-los: curimã, parati, ...camurupiaçu. (Léry, Histoire, 348-349)
tak (v. intr.) - soar, estalar, fazer barulho, fazer ruído seco “conhecido pela sua forma causativa motak” (VLB, I, 53)
NOTA - Daí, no P.B., JURUPENSÉM (îuru + pesẽ, "boca-de-colher"), peixe pimelodídeo de boca com prognatismo acentuado, também chamado jurupoca e boca-de-colher.
NOTA - Tal termo estava presente nas línguas gerais coloniais: [...] Disse: -vai-te já, já daqui, patife - Equen uan yke cui tibiró. (Pe. João Daniel [1757], p. 223).
aru2 (s.) - ARU, SAPO-ARU, anfíbio anuro pipídeo que vive na água, onde se alimenta de animais aquáticos em geral (D'Abbeville, Histoire, 187)
embó (t) (s.) - vergôntea (p.ex., da batata), vara tenra, rebento, verga: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha... -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v); itá-embó - verga de ferro, arame; kará-embó - vergôntea de cará (VLB, II, 144); [adj. embó (r, s)] - vergonteado, delgado (como uma vara tenra): Xe rembó nhẽ. - Eu sou muito delgado. (VLB, II, 144)
NOTA - Daí, no P.B., PIPOCA (v. pok); JURUPOCA ("boca arrebentada"), peixe pimelodídeo de boca com prognatismo acentuado, também chamado boca-de-colher; MAIPOCA ("estouro de mani") (AM) replantação de roça de mandioca, arrancando-se os pés da planta pela raiz. Daí, também, os nomes geográficos IBITIPOCA, IPOPOCA, etc. (MG) (v. p. 386).
mokamondykara (etim. - o que acende o instrumento de estouro) (s.) - bombardeiro, o que assesta e aponta para atirar (VLB, I, 57)
tupi1 (s. etnôn.) - TUPI, 1) nome de povo indígena da capitania de São Vicente (Anch., Arte, 1v); 2) designativo genérico dos índios falantes da língua brasílica: -Asó tupi moangaîpapa. -Mba'e apŷabap'aîpó? -Tupinakyîa keygûara. -Vou para fazer os tupis pecarem. -Que índios são esses? -Os tupiniquins, habitantes daqui. (Anch., Teatro, 140)
tymakambira (s.) - MACAMBIRA, planta da família das bromeliáceas, de folhas espinhosas e duras, comum na caatinga nordestina (Libri Princ., vol. II, 27)
NOTA - Daí, no P.B., CIPÓ-SUMA ("cipó escorregadio"), cipó da família das violáceas (Anchietea salutaris), nativo da floresta atlântica, também chamado PIRIGUARA e de propriedades medicinais. Daí, também, TATUXIMA ("tatu liso"), var. de tatu, tatu-de-rabo-mole.
Iguatemi (rio de MT e de MG). De ygara - canoa + tĩ - proa, ponta + 'y - rio: rio das canoas emproadas: "(...) ygatimy, Rio de proa ajuda." (Taunay, Relatos Monçoeiros, 100)
îamakaîy (s.) - JAMACAJI, pássaro da família dos icterídeos, de canto ameno e bela plumagem, que vive nas caatingas e em zonas campestres de todo o Brasil leste-setentrional (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 198)
pokuab (ou pokuá ou pokugûab) (etim. - conhecer a mão) (v.tr.) - estar acostumado com, ter por costume, estar prático em, ter a prática de: Aîpokugûab. - Tenho-o por costume. (VLB, I, 84); Apŷaba xe pokuá... - Os homens estão acostumados comigo. (Anch., Teatro, 22) ● emipokuaba (t) - o que alguém torna costumeiro, o que alguém pratica: moropotara semipokuabe'yma - o desejo sensual que ele não torna costumeiro (Ar., Cat., 88v)
narinari (ou narinari-pinima) (s.) - NARINARI, raia-pintada (Aetobatus narinari Euph.), peixe da família dos miliobatídeos, dos mares da região equatorial, também chamado arraia-pintada, papagaio. (D'Abbeville, Histoire, 245; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 175)
e'yîa (t) (s.) - multidão, bando, ajuntamento, grande número (Fig., Arte, 5; VLB, I, 135); cardume (VLB, I, 67): T'asóne parati'ype, tupinakyîa re'yîpe... - Hei de ir para o rio dos paratis, ao bando dos tupiniquins. (Anch., Teatro, 182); Mamõpe erimba'e te'yî-katupabẽ Îandé Îara rerasóû...? - Para onde a multidão numerosíssima levou Nosso Senhor? (Ar., Cat., 58); itá re'yîa - ajuntamento de pedras (VLB, I, 29); [adj.: e'yî (r, s)] - numerosos, muitos: Se'yî nde rekasara... - São numerosos os que te procuram. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); ...Se'yî i kuabypyre'yma Tupã i monhangara remingûaba nhõ. - São muitos os não conhecidos que Deus somente, o criador deles, conhece. (Ar., Cat., 37); Oré re'yî. - Nós somos numerosos. (VLB, I, 51)
NOTA - Daí, o nome BARTIRA, a mulher de João Ramalho, personagem da história quinhentista de São Paulo de Piratininga.
ingapema (s.) - INGAPEMA, tacape indígena: ...Ingapema bé peru! - Trazei também a ingapema! (Anch., Teatro, 64); Kó bé ingapé-kûatiara, t'aîakã-mombuk muru. - Eis aqui também a ingapema pintada, para que arrebente a cabeça dos malditos. (Anch., Teatro, 66) (o mesmo que ybyrapema - v.)
Parati (RJ). Os textos coloniais de que dispusemos não dão a explicação do nome da localidade. O termo tupi parati tem dois sentidos: 1) peixe da família dos mugilídeos, do Atlântico sul (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 181); 2) uma variedade de mandioca, comestível a partir de oito meses de plantio, apta para cultivo em terras fracas e de areia; o mesmo que mandi'yparati (v.) (Sousa, Trat. Descr., 173). Uma das ocorrências mais antigas do nome é a que vemos em Antonil: "Houve atè agora Caſa de quintar em Taubatê, na Villa de Saõ Paulo, em Paratij, & no Rio de Janeiro." (André João Antonil [1711], p. 13). Isso nos permite supor a seguinte etimologia: parati + 'y: rio dos paratis.
aîé2 (ou aîeî) (r, s) (posp.) - através de, de través; de revés: Xe raîé i xemi. - Saiu-me de través (p.ex., a flecha que me atingiu). (VLB, I, 102); Our xe raîeî. - Veio-me de través. (Fig., Arte, 125)
îe- (pref.) - 1) (Forma que reflete o sujeito, formando a voz reflexiva em tupi. É usado em todas as pessoas gramaticais com verbos transitivos.) - me, te, se, nos, vos, a si mesmo, de si mesmo: Aîemĩngatu-pe ká... - Hei de me esconder bem. (Anch., Teatro, 32); Eîepe'a! - Afasta-te! (Anch., Teatro, 32); Eîeapirõ! - Lamenta-te! (Anch., Teatro, 42); Gûiîembo'ebo. - Ensinando eu a mim mesmo; Eîembo'ebo. - Ensinando tu a ti mesmo (Anch., Arte, 29); (Às vezes pode ser usado redundantemente): Tuba oîeubamo sekóû (em vez de o ubamo). - Ele tem seu próprio pai. (Anch., Arte, 17); 2) (forma apassivadora): Aîemonhang. - Sou feito. (Anch., Arte, 35); Oîe'u. - Come-se; é comido. (Anch., Arte, 35); Aîeîuká-ukar. - Faço-me matar. (Anch., Arte, 35)
Tebiresá (etim. - olho das nádegas) (s. antrop.) - TEBIRIÇÁ, TEBIREÇÁ, TIBIRIÇÁ, nome de índio tupi, de famoso chefe de Piratininga, que muito auxiliou os portugueses nos primeiros tempos da vila de São Paulo (Vasconcelos, Crônica I, §158, 256)
îomomorangaíba (s.) - carícias desonestas: Nde serã i poepyka... îomomorangaíba ereîapi ko'arapukuî. - Tu, talvez para retribuir, atiras nele sempre as carícias desonestas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
Ora, Anchieta não "santificou" a língua guarani, pois ela era falada no Paraguai e não no Brasil. O grande gramático do guarani antigo foi o Padre Montoya e não Anchieta...
NOTA - Daí, no P.B., CAIOVÁ (ka'i + obá, "cara de macaco caí"), nome de um ramo dos índios guaranis, do sul do Brasil; TOPATINGA (tobá + ting + -a, "caras brancas"), nome que se dava aos holandeses no tempo da invasão holandesa do Nordeste (1630-1654).
kapibara (ou kapi'ibara ou kapi'iûara) (etim. - comedor de capim) (s.) - CAPIVARA, carpincho, o maior roedor do mundo, que pode atingir mais de 50 quilos. Pertence à família dos hidroquerídeos (Hydrochoerus hydrochoeris L.), da América do Sul oriental. Vive à beira dos rios, nos brejos, nas lagoas, sendo grande nadadora, habitando também perto de matas ou cerrados. Sai geralmente à noite, vivendo sempre em bandos. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 230)
akanga (s.) - cabeça: Oîké îugûasu, i akanga kutuka. - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Xe parati 'y suí aîu, rainha repîaka, xe akanga moîegûaka. - Do rio dos paratis vim para ver a rainha, enfeitando minha cabeça. (Anch., Poemas, 152); Aîakangeky-ekyî. - Fiquei-lhe puxando a cabeça (pelos cabelos). (VLB, I, 42); A'e ré kori îasó tubixaba akanga kábo. - Depois disso, vamos quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); Mba'epe onong i akanga 'arybo? - Que puseram sobre sua cabeça? (Ar., Cat., 60v); Aîakangok mboîa. - Corto a cabeça à cobra. (Fig., Arte, 88) ● akangûera - cabeça fora do corpo, cabeça arrancada: pirá akangûera - cabeça (arrancada) de peixe (VLB, I, 61)
'apiramõ (etim. - molhar a pele da cabeça) (v.tr.) - 1) mergulhar; regar, aguar (p.ex., a casa) (VLB, I, 24; II, 99); 2) molhar a cabeça de; batizar: 'Y pupé asé 'apiramõû. - Com água nos molham a cabeça. (Ar., Cat., 80v); Marãîasûaramo temõ abaré xe 'apiramõneme xe angaîpab'e'ymebé xe re'õ mã!... - Ah, que bom seria minha morte ao me batizar o padre, antes de eu pecar. (Ar., Cat., 1686, 249)
cheiro - (cheiro bom): tyapûana; (cheiro de peixe): pyti'u; (cheiro de mofo): tygynõ; (cheiro de urina): taby'aka; (cheiro mau, bodum): katinga
îase'o2 (v. intr.) - 1) chorar: Ereîase'o îepi. - Choravas sempre. (Anch., Poemas, 96); Osem okarype, oîase'o-asy-katûabo. - Saiu para o pátio, chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v); Ta sasẽ, oîasegûabo! - Que eles gritem, chorando! (Anch., Teatro, 56); T'oroîase'o memẽ... - Choremos sempre. (Anch., Teatro, 122); 2) ganir (o cão) (VLB, I, 146) ● oîase'oba'e - o que chora: Tekokatueté rerekoara oîase'oba'e. - Os que têm a bem-aventurança são os que choram. (Ar., Cat., 19); îasegûaba - tempo, lugar, modo, etc. de chorar: ...ikó ybytygûaîa îasegûaba pupé - neste vale, lugar de chorar (Ar., Cat., 14v)
NOTA - No P.B. (Amaz.), CARUARA é 1) mal ou enfermidade causada por feitiço; quebranto, mau-olhado; 2) achaque, doença; 3) dor reumática; 4) doença neurológica conhecida como dança de São Guido (In Novo Dicion. Aurélio).
poru1 (ou puru) (v.tr.) - 1) usar, empregar (Anch., Arte, 2v; Fig., Arte, 111): Mosangape ereîpuru...? - Usaste feitiço? (Anch., Teatro, 12); 2) praticar, exercitar: Eîporu nde nhembo'eagûera. - Pratica o que tu aprendeste. (VLB, I, 131); Eîori sa'anga... t'oîpuru tekó-poxy. - Vai para prová-los, para que pratiquem maus atos. (Anch., Teatro, 16); Anhandu beémo erimba'e angûama mã, pe 'erama purûabo! - Ah, se eu tivesse percebido outrora isso, praticando o que dizíeis! (Ar., Cat., 165v); 3) tomar emprestado: Aîporu aoba karaíba suí. - Tomei emprestada a roupa do homem branco; Aîporu abá ygara. - Tomei emprestada a canoa do índio. (VLB, I, 113); 4) aproveitar, usufruir, gozar de (VLB, II, 24) ● oîporuba'e - o que usa, o que pratica, etc.: Tamyîa rekopûera oîporubyteryba'e... - O que pratica ainda os velhos hábitos dos avós. (Ar., Cat., 66v); emiporu (t) - o que alguém usa, pratica, etc.: Eresepyme'engype nde remiporupûera? - Pagaste aquilo que tu usaste? (Ar., Cat., 107v)
akaraãîa (ou karanha) (etim. - cará dentado) (s.) - CARANHA, nome comum a várias espécies de peixes da família dos lutjanídeos, que atingem até 1 m de comprimento, tendo boa carne. Ocorrem em toda a costa brasileira. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 167; VLB, II, 70)
porangu (m) (s.) - mentira, falácia, ilusão, fantasia; (adj.) mentiroso, falaz, ilusório, fantasioso: ...Nhe'ẽ-porangu... ereîapi ko'arapukuî. - Atiras nele, o dia todo, as palavras mentirosas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); Na xe poranguî gûitekóbo. - Eu não estou sendo fantasioso. (VLB, I, 131)
5 (v.tr.) - atar, amarrar, armar (p.ex., a rede): Eîotĩ nde kesaba xe porupi. - Amarra tua rede ao lado de mim. (Anch., Arte, 44); Asupá-tĩ xe ruba. - Armo a rede a meu pai. (Fig., Arte, 88)
NOTA - Daí, o nome do chefe TAMANDIBA, um dos morubixabas aliados dos portugueses quando da fundação de São Paulo de Piratininga, em 1554.
(Marcgrave) MARCGRAVE, George, História Natural do Brasil. (Tradução do Mons. Dr. José Procópio de Magalhães da primeira edição latina intitulada Historia Naturalis Brasiliae, Ludovicum Elzevirium, Amsterdam, 1648.). Imprensa Oficial do Estado, São Paulo, 1942. (cotejada com a edição original existente na biblioteca do IEB - USP no que tange à grafia das palavras tupis)
teîugûasu (ou teîuûasu) (etim. - teju grande) (s.) - TEIUAÇU, réptil lacertílio da família dos teídeos, o maior lagarto do Brasil, que pode atingir cerca de 2 metros de comprimento. Sua carne é muito saborosa e sua pele tem grande preço. (D'Abbeville, Histoire, 248v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 237; VLB, II, 17)
A etimologização de tais topônimos enriquece nosso conhecimento do passado do Brasil, revela-nos fatos que escapam às narrativas de outras épocas. Muitas vezes estaremos diante de nomes pré-cabralinos como Anhangabaú, Paraguaçu, etc., de nomes que acompanharam o avanço das entradas, bandeiras e monções como Uberaba, Cuiabá, Piracicaba, etc., de nomes que acompanharam o avanço das missões católicas às margens dos rios amazônicos, como Surubiú (atual Alenquer), Arucará (atual Portel), etc. Analisá-los é penetrar na história do nosso país.
apysá2 (xe) (v. da 2ª classe) - 1) ouvir, dar ouvidos a, importar-se: Na xe apysáî. - Não dou ouvidos, não me importo. (VLB, II, 46, 122); 2) na negativa também significa teimar, porfiar, insistir, não desistir (VLB, II, 125): Kunhã rakypûemondóbo, apŷaba n'i apysáî... - Seguindo o rastro das mulheres, os índios não desistem. (Anch., Teatro, 150); Na xe apysáî. - Insisti. (VLB, I, 118)
NOTA - Daí, no P.B., pelo nheengatu ou pela língua geral meridional, MANAUARA ("o morador de Manaus", AM); MARAJOARA, pertencente ou relativo à ilha de Marajó (PA); PARNANGUARA, pertencente ou relativo a Paranaguá (PR); XINGUARA, o que é do Xingu ou nele mora. Daí, também, IGARUANA (ygara + -ygûana, "morador de canoa"), canoeiro navegador.
îetykusu (etim. - jetica grande) (s.) - JETICUÇU, planta da família das convolvuláceas, de folhas cordiformes e raiz tuberosa, de efeito purgativo. É chamada também batata-de-purga ou tapioca-de-purga. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 47; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 41)
apỹîa2 (ou apynha) (s.) - 1) argola, aro, círculo; argolas das cadeias das cordoalhas dos navios (VLB, I, 143): -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha. -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v); itá-apynha - argola de ferro (VLB, I, 41); 2) redondeza (VLB, II, 99); (adj.: apỹî) - redondo, circular: Xe apỹî. - Eu sou redondo. (VLB, II, 99)
mboîgûasu1 (ou mboîusu) (etim. - cobra grande) (s.) - BOIGUAÇU, BOIAÇU, BOIUÇU, BOIOÇU, BOIÇU, cobra da família dos boídeos, não peçonhenta, do Brasil. Atinge até dez metros de comprimento. Vive em ambiente aquático; come peixes, aves e mamíferos, que engole, comprimindo-os. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 239)
urapegûasu (s.) - jito, planta meliácea (Guarea macrophylla subsp. tuberculata (Vell.) T.D. Penn.), de cuja raiz é extraído um remédio de efeito purgativo (Piso, De Med. Bras., IV, 188)
îaborandy (ou îaborandyba) (s.) - JABORANDI, 1) nome comum a vários arbustos da família das rutáceas (Pilocarpus jaborandi Holmes, Pilocarpus pennatifolius Lem. e outras espécies); 2) espécies de plantas piperáceas dos gêneros Ottonia e Piper, a bétele (Piper eucalyptifolium Rudge) e a cutia (Piper tenue Kunth), a Ottonia anisum Spreng., a Ottonia propinqua Kunth, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 36; 69; Sousa, Trat. Descr., 209)
Guaxupé (MG) - nome de uma abelha da família dos meliponídeos, termo das línguas gerais coloniais: "Abelhas - Se-tem descoberto 24 especies: Jatíhí, Jatihi merim, Mombuca (...) Uraxupé, q' faz caza nos gr^es arvoredos [...] (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa [1765], p. 175). Stradelli (op. cit., p. 385) registra a forma axupé, com o mesmo sentido.
Itaíba (PE). "Pelo decreto-lei nº 92, de 31-03-1938, o distrito de Pau Ferro, aparece com a denominação de Itaíba. (fonte: IBGE). Houve, aí, uma tentativa malograda de algum tupinista amador e despreparado de traduzir um topônimo em língua portuguesa para o tupi. Acontece que pau-ferro, em tupi antigo, é ybyraitá, planta da família das leguminosas (Caesalpinea ferrea Mart.) (Sousa, Trat. Descr., 217). Assim, a toponímia brasileira ganhou mais um nome sem sentido...
NOTA - No P.B., CAIÇARA hoje designa também 1) ramos de árvores, postos dentro da água como armadilha de peixe; 2) curral, galhos de árvores abatidas no corte de madeira; 3) cercado de madeira, à margem de um rio ou igarapé navegável, para embarque de gado; 4) palhoça, junto à praia, para abrigar as embarcações ou apetrechos dos pescadores; 5) cerca tosca de troncos e galhos, em torno de uma roça, para impedir a entrada do gado; 6) recesso onde o caçador se embosca; 7) malandro, vagabundo; 8) caipira; 9) praiano; 10) natural ou habitante de Cananéia (SP) (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Daí, no P.B., POCAR, estourar, bater com força em; rebentar; PIPOCA, "pele estourada" (de milho) - v. pira. ESPOCAR também pode ser usado figurativamente no sentido de desabrochar, desabotoar com força: "espocar para a vida".
Cacatuba (riacho de PE). De ka'a + katu - limpo (VLB, II, 22) + tyba: ocorrência de mata limpa. No guarani também existe caá catu, com esse sentido (Batista Caetano, p. 63) e, igualmente, no Tembé-Tenetehar (Boudin, I, p. 92).
raka'e (adv.) - 1) outrora, antigamente:... raka'e 'ara nhemonhang'iré... - antigamente, após a criação do mundo (Ar., Cat., 84); 2) (Expressa o imperfeito do indicativo.): Ixé raka'e. - Era eu. (VLB, I, 121); Oroîo'u raka'e. - Comíamo-nos uns aos outros. (D'Abbeville, Histoire, 341v)
ymûanĩ1 (adv.) - finalmente, enfim; nunca acabar de, nunca terminar de (como que gastando muito tempo); muito devagar (É usado com o verbo 'i / 'é na negativa, levando sempre o verbo principal para o gerúndio.): Nd'e'i ymûanĩ ahẽ aoba moaûîébo. - Ele nunca acaba de completar as roupas (lit., não se mostra ele, enfim, completando as roupas). Nd'e'i ymûanĩ osóbo. - Nunca acaba ele de ir (lit., não se mostra finalmente indo). (VLB, II, 52); Nd'e'i ymûanĩ ahẽ i îukábo. - Muito devagar ele o mata (lit., não se mostra ele finalmente matando-o). (VLB, II, 140)
upi'a (t) (s.) - ovo (Anch., Arte, 6v): Oîoupi'a-erub. - Choca seus ovos; está deitada com seus ovos. (VLB, I, 73, adapt.); ysá rupi'a - ovos de içá (VLB, I, 142) ● upi'a-tinga (t) - clara de ovo (VLB, I, 75); upi'a-îuba (t) - gema de ovo (VLB, I, 147)
apapûara (s.) - dobra [como de pano, cobra, etc. Falando-se de fio, usa-se oîoybyri (v.).]; rosca; (adj.: apapûar) - dobrado; enroscado: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-apapûara apynha... - Que puseram sobre sua cabeça? - Uma coroa de espinhos enroscados. (Anch., Diál. da Fé, 184)
ene'ĩ (interj.) - Eia!, Vamos! Sus! [Usada com a 2ª p. do sing. para exortar, ordenar, incitar ou rogar. Leva o verbo para o gerúndio. Talvez seja forma imperativa de 'i / 'é, segundo nos diz Anchieta (Arte, 56v).]: -Ene'ĩ esóbo! - Eia, vai! (Anch., Arte, 56v); Ene'ĩ t'asóne! - Eia, que eu vá! (Anch., Arte, 56v); Ene'ĩ, t'îasó taûîé! - Eia, vamos logo! (Anch., Poemas, 182)
NOTA - Daí provêm muitas palavras do P.B.: BOICAÁ (mboî + ka'a, "erva de cobra"), hortelã; BOICININGA (mboî + sining + -a, "cobra que retine"), cascavel; BOIQUATIARA (mboî + kûatiar + -a, "cobra pintada"); BOIRU (mboî + irũ, "cobra companheira"), outro nome da muçurana, que come outras cobras venenosas; BOIÚNA (mboî + un + -a, "cobra preta"), figura mitológica de índios da Amazônia, que toma a forma de cobra e faz virar as embarcações.
parati2 (s.) - variedade de mandioca, comestível a partir de oito meses de plantio, apta para cultivo em terras fracas e de areia; o mesmo que mandi'yparati (v.) (Sousa, Trat. Descr., 173)
é3 (part.) - mas, mas sim: -E'ikatupe morerokarûera omendá o emierokûera...? -Nd'e'ikatuî, o a'yretéramo é serekóû. -Pode o padrinho casar-se com aquele que batiza? -Não pode, mas o trata como seu verdadeiro filho. (Ar., Cat., 149); -Tupã Espírito Santo anhẽ a'e tatá? -Nda Tupã Espírito Santo ruã, tura îekuapaba é. -Deus Espírito Santo era, na verdade, aquele fogo? -Não era Deus Espírito Santo, mas, sim, um sinal da sua vinda. (Anch., Doutr. Cristã, I, 170)
îytó (s.) - JITÓ, árvore da família das meliáceas (Guarea macrophylla subsp. tuberculata (Vell.) T.D. Penn.) cuja casca tem propriedades anti-sifilíticas depurativas. É também chamada ataúba, utuaúba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 120)
atuá (ou atyá) (s.) - cogote, ATUÁ, toutiço, nuca, cerviz, parte posterior da cabeça (Castilho, Nomes, 30): Aîatuá-petek. - Esbofeteei a nuca dele. (VLB, II, 75); karipiratyatinga - caripirá da nuca branca (nome de uma ave) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 110) ● atuá-pyko'ẽ - cova da nuca (VLB, I, 84; Fig., Arte, 126)
itá (s.) - 1) pedra: ...Itá karamemûã... pupé i mondepa. - Pondo-o dentro de um túmulo de pedra. (Ar., Cat., 64v); itá kasara - quebrador de pedras, cavouqueiro (VLB, I, 69); itá-atĩ - ponta de pedra (Anch., Arte, 9); itá-kûara - buraco de pedra (Fig., Arte, 6); itá-kysé (etim. - pedra-faca) - pedra de que se faziam facas (Nieuhof, Ged. Reize, 219-220); 2) metal; ferro (VLB, I, 138); ferros de prisão (VLB, I, 138); Ererupe itá kysé amõ? - Trouxeste algumas facas de ferro? (Léry, Histoire, 346); Itá resé aín. - Estou preso nos ferros. (VLB, II, 85); 3) penedo: itagûasu - penedo grande; itá-tyba (ou itá-tybusu) - jazimento de pedras, pedreira; itagûasutyba - jazimento de pedras grandes, penedia (VLB, II, 69, 72)
Itamarati (ilha do PA). Da língua geral setentrional itá + mirim + ty: rio das pedras pequenas: "E assim por ele e já sem pedras viemos ao sítio chamado Itamarati, que quer dizer pedra pequena, que fica imediato a um pequeno rio chamado do mesmo nome, que atravessei." (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 886).
tapuîa2 (ou tapu'yîa ou tapy'yîa) (s.) - 1) TAPUIA, indígena de grupo tribal não tupi; índio não falante do tupi da costa (Anch., Arte, 14; Knivet, The Adm. Adv., 1226); 2) cativo (VLB, I, 69); escravo (VLB, I, 124): ...tapuîa rara - prender escravos (Anch., Teatro, 8)
a'ereme (etim. - por ocasião disso) (adv.) - nesse tempo, naquele tempo, então: A'ereme amõ aîukáne... - Então matarei alguns. (Anch., Poemas, 156); A'ereme oín uman São João Batista o sy rygépe. - Então já estava São João Batista no ventre de sua mãe. (Ar., Cat., 6v); T'îaîuká xe mena..., a'ereme t'îamendar îandé îoesé. - Matemos meu marido e, então, casemos um com o outro. (Ar., Cat., 279); Aîuká umã a'ereme. - Já eu, então, tinha matado. (Fig., Arte, 14) ● a'ereme é - bem então (Fig., Arte, 129); a'ereme bé - logo então (VLB, II, 24)
tekokuapara (etim. - o que conhece os fatos) (s.) - juiz, chefe: ...Cristãos i mongaraibypyra tekokuaparamo Cristo remieîara... - O que Cristo deixa como chefes dos cristãos batizados. (Ar., Cat., 6-6v)
NOTA - Esta forma deu origem a um elemento de composição (ji) muito encontrado em topônimos do Nordeste brasileiro e que significa rio: POTENGI (RN), ARAÇAGI (PB), PARATIJI (BA), etc. (v. p. 386).
ikotebẽ1 / ekotebẽ (t) (v. intr. irreg.) - afligir-se, estar aflito; estar triste; estar receoso, angustiar-se: Akûeîme aîkotebẽ, xe rekopoxy purûabo. - Antigamente estava aflito, praticando meus vícios. (Anch., Poemas, 130); A'epe Îudas n'oîkotebẽî Îudeus supé o îara me'engagûera resé? - E Judas não se afligiu junto aos judeus por entregar a seu senhor? (Ar., Cat., 57v); Putunusu porarábo, oroîkotebẽngatu. - Suportando a escuridão, estamos muito aflitos. (Anch., Poemas, 142) ● oîkotebẽba'e - o que se aflige, o aflito: Oîkotebẽba'e moapysyka. - Consolar os aflitos. (Ar., Cat., 18v); ekotebẽsaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de afligir-se; aflição: ...A'e xe rekotebẽsaba oîme'eng ixébene... - Ele dará para mim minha aflição. (Ar., Cat., 25v)
kunapu (s.) - CANAPU, CANAPU-GUAÇU, peixe da família dos serranídeos. São "peixes a que chamam, em Portugal, meros, os quais são muito grandes". (Sousa, Trat. Descr., 281) Pode atingir até 3 metros de comprimento: ...kunapu rekyî-etébo... - pescando bem os canapus (Anch., Poemas, 152)
NOTA - Daí, no P.B., BAITA (mba'e + etá, "coisa demais, muita coisa"), grande, enorme, imenso, crescido, desenvolvido: uma baita casa. Daí, também, PAQUETÁ (nome de ilha do RJ); GUARATINGUETÁ (município de SP); ITAETÁ (arroio do RS), etc. (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B. (N.E.), TAGUAÇU ("pedra grande"), pedra que serve de âncora às jangadas. Daí, também, muitos nomes geográficos: ITAPORANGA (SP), ITAPEVA (SP), ITAPOROROCA (PB), ITAQUATIARA (RJ), etc. (v. p. 386).
una2 (t) (s.) - negror, cor preta; [adj.: un (r, s)] - negro, preto: -Aoba. -Marãba'e? -Sobyeté, ...sun. -Roupas. -De que tipo? -Elas são azuis, elas são pretas. (Léry, Histoire, 342-343); Xe run tatatinga suí. - Eu estou preto de fumaça. (VLB, I, 92); Xe run. - Eu sou preto. (VLB, II, 49)
'ybapytanga (ou 'ubapytanga) (etim. - fruta avermelhada) (s.) - PITANGA, 1) árvore mirtácea Eugenia uniflora L.) de fruto avermelhado, também chamada PITANGUEIRA. Suas folhas são aromáticas e anti-reumáticas. 2) o fruto dessa árvore (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 109, 116; Piso, De Med. Bras., IV, 203; Brandão, Diálogos, 218; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 146; Lourenço, Carta [1554], in Leite, Cartas, II [1957], 43)
ara'a2 (s.) - agitação, excitação, açodamento, pressa: ...Mba'e-poxy resé nde ara'a... - tua excitação pelas coisas más (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); (adj.) - agitado; açodado, lampeiro, vivo; ativo; ágil; lesto, sôfrego: I ara'a îagûara îá, îandé rakypûemboú. - Ele é lampeiro como uma onça, seguindo nosso rastro. (Anch., Poemas, 188); N'i xandoki marana ri; i ara'a. - Não se desunem na guerra; são ágeis. (Anch., Teatro, 154); Xe ara'a (mba'e) resé. - Eu sou sôfrego pelas coisas. (VLB, II, 119, adapt.)
NOTA - Daí, no P.B. (AM), TIPUCA (ty + puk + -a, "líquido arrebentado"), o último leite que sai da teta das vacas, muito grosso e gorduroso; apojo; TIQUARA (ty + pûar + -a, "caldo batido"), bebida preparada com água, farinha de mandioca, açúcar ou mel e, às vezes, com um pouco de cachaça; qualquer bebida refrigerante (in Dicion. Caldas Aulete). Daí provêm, também, os nomes geográficos TIETÊ (SP), TIJUCA (RJ), etc. (v. p. 386).
putunusu (etim. - grande escuridão) (s.) - limbo: Umãmepe a'e putunusu pitanga nhemongaraibypyre'yma rekoaba rekóû? - E onde está aquele limbo, morada das crianças que não foram batizadas? (Ar., Cat., 48)
aír (s) (v.tr.) - fazer incisão em, riscar: Eresaírype nde ra'yra îasy semypyreme? - Fizeste incisões em teu filho quando a lua começou a sair? (Ar., Cat., 99); Opá nde reté raíri itatiãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120) ● aisaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de riscar; risco, risca, incisão (VLB, II, 106)
NOTA - Daí, no P.B., TIQUIRA, aguardente de mandioca (isto é, a que foi destilada no alambique): "A sua tentação não era... a cerveja, nem o conhaque..: era a aguardente nacional, o parati indígena, a cachaça cabocla, a TIQUIRA maranhense." (Humberto de Campos, in Memórias Inacabadas, apud Novo Dicion. Aurélio).
OLIVEIRA, Amtonio d' [1553]. Confirmação das terras doadas pelo ir. Pero correia ao colégio de s. Vicente, 22 de março 1553. Apontamentos históricos, geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo seguidos da cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de São Vicente até o ano de 1876. Publicados por deliberação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. São Paulo, Livraria Martins Editora, 1952.
ekó1 (t) (s.) - lei, determinação, regra, costume (VLB, II, 19): Îori, t'ereîá sekó. - Vem, para que recebas a lei deles. (Anch., Teatro, 46); Ã tekó a'ereme moreroka. - Eis que era costume, então, batizar. (Ar., Cat., 3); ...Tekó-katu aby potare'yma - Não querendo transgredir a boa lei. (Ar., Cat., 125v); ...Asé 'anga rekorama oîmonhang asébe. - As leis de nossa alma fez para a gente. (Anch., Doutr. Cristã, I, 224) ● sekoba'e - o que é costume, o que está acostumado: Sekoba'e ixé. - Eu sou acostumado. (VLB, II, 140)
aani1 (adv.) - não (com ênfase); nunca, de maneira nenhuma, de modo algum, absolutamente (Fig., Arte, 129): Aani! Aîemoŷrõ. - Não! Irritei-me. (Anch., Teatro, 42); -Setápe asé nhemongaraíbi? - Aani. - A gente batiza-se muitas vezes? - De maneira nenhuma. (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); -N'asé ruã-tepe o emi'urama oîmonhang? - Aani... - Mas não é a gente que faz sua comida? - De modo algum... (Ar., Cat., 27v) ● aani nhẽ - não (Fig., Arte, 134); aani rakó - não (Fig., Arte, 134); aani re'a - não é assim (de h.) (Fig., Arte, 134); aanirĩ - não é assim (de m.) (Fig., Arte, 134); aani xûémo - não (hipotético): -Nd'oîporaráî xûémop'asé mba'e amõ 'ara pupé oîkóbomo? - Aani xûémo. - Não sofreria a gente coisa alguma vivendo no mundo? - Não (sofreria). (Anch., Doutr. Cristã, I, 162); Aani xûéne - não (com relação a fatos futuros); nunca: -Oîporará bépe mba'e amõ a'epe oîkóbone? -Aani xûéne. - Sofrerão ainda alguma coisa aí vivendo? - Não. (Ar., Cat., 47); aani-xûé ipóne - não há de ser (futuro) (VLB, II, 47); aani xûé ko'yténe - nunca mais (VLB, II, 52); aani ã - isso não (Fig., Arte, 135)
kereîûá (s.) - QUEREJUÁ, GUIRUÁ, CREJUÁ, nome comum a pássaros do litoral do Brasil oriental, da família dos cotingídeos, de cores brilhantes e vistosas, de rara beleza. São também chamados CATINGÁ, CREJICA, SUIRUÁ, QUIRUÁ, CURUÁ. (D'Abbeville, Histoire, 239; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 36): Aó-kereîûá kûarasy sosé oberaba'e nungara... - Semelhante a uma roupa de querejuá que brilha mais que o sol. (Ar., Cat., 37v)
pa'i (s.) - 1) mestre, senhor (forma de tratamento que acompanha um nome próprio): Pa'i Îesu - Senhor Jesus (Anch., Teatro, 42); Pa'i Tupã - o Senhor Deus (Anch., Teatro, 50); 2) padre: Xe reroketé pa'i. - Batizou-me, verdadeiramente, o padre. (Anch., Teatro, 164); 3) s. voc. - meu senhor! meu pai!: Marãnamo-piã xe pe'a îepé, pa'i gûé?... - Por que tu me abandonaste, ó meu senhor? (Ar., Cat., 63; Anch., Arte, 14v)
u'ã (t) (s.) - 1) talo (p.ex., de couve, alface, etc.) (VLB, II, 123); 2) palmito (usa-se com o nome da palmeira da qual ele foi extraído): pindobu'ã - palmito de pindoba; paty ru'ã - o palmito da palmeira pati; îeîsaru'ã - palmito de juçara (VLB, II, 63)
sem (ou sẽ) (v. intr.) - 1) sair: Osem oîkobébo o tym-y roîré... - Saiu vivendo após o enterrarem. (Anch., Poemas, 124); T'osẽ anhanga i xuí... - Que saia o diabo dela. (Anch., Poemas, 146); Osem okarype... - Saiu para o pátio. (Ar., Cat., 57v); 2) mudar (a casa, indo para outra parte); mudar-se (para longe): Asem. - Mudo-me. (VLB, II, 44); 3) despontar; nascer (o sol): Otĩ kûarasy osema nde beraba robaké. - Envergonha-se o sol, nascendo, diante de teu brilho. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618) ● sembaba - tempo, lugar, modo, etc. de sair; saída: kûara sembaba - lugar de sair do sol, o nascente; kûarasy sembaba - a saída do sol, o nascer do sol (VLB, II, 46); Oîkuá-katupe a'e suí o semagûama? - Sabem bem de sua futura saída dali? (Ar., Cat., 48v)
tekokuabe'yma (ou tekokugûabe'yma) (etim. - falta de conhecimento dos fatos) (s.) - 1) ignorância (VLB, II, 8); falta de entendimento; parvoíce (VLB, II, 48); 2) o ignorante, o bruto, o que não sabe nada; o sem juízo, o desatinado (VLB, I, 60) (Neste termo, o t é forma fixa e não um prefixo de relação. Ele nunca é substituído por r- ou s-.); (adj.: tekokuabe'ym ou tekokugûabe'ym) - ignorante, desatinado, parvo: abá-tekokuabe'yma. - homem ignorante (VLB, II, 8); nhe'ẽ-tekokugûabe'yma - palavras desatinadas (VLB, I, 96); O tekokuabe'ymamo nhẽ emonã xe rerekóû... - Sendo ignorantes, sem mais, assim me tratam. (Ar., Cat., 63); abá-tekokuabe'ymusu - homem parvoeirão, ignorantão (VLB, II, 66) ● i tekokuabe'ymba'e - o que é ignorante: I tekokuabe'ymba'e motekokuaba. - Instruir os que são ignorantes. (Ar., Cat., 18v)
ybyra6 (t, t) (s.) - irmão mais novo (de h.) (VLB, II, 14): T'oú îandé pytybõmo xe rybyra... - Que venha para nos ajudar meu irmão mais moço. (Anch., Teatro, 130); Aîtyby-nupã. - Açoutei-lhe o irmão. (Anch., Arte, 50v) (No vocativo, a consoante final -r do tema pode mudar-se em -t.): Xe rybyt, nde nhyrõ xebo... - Meu irmão, perdoa tu a mim. (Anch., Teatro, 46)
Tamanduateí (SP). De tamandûá + eté (r, s) + 'y: rio dos tamanduás verdadeiros. "[...] lhe foram concedidos por sesmaria todos os pontos devolutos, pelo caminho velho da antiga vila de Santo André, rio Jarobatiba, continuados ao longo de Tamanduatihí [...] (Pedro Taques, Nobiliarquia Paulistana, p. 267)
atuasaba (etim. - o companheiro da nuca, isto é, o que segue alguém) (s.) - 1) compadre; comadre: -Marã e'ipe asé ruba, asé sy asé rerokara supé? -Xe atuasaba e'i. -Como dizem nosso pai e nossa mãe para o que nos batiza? -Dizem: -Meu compadre (Minha comadre). (Ar., Cat., 82-82v); Ata'y-nupã xe atuasaba. - Açoito o filho de meu compadre. (Fig., Arte, 88); 2) aliado, companheiro: ...Apŷaba karaíba atuasaba kori oîkó. - Os índios hoje são aliados dos cristãos. (D'Abbeville, Histoire, 342)
re'a (part. de h.) - 1) (expressa desprezo) - vamos ver! vê lá!: Oîmonhang ipó kori milagre amõ xe robakéne re'a... - Vamos ver se fará hoje realmente algum milagre diante de mim. (Ar., Cat., 58v); 2) (expressa expectativa, projeção de futuro) - há de ser, se Deus quiser, com certeza, queira Deus, tomara: ...Nd'e'i ipó xe re'õnama ranhẽ re'a. - Minha morte não há de ser ainda. (Ar., Cat., 157v); ...N'aîkóî ipó irã tuîba'eramo ranhẽne re'a... - Tomara não seja eu o que jazerá primeiro... (Ar., Cat., 157v); Oîeruré-pytubaramo kûesenhe'ym, "re'a" o'îabo... - Estando cansados de pedir, havia muito tempo, dizendo: -Queira Deus. (Ar., Cat., 7); Xe irũ ã re'a. - Esta há de ser minha companheira, com certeza. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); 3) (expressa alívio, regozijo): Aûîeteramo rimba'e Tupã xe pysyrõ Anhanga suí re'a... - Ainda bem que Deus me livrou do diabo! (Ar., Cat., 168v); 4) (expressa temor ou má expectativa) - dever, haver de: Omanõ îepémo oîemongaraíb'e'ymebé re'a... - Haveria de morrer, na verdade, antes de se batizar. (Ar., Cat., 81); Emonã ipó sekóû re'a. - Deve certamente ter agido assim. (Anch., Doutr. Cristã, II, 100); Akanhem kó ixé re'a. - Eis que agora eu hei de perecer! (Ar., Cat., 156); 5) (expressa repúdio, ódio) - Maldito! Miserável!: Mendûera kó re'a nd'e'i oîeakakapa. - Os ex-maridos, esses, malditos, não se repreendem. (Anch., Teatro, 154, 2006)
Tapiratiba (SP). De taperá + tyba: ajuntamento de andorinhas. Nome atribuído artificialmente: "Em 6 de dezembro de 1906, por Lei Estadual no 1028, o Distrito Policial de Soledade passou a denominar-se Tapiratiba". (fonte: IBGE)
a'ub (adv.) 1) (com o verbo ou o nome reduplicados) - folgar em, ficar contente em: Asó-asó-a'ub. - Fico contente em ir. (Fig., Arte, 138); Arasó-rasó-a'ub. - Fico contente em o levar. (Fig., Arte, 139); 2) (com o verbo na negativa com -e'ym) - ter pesar em, lamentar, não ficar contente sem: N'asoe'ym-a'ubi. - Lamento não ter ido. (Fig., Arte, 139); N'aîmonhange'ym-a'ubi. - Lamento não o ter feito, não fico contente sem o fazer. (Fig., Arte, 139)
Ibiratinga (PE). De ybyrá + ting + -a: árvore branca, pau branco. "Pelo decreto-lei estadual nº 235, de 09-12-1938, o município passou a ser grafado Sirinhaém e o distrito de Pau Branco passou a denominar-se Ibiratinga." (fonte: IBGE)
Piracaia (SP). De pirá + kaî + -a: peixes queimados. Nome da língua geral meridional. Foi criada a freguesia "com a denominação de Piracaia por Lei Provincial no 44, de 05 de março de 1836, no Município de Atibaia". (fonte: IBGE)
upir (ou upi) (s) (v.tr.) - levantar, erguer, fazer subir: Karaibebé pyterype supiri... - No meio dos anjos fê-la subir. (Ar., Cat., 132); Endé, nde îybápe, Îesu eresupi. - Tu, em teus braços, Jesus ergueste. (Anch., Poemas, 118); O ati'yba ri krusá osupi. - No seu próprio ombro levanta a cruz. (Anch., Poemas, 122); ...Îesu nde rupiri... - Jesus fez-te subir. (Anch., Poemas, 126)
tapi'ireté (etim. - tapira verdadeira) (s.) - TAPIRETÊ, anta, mamífero perissodáctilo da família dos tapirídeos (Tapirus terrestris L.) de grande parte da América do Sul. É o maior animal da fauna silvestre do Brasil, atingindo até 180 quilos. (o mesmo que tapi'ira, n. 1 - v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 229; D'Abbeville, Histoire, 250; Anch., Cartas, 459)
pora3 (s.) - 1) conteúdo, o que está contido, o que está em ou dentro de: Eresópe abá... îeky-'ye'ẽ supa, i pora rá? - Foste para revistar os covos de água doce de alguém, tomando seu conteúdo? (Ar., Cat., 107v); Nd'aruri amõ parati; oîepé xe pysá pora. - Não trouxe nenhum parati; um só é o conteúdo de minha rede. (Anch., Poemas, 152); ikó 'ara pora - o que está neste mundo (Ar., Cat., 141); kamusi pora - o que está no pote (Anch., Arte, 31v); paranã pora - o que está no mar (Anch., Arte, 31v); 2) componente: ...Te'õ abé reîkéû ikó 'ara poramo oîá. - Da mesma forma, como componente deste mundo, a morte também entrou. (Ar., Cat., 155); (adj.: por) - 1) cheio, pejado, carregado; (xe) ter conteúdo; conter coisas: ...N'i pori be'ĩ xe aîó. - Não contém mais nada minha bolsa. (Anch., Teatro, 46); N'i tybangáî setãmbûera. Opá... akûeîme n'i poretáî. - Não existem mais as suas antigas terras. Todas, desde então, não contêm muita coisa. (Anch., Teatro, 52); ...I por nde rygé. - Está cheio teu ventre. (Anch., Poemas, 116); muru'a-pora (lit., carregada de feto) - grávida (Ar., Cat., 77v); 2) saciado; (xe) saciar-se: Tekoangaîpaba pupé pore'yma. - Com o pecado não se saciar. (Bettendorff, Compêndio, 17)
'aba (etim. - pelo da cabeça < 'a + aba) (s.) - 1) cabelo da cabeça (Anch., Arte, 15v): xe 'aba, nde 'aba, i 'aba - meu cabelo, teu cabelo, o cabelo dele (Castilho, Nomes, 27); 'a-tyrá-tyrá - cabelos muito arrepiados, grenha (VLB, I, 150); 'a-tinga - cabelos brancos, cãs, ABATINGA; Xe 'a-tinga - meus cabelos brancos; minha abatinga (VLB, I, 65); 'a-titinga - manchas brancas do cabelo (VLB, II, 29); 2) pêlo ou penugem da cabeça (de animais mamíferos, de aves): Aî'abeky-ekyî. - Fiquei-lhe puxando os pêlos; fiquei-o arrepelando. (VLB, I, 42) ● andyrá-'aba - tipo de corte de cabelo dos índios (etim. - cabelo de morcego) (VLB, II, 137); 'agûera - cabeleira, peruca (VLB, I, 61)
îamakaru (s.) - MANDACARU, JAMACARU - nome dado, no Brasil, às plantas cactáceas do gênero Cereus que têm caule ereto (Cereus jamacaru, DC, Cereus triangularis (L.) Haw). São grandes cactos de porte arbóreo, característicos da caatinga, servindo como alimento para o gado durante as secas. Os Cereus de caule rasteiro têm os nomes vulgares de cumbebe e iumbeba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 126)
-usu2 (suf. de temas terminados em consoante) - muito, muitos; (com o sujeito): Oroîurusu. - Viemos muitos. (VLB, II, 146); (com o objeto): Arurusu. - Trago muitos. (Anch., Arte, 13v); Aîopoîusu. - Alimento muitos. (Anch., Arte, 13v); (com o predicativo do sujeito): Xe ranusu. - Eu sou muito grosseiro; eu sou grosseirão. (VLB, I, 20); [V. tb. -(g)ûasu]
(Piso), PISO, Wilhelm, De Medicina Brasiliensis Libri Quatuor, in Marcgrave, George, Historia Naturalis Brasiliae. (Tradução de Alexandre Correa, publicado com o título História natural do Brasil Ilustrada. Edição comemorativa do primeiro cinqüentenário do Museu Paulista. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1948.)
NOTA - Daí, no P.B., QUIRIRI, usado na Amazônia e significando "calada da noite", "silêncio noturno" (PDBLP, p. 1020): "...Tudo caiu em enorme silêncio, .... esse silêncio noturno das nossas regiões a que o tapuio chama, talvez imitativamente, QUIRIRI." (José Veríssimo, Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, o nome geográfico IQUIRIRIM (nome de rua de São Paulo) (v. p. 386).
ka'apeba (etim. - erva achatada) (s.) - CAAPEBA ou CAPEBA, nome comum a plantas trepadeiras da família das menispermáceas, segundo a Flora de Martius, entre as quais, no Rio de Janeiro, a Abuta rufescens Aubl., a Chondrodendron platiphyllum (A. St.-Hil.) Miers e a Cissampelos pareira L.; 2) Designa também plantas da família das piperáceas, dentre as quais a espécie Piper arboreum Aubl., arbusto de raiz amarga e medicinal, também chamada pari-paroba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 25; Piso, De Med. Bras., III, 172; Sousa, Trat. Descr., 210)
Manuscripto guarani da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro sôbre a primitiva catechese dos indios das Missões, vertido para o guarani por outro padre jesuita, e agora publicado com a traducção portugueza, notas, e um esbôço grammatical do Abáñeẽ por Baptista Caetano de Almeida Nogueira. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, Rio de Janeiro, 1879.
Jaguariúna (SP). "Jaguariúna iniciou-se às margens do rio Jaguari (...). Em 1944 o Distrito de Jaguari alterou seu nome para Jaguariúna (...) que significa "rio da onça preta", segundo Theodoro Sampaio." (fonte: IBGE). A etimologia acima fere a gramática da língua tupi. Jaguariúna só poderia significar rio preto das onças. Rio da onça preta, em tupi clássico ou nas línguas gerais dela originárias, seria Jaguaruni.
NOTA - No P.B., -MIRIM é um elemento de composição que significa pequeno, diminuto, infantil, etc.: GUARDA-MIRIM, OFICIAL-MIRIM, ESCRITOR-MIRIM, ABELHA-MIRIM, etc. Tal palavra está presente, também, em muitos nomes de plantas e animais no Brasil: ABATIMIRIM, AÇAÍ-MIRIM, AÍ-MIRIM, AIRIMIRIM, ARAÇÁ-MIRIM, BACABAMIRIM, BAIACUMIRIM, BURITIMIRIM, etc.
enopu'am1 (ou eropu'am) (v.tr.) - ameaçar (com pau, espada, etc., não ferindo): Aropu'am. - Ameacei-o. (VLB, I, 34); Ké abá rekóû anhẽ xe renopu'ã-pu'ama. - Aqui os homens estão, na verdade, para me ficar ameaçando. (Anch., Teatro, 26). (Também pode receber -s- no indicativo.): Asenopu'am Pedro ybyrá pupé. - Ameacei Pedro com um pau. (Anch., Arte, 49)
akûeîme (adv.) - outrora, antigamente, há tempos, naquela época, naquele tempo, nesse tempo, então: Aîmomburu akûeîme tupinambá. - Ameacei, outrora, os tupinambás. (Anch., Teatro, 132); Akûeîme aîkotebẽ, xe rekopoxy purûabo. - Antigamente eu estava aflito, praticando meus vícios. (Anch., Poemas, 130); Akûeîme kó tabygûara xe pó gûyrybo sekóû. - Antigamente estes habitantes da aldeia sob minhas mãos estavam. (Anch., Teatro, 126); N'i tyb-angáî setãmbûera. Opá... akûeîme n'i poretáî. - Não existem mais absolutamente suas antigas terras. Todas, há tempos, não contêm muita coisa. (Anch., Teatro, 52) ● akûeîme bé (ou akûeîmengatutenhẽ) - então, naquele mesmo tempo (VLB, I, 118)
sariama (s.) - SERIEMA, SARIEMA, SIRIEMA, ave da família dos cariamídeos (Cariama cristata L.), que vive nos descampados, comendo insetos, répteis e pequenos roedores. Dorme empoleirada em árvores, em que faz ninhos. É ave típica dos cerrados e das caatingas do Brasil. (D'Abbeville, Histoire, 242; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 203)
ebokûé (ou ebokûeî) 1) (dem. adj.) - esse (es, a, as): A'epe ebokûé nde îuraragûaîa pupé eremoerapûã abá amõ? - E com essa tua mentira tornaste alguém famoso? (Ar., Cat., 99v); 2) (adv.) - eis que esse (es, a, as); eis aí, eis que lá (Pode levar o verbo para o modo indicativo circunstancial se o anteceder.): Ebokûeî Pedro sóû. - Eis que lá vai Pedro. (Fig., Arte, 94); Ebokûé nde membyra, kunhã gûé!... - Eis aí teu filho, ó mulher! (Ar., Cat., 63); Ebokûé asó. - Eis que vou. (VLB, I, 109); Ebokûeî i xóû. - Eis que aí ele vai. (VLB, I, 109); Ebokûeî xe sóû. - Eis que vou. (Fig., Arte, 165); 3) (adv.) aí, lá: Ebokûé rupi ekûab. - Vai por aí. (VLB, II, 81) ● ebokûé aé - esse mesmo (VLB, I, 127)
'y (s.) - 1) água: Oîeypyî 'y-karaíba pupé. - Asperge-se com água benta. (Ar., Cat., 24); Erur 'y ixébe. - Traze água para mim. (Léry, Histoire, 367); Asó 'y gûabo. - Vou para beber água. (VLB, I, 154); Aîeruré 'y resé. - Peço por água. (D'Evreux, Viagem, 144); 2) rio: Xe parati 'y suí aîu... - Eu vim do rio dos paratis. (Anch., Poemas, 110); 3) fonte: Kûãî 'ype. - Vai à fonte. (Léry, Histoire, 367) ● 'y-e'ẽ - água salgada (do mar) (VLB, I, 24); 'y-eté - água doce (VLB, I, 24); madre do rio, o leito dentro de suas margens, que às vezes fica descoberto (VLB, II, 27); fonte, água perene (VLB, II, 73); 'y-katu - águas tranquilas, bonança (VLB, I, 57); 'y anhẽ - água sem mistura (VLB, II, 123); 'y rapé - rego d'água (VLB, I, 65); 'y-embe'yba - margem de rio, praia, ourela de mar ou rio (VLB, II, 60); 'y-apé 'arybo - à flor d'água, na superfície da água (VLB, I, 144); 'y-apyra - cabeceiras de rio (VLB, I, 61); 'y-kûabapûana - corrente d'água (no rio ou no mar); 'y-syryka - água corrente (VLB, I, 82); maré descendente; vazante de maré (VLB, I, 91; II, 142); 'y-îebyra - remanso d'água (VLB, II, 100); 'y-pabe'ymba'e - fonte, água perene (VLB, II, 73); 'y-pytera - meio das águas, alto-mar: 'Y-pytera koty asó. - Fui em direção ao meio das águas; fui para o alto-mar. (VLB, I, 112); 'y-akã - braço de rio (VLB, I, 58); 'y-anhangoty - rio acima, a montante (VLB, II, 106); 'y-ape'ara - tona d' água, superfície d'água; 'y-ape'ara rupi - à tona d'água, na superfície da água (VLB, I, 50); 'y-apyrakoty - rio acima, a montante (VLB, II, 106); 'y-embykoty - rio abaixo, a jusante (VLB, II, 106); 'y-mombukaba - sangradouro de rio (VLB, II, 112); 'y-aíba - água ruim, água turva, água velha (D'Abbeville, Histoire, 182v)
eropotyrõ (v.tr.) - agir ou trabalhar em conjunto com, fazer agir ou trabalhar consigo: Kó 'ara îamoeté. I pupé îudeus itá reropotyrõû, Santo Estevão apîá-apîábo, i akanga kábo... - Este dia honramos. Nele, os judeus agiram em conjunto, com pedras, ficando a atirar em Santo Estêvão, quebrando sua cabeça. (Ar., Cat., 10)
NOTA - Daí se origina, no P.B., a expressão DE BUBUIA, usada principalmente no Amazonas e significando boiando ao sabor da corrente, flutuando; (fig.) ao sabor das circunstâncias: "Carregam [as águas], DE BUBUIA, a colheita flutuante, para espalhá-la, erraticamente, em outros lugares, numa tarefa inconsciente de reflorestamento." (in Raul Bopp, Putirum. Ed. Leitura, Rio de Janeiro, 1968)
pene'ĩ (interj.) - eia! sus! vamos! (Fig., Arte, 135): Pene'ĩ, rõ, t'îasó ké îagûapyka îakupa. - Eia, pois, vamos estar sentados aqui. (Anch., Teatro, 144); Pene'ĩ pesóbo. - Sus! Ide! (Anch., Arte, 56v); Pene'ĩ, ta pe rory... - Eia, que estejais alegres. (Anch., Poemas, 94); (Na forma negativa os homens acrescentavam -hengûy e as mulheres, -îu.) (VLB, II, 58)
NOTA - A palavra CAJU ainda é usada no Norte e no Nordeste do Brasil com o sentido de ano: -Quantos CAJUS você tem? Ele tem lá seus cajus. De CAJU em CAJU (isto é, de ano em ano). Isso porque o cajueiro frutifica somente uma vez por ano e era uma prática dos índios tupis da costa guardar a castanha dessa fruta para saber se já eram velhos.
sugûaraîy1 (s.) - 1) prostituta: Ereîkópe kunhã amõ resé... nde sugûaraîyramo? - Tiveste relações sexuais com alguma mulher como tua prostituta? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91); 2) prostituição: Nde serã i poepyka... sugûaraîy... ereîapi ko'arapukuî. - Tu, talvez para retribuir, atiras nele, o dia todo, a prostituição. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
îaeté (s.) - o máximo, o fino “em qualquer arte ou habilidade, em bom ou mau sentido” (VLB, II, 33; 76); obra-prima, coisa muito bem feita: Ixé-tene îaeté. - Obra-prima sou eu. (VLB, II, 86); (adj.) - máximo: Kó-tene i îaeté. - Este é o máximo. (VLB, II, 86); (adv. - tem valor de superlativo junto a nomes) - ao máximo: Kó-tene i angaîpab-y îaeté. - Este é ruim ao máximo; este é péssimo. (VLB, II, 86)
pytumimbyka (s.) - escuridão: ...Sesaý pytumimbyka rupi pé resapébo. - Fachos para iluminar o caminho pela escuridão. (Ar., Cat., 74, 1686); (adj.: pytumimbyk) - muito escuro (VLB, I, 124): O pytumimbykamo nhẽ nhemongaraibypyre'yma 'anga rekóû. - Muito escura é a alma do que não é batizado. (Ar., Cat., 187, 1686)
akaîu'ĩ (etim. - cajuzinho) (s.) - CAJUÍ, planta da família das anacardiáceas (Anacardium microcarpum Ducke), uma das espécies de caju (D'Abbeville, Histoire, 217). É muito menor que o cajueiro comum. Não aparece "ao longo do mar, mas nas campinas do sertão, além das caatingas." (Sousa, Trat. Descr., 188)
ixé (pron. pess.) - eu: Gûaîxará kagûara ixé... - Eu sou Guaixará, bebedor de cauim. (Anch., Teatro, 26); Aîkobé n'ixé sarõana... - Eu permaneço seu guardião. (Anch., Teatro, 40); Ixé oroîuká. - Eu te mato. (Fig., Arte, 9); 2) meu (s), minha (s) (VLB, II, 37) ● ixé re'a (expressão de h. para enfatizar ou confirmar uma afirmação ou negação): A'é ixé re'a (ou A'é ipó ixé re'a). - Digo que sim; Aan a'é ipó ixé re'a. - Digo que não. (VLB, II, 7). As mulheres diziam ixé re'ĩ. (VLB, II, 7)
_____ Histoire d'un Voyage fait en la Terre du Bresil autrement dite Amerique. Reveue, corrigee et bien augmentee em ceste seconde edition, tant de figures, qu' autres choses notables sur le sujet de l'auteur. Genève, Antoine Chuppin, [1580]. (Edição diplomática com texto estabelecido, apresentado e anotado por Frank Lestringant. L.G.F., Le Livre de Poche, Bibliothèque Classique, Paris, 1994.) (Sempre que não for mencionado o ano de publicação, a edição utilizada foi a de 1578.)
mongaraíb (v.tr.) - 1) santificar; benzer, consagrar: I angaîpabetépe abá... oporomongaraiba'upa? - Peca muito o homem, benzendo falsamente as pessoas? (Ar., Cat., 66); ...Domingo momba'eté-ukari i mongaraibypyretá supé o ekobé îebyragûera pupé Îandé Îara i mongaraib'iré... - Mandam que os batizados honrem o domingo após Nosso Senhor o santificar com seu retorno à vida. (Ar., Cat., 12); 2) batizar ● mongaraipara - o que batiza, o que benze, o que santifica, etc.: A'e abaré nde mongaraipara iraîtytataendy me'engi nde pópe. - Aquele padre que te batiza dá uma vela na tua mão. (Ar., Cat., 187); i mongaraibypyra - o que é (ou deve ser) batizado, bento, santificado, etc.: I mongaraibypyra ixé. - Eu estou bento. (VLB, I, 54); mongaraipaba - tempo, lugar, modo, etc. de santificar, de benzer, de batizar; o ato de santificar, de batizar: ...O aó-tinga o mongaraibagûera... repyramo... reroína. - Estando com suas roupas brancas, como recompensa de o terem batizado. (Ar., Cat., 168-168v)
pûar1 (ou pûá) (-îo-) (v.tr.) - amarrar, atar: Aîakã-mbûar. - Amarrei-lhe a cabeça (isto é, fiz-lhe tranças no cabelo, com fita). (VLB, I, 113); ...Peîpûá muru! - Amarrai os malditos! (Anch., Teatro, 42); Aîpepó-pûar. - Atei-lhe penas. (VLB, I, 112) ● pûasaba (m) - tempo, lugar, instrumento, etc. de atar; atadura, atilho (VLB, I, 46)
sosé (posp.) - 1) acima de: Ixé nde sosé (ou Nde sosé ixé). - Estou acima de ti. (VLB, II, 119); 2) em cima de, sobre: xe sosé - em cima de mim; itá sosé - sobre a pedra (Anch., Arte, 43v); ...Krusá sosé nhẽ xe îara moîá. - Sobre a cruz pregando meu senhor. (Anch., Poemas, 122); 3) mais que (comparativo), mais de; melhor que, maior que: ...Kûarasy sosé o poranga kuabe'enga... - Mostrando sua própria beleza mais que o sol. (Ar., Cat., 4v); Nde sosé ixé. - Eu sou mais que tu. (VLB, I, 48); Kó oka sosé. - Maior que esta casa. (VLB, II, 28); Ixé nde sosé. - Eu sou maior que tu. (VLB, II, 28); vinte sosé - mais de vinte (VLB, II, 67); I xosémo nã ky xe re'õ. - Melhor que isso me seria, pois, morrer. (VLB, II, 38); Aîkuab mba'e nde sosé. - Sei mais que tu. (Fig., Arte, 121)
ekoaíba2 (t) (etim. - mau estado, má condição) (s.) - pecado, vício: Opabĩ tekoaíba mondebi-katu o py'ape. - Todos os vícios colocaram bem em seus corações. (Anch., Teatro, 10); ...Eboinga tekoaíba nd'oîkuabi... - Essas não conhecem o pecado. (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); ...Tekoaíba oromombó. - O vício atiramos fora. (Anch., Poemas, 84)
umeri (s.) - UMIRI, MERI, UMIRIZEIRO, árvore alta da família das humiriáceas (Humiria floribunda (Mart.) Cuatr.), de flores brancas, fruto comestível. Verte óleo ao chão no princípio do inverno, sendo de aroma excelente e de propriedades medicinais e usado também como perfume e aromatizante. (D'Abbeville, Histoire, 225)
enosem (v.tr.) - 1) retirar, arrancar, fazer sair consigo: Mamõpe Pilatos senosemi a'ereme? - Para onde Pilatos retirou-o, então? (Ar., Cat., 60v); Kó nhõ anosẽ îepé moxy suí... - Na verdade, somente estas retirei dos malditos. (Anch., Poemas, 150); 2) resgatar: I momiaûsubypyra renosema. - Resgatar os cativos. (Ar., Cat., 18v); 3) desembarcar, descarregar (p.ex., embarcação): Anosem mba'e ygara suí. - Descarreguei as coisas da canoa. (VLB, I, 97) ● enosemara (t) - o que retira, o que resgata: ...N'oîeruré-pytubari Tupã supé ogûenosemarûera resé. - Não se cansam de pedir a Deus pelos que os resgataram. (Ar., Cat., 8v); enosembaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de retirar; retirada: Arobîar... asé rubypy-karaibetá 'angûera a'epe turama osarõba'e renosemagûera bé. - Creio que ele retirou também as almas dos nossos primeiros e santos pais (da mansão dos mortos), que aí esperavam sua vinda. (Ar., Cat., 16); emienosema (t) - o retirado, o que alguém faz sair consigo, o que alguém retira: Marãpe a'e semienosegûama rekóû a'epe? - Que faziam aí os que ele faria sair consigo? (Ar., Cat., 44); Anosẽ-nosem (ou Anosẽ-nosemĩ). - Vivo retirando-o; Anosẽ-sem. - Vivo retirando-as [quando são muitas coisas]. (VLB, II, 129)
erok1 (s) (v.tr.) - 1) mudar de nome; dar ou pôr nomes; pôr novo nome: Ã tekó a'ereme moreroka. - Eis que era costume, então, dar nome às pessoas. (Ar., Cat., 3); Ereîamotare'ymype nde rapixara, serok-y -bé-kybémo? - Detestaste teu próximo, ficando a pôr-lhe nomes também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); 2) batizar: N'asé reroki bépe amõ abá abaré pyri? - Não nos batizam também outras pessoas junto do padre? (Ar., Cat., 82) ● serokyba'e - o que põe nome; o que batiza: Oporoerokyba'epûera nd'e'ikatuî omendá o emierokûera resé... - O que batizou não pode casar-se com aquela que batizou. (Ar., Cat., 129); erokara (t) - o que batiza, o padrinho, a madrinha: Marãpe asé rerokara asé rerekóû? - Que fazem conosco os que nos batizam? (Ar., Cat., 82); -Abápe nde rerokara? -Quem foi tua madrinha? (Anch., Teatro, 166); emieroka (t): o batizado, o que alguém batiza: E'ikatupe morerokarûera omendá o emierokûera resé? - Pode o padrinho casar-se com aquele que batiza? (Ar., Cat., 149); serokypyra - o que é (ou deve ser) batizado, o batizado: Apŷá-serokypyra kó 'ara oîmoeté... - Os homens batizados honram este dia. (Ar., Cat., 9); eró-erok (s) - apodar, pôr nomes, motejando: Aseró-serok. - Fiquei-o apodando. (VLB, I, 38)
kupu'ygûasu (etim. - grande ávore da abelha "kupy") (s.) - 1) CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.), árvore grande da família das esterculiáceas, de flor branca, fruto comprido e amarelado, com três duros caroços; 2) o fruto dessa árvore, muito apreciado por sua polpa aromática, doce, usado para a fabricação de sorvetes, refrescos, etc. (D'Abbeville, Histoire, 222v)
angaba (s.) - o bom de (gabando aquele de quem se fala, o dito ou o feito de alguém, ou enaltecendo-o): "Pe angaturam" e'i xe rubangaba. - Disse o bom do meu pai: "-Sede bons". (VLB, II, 24); Pero angaba - o bom do Pedro (VLB, II, 53); -Marãpe nde rerokaba...? -Frasiku Perera-angaba. -Qual é teu nome de batismo? -O do bom Francisco Pereira. (Anch., Teatro, 168, 2006)
Manuscrito guarani da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro sôbre a primitiva catequese dos índios das missões, composto em castelhano pelo Pe. Antônio Ruiz de Montoya, vertido para o guarani por outro padre jesuíta, e agora publicado com a tradução portuguesa, notas, e um esboço gramatical do Abáñeê. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI. Rio de Janeiro, 1879.
îakuakanga (etim. - cabeça de jacu) (s.) - 1) JACUANGA, JACUACANGA, nome vulgar de plantas costáceas, dentre as quais se destaca a espécie Costus spicatus Willd., erva cultivada, ornamental, com propriedades diuréticas e febrífugas, também conhecida como cana-do-brejo, cana-do-mato, cana-roxa, cana-de-macaco, caatinga, paco-catinga, periná, ubacaiá; 2) fedegoso, planta borraginácea (Heliotropium indicum L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 6; Piso, De Med. Bras., IV, 195)
aan1 (ou aã) (part.) - não (de h. ou m.): Aan, nd'ereîtyki xóne. - Não, não os derrotarás. (Anch., Teatro, 136); Aã! Xe potaba nde! - Não! Meu quinhão és tu! (Anch., Teatro, 76) ● aan a'e (ou aan a'é nhẽ) - Digo não, digo que não. (VLB, II, 99); aan ipó, aan ipó biã - não deve ser, não será assim (VLB, II, 47); aan-angáî - não (enfático); de modo algum, de maneira nenhuma: -I ambyasy bépe, i 'useî bépe asé îabé?... -Aan-angáî. -Tinha também fome, tinha também sede como nós? -De modo algum. (Ar., Cat., 44v); aan-angáî-katutenhẽ (ou aãngatutenhẽ) - de nenhuma maneira, de nenhuma qualidade (VLB, II, 46)
ero'ar1 (v.tr.) - 1) fazer cair consigo; cair com: Turusukatu. Nd'e'i te'e sero'a-ro'a... - Era muito grande. Por isso mesmo ficava caindo com ela. (Ar., Cat., 61v); Anga îá, angaîpabora aîuká, xe ratápe sero'ane... - Como a esses, matarei os que costumam pecar, fazendo-os cair comigo em meu fogo. (Anch., Teatro, 92); O ati'yba ri, krusá osupi. Membeka suí, Îesu sero'ari. - No seu próprio ombro, levanta a cruz. Por fraqueza, Jesus fá-la cair consigo. (Anch., Poemas, 122); 2) saltear com enganos (VLB, II, 112)
petek (v.tr.) - golpear; esbofetear; bater (com a mão espalmada), espalmar: Aîatypetek. - Esbofeteei suas têmporas. (VLB, I, 56); Morubixaba boîá amõ osobá-petek... - Um servo do príncipe esbofeteou sua cara. (Ar., Cat., 55v); Sebira aîpetek. - Esbofeteei suas nádegas. (VLB, I, 21); Aîpó-petek. - Esbofeteei suas mãos (isto é, bati-lhe com palmatória). (VLB, II, 63) ● petekara - o que bate, o esbofeteador, o que esbofeteia: -Opabenhẽ serã erimba'e a'e petekara iî a'o-îa'oû? - Será que todos aqueles esbofeteadores dele ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v)
nhemosako'i (ou îemosako'i) (v. intr. compl. posp.) - 1) acautelar-se, estar à espreita, estar de sobreaviso: T'onhemosako'i irã yby pora t'ogûerobîar umẽ... - Que se acautelem futuramente os habitantes da terra para que não creiam nele. (Ar., Cat., 160v); 2) aperceber-se, preparar-se (para algo que se espera); fazer preparativos para receber [compl. com esé (r, s)]: Anhemosako'i (mba'e) resé. - Preparo-me para algo. (VLB, I, 38, adapt.); Xe nhemosako'i e'ymebé turi. - Veio antes que eu me preparasse. (VLB, I, 97); Anhemosako'i xe ruba resé. - Fiz preparativos para receber a meu pai; Anhemosako'i tobaîara resé. - Fiz preparativos para receber o inimigo. (VLB, II, 88); Peîemosako'i!... - Preparai-vos! (Ar., Cat., 6); Pa'i Îesus rekobeîebyragûama resé onhemosako'îabo... - Preparando-se para a futura ressurreição do senhor Jesus. (Ar., Cat., 64v) ● nhemosako'îaba - tempo, lugar, causa, etc. de se acautelar, de se aperceber, de se preparar; preparativos [p.ex., artilharia para a guerra ou fogos de artifício para receber um amigo] (VLB, I, 38): Ybaka aé Tupã îandé resé i nhemosako'îaba... - O próprio céu é o que Deus prepara para nós. (Ar., Cat., 167)
Carioca (ribeirão do RJ e nome de antiga aldeia indígena da Guanabara, a mais próxima da vila de São Sebastião, fundada por Estácio de Sá). De kariîó, carijó, nome de grupo indígena com origem no Paraguai + oka (r, s): casa de carijós: "Yaupa Moçupiroka, Yequej, guatapitiba, [...] Carijo oca, Pacucaya, Araçatiba." (Anchieta, Poemas [Auto de São Lourenço], versos 147-151). Os carijós também estavam na costa: "(...) destes ha infinidade e correm pela costa do mar e sertão até o Paraguay." (Pe. Fernão Cardim, [1585], Do principio e origem dos Indios do Brasil, p. 103). De nome de lugar passou a designar, ainda no período colonial, também os que nascem no Rio de Janeiro: "[...]os Cariocas e Americanos eram fracos, vis, patifes e pusillanimes (Jeronymo de Castro e Souza [1789], Carta do Alferes Jeronymo de Castro e Souza, Denunciando o Tiradentes", pp. 266-267)
amõaé (ou amboaé) (pron. subst. ou adj.) - 1) outro (os, a, as): Amõaé tubixá-katu nde resé oîerobîá. - Aqueles outros grandes chefes em ti confiam. (Anch., Poemas, 104); Marã e'ipe amõaé asé îeruresaba? - Como diz a outra petição da gente? (Ar., Cat., 26v); Nd'e'ikatupe amõaé abá oporomongaraípa abaré suí? - Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? (Ar., Cat., 81); 2) algum (ns, a, as) (VLB, I, 31)
i'yra [s. irregular. Na forma absoluta é i'yra e nas formas relacionadas recebe r- e não aceita s-, sendo que a forma i'yra pode também ser relacionada, incluindo o pronome i, assimilado pela vogal inicial do nome: i i'yra → i'yra - sobrinho dele (Anch., Arte, 14).] - 1) primo (filho da tia ou tio paternos): ...São João Batista o i'yra pé onhemoîasuk-ukar'iré... - Após fazer a São João Batista, seu primo, batizá-lo. (Ar., Cat., 12-12v); S. Tiago, Îesu Cristo ri'yra, Apóstolo, o akanga o ekobé me'engi... - São Tiago, primo de Jesus Cristo, Apóstolo, entregou sua cabeça e sua vida. (Ar., Cat., 6v); 2) sobrinho (filho da irmã de h.): xe ri'yra - meu sobrinho (Anch., Arte, 14); [adj.: i'yr (r-)] - ter sobrinho: Xe ri'yr. - Eu tenho sobrinhos (por parte de minhas irmãs). (Fig., Arte, 38); 3) tio (filho da avó do h.); 4) enteado (de h.) (Ar., Cat., 114v); 5) filho de prima (de h.) (VLB, II, 119)
NOTA - Daí, no P.B., JURUPIRANGA (îuru + pyrang + -a - "boca vermelha"), nome de um peixe taquissurídeo; JURUPIXUNA (îuru + pyxun + -a - "boca escura"), nome de um macaco cebídeo; JURUNA (îuru + un + -a - "bocas pretas"), nome de povo indígena do MT e PA; JURUPENSÉM (îuru + pesẽ - "boca-de-colher"), peixe pimelodídeo de boca com prognatismo acentuado, também chamado jurupoca e boca-de-colher. Daí, também, o nome próprio JURACI, os nomes geográficos CAJURU, BOTUJURU, etc. (v. p. 386).
angaîbara (s.) - magreza; coisa magra (VLB, II, 28); (adj.: angaîbar) - 1) magro; (xe) emagrecer: xe remipoîangaîbara - o magro que convidei (Anch., Arte, 52v); Xe angaîbar. - Eu estou magro. (D'Evreux, Viagem, 151); Nd'e'i te'e opá abá angaîbaramo...-ne. - Por isso mesmo todos os homens emagrecerão. (Ar., Cat., 160); 2) ressequido, mirrado, seco: Nd'aruri amõ parati; oîepé xe pysá pora. Nd'ere'uî xûémo, senhora: i angaîbar-atã moxy suí! - Não trouxe nenhum parati; um só é o conteúdo de minha rede. Não o comerás, senhora: ele está duramente ressequido por deterioração. (Anch., Poemas, 152)
gûyrá (ou ûyrá) (s.) - ave, em geral; pássaro, em geral, UIRÁ: ...Xe pysy-potar-y bé serã kó gûyragûasu... - Talvez queira agarrar-me novamente este pássaro grande... (Anch., Teatro, 58); ...Îusana oĩ nhote. Gûyrá aé osó i pupé, o'á. - O laço está quedo. O pássaro é que vai dentro dele, caindo. (Ar., Cat., 29v); gûyrá raba - pena de pássaro (Fig., Arte, 71); ...Ûyrá-tinga our xébe. - Um pássaro branco veio para junto de mim. (D'Abbeville, Histoire, 353) ● gûyrá-mirĩ - passarinho (VLB, II, 67); ûyrá-îurupari - pássaros noturnos que não cantam, que têm um pio queixoso, enfadonho e triste, que vivem sempre escondidos, não saindo dos bosques e que deviam conviver com o Jurupari; "pássaros do diabo" (D'Evreux, Viagem, 293)
NOTA - Daí, no P.B., TIMBIRA (i tymbyra, "os enterrados"), nome de um povo indígena tapuia, extinto. Alusão ao fato de não construírem eles casas como os tupis da costa. Deviam fazer buracos no chão, onde se abrigavam. O Pe. Fernão Cardim e Gabriel Soares de Sousa dizem a mesma coisa a respeito de outros povos indígenas: "Obacoatiáras - estes vivem em ilhas no Rio de São Francisco, têm casas como cafuas debaixo do chão." (Pe. Fernão Cardim [1585], p. 104); (sobre os índios Guaianás):"Não vive este gentio em aldêas com casas arrumadas, como os Tamoyos seus visinhos; mas em covas pelo campo debaixo do chão..." (Sousa, Trat. Descr., LXIII).
NOTA - Daí provêm, no P.B., BURARA (mby + rara, "prende-pés"), 1) emaranhado produzido pelos ramos caídos no meio da mata, ou árvore tombada que dificulta o trânsito; 2) pequena fazenda ou roça de cacaueiros; 3) lamaçal no interior das plantações de cacau; COIVARA (kó + 'yb + ara, "cata-paus de roça") - 1) restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada, na roça à qual se deitou fogo, e que se juntam para serem incineradas a fim de limpar o terreno e adubá-lo com as cinzas, para uma lavoura; 2) técnica indígena de manuseio da terra, que consiste em queimar restos de troncos, galhos de árvores e mato para preparar a terra para a lavoura, limpando-a; 3) (MA) galhadas e troncos de árvores derrubados pelas cheias e que descem rio abaixo (in Novo Dicion. Aurélio).
kunhataĩ (etim. - mulher firminha) (s.) - menina, CUNHANTÃ, CUNHANTAIM, menina da primeira idade até ser casadoira (VLB, II, 38); menina pequena até, mais ou menos, dez anos (VLB, II, 39); menina de sete a 15 anos (D'Evreux, Viagem, 135): Eresugûykápe kunhataĩ amõ? - Desvirginaste alguma menina? (Ar., Cat., 103v) ● kunhataĩ-a'uba - rapariga (por desprezo, pejorativo) (VLB, II, 96)
momosapyr (v.tr.) - fazer-se o terceiro, fazer pela terceira vez (VLB, II, 115) ● momosapysaba - tempo, lugar, modo, etc. de se fazer o terceiro; o terceiro: ...'Ara mokõî i momosapysaba pupé o ekobeîebyri... - Em dois dias e no tempo de se fazer o terceiro, voltou a viver. (Ar., Cat., 4v); I momosapysaba mendara moîekosupaba... - A terceira (virtude) dele é a satisfação dos cônjuges. (Ar., Cat., 133); momosapysara - terceiro (VLB, II, 127)
moingoé (v.tr.) - 1) diferenciar, fazer diferente: ...Amõ kunhã suí i moingoébo... - Diferenciando-a das outras mulheres. (Anch., Poemas, 86); 2) distinguir, tratar com distinção ● moingoeara - o que diferencia; o que distingue, o que trata com distinção: Emonã serekopyra..., rakó opytá-katu, o apysykamo o moingoeara ri... - Assim tratado, certamente fica bem, satisfazendo-se com o que o distingue. (Ar., Cat., 85v)
Jurumirim (SP). De îuru + mirĩ: boca pequena: "...cheguei no quarto dia a um salto a que chamam Jurumirim, que na língua da terra quer dizer boca pequena; e na verdade assim o é, porque o rio se mete nele e sai por um canal tão estreito, que parece um funil..." (desconhecido [n.d.], XX - Cartografia das Monções dos Séculos XVII e XVIII - Notícias Práticas, p. 118).
tiruã1 (part.) - 1) mesmo, ainda, até, até mesmo: Abá-tepe oîkó xe oîá, Tupã tiruã momburûabo? - Mas quem há semelhante a mim, desafiando até mesmo a Deus? (Anch., Teatro, 18); Ixé tiruã asó. - Até eu vou. (VLB, I, 46); Tupã resé tiruã kó nhe'enga reîtyki... - Até mesmo em Deus este lança palavras. (Ar., Cat., 56v); 2) nem sequer, nem mesmo, ao menos (com o verbo na forma negativa): I xy na sugûyî tiruã... - Sua mãe nem sequer sangrou. (Anch., Poemas, 184); Oîepé tiruã abá nd'e'ikatuî oîepysyrõmo te'õ suí. - Nem sequer um só homem pode livrar-se da morte. (Ar., Cat., 155); Oîepé tiruã nd'aruri. - Não trouxe nem mesmo um só. (VLB, II, 49); 'Y tiruã n'arekóî. - Nem mesmo água eu tenho. (VLB, II, 124)
NOTA - Daí se originam nomes de lugares como PERI-PERI (BA), PIRITUBA (SP) (v. p. 386) e nomes de pessoa, como PERI. Daí, também, no P.B., PERI, 1) sulco formado pelo escoamento de águas em declive; 2) (MT) a parte baixa de terreno alagada pelas águas de um rio; PERIANTÃ, PARIATÃ (Amaz.), 1) lugar onde há peris; 2) ilha flutuante que desce os rios, formada de plantas aquáticas, camalote; 3) barranco flutuante despegado da margem do rio, e que desce nas enchentes, coberto de canaranas, marurés e outras plantas; matupá (in Novo Dicion. Aurélio).
eîar (ou eîá) (s) (v.tr.) 1) deixar (no sentido de abandonar): Oîabab i xuí, seîá... - Fugiram dele, deixando-o. (Ar., Cat., 55); ...Aseîá kûesé xe roka... - Deixei ontem minha casa. (Anch., Poemas, 112); Ybaka rasapa, osó, nde reîá... - Atravessando o céu foi, deixando-te. (Anch., Poemas, 124); 2) deixar (no sentido de pôr à disposição, legar, entregar): Kó santo o mbo'esara rekopûera erimba'e oîkûatiar îandébo, seîá. - Esse santo a vida de seu mestre escreveu para nós, deixando-a. (Ar., Cat., 134); 3) omitir, pôr de lado: Xe resaraî é gûitekóbo, n'aseîá-potá ruã! - Eu estava, mesmo, esquecendo, não que o quisesse omitir. (Anch., Teatro, 180, 2006) ● eîasaba (t) - tempo, lugar, companhia, modo, etc. de deixar: Ouîebype erimba'e o boîá reîasagûerype? - Voltou a vir ao lugar em que tinha deixado seus discípulos? (Ar., Cat., 53); emieîara (t) - o que alguém deixa: Cristãos i mongaraibypyra tekokuaparamo Cristo remieîara... - O que Cristo deixa como chefes dos cristãos batizados. (Ar., Cat., 6-6v); seîarypyra - o que é (ou deve ser) deixado: Seîarypyrama ruã-tepe mba'e tetiruã kûáî? - Acaso o que será deixado é tudo? (Ar., Cat., 165)
Amanari (CE). De amana + y (t, t): água de chuvas. Nome atribuído artificialmente por decreto-lei de 1943, substituindo o nome de Pocinhos. (fonte: IBGE). Esse topônimo também existe há séculos no Amazonas, mas não deve ter origem na língua geral: "Dos rios e riaxos, que dezaguão nas suas margens, até a dita caxoeira, sei eu, porque vi, na austral os dous riaxos Cubaticuni, e o Amanari." (Alexandre Rodrigues Ferreira [n.d.], p. 249)
(e)kuîa (r, s) (s.) - CUIA (Anch., Arte, 13v); cabaço, cabaça, fruto da cuieira, vaso feito desse fruto maduro depois de esvaziado do miolo: Ygasápe kaûĩ-tuîa a'e ré îamomotá, oîoîá gûaîbĩ rekuîa... - O cauim transbordante nas igaçabas, depois disso, os atrai, e, igualmente, as cuias das velhas... (Anch., Teatro, 28); xe rekuîa - meu cabaço; sekuîa - seu cabaço (Fig., Arte, 78); Kuîa nhẽ i tĩ-ngá-tĩ-ngábo, ereîanga'o abá... - Das cuias ficando a quebrar as pontas, afrontaste os homens. (Anch., Teatro, 168)
karaguatagûasu (etim. - caraguatá grande) (s.) - CARAGUATÁ-AÇU, 1) planta herbácea da família das bromeliáceas, do gênero Bromelia (Bromelia karatas L.), de cujas folhas se extrai fibra para cordoaria, tapetes, etc. É também chamada CARAGUATÁ-PITEIRA, CARUATÁ-AÇU, CURUATÁ-AÇU, GRAVATÁ-AÇU. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 87); 2) nome comum a plantas da família das agaváceas, do gênero Furcraea. Destas, a nativa do Brasil é a Furcraea foetida (L.) Haw, chamada vulgarmente PITA-GRAGOATÁ, piteira-de-terra, etc. (Piso, De Med. Bras., IV, 199-200). Serviam-se os índios de sua madeira para acender o fogo. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273)
eté2 (t) (s.) - 1) corpo: Pedro reté - o corpo de Pedro (Fig., Arte, 74); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); Mba'epe asé reté remi'u? - Qual é a comida de nosso corpo? (Ar., Cat., 27v); Tupã aé, o karaíba pupé, i 'anga seté monhangi. - O próprio Deus, com sua santidade, as almas e os corpos deles fez. (Anch., Teatro, 28); Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120); 2) substância, matéria: Oîaby-eté seté tiruã oîkuabe'ymba'e. - Transgride-os muito o que não conhece sequer sua substância. (Bettendorff, Compêndio, 103) ● seteba'e - o que tem corpo, o que é corpóreo (VLB, I, 82)
(adv.) - 1) assim, deste modo, desta maneira (Fig., Arte, 5): Nã e'i memẽ îepi... - Assim dizem sempre. (Anch., Poemas, 194); Nã e'iba'e... - Os que assim dizem... (Ar., Cat., 16v); (Pode levar o verbo para o gerúndio.): Kori, nã, îandé rekó îandé moarûapa angá. - Hoje, assim, de modo nenhum nos impedem nossa estada. (Anch., Teatro, 148, 2006); 2) é o seguinte; são os seguintes: Setápe pirá seba'e? -Nã: kurimã, parati, akaraûasu... -São muitos os peixes que são gostosos? -São os seguintes: curimã, parati, acaraguaçu... (Léry, Histoire, 348-349); 3) tantos; tantas vezes, tanto (mostrando-se o número com os dedos) (VLB, II, 124; Anch., Arte, 10v) ● nã-te (ou nã-tene) - desta maneira (e não dessa) (VLB, I, 101); não assim, senão assim (VLB, II, 47); nã nhõ (ou nã nhote) - assim somente; basta (Fig., Arte, 135; VLB, II, 50); nã nhõ ranhẽ! - basta! (Fig., Arte, 135)
pindá1 (s.) - PINDÁ, anzol (Léry, Histoire, 346): Xe pindá-porangeté t'opindaîtykyne endébo... - Meu anzol muito ditoso há de pescar para ti. (Anch., Poemas, 152); T'i nhyrõngatu kori îandébo, pindá me'enga. - Que eles bem perdoem hoje a nós, dando anzóis. (Anch., Poemas, 196); (adj.) (xe) - ter anzol: Na xe pindáî. - Eu não tenho anzol. (Anch., Arte, 48) ● pindá monhangara - fazedor de anzóis, anzoleiro; pindá-tinga (ou pindá-tingusu) - anzol pargueiro; pindá-una (ou pindagûasu) - anzol de ferro (VLB, I, 37); pindá posyîtaba - chumbada do anzol (VLB, I, 74); pindá-aŷpypûasaba - estorvo do anzol, isto é, corda com que se reata este (VLB, I, 129)
anga'o2 (v.tr.) - 1) ameaçar: Aîanga'o (ou Anhanga'o). - Ameacei-o. (VLB, I, 34; Fig., Arte, 118); 2) ofender, vituperar: Ereîanga'ope nde ruba, nde sy, nde ramũîa, nde aryîa? - Vituperaste teu pai, tua mãe, teu avô, tua avó? (Ar., Cat., 100v); Pe poroanga'o umẽ, xe ra'yr-y gûé, ta perekó i mba'e. - Não vitupereis as pessoas, ó meus filhos, para que tenhais seus bens. (Léry, Histoire, 356); 3) afrontar: Kuîa nhẽ i tĩ-ngá-tĩ-ngábo, ereîanga'o abá... - Das cuias ficando a quebrar as pontas, afrontaste os homens. (Anch., Teatro, 168) ● angagûara - o que ameaça, o que vitupera, etc.; o ameaçador; angagûaba - tempo, modo, lugar, etc. de ameaçar, de vituperar, de afrontar (Fig., Arte, 118) (O gerúndio de anga'o é angagûabo)
erĩ (interj.) 1) (expressando raiva, desgosto, irritação) - irra! (VLB, II, 15); Oh! Ah! Ai! Que nada!: Erĩ, aani! Amorambûé; opá xe nhe'engendubi. - Oh não! Frustrei-os; ouviram-me as palavras todas. (Anch., Teatro, 12); Erĩ, sarigûeîa é! - Irra, gambá! (Anch., Teatro, 42); Erĩ! Xe rapy Tupã...! - Ai! Queima-me Deus! (Anch., Teatro, 90); Erĩ! Aîmoaûîé îandune. - Que nada! Vou vencê-los, como sempre. (Anch., Teatro, 138); 2) (expressando satisfação): Erĩ, aûîé! - Ah, muito bem! (Anch., Teatro, 143, 2006)
Itacoatiara (AM). "Nas margens do Amazonas há ũa paragem, entre Pauxiz, e a foz do Rio Madeira, chamada na língoa dos índios naturaes — Itacotiara — que quer dizer — pedra pintada ou debuxada; vem-lhe o nome de várias figuras, e pinturas delineadas naquelas pedras; e pouco mais acima estão estampadas em outras pedras algũas pegadas de gente." (Pe. João Daniel [1757], pp. 61-62). De itá + kûatiar + -a: pedras pintadas. São marcas do homem pré-histórico brasileiro.
îata'yba (s.) - JATAÍ, JATAÍBA, JUTAÍ, JATOBÁ, nome que designa várias espécies de árvores leguminosas-cesalpinoídeas do gênero Hymenaea L., entre as quais a espécie Hymenaea courbaril L., muito alta, de flores amarelas, que oferece vagens compridas e largas, onde há duas ou três nozes redondas e achatadas, contendo um caroço coberto de polpa comestível. É também chamada árvore-copal, ITAÍBA, JAÇAÍ, JATIBÁ, JETAÍ, JETAÚVA, pão-de-ló-de-mico. (D'Abbeville, Histoire, 225v; Brandão, Diálogos, 171; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101)
ikobé / ekobé (t) (etim. - estar ainda) (v. intr. irreg.) - 1) viver, estar vivo (Fig., Arte, 66): Orébe t'oré mondyki, nde irũmo t'oroîkobé. - Que ela nos destrua para que vivamos contigo. (Anch., Poemas, 124); Osem oîkobébo, o tym-y roîré... - Saiu vivendo após o enterrarem. (Anch., Poemas, 124); 2) estar bem, estar são, estar bem disposto: Aîkobé. - Estou bem, estou são. (Fig., Arte, 60). (Em forma de saudação é equivalente ao Vale, do latim.): ...Eîkobé-katu, xe mbo'esar gûy...! - Estejas bem, ó meu mestre! (Ar., Cat., 54); 3) existir, haver: Oîkobé îemombe'u, mosanga mûeîrabyîara. - Existe a confissão, remédio portador de cura. (Anch., Teatro, 38); Oîkobé xe pytybõanameté..., tubixakatu Aîmbiré... - Existe meu auxiliar verdadeiro, o chefão Aimbirê. (Anch., Teatro, 8); Oîkobépe amõ abá sekobîaramo? - Há algum homem na condição de seu substituto? (Ar., Cat., 50v); 4) estar presente, ser, aqui estar (Fig., Arte, 66): Aîkobé, n'aîepe'aî i xuí. - Aqui estou, não me afasto deles. (Anch., Teatro, 88); Oîkobé nde arûara é... - Aqui está teu danador. (Anch., Teatro, 90); Nde rembiarama é oîkobé morubixaba. - Os que tu apresarás são reis. (Anch., Teatro, 60); 5) permanecer, continuar a ser ou estar: Aîkobé n'ixé sarõana... - Permaneço seu guardião. (Anch., Teatro, 40) ● oîkobeba'e - o que vive, o que está bem, o que existe, etc.: A'e suí turi oîkobeba'e omanõba'epûera pabẽ rekomonhangane. - Daí virá para julgar todos os que vivem e os que morreram. (Anch., Doutr. Cristã, I, 142); ekobesaba (t) - tempo, lugar, meio, instrumento, etc. de viver, de existir, etc.; vida: 'Y i mongaraibypyra t'oîkó xe 'anga rekobesabamo... - A água benta seja o meio de viver de minha alma. (Ar., Cat., 24v); ...o 'anga rekobesaba - a vida de sua alma (Ar., Cat., 241)
puraké1 (ou poraké) (s.) - 1) POROQUÊ, PORAQUÊ, PURAQUÊ, enguia-elétrica, 1) nome comum a peixes elétricos da família dos eletroforídeos. Realizam descargas elétricas, em sua defesa e para facilitar a captura de outros peixes. "Quem quer que o toca, logo fica tremendo... Morto, come-se e não tem peçonha." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 56); 2) gênero de raia conhecida como peixe-viola, da família dos rinobatídeos, peixe cartilaginoso com a parte anterior do corpo em forma de coração e que também produz descargas elétricas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 151-152)
rung (v. irreg. Só usado com objeto incorporado nas formas verbais propriamente ditas. Nas formas nominais, comporta-se como qualquer outro verbo regular.) - pôr, estabelecer, arranjar, preparar, fazer (no sentido de estabelecer): Aîkó-rung xe ruba. - Fiz a roça de meu pai. (Fig., Arte, 145); T'îasó mundé runga. - Vamos para pôr armadilha. (Fig., Arte, 145); Aîypy-rung. - Pus-lhe início (isto é, comecei-o). (Fig., Arte, 145); Atupá-rung abati. - Estabeleci uma plantação de milho. (VLB, II, 81)
nhembo'e2 (etim. - o instruir-se) (v. intr. compl. posp.) - aprender; exercitar-se [compl. com esé (r, s)]: Onhembo'e Tupã nhe'enga o emierobîarama resé... - Aprende acerca da palavra de Deus, em que crerá. (Ar., Cat., 80v); N'osa'angi-te-p'akó nhembo'e ko'arapukuî? - Mas não tentam esses aprender sempre? (Anch., Teatro, 30) ● nhembo'esaba (ou nhembo'eaba) - tempo, lugar, objeto, etc. do aprender; o que alguém aprende: Eîporu nde nhembo'eagûera. - Pratica o que tu aprendeste. (VLB, I, 131)
moapysyk (v.tr.) - 1) consolar, confortar: Nde pópe ogûapyka, osó kunumĩ... nde moapysyka... - Em tuas mãos sentando-se, vai o menino, consolando-te. (Anch., Poemas, 120); Xe moapysyk îepé. - Conforta-me tu. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618); Our i moapysyka... - Vieram para consolá-lo. (Ar., Cat., 53v); 2) edificar (moralmente) (VLB, I, 108); 3) deleitar, agradar (VLB, I, 27); Xe moapysy-katu. - Deleita-me muito. (VLB, I, 27; 93); 4) fartar a vontade de, o apetite de, satisfazer (fal. de comida) (VLB, I, 135) ● i moapysykypyra - o que é (ou deve ser) consolado, o consolado: A'eba'e i moapysykypyramo sekóûne. - Aqueles serão consolados. (Ar., Cat., 19); moapysykaba - tempo, lugar, modo, etc. de consolar, de deleitar, etc.; o ato de consolar, o consolo: Nde 'anga moapysykápe, oroîaîubã-îubã. - Para confortar a tua alma, nós o ficamos abraçando. (Anch., Poemas, 134)
umbu (s.) - UMBU, IMBU, 1) nome de duas árvores da família das anacardiáceas (Spondias purpurea L. e Spondias tuberosa Arruda), também chamadas UMBUZEIRO, IMBUZEIRO, AMBUZEIRO; 2) o fruto dessas árvores, o qual tem casca e polpa muito amarelas, quando maduro. É muito empregado no Norte do Brasil para o preparo de uma bebida, a UMBUZADA ou IMBUZADA. "Dá-se esta fruta ordinariamente pelo sertão, no mato que se chama a caatinga." (Sousa, Trat. Descr., cap. LIII).
monhyrõ (v.tr.) - 1) apaziguar, aplacar, amansar, fazer perdoar: Aîmonhyrõ Tupã xe îopupé. - Aplaco a Deus para mim. (Fig., Arte, 81); Nde eîmonhyrõ Tupã nde îoupé. - Aplaca tu a Deus para ti. (Fig., Arte, 81); ...Xe angaîpaba rapirõmo, ...i monhyrõmo. - Pranteando meus pecados, fazendo-os perdoar. (Anch. Teatro, 168); 2) reconciliar (os discordes) (VLB, II, 98) ● omonhyrõba'e - o que apazigua, o que aplaca, etc.: Tekokatueté rerekoara oporomonhyrõba'e... - Os que têm a beatitude são os que apaziguam as pessoas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 154); monhyrõsaba - tempo, lugar, modo, etc. de aplacar, de apaziguar: Mba'e-eté anhẽ nhemombe'u... Tupã remimonhangûera ikó 'ara pupé o monhyrõsabamo... - Coisa muito boa é a confissão, que Deus fez como modo de aplacá-lo neste mundo. (Ar., Cat., 220); monhyrõsara - o que aplaca, o que faz perdoar, apaziguador: Nd'e'i te'e abaré moingóbo... o monhyrõsaramo... - Por isso mesmo é que constituiu os padres como seus apaziguadores. (Anch., Doutr. Cristã, I, 195)
pûar2 (v. intr. compl. posp.) - bater, dar punhada, dar pancada [em alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Kunhã muru'abora resé opûá... - Batendo numa mulher grávida. (Ar., Cat., 70v); Marãpe erepûar xe resé? - Por que bates em mim? (Ar., Cat., 56); ...T'opûar anhanga ri... - Que bata no diabo. (Anch., Poemas, 88) ● pûaraba (ou pûasaba) (m) - tempo, lugar, modo, objeto, etc. de bater, de dar pancada; golpe, pancada: ...Nde resé i pûaragûera moasŷabo. - Arrependendo-se ele de ter batido em ti. (Ar., Cat., 106v); ...Nde remirekó resé epûá tenhẽmo, mûasá-mbururamo serekóbo îepi... - Batendo sem motivo na tua esposa, tratando-a sempre como objeto maldito de pancada... (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); Na xe pûasabi. - Eu não tenho com que bater. (VLB, II, 69); pûasá-bora - marca de pancada, de porrada; o sinal de uma batida, de um golpe (VLB, II, 82; 144)
upi (r, s) (posp.) - 1) segundo, de acordo com, conforme: Tupã remimotara rupi... - Segundo a vontade de Deus... (Ar., Cat., 23v); Supi nhẽ aîkó. - Estou de acordo com ele. (VLB, II, 114); 'ara rupi - conforme o dia (Anch., Arte, 43v); aîpó rupi - de acordo com isso; dessa forma (VLB, II, 16); Xe ruba rupi é emonã aîkó. - Assim ajo conforme meu pai. (VLB, II, 115); 2) à semelhança de, como: ...Gûupi-katupe i monhangi? - Bem à sua semelhança o fez? (Ar., Cat., 39); Og uba rupi ahẽ resatingamo. - Ele tem olhos claros como seu pai. (VLB, II, 131); Xe ruba rupi é xe angaîpabamo. - Eu sou pecador como meu pai. (VLB, II, 111); Supi bé eremombûeîrá mara'abora... - Como ele, também, curaste os doentes. (Anch., Teatro, 122, 2006); 3) por, per, através de: ...T'oîkó umẽ oka rupi oré 'anga monguébo. - Que ele não esteja pelas ocas a agitar nossas almas. (Anch., Teatro, 120); pé rupi - pelo caminho (VLB, II, 81); Yby rupi bépe sugûy syryki? - Pelo chão também escorreu seu sangue? (Ar., Cat., 60); 'ara rupi - pelos dias, a cada dia (Anch., Arte, 43v); ...ikó 'ara rupi oîkoba'e... - os que estão por este mundo (Bettendorff, Compêndio, 53); Nhũ rupi agûatá. - Ando pelo campo. (Fig., Arte, 123); Kamusi ku'a rupi nhote kaûĩ reni. - O cauim está pela metade da vasilha, somente. (VLB, II, 34); ...Mosapy reîá reru îasytatá rupi é. - Vindo com os três reis pela estrela. (Anch., Poesias, 272); 4) com (v. nota): T'orosóne nde rupi. - Havemos de ir contigo. (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); 5) ao longo de, durante: ...'ara rupi... - ao longo dos dias (Ar., Cat., 7); Abaré nd'ogûerobîari, putuna rupi okagûabo. - Não crêem no padre, bebendo cauim ao longo da noite. (Anch., Teatro, 136-150); 6) em (temp.): Domingo anhõ i pytera rupi okûaba'e... - Somente o domingo que está no meio dela (isto é, da Quaresma). (Ar., Cat., 122); Eîori oré retama 'ara rupi nhẽ, i xupa. - Vem no dia de nossa terra, para visitá-la. (Anch., Poemas, 146) ● 'ara rupindûara - o que é de cada dia, o que está ao longo dos dias (VLB, I, 91)
kobé (adv.) - aqui, eis aqui, aqui está, eis que, eis que aqui: Kobé aîkó. - Aqui estou eu. (VLB, I, 40); ...Kobé xe rembiaretá t'ame'ẽne amõ endébo... - Eis que também minhas muitas presas hei de dar algumas a ti. (Anch., Teatro, 46); ...Kobé aîkó nde ra'yrangaîpabĩnamo... - Eis que aqui estou como teu filho pecador. (Ar., Cat., 86); Kobé xe îurupara, kobé arupare'aka. - Eis aqui meu arco, eis aqui as farpas. (Anch., Teatro, 162); Kobé sekóû kó. - Eis que ele está aqui; Kobé tuî kobé (forma enfática). - Eis que aqui está deitado. (VLB, I, 109)
tyba2 (s.) - 1) ajuntamento, reunião, multidão, TIBA, TUBA, conjunto, abundância: Pa'igûasu irũndyba... - a multidão de companheiros do provincial (Anch., Poemas, 114); takûarusutyba - ajuntamento de taquaras grandes (Staden, Viagem, 116); tá-tyba - ajuntamento de aldeias (VLB, II, 84); Rerityba - "ajuntamento de ostras", nome de um lugar (Anch., Poemas, 112); 2) existência, ocorrência: -Nd'e'ikatupe amoaé abá oporomongaraípa abaré suí? -E'ikatu, abaré tybe'ỹme é. -Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? -Pode, no caso de não existência, mesmo, de padre. (Ar., Cat., 80v)
DESCONHECIDO [1704], Encontrando quilombos (transcrição por Maria Filgueiras Gonçalves e introdução de Ana Lúcia Louzada Werneck - Notícia diária e individual das marchas [,] e acontecimentos ma(i)s condigno(s) da jornada que fez o senhor mestre de campo, regente[,] e guarda(-)mor Inácio Correa Pamplona, desde que saiu de sua casa[,] e fazenda do Capote às conquistas do sertão, até se tornar a recolher à mesma sua dita fazenda do Capote, etc., etc.etc. Anais da Biblioteca National, 108 (1988), pp. 47-113
nhemosaînan (ou îemosaînan) (v. intr. compl. posp.) - 1) cuidar, preocupar-se [em algo, com algo ou com alguém: compl. com esé (r, s)]: -Onhemosaînan pabẽpe cristãos aîpoba'e kuabaûama resé? - Preocupam-se todos os cristãos em saber isso? (Ar., Cat., 21, 1686); Onhemosaînãpe amẽ asé rerokara asé resé? - Preocupam-se conosco, de costume, os nossos padrinhos? (Ar., Cat., 82); 2) prover-se [de algo: compl. com esé (r, s)]: Anhemosaînan xe mba'erama resé. - Provejo-me das minhas coisas. (VLB, II, 88); 3) ocupar-se, estar ocupado; negociar; ser ativo, ser trabalhador: Anhemosãînan gûitekóbo. - Vivo negociando; N'anhemosãînani. - Não sou trabalhador (isto é, sou negligente); -Eîaso'îabok nde karamemûã t'asepîak nde ma'e. -Anhemosaînan. -Destampa tua caixa para que eu veja tuas coisas. -Estou ocupado. (Léry, Histoire, 346) ● nhemosaînandaba - tempo, lugar, modo, etc. de se ocupar, de se preocupar; cuidado, ocupação; negócio (VLB, II, 49): O nhemosaînandagûera resé o irũagûera resé bé o ma'enduaramo. - Lembrando-se das suas antigas ocupações e de seus antigos companheiros também. (Bettendorff, Compêndio, 92)
urukuri (s.) - URUCURI, OURICURI, ARICURI, ALICURI, ARICUÍ, IRICURI, URICURI, LICURI, URUCURIIBA, LICURIZEIRO, NICURI, nome comum a duas palmáceas: 1) Syagrus coronata (Mart.) Becc., palmeira mediana da costa leste do Brasil. Dá a farinha-de-pau, bom alimento aos que andavam pelo sertão. "Não são muito altas e dão uns cachos de cocos muito miúdos.... Têm o tronco fofo, cheio de um miolo alvo e solto como o cuscuz e mole." (Sousa, Trat. Descr., 198-199); 2) palmeira de grande porte, Attalea phalerata Mart. ex Spreng., que atinge mais de 30 metros de altura e encontrada nos estados do Amazonas, Pará e Maranhão. (Piso, De Med. Bras., IV, 181) ● urukuri 'ybá - fruto do urucuri (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274); urukuri u'i - farinha de urucuri (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 104)
mombuk (v.tr.) - 1) furar, fazer buraco em (VLB, I, 60): Oîké îugûasu i akanga kutuka, opá i mombuka. - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça, furando-a toda. (Anch., Poemas, 122); ...Omombuk-y bé xe akanga. - Furou também minha cabeça. (Anch., Teatro, 126); 2) arrombar (como arca, cabaço, navio) (VLB, I, 44); 3) desvirginar: Ereîmombukype kunhataĩ amõ...? - Desvirginaste alguma menina? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89); 4) quebrar, arrebentar (VLB, I, 42): Abá mba'e mombuka... - Arrebentando as coisas de alguém. (Anch., Diál. da Fé, 213); Kó bé ingapé-kûatiara, t'aîakã-mombuk muru. - Eis aqui também a ingapema pintada, para que arrebente a cabeça dos malditos. (Anch., Teatro, 66) ● i mombukypyra - o que é (ou deve ser) furado, desvirginado, etc.; a mulher que não é mais virgem, a desvirginada (VLB, I, 83)
NOTA - Daí, no P.B., SAPIRANGA (tesá + pyrang + -a, "olhos vermelhos"), blefarite, inflamação de pálpebras. Em José de Alencar lemos: "...as pestanas, as comera a SAPIRANGA que lhe arroxeava as pálpebras." (in Alfarrábios, apud Novo Dicion. Aurélio); SAPIROCA [(te)sá + pir + ok +-a, "arranca pele dos olhos"], inflamação das pálpebras com queda das pestanas, blefarite ciliar; SAPIROQUENTO, o que tem sapiroca. Daí, também, o nome próprio TIBIRIÇÁ (tebir + esá, "olho das nádegas"), nome de importante chefe indígena de Piratininga, no século XVI.
oby (t) (s.) - verde, azul, roxo (Não há termos distintos para essas cores no tupi antigo. Usam-se, em certos casos, adjetivos para diferenciá-las.); [adj.: oby (r, s)]: Xe roby. - Eu sou azul; Soby. - Ele é azul. (VLB, I, 49); aoboby - roupa verde, pano verde (VLB, II, 144); ...Mba'epe ké kanindeoby îasûara? - Que há aqui semelhante a um canindé azul? (Anch., Teatro, 62) ● sobyba'e - o que é azul, o que é verde, o que é roxo (VLB, II, 108); oby-kanugûá (t) - roxo furta-cor, isto é, tirante a dourado e que resplandece ou brilha, variando-se segundo lhe atinja o sol (VLB, II, 108): Xe roby-kanugûá. - Eu estou roxo furta-cor. (VLB, II, 108); oby-manisoba (t) - verde-maniçoba: -Aoba. -Marãba'e? -Soby-manisob. -Roupas. -De que tipo? -Elas são verdes-maniçoba. (Léry, Histoire, 342-343)
Às vezes houve dificuldades em se saber se uma palavra provinha do tupi antigo ou se era herança das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Quando o termo passou inalterado do tupi quinhentista e seiscentista para aquelas outras línguas, somente um estudo histórico poderia, talvez, dirimir tais dúvidas. Com relação à língua geral meridional, escassíssimos são os textos escritos nela. O que podemos dela saber provém principalmente dos nomes geográficos e dos brasileirismos meridionais. Assim, muitas tentativas de resgate de seus vocábulos não poderiam passar do plano da hipótese.
sok1 (-îo-) (v.tr.) - 1) ferir (com coisa que não entra pela carne ou entra quase nada); dar pancadas de ponta (sem furar) (VLB, II, 63); picar, aguilhoar (p.ex., bois), calcar (sem furar): Aîosok. - Feri-o. (VLB, I, 137); Xe sok îõte. - Deu-me pancada de ponta, somente (isto é, sem me furar). (VLB, I, 129); Pedro nde sok. - Pedro te pica. (Fig., Arte, 151); Pedro osok îagûara. - Pedro aguilhoa a onça. (Fig., Arte, 153); 2) moer, pisando (VLB, II, 40); 3) socar, pilar; (fig.) fustigar: 'Ara yby sokeme, xe ruri. - Quando fustigava o sol a terra, eu vim. (VLB, I, 112); Aporosok. - Soco gente. (Fig., Arte, 89); abati soka - pilar milho (Fig., Arte, 73) ● i xokypyra - o que é (ou deve ser) pilado, socado (Fig., Arte, 108); o que é moído, coisa moída (VLB, II, 40)
moîekosub1 (v.tr.) - 1) fazer regozijar-se, agradar, fazer rejubilar-se, fazer alegrar-se muito: T'îandé rerasó o orypápe o îoesé îandé moîekosupa. - Que nos leve para seu lugar de felicidade para nos fazer regozijar consigo. (Ar., Cat., 5); Îori xe moîekosupa, nde rekokatu me'enga. - Vem para me fazer regozijar, dando tua boa lei. (Anch., Poemas, 130); 2) consolar: Ereîmoîekosupe nde ruba nde sy sekotebẽsaba ri? - Consolas teu pai e tua mãe em suas aflições? (Ar., Cat., 101); 3) ajudar (VLB, I, 29) ● moîekosupaba - tempo, lugar, modo, etc. de fazer regozijar-se; regozijo, satisfação: ...mendara moîekosupaba... - a satisfação dos cônjuges (Ar., Cat., 283, 1686); moîekosupara - o que faz regozijar-se, o que agrada, o que consola, o ajudador (em coisa difícil) (VLB, I, 29): Nd'e'i te'e... mba'e amõ resé i moîekosupara... Tupã nhe'enga abŷabo... - Por isso mesmo, o que os agrada em alguma coisa transgride a palavra de Deus. (Ar., Cat., 179)
poepyk (v.tr.) - 1) revidar, replicar (o que dizem), responder nos mesmos termos a, pagar na mesma moeda a (O objeto deste verbo pode ser uma coisa ou uma pessoa.): Abá nhe'enga poepyka tiruãpe asé Tupã nhe'enga abyû? - Mesmo replicando as palavras de alguém a gente transgride a palavra de Deus? (Ar., Cat., 74); Aîpoepyk Pero. - Replico a Pero (isto é, respondo-lhe nos mesmos termos). Aînhe'ẽ-poepyk Pero. - Replico as palavras de Pero. (VLB, II, 101); 2) retribuir: nde raûsuba poepyka... - retribuindo o amor a ti (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); Aîpoepyk semikûatiara. - Retribuí o que ele escreveu (isto é, escrevi-lhe como ele fez a mim). (VLB, I, 90); 3) vingar, desagravar: Xe anama poepyka ké ixé aîkó. - Para vingar minha família aqui eu estou. (Staden, Viagem, 157); 4) ter questões com (VLB, II, 94) ● poepykaba - tempo, lugar, modo, etc. de replicar, de revidar, de retribuir, etc.; réplica, resposta (VLB, II, 102); paga na mesma moeda ou de uma coisa por outra da mesma espécie (p.ex., ouro por ouro, punhada por punhada, carta em resposta a carta, etc.) (VLB, II, 62); poepykara - o que replica, o que retribui, etc.: ...Tupã o aûsuba poepykareté... - o que retribui verdadeiramente o amor de Deus a si (Ar., Cat., 166v)
NOTA - Daí se originam muitas palavras no P.B.: ACUERA (s. e adj.), coisas antigas, abandonadas ou extintas; TAPERA (taba + pûer + -a, "taba que foi"), casa ou aldeia abandonada; casa em ruínas; fazenda totalmente abandonada e em ruínas; CAPOEIRA, terreno em que o mato foi roçado ou queimado; mato que cresceu onde a mata virgem foi derrubada; QUIRERA (kuruba + -ûer + -a, "o que foi grão"), milho ou arroz quebrado; CATANGUERA, CATAMBUERA (ka'a + atã + mbûer + -a, "o que foi folha dura"), fruto atrofiado. Daí provêm, também, muitos nomes de lugares: IBIRAPUERA, CANGUERA, TABATINGUERA, PARIQUERA, ANHANGUERA, PIAÇAGUERA, etc. (v. p. 386).
marã?1 (interr.) - 1) por quê?: Marãpe xe soe'ymi? - Por que não vou eu? (Fig., Arte, 98); Marãpe nd'erenhemimi? - Por que não te escondes? (Anch., Teatro, 32); Akaîgûá! Marãpe xe ri erepûá? - Ai! Por que bates em mim? (Anch., Teatro, 32); 2) de que maneira? como?: Marãpe asé monhangi? - Como ele nos fez? (Ar., Cat., 25); 3) como assim? que dizes? (Diz quem não entendeu bem o que ouviu.): Marã? Ybyrá supé nhẽpe asé îerokyû? - Como assim? Diante de uma madeira a gente faz reverência? (Ar., Cat., 22); 4) que acontece? como fica? que faz? que vai? (Fig., Arte, 133) (Vem, com esse sentido, no final de sentenças sem -pe interrogativo.): A'epe o mena... mũetéramo sekó mombe'ue'yma, marã? - E não confessando ser parente verdadeira de seu marido, que acontece? (Ar., Cat., 71v); Oîá nhote kagûarape, marã? - O que bebe somente o suficiente, que acontece? (Ar., Cat., 78); Kagûarape marã? Nd'oîabyîpe Tupã nhe'enga? - E os que bebem cauim, como ficam? Não transgridem a palavra de Deus? (Anch., Diál. da Fé, 203); 5) qual?: Marãpe moranduba? - Quais as novidades? Quais as novas? (VLB, II, 92); Marãpe nde rera? - Qual é teu nome? (Léry, Histoire, 341); 6) quê? que coisa? [geralmente com os verbos 'i / 'é e ikó / ekó (t)]: Marãpe ereîkó? - Que fazes? (VLB, II, 92); Teté marã e'îabo mã!? - Ah, que dizes!? (Anch., Teatro, 50); Marãpe sekóû ybakypene? - Que farão no céu? (Ar., Cat., 47); 7) Usado sozinho significa que queres? que buscas? (VLB, II, 92); 8) E quanto a? E no que toca a?: Marãpe nde, Mboîusu? - E quanto a ti, Boiuçu? (Anch., Teatro, 154, 2006) ● marã-marã? - refere-se a mais de um (quais? que coisas?, etc.): Marã-marã-pakó îeí xe rekóû?... - Que coisas, pois, hoje eu fiz? (Ar., Cat., 74v); Marã-marãpe Santíssima Trindade rera? - Quais são os nomes da Santíssima Trindade? (Anch., Doutr. Cristã, I, 157); marãpemo? - por que seria que? por que razão haveria de? (VLB, II, 82); marã-pipó? - 1) quê? que dizes? (como o que não entendeu bem o que outrem disse ou respondendo ao que chamou) (VLB, II, 91, 92); 2) Que queres? Que buscas? (VLB, II, 92); marã-takó? - como mesmo? (isto é, pergunta-se sobre algo de que se sabia mas de que já se esqueceu): Marã-takó ahẽ rera? - Qual era mesmo o nome dele? (VLB, I, 77); marã-te? (ou marã-tepemo? ou marãmo-tepe?) - Como, pois? Como, então? Como seria, pois? Se não é assim, como seria? (VLB, I, 77); marã-tepene? - E pois, como há de ser? (VLB, I, 121); marã-te-p'iã-ne? - E, pois, como há isto de ser? (VLB, I, 121)
-mo3 1) part. que expressa o condicional: -I nhyrõ nhẽpemo Îandé Îara i xupé "nde nhyrõ ixébe" o îoupé i 'érememo? -I nhyrõ nhẽmo. -Perdoar-lhe-ia, sem mais, Nosso Senhor, se ele lhe dissesse "perdoa tu a mim"? -Perdoaria. (Ar., Cat., 58); ...Esykyîébomo, ereîkó-katumo. - Tendo medo, farias bem. (Ar., Cat., 112); Nde rurememo, aîuká umûãmo. - Se tivesses vindo, já o teria matado. (Anch., Arte, 22); Xe mondórememo, asómo. - Se me mandasse, iria. (Anch., Arte, 25); Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); 2) part. que expressa o optativo: Aîukámo mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Asómo Tupana pyri mã! - Ah, se eu fosse para junto de Deus! (Fig., Arte, 142)
era (t) (s.) - nome: Aîpó nhõ-pipó nde rera? - Esse somente é, de fato, teu nome? (Anch., Teatro, 44); Ta setá-katu xe rera! - Que sejam muitos os meus nomes! (Anch., Teatro, 64); Xe rera "Kururupeba". - Meu nome é "Sapo Achatado". (Anch., Teatro, 90); "Santa Maria" sera... - Santa Maria é o seu nome. (Anch., Poemas, 88); I porãngatu nde rera. - É muito belo o teu nome. (Anch., Poemas, 104); [adj.: er (r, s)] - nomeado; (xe) ter nome: Xe rer. - Eu tenho nome. (VLB, II, 50) ● seryba'e - o que tem nome, o chamado: Gûaîxará seryba'e... - o que tem nome Guaixará, o chamado Guaixará (Anch., Teatro, 6); sere'ymba'e - o que não tem nome, o não batizado: Ereîkópe sere'ymba'e amõ resé? - Vives com alguma não batizada? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89)
amõ1 (pron. subst. e adj.) 1) (na afirm. e interr. afirm.): algum (ns, a, as); certo (os, a, as); alguém; vários (as): Kó bé xe rembiaretá t'ame'ẽne amõ endébo... - Eis que também minhas muitas presas hei de dar algumas a ti. (Anch., Teatro, 46); Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); ...I xupé o apixara amõ me'enga... - Dando para ele alguma semelhante a si. (Ar., Cat., 72); Oîmonhangype Îandé Îara amõ sobaké? - Fez Nosso Senhor algum (milagre) diante dele? (Ar., Cat., 58v); "Ixé-temõ aîmombuk mã," erépe amõ supé? - Disseste a alguém: "-Ah, quem me dera desvirginá-la"? (Ar., Cat., 103v); 2) (na neg.): nenhum: Nd'aruri amõ parati... - Não trouxe nenhum parati. (Anch., Poemas, 152); ...Abá 'angûera amõ soe'ymi ybakype erimba'e? - Não ia para o céu outrora a alma de nenhum homem? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); 3) outro (os, a, as): ...amõ taba rapekóbo. - ...outras aldeias frequentando. (Anch., Teatro, 4); Eîar-y bé amõ. - Toma mais outro. (VLB, II, 60); Amõ abá abé mokõî robaké omendare'ymba'e n'omendari. - Não estão casados os que não se casam diante de duas outras pessoas também. (Ar., Cat., 128); ...Umãba'e bépe amõ sosé sekóû?... - Qual está acima dos outros? (Bettendorff, Compêndio, 42); 4) mais, além disso: Mba'epe amõ? - Que mais? (Léry, Histoire, 343); 5) um pouco de, uns poucos: Inimbó'i amõ reru. - Trazendo um pouco de linha. (VLB, I, 154) ● amõ amõ - 1) alguns (as); vários (as), diversos (as) (s. ou adj.): ...Amõ amõ o poti'a resé opûá-pûá... - Alguns ficavam batendo no peito. (Ar., Cat., 64); ...amõ amõ santos... - alguns santos (Ar., Cat., 139, 1686); Karaíba amõ amõ i angaîpá... - Vários homens brancos são pecadores. (Anch., Poesias, 55); 2) outros: Oîmoeté bé asé amõ amõ 'ara, i pupé oporabykye'yma. - Honra a gente também outros dias, neles não trabalhando. (Ar., Cat., 12v)
Um bom préstimo do estudo toponímico é o de aumentar nosso conhecimento do léxico do tupi antigo e das línguas gerais coloniais. Somente a toponímia revela-nos, por exemplo, que o substantivo pará designava rio, em tupi antigo. Gabriel Soares de Sousa informa, inclusive, que Pará era nome dado ao rio São Francisco. Vemos, ademais, centenas de nomes no Nordeste do Brasil que incluem o morfema ji (ou gi): Araçaji, Sergipe, etc. Ele é, na verdade, um alomorfe da palavra 'y (rio). Nenhum vocabulário nô-lo informa, mas a toponímia o faz. Assim, o estudo toponímico é um apêndice indispensável do estudo gramatical e lexical do tupi antigo.
kunumĩ (s.) - 1) menino, CURUMIM (Amaz.): Kunumĩ turusu. - O menino é grande. (Fig., Arte, 75); Nde pópe ogûapyka, osó kunumĩ... - Em tuas mãos sentando-se, vai o menino. (Anch., Poemas, 120); 2) meninice, idade de menino, tempo de menino, infância (compreendida entre 1 e 7 ou 8 anos) (D'Evreux, Viagem, 130): xe kunumĩ-era - meu nome de meninice, meu nome de infância (Anch., Arte, 9v); 3) moço, rapaz (VLB, II, 96) (v. tb. kunumĩgûasu): Onheŷnhang umã sesé kunumĩetá kagûara... - Já se juntaram por causa disso muitos moços bebedores de cauim. (Anch., Teatro, 24); kunumĩ-nhembo'e - moço que aprende, moço aprendiz (Anch., Arte, 32) ● kunumĩ-a'uba - rapaz (por desprezo, pejorativo) (VLB, II, 96)
ybyrá1 (s.) - 1) madeira, pau (Fig., Arte, 69); vara: Aînupã xe ra'yra ybyrá pupé. - Açoitei meu filho com uma vara. (Fig., Arte, 125); Ybyrá karamemûã, ygarusu nungara... pupé i mo'ar-uká. - Mandando fazê-los embarcar numa arca de madeira, semelhante a um navio... (Ar., Cat., 41v); ...Ereropûar ybyrá nde remirekó resé! - Bateste com o pau na tua esposa! (Anch., Teatro, 168); 2) árvore: Aybyrá-'ab. - Corto a árvore. (Fig., Arte, 145); 3) madeiro (VLB, II, 27); cruz: ...Ybyrá pupé omanõmo... - Morrendo na cruz. (Anch., Poemas, 90) ● ybyrá-ypypûera - cepo, o toco da árvore que foi cortada (VLB, I, 70); ybyrá'ĩ - vara (VLB, II, 141); ybyrá-pararanga - roda de madeira (de carro, etc.); ybyrá-nhatimana - roda de madeira, como mó de barbeiro, engenho de algodão (que não toca o chão), etc.; ybyrá-babaka - roda de madeira (para algodão) (VLB, II, 107)
aîpó (dem. pron. e adj.) - esse (es, a, as), aquele (es, a, as), isso, aquilo: Mbobype aîpó i 'éû? - Quantas vezes disse isso? (Ar., Cat., 55v); Aîpó nhẽ-pipó ereîkó? - Porventura fazes isso à toa? (Anch., Teatro, 22); Aîpó nhõ-pipó nde rera? - Esse, somente, é de fato teu nome? (Anch., Teatro, 44); T'asó aîpó nhe'enga mopó... - Hei de ir cumprir essas palavras. (Anch., Teatro, 60); T'asó nde pyri, kori, aîpó tubixaba gûabo. - Hei de ir junto de ti, hoje, para comer aqueles reis. (Anch., Teatro, 66); Eteumẽ, aîpó tekó kuab'iré, tekó-poxy rerekóbo. - Guarda-te, após conhecer essa lei, de ter má vida. (Anch., Poemas, 158); Aîporama resé é peîmongaraíb abaré pyri. - É por isso que o batizais junto ao padre. (Ar., Cat., 127v); Abá nhe'engûerape aîpó? - Palavras de quem são essas? (Ar., Cat., 35); (adv.) eis que esse (es, a, as), eis que aquele (es, a, as): Aîpó turi. - Eis que esse vem (ouvindo sua voz, somente, não o vendo). (VLB, I, 109); Aîpó xe me'engarama ruri... - Eis que veio o que me entregará. (Ar., Cat., 53v) ● aîpó nhẽ! - É isso! Aí é que está!: Aîpó nhẽ! Xe putupab nhẽ nde ri. - Aí é que está! Eu estou surpreso por tua causa. (Léry, Histoire, 353); aîpó suí - daí, desse lugar (que tu dizes) (VLB, I, 89)
poraseîa (m) (s.) - dança ritual, PORACÉ, dança exclusivamente masculina: Moraseîa é i katu... - A dança é que é boa. (Anch., Teatro, 6); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30); T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma, moraseîa, mbyryryma... - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés, em danças e rodopios. (Anch., Teatro, 118); Ererobîápe... maraká poraseîa? - Acreditas na dança do maracá? (Ar., Cat., 98v) ● poraseî-tapuîa - dança tapuia, tipo de dança realizada pelos tupinambás do Maranhão no séc. XVII, caracterizada por muitos deslocamentos, movimentos da cabeça e das mãos, por batidas dos pés na terra ao som da voz e do maracá. (D'Evreux, Viagem, 173)
esé (r, s) (posp.) - 1) com [sentido de companhia, levando o verbo para o plural]: Nde resé memẽ oroîkó... - Contigo sempre estou. (Anch., Poemas, 84); N'ereîkuabipe ko'yr te'õ nde resé sekó? - Não sabes que agora a morte está contigo? (D'Abbeville, Histoire, 350); Mba'e-py'aûpîara kaûĩaîasy resé i monani... - Uma coisa amarga com vinagre misturaram. (Ar., Cat., 63v); Sesé orosó. - Vou com ele. (Anch., Arte, 44v); Penheŷnhang pabẽ sesé! - Ajuntai-vos todos com eles! (Anch., Teatro, 60); 2) a respeito de, de: ...Sesé oma'enduaramo. - A respeito dele lembrando-se. (Ar., Cat., 22); Ma'e resé îandé mongetáû? - A respeito de quê conversamos? (Léry, Histoire, 358); 3) em (em sentido locativo não geográfico): Tupana resé aîkó. - Vivo em Deus. (Fig., Arte, 166); ...Xe aé aporomoingó moropotara resé. - Eu mesmo pus gente no desejo sensual. (Anch., Teatro, 36); atuá resé - na nuca (Fig., Arte, 126); Sesé i moîarypyramo omanõmo... - Nela (isto é, na cruz) morrendo crucificado. (Ar., Cat., 22); Enhonong nde itaingapema nde ku'a resé. - Põe tua espada na tua cintura. (Fig., Arte, 125-126); 4) em (em sentido temporal): Putuna amõ resé... - Numa certa noite... (Ar., Cat., 7); 5) na pessoa de: Na xe ra'y-potari nde resé. - Não quero meu filho na tua pessoa (isto é, não te quero ter por filho). (Fig., Arte, 124); Xe rembiá-potá sabeypora amõ resé... - Eu quero presas nas pessoas de alguns bêbados. (Anch., Teatro, 150, 2006); 6) por; por causa de [às vezes com um deverbal em -sab(a)]: Abápe asé resé Tupã mongetasara sekóû? - Quem é a que fala a Deus por nós? (Ar., Cat., 23); Eîerok moxy resé ta nde rerapûãngatu. - Arranca-te o nome por causa dos malditos, para que sejas muito famoso. (Anch., Teatro, 46); Aîeruré aoba resé Pedro supé. - Peço a Pedro por roupa. (Anch., Arte, 44); ...Mba'e-asy porarábo Tupana resé... - Suportando as coisas dolorosas por causa de Deus. (Anch., Teatro, 120); Oromoeté-katu... nde xe pysyrõagûera resé. - Louvo-te muito por me teres salvado. (Ar., Cat., 87v); 7) para [com o sentido de finalidade; às vezes com um deverbal em -sab(a)]: Tupã... moeteagûama resé. - Para honrar a Deus. (Ar., Cat., 24); Ne emongetá nde Tupã t'okûab é amanusu îandé momarane'yma resé. - Roga a teu Deus para que passe a tempestade para não nos arruinar. (Staden, Viagem, 66); 8) contra: Aîtyk nhe'enga sesé. - Lanço palavras contra ele. (Anch., Arte, 44v); Quatro tekoangaîpaba ybaka resé oposẽ-posemba'e. - Quatro são os pecados que ficam bradando contra os céus. (Bettendorff, Compêndio, 17); 9) de (de posse, pertença), destinado a, tocante a, cabível a: Xe resendûara ebokûea. - Isso é o que é destinado a mim. (VLB, II, 74, 129); 10) no encalço de, atrás de (a perseguir, a importunar): Xe resé-katu ahẽ rekóû. - Fulano está muito atrás de mim (isto é, fica no meu encalço, a importunar-me). (VLB, II, 74); So'o resé aîkó. - Estou atrás de caça. (VLB, II, 41) ● mba'e resé? - por quê? (VLB, II, 82); mba'erama resé? - 1) por quê? (referente a algo posterior a um determinado marco temporal): Mba'erama resépe Tupã i me'engi asébe? - Por que Deus os deu para a gente? (Ar., Cat., 23v); 2) para quê?: -Mba'erama resépe Tupã semirekorama monhangi? -I pytybõsarama resé... - Para que Deus criou a esposa dele? -Para sua futura ajudante... (Ar., Cat., 48); mba'e-resémo? - por que seria que? por que razão haveria de? (VLB, II, 82)
Cuiabá (capital de MT). De kuîaba - var. de cuia. Segundo Barboza de Sá [1775], "Destes o primeiro que subiu o rio Cuyabá asim chamado dizem huns que por acharem em suas margens cabaços plantados de que faziam cuias para seus usos, outros que o nome de Cuyabá procedeu de huma cuia que os primeiros que subiram este rio acharam sobre as águas que ia rodando, por donde inferiram que havia gente por ele acima e por esta inferência subiram em procura dela, outros disseram que o nome de Cuyabá é apelido do gentio que nas margens deste rio habitava e cada qual siga a opinião que quiser, que não é ponto de fé nem pragmática de Rei, que eu sempre estou que a nomeação foi derivada dos cabaceiros ou da cuia, que gentio deste nome nunca achei nem tive dele notícia, sendo dos segundos que cultivaram estes sertões e examinei tudo o que neles havia." (in Relação das Povoaçoens do Cuyabá em Mato Groso de Seos Principios thé os Prezentes Tempos, pp. 6-7).
so'o1 (s.) - 1) animal (quadrúpede), bicho, caça: ...So'o, pirá, gûyrá retãme'engaba é ikó 'ara... - Este mundo é a terra prometida dos animais quadrúpedes, dos peixes e dos pássaros... (Ar., Cat., 166v); Okûabépe irã so'o...? - Escaparão futuramente os animais quadrúpedes? (Ar., Cat., 46); 2) carne de caça, carne vermelha de animal: Nd'o'uî asé so'o îekuakuba 'ara pupé. - A gente não come carne de caça no dia de jejum. (Ar., Cat., 10v); Aîeruré so'o resé. - Peço por carne (de caça). (D'Evreux, Viagem, 144); So'o resé aîkó. - Estou em busca de caça. (VLB, II, 41) ● so'o-Îurupari - animais com que Jurupari convive, que só andam à noite, soltando gritos horríveis, servindo àquele sexualmente, ativa ou passivamente (D'Evreux, Viagem, 293); so'o-aíba - animal quadrúpede que não se come (VLB, I, 36); so'o-kugûaba - conhecedor de animais, bom de caça (fal. de cão) (VLB, I, 62)
aíba1 (s.) - 1) maldade, ruindade; AÍVA, coisa vil (VLB, I, 136; II, 145); ...Îandé aíba t'oîpe'a. - Que afaste nossa maldade. (Anch., Poemas, 182); 2) feiúra: Anotĩ xe aíba. - Envergonho-me de minha feiúra. (VLB, I, 83); 3) grosseria (VLB, I, 151); 4) aspereza (do mato, do caminho) (VLB, I, 44); 5) incompleteza, superficialidade; (adj.: aíb) - 1) mau, ruim, AÍVA, podre (em geral), desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80): Aûîé kunumĩgûasu o ekó-aíbeté oîomim... - Enfim, os moços escondem seus muito maus procedimentos. (Anch., Teatro, 38); I îasear apŷabaíba... - Uniram-se os homens maus. (Anch., Teatro, 54); anhangaíba... - diabo mau (Anch., Poemas, 90); 2) grosseiro, rústico, tosco, bruto: Xe aíbusu. - Eu sou grosseirão. (VLB, I, 151); 3) áspero, impraticável (fal. de mato, de caminho): pé-aíba - caminho impraticável (VLB, I, 45); 4) debilitado, enfraquecido, de saúde corrompida, estragado com o uso: Xe aíb. - Eu estou debilitado. (VLB, I, 83; 130); 5) envelhecido (com o uso; fal. de coisas) (VLB, I, 119); velho: Gûyrá-aibusu - pássaro muito velho (antropônimo) (D'Abbeville, Histoire, 187); 6) incompleto, superficial: mba'easy-aíba - doença superficial, indisposição, doença fraca (VLB, II, 28); (adv.) - 1) mal: Aîkó-aíb. - Vivo mal. (Fig., Arte, 138); Arekó-aíb. - Trato-o mal. (Fig., Arte, 138); 2) falsamente, não completamente, superficialmente: Amanõ-aíb. - Morro falsamente, isto é, desmaio, desfaleço. (VLB, I, 125); Asendub-aíb nde nhe'enga. - Entreouvi tuas palavras (isto é, ouvi-as superficialmente). (VLB, I, 119); 3) com afronta: Aîmondó-aíb. - Mando-o com afronta. (Fig., Arte, 138); 4) tirante a, que tende a: pyrangaíb - tirante a vermelho (VLB, II, 128)
esá (t) (s.) - olho (Castilho, Nomes, 38); vista: Xe resá pupé-katu asepîak nde i mimagûera. - Bem com os meus olhos vi que tu as escondeste. (Anch., Teatro, 176); Nde resá poraûsubara erobak ixé koty... - Teus olhos misericordiosos volta em minha direção. (Anch., Poemas, 146); [adj.: esá (r, s)] - dotado de olho; (xe) ter olho: Xe resá-ynhusu. - Eu tenho olhos esbugalhados. (VLB, II, 56) ● esápe (t) - à vista de, aos olhos de: Tupã resápe ã xe rekóû... - Eis que estou à vista de Deus. (Ar., Cat., 66); Sesé abá pûari nde resápe nhẽ. - Os homens batem nele à tua vista. (Anch., Poemas, 122); gûesá-popybo (ou gûesá-popybonhote) - com o rabo do olho, de esguelha (VLB, II, 56); esá-rorẽ (t) - olhos encovados (VLB, II, 56); esá-tinga (t) - olhos claros (azuis, verdes-azulados, verdes esbranquiçados), tirantes a brancos; olhos enevoados: Xe resá-ting. - Eu tenho olhos claros. (VLB, I, 147); Og uba rupi ahẽ resá-tingamo. - Ele tem olhos claros como seu pai. (VLB, II, 131); esá-îuba (t) - olhos claros, gázeos, tendendo a brancos, zarcos: Xe resá-îub. - Eu tenho olhos zarcos. (VLB, I, 147); esá-kûá-rorẽ (ou esá-kûá-rorẽ-muku) (t) - olhos encovados: Xe resá-kûá-rorẽ. - Eu tenho olhos encovados; esá-kûasó (ou esá-kûasó-puku ou esá-kûarûé-mba'easy) (t) - olhos encovados (como os de um doente) - Xe resá-kûasó-puku. - Eu tenho olhos encovados. (VLB, I, 115); esá-banga (t) - olhos vesgos (VLB, II, 144); esá-oby (t) - olhos enevoados: Xe resá-oby. - Eu tenho olhos enevoados. (VLB, II, 49); esá-tunga (t) - olho quebrado, torto ou todo coberto, mas não vazio (VLB, II, 133); esá-ynhusu (t) - olhos esbugalhados: Xe resá-ynhusu. - Eu tenho olhos esbugalhados. (VLB, II, 56)
ta (part. do modo permissivo) - 1) que (exprimindo desejo, permissão, etc.): Xe syramongatu t'oîkó... - Que seja minha mãe, de fato. (Anch., Poemas, 86); Ta xe pysyrõ marãtekó suí... - Que me livre das dificuldades... (Ar., Cat., 23); T'omanõ! - Que morra! (Ar., Cat., 56v); Ta nde sok. - Que te pique. (Fig., Arte, 152); Ta xe îuká Pedro. - Que Pedro me mate. (Fig., Arte, 152); 2) para que (em orações subordinadas adverbiais finais): Ikó abá arur iké... ta peîkuab... - Este homem trago aqui para que o reconheçais... (Ar., Cat., 60v); Eîerok... ta nde rerapûãngatu. - Arranca-te o nome para que sejas muito famoso. (Anch., Teatro, 46); Eru pirá t'a'une. - Traze peixe para que o coma. (Anch., Arte, 23); 3) exprimindo ordem, como marca de imperativo: T'îasó xe irũnamo. - Vamos comigo. (Anch., Arte, 23v); T'îaîuká xe mena... - Matemos meu marido. (Ar., Cat., 279); 4) corresponde a haver de, a exprimir determinação (sempre com a partícula -ne posposta ao verbo que ta acompanha): T'aîybõne! - Hei de flechá-lo! (Anch., Teatro, 32); T'aîpapáne i angaîpaba... - Hei de contar os pecados deles. (Anch., Teatro, 34); T'ame'ẽne pirá ruba endébo... - Hei de dar ovas de peixe para ti. (Anch., Teatro, 44)
îar1 / ar(a) (t, t) (v. tr. irreg.) - 1) prender, apanhar, tomar, catar, pegar: ...tapuîa rara... - prender tapuias (Anch., Teatro, 8); Abá rokype erekûá tá, nhemim-y îanondé? - Na casa de quem passaste tomando-as, antes de te esconderes? (Anch., Teatro, 44); Eîá-te xe rubixaba! - Mas apanha, antes, meu chefe! (Anch., Teatro, 76); Nd'ogûar-ukarype Îudeus a'e cruz abá supé...? - E os judeus a um homem não mandaram tomar aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); 2) tomar, ingerir (bebida ou comida): Xe potaba kaûĩ rá. - O que me cabe é tomar cauim. (Anch., Teatro, 22); 3) receber; aceitar: Aîar itaîuba (abá) suí. - Aceitei dinheiro do homem. (VLB, I, 19, adapt.); Ahẽ xe re'õ-motareme, aîpotá-katu,... îasuka rara roîré. - Se ele quiser matar-me, bem o desejo, após receber o batismo. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); ...O boîáramo pe rari. - Como seus discípulos receberam-vos. (Anch., Teatro, 54); 4) acatar, assumir: Aûîé, kó temiminõ nd'ogûari Tupã rekó... - Enfim, esses temiminós não acatam a lei de Deus... (Anch., Teatro, 20); ...N'aîari kó sekó-angaturama... - Não acato essa sua boa lei. (Ar., Cat., 25v); 5) tirar (o fogo, com pederneira, com fuzil): Eresaûsubarype i mba'easyreme, satá-á... - Tu te compadeceste deles quando eles estavam doentes, tirando-lhes fogo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86); 6) tomar as feições de, os traços de, sair a: Og uba ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços de seu pai; Og uba resá ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços dos olhos de seu pai. (VLB, II, 131); 7) colher (o que se semeou no chão. Para colher frutas, v. po'o) (VLB, I, 77); 8) resgatar (VLB, II, 102); 9) guardar, observar, praticar: Aîá pá îekuakuba. - Pratiquei todos os jejuns. (Anch., Teatro, 172) ● ogûaryba'e - o que toma, o que apanha, o que recebe, etc.: ...Îekuakubusu îabi'õ Tupã ogûare'ymba'e. - O que não recebe a Deus (isto é, não comunga) a cada Quaresma. (Ar., Cat., 76v); asara (t, t) - o que toma, o que pega, o que recebe: ...I poxyba'e tasara te'õ ogûar o îoupé... - Os que são maus, que o tomam, recebem a morte em si. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1686); ...semiîukapûera rasara - o que apanha o que ele matou (Ar., Cat., 73); emiîara (ou embiîara) (t, t) - o que alguém apanha, toma, pega, etc.: xe remiîara - o que eu tomo (Anch., Arte, 58v); Ogûemimbo'e pyri o karuápe, miapé o pópe gûemiîara i moîebyû... - Ao comer junto dos seus discípulos, o pão que apanhou em suas mãos devolveu-o. (Ar., Cat., 5); tarypyra - o que é (ou deve ser) tomado, pego, etc.: ...Abá remimotara rupi tarypyrama é amoaé mokõî. - Aqueles outros dois deverão ser tomados segundo a vontade das pessoas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 223); asaba (ou araba) (t, t) - tempo, lugar, modo, etc. de pegar, de receber, de tomar; tomada, recepção: E'ikatupe asé aîpoba'e rasápe ogûera rekobîarõmo? - Pode a gente trocar seu próprio nome ao receber aquele? (Ar., Cat., 83v)
ne'ĩ (ou ene'ĩ) (part.) - 1) eia! vamos! pois! pois sim! sus! (VLB, I, 33) (Leva o verbo para o gerúndio.): Ne'ĩ taûîé xe reîyîa...! - Eia, afasta-me depressa! (Anch., Poemas, 98); Ne'ĩ sekyîa ko'yté! - Eia, puxa-o enfim! (VLB, II, 58); ...Ne'ĩ t'asó nde irũmo...! - Eia, hei de ir contigo...! (Anch., Teatro, 64); Ne'ĩ t'osó! - Sus, que ele vá! (Anch., Arte, 56v); Ne'ĩ mba'e monhanga! - Vamos, faze algo! (Fig., Arte, 163); 2) tudo bem; de acordo; muito bem; está certo (consentindo) (Fig., Arte, 136): Ne'ĩ a'é. - Digo que está muito bem (aceitando como opinião própria ou concedendo algo). (VLB, I, 19); -Esenõî mbá! -Koromõ! -Ne'ĩ! -Nomeia tudo! -Logo mais! -Tudo bem! (Léry, Histoire, 343) ● ne'ĩ n'endé aé - faze como te parece (VLB, II, 17); ne'ĩ anhẽ (ou ne'ĩ anhẽhengûy) - forma negativa de ne'ĩ (VLB, II, 58); neĩ bé! - outra vez! torna a fazer! (Fig., Arte, 135); ne'ĩ îandé (ou ne'ĩ nehẽ ou ne'ĩ-ne îandé ranhẽ ou ne'ĩ ranhẽ) - saudação do que se despede (VLB, II, 113); ne'ĩ ne'ĩ! - eia! (incitando com ênfase) (VLB, I, 29); ne'ĩ rõ! (ou ne'ĩ-ne rõ!) - eia, pois; pois assim; pois assim o queres (VLB, I, 108)
ruã1 (part. de neg. Nega partes da oração que não são o predicado. Nega, também, substantivos. É acompanhada pela partícula na (nda), que precede o termo ao qual ruã se pospõe.) - 1) não: N'asé ruba ruã-tepe asé reté oîmonhang? - Mas não foi nosso pai que fez nosso corpo? (Ar., Cat., 25); Na abaré ruã ixé. - Eu não sou padre. (Anch., Arte, 46v); Na ixé ruã asó. - Não sou eu que vou. (Anch., Arte, 47v); Na xe ruba supé ruã aîme'eng. - Não foi a meu pai que o dei. (Anch., Arte, 47v); Na ixé sóreme ruã turi. - Não porque eu fui veio ele. (Anch., Arte, 47v); Na mba'e 'u potá ruã aîur. - Não querendo comer, venho. (Anch., Arte, 47v); Xe resaraî é gûitekóbo, n'aseîá-potá ruã! - Eu estava-me, mesmo, esquecendo e não querendo omiti-lo. (Anch., Teatro, 180, 2006); 2) Após uma negativa significa não deixando de, não que: "Mba'epe pesekar?" e'i, na semiekara kuabe'yma ruã. - Disse: "-Que procurais", não que não soubesse o que eles procuravam. (Ar., Cat., 75)
mba'e3 (ou ma'e) (s.) - 1) coisa: O mba'e, nipó, asé o py'a pupé saûsubi. - Suas próprias coisas, na verdade, a gente ama em seu coração. (Anch., Teatro, 28); Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); 2) bens, riqueza, haveres, mercadoria, objeto, tudo o que pertence a alguém: Kó abá semirekó abé opá o mba'e mombabi... - Esse homem e sua esposa também fizeram acabar todas as suas riquezas... (Ar., Cat., 7); Aîpó abá ma'e îara îandébe. - Esses homens são os que portam riquezas para nós. (Léry, Histoire, 355); A'epe n'oerekóî pe rubixaba ma'e? - E vosso rei não tem riquezas? (Léry, Histoire, 362); 3) animal, bicho, ser inferior: mba'e-kagûera - gordura de animal (VLB, I, 117); 4) termo usado para chamar alguém de forma depreciativa ou vulgar: Mba'e-embegûasu! - Coisa beiçuda! (VLB, I, 54); Mba'e-mondá! - ladrão! (lit., coisa que rouba); Mba'e-poru! - Comedor de carne humana! (Anch., Arte, 32); Mba'e-u'uma...! - Coisa enlameada! (Anch., Teatro, 44); (adj.) - rico, (xe) ter bens: Xe mba'e. - Eu tenho bens. (VLB, I, 54) ● i mba'eba'e - o que tem coisas, o que é rico: I mba'eba'e ixé. - Eu sou o que é rico. (VLB, II, 105)
u'i (s.) - farinha (feita pelos índios com raspas espremidas de raízes como a mandioca ou a macaxeira) (D'Abbeville, Histoire, 305): Ere'upe so'o... u'i rerekóbo nhẽpe...? - Comeste carne de caça, tendo farinha? (Ar., Cat., 111); Aîeruré u'i resé. - Peço por farinha. (D'Evreux, Viagem, 144) ● u'i-abiruru - farinha feita de mandiopuba (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-atã (ou u'itã) - farinha dura de raízes, principalmente de mandioca, feita com a mistura da mandioca apodrecida, antes de seca, com a mandioca seca e com a fresca; farinha de guerra, isto é, a que se levava para as batalhas para nutrir os índios (Staden, Viagem, 142); farinha de mandioca seca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-apu'a - pelouros grandes que se faziam da mandioca curtida, com que depois davam cor à farinha de guerra (VLB, II, 71); u'i-esakûatinga - var. de farinha menos torrada e durável que a u'i-atã, por ser menos cozida (VLB, I, 135; Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §73, 148); farinha de mandioca quase seca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-îará - var. de farinha: Eîori u'i-îará gûabo. - Vem para comer farinha. (Fig., Arte, 141); u'ipeba - farinha fresca retirada da mandiopuba (Piso, De Med. Bras. IV, 177); u'i-puba - farinha puba, farinha d'água, ou seja, de mandioca curtida, que se espremia no tipiti e que se passava pela urupema (VLB, I, 135); u'i-puku - var. de farinha de mandioca (VLB, I, 114); farinha feita de mandiopuba; bolas de farinha puba feitas com as mãos e secadas ao calor do sol (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-syka - farinha de mandioca seca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-tinga - farinha de mandioca ainda mole, meio cozida (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
pyk1 (v. intr.) - 1) calar-se: Opyk o'ama, i nhe'engobaîxûare'yma. - Estava-se calando, não respondendo as palavras deles. (Ar., Cat., 56); 2) acalmar-se (o vento, etc.); amainar (p.ex., a fúria) (VLB, I, 19); aquietar-se: Mba'epe ké tuî opyka? - Que aqui está deitado, aquietando-se? (Anch., Teatro, 42); 3) cessar, cessar de, parar de, deixar de ser: N'opyki i nhe'engatã... - Não cessam suas palavras duras. (Anch., Teatro, 148); Opyk amana. - Cessou a chuva. (VLB, I, 122); Nde angaturama n'opyki. - Tua bondade não cessa. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618); ...Marã 'é n'opyki xóne... - Não cessarão de dizer maldades. (Anch., Teatro, 36); Îandé-te îapyk umẽ senõîa... - Mas que nós não paremos de chamá-la. (Anch., Poemas, 186); N'opyki nhemombegûara îandé pó suí sembiara. - Não deixam de ser presas de nossas mãos os que se confessam. (Anch., Teatro, 158, 2006); 4) ficar pensativo, ficar absorto: Apyk gûitekóbo. - Eu estou ficando pensativo. (VLB, II, 72); (v.tr.) calar: Aîîuru-pyk. - Calei a boca dele. (VLB, II, 124); Aîopyk xe nhe'enga. - Calei minhas palavras. (VLB, I, 19) ● pykaba - tempo, lugar, modo, etc. de calar, de cessar, etc.; cessação: ...Aîpó sábado pysyrõû i pupé ybŷá morabyky suí o pykápe... - Eis que o sábado reservou para a cessação do trabalho nele. (Ar., Cat., 11v)
ma'ẽ (v. intr. compl. posp.) - 1) olhar [para algo ou para alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Marã e'ipe asé o py'ape ybaka resé oma'ẽmone? - Como dirá a gente em seu coração, olhando para o céu? (Ar., Cat., 26); Ema'ẽngatu oré ri...! - Olha bem para nós! (Anch., Poemas, 102); T'oma'ẽ îandé resé pitangĩ-moraûsubara... - Que olhe para nós o neném compadecedor. (Anch., Poemas, 164); Ema'ẽ-te ranhẽ! - Mas olha primeiro! Olha cá! (como que mostrando alguma coisa notável) (VLB, II, 55); 2) (v. intr.) enxergar, ver: N'ama'ẽî. - Eu não enxergo (isto é, eu sou cego). (VLB, I, 70) ● ma'ẽsaba (ou ma'ẽndaba) - tempo, lugar, modo, causa, objeto, etc. do olhar, da visão: Mba'epe asé oîmoinukar o kotype o ma'ẽsabamo? - Que a gente manda pôr em seu aposento como objeto de seu olhar? (Ar., Cat., 93); Peîmoín amõ cruz oîepé kó mara'abora robaké sesá ma'ẽndabamo. - Ponde uma cruz diante deste doente como objeto da visão de seus olhos. (Ar., Cat., 142); (O imperativo pode ser usado sem os prefixos e- ou pe-): ma'ẽ! - olha!: Ma'ẽne, tupinambá Paragûasupendarûera... opakatu îamombá. - Olha, arrasamos todos os tupinambás que estavam no Paraguaçu. (Anch., Teatro, 14)
syk1 (v. intr. compl. posp.) - 1) chegar [a certo tempo: compl. com esé (r, s); a certo lugar: compl. com -pe; a certa pessoa: compl. com esé (r, s) ou ri]: Mokõî oîoirundyk oito 'ara sykeme... i 'apira mondoki. - Ao chegar o oitavo dia, cortaram seu prepúcio. (Ar., Cat., 3); Osyk oré ri sendy îepinhẽ. - Chegou a nós sua luz para sempre. (Anch., Poemas, 124); ...Kunumĩgûasu... catorze ro'y resé i xyke'yma, nd'e'ikatuî abá resé omendá. - Um rapaz, não chegando aos catorze anos, não pode casar-se com ninguém. (Ar., Cat., 277, 1686); T'osyk esapy'a o îukaagûãme. - Que chegue logo ao lugar de o matarem. (Ar., Cat., 88, 1686); Orosy-syk. - Chegamos sucessivamente. (VLB, I, 72); 2) achegar-se, aproximar-se [de alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Nde resé te'õ n'osyki... - De ti a morte não se aproximou. (Anch., Poemas, 148); N'aîpotari pe ri i xyka. - Não quero que ele se achegue a vós. (Anch., Teatro, 188, 2006); 3) tocar (como o barco no fundo) (VLB, II, 130); 4) equiparar-se, atingir, chegar (isto é, quantidade, número, como em "os visitantes chegam a mil") (VLB, I, 134) [compl. com esé (r, s) ou upi (r, s)]: ...'Y berame'ĩ ikó îandé ratá rasy; n'osyki Anhanga ratá rasy resé. - Eis que a dor de nosso fogo parece a da água; não se equipara à dor do fogo do diabo. (Ar., Cat., 163v); -Mbobype a'e asé rekomonhangaba? -Mokõî asé pó papasaba rupi i xyki. -Quantos são os mandamentos d'Ele à gente? -Eles equiparam-se aos números das duas mãos da gente. (Ar., Cat., 95, 1686)
a'yra3 (t, t) (s.) - 1) filho (em relação ao pai): -Abá ra'yrape ûĩ?! -Sé! -Filhos de quem eram esses?! - Sei lá! (Anch., Teatro, 48); Pe rory, xe ra'yretá, xe ri. - Alegrai-vos, meus filhos, por minha causa. (Anch., Teatro, 50); Ata'y-nupã xe atuasaba. - Açoito o filho de meu compadre. (Fig., Arte, 88); Aîta'y-me'eng Pedro. - Dou-lhe os filhos de Pedro. (Anch., Arte, 50v); 2) sobrinho, filho de irmão (de h.) (Ar., Cat., 115v); 3) filho de primo (de h.) (Ar., Cat., 115v); 4) filhote (macho) de animal: Mokõî pykasu ra'yra i xy ogûerasó îetanongabamo. - Dois filhotes de pomba sua mãe levou como oferenda. (Ar., Cat., 3v); 5) originário, natural de, filho (de uma dada terra): Xe Îetu'u ra'yrûera. Anhemonhang i pupé. - Eu sou antigo filho de Jetuú. Criei-me dentro dela. (Anch., Poemas, 152); 6) os filhos, a prole (de h.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276) ● xe ra'yra xe remimonhanga - meu filho que gerei (para distinguir de outros que também podiam ser chamados ta'yra - in Anch., Cartas, 459). Pode formar vocativo em -t: Xe ra'yt! - Meu filho! (Anch., Arte, 8v)
îur / ur(a) (t, t) (v. intr. irreg.) - 1) vir: Ybaka suí ereîur... - Vieste do céu. (Anch, Poemas, 100); Kurusá xe pópe sekóreme... t'our é Îurupari. - Se a cruz estiver em minha mão, que venha o diabo. (D'Abbeville, Histoire, 357); Aîune ixé, pe remi'urama! - Venho eu, a vossa futura comida! (Staden, Viagem, 67); Aîur xe kó suí. - Venho da minha roça. (Fig., Arte, 9); Mba'e resépe ereîur xe remiaûsukatu gûi?... - Por que vieste, ó meu muito amado? (Ar., Cat., 54); 2) fórmula de saudação para o que chega: -Ereîupe? -Pá, aîur. -Vieste? -Sim, vim. (Léry, Histoire, 341); 3) ir (em fórmulas de saudação daqueles que partem): Ne'ĩ, xe aîur kó. - Eia, eis que vou. (D'Evreux, Viagem, 144); Ne'ĩ, oroîur kó. - Eia, eis que vamos. (D'Evreux, Viagem, 144); Aîur ikó. - Eis que me vou. (Fig., Arte, 141); 4) crescer, subir (a maré): Our paranã. - Subiu a água do mar. Ourusu 'y. - Cresceram muito as águas (isto é, subiu a maré). (VLB, I, 85); 5) ficar de vez, morar: Gûitu aîur. - Vim para ficar de vez (isto é, para morar). (VLB, II, 41); 6) No permissivo, na 3ª p., pode ter o sentido de deixa que, deixai que, levando o verbo para o modo indicativo circunstancial: T'oú turi. - Deixa-o que venha. T'oú turi ranhẽ. - Deixa que venha primeiro. (VLB, I, 92); T'oúne turi. - Deixa que venha. (VLB, I, 92) ● usaba (ou uraba) (t, t) - tempo, lugar, modo, etc. de vir, a vinda: Kó xe 'anga, nde rusaba, nde rupabamo t'oîkó. - Eis que minha alma, lugar de tua vinda, há de estar como teu leito. (Anch., Poemas, 128); Turagûera moetesabamo... kó 'ara îamoeté. - Como modo de honrar sua vinda, este dia honramos. (Ar., Cat., 5); îurusu - virem muitos juntos: Oroîurusu. - Viemos muitos. (VLB, II, 146) [No imperativo tem as formas irregulares eîori! ou eîor! - vem! peîori! ou peîor! - vinde! Na 1ª pess. do sing. do gerúndio é gûitu - vindo eu. Não admite o prefixo s- nas formas nominais: tura - a vinda dele (e não sura).]
-(r)amo (posp. átona - sua forma nasalizada é -namo): 1) como, na condição de; em [Com o verbo ikó / ekó (t) forma locução correspondente ao verbo ser do português.]: ...Ybyramo i moingó-ukare'yma. - Em terra não os fazendo transformar. (Ar., Cat., 179v); ...Serekoaramo ûitekóbo... - Estando como seu guardião (ou sendo seu guardião). (Anch., Teatro, 4); Pitangamo seni Maria îybápe. - Como criança está sentado nos braços de Maria. (Anch., Poemas, 108); Nde manhanamo t'oîkóne! - Ele há de ser (ou há de estar na condição de) teu espião! (Anch., Teatro, 32); ...Xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Como meus súditos em minhas mãos bem os tenho a todos. (Anch., Teatro, 34); Pitangĩnamo ereîkó… - Uma criancinha és (ou na condição de uma criancinha estás). (Anch., Poemas, 100); 2) segundo, conforme: Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava segundo a lei primeira. (Anch., Poemas, 114); 3) Forma o gerúndio de predicados nominais: ...o mba'epûeramo... - sendo coisa antiga (Ar., Cat., 74); O angaîpabamo... - Sendo mau. (Ar., Cat., 27); Xe katuramo. - Sendo eu bom; Nde katuramo. - Sendo tu bom. (Anch., Arte, 29); 4) Forma o modo indicativo circunstancial dos verbos da segunda classe: Koromõ xe rorybamo. - Logo eu estou feliz. (Anch., Arte, 40)
apŷaba2 (s.) - 1) homem, varão (Fig., Arte, 3): ...Sory pakatu apŷaba... - Felizes estão todos os homens. (Anch., Poemas, 146); Tapiîara, tuîba'e, gûaîbĩ, kunumĩgûasu, apŷaba, kunhãmuku, xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Os moradores da aldeia, velhos, velhas, moços, homens, moças, como meus súditos todos em minhas mãos os tenho. (Anch., Teatro, 34); 2) índio livre (VLB, II, 11); gentio: Oîkobé xe pytybõanameté,... tubixá-katu Aîmbiré, apŷaba moangaîpapara. - Existe meu auxiliar verdadeiro, o grande chefe Aimbirê, o pervertedor dos índios. (Anch., Teatro, 8); Abá-tepe, erimba'e, pe mba'erama resé apŷaba me'enga'ubi? - Mas quem, outrora, como vossas coisas os índios deu? (Anch., Teatro, 28); Apŷaba karaíba atûasaba kori oîkó. - Os índios e os cristãos hoje são companheiros. (D'Abbeville, Histoire, 342); 3) nação (de gente) (VLB, II, 46) ● apŷabusu - homem maduro na idade e no juízo (VLB, II, 141); apŷabeté - nome genérico dado aos índios que falavam tupi, em oposição aos tapuias: "Os mais barbaros se chamão in genere Tapuhias, dos quaes ha muitas castas de diversos nomes, diversas lingoas, e inimigos huns dos outros. Os menos barbaros, que por isso se chamão Apuabeté, que quer dizer homens verdadeiros, posto que tambem são de diversas nações, e nomes; [...] comtudo todos fallão hum mesmo lingoagem e este aprendem os Religiosos que os doutrinão por huma arte de grammatica que compoz o Padre Joseph de Anchieta [...]" (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, I, cap. xii)
Há, contudo, topônimos atribuídos artificialmente e que datam de poucas décadas, em ambientes em que já não mais havia falantes das línguas em que o topônimo foi atribuído. Com efeito, no século XX a frente pioneira do Brasil passou pelo oeste paulista, pelo norte e oeste paranaenses, pelo centro-oeste do país, para onde se deslocou a própria capital do Brasil. Getúlio Vargas apregoou, na década de quarenta, a Marcha para o Oeste, tendo havido a fundação de centenas de municípios nas sobreditas regiões. Pujantes cidades nelas surgiram muito tempo depois que a língua geral meridional desapareceu. Por outro lado, a primeira metade do século vinte foi marcada, no Brasil, por forte nacionalismo político, econômico e cultural. O Modernismo, surgido com a Semana de 22, a Revolução de 30, a Era de Vargas, tudo conduzia a uma busca de referenciais da pátria brasileira. Surgem tupinistas nas universidades brasileiras, alguns dos quais passarão a ter a incumbência de dar nomes aos novos municípios que se fundavam nessa época. Aparecem, assim, muitos topônimos de origem tupi no século XX. Alguns são composições corretas, da índole do tupi antigo, das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Outros são fruto da elaboração fantasiosa de amadores, que resolveram embrenhar-se por um campo de estudo sem conhecimento suficiente das línguas. Em alguns casos, etimologizar tais palavras é uma tarefa inútil, a de tentar atinar com significados, quando eles não existem. É o caso do nome Umuarama, cidade do Paraná, criado por Silveira Bueno a pedido de seus fundadores. Tal palavra não significa absolutamente nada. Perderia o seu tempo o pesquisador que tentasse procurar a sua etimologia. O próprio Silveira Bueno mostra-nos por quê:
enõî (s) (v.tr.) - 1) chamar, invocar, nomear, dar o nome de, chamar pelo nome: Xe renõî umẽ îepé i xupé, na xe îukáî! - Não me chames pelo nome diante dele, senão me mata! (Anch., Teatro, 30); Esenõî mbá. - Nomeia tudo. (Léry, Histoire, 343); Asenõî apŷabetá... - Chamo os homens. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); "Anheté" eré tenhẽ umẽ, Tupã rera renõîa... - Não digas em vão: "-É verdade", invocando o nome de Deus. (Ar., Cat., 67); 2) evocar, trazer à lembrança: ...xe îara re'õ renõîa... - Evocando a morte de meu Senhor. (Anch., Teatro, 168); Mba'epe asé osenõî i xupé, o îerobîasabamo? - Que a gente evoca diante dele como sua esperança? (Ar., Cat., 30); 3) prometer, jurar (VLB, II, 87); 4) culpar: Asenõî tenhẽ. - Culpei-o falsamente. (VLB, I, 87) ● enõîndara (ou enõîtara) (t): o que invoca, o que chama, o que promete, etc.: O'anga koîpó abá 'anga koîpó santo amõ ybakype tekoara renõîndara abé o îuraragûaîamo nhẽ, marãpe? - E mentindo aquele que invoca sua própria alma, a alma de alguém ou também algum santo que está no céu, que acontece? (Ar., Cat., 67); emienõîa (t) - o que alguém chama; o chamamento; o invocado, o que alguém invoca, promete ou jura: ...T'oré angaturãne Cristo remienõîûera resé... - Para que sejamos dignos do que Cristo prometeu. (Ar., Cat., 14v); enõîndaba (ou enõîtaba) (t) - tempo, lugar, modo, etc. de invocar, de chamar, etc.: Our ogûenõîndápe. - Vem aonde o chamam. (Fig., Arte, 84); A'ereme bé opá omanõba'epûera 'angûera ruri o enõîndápe... - Então também as almas de todos os que morreram virão quando forem chamadas. (Ar., Cat., 160v); Marãpe i mongaraibypyramo renõîndabeté? - Qual é o modo verdadeiro de chamar os batizados? (Ar., Cat., 22v); senõîmbyra - o que é (ou deve ser) chamado, prometido, culpado, etc.: Grácia sera, kó nde rainhamo senõîmbyra... - Graça é seu nome, eis que esta é a que deve ser chamada "tua rainha". (Anch., Poemas, 156)
suí1 (posp.) - 1) de (origem): Ybaka suí ereîur... - Do céu vieste. (Anch., Poemas, 100); Aîur xe kó suí. - Venho da minha roça. (Fig., Arte, 9); Aîur xe roka suí. - Vim de minha casa. (Anch., Poemas, 102); Îaîu kûepe suí. - Viemos de longe. (Anch., Poemas, 96); 2) entre: I mombe'ukatupyramo ereîkó kunhã suí. - Bendita és entre as mulheres (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); ...Oîoîá te'õ rekóû kunumĩgûasu suí tuîba'e suí bé. - A morte está igualmente entre os moços e entre os velhos. (Ar., Cat., 157v); 3) de (expressando a matéria): nha'uma suí i monhangymbyra - o que é feito de barro (Ar., Cat., 15); 4) para não, para que não: ...Îori, anhanga mondyîa, oré moaûîé suí! - Vem, espantando o diabo, para não nos vencer. (Anch., Poemas, 102); O emiamotare'yma rekoápe osó-potare'ymba'e sepîaka suí. - O que não quer ir para onde está o que ele detesta para não o ver. (Ar., Cat., 70-70v); 5) longe de, para longe de, fora de: Emonã rakó sekóû nde suí. - Esta agia assim, longe de ti. (Ar., Cat., 74); ...Obebé îandé suí. - Voa para longe de nós. (Anch., Poemas, 186); 6) por (causa de), de (causa): Oker okûapa tekotebẽ suí nhẽ. - Estavam dormindo por causa da aflição. (Ar., Cat., 53); Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); Eresabeyporype kaûĩ suí, 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v); 7) desde, a partir de, de... em diante: ...Taba moapaîugûá-îugûábo Galilea suí-katu... - Confundindo as aldeias desde a Galiléia. (Ar., Cat., 83, 1686); Eîpe'a Îurupari kó 'ara suí... - Afasta o diabo deste dia em diante. (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); 8) em vez de, afora, que não, a não ser, e não: Nd'e'ikatuîpe amoaé abá oporomongaraípa abaré suí? - Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? (Ar., Cat., 81); ...I xuí amõ resé omendá... - Casando-se com alguém que não seja ele. (Ar., Cat., 280, 1686); Ahẽ nhõ ikó i mba'e-katu, xe suí mã! - Eis que somente ele tem coisas boas, em vez de mim! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102); 9) além de: ...aîpó nde remimombe'uagûera suí... - além daqueles que tu mencionaste (Bettendorff, Compêndio, 74); 10) indicando pertença a um todo que não participa da ação ou do processo descritos pelo verbo: Erepûarype kunhã muru'abora resé, pitanga îukábo i xuí? - Bateste numa mulher grávida, matando o feto dela? (Isto é, só o feto é que foi morto, não a mãe.) (Ar., Cat., 101v); Sasy xe akanga xe suí. - Dói-me a cabeça (e não o corpo na qual ela está, que não participa do processo descrito pelo verbo). (VLB, I, 105); 11) mais que, do que, que, mais do que (no comparativo): Marãmo ahẽ rekóû o mba'e-katuramo xe suí? - Por que ele vive tendo coisas boas mais que eu? (Ar., Cat., 109v); Ybakype i pyri o só îanondé Anhanga ratápe o só suí. - Antes sua ida para junto dele no céu que sua ida para o inferno. (Ar., Cat., 110); Xe katu-eté nde suí. - Eu sou melhor que tu. (Anch., Arte, 43); Aîkuab-eté nde suí. - Sei mais que tu. (Anch., Arte, 43); 12) sem: Amba'e-'u nde suí. - Como sem ti. (Anch., Arte, 43)
asy (t) (s.) - 1) dor, pena: 'Y berame'ĩ ikó îandé ratá rasy: n'osyki Anhanga ratá rasy resé. - Eis que a dor de nosso fogo parece a da água: não se equipara à dor do fogo do diabo. (Ar., Cat., 163v); Oîporará Tupã repîake'yma rasy. - Sofrem a dor de não verem a Deus. (Ar., Cat., 48); 2) mal, ruindade; problema: Na sasyî. - Não faz mal, não há problema. (Anch., Teatro, 148, 2006); [adj.: asy (r, s)] - 1) dolorido, doloroso, penoso, trabalhoso, árduo; (xe) doer, ser penoso, ser causa de pesar; pesar; ter dor, sentir dor; sofrer: T'oré pyatã, angá, mba'e-asy porarábo... - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas. (Anch., Teatro, 120); Sasy nakó ygá-pukuîa. - É penoso, de fato, remar canoa. (VLB, II, 134); Sasy nde só ixébe. - Dói-me tua ida. (Também se emprega com o gerúndio.): Sasy-eté ahẽ osóbo. - É doloroso ir-se fulano. Sasy-eté ahẽ oure'yma ixé o enõîndápe. - É muito doloroso não vir fulano ao meu chamado. (VLB, II, 75); Xe rybyt, nde nhyrõ xebo; xe rasy, xe mara'a. - Meu irmão, perdoa tu a mim; eu tenho dor, eu estou doente. (Anch., Teatro, 46); Ta sasy muru supé! - Que eles sofram junto dos malditos! (Anch., Teatro, 56); Mba'epe sasyeté a'epe tekoara supé?... - Que é mais penoso aos que estão ali? (Ar., Cat., 47v); Sasy ixébe. - Dói a mim; pesa-me (alguma coisa). (VLB, I, 105); Anhanga ratá îabépe satá rasyramo? - Como o fogo do diabo o fogo dele é penoso? (Ar., Cat., 48v); Sasy Peró supé. - Pesa a Pedro (alguma coisa); dói a Pedro (alguma coisa). (VLB, I, 105); Sasy-eté abá supé ogûe'õnama anduba. - Dói muito ao homem perceber sua morte. (Ar., Cat., 156); 2) mau, ruim: nhe'engasy - palavra ruim (VLB, I, 40); tobasy - cara ruim, mau humor (VLB, I, 140); (adv.) - demais, de doer, dolorosamente: Saîasy. - Ele está azedo demais (lit., azedo de doer). (VLB, I, 143); Osem okarype oîase'o-asykatûabo. - Saiu para o pátio chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v) ● mba'e rasy - dor (em sentido genérico) (VLB, I, 106)
a'uba (s.) - 1) pessoa ou coisa vil (VLB, II, 145); 2) trampas, sujeira, excrementos; coisa insignificante, desprezível (VLB, II, 46): A'uba nhote i por re'a. - Há de ser coisa insignificante somente. (Ar., Cat., 163v); ahẽ a'uba - excremento de fulano; kunumĩ a'uba - sujeira do menino (VLB, II, 135); 3) falsidade, aparência: A'uba nhote ikó 'ara'uba. - É aparência, somente, este mundo falso. (Ar., Cat., 169); (adj.: a'ub ou a'u) - 1) mesquinho, miserável, vil: Na sa'ubi iké xe robaké nde rur'e'ymebé... - Ele não foi mesquinho antes de tua vinda aqui diante de mim. (Ar., Cat., 249); Nd'e'ikatu béî aîpó i pe'apyra'uba missa renduba resé. - Também não pode aquele excomungado miserável ouvir a missa. (Ar., Cat., 179); Aîrumõ-rumõmo xe rekoangaîpagûera'uba ikó yby pupé gûitekóbomo... - Ficaria aumentando meus miseráveis pecados vivendo nesta terra. (Ar., Cat., 142); 2) falso, na aparência, fingido, fictício, sem consequências: Ererobîápe îetanonga'uba...? - Acreditas em falsas oferendas? (Ar., Cat., 98v); Seba'e-a'uba nhote resé... asé na sesaraî... - A gente não se esquece do que é saboroso só na aparência. (Ar., Cat., 88v); ...Na sa'ubi nde rekopoxy... - Não são sem consequências os teus pecados. (Ar., Cat., 112); N'aîkó-potari ymã ikó 'ara'uba pupé. - Já não quero viver neste mundo falso. (Ar., Cat., 142); (adv.) 1) mesquinhamente, miseravelmente; de má vontade, de modo vil: A'e o mena supé 'ybá-'u-ukar-a'ubi. - Ela fez seu marido comer o fruto de modo vil. (Anch., Poemas, 178); Asó-a'ub. - Vou de má vontade. (Fig., Arte, 138); 2) fingidamente, falsamente, na imaginação, ilusoriamente, na mente, sem consequências, na aparência, sem efeito, em vão: Asaûsub-a'ub. - Amo-o em vão. (Anch., Arte, 35; VLB, II, 127); E'i tenhẽ abaré Tupã resé serobaka potara'upa. - Em vão o padre quer fazê-la voltar para Deus. (Anch., Teatro, 148): ...O Tupãnamo i moeté-a'upa. - Honrando-o falsamente como seu Deus. (Ar., Cat., 66); Oporombo'e-a'u Tupã nhe'enga ra'anga. - Ensina falsamente as pessoas a provarem a palavra de Deus. (Anch., Teatro, 134); Nde rory-roryb-a'u, xe boîá momara'a. - Tu estás muito feliz, ilusoriamente, envergonhando meus súditos. (Anch., Teatro, 172) ● (com o verbo reduplicado ou com o verbo na negativa com e'ym): fingir que, fazer que: Asó-asó-a'ub. - Finjo que vou. (Anch., Arte, 35); Arasó-rasó-a'ub. - Finjo que o levo, faço que o levo. (Anch., Arte, 35); N'asendube'ym-a'ubi. - Fiz que não o ouvi. N'asepîake'ym-a'ubi. - Fiz que não o vi. (VLB, I, 104); N'aîkugûabe'ym-a'ubi. - Fiz que não o conhecia. (VLB, I, 130); N'asepîake'ym-a'ubi. - Faço que não o vejo. (VLB, I, 139); N'aîpotare'ym-a'ubi. - Finjo que não o quero. (Anch., Arte, 35)
erekó1 (v.tr.) - 1) fazer estar consigo, ter: ...Toryba rerekóbo... - Tendo alegria. (Anch., Teatro, 54); ...Saûsuba rerekóbo... - Tendo-lhe amor. (Anch., Poemas, 86); Pitangĩ abé îandé rubypy angaîpaba nhõ ogûerekó. - As criancinhas também têm somente o pecado de nosso pai primeiro... (Anch., Doutr. Cristã, I, 201); Orogûerekó xe ra'yramo. - Tenho-te como meu filho. (Anch., Arte, 41v); 2) cuidar de, pastorear (o gado): Erekó-katu nde ma'easy ko'y. - Cuida bem da tua doença agora. (D'Abbeville, Histoire, 350); 3) tratar, portar-se com: O tupãnamo ta xe rerekó... - Que me tratem como a seu próprio deus. (Ar., Cat., 160); Marãpe i boîá rekóû emonã o îara rerekó repîaka? - Como seus discípulos procederam vendo tratar assim a seu senhor? (Ar., Cat., 54v); I angaîpá kó nde boîá, na xe rerekó-katuî. - São maus estes teus servos, não me tratam bem. (Anch., Poemas, 154); Ererekó-memûãpe nde sabeypora? - Portaste-te mal com tua embriaguez? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); 4) manter, conservar: Sepîakypyra niã aîpoba'e re'ombûera o marane'yma rerekó mosapyr koîpó oîoirundyk seîxu ybŷá o tym'iré... - São vistos os cadáveres daqueles manterem sua incorruptibilidade três ou quatro anos após os enterrarem. (Ar., Cat., 179v); ...Okaî oúpa... o ekobé rerekóbo... - Estão queimando, conservando suas vidas. (Ar., Cat., 248); 5) guardar, reter...: A'e aé ipó xe rerekó... - Ele mesmo certamente me guarda. (Ar., Cat., 25v); 6) fazer com: I aogûerape marã serekóû? - E suas velhas roupas, que fizeram com elas? (Ar., Cat., 62); Marãpe serekóû i tym-y îanondé? - Que fizeram com ele antes de o enterrarem? (Ar., Cat., 64v) ● erekoara (ou erekosara) (t) - o que tem; o que cuida, o que trata, etc.: Tekokatu-eté rerekoara onherane'ymba'e... - O que tem a bem-aventurança é o que é manso. (Ar., Cat., 18v); São Sebastião abé, marana rerekoarûera, tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - São Sebastião também, o que cuidava das guerras, destruiu os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52); emierekó (t) - o que alguém tem, o que alguém faz estar consigo, o que alguém guarda, etc.: Xe rureme, asobaîtĩ xe remierekopûera. - Ao vir eu, encontrei o que guardara. (Léry, Histoire, 375); Oîekûabokyba'eramape tekopuku ybakype semierekorama? - A vida eterna que eles terão no céu é a que mudará? (Ar., Cat., 47); erekoaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de ter, de fazer estar consigo, de cuidar, de tratar, de guardar, etc.; a posse, o ter, o trato, a guarda: Eîkuab abaré nde mongaraipápe nde rerekoagûera... - Conhece o modo pelo qual o padre te tratou ao te batizar. (Ar., Cat., 187); serekopyra - o que é tido, guardado, mantido, tratado, etc.: Emonã serekopyra rakó abá obasẽ-porang... - Assim tratada, certamente, uma pessoa chega bem. (Ar., Cat., 85v); -Na peamotare'ymipe oré rubixaba? -Erimã. Serekó-katupyre'ymetémo. -Não detestais nosso chefe? -Absolutamente. Ele não seria muito bem tratado (se o detestássemos). (Léry, Histoire, 353); Mba'epe aûîeramanhẽ serekopyrama ikó 'ara pupé? - Que é o que será mantido para sempre neste mundo? (Ar., Cat., 165)
Dicionário por Eduardo de Almeida Navarro