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Dicionário de Tupi antigo

A língua indígena clássica do Brasil

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1 (s.) - 1) nariz (Castilho, Nomes, 39); focinho: tĩgûasu - nariz grande, narigão; abá-tĩgûasu - homem do nariz grande; tĩpema - nariz anguloso; tĩmbeba - nariz achatado (VLB, II, 48); Mba'erama ripe asé tĩme o endy moíni? - Por que põe sua saliva no nariz da gente? (Ar., Cat., 81v); tĩ-apyra - ponta do nariz (Castilho, Nomes, 39); 2) bico de ave (VLB, I, 140); 3) tromba (VLB, II, 137): tĩmuku - lit., tromba comprida, gorgulho, inseto coleóptero (VLB, I, 149); 4) crista: ypekatĩapûá - pato da crista pontuda, ave anatídea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 218) ● tĩmbûera - bico de pássaro fora do corpo (VLB, I, 55)
2 (s.) - 1) ponta, saliência: Kuîa nhẽ i tĩ-ngá-tĩ-ngábo... - Das cuias quebrando as pontas. (Anch., Teatro, 168); 2) proa (de embarcação) (VLB, II, 87); 3) esporão (de barco, de navio) (VLB, I, 127)
3 (s.) - vergonha, pudor: Marã e'ipe Tupã i tĩîeraba repîaka? - Que disse Deus, vendo seu frouxo pudor? (Ar., Cat., 41)
4 (v. intr. compl. posp.) - envergonhar-se [de algo ou de alguém: compl. no gerúndio ou com esé (r, s) ou suí]: Otĩ nhẽmo serã i angaîpaba'e... - Envergonhar-se-ia, talvez, o que é mau. (Ar., Cat., 25v); T'otĩ umẽ... Îesu Cristo... mombegûabo. (Ar., Cat., 81) ou T'otĩ umẽ Îesu Cristo mombe'u resé... - Que não se envergonhe de proclamar a Jesus Cristo. (Ar., Cat., 83v); Otĩ kûarasy osema, nde beraba robaké... - Envergonha-se o sol de nascer, diante de teu brilho. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); Etĩ nde îosuí. - Envergonha-te de ti mesmo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111) ● otĩba'e - o que se envergonha (VLB, II, 144)
5 (v.tr.) - atar, amarrar, armar (p.ex., a rede): Eîotĩ nde kesaba xe porupi. - Amarra tua rede ao lado de mim. (Anch., Arte, 44); Asupá- xe ruba. - Armo a rede a meu pai. (Fig., Arte, 88)
ti - o mesmo que eti (v.) (VLB, II, 56)
atar - , apy ● atar as mãos a: popûar
bico -
focinho -
nariz -
vergonha -
NOTA - Daí, no P.B., CANGATĩ (akanga + tĩ, "cabeça pontuda"), nome de um peixe siluriforme.
NOTA - Daí, no P.B., MARACATIM (maraká + tĩ, "ponta de chocalho"), nome de um tipo de embarcação indígena; MARACABÓIA ("cobra de maracá"), outro nome dado à cascavel. Esta cobra também recebe o nome de MARACÁ.
Iguatemi (rio de MT e de MG). De ygara - canoa + tĩ - proa, ponta + 'y - rio: rio das canoas emproadas: "(...) ygatimy, Rio de proa ajuda." (Taunay, Relatos Monçoeiros, 100)
Cangati (CE). Nome de um peixe siluriforme. De akanga + : cabeça pontuda.
Tocantins (estado brasileiro). "Chama-se rio dos Tocantins, por uma nação de índios dêste nome, que quando os portugueses vieram ao Pará o habitavam [...]" (Pe. Antônio Vieira [1654], Carta ao Padre Provincial do Brasil, p. 376). De tukana + : bicos de tucanos.
akaîutĩ (etim. - saliência do caju) (s.) - castanha de caju (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 95)
'amopikytĩ (etim. - cortar o prepúcio) (v.tr.) - circuncidar, cortar o prepúcio: Aî'amopikytĩ. - Cortei-lhe o prepúcio. (VLB, I, 74) ● i 'amopikytĩpyra - o que é circuncidado, o que tem o prepúcio cortado (VLB, I, 74)
amoreatĩ (etim. - moréia pontuda) (s.) - peixe da família dos batracoidídeos, que vive na lama da foz dos rios. "Picam por debaixo o pé ou mão que lhes toca." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 56)
apûãtĩ (s.) - pedra para colocar no lábio superior (VLB, II, 69)
apỹîatĩ (etim. - aro pontudo) (s.) - madeiras que eram introduzidas nas narinas perfuradas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
apytĩ (v.tr.) - amarrar, atar, ligar; dar ou fazer nós em (VLB, II, 50): Aîybõ mbá, i pysyka, i apytĩamo... - Flechei todos eles, capturando-os, amarrando-os. (Anch., Teatro, 132); Opá sama pupé i apytĩû... - Com toda uma corda amarraram-no... (Ar., Cat., 62v) ● apitĩsaba (ou apitĩama) - tempo, lugar, modo, etc. de amarrar (Anch., Arte, 3)
apytĩatã (v.tr.) - reatar: Aîapytĩatã. - Reatei-o. (VLB, II, 97)
atĩ (t) (s.) - ponta, extremidade: itá-atĩ - ponta de pedra (Anch., Arte, 9); seîkûaratĩba'e - o que tem ponta em forma de nádegas (Léry, Histoire, 346); [adj.: atĩ (r, s)] - pontudo: kabatĩ - vespa pontuda (VLB, I, 55)
atĩapyra (t) (s.) - ponta (de faca, de espada, etc.) (VLB, II, 80)
eîkûaratĩ (t) (etim. - saliência do ânus) (s.) - hemorróidas (VLB, I, 32)
embyritĩ (s.) - EMBIRA BRANCA, árvore da família das timeleáceas, de cujo entrecasco tiram-se fibras.... "Fazem os negros da Guiné dele panos... com os quais se cingem e cobrem." (Sousa, Trat. Descr., 217)
enotĩ (v.tr.) - envergonhar-se de (fato ou pessoa): Ereîkuakupe nde angaîpaba amõ abaré suí, senotĩamo nhẽ? - Escondeste algum pecado teu do padre, envergonhando-te dele? (Ar., Cat., 221); Anotĩ xe aíba. - Envergonho-me de minha feiúra. (VLB, I, 83)
gûambaîakuatĩ (s.) (etim. - baiacu pontudo) - o mesmo que gûamaîakugûará (v.) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 52)
îabakatĩ (s.) - JAGUACATIM, ave coraciforme da família dos alcedinídeos que vive à beira dos rios, andando pela água em busca de peixinhos de que se mantém. "Tem o bico comprido, o peito vermelho, a barriga branca, as costas azuis." (Sousa, Trat. Descr., 229)
îagûasatĩ (s.) - nome de uma ave (Libri Princ., vol. I, 95)
îenotĩ (ou nhenotĩ) (v. intr.) - envergonhar-se: Penhenotĩ iké bé mba'e-memûã raûsub'iré. - Envergonhai-vos aqui também, após terdes amado as coisas más. (Ar., Cat., 169)
itau'ubatĩ (etim. - ponta de flecha de ferro) (s.) - seta de ponta (VLB, II, 66)
îuatĩ (etim. - ponta de juá) (s.) - espinho: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha... -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v)
îuruobaîtĩ (xe) (etim. - dar com a boca) (v. da 2ª classe) - responder agressivamente, replicar violentamente, bater boca: Erenhe'eng-ybõpe nde ruba, i îuruobaîamo...? - Dardejaste palavras em teu pai, respondendo ele agressivamente? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86)
îurutĩ - o mesmo que îuriti (v.)
îyatĩmuku (etim. - ferramenta pontuda comprida) (s.) - escopro, instrumento de cortar usado por carpinteiros, entalhadores, estatuários, etc. (VLB, I, 123)
îyatĩmukupyûaîa (etim. - ferramenta pontuda comprida e côncava) (s.) - goiva, instrumento de marceneiro (VLB, I, 148)
kabatĩ (etim. - vespa pontuda) (s.) - inseto da família dos vespídeos (VLB, I, 55)
kytĩ (v.tr.) - cortar (com serra, tesoura, faca, palha, vidro, casca de ostra, etc. Cortar com instrumentos maiores, como machado, espada, etc. é mogûaî ou mondok - v.); dar cutilada: Aybyrá-kytĩ. - Cortei madeira. (VLB, II, 117)
matĩaré (s.) - fome (VLB, I, 141)
mboîtĩapûá (etim. - cobra do focinho pontudo) (s.) - BOITIAPÓIA, cobra da família dos colubrídeos. Segundo Cardim, com ela "os índios açoitavam as cadeiras das mulheres estéreis". (in Trat. Terra e Gente do Brasil, 31)
mbyatĩ (etim. - pontas das patas) (s.) - esporas; esporão de galo (VLB, I, 127)
mienotĩ (etim. - aquilo de que se envergonha) (s.) - os órgãos sexuais, as vergonhas (VLB, II, 144); as partes sexuais (VLB, II, 66)
moreîatĩ - o mesmo que amorea (v.)
moretĩ (s.) - BURITI, COQUEIRO-BURITI, BURITIZEIRO, MURITI, MURITIM, MURUTI, nome de uma palmeira (o mesmo que meriti'yba - v.) (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 182v)
morutĩ (s.) - BURITI, nome de uma palmeira (v. more) (Bettendorff [1698], Crônica do Maranhão, in RIH, LXXII [1909], 169)
motĩ (v.tr.) - envergonhar: Eresekyîpe îuraragûaîa abá supé... i moamo...? - Urdiste mentiras contra alguém, envergonhando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
motĩbyk (v.tr.) - desonrar, envergonhar: -Eresekyîpe îuraragûaîa abá supé... i mobyka? - Urdiste mentiras contra alguém, desonrando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
mutũtĩpyranga (etim. - mutum da crista vermelha) (s.) - var. de MUTUM, ave galiforme da família dos cracídeos, de bico grosso e comprido, possuidor de um topete e de plumagem branca e vermelha (D'Abbeville, Histoire, 236)
nheatĩapyr (v. intr.) - dar um tombo, dar cambalhota, dar um trambulhão (VLB, II, 147): Anheatĩapyr. - Dei uma cambalhota. (VLB, I, 64)
nhetĩapyapyr (v. intr.) - lançar ao fundo a âncora, fundear (p.ex., o navio) (VLB, I, 144)
nhetĩapyr (v. intr.) - arfar (p.ex., o navio) (VLB, I, 41)
nhobaîtĩ (v. intr.) - encontrarem-se (na guerra), enfrentarem-se (VLB, I, 114)
nhupatĩ (v. intr.) - sofrer, padecer: ...A'epe bé rakó abá nhupatĩû... - Aí também, certamente, o homem sofre. (Ar., Cat., 165)
obaîtĩ (s) (v.tr.) - encontrar, dar de cara com, topar: Gûixóbo, asobaîtĩ nde ryky'yra. - Indo eu, encontrei teu irmão. (Fig., Arte, 164); T'îasó sapépe sobaîtĩamo... - Vamos em seu caminho para encontrá-lo. (Ar., Cat., 53v); Xe rureme, asobaîtĩ xe remierekopûera. - Ao vir eu, encontrei o que guardara. (Léry, Histoire, 375)
otĩapûabo (etim. - na ponta de seu nariz) (adv.) - de ponta (VLB, II, 80)
otĩapyrybo (etim. - na ponta de seu nariz) (adv.) - de ponta (VLB, II, 80)
piraatĩatĩ (etim. - peixe muito pontudo) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 64)
piratĩ (m) (etim. - saliências da pele) (s.) - varíola, bexigas (VLB, I, 55)
piratĩapûá (etim. - peixe do focinho pontudo) (s.) - peixe da família dos serranídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 157, 180; VLB, I, 50)
potĩ (s.) - camarão, POTI, nome comum a crustáceos decápodes, peneídeos, macruros, sejam de água doce, sejam de água salgada (Sousa, Trat. Descr., 303; VLB, I, 64; Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 169v)
potĩgûasu1 (ou potĩûasu) (etim. - camarão grande) (s.) - espécie de camarão da família dos peneídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188; VLB, I, 64)
Potĩgûasu2 (etim. - camarão grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §2, 114)
potĩkukuma - o mesmo que pokykyîa (v.) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 75)
potĩkykyîa (s.) - POTIQUEQUIÁ, espécie de crustáceo da família dos palinurídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 185; VLB, II, 17)
potĩkykyîxé (s.) - espécie de crustáceo, conhecido vulgarmente como lagostim (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 186; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 79)
potĩpema (etim. - camarão anguloso) (s.) - variedade de camarão do litoral (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 187; Theat. Rer. Nat., Bras., I, 76)
tapotĩ (s.) - TAPITI, coelho silvestre, o mesmo que tapeti1 (v.) (Sousa, Trat. Descr., 254)
tatĩapyra (s.) - entrada de lugar povoado, onde começam as casas (VLB, I, 119)
teîkûaratĩ (etim. - extremidade de nádegas) (s.) - rabo de tiro, como de certas armas de fogo antigas (VLB, II, 95)
tĩapyra (etim. - ponta de bico) (s.) - 1) dianteira (VLB, I, 103); guia, o que vai à frente, vanguarda (Anch., Arte, 14); o dianteiro na ordem (VLB, I, 152): marana tĩapyra - a vanguarda da guerra, o que vai à frente dos outros na guerra (para obter informações do campo inimigo) (VLB, II, 141); 2) espião: Tupinakyîa, keygûara, apyra moroupîara. - Tupiniquins, habitantes daqui, espiões inimigos. (Anch., Teatro, 140)
tĩe'yma (etim. - sem vergonha) (s.) - falta de vergonha, sem-vergonhice (VLB, I, 96)
tĩkupeara (s.) - esporão: ygá-tĩkupeara - esporão de embarcação (VLB, I, 127)
tĩmondepyka (s.) - gurupé, var. de mastro que se lança nos navios do bico de proa para a frente, no plano longitudinal, com uma inclinação de cerca de 35° acima do plano horizontal (VLB, I, 151)
tĩmuku1 (etim. - tromba comprida) (s.) - gorgulho, nome comum a várias espécies de insetos coleópteros, dos quais alguns se criam entre os grãos de cereais, que vão roendo e destruindo (VLB, I, 149)
tĩmuku2 (etim. - focinho comprido) (s.) - TIMUCU, TIMBUCU, TIMICU, peixe da família dos belonídeos, de cabeça muito alongada e boca rostriforme (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 168)
tĩmukuûasu (etim. - focinho muito comprido) (s.) - nome de um peixe do mar (D'Abbeville, Histoire, 246)
tĩmusy (s.) - tromba (VLB, II, 137)
tĩsaba (etim. - lugar de vergonha) (s.) - os órgãos sexuais, as vergonhas (VLB, II, 144)
tu'ĩatĩ'yba (etim. - planta do tuim de penas brancas) (s.) - árvore "de casca cinzenta, madeira frágil, que cresce até atingir a amplidão da macieira silvestre" (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 136)
ubatĩ1 (s.) - variedade de milho, o milho-da-guiné ou zaburro. "A cor geral deste milho é branca." (Sousa, Trat. Descr., 182)
ubatĩ2 (etim. - fruto pontudo) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 218)
Urubutĩgûaba (etim. - bebedouro dos urubutingas) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 187)
ûyratĩ - o mesmo que ûyratinga (v.) (D'Abbeville, Histoire, 241)
'ybatĩ (etim. - fruto pontudo) (s.) - nome de planta, provavelmente uma asclepiadácea do gênero Ibatia. Tem um fruto acuminado na extremidade, com muitas proeminências como espinhos, que derrama um suco lácteo, glutinoso. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 19-20)
ybyrakytĩaba (etim. - instrumento de cortar madeira) (s.) - serra (para madeira) ● ybyrakytĩabusu - serra braceira (VLB, II, 117)
ybyrakytĩara (s.) - serrador de madeira (VLB, II, 117)
ygara'ykytĩaba (etim. - instrumento de cortar a água da canoa) (s.) - talhamar, peça sólida angular que se punha na proa dos barcos ou dos navios para penetrar a água e diminuir a resistência que ela exerce contra a embarcação (VLB, II, 123)
'ykytĩaba (etim. - corte da água) (s.) - veia d'água, um vinco que, às vezes, se vê pelo meio do mar (VLB, II, 142)
ypekatĩapûá (etim. - pato da crista ressaltada) (s.) - pato-de-crista, pato crestudo, ave da família dos anatídeos, de coloração branca e preta, com tuberosidade sobre o bico. Habita regiões pantanosas. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 218)
YPEKATĩAPÛÁ (fonte: Marcgrave)
'yryapokytĩaba (s.) - veia d'água, vinco que, às vezes, se vê pelo meio do mar (VLB, II, 142)
angekoaíba (etim. - mal estar da alma) (s.) - aflição, angústia, tristeza (VLB, II, 62): Marã sekó resépe i angekoaíba îekuabi? - Por qual estado seu transparecia sua angústia? (Ar., Cat., 53); (adj.: angekoaíb) - aflito; angustiado, apreensivo, ansioso; triste: Xe angekoaíb nde resé. - Eu estou aflito por ti. (Fig., Arte, 124); I angekoaí-katu serã Îandé Îara i mongetapukûabo? - Será que Nosso Senhor estava muito angustiado, longamente rezando a Ele? (Ar., Cat., 53); Xe angekoaíb (mba'e) resé. - Eu estou apreensivo com as coisas. (VLB, I, 24, adapt.)
apyrasab (etim. - passar o cume) (v.tr.) - 1) passar por cima de, saltar: Aîapyrasab. - Saltei-o. (VLB, II, 112); Akûeîme, i apyrasapa, xe nde moingosaba é. - Outrora, passando por cima dela, eu fui causa de te fazer agir. (Anch., Teatro, 174); 2) (fig.) dominar: Nd'ere-piã nde îosuí so'o-aíba poropotara apyrasápe? - Não te envergonhas, porventura, de ti mesmo, ao dominar-te o desejo sensual da carne podre? (Anch., Doutr. Cristã, II, 111)
gûaraobanhana (etim. - guará da cara manchada) - (s.) - ARABAIANA, URUBAIANA, olho-de-boi, peixe da família dos carangídeos (VLB, II, 56): Xe pindá-porangeté t'opindaîtykyne endébo, kunapu rekyîetébo, gûaraobanhaneté. - Meu anzol muito ditoso há de pescar para ti, puxando bem os canapus e as arabaianas verdadeiras. (Anch., Poemas, 152)
îepyme'eng (etim. - dar-se a recompensa) (v. intr.) - retribuir: T'ame'ẽne pirá ruba endébo, ûiîepyme'enga... - Hei de dar ovas de peixe para ti, retribuindo... (Anch., Teatro, 44)
mo'ang1 (etim. - idear, fazer idéia) (v.tr.) - supor, pensar em, crer, imaginar, presumir, ter para si, julgar, considerar, entender: Îandé repenhã-penhã, îandé momoxy mo'anga. - Fica-nos atacando, pensando em perverter-nos. (Anch., Poemas, 188); N'aîmo'angi nde só. - Não entendo tua ida, não entendo que tu vás. (VLB, II, 110); ...Oú-mo'ang pe mondyîa. - Pensa em vir para vos espantar. (Anch., Teatro, 182, 2006); Te'õ o îoesé i 'a-mo'angeme. - Quando supõe cair em si a morte. (Ar., Cat., 88); "-Ikatupe temõ mã!" erépe, nde gûyrype kunhã resé nde rekó mo'ang'iré? - Disseste: "-Ah, quem me dera estivesse nua!", após imaginares estar com uma mulher debaixo de ti? (Anch., Doutr. Cristã, II, 93); ...Santa Maria o membyrá-kakara omo'ã-mo'ang... - Santa Maria está pensando na aproximação de seu parto. (Ar., Cat., 9); Xe ra'yt, aîmo'ang nde re'õaûama... - Meu filho, penso que tu morrerás. (Bettendorff, Compêndio, 118); ...Peîmo'ang pe re'õ pupé pe ruba... - Imaginai, em vossa morte, estardes vós deitados. (Ar., Cat., 155v) ● oîmo'angyba'e - o que pensa, o que supõe, o que imagina, etc.: Nhandy-karaíba pupé abaré omanõ-mo'angyba'e pytuba. - Ungir o padre com óleo bento o que supõe morrer. (Anch., Doutr. Cristã, I, 219)
nheangerur (etim. - trazer-se a alma) (v. intr.) - suspirar: Ndebe oronheangerur. - A ti suspiramos. (Ar., Cat., 2, 1686)
taîasu1 (etim. - dentes grandes) (s.) - TAIAÇU, TAJAÇU, TANHAÇU, animal mamífero da família dos taiaçuídeos (Tayassu pecari), espécie de porco silvestre que tem no dorso uma glândula que produz forte cheiro almiscarado. Tem cor escura e pelos longos nas costas (D'Abbeville, Histoire, 249; Sousa, Trat. Descr., 249; Staden, Viagem, 171); 2) porco (em geral) (VLB, II, 82): Endé-te, nde resemõ arinhama, taîasu. - Mas a ti, sobram-te galinhas e porcos. (Anch., Poemas, 152); Pedro taîasu. - O porco de Pedro. (Fig. Arte, 77) ● taîasu-kunhã - porca fêmea (VLB, II, 82); taîasua'yra (ou taîasua'yrusu) - bacorinho (VLB, I, 50); leitão (VLB, II, 20). V. tb. taîasugûaîa.
ekopuku (t) (etim. - vida longa) (s.) - vida eterna: T'orogûerekó, setãme, nde pyri, tekopuku. - Que tenhamos, em sua terra, junto de ti, a vida eterna. (Anch., Teatro, 122)
eti (ou ti) (interj. de h.) - 1) oh! (como diz o que, caminhando, lembra-se de ter deixado algo); 2) (expressa espanto ou zombaria) (VLB, II, 53); olhai! olhai-me lá com que me vem! (a mulher diz e'a - v.) (VLB, II, 56)
poropotara (m) (etim. - desejar gente) (s.) - lascívia, luxúria, desejo sensual, concupiscência: Ereîtykype kunumĩ amõ... nde 'arybo moropotara suí? - Lançaste algum menino sobre ti por desejo sensual? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95); (adj.: poropotar) - lascivo, lúbrico, desejoso de sexo, concupiscente, luxurioso: Nde resá-poropotápe amõ resé ema'ẽmo? - Tu tens olhos concupiscentes, olhando para alguém? (Ar., Cat., 104v); abá-poropotara - homem luxurioso (VLB, II, 25) ● i poropotaryba'e - o que é luxurioso: sesá-poropotaryba'e... - o que tem olhos que são luxuriosos (Ar., Cat., 71v); poropotarixûera (m) - o que tem tendência à luxúria, luxurioso (VLB, II, 25)
pyatã (m) (etim. - pé firme) (s.) - força (VLB, I, 141), valentia, coragem; firmeza, força de espírito (VLB, I, 142): Myatã... ogûeru... - Trouxe a coragem. (Ar., Cat., 5); Tupã myatã-eté-eté... - A imensa força de Deus (Bettendorff, Compêndio, 62); (adj.) - corajoso, valente, forte (de saúde, de boa nutrição), firme: T'oré pyatã, angá... - Que sejamos corajosos, sim. (Anch., Teatro, 120); kunhã-pyatã - mulher corajosa (Anch., Poemas, 126); Eporeaûsubok xe 'anga, t'i pyatã nde resé. - Arranca a miséria de minha alma para que esteja firme em ti. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618); Epu'ã, nde pyatã! - Levanta-te, sê valente! (Anch., Teatro, 162); Na xe pyatãî. - Eu não estou forte (isto é, estou debilitado pela doença, pela fome, etc.). (VLB, I, 143); (adv.) fortemente (VLB, I, 143)
andupaba (s.) (etim. - andub; -aba) - sensor; sonda; detector | sensor; probe; detector | nde r-akypûér-i-xûara andup-aba - Instrumento de sentir o que está atrás de ti - Tool to sense what's behind onself (Blog Abanhe'enga, Emerson Costa, 09/01/2013, Propaganda do Fiat Palio Adventure em tupi antigo) - neologismo
ybytyra (r, t) (etim. - amontoado de terra < yby + atyra) (s.) - 1) montanha, morro; monte; cabeço, lugar alto (VLB, I, 61); outeiro (VLB, II, 55): Akûeîme apytá memẽ nde pyri, ybytyrapûápe. - Antigamente eu ficava sempre junto de ti, no alto do morro. (Anch., Poemas, 154); -Mamõpe gûá Îandé Îara rerosyki ko'yté? -Ybytyra Monte Calvário 'îápe. -Aonde chegaram com Nosso Senhor, finalmente? -Ao outeiro chamado Monte Calvário. (Ar., Cat., 89, 1686); 2) serra: Taba supa, ybytyrype xe sóû... - Para visitar a aldeia, eu fui à serra. (Anch., Teatro, 10); [adj.: ybytyr (r, s)] - serrano, montanhoso; (xe) ter outeiros (a terra ou o caminho) (VLB, II, 60) ● ybyty-bytyra - muitos outeiros, serrania (VLB, II, 60; 117)
pindaîtyk / pindaeîtyk(a) (t) (etim. - lançar anzol) (v. tr. irreg.) - pescar com linha (VLB, II, 75): Xe pindá-porangeté t'opindaîtykyne endébo... - Meu anzol muito ditoso há de pescar para ti. (Anch., Poemas, 152)
aûsub (ou aûsu) (s) (v.tr.) - amar, estimar, querer bem, ter amizade por: Asaûsu kunhã-karaíba. - Amo uma mulher branca. (D'Evreux, Viagem, 252); Asaûsub Tupã. - Amo a Deus. (Fig., Arte, 150); A'e byter nde raûsupa. - Ainda te amo. (Fig., Arte, 161); T'îasaûsu pabẽ Santa Maria... - Amemos todos Santa Maria. (Anch., Poemas, 88) ● aûsupara (t) - o que ama, o que estima, o que tem amizade por: Nd'e'i te'e, ipó, ko'y opá nde raûsuparûera pysyrõmo nde suí... - Não é à toa, certamente, que, agora, todos os que te amavam ele liberta de ti... (Anch., Teatro, 18); ...I mondóbo nhẽ nd'ereîkóî César nde rubixaba raûsuparamo... - Mandando-o ir, sem problemas, não ages como o que estima teu imperador César. (Ar., Cat., 61); emiaûsuba (t) - o que alguém ama, o amado de: I moasŷabo, Tupã opabinhẽ mba'e sosé o emiaûsu-katu nhe'enga abŷagûeramo sekó resé. - Arrependendo-se deles por serem transgressões da palavra de Deus, que ele ama mais que todas as coisas. (Bettendorff, Compêndio, 93); aûsupaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de amar, o amor: ...Ogûaûsukatuagûera repyramo, Tupã ipó serã serasóû seté resebé ybakype... - Como recompensa de seu muito amor a Ele, Deus levou-o certamente, com seu corpo, para o céu. (Ar., Cat., 139); Mba'epe Santa Maria asé raûsupaba? - Qual é a causa de nos amar Santa Maria? (Ar., Cat., 33v)
tu - ne, nde, endé; îepé ● para ti, a ti: ndebe, endébe; ndebo
nheangerekó1 (ou nhangerekó ou îangerekó) (etim. - estar com seus pensamentos) (v. intr. compl. posp.) - preocupar-se, interessar-se, considerar, refletir, pensar [em algo, com algo, em alguém, por alguém, etc.: compl. com a posp. esé (r, s)]: ...onheangerekóbo o angaîpagûera resé. - ...refletindo sobre suas maldades. (Ar., Cat., 74v-75); Anhangerekó îepé, aîpó supé n'abasemi. - Embora me interessasse, junto àquelas não cheguei. (Anch., Teatro, 178, 2006); Penheangerekó amõ 'ara pupé te'õ pe rokena motaka turagûama resé é... - Pensai que, algum dia, a morte virá para bater em vossas portas. (Ar., Cat., 158); Ma'e resé... aîangerekó. - Penso em algo. (D'Evreux, Viagem, 145); Nde resé... aîangerekó. - Penso em ti. (D'Evreux, Viagem, 145) ● onheangerekoba'e - o que se preocupa, o que reflete, etc.: ...Se'õagûera resé onheangerekoba'e... - O que reflete sobre sua morte. (Ar., Cat., 68); nheangerekosara - o que se preocupa, o que reflete, etc.: ...Tupã resé o nheangerekosara... - O que se preocupa com Deus. (Ar., Cat., 68); nheangerekosaba (ou nheangerekoaba) - tempo, lugar, modo, etc. de se preocupar, de refletir; preocupação, consideração: ...poxy resé o nheangerekosápe... - na sua preocupação com torpezas (Ar., Cat., 71)
ndebe (pron. pess. dat. de 2ª p. sing.) - a ti, para ti, te: Anhemombe'u... ndebe, pa'i abaré... - Confesso a ti, senhor padre. (Ar., Cat., 20v)
ndebo (pron. pess. dat. de 2ª p. sing.) - a ti, para ti, te (Fig., Arte, 6) (o mesmo que ndebe - v.)
a'e?4 (part.) - e? e porventura? (como no latim nunquid?, usada em início de períodos. Serve também para se perguntar sobre fatos já muito bem conhecidos, somente com o intuito de enfatizar a ação ou o processo em questão): -A'epe ké amboaé? -Karaibebé serã... -E o outro, aqui? -Talvez seja o anjo. (Anch., Teatro, 26); A'epe marã apŷabetéramo sekóû îandé îabé? - E de que maneira é homem verdadeiro como nós? (Ar., Cat., 22v); A'e serãne hóstia pupé Îesu Cristo rekóû? - E porventura na hóstia está Jesus Cristo? (Ar., Cat., 87); A'e-p'ikó? - E este? (VLB, I, 153); A'epe n'osóî? - E, porventura, ele não foi? (como que dizendo: todos sabem que foi. Neste sentido emprega-se mais a'e-tepe?) (VLB, I, 120, 121) ● a'e emonãnamo - e portanto (VLB, I, 121); a'e ipó (ou a'e nipó) - e (com reme - no caso de): A'e ipó sekoe'ỹme? - E no caso de ele não estar? (VLB, I, 121); a'e-tepe? - E vai bem? E como está? E que me dizes de? E quanto a? E qual é? (perguntando-se a opinião de alguém): A'e-tepe ahẽ? (ou A'e-tep'ahẽ rekóû?) - E como está ele? A'e-tepe nde? - E quanto a ti? (isto é, qual é tua opinião?) A'e-tepe nde nhe'enga? - E qual é a tua palavra? (i.e, que dizes sobre isso?) (VLB, I, 78). Serve para perguntas em que a resposta já é sabida, mas que tem o efeito de uma ênfase na ação ou no processo em questão: A'e-te-p'ixé n'a sóî? - E eu não fui? (como que dizendo: todos sabem que eu fui). (VLB, I, 120, 121)
xûé (part. que acompanha a forma negativa do futuro do indicativo, do condicional e do optativo): N'orogûeruri xûémo ndebe i angaîpabe'ỹmemo... - Não o teríamos trazido a ti se ele não tivesse pecado... (Ar., Cat., 58); N'aîabŷî xûé temõ erimba'e nde nhe'enga mã!... - Ah, quem me dera não ter transgredido outrora tuas palavras! (Ar., Cat., 141v); Nd'oré poreaûsubi xûéne. - Não seremos miseráveis. (Anch., Poemas, 146); N'aîukáî xûéne. - Não o matarei. (Fig., Arte, 34); N'i ma'enduari xûéne. - Eles não se lembrarão. (Fig., Arte, 40)
endébe (pron. pess. dat. de 2ª p. do sing.) - a ti, para ti: Tupãeté resé aporandub endébe... - Pelo Deus verdadeiro faço perguntas a ti. (Ar., Cat., 56)
endébo (pron. pess. dat. de 2ª p. do sing.) - a ti, para ti: Oroaûsu-potá-katu, oroîeme'enga endébo. - Queremos amar-te muito, entregando-nos a ti. (Anch., Poemas, 136); Xe pindá-porangeté t'opindaîtykyne endébo... - Meu anzol muito ditoso há de pescar para ti. (Anch., Poemas, 152); T'ame'ẽne pirá ruba endébo... - Hei de dar ovas de peixe para ti. (Anch., Teatro, 44) (O mesmo que endébe - v.)
gûyrype (loc. posp.) - sob, debaixo de, embaixo de (em sentido pontual, em ponto definido): Nde pó gûyrype oroîkó... - Sob tuas mãos estamos. (Anch., Poemas, 174); "-I katupe temõ mã!", erépe, nde gûyrype kunhã resé nde rekó mo'ang'iré? -Disseste: -Ah, quem me dera estivesse nua!, após imaginares estar com uma mulher debaixo de ti? (Anch., Doutr. Cristã, II, 93); itá gûyrype - debaixo da pedra (Anch., Arte, 41)
gûapyk (v. intr.) - sentar-se: Nde robaké ûigûapyka... Diante de ti sentando-me. (Anch., Poemas, 96); Nde pópe ogûapyka, osó kunumĩ... - Em tuas mãos sentando-se, vai o menino. (Anch., Poemas, 120); Te'yîpe nhẽ i gûapyki... - Sentou-se em público. (Ar., Cat., 57); Pene'ĩ, rõ, t'îasó ké îagûapyka îakupa. - Eia, pois, vamos estar sentados aqui. (Anch., Teatro, 144); Agûapyk gûitena. - Estou-me sentando. (VLB, I, 45)
nhõ (adv.) - só, somente, apenas: ...Nde nhõ nde moetekatûabo! - A ti somente louvando-te muito! (Anch., Poemas, 92); Mba'e i 'upyra resé nhõpe asé îeruréû Tupã supé? - A gente pede a Deus somente pelas coisas que deve comer? (Ar., Cat., 27v); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); Aîpó nhõ-pipó nde rera? - Esse somente é, de fato, teu nome? (Anch., Teatro, 44); Epytá! Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? - Fica! Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? (Anch., Teatro, 64)
pirá (s.) - peixe, PIRÁ: Akûeîme, rakó, pirá asekyî-marangatu... - Antigamente pescava bem os peixes. (Anch., Poemas, 152); Aîeruré pirá resé. - Peço por peixe. (D'Evreux, Viagem, 144); T'ame'ẽne pirá ruba endébo... - Hei de dar ovas de peixe para ti. (Anch., Teatro, 44)
Votorantim (salto de Sorocaba, SP). Da língua geral meridional votura* + *: morro pontudo.
pytá1 (v. intr.) - 1) ficar, permanecer: Akûeîme apytá memẽ nde pyri... - Antigamente eu ficava sempre junto de ti. (Anch., Poemas, 154); Osobá-syb aó-tinga pupé; a'e resé sobá ra'angaba pytáû. - Limpou seu rosto com um pano branco; nele ficou a imagem de seu rosto. (Ar., Cat., 89, 1686); Abápe opytá a'epe? - Quem ficou ali? (Ar., Cat., 64); 2) agasalhar-se, hospedar-se: Apytá Pero resé. - Hospedo-me com Pedro. (VLB, II, 59); 3) parar: Apytá. - Parei. (VLB, II, 65) ● opytaba'e - o que fica, o que para, etc.: ...Ybakype... opytaba'epûera rubixaba. - Chefe dos que ficaram no céu. (Ar., Cat., 134, 1686); pytasaba - tempo, lugar, causa, finalidade, etc. de ficar, de parar, de permanecer, etc.; permanência, parada: Nd'e'i te'e og orybamo, Tupãó-pyri i pytasagûera resé. - Por isso mesmo eles estão felizes, pela permanência dele junto à casa de Deus. (Ar., Cat., 5v)
setá (adv.) 1) muitas vezes: Setápe asé nhemongaraíbi? - A gente se batiza muitas vezes? (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); Anhemombe'u... ndebe, pa'i abaré setá nhẽ xe angaîpagûera resé... - Confesso-me a ti, senhor padre, por causa do meu pecar muitas vezes. (Ar., Cat., 20, 20v); 2) de diversos, de muitos, em muitos, por muitos: ...Tupã oîmonhyrõ o îoupé setá nhẽ seîxutatá tekoangaîpaba repy-mondykápe... - Fazem aplacar a Deus a si mesmos para eliminar a dívida dos pecados de diversos anos. (Ar., Cat., 142v); Nde moingobé Tupã, nde rerekóbo n'oîepé îasy nhõ ruã, n'oîepé seîxu nhõ ruã, setá nhẽ seîxu-te... - Deus te fez viver, guardando-te, não somente por uma semana, não somente por um ano, mas por muitos anos. (Ar., Cat., 157); 3) muito, bastante: Xe asykyîé setá. - Tenho muito medo. (D'Evreux, Viagem, 147); Nde angaîbar setá. - Tu estás muito magro. (D'Evreux, Viagem, 152) ● setá setá-eté - muitíssimos (Fig., Arte, 4)
sosé (posp.) - 1) acima de: Ixé nde sosé (ou Nde sosé ixé). - Estou acima de ti. (VLB, II, 119); 2) em cima de, sobre: xe sosé - em cima de mim; itá sosé - sobre a pedra (Anch., Arte, 43v); ...Krusá sosé nhẽ xe îara moîá. - Sobre a cruz pregando meu senhor. (Anch., Poemas, 122); 3) mais que (comparativo), mais de; melhor que, maior que: ...Kûarasy sosé o poranga kuabe'enga... - Mostrando sua própria beleza mais que o sol. (Ar., Cat., 4v); Nde sosé ixé. - Eu sou mais que tu. (VLB, I, 48); Kó oka sosé. - Maior que esta casa. (VLB, II, 28); Ixé nde sosé. - Eu sou maior que tu. (VLB, II, 28); vinte sosé - mais de vinte (VLB, II, 67); I xosémo nã ky xe re'õ. - Melhor que isso me seria, pois, morrer. (VLB, II, 38); Aîkuab mba'e nde sosé. - Sei mais que tu. (Fig., Arte, 121)
oro- (pref. num.-pess. de 1ª p. do pl. excl.): Oroîerobîá nde ri... - Confiamos em ti. (Anch., Teatro, 118); Nde resé memẽ oroîkó .... - Contigo sempre estamos. (Anch., Poemas, 84); T'orosaûsu îandé ruba. - Que amemos nosso pai. (Anch., Teatro, 120); Oromanõmo. - Morrendo nós. (Anch., Arte, 29)
sapukaî1 (v. intr.) - bradar, gritar, cantar (o galo, etc.): Ndebe orosapuká-pukaî. - A ti ficamos bradando... (Ar., Cat., 14); Mosapy ipó xe boîáramo nde rekó ereîkuakub mokõî gûyrá sapukaî' e'ymebéne... - Na verdade, três vezes negarás ser meu discípulo antes de o galo cantar duas vezes. (Ar., Cat., 57-57v); Karaíba osapukaî tenhẽ "terre, terre". Ybakuna supinhẽ. - Os homens brancos gritam, por engano: "-Terra, terra." Na verdade, são nuvens escuras. (D'Abbeville, Histoire, LI)
pe3 (Ênclise usada para a interrogação em tupi. O termo que se quer enfatizar, na pergunta, aparece no início da frase, com -pe enclítico.): Xepe asóne? - Eu irei? Asópe ixéne? - Irei eu? (Fig., Arte, 166); Abá nhe'engûerape aîpó? - Palavras de quem são aquelas? (Ar., Cat., 32v); Ereîukápe? - Mataste? (Anch., Arte, 35v); Xe rubape osó? - Meu pai foi? (Anch., Arte, 36); Ndepe nde îuká? - A ti é que matam? (Anch., Arte, 36); Ereîpotápe itaîuba? - Queres ouro? (Anch., Teatro, 44)
iîá (part. que leva o verbo para o gerúndio. Às vezes é acompanhada pelas partículas muru, îaby ou mã.) - 1) ainda bem, ainda bem que: ...Iîá omanõmo... - Ainda bem que morreu. (Ar., Cat., 69v); Iîá oîembo'ebo. - Ainda bem que aprendeu. (Anch., Arte, 57); Iîá muru senonhana! - Ainda bem que o faz correr consigo! (Anch., Teatro, 164); 2) bem feito!: Iîá n'endé! (ou Iîá endébe!) - Bem feito para ti! Iîá n'ahẽ. - Bem feito para ele! (VLB, I, 28; II, 11); Iîá îaby ahẽ mã! - Ah, bem feito para ele! (VLB, I, 28); Iîá muru! I py'apûera xe potabamo t'oîkó. - Bem feito para o maldito! Seus fígados hão de ser minha porção. (Anch., Teatro, 64)
ypype (loc. posp.) - perto de, junto a: ...T'oroîkó nde ypype nhẽ... - Que estejamos perto de ti. (Anch., Teatro, 122); ...Tatá ypype oîepegûabo. - Aquecendo-se perto do fogo. (Ar., Cat., 57)
amotar (v.tr.) - querer bem: Xe-te, nde repîaka'upa, oroamotá-katu... - Mas eu, tendo saudades de ti, quero-te muito bem. (Anch., Poemas, 142); O irũ n'oîamotari... - A seus próprios companheiros não querem bem. (Anch., Teatro, 152); Nd'oronhoamotari. - Não nos queremos bem. (VLB, II, 54)
me'eng (ou me'ẽ) (v.tr.) - 1) dar: T'ame'ẽne pirá ruba endébo... - Hei de dar ovas de peixe para ti. (Anch., Teatro, 44); Mba'epe Tupã oîme'eng asébe ybakypene? - Que Deus dará para a gente no céu? (Ar., Cat., 27); Eîme'eng pindá ixébe. - Dá anzóis para mim. (Anch., Arte, 34); 2) entregar, oferecer: Te'õ supé xe me'enga xe robá-pyter îepé... - Entregando-me à morte tu me beijas o rosto. (Ar., Cat., 54); Marataûãme tekoara ogûerobîá xe nhe'enga, ...xe pópe o 'anga me'enga. - Os que estão em Maratauá acreditam em minhas palavras, entregando suas almas em minhas mãos. (Anch., Teatro, 12); 3) vender (VLB, II, 143) ● me'engara - o doador, o que dá, o que entrega: ...Îandé rekobé me'engara... - Doador de nossa vida. (Anch., Poemas, 90); ...i xupé tekokatu me'engara... - o que dá a eles a virtude (Ar., Cat., 24); Abápe i me'engarama? - Quem foi o que o entregou? (Ar., Cat., 53v); emime'enga (t) - o que alguém dá, entrega, etc.: Graça semime'enga n'opabi... - A graça que ele dá não acaba. (Ar., Cat., 5); i me'engymbyra - o que é dado, a doação: ...Asé aîpó i me'engymbyra supé "Tupã potaba" i 'éû? - A gente diz "quinhão de Deus" para aquilo que é dado? (Ar., Cat., 78)
sûé (v.tr.) - atrair: ...Tupã nhemoŷrõ nhẽ ereîxûé nde îoupéne. - A ira de Deus atrairás para ti mesmo. (Ar., Cat., 157)
îemooryb (v. intr.) - alegrar-se: Aîemoorybusu, nde robaké gûitu. - Alegro-me muito, vindo diante de ti. (D'Abbeville, Histoire, 342)
arinhama (s.) - nome de ave parecida com a galinha; galinha: Endé-te, nde resemõ arinhama, taîasu. Mas a ti, sobram-te galinhas e porcos. (Anch., Poemas, 152); Pysaré serã ereîkó arinhama mokanhema? - Será que a noite toda ages para fazer sumir as galinhas? (Anch., Teatro, 30); arinhama rupi'a - ovo de arinhama (Léry, Histoire [1580], p. 276)
îepyk (v. intr. compl. posp.) - vingar-se [de alguém: compl. com esé (r, s)]: -Ogûerekomemûãsara resé oîepyka tiruãpe abá Tupã nhe'enga abyû? - Mesmo vingando-se dos que o maltratam, o homem transgride a palavra de Deus? (Ar., Cat., 70); Aîepyk ipó irã seséne... - Vingar-me-ei dele no futuro, certamente. (Ar., Cat., 102) ● îepykaba - tempo, lugar, modo, etc. de se vingar; vingança: Eîpotar umẽ nde resé o îepykápe anhanga ratápe nde reîtyka... - Não queiras que te lance no inferno para se vingar de ti. (Ar., Cat., 1686, 237)
uba4 (t) (s.) - ova (p.ex., de peixe) (VLB, II, 60): T'ame'ẽne pirá ruba endébo... - Hei de dar ova de peixe para ti. (Anch., Teatro, 44); [adj.: ub (r, s)] (xe) - ter ova (o peixe) (VLB, II, 60)
îopotara (s.) - desejo sensual: Eresepîakĩpe îopotara nde kotype? - Toleraste o desejo sensual em direção a ti? (Ar., Cat., 233)
anhõ (adv.) - sozinho, só; somente: Ixé anhõ asó. - Eu vou só. (VLB, II, 118); ...Nde anhõ t'oroaûsu. - Que somente a ti eu ame. (Anch., Poemas, 128); Xe anhõ kó taba pupé aîkó... - Eu somente nesta aldeia morava. (Anch., Teatro, 4); Ene'ĩ, temiminõ 'arybo nhẽ oîmombe'u o angaîpá-mirĩ anhõ. - Eia, os temiminós de dia confessam seus pecadilhos somente. (Anch., Teatro, 158); Og uba anhõpe abá osapîá?... - A seu pai somente o homem obedece? (Ar., Cat., 68v)
(g)ûi (pref. da 1ª p. do sing., usado com verbos intr. no gerúndio): ...Nde pyri gûitekóbo nhẽ. - Estando eu junto de ti. (Anch., Poemas, 100); Aîemĩngatu kó gûitupa... - Escondo-me bem estando deitado aqui. (Anch., Teatro, 32); gûimanõmo - morrendo eu (Anch., Arte, 28v)
îe- (pref.) - 1) (Forma que reflete o sujeito, formando a voz reflexiva em tupi. É usado em todas as pessoas gramaticais com verbos transitivos.) - me, te, se, nos, vos, a si mesmo, de si mesmo: Aîemĩngatu-pe ká... - Hei de me esconder bem. (Anch., Teatro, 32); Eîepe'a! - Afasta-te! (Anch., Teatro, 32); Eîeapirõ! - Lamenta-te! (Anch., Teatro, 42); Gûiîembo'ebo. - Ensinando eu a mim mesmo; Eîembo'ebo. - Ensinando tu a ti mesmo (Anch., Arte, 29); (Às vezes pode ser usado redundantemente): Tuba oîeubamo sekóû (em vez de o ubamo). - Ele tem seu próprio pai. (Anch., Arte, 17); 2) (forma apassivadora): Aîemonhang. - Sou feito. (Anch., Arte, 35); Oîe'u. - Come-se; é comido. (Anch., Arte, 35); Aîeîuká-ukar. - Faço-me matar. (Anch., Arte, 35)
pora1 (mb-) (s.) - habitante: Oroîeruré bé nde resé t'oîeme'eng apŷabangaturama oré retama pora ri... - Pedimos também a ti que se dêem homens bons para habitantes de nossa terra. (D'Abbeville, Histoire, 342); Abápe 'ara pora oîkó nde îabé? - Que habitante do mundo há como tu? (Anch., Poemas, 116); kunhãmuku taba pora... - as moças habitantes das aldeias (Anch., Teatro, 150)
5 (adv.) - mesmo, bem: ...'Ara nde i gûaba pupé bé o'a te'õ nde reséne... - No mesmo dia em que tu a comeres cairá a morte em ti. (Ar., Cat., 40); ...Kori bé t'i mokanhẽ... - Hoje mesmo havemos de fazê-lo sumir... (Anch., Teatro, 16); Xe ku'aî bé arekó. - Tenho-o bem na minha cintura. (VLB, I, 74); Xe pytáî bé turi. - Veio bem detrás de mim. (Anch., Arte, 41v); Oîeí bé muru kaî... - Hoje mesmo os malditos queimam. (Anch., Teatro, 88)
monhenong (v.tr.) - fazer que se ponha: Ereîmonhenongype kunhã nde 'arybo sesé eîkóbo? - Fizeste que uma mulher se pusesse sobre ti para fazer sexo com ela? (Ar., Cat., 234)
amõaé (ou amboaé) (pron. subst. ou adj.) - 1) outro (os, a, as): Amõaé tubixá-katu nde resé oîerobîá. - Aqueles outros grandes chefes em ti confiam. (Anch., Poemas, 104); Marã e'ipe amõaé asé îeruresaba? - Como diz a outra petição da gente? (Ar., Cat., 26v); Nd'e'ikatupe amõaé abá oporomongaraípa abaré suí? - Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? (Ar., Cat., 81); 2) algum (ns, a, as) (VLB, I, 31)
pindá1 (s.) - PINDÁ, anzol (Léry, Histoire, 346): Xe pindá-porangeté t'opindaîtykyne endébo... - Meu anzol muito ditoso há de pescar para ti. (Anch., Poemas, 152); T'i nhyrõngatu kori îandébo, pindá me'enga. - Que eles bem perdoem hoje a nós, dando anzóis. (Anch., Poemas, 196); (adj.) (xe) - ter anzol: Na xe pindáî. - Eu não tenho anzol. (Anch., Arte, 48) ● pindá monhangara - fazedor de anzóis, anzoleiro; pindá-tinga (ou pindá-tingusu) - anzol pargueiro; pindá-una (ou pindagûasu) - anzol de ferro (VLB, I, 37); pindá posyîtaba - chumbada do anzol (VLB, I, 74); pindá-aŷpypûasaba - estorvo do anzol, isto é, corda com que se reata este (VLB, I, 129)
poekûabo (adv.) - segundo o costume: O poekûabo ipó Tupã nhyrõnamo ndebe ko'yténe. - Segundo seu costume, certamente Deus perdoará a ti, afinal. (Anch., Doutr. Cristã, II, 94)
ra'u (part.) 1) (expressa desprezo ou enfado) - Vamos ver! Vê lá!: ...Eîkuá ra'u nde ri opûaryba'e! - Adivinha, vamos ver, o que bateu em ti! (Ar., Cat., 56v); Erasóne ra'u! - Leva-o, vamos ver! Vamos ver se o levas! (VLB, II, 58); 2) (expressa dúvida) - será?: Pesaûsu ra'upe pe pysyrõana...? - Será que amais vosso salvador? (Ar., Cat., 86); Marãeté'ĩ ra'umope amõ Anhanga ratá pora rekóû ikó 'ara pupé...? - Como será que um habitante do inferno viveria neste mundo? (Ar., Cat., 156v); 3) (expressa ordem, determinação) - ora: Esa'ang ra'u. - Ora, experimenta-o. (VLB, I, 126); 4) (expressa desgosto): Xe angaîpabeté'i ra'u mã! - Ah, eu fui muito pecador! (Anch., Doutr. Cristã, I, 195); Ixé tekatu-eté'ĩ ra'u anhanga ratápe akaîmo mã! - Ah, eu haveria de queimar verdadeiramente no fogo do diabo! (Ar., Cat., 249); 5) (expressa algo imaginário): Peîmo'ang ra'u xe ra'yrĩ gûé, peîmo'ang pe re'õ pupé pe ruba... - Imaginai, ó meus filhinhos, imaginai que estais deitados em vossa morte. (Ar., Cat., 155v)
kûesé (ou kûeîsé) (adv.) - 1) ontem: Kûesé Pedro sóû. - Ontem Pedro foi. (Fig., Arte, 95); Kûesé Pedro nde resé i ma'enduari. - Ontem Pedro de ti se lembrou. (Fig., Arte, 95); Kûesé paîé mba'easybora subani. - Ontem o feiticeiro chupou o enfermo. (Fig., Arte, 96); Kûesé ka'a rupi Pedro ogûatábo, sopari. - Ontem, andando Pedro pela mata, perdeu-se. (Fig., Arte, 95); ...Aseîá kûesé xe roka... - Deixei ontem minha casa. (Anch., Poemas, 112); Kûeîsé, rakó, amõ kanhemi. - Ontem, é verdade, alguns sumiram. (Anch., Teatro, 12); 2) há poucos dias, recentemente (VLB, I, 24): Kûesé nde remirekó manhanamo ereîmondó... - Há poucos dias mandaste tua esposa como espiã... (Anch., Teatro, 178, 2006) ● kûesé bé - desde ontem; há dias: ...Kûesé bé mba'e n'a'uî. - Desde ontem não como nada. (Anch., Poemas, 150); Kûeîsé bé nakó aîrumõ... - Eis que o ajunto há dias, na verdade. (Anch., Teatro, 10); kûesé-té'ĩ, kûesé-té'ĩ-mbyryb, kûesé-té'ĩbé, kûesé-bé'ĩ, kûesé-pyryb - há bem pouco tempo, agora há pouco, agorinha mesmo (VLB, I, 24)
poasema (m) (s.) - grito, gemido de dor (VLB, I, 28); (adj.: poasem) (xe) - gemer (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277): Nebe oronheangerur oré poasemamo. - A ti suspiramos, gemendo. (Ar., Cat., 14)
apyri (loc. posp.) - junto a, colado a, junto de, à ilharga de (Fig., Arte, 123), ao lado de: T'asóne nde apyri. - Vou nas tuas ancas, vou colado a ti; Arasó xe apyri. - Levo-o junto de mim. (VLB, I, 35); Xe roka apyri tuî. - Ele mora ao lado de minha casa; Xe apyri tuî. - Ele mora a meu lado. O îoapyri oré roka ruî. - Nossas casas estão estabelecidas uma junto da outra. (VLB, II, 145); (adv.) de parede-meia: Apyri aîkó. - Moro de parede-meia. (VLB, II, 65)
erobîar (ou erobîá) (v.tr.) - crer (Fig., Arte, 108); acreditar em, confiar: Pitangĩ-porangeté, orogûerobîá-katu. - Criancinha muito bela, creio muito em ti. (Anch., Poemas, 128); E'i tenhẽ nde rerobîá... - Em vão crêem em ti. (Anch., Teatro, 40); ...I pyrybé perobîá... - Acreditai um pouco mais nele. (Anch., Teatro, 56); Nd'arobîari Makaxera... - Não confio em Macaxeras... (Anch., Teatro, 62); T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma... - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés. (Anch., Teatro, 118) ● ogûerobîaryba'e - o que crê, o que acredita: E'ikatupe ybakype osóbo oîepé Tupã... ogûerobîare'ymba'e...? - Pode ir para o céu o que não crê em um só Deus? (Bettendorff, Compêndio, 102); erobîasara (t) - o que crê, o que acredita: ...Serobîasare'yma potyrõû iî ybõîybõmo... - Os que não acreditavam nele trabalharam em conjunto, ficando a flechá-lo... (Ar., Cat., 3v); serobîarypyra - o que é acreditado, aquele em quem se deve acreditar (Fig., Arte, 108): Ixé serobîarypyra,... Gûaîxará seryba'e. - Eu sou aquele em quem se deve acreditar, o que tem nome Guaixará. (Anch., Teatro, 6); emierobîara (t) - aquilo em que alguém crê, a crença: Catorze asé remierobîarama... - Catorze são aquelas coisas em que creremos. (Ar., Cat., 15v); erobîasaba (ou erobîaraba) (t) - tempo, lugar, modo, etc. de crer, de acreditar; a crença: Ereîmorype abá paîé rerobîaragûama resé? - Toleraste as pessoas em sua crença no pajé? (Ar., Cat., 98v)
mongetá1 (v.tr.) - pedir a, rogar a: Atupã-mongetá xe îoesé, eîmongetá nde resé, Pedro t'oîmongetá o îoesé. - Eu rogo a Deus por mim, roga a Ele por ti e Pedro rogue a Ele por si. (Fig., Arte, 81); Ne emongetá nde Tupã t'okûab é amanusu... - Roga tu a teu Deus para que passe mesmo a tempestade. (Staden, Viagem, 66) ● mongetasara - o que roga a, o que pede a: Abá-abápe asé resé Tupã mongetasaramo sekóû? - Quem são os que rogam a Deus por nós? (Ar., Cat., 23v); mongetasaba - tempo, lugar, modo, etc. de rogar, de pedir, etc.: ...'angûera... resé Tupã mongetasagûama - ...tempo de rogar a Deus pelas almas (Ar., Cat., 136)
esaraî (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - 1) esquecer-se [de algo ou de alguém: compl. com esé (r, s) ou suí]: Na xe resaraî nde resé. - Eu não me esqueço de ti. (Fig., Arte, 124); Xe resaraî (mba'e) suí. - Eu me esqueci de algo. (VLB, I, 127, adapt.); Xe resaraî é gûitekóbo. - Eu estava-me esquecendo mesmo. (Anch., Teatro, 178); 2) esquecer (algo a alguém), ficar por esquecimento, ficar esquecido, apagar-se da memória de [compl. com esé (r, s)] (VLB, I, 127) ● esaraîtaba (ou esaraîaba) (t) - tempo, lugar, modo, etc. de esquecer; o esquecimento, o objeto do esquecimento, a coisa esquecida (VLB, I, 127): Xe ra'yrĩ gûé, tesaraîtabamo okanhemba'epûera rekó resé nde ma'enduar. - Ó meu filhinho, lembra-te de que os que pereceram são objeto de esquecimento. (Ar., Cat., 157v-158); A'epe marã abá rekóû a'e o esaraîagûera supé ogûasemane? - E como alguém procederá encontrando aquilo que esqueceu? (Ar., Cat., 90)
mondyî (v.tr.) - espantar, assustar; amendrontar, apavorar (VLB, II, 66), fazer tremer: ...T'oroîkó nde ypype nhẽ, oré sumarã mondyîa. - Que estejamos perto de ti, espantando nossos inimigos. (Anch., Teatro, 122); Îori anhanga mondyîa... - Vem para espantar o diabo. (Anch., Poemas, 132); ...Oú-mo'ang pe mondyîa. - Pensa em vir para vos espantar. (Anch., Teatro, 180) ● oîmondyîba'e - o que espanta, o que assusta, etc.: ...Setá tekó oporomondyîba'ene... - Serão muitos os fatos que assustarão as pessoas. (Ar., Cat., 159v); mondyîtaba (ou mondyîsaba) - tempo, lugar, modo, etc. de assustar, de espantar; espanto: ...Anhanga mondyîtabamo. - Como modo de espantar o diabo. (Ar., Cat., 93)
ûi- (ou gûi-) (pref. da 1ª p. do sing. usado com o gerúndio): ...Tupã supé ûiîerurébo... - Orando eu para Deus. (Anch., Teatro, 40); ...Nde robaké ûigûapyka... - Diante de ti sentando-me eu. (Anch., Poemas, 96); Karaibokype ûitekóbo... - Estando eu em casa de cristãos... (Anch., Teatro, 46)
nde (ou ne) 1) (pron. pess. da 2ª p. do sing.) - a) (pron. sujeito) - tu: Abápe nde? - Quem és tu? (Anch., Teatro, 26); Nde rasẽ! - Grita tu! (Anch., Teatro, 42); b) (pron. objeto) - te, ti: Ereîpotápe nde 'u? - Queres que ele te coma? (Anch., Teatro, 32); Nde îuká xe îara. - Meu senhor te mata. (Anch., Arte, 12v); E'i tenhẽ nde rerobîá... - Em vão crêem em ti. (Anch., Teatro, 40); 2) (poss. de 2ª pess. do sing.) - teu (s, a, as): nde retãme - na tua terra (Anch., Poemas, 92); nde rera - teu nome (Anch., Teatro, 44); nde nhe'enga - tuas palavras (Anch., Teatro, 44) (V. tb. endé)
amongoty (adv. e loc. posp.) - 1) alhures, em outra parte, para outra parte; para lá (Fig., Arte, 132): ...Xe raûsubá-mirĩ temõ abaré, amongoty nhõte xe moinuká mã!... - Ah, quem me dera tivesse o padre um pouquinho de piedade de mim, mandando-me pôr em outra parte! (Ar., Cat., 164v); Serenduba rupibé amongoty xe nhemimi. - Logo ao ouvir o nome dela eu me escondo em outra parte. (Anch., Teatro, 126); 2) desde outra parte (VLB, I, 100); doutra parte (VLB, I, 106); 3) longe de, afastado de: Ereîmomaranype nde mena nde reroby-potareme i amongoty eîupa...? - Resististe a teu marido quando quis chegar-se a ti, estando deitada longe dele? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98); 4) adiante de, para adiante de, para além de, do outro lado de, além de: Lisboa amongoty - para adiante de Lisboa (VLB, I, 48); ybytyra amongoty - além das montanhas (VLB, I, 31) ● amongoty nhõ - de uma só parte, de um só lado (VLB, I, 92)
abiîxûara (s.) - o que está aconchegado, o que está junto: Ereîtykype kunumĩ amõ nde abiîxûara nde 'arybo moropotara suí? - Lançaste algum menino que estava aconchegado a ti sobre ti por desejo sensual? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95)
apîar (s) (v.tr.) - obedecer (a alguém ou a algo): Aînhe'engapîar. - Obedeço às palavras dele. (VLB, II, 53); Oroîmomburu anhanga, nde nhõ nde rapîaretébo. - Amaldiçoamos o diabo, a ti somente obedecendo muito. (Anch., Poemas, 174); Xe rapîakatu abá. - Obedecem-me bem os índios. (Anch., Teatro, 134); Asapîakatupe ká. - Hei de obedecer bem a ele. (Ar., Cat., 25v); -Esapîá-te! - Tu, ao contrário, obedece a ele! (Anch., Teatro, 62) ● apîaraba - tempo, lugar, modo, etc. de obedecer; obediência: Marãngatupe asé rekóû Tupã o apîaraûama rine? - Como a gente procederá para obedecer a Deus? (Ar., Cat., 30)
sykyîé2 (v. intr. compl. posp.) - temer, ter medo [de algo ou de alguém: compl. com a posp. suí ou com o gerúndio]: Anhanga nde moabaîté, nde suí osykyîébo. - O diabo te agasta, de ti tendo medo. (Anch., Poemas, 144); "Jesu" 'éreme, moxy sykyîéû... - Ao dizer "Jesus", o maldito tem medo. (Anch., Poemas, 186); ...Îudeus suí osykyîébo... - Tendo medo dos judeus. (Ar., Cat., 55); ...T'osykyîé umẽ Îesu Cristo... mombegûabo. - Que não tenha medo de anunciar a Jesus Cristo. (Ar., Cat., 81) ● sykyîaba (ou sykyîéba) - tempo, lugar, modo, causa de se ter medo, de temer; temor: Tupã anhõ... Anhanga sykyîabamo t'oîkó. - Deus somente seja a causa de temor ao diabo. (Ar., Cat., 141v); Morapitîara ixé, angaîpaba sykyîéba... - Eu sou um assassino, causa de se ter medo dos pecados. (Anch., Teatro, 90); sykyîebora - medroso (VLB, II, 35)
'u (v. tr. irreg.) - ingerir (comida, bebida, donde "comer", "beber"), inalar (fumo): A'y-'u. - Bebi água. (VLB, I, 53); Nd'ere'uî xó kori xe remindu'une! - Não beberás hoje o que eu mastigo. (Anch., Teatro, 10); Ereîpotápe nde 'u? - Queres que ele te coma? (Anch., Teatro, 32); I aputu'uma t'a'u. - Hei de comer seus miolos. (Anch., Teatro, 66) ● o'uba'e - o que come, o que bebe, o que ingere: O puru'a îuká potá mosanga o'uba'e. - A que ingere uma poção, querendo matar seu feto. (Anch., Diál. da Fé, 209); 'ûara (ou gûara) - o que ingere, o que come, o que bebe: ...mosangygûaba gûara - a que ingere veneno (Ar., Cat., 70); i 'upyra - o que é (ou deve ser) comido, bebido, ingerido: Îasy mba'e i 'upyra. - A lua foi comida (isto é, a lua eclipsou-se). (VLB, I, 108); 'ûaba (ou gûaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de ingerir, de comer, de beber, a ingestão: usá-'ûaba - lugar de comer caranguejos uçás (D'Abbeville, Histoire, 184); 'Ara nde i gûaba pupé bé o'a te'õ nde reséne... - No mesmo dia em que a comeres, cairá a morte em ti. (Ar., Cat., 40); Oîmoasype a'e riré a'e 'ybá 'uagûera? - Arrependeu-se, depois disso, de ter comido aquele fruto? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); Ere'upe so'o i gûabe'yma pupé? - Comeste carne no tempo de não a comer? (Anch., Doutr. Cristã, II, 107); N'i gûabi. - Não tem modo de o comer. (Anch., Arte, 48)
monhyrõ (v.tr.) - 1) apaziguar, aplacar, amansar, fazer perdoar: Aîmonhyrõ Tupã xe îopupé. - Aplaco a Deus para mim. (Fig., Arte, 81); Nde eîmonhyrõ Tupã nde îoupé. - Aplaca tu a Deus para ti. (Fig., Arte, 81); ...Xe angaîpaba rapirõmo, ...i monhyrõmo. - Pranteando meus pecados, fazendo-os perdoar. (Anch. Teatro, 168); 2) reconciliar (os discordes) (VLB, II, 98) ● omonhyrõba'e - o que apazigua, o que aplaca, etc.: Tekokatueté rerekoara oporomonhyrõba'e... - Os que têm a beatitude são os que apaziguam as pessoas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 154); monhyrõsaba - tempo, lugar, modo, etc. de aplacar, de apaziguar: Mba'e-eté anhẽ nhemombe'u... Tupã remimonhangûera ikó 'ara pupé o monhyrõsabamo... - Coisa muito boa é a confissão, que Deus fez como modo de aplacá-lo neste mundo. (Ar., Cat., 220); monhyrõsara - o que aplaca, o que faz perdoar, apaziguador: Nd'e'i te'e abaré moingóbo... o monhyrõsaramo... - Por isso mesmo é que constituiu os padres como seus apaziguadores. (Anch., Doutr. Cristã, I, 195)
poepyk (v.tr.) - 1) revidar, replicar (o que dizem), responder nos mesmos termos a, pagar na mesma moeda a (O objeto deste verbo pode ser uma coisa ou uma pessoa.): Abá nhe'enga poepyka tiruãpe asé Tupã nhe'enga abyû? - Mesmo replicando as palavras de alguém a gente transgride a palavra de Deus? (Ar., Cat., 74); Aîpoepyk Pero. - Replico a Pero (isto é, respondo-lhe nos mesmos termos). Aînhe'ẽ-poepyk Pero. - Replico as palavras de Pero. (VLB, II, 101); 2) retribuir: nde raûsuba poepyka... - retribuindo o amor a ti (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); Aîpoepyk semikûatiara. - Retribuí o que ele escreveu (isto é, escrevi-lhe como ele fez a mim). (VLB, I, 90); 3) vingar, desagravar: Xe anama poepyka ké ixé aîkó. - Para vingar minha família aqui eu estou. (Staden, Viagem, 157); 4) ter questões com (VLB, II, 94) ● poepykaba - tempo, lugar, modo, etc. de replicar, de revidar, de retribuir, etc.; réplica, resposta (VLB, II, 102); paga na mesma moeda ou de uma coisa por outra da mesma espécie (p.ex., ouro por ouro, punhada por punhada, carta em resposta a carta, etc.) (VLB, II, 62); poepykara - o que replica, o que retribui, etc.: ...Tupã o aûsuba poepykareté... - o que retribui verdadeiramente o amor de Deus a si (Ar., Cat., 166v)
nõmo1 (adv.) - 1) deste tamanho (mostrando com as mãos) (VLB, II, 123); 2) até esta medida, até este ponto, até aqui: Nõmo nhõ ma'e t'asenõî ndebe. - Somente até aqui hei de nomear coisas para ti. (Léry, Histoire, 360)
îemo'esaba (s.) - ensinamento; (adj.: îemo'esab) - ensinado, sábio, douto: Oroîeruré bé nde resé toîeme'eng apŷabangaturama oré retama pora ri, pa'i-îemo'esaba bé Tupã resé i'ekatuba'e... - Pedimos também a ti que se dêem homens bons para habitantes de nossa terra e padres doutos que saibam acerca de Deus. (D'Abbeville, Histoire, 342) (v. mbo'e)
kobé (adv.) - aqui, eis aqui, aqui está, eis que, eis que aqui: Kobé aîkó. - Aqui estou eu. (VLB, I, 40); ...Kobé xe rembiaretá t'ame'ẽne amõ endébo... - Eis que também minhas muitas presas hei de dar algumas a ti. (Anch., Teatro, 46); ...Kobé aîkó nde ra'yrangaîpabĩnamo... - Eis que aqui estou como teu filho pecador. (Ar., Cat., 86); Kobé xe îurupara, kobé arupare'aka. - Eis aqui meu arco, eis aqui as farpas. (Anch., Teatro, 162); Kobé sekóû kó. - Eis que ele está aqui; Kobé tuî kobé (forma enfática). - Eis que aqui está deitado. (VLB, I, 109)
amõ1 (pron. subst. e adj.) 1) (na afirm. e interr. afirm.): algum (ns, a, as); certo (os, a, as); alguém; vários (as): Kó bé xe rembiaretá t'ame'ẽne amõ endébo... - Eis que também minhas muitas presas hei de dar algumas a ti. (Anch., Teatro, 46); Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); ...I xupé o apixara amõ me'enga... - Dando para ele alguma semelhante a si. (Ar., Cat., 72); Oîmonhangype Îandé Îara amõ sobaké? - Fez Nosso Senhor algum (milagre) diante dele? (Ar., Cat., 58v); "Ixé-temõ aîmombuk mã," erépe amõ supé? - Disseste a alguém: "-Ah, quem me dera desvirginá-la"? (Ar., Cat., 103v); 2) (na neg.): nenhum: Nd'aruri amõ parati... - Não trouxe nenhum parati. (Anch., Poemas, 152); ...Abá 'angûera amõ soe'ymi ybakype erimba'e? - Não ia para o céu outrora a alma de nenhum homem? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); 3) outro (os, a, as): ...amõ taba rapekóbo. - ...outras aldeias frequentando. (Anch., Teatro, 4); Eîar-y bé amõ. - Toma mais outro. (VLB, II, 60); Amõ abá abé mokõî robaké omendare'ymba'e n'omendari. - Não estão casados os que não se casam diante de duas outras pessoas também. (Ar., Cat., 128); ...Umãba'e bépe amõ sosé sekóû?... - Qual está acima dos outros? (Bettendorff, Compêndio, 42); 4) mais, além disso: Mba'epe amõ? - Que mais? (Léry, Histoire, 343); 5) um pouco de, uns poucos: Inimbó'i amõ reru. - Trazendo um pouco de linha. (VLB, I, 154) ● amõ amõ - 1) alguns (as); vários (as), diversos (as) (s. ou adj.): ...Amõ amõ o poti'a resé opûá-pûá... - Alguns ficavam batendo no peito. (Ar., Cat., 64); ...amõ amõ santos... - alguns santos (Ar., Cat., 139, 1686); Karaíba amõ amõ i angaîpá... - Vários homens brancos são pecadores. (Anch., Poesias, 55); 2) outros: Oîmoeté bé asé amõ amõ 'ara, i pupé oporabykye'yma. - Honra a gente também outros dias, neles não trabalhando. (Ar., Cat., 12v)
îosuí (forma refl. ou recípr. da posp. suí): 1) de si mesmo(s), do(s) próprio(s): Nde îosuí nde mba'e resé abá mondarõ nde i potare'yma îabé, teumẽ abá mba'e resé é mondarõmo... - Assim como tu não queres que alguém furte de ti tuas coisas, guarda-te de furtar as coisas de alguém. (Ar., Cat., 107v); 2) um do outro, uns dos outros: Oîabyetépe omendaryba'e Tupã nhe'enga o îosuí omondarõmo? - Transgridem muito a palavra de Deus os que se casam, sendo traidores um do outro? (Ar., Cat., 94v); ...I kanga îepotasaba pe'abo o îosuí. - As juntas de seus ossos afastando umas das outras. (Ar., Cat., 62v). (A forma o îosuí pode ser usada também com a 1ª e a 2ª pessoas.): Îaîepe'a o îosuí (ou também Îaîepe'a îandé îosuí.) - Afastamo-nos uns dos outros. (Anch., Arte, 16)
tenhẽ2 (conj.) - ainda que, não importa que, apesar de que: Reîamo ereîkó tenhẽ, setá tenhẽ nde boîá, xe-te t'oroporaká... - Apesar de que sejas rainha, apesar de que sejam muitos os teus servos, eu, não obstante, pesco para ti. (Anch., Poemas, 152)
ma'enduar (ou ma'enduá) (xe) (v. da 2ª classe) - lembrar-se [de algo ou de alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: ...Nde ma'enduá xe ri! - Lembra-te de mim! (Anch., Teatro, 176); Kûesé Pedro nde resé i ma'enduari. - Ontem Pedro se lembrou de ti. (Fig., Arte, 95); N'i ma'enduari xûéne. - Eles não se lembrarão. (Fig., Arte, 40); Ybakype Tupã i moeté-katu resé o ma'enduaramo. - Lembrando-se de que Deus os honra muito no céu. (Ar., Cat., 24) ● ma'enduasaba (ou ma'enduaraba) - tempo, lugar, modo, etc. de lembrar-se; lembrança: Ta xe pysyrõ Tupã ma'enduasabaíba suí. - Que me livre Deus das lembranças ruins. (Ar., Cat., 21); mba'e resé ma'enduasaba - lembrança das coisas (VLB, II, 35)
1 (-îo-) (v.tr.) - 1) quebrar (coisa oca como cana; coisa côncava ou redonda como bola) (VLB, II, 92); romper: Kobé xe rembiaretá t'ame'ẽne amõ endébo, i akanga t'ereîoká. - Eis que também minhas presas hei de dar algumas para ti, para que quebres suas cabeças. (Anch., Teatro, 46); A'e ré kori îasó tubixaba akanga kábo. - Depois disso, vamos hoje para quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); 2) arrombar (como arca, cabaço, navio) (VLB, I, 44) ● kasara - o que rompe, o que quebra: ...kunhataĩ rugûy kasara - o que rompe o sangue de uma moça, o que a desvirgina (Ar., Cat., 71v); itá kasara - quebrador de pedras (VLB, I, 69)
-gû-1 (ou û-) (representação da semivogal w, que se insere entre os prefixos número-pessoais o- e oro- e alguns verbos iniciados por vogal): T'orogûerekó (leia-se torowerekó), setãme, nde pyri, tekó-puku. - Que tenhamos, em sua terra, junto de ti, a vida eterna. (Anch., Teatro, 122); Pitangĩ abé îandé rubypy angaîpaba nhõ ogûerekó. - As criancinhas também têm somente o pecado de nosso pai primeiro. (Anch., Doutr. Cristã, 201)
siri (ou seri) (s.) - SIRI, nome genérico de várias espécies de crustáceos decápodes braquiúros da família dos portunídeos (D'Abbeville, Histoire, 248; VLB, I, 67): Auîebeté kó aîkó, ndébo ko siri reru. - Muito bem, eis que aqui estou, trazendo para ti estes siris. (Anch., Poemas, 154)
amanaîé2 (v. intr. compl. posp.) - fazer convite, mandando recado; chamar (para a guerra, com mensagem); mandar recado (compl. com supé): T'asóne nde pyri... erépe amõ kunhã supé koîpó ereamanaîé i xupé, sesé enhemomotá?... - Disseste a alguma mulher: "-Hei de ir junto a ti" ou mandaste-lhe recado, atraindo-te por ela? (Ar., Cat., 104)
emonãnamo (conj.) - 1) portanto, assim, por isso, dessa maneira: Emonãnamo, xe ruri... - Portanto, eu vim. (Anch., Poemas, 100); Emonãnamo, ereîu oré putuna pe'abo... - Dessa maneira, vens para afastar nossa escuridão. (Anch., Poemas, 142); Emonãnamo, xe ruri ndébo... - Portanto, eu vim a ti. (Anch., Poemas, 154); -Emonãnamope asé îeruréû santos-etá supé? -Emonãnamo. -Por isso nós rezamos aos santos? - Por isso. (Ar., Cat., 23v); 2) é por isso que: Emonãnamo serã Tupã îandé rubypy arukangûera nhẽ monhangi semirekó retéramo? - Será que é por isso que Deus transformou a costela de nosso pai primeiro no corpo de sua esposa? (Ar., Cat., 95v) ● emonãnamo é - e portanto... (VLB, I, 121)
rakó1 (adv.) - na verdade, é verdade que, certamente, é certo: Kûeîsé, rakó, amõ kanhemi... - Ontem, é verdade que alguns sumiram. (Anch., Teatro, 12); A'e, rakó, i angaîpá... - Elas, certamente, são más. (Anch., Teatro, 14); Emonã rakó sekóû nde suí. - Assim agiu, na verdade, longe de ti. (Ar., Cat., 74, 1686)
porakar1 (ou poraká) (v.tr.) - procurar alimento para; pescar ou caçar para: Eresaûsubarype... i poraká? - Compadeceste-te deles, procurando-lhes alimento? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86); T'i poraká apó abá. - Procuremos alimentos para aqueles homens. (Léry, Histoire, 355); ...T'oroporaká... - Hei de pescar para ti. (Anch., Poemas, 152) ● porakasara - o que procura alimento; o pescador; o caçador: xe porakasara - meu pescador (Léry, Histoire, 368)
îekok (v. intr. compl. posp.) - apoiar-se, encostar-se, escorar-se, arrimar-se [em algo ou em alguém: compl. com esé (r, s)]: Xe resé oîerobîá,... xe resé-katu oîekoka. - Em mim confiam, bem em mim apoiando-se. (Anch., Teatro, 40); Aîekok sesé. - Encosto-me nele. (Anch., Arte, 44v); ...Oroîekok nde resé. - Apoiamo-nos em ti. (Anch., Poemas, 172); Nde pó gûyrype oroîkó, nde resé oroîekoka. - Sob tuas mãos estamos, em ti apoiando-nos. (Anch., Poemas, 174)
erosyk (v.tr.) - 1) chegar com, fazer chegar consigo: Mamõpe gûá Îandé Îara rerosyki ko'yté? - Aonde chegaram com Nosso Senhor, finalmente? (Ar., Cat., 89); 2) aproximar-se de, achegar-se a, acercar-se de ● serosypyra - o que está (ou deve estar) achegado: Nde resé serosypyra... - Os que estão achegados a ti. (Anch., Poemas, 96)
moabaeté1 (ou moabaîté) (v.tr.) - 1) irar, enfurecer, agastar: Anhanga nde moabaîté... - O diabo te agasta. (Anch., Poemas, 144); Xe n'aîu-potari biã, karaíba moabaîtébo. - Eu não queria vir, irando os homens brancos. (Anch., Poemas, 194); 2) odiar, aborrecer, detestar: Osykyîé nde suí Anhanga, nde moabaetébo. - Tem medo de ti o diabo, odiando-te. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618); Nd'e'i te'e ipó asé pecado... moabaetébo te'õ sosé?... - Por isso, na verdade, é que a gente detesta o pecado mais que a morte? (Anch., Diál. da Fé, 232)
îeruré (v. intr. compl. posp.) - pedir; rogar; rezar [a alguém: compl. com supé; por algo: compl. com esé (r, s)]: Aîeruré aoba resé Pedro supé. - Peço a Pedro por roupa. (Anch., Arte, 44); Aîeruré Tupã supé xe angaturãgûama resé. - Peço a Deus por minha virtude. (VLB, II, 69); Aîeruré ndebe xe remi'urama resé. - Peço a ti por minha comida. (D'Evreux, Viagem, 144) ● îeruresaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de pedir; pedido, petição: I pupé... 'y anhẽ monhangi kaûĩnamo o sy îeruresaba rupi. - Nele a água transformou em vinho, de acordo com os pedidos de sua mãe. (Ar., Cat., 12); Marã e'ipe amoaé asé îeruresaba? - Como reza aquela outra petição nossa? (Ar., Cat., 26v); T'oú, nde îeruresápe, Tupã oré moorypa... - Que venha, por teus pedidos, Deus para nos fazer felizes. (Anch., Teatro, 118)
epîaka'ub (s) (v.tr.) - desejar ardentemente ver, ter saudades de; ver na imaginação: ...Nde robá repîaka'upa... - Desejando ardentemente ver tua face. (Anch., Poemas, 84); Pitangĩ repîaka'upa, aîur xe roka suí. - Desejando ardentemente ver o nenenzinho, vim de minha casa. (Anch., Poemas, 102); Xe-te, nde repîaka'upa, oroamotá-katu... - Mas eu, tendo saudades de ti, quero-te muito bem. (Anch., Poemas, 142); O membyra... 'arama osepîaka'ub... - Deseja ardentemente ver o nascimento de seu filho. (Ar., Cat., 9-9v); Asepîaka'ub xe ruba. - Tenho saudades de meu pai. (Fig., Arte, 138)
nheme'eng (ou îeme'eng) (v. intr. compl. posp.) - entregar-se, render-se (p.ex., o inimigo) (VLB, II, 101), oferecer-se (a alguém: compl. com a posp. supé): Xe poreaûsubetekatu... Anhanga supé xe nheme'eng'iré mã! - Ah, eu sou muito miserável após me entregar para o diabo! (Ar., Cat., 77); Oroaûsu-potá-katu, oroîeme'enga endébo. - Queremos muito amar-te, entregando-nos a ti. (Anch., Poemas, 136) ● onheme'engyba'e - o que se entrega, o que se oferece: A'epe se'yî kunhã Tupã supé onheme'engyba'e oîkóbo. - Aí são muitas as mulheres que se estão oferecendo para Deus. (Ar., Cat., 8v)
pûaî (-îo-) (v.tr.) - 1) dar ordens a, mandar, ordenar, mandar fazer [aquilo que se manda ou se ordena pode vir com esé (r, s)]: Xe îara é xe pûaî sesé. - Meu senhor é que me mandou fazê-lo. (VLB, II, 30); Santa Madre Igreja... îekuaku-pûaîa îabi'õ îekuakuba. - Jejuar cada vez que a Santa Madre Igreja mandar jejuar. (Ar., Cat., 17); Ereîmorype i nhe'enga mba'e-katu resé nde pûaîme? - Aceitaste suas palavras ao dar ordens a ti para alguma coisa boa? (Ar., Cat., 100v); Apindó-pûaî. - Mandei fazer palma. (VLB, I, 114); Asó u'i pûaîa. - Vou para mandar fazer farinha. (VLB, II, 30); 2) encomendar a, mandar ir em busca [de algo: compl. com esé (r, s)]: Ereîopûaîpe nde remirekó kunhã resé? - Mandaste tua esposa ir em busca de mulheres? (Ar., Cat., 236); Aîopûaî amõ abá pindoba resé... - Mandei um homem ir em busca de palma. (VLB, I, 114); 3) ocupar (mandando fazer alguma coisa), encarregar [de algo: compl. com esé (r, s) ou ri]: Xe pûaî îepé. - Ocupa-me tu. (VLB, II, 30); Aîopûaî Pedro îepeaba resé. - Encarreguei Pedro da lenha. (VLB, I, 21, adapt.); Osapîá-katupe kunhã o mena tekó-katu resé o pûaîme? - Obedece bem a mulher a seu marido ao encarregá-la de boas coisas? (Ar., Cat., 95v); 4) apregoar: Amarã-mbûaî (ou Agûarinĩ-mbûaî). - Apregôo a guerra. (VLB, I, 39) ● pûaîtaba (ou pûaîaba) - tempo, lugar, modo, etc. de ordenar, de mandar etc; ordem, mandado; encomenda; encargo: Sepyrama xe pûaîtaba... - Sua remissão foi meu encargo. (Anch., Teatro, 170); E'ikatupe asé... abaré o pûaîtagûera rupi oîkoe'yma? - Pode a gente não proceder conforme o mandado do padre? (Ar., Cat., 90v); pûaîtara - o que ordena, o que dá ordens a, o que manda fazer, o que encomenda, etc.: karaibebé pûaîtara: a que dá ordens aos anjos (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); A'e-te kaûĩ pûaîtara. - Mas são eles os que mandam fazer cauim. (Anch., Teatro, 34); Karaibebé a'e, moroîubyka pûaîtara. - Ele é o anjo que encomenda o enforcamento. (Anch., Teatro, 62); emimbûaîa (t) - o que alguém ordena, aquele em quem alguém manda, etc.: Kó nde remimbûaîetá t'oîtyk pá tekopoxy. - Que estes em quem mandas lancem fora toda a maldade. (Anch., Poemas, 158)
aîpó (dem. pron. e adj.) - esse (es, a, as), aquele (es, a, as), isso, aquilo: Mbobype aîpó i 'éû? - Quantas vezes disse isso? (Ar., Cat., 55v); Aîpó nhẽ-pipó ereîkó? - Porventura fazes isso à toa? (Anch., Teatro, 22); Aîpó nhõ-pipó nde rera? - Esse, somente, é de fato teu nome? (Anch., Teatro, 44); T'asó aîpó nhe'enga mopó... - Hei de ir cumprir essas palavras. (Anch., Teatro, 60); T'asó nde pyri, kori, aîpó tubixaba gûabo. - Hei de ir junto de ti, hoje, para comer aqueles reis. (Anch., Teatro, 66); Eteumẽ, aîpó tekó kuab'iré, tekó-poxy rerekóbo. - Guarda-te, após conhecer essa lei, de ter má vida. (Anch., Poemas, 158); Aîporama resé é peîmongaraíb abaré pyri. - É por isso que o batizais junto ao padre. (Ar., Cat., 127v); Abá nhe'engûerape aîpó? - Palavras de quem são essas? (Ar., Cat., 35); (adv.) eis que esse (es, a, as), eis que aquele (es, a, as): Aîpó turi. - Eis que esse vem (ouvindo sua voz, somente, não o vendo). (VLB, I, 109); Aîpó xe me'engarama ruri... - Eis que veio o que me entregará. (Ar., Cat., 53v) ● aîpó nhẽ! - É isso! Aí é que está!: Aîpó nhẽ! Xe putupab nhẽ nde ri. - Aí é que está! Eu estou surpreso por tua causa. (Léry, Histoire, 353); aîpó suí - daí, desse lugar (que tu dizes) (VLB, I, 89)
'ir (v. intr. compl. posp.) - desprender-se, separar-se, desgrudar-se, soltar-se (de algo ou de alguém: compl. com suí): Nd'o'iripe amõnyme asé 'anga suí? - Não se separa algumas vezes da alma da gente? (Ar., Cat., 31v); Tupã rerobîá-katu nde py'a suí nd'o'iri. - A boa crença em Deus de teu coração não se desprendeu. (Anch., Teatro, 118); Nde poropotarixûera nd'o'ir-etéî nde suí. - Teu costumeiro desejo sensual não se separava verdadeiramente de ti. (Anch., Teatro, 170)
pûar2 (v. intr. compl. posp.) - bater, dar punhada, dar pancada [em alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Kunhã muru'abora resé opûá... - Batendo numa mulher grávida. (Ar., Cat., 70v); Marãpe erepûar xe resé? - Por que bates em mim? (Ar., Cat., 56); ...T'opûar anhanga ri... - Que bata no diabo. (Anch., Poemas, 88) ● pûaraba (ou pûasaba) (m) - tempo, lugar, modo, objeto, etc. de bater, de dar pancada; golpe, pancada: ...Nde resé i pûaragûera moasŷabo. - Arrependendo-se ele de ter batido em ti. (Ar., Cat., 106v); ...Nde remirekó resé epûá tenhẽmo, mûasá-mbururamo serekóbo îepi... - Batendo sem motivo na tua esposa, tratando-a sempre como objeto maldito de pancada... (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); Na xe pûasabi. - Eu não tenho com que bater. (VLB, II, 69); pûasá-bora - marca de pancada, de porrada; o sinal de uma batida, de um golpe (VLB, II, 82; 144)
by'ar (ou by'a) (v. intr.) - 1) acomodar-se, ficar sossegado, ser ou ficar manso, ficar quieto; quedar-se, refestelar-se: Xe-te, xe 'anga raûsupa, aby'arĩ xe retãme. - Mas eu, amando minh'alma, fico quieto em minha terra. (Anch., Poemas, 112); Peîkó-aturõ t'oby'ar pe ri. - Agi ordenadamente para que se quede em vós. (Ar., Cat., 88v); 2) apegar-se: I 'anga t'o'a taûîé, o monhangara reîá, rõ oby'a îandé resé. - Que suas almas caiam logo, deixando seu criador, apegando-se, pois, a nós. (Anch., Teatro, 20); ...Oroby'a nde resé. - A ti nos apegamos. (Anch., Teatro, 122)
'i / 'é3 (v. intr. irreg.) (Auxiliar como do do inglês, levando o verbo principal para o gerúndio. Muitas vezes não se traduz.) - mostrar-se, estar, apresentar-se; achar-se, encontrar-se (em alguma condição ou fazendo algo): A'é sepîaka. - Vejo-o. (Com ênfase. Lit., Acho-me vendo-o.) (Anch., Arte, 56); T'e'i osóbo. - Que vá. (com ênfase) (Anch., Arte, 56); A'é uman ûixóbo. - Já vou. (Anch., Arte, 56v); Nd'a'éî gûimanõmo ranhẽ. - Não morri ainda (lit., não me acho morrendo ainda). (Fig., Arte, 144); E'i mo'ema monhanga... - Mostram-se a urdir mentiras. (Anch., Teatro, 36); E'i tenhẽ nde rerobîá... - Em vão crêem em ti (lit., acham-se, em vão, crendo em ti). (Anch., Teatro, 40); Ten e'i. - Mostra-se fixo, está fixo, apresenta-se fixo. (Anch., Arte, 57); Nd'e'i 'ara. - Não está dia. (VLB, I, 69); E'i nhẽpe oîkóbone? - Há de estar (assim como está)? (VLB, I, 92)
marã?1 (interr.) - 1) por quê?: Marãpe xe soe'ymi? - Por que não vou eu? (Fig., Arte, 98); Marãpe nd'erenhemimi? - Por que não te escondes? (Anch., Teatro, 32); Akaîgûá! Marãpe xe ri erepûá? - Ai! Por que bates em mim? (Anch., Teatro, 32); 2) de que maneira? como?: Marãpe asé monhangi? - Como ele nos fez? (Ar., Cat., 25); 3) como assim? que dizes? (Diz quem não entendeu bem o que ouviu.): Marã? Ybyrá supé nhẽpe asé îerokyû? - Como assim? Diante de uma madeira a gente faz reverência? (Ar., Cat., 22); 4) que acontece? como fica? que faz? que vai? (Fig., Arte, 133) (Vem, com esse sentido, no final de sentenças sem -pe interrogativo.): A'epe o mena... mũetéramo sekó mombe'ue'yma, marã? - E não confessando ser parente verdadeira de seu marido, que acontece? (Ar., Cat., 71v); Oîá nhote kagûarape, marã? - O que bebe somente o suficiente, que acontece? (Ar., Cat., 78); Kagûarape marã? Nd'oîabyîpe Tupã nhe'enga? - E os que bebem cauim, como ficam? Não transgridem a palavra de Deus? (Anch., Diál. da Fé, 203); 5) qual?: Marãpe moranduba? - Quais as novidades? Quais as novas? (VLB, II, 92); Marãpe nde rera? - Qual é teu nome? (Léry, Histoire, 341); 6) quê? que coisa? [geralmente com os verbos 'i / 'é e ikó / ekó (t)]: Marãpe ereîkó? - Que fazes? (VLB, II, 92); Teté marã e'îabo mã!? - Ah, que dizes!? (Anch., Teatro, 50); Marãpe sekóû ybakypene? - Que farão no céu? (Ar., Cat., 47); 7) Usado sozinho significa que queres? que buscas? (VLB, II, 92); 8) E quanto a? E no que toca a?: Marãpe nde, Mboîusu? - E quanto a ti, Boiuçu? (Anch., Teatro, 154, 2006) ● marã-marã? - refere-se a mais de um (quais? que coisas?, etc.): Marã-marã-pakó îeí xe rekóû?... - Que coisas, pois, hoje eu fiz? (Ar., Cat., 74v); Marã-marãpe Santíssima Trindade rera? - Quais são os nomes da Santíssima Trindade? (Anch., Doutr. Cristã, I, 157); marãpemo? - por que seria que? por que razão haveria de? (VLB, II, 82); marã-pipó? - 1) quê? que dizes? (como o que não entendeu bem o que outrem disse ou respondendo ao que chamou) (VLB, II, 91, 92); 2) Que queres? Que buscas? (VLB, II, 92); marã-takó? - como mesmo? (isto é, pergunta-se sobre algo de que se sabia mas de que já se esqueceu): Marã-takó ahẽ rera? - Qual era mesmo o nome dele? (VLB, I, 77); marã-te? (ou marã-tepemo? ou marãmo-tepe?) - Como, pois? Como, então? Como seria, pois? Se não é assim, como seria? (VLB, I, 77); marã-tepene? - E pois, como há de ser? (VLB, I, 121); marã-te-p'iã-ne? - E, pois, como há isto de ser? (VLB, I, 121)
kuab (ou kuá ou kugûab) (v.tr.) - 1) - conhecer, saber: Marãpe i kugûabine? - Como o saberão? (Anch., Doutr. Cristã, I, 229); Tupana kuapa, ko'y asaûsu xe îara Îesu. - Conhecendo a Deus, agora amo meu senhor Jesus. (Anch., Poemas, 106); N'aîkuabi a'e abá... - Não conheço esse homem. (Ar., Cat., 57); 2) reconhecer, conhecer de novo: ...O îarĩ kuapa aunhenhẽ. - Seu senhorzinho reconhecendo imediatamente. (Anch., Poemas, 118); 3) agradecer, reconhecer (algum bem): Aîkugûab. - Agradeci-o. (VLB, I, 23); Marãnamope asé santos 'ara kuabi? - Por que a gente reconhece o dia dos santos? (Ar., Cat., 24); 4) adivinhar: ...Eîkuá ra'u nde ri opûaryba'e...! - Adivinha, vamos ver, aquele que bateu em ti! (Ar., Cat., 56v); 5) interpretar (VLB, II, 13); 6) julgar (o que é duvidoso) (VLB, II, 16); 7) perceber, sentir: N'aîkugûabi xe îybá (ou xe îybá-e'õ). - Não sinto meu braço (ou meu braço morto). (VLB, II, 130) ● oîkuaba'e (ou oîkuabyba'e) - o que conhece - Oîabyeté seté tiruã oîkuabe'ymba'e. - Transgride-os muito o que não conhece sequer sua substância. (Bettendorff, Compêndio, 103); kuapara - conhecedor, o que conhece, sabedor: Abá angaîpá-nhemima i kuapare'yma supé mombegûabo. - Contando os pecados escondidos de alguém para quem não os conhece. (Ar., Cat., 73v); kuapaba: lugar, tempo, modo, instrumento, etc. de conhecer, de reconhecer, etc.; conhecimento, reconhecimento: A'e kuapápe, ko'y asaûsu... - Por conhecê-lo, agora amo-o. (Anch., Poemas, 108); Oîkuapá-me'eng umûãpe Îudas Îandé Îara îudeus supé erimba'e? - Já tinha dado Judas aos judeus o meio de reconhecer Nosso Senhor? (Ar., Cat., 54); eminguaba (t) - o que alguém sabe, o conhecido, o sabido: ...O eminguá-katue'yma oîmombe'uba'e... - O que conta o que não sabe bem... (Ar., Cat., 67); i kuabypyra - o conhecido, o sabido: ...Se'yî i kuabypyre'yma... - São numerosos os que não são conhecidos. (Ar., Cat., 37); i kugûabypypabẽ - o que é totalmente conhecido, coisa notória por fama (VLB, II, 51); i kuabypyre'yma - o que não é conhecido, coisa secreta (VLB, II, 114)
etama (t) (s.) - 1) região, pátria, terra (habitada, onde se vive ou onde se nasce): ...Nde angaturameté erimba'e, apŷaba, morubixaba, kyre'ymbaba mondóbo xe retama pupé. - Tu foste muito bondoso, enviando homens, chefes e guerreiros, para minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); N'asé retama ruã-tepe ikó yby asé rekoaba? - Mas não é nossa pátria esta terra em que moramos? (Ar., Cat., 26); T'îasó, mbegûé... t'ixapy moxy retama. - Vamos, devagar, para queimar a terra dos malditos. (Anch., Teatro, 24); Eîori nde retamûama repîaka. - Vem para ver tua futura terra. (Léry, Histoire, 341); 2) residência, morada: T'orogûerekó, setã-me, nde pyri, tekó-puku. - Que tenhamos, em sua morada, junto de ti, a vida eterna. (Anch., Teatro, 122); Sekobîarõmbyrape temirekoeté koîpó meneté pe retãmendûara? - Devem ser substituídos a esposa ou o marido verdadeiros que estão em vossas residências? (Ar., Cat., 96); 3) viveiro, lugar onde se criam ou onde habitam animais (VLB, I, 142)
ta (part. do modo permissivo) - 1) que (exprimindo desejo, permissão, etc.): Xe syramongatu t'oîkó... - Que seja minha mãe, de fato. (Anch., Poemas, 86); Ta xe pysyrõ marãtekó suí... - Que me livre das dificuldades... (Ar., Cat., 23); T'omanõ! - Que morra! (Ar., Cat., 56v); Ta nde sok. - Que te pique. (Fig., Arte, 152); Ta xe îuká Pedro. - Que Pedro me mate. (Fig., Arte, 152); 2) para que (em orações subordinadas adverbiais finais): Ikó abá arur iké... ta peîkuab... - Este homem trago aqui para que o reconheçais... (Ar., Cat., 60v); Eîerok... ta nde rerapûãngatu. - Arranca-te o nome para que sejas muito famoso. (Anch., Teatro, 46); Eru pirá t'a'une. - Traze peixe para que o coma. (Anch., Arte, 23); 3) exprimindo ordem, como marca de imperativo: T'îasó xe irũnamo. - Vamos comigo. (Anch., Arte, 23v); T'îaîuká xe mena... - Matemos meu marido. (Ar., Cat., 279); 4) corresponde a haver de, a exprimir determinação (sempre com a partícula -ne posposta ao verbo que ta acompanha): T'aîybõne! - Hei de flechá-lo! (Anch., Teatro, 32); T'aîpapáne i angaîpaba... - Hei de contar os pecados deles. (Anch., Teatro, 34); T'ame'ẽne pirá ruba endébo... - Hei de dar ovas de peixe para ti. (Anch., Teatro, 44)
syk1 (v. intr. compl. posp.) - 1) chegar [a certo tempo: compl. com esé (r, s); a certo lugar: compl. com -pe; a certa pessoa: compl. com esé (r, s) ou ri]: Mokõî oîoirundyk oito 'ara sykeme... i 'apira mondoki. - Ao chegar o oitavo dia, cortaram seu prepúcio. (Ar., Cat., 3); Osyk oré ri sendy îepinhẽ. - Chegou a nós sua luz para sempre. (Anch., Poemas, 124); ...Kunumĩgûasu... catorze ro'y resé i xyke'yma, nd'e'ikatuî abá resé omendá. - Um rapaz, não chegando aos catorze anos, não pode casar-se com ninguém. (Ar., Cat., 277, 1686); T'osyk esapy'a o îukaagûãme. - Que chegue logo ao lugar de o matarem. (Ar., Cat., 88, 1686); Orosy-syk. - Chegamos sucessivamente. (VLB, I, 72); 2) achegar-se, aproximar-se [de alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Nde resé te'õ n'osyki... - De ti a morte não se aproximou. (Anch., Poemas, 148); N'aîpotari pe ri i xyka. - Não quero que ele se achegue a vós. (Anch., Teatro, 188, 2006); 3) tocar (como o barco no fundo) (VLB, II, 130); 4) equiparar-se, atingir, chegar (isto é, quantidade, número, como em "os visitantes chegam a mil") (VLB, I, 134) [compl. com esé (r, s) ou upi (r, s)]: ...'Y berame'ĩ ikó îandé ratá rasy; n'osyki Anhanga ratá rasy resé. - Eis que a dor de nosso fogo parece a da água; não se equipara à dor do fogo do diabo. (Ar., Cat., 163v); -Mbobype a'e asé rekomonhangaba? -Mokõî asé pó papasaba rupi i xyki. -Quantos são os mandamentos d'Ele à gente? -Eles equiparam-se aos números das duas mãos da gente. (Ar., Cat., 95, 1686)
pupé (posp.) - 1) dentro de: Mba'epe ererur nde karamemûã pupé? - Que trouxeste dentro de tua caixa? (Léry, Histoire, 342); 2) com (instr.): Oîeypyî 'y-karaíba pupé. - Asperge-se com água benta. (Ar., Cat., 24); ...Opîá o akangaobĩ pupé. - Cobrindo-o com seu véu. (Ar., Cat., 62); itá pupé - com uma pedra (VLB, I, 77) 3) em (temp.): kó semana pupé... - nesta semana (Ar., Cat., 4); 4) em, para, para dentro de: ...Apŷaba... mondóbo xe retama pupé. - Enviando homens para minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Mba'e-tepe peseká kó xe retama pupé? - Mas que é que procurais nesta minha terra? (Anch., Teatro, 28); ...Ybyrá pupé omanõmo... - Morrendo na cruz. (Anch., Poemas, 90); ...Purgatório pupé osoba'e... - as que vão para o purgatório (Ar., Cat., 136, 1686); 5) dentro do mesmo lugar de; no mesmo lugar de; com (de companhia): A'ar nde pupé. - Embarco contigo. (Anch., Arte, 40v); A'a nde pupé. - Caí no mesmo lugar de ti (isto é, caí em teus costumes); 6) entre, no meio de, junto com: Arasó nde mba'e xe mba'e pupé. - Levei as tuas coisas entre as minhas coisas. (Anch., Arte, 40v) ● pupé-ndûara (ou pupé-sûara) - o que está dentro de; o que é interior, o interno (VLB, II, 13)
ri2 [posp. - o mesmo que esé (r, s), não usada com o pron. pess. i] - 1) por, por causa de: Pe rory, xe ra'yretá, xe ri. - Alegrai-vos, meus filhos, por minha causa. (Anch., Teatro, 50); Ema'ẽngatu oré ri... - Vela por nós. (Anch., Poemas, 102); 2) para (final.): Tupã syrama ri i monhangymbyra... - Foi ela feita para ser a futura mãe de Deus. (Anch., Poemas, 88); 3) em (locat. não geográfico): temporal): ...Marãpe xe ri erepûá? - Por que bates em mim? (Anch., Teatro, 32); 4) em (temp.): ...Eresó, kó 'ara ri. - Vais, neste dia. (Anch., Poemas, 94); 5) em, na pessoa de: Ereporu-eté raka'e oré anama ri. - Comias muito carne humana nas pessoas de nossos parentes. (D'Abbeville, Histoire, 350); ...Kunhã ri i moreká. - Sua busca de gente nas pessoas das mulheres. (Anch., Teatro, 150, 2006); 6) a respeito de, acerca de, de: ...Nde ri xe nhemboryryîa. - Ocupando-me de ti. (Anch., Poemas, 98); 7) com (comp.): Nde resé i îeruréû nde remimbûaîa ri t'oroîkó. - Pede a ti que estejamos com teus súditos. (D'Abbeville, Histoire, 342); 8) com (instr.) Xe abá nhe'enga ri. - Com minha palavra de homem. (Anch., Teatro, 154, 2006); 9) contra: T'irekó ikó apŷaba îandé robaîara ri. - Que tenhamos estes homens contra nossos inimigos. (Léry, Histoire, 357) ● mba'e ri? (o mesmo que mba'e resé?) - por quê? mba'erama ri? - por quê? (referente a algo posterior a um determinado marco temporal): Mba'erama ri bépe asé santos 'ara kuabi? - Por que mais a gente reconhece o dia dos santos? (Ar., Cat., 24)
-te2 (part.) - 1) mas, no entanto: Abá-tepe erimba'e, pe mba'erama resé apŷaba me'enga'ubi? - Mas quem entregou os índios como coisas vossas? (Anch., Teatro, 28); A'e-te kaûĩ pûaîtara... - Mas são eles os que mandam fazer cauim. (Anch., Teatro, 34); Pero-te t'osó. - Mas que vá Pero. (VLB, I, 36); ...Oré pysyrõ-te îepé mba'e-aíba suí. - Mas livra-nos tu das coisas más. (Ar., Cat., 13v); 2) por outro lado, ao contrário, em vez disso, não obstante, contudo: Xe-te, xe rembiá-potá sabeypora amõ resé. - Eu, em vez disso, quero presas em alguns bêbados. (Anch., Teatro, 150, 2006); -A'epe a'e kunhã n'onherani? -Oîmbory-te... -E aquelas mulheres não resistem? -Ao contrário, comprazem-se com eles. (Anch., Teatro, 154, 2006); Reîamo ereîkó tenhẽ, setá tenhẽ nde boîá, xe-te t'oroporaká... - Apesar de que sejas rainha, apesar de que sejam muitos os teus servos, eu, não obstante, pesco para ti. (Anch., Poemas, 152)
suí1 (posp.) - 1) de (origem): Ybaka suí ereîur... - Do céu vieste. (Anch., Poemas, 100); Aîur xe kó suí. - Venho da minha roça. (Fig., Arte, 9); Aîur xe roka suí. - Vim de minha casa. (Anch., Poemas, 102); Îaîu kûepe suí. - Viemos de longe. (Anch., Poemas, 96); 2) entre: I mombe'ukatupyramo ereîkó kunhã suí. - Bendita és entre as mulheres (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); ...Oîoîá te'õ rekóû kunumĩgûasu suí tuîba'e suí bé. - A morte está igualmente entre os moços e entre os velhos. (Ar., Cat., 157v); 3) de (expressando a matéria): nha'uma suí i monhangymbyra - o que é feito de barro (Ar., Cat., 15); 4) para não, para que não: ...Îori, anhanga mondyîa, oré moaûîé suí! - Vem, espantando o diabo, para não nos vencer. (Anch., Poemas, 102); O emiamotare'yma rekoápe osó-potare'ymba'e sepîaka suí. - O que não quer ir para onde está o que ele detesta para não o ver. (Ar., Cat., 70-70v); 5) longe de, para longe de, fora de: Emonã rakó sekóû nde suí. - Esta agia assim, longe de ti. (Ar., Cat., 74); ...Obebé îandé suí. - Voa para longe de nós. (Anch., Poemas, 186); 6) por (causa de), de (causa): Oker okûapa tekotebẽ suí nhẽ. - Estavam dormindo por causa da aflição. (Ar., Cat., 53); Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); Eresabeyporype kaûĩ suí, 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v); 7) desde, a partir de, de... em diante: ...Taba moapaîugûá-îugûábo Galilea suí-katu... - Confundindo as aldeias desde a Galiléia. (Ar., Cat., 83, 1686); Eîpe'a Îurupari kó 'ara suí... - Afasta o diabo deste dia em diante. (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); 8) em vez de, afora, que não, a não ser, e não: Nd'e'ikatuîpe amoaé abá oporomongaraípa abaré suí? - Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? (Ar., Cat., 81); ...I xuí amõ resé omendá... - Casando-se com alguém que não seja ele. (Ar., Cat., 280, 1686); Ahẽ nhõ ikó i mba'e-katu, xe suí mã! - Eis que somente ele tem coisas boas, em vez de mim! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102); 9) além de: ...aîpó nde remimombe'uagûera suí... - além daqueles que tu mencionaste (Bettendorff, Compêndio, 74); 10) indicando pertença a um todo que não participa da ação ou do processo descritos pelo verbo: Erepûarype kunhã muru'abora resé, pitanga îukábo i xuí? - Bateste numa mulher grávida, matando o feto dela? (Isto é, só o feto é que foi morto, não a mãe.) (Ar., Cat., 101v); Sasy xe akanga xe suí. - Dói-me a cabeça (e não o corpo na qual ela está, que não participa do processo descrito pelo verbo). (VLB, I, 105); 11) mais que, do que, que, mais do que (no comparativo): Marãmo ahẽ rekóû o mba'e-katuramo xe suí? - Por que ele vive tendo coisas boas mais que eu? (Ar., Cat., 109v); Ybakype i pyri o só îanondé Anhanga ratápe o só suí. - Antes sua ida para junto dele no céu que sua ida para o inferno. (Ar., Cat., 110); Xe katu-eté nde suí. - Eu sou melhor que tu. (Anch., Arte, 43); Aîkuab-eté nde suí. - Sei mais que tu. (Anch., Arte, 43); 12) sem: Amba'e-'u nde suí. - Como sem ti. (Anch., Arte, 43)
moingó (v.tr.) - 1) fazer estar, colocar, pôr, estabelecer: Oîaobok serã ybŷa katupe nhẽ i moingóbo?... - Por acaso arrancaram sua roupa, fazendo-o estar nu? (Ar., Cat., 59v); ...Tupã remimotara rupi xe moingóbo... - Pondo-me segundo a vontade de Deus. (Ar., Cat., 23v); 2) fazer viver: Eresapîápe tekopoxy... resé nde moingóreme? - Obedeces a eles quando te fazem viver no vício? (Ar., Cat., 100v); 3) fazer agir, fazer proceder; empregar: Ereîmoingópe abá 'aretéreme marã i moporabykŷabo? - Empregaste alguém por ocasião de um feriado, fazendo-o trabalhar em algo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 85); Pedro aé emonã xe moingó-ukar. - O próprio Pedro mandou-me fazer proceder assim. (VLB, II, 12); 4) transformar: Ybyramo i moingoukare'yma. - Em terra não os mandando transformar. (Ar., Cat., 179v); 5) determinar, estabelecer, definir: Osapîápe asé i nhe'enga, o 'anga rekorama resé o moingóremene? - Obedeceremos a suas palavras quando ele determinar a respeito do futuro procedimento de nossa alma? (Anch., Doutr. Cristã, I, 224); 6) constituir, fazer (no sentido de atribuir funções, como fi-lo capitão, ele foi feito cavaleiro, etc.): Oromoingó tubixabamo. - Constituímos-te chefe. (VLB, II, 81); ...Taba raroanamo nhẽ Îandé Îara xe moingóû. - Nosso Senhor constituiu-me guardião da aldeia. (Anch., Teatro, 50); 7) encarregar: Pe îabi'õ Pa'i Tupã karaibebé moingóû. - De cada um de vós o Senhor Deus encarregou um anjo. (Anch., Teatro, 50) ● moingosara (ou moingoara) - o que faz estar, o que faz viver: ...Tekokatu resé îandé moingoara. - A que nos faz viver na virtude. (Anch., Poemas, 88); Tupã remimotara rupi asé moingosara - O que nos faz estar segundo a vontade de Deus. (Ar., Cat., 37v); i moingopyra: o que é (ou deve ser) colocado, posto, encarregado, etc.: Abaré asé rerekoaramo i moingopyra. - O padre que é colocado como guardião da gente. (Ar., Cat., 94); moingoaba (ou moingosaba) - tempo, lugar, modo, finalidade, causa, etc. de fazer estar, de fazer viver, de estabelecer; determinação, etc.: ...Tuba i moingoaba se'õ a'e i aîarõ. - Parece bem que sua morte fosse a finalidade com que seu pai o fez viver. (Ar., Cat., 4); Ereîkópe... abaré nde moingoaba rupi? - Procedeste segundo a determinação do padre a ti? (Ar., Cat., 98)
avermelhar-se (= tingir-se de vermelho) - îemopyrang
bafo - timbora
branco - ting ● homem branco, civilizado: karaíba
brancura - tinga
claro - ting
enjoativo - ting (v. tinga)
fumegar - timbor
sequer - tiruã
vapor - timbora
NOTA - TINGUI é, também, outro nome dado, no sul do Brasil, ao que nasce no estado do Paraná; paranaense (in Dicion. Caldas Aulete).
Não tivemos a pretensão, no âmbito deste trabalho, de apresentar um número maior de topônimos pois isso implicaria uma pesquisa detida em cartas de escala bem maior (por exemplo, 1: 50.000), nas quais aparecem nomes de córregos, de morros, etc. que não figuram na carta do Brasil na escala 1:1000.000. Pretendemos, contudo, numa outra oportunidade, realizar tal tarefa, tão importante quanto descurada.
espirrar - atîam (xe)
espirro - atîama
ombro - ati'yba
pontiagudo - atîaî/a (r, s)
pontudo - atîaî/a (r, s)
'aba (etim. - pelo da cabeça < 'a + aba) (s.) - 1) cabelo da cabeça (Anch., Arte, 15v): xe 'aba, nde 'aba, i 'aba - meu cabelo, teu cabelo, o cabelo dele (Castilho, Nomes, 27); 'a-tyrá-tyrá - cabelos muito arrepiados, grenha (VLB, I, 150); 'a-tinga - cabelos brancos, cãs, ABATINGA; Xe 'a-tinga - meus cabelos brancos; minha abatinga (VLB, I, 65); 'a-titinga - manchas brancas do cabelo (VLB, II, 29); 2) pêlo ou penugem da cabeça (de animais mamíferos, de aves): Aî'abeky-ekyî. - Fiquei-lhe puxando os pêlos; fiquei-o arrepelando. (VLB, I, 42) ● andyrá-'aba - tipo de corte de cabelo dos índios (etim. - cabelo de morcego) (VLB, II, 137); 'agûera - cabeleira, peruca (VLB, I, 61)
ababykagûere'yma (etim. - a não tocada de homem) (s.) - virgem: Kunhã-angaturama ababykagûere'yma... - Mulher bondosa, uma virgem. (Ar., Cat., 22v)
abaesaba (etim. - homem do olho cortado) (s.) - cego (VLB, I, 70)
abaeté1 (etim. - homem a valer) (s.) - ABAETÊ, 1) homem honrado, digno, de bem; 2) homem forro, escravo alforriado: Abaetéramo aîmoingó. - Fi-lo estar como forro, alforriei-o. (VLB, I, 142); 3) leigo (VLB, II, 20)
abangaíba (etim. - pessoa da alma ruim) (s.) - pessoa desprezível: Xe abangaíba. - Eu sou uma pessoa desprezível. (VLB, I, 100)
abangatu (etim. - homem da alma boa) (s.) - homem gentil, fino; (adj.): Xe abangatu. - Eu sou gentil. (VLB, I, 148)
abanhẽ (etim. - homem, não mais) (s.) - leigo (VLB, II, 20)
Abaosanga (etim. - homem paciente) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Knivet, The Adm. Adv., 1228)
Abaré-bebé (etim. - padre voador) (s. antrop.) - nome dado ao Pe. Leonardo Nunes (jesuíta do século XVI) pela grande rapidez com que se deslocava pelos diferentes lugares (Vasconcelos, Crônica, I, §68, 209)
abaregûasu (etim. - padre grande) (s.) - bispo, autoridade eclesiástica, provincial, abade, prelado: Asé sybápe abaregûasu nhandy-karaíba nonga. - Pôr o bispo em nossa testa o óleo santo. (Ar., Cat., 17v); Abaregûasu ogûatá. - O bispo passeia. (Fig., Arte, 6)
abati'i (etim. - milhozinho) (s.) - 1) arroz (VLB, I, 44); 2) trigo (VLB, II, 137); 3) xerém, variedade de milho miúdo (VLB, II, 149)
abati'itinga (etim. - milhozinho branco) (s.) - trigo (VLB, II, 137)
abatimirĩ (etim. - milho pequeno) (s.) - 1) xerém, variedade de milho miúdo (VLB, II, 149); 2) trigo (VLB, II, 137)
Abatiposanga (etim. - remédio de milho) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Staden, Viagem, 116)
Abatiúna (etim. - milho escuro) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 186v)
aba'yba (etim. - homem-guia) (s.) - namorado (VLB, II, 46): nde raîyra aba'yba - o namorado de tua filha (Ar., Cat., 1686, 267)
Abaykyîa (etim. - o arrasta-gente) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §2, 114)
abuna (etim. - homem escuro) (s.) - padre, ABUNA (Vieira, Cartas, I, 382)
abŷare'yma (etim. - o que não difere) (s.) - símile, imitação, coisa semelhante: Îusana abŷare'yma nhẽ serã tentação?... - Porventura a tentação é coisa semelhante a um laço? (Anch., Diál. da Fé, 232); Mba'e abyare'ymape syaîa? - Semelhante a que coisa era o suor dele? (Ar., Cat., 53v); (adj.: abŷare'ym) - parecido com, semelhante a: Tatá-endy-etá, asé apekũ-abyare'yma anhõ osepîak. - Viram somente muitas chamas de fogo, parecidas com nossas línguas. (Ar., Cat., 45)
a'ereme (etim. - por ocasião disso) (adv.) - nesse tempo, naquele tempo, então: A'ereme amõ aîukáne... - Então matarei alguns. (Anch., Poemas, 156); A'ereme oín uman São João Batista o sy rygépe. - Então já estava São João Batista no ventre de sua mãe. (Ar., Cat., 6v); T'îaîuká xe mena..., a'ereme t'îamendar îandé îoesé. - Matemos meu marido e, então, casemos um com o outro. (Ar., Cat., 279); Aîuká umã a'ereme. - Já eu, então, tinha matado. (Fig., Arte, 14) ● a'ereme é - bem então (Fig., Arte, 129); a'ereme bé - logo então (VLB, II, 24)
agûaîxipuranga (etim. - guaxima vermelha) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 173)
Agûai'yba (etim. - pé de aguaí) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
aîpi'ĩgûasu (etim. - aipim grande) (s.) - variedade de aipim (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
aîpi'ĩ-îurumũmirĩ (etim. - aipim-jerimum pequeno) (s.) - variedade de aipim (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
aîpi'ĩkaba (etim. - aipim gorduroso) (s.) - variedade de aipim (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
aîpi'ĩpoka (etim. - aipim estourado) (s.) - variedade de aipim (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
aîpi'ĩpytanga (etim. - aipim rosado) (s.) - variedade de aipim (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
aîpĩmixyra (etim. - aipim assado) (s.) - bodião, peixe da família dos escarídeos, de carne venenosa (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 145; VLB, I, 56)
aîuba (etim. - pêlos amarelos) (s.) - ruivo; (adj.: aîub) - Xe aîub. - Eu sou ruivo; Xe rendybá-aîub. - Eu tenho barba ruiva. (VLB, II, 109) ● i aîuba'e - o que é ruivo (VLB, II, 109)
'aîuberaba (etim. - penugem amarela brilhante) (s.) - var. de pomba (Soares, Coisas Not. Bras. - ms. C, 1355-1357)
aîuruakãpyranga (etim. - papagaio da cabeça vermelha) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 165)
aîuruapara (etim. - papagaio curvo) (s.) - AJURUAPARA, ave psitaciforme da família dos psitacídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 207)
aîurûasu1 (etim. - papagaio grande) (s.) - AJURUAÇU, JURUAÇU, ave psitacídea, variedade de papagaio grande, todo verde (Sousa, Trat. Descr., 231)
Aîurûasu2 (etim. - papagaio grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184)
aîurueté (etim. - papagaio verdadeiro) (s.) - AJURUETÊ, ave da família dos psitacídeos, de cor verde, tendo os encontros das asas vermelhos e o toucado da cabeça amarelo. "...Criam nas árvores, em ninhos e comem a fruta delas, de que se mantêm." (Sousa, Trat. Descr., 231)
aîuru'i (etim. - papagaiozinho) (s.) - AJURUIM, var. de papagaio, da família dos psitacídeos (Soares, Coisas Not. Bras. - ms. C, 1286-1288)
aîuruîuba (etim. - papagaio amarelo) (s.) - AIURUIUBA, 1) francês (VLB, I, 143): -Abápe nde? -Saraûaîa, aîuruîubupîarûera. - Quem és tu? - Sarauaia, adversário antigo de franceses. (Anch., Teatro, 44); Saûsupara, aîuruîuba, mokaba ogûeru tenhẽ... - Seus amigos, os franceses, pólvora trouxeram em vão. (Anch., Teatro, 52); 2) inglês, alemão, belga, estrangeiro de barbas e cabelos ruivos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 268); 3) europeu loiro, homem branco: Kûeîsé kó aporapiti, aîuruîuba îukábo. - Eis que ontem trucidei gente, matando europeus. (Anch., Teatro, 66)
aîurukatinga (etim. - papagaio-catinga) (s.) - AJURUCATINGA, ave psitacídea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 207)
akaîu-'aîuba (etim. - amadurecimento dos cajus) (s.) - ano: Na mboby nhõ ruã akaîu-'aîubane aûîeramanhẽ-te. - Não serão somente poucos anos, mas para sempre. (Ar., Cat., 163; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 94)
akaîu'ĩ (etim. - cajuzinho) (s.) - CAJUÍ, planta da família das anacardiáceas (Anacardium microcarpum Ducke), uma das espécies de caju (D'Abbeville, Histoire, 217). É muito menor que o cajueiro comum. Não aparece "ao longo do mar, mas nas campinas do sertão, além das caatingas." (Sousa, Trat. Descr., 188)
akaîukatinga (etim. - caju catinguento) (s.) - ACAJU-CATINGA, var. de cedro, árvore alta da família das meliáceas (Cedrela fissilis Vell.), de casca grossa e de propriedades medicinais (VLB, I, 70)
akaîupyranga (etim. - caju vermelho) (s.) - uma das espécies de caju; fruto de pele vermelha e suco fortemente ácido (D'Abbeville, Histoire, 217)
akaîuûasu (etim. - caju grande) (s.) - CAJUAÇU, a maior das espécies de caju, árvore da família das anacardiáceas (D'Abbeville, Histoire, 217)
akaîu'yba (etim. - pé de caju) - o mesmo que akaîu (v.) (D'Abbeville, Histoire, 217; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 94)
akangaoba (etim. - roupa de cabeça) (s.) - 1) chapéu; carapuça (VLB, I, 67): Nd'e'i te'e... i xupé o akangaó-'okara Tupã nhe'enga abŷabo... - Por isso mesmo os que tiram seu chapéu para eles transgridem a palavra de Deus. (Ar., Cat., 179); 2) touca, toucado (VLB, II, 134): Aîakangaó-rung. - Pus-lhe touca. (VLB, II, 134) ● akangaoburupé - var. de chapéu em forma de cogumelo (VLB, I, 72; Léry, Histoire, 342-343); akangaó-îepepira - var. de chapéu (VLB, I, 72)
akangaobapûã (etim. - chapéu pontudo) (s.) - barrete (VLB, I, 52)
akangaobĩ (etim. - paninho de cabeça) (s.) - var. de véu: I xy aé ipó opîá o akangaobĩ pupé. - Cobrindo-o sua própria mãe, na verdade, com seu véu. (Ar., Cat., 62)
akangaobusu (etim. - grande roupa de cabeça) (s.) - véu, espécie de touca com bico ou sem ele que cobria a cabeça das mulheres e parte de sua testa, principalmente das viúvas (VLB, I, 66)
akangaopotyra (etim. - flor do pano de cabeça) (s.) - penacho (VLB, II, 71)
akangaopysá (etim. - chapéu puçá) (s.) - 1) rede de fio de seda, linho ou gaze fina em que se mete o cabelo e se aperta no alto da cabeça; 2) coifa de rede (VLB, I, 76)
akangaotinga (etim. - pano branco de cabeça) (s.) - coifa, tecido para envolver os cabelos (VLB, I, 76)
akangupaba (etim. - lugar de estar deitada a cabeça) (s.) - almofada (VLB, I, 32); travesseiro (VLB, I, 61)
akangupabusu (etim. - almofada grande) (s.) - var. de travesseiro grande (VLB, I, 61)
akangupapuku (etim. - almofada comprida) (s.) - var. de travesseiro (VLB, I, 61)
akangûyra (etim. - cabeça baixa) (s.) - desânimo; (adj.: akangûyr) - desanimado, descoroçoado: Xe akangûyr. - Eu estou descoroçoado. (VLB, I, 95)
akarakamuku (etim. - cará da cabeça comprida) (s.) - nome de um peixe (Libri Princ., vol. II, 57)
akaramuku (etim. - cará comprido) (s.) - nome de peixe da família dos balistídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 163)
akarapeba (etim. - cará achatado) (s.) - CARAPEBA, peixe da família dos gerrídeos (D'Abbeville, Histoire; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 161-162)
akarapinima (etim. - cará-pintado) (s.) - nome de um peixe da família dos ciclídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 152)
akará-pitinga (etim. - cará pintado) (s.) - nome de um peixe (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 174)
akarapuku (etim. - cará comprido) (s.) - ACARAPUCU, peixe da família dos gerrídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 145)
akarapytanga (etim. - cará rosado) (s.) - CARAPUTANGA, nome comum a certos peixes percomorfos da família dos lutjanídeos (D'Abbeville, Histoire, 245)
akarapytangîuba (etim. - cará rosado e amarelo) (s.) - nome de um peixe perciforme (Libri Princ., vol. II, 67)
akaratinga (etim. - cará claro) (s.) - CARATINGA, peixe da família dos gerrídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 161)
akaraûasu (etim. - cará grande) (s.) - CARAUAÇU, uma das espécies do peixe acará, da família dos ciclídeos, também chamado ACARÁ-GRANDE, ACARÁ-AÇU, ACARAÇU, ACARÁ-GUAÇU, ACARÁ-UAÇU, ACARÁ-UÇU, AIARAÇU, CARÁ-UAÇU (Léry, Histoire, 349-350)
akaraúna (etim. - cará escuro) (s.) - CARAÚNA, ACARÁ-PRETO, ACARAPIXUNA, peixe da família dos ciclídeos, de cor escura (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 144)
'akuabe'ymba'e (etim. - o que não conhece o mundo) (s.) - bobo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276)
'akuîa (etim. - cabelos caídos) (s.) - calvície; (adj.: 'akuî) - pelado da cabeça, calvo; (xe) pelar-se: Xe 'akuî. - Eu sou calvo. (VLB, II, 70)
akymaíba (etim. - mal molhado) (s.) - umidade; (adj.: akymaíb) - úmido (como pelo orvalho ou pelo lugar sombrio, mas não molhado): Xe akymaíb. - Eu estou úmido. (VLB, II, 20)
akyrara (etim. - arrancar verde) (s.) - aborto (sempre com algum complemento): Eremosangu'upe nde membyra akyrara potá? - Tomaste poção querendo o aborto de teu filho? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); (adj.: akyrar) - abortivo (VLB, I, 18); (xe) abortar: Xe membyrakyrar. - Abortei meu filho. (VLB, I, 18)
amãberaba (etim. - brilho de chuva) (s.) - relâmpago (VLB, I, 143)
amanarypy'oka (etim. - coalhada de chuva) (s.) - neve; geada (os tupinambás diziam amanarypy'aka) (VLB, II, 49) (V. tb. ro'ynhemoapysanga e ro'yîukyra)
amanasãîmirĩ (etim. - mandaçaia pequena) (s.) - MANDAÇAIA-MIRIM, abelha da família dos meliponídeos (Piso, De Med. Bras., IV, 178)
amanasãî-nema (etim. - mandaçaia fedorenta) (s.) - abelha meliponídea (Piso, De Med. Bras., 178)
amana-tupaba (etim. - lugar em que está a chuva) (s.) - nuvem d'água (Thevet, Cosm. Univ., 913v)
amanybá (etim. - fruta de chuva) (s.) - saraiva, granizo, chuva de pedra (VLB, II, 69)
amãpytuna (etim. - escuridão de chuva) (s.) - tempo disposto e pronto para chuva (Léry, Histoire, 359): Amãpytuna ã. - Eis que o tempo está para chuva. (VLB, I, 111)
amãsununga (etim. - barulho de chuva) (s.) - trovão (VLB, II, 133)
amba'ybuna (etim. - embaúba escura) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 130; 141)
amba'yrana (etim. - falsa embaúba) (s.) - EMBAUBARANA, planta da família das cecropiáceas, do gênero Porouma, semelhante à embaúba (Cecropia) (VLB, I, 127)
amba'ytinga (etim. - embaúba branca) (s.) - EMBAÚBA BRANCA, 1) árvore da família das cecropiáceas (Cecropia palmata Willd.), também chamada UMBAÚBA, AMBAÚBA, AMBAUBEIRA, AMBAÚVA, árvore-da-preguiça, EMBAÍBA, EMBAUBEIRA, EMBAÚVA, IMBAÍBA, IMBAÚBA, IMBAUBEIRA, pau-de-preguiça, UMBAUBEIRA; 2) arbusto da família das cactáceas, do gênero Opuntia, também conhecido como figueira-do-inferno (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 92; VLB, I, 127)
ambó (etim. - esta mão) (num.) - cinco (Fig., Arte, 4)
ambu'aembó (etim. - vergôntea da ambuá) (s.) - planta da família das aristoloquiáceas (Aristolochia labiata Willd.), também chamada jarrinha, papo de peru, mil-homem. É uma trepadeira que se enrola em outras plantas e arbustos. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 15)
Ambu'aûasu (etim. - ambuá grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185)
ambyasy (etim. - dor de ventrecha) (s.) - fome: xe ambyasy posanga... - lenitivo de minha fome... (Valente, Cantigas, VII, in Ar., Cat., 1618); ...ambyasy, 'useîa porarábo... - sofrendo a fome e a sede (Ar., Cat., 169v); (adj.) - faminto; (xe) ter fome: I ambyasy bépe, i 'useî bépe asé îabé?... - Tinha também fome, tinha também sede como nós? (Ar., Cat., 44v); Xe ambyasy. - Eu estou faminto. (Léry, Histoire, 367) ● i ambyasyba'e - o que tem fome, o faminto (VLB, I, 134); ambyasybora - faminto (costumeiramente): Ambyasybora poîa. - Alimentar os famintos. (Ar., Cat., 18)
ambyî (etim. - na barriga) (adv.) - pertinho: O îoambyî oroîub. - Estamos pertinho um do outro. (VLB, II, 74)
amoregûasu (etim. - moréia grande) (s.) - AMORÉ-GUAÇU, peixe da família dos gobiídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 166)
amorepinima (etim. - moréia pintada) (s.) - AMOREPINIMA, AMBOREPINIMA, peixe da família dos gobiídeos. Pertence ao grupo das moréias ou caramurus. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 242)
amorepyxuna (etim. - moréia escura) (s.) - AMOREPIXUNA, AMBOREPIXUNA, peixe da família dos gobiídeos, que tem a nadadeira ventral em forma de ventosa, com que se agarra às pedras (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 166)
amoresyma (etim. - amoré escorregadio) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 47)
amoretapuku (etim. - moréia dos bigodes compridos) (s.) - nome de um peixe (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 165v)
amoretinga (etim. - moréia branca) (s.) - nome de um peixe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 166)
amu'a'yembó (etim. - planta de vergônteas da ambuá) - o mesmo que ambu'aembó (v.) (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 217)
amỹîndaba (etim. - aldeia ao lado) (s.) - aldeias vizinhas; arrabalde (Anch., Arte, 41)
anaîá-mirĩ (etim. - anajá pequeno) (s.) - ANAJÁ-MIRIM, tipo de palmeira brava e pequena, de cocos pequenos e formosos palmitos (Attalea humilis Mart. ex Spreng.), também chamada catolé, pindoba, palmeirinha. Suas palmas também eram usadas para cobrir casas. (Sousa, Trat. Descr., 197-198)
andurá-obaîamirĩ (etim. - pequeno inimigo dos morcegos) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 225)
andyrá-'aka (etim. - morcego de chifre) (s.) - mamífero da ordem dos quirópteros, da família dos filostomídeos, que se alimenta principalmente de frutos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 213)
angaîpaba (etim. - ruindade da alma) (s.) - 1) maldade, mau ato; pecado: T'aîpapáne i angaîpaba ta xe rerobîá îepé. - Hei de contar os pecados deles para que tu acredites em mim. (Anch., Teatro, 34); Na setáî xe angaîpaba... - Não são muitos meus pecados... (Anch., Teatro, 76); ...Temiminõ 'arybo nhẽ oîmombe'u o angaîpá-mirĩ anhõ. - Os temiminós de dia confessam seus pecadilhos, somente. (Anch., Teatro, 160, 2006); 2) o pecador, o mau: Tupã rerobîara mombe'u posykyîee'yma resé, angaîpaba São Mateus... îukáû. - Por não recear proclamar a fé em Deus, os pecadores mataram São Mateus. (Ar., Cat., 7v); (adj.: angaîpab ou angaîpá) - maldoso; mau; pecador: I angaîpá kó nde boîá; na xe rerekó-katuî. - São maus estes teus servos; não me tratam bem. (Anch., Poemas, 154); Xe angaîpab-eté... - Eu sou muito pecador. (Anch., Dial. da Fé, 229); (xe) cometer pecado [com esé (r, s): cometer pecado carnal]: I angaîpab rakó nde remirekó resé... - Ele certamente comete pecado com tua mulher. (Ar., Cat., 108); (adv.) - maldosamente, velhacamente: Aîkó-angaîpab. - Ajo velhacamente. (VLB, II, 143) ● i angaîpaba'e - o que é pecador: Etupãmongetá oré i angaîpaba'e resé. - Roga a Deus por nós, os que somos pecadores. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); angaîpabora - pecador; o que costuma pecar: Abá angaîpabora São Mateus... îukáû. - Os homens pecadores mataram São Mateus. (Ar., Cat., 134, 1686); 'Anga îá, angaîpabora aîuká, xe ratápe sero'ane... - Como a esses, matarei os que costumam pecar, fazendo-os cair comigo em meu fogo. (Anch., Teatro, 92)
angekotebẽ (etim. - aflição da alma) (s.) - aflição, angústia; (adj.) - aflito; (xe) afligir-se: Memeté rakó pé o eminguabe'yma rupi oguataba'e o angekotebẽnamo, korikorinhẽa'ub 'ara repîaki... - Quanto mais um caminhante se aflige por um caminho que não conhece, mais deseja logo ver o dia. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79)
angerasó (etim. - levar a alma) (v.tr.) - 1) espantar, atemorizar; apavorar, assombrar (como uma visão, uma coisa má) (VLB, I, 46): Xe angerasó. - Apavorou-me; Aîangerasó. - Apavorei-o. (VLB, II, 66); 2) maravilhar, extasiar: Nde angerasópe abá-porangepîaka? - Maravilhou-te a vista de homens belos? (Anch., Doutr. Cristã, II, 97)
'angetaetá (etim. - muitíssimos pensamentos) (xe) (v. da 2ª classe) - duvidar, estar com dúvida: Xe 'angetaetá. - Eu estou com dúvida. (VLB, I, 107)
angiré (etim. - após isto) (adv.) - doravante; d'agora em diante: Peteumẽ, pe poxyramo angiré... - Guardai-vos de serdes maus doravante. (Anch., Teatro, 54); ...Asapîá-katupe angiré ká. - Hei de obedecer muito a ele doravante. (Ar., Cat., 77); Angiré, pe poreaûsub umẽ... - Doravante, não estejais aflitos. (Anch., Teatro, 186)
anhangakŷaba (etim. - pente do Anhanga) (s.) - planta cípoda da família das bignoniáceas, gênero Pithecoctenium, também chamada pente-de-macaco e pente-do-diabo (Sousa, Trat. Descr., 223)
anhangarepoti (etim. - fezes do diabo) (s.) - enxofre (VLB, I, 120)
Anhangoby (etim. - Anhanga verde) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 154, 2006)
anhangu'i (etim., pó do diabo) (s.) - enxofre (VLB, I, 120)
Anhangupîara (etim. - adversário do Anhanga) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Poesias, 57)
anhangyar (etim. - tomar a água do anhanga) (xe) (v. da 2ª classe) - estar de luto, vestir luto: Xe anhangyar. - Eu estou de luto. (VLB, I, 105)
anhangyîara (etim. - a que porta o Anhanga) (s.) - feiticeira indígena (Calado, O Valeroso Lucideno, V, III, 323)
anhumatiroba (etim. - folha de esporão de anhuma) (s.) - melancia, planta herbácea da família das cucurbitáceas [Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai], de origem africana (VLB, I, 51)
anhu'ybamirĩ (etim. - aniba pequena) (s.) - planta da família das lauráceas (Piso, De Med. Bras., IV, 195)
anhu'ybuna (etim. - aniba escura) (s.) - var. de anhu'yba (v.) (VLB, I, 65)
anhu'ybusu (etim. - aniba grande) (s.) - var. de anhu'yba (v.) (VLB, I, 65)
anhu'ytaîa (etim. - aniba ardida) (s.) - var. de anhu'yba (v.) (VLB, I, 65)
anhu'ytinga (etim. - aniba clara) (s.) - var. de anhu'yba (v.) (VLB, I, 65)
aninga'yba (etim. - pé de aninga) (s.) - ANINGAÚBA, ANINGAÍBA, planta da família das aráceas (Montrichardia arborescens Schott.), de fibras aproveitáveis para cordoalha e no fabrico de papel, e cuja raiz é drástica e anti-hidrópica (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 106; Piso, De Med. Bras., IV, 197)
aobaíba (etim. - pano ruim) (s.) - trapo (VLB, II, 135)
aobaigûera (etim. - pano ruim que foi) (s.) - trapo (VLB, II, 135)
aobasyka (etim. - roupa cortada) (s.) - gibão; jaqueta (VLB, I, 148)
aobeté (etim. - pano muito bom) (s.) - tecido de seda (VLB, II, 114)
aobusu (etim. - roupão) (s.) - túnica; roupão, saio alto (VLB, II, 108): ...O aobusu mondoró-ndoroka... - Suas túnicas ficando a rasgar. (Ar., Cat., 56v)
aoîybá (etim. - braço de roupa) (s.) - manga (de roupa ou vestido) (VLB, II, 30)
aoku'asandoka (etim. - roupa de metades desunidas) (s.) - pelote (VLB, II, 71)
aomonhangara (etim. - fazedor de roupas) (s.) - alfaiate (VLB, I, 31)
aomoundara (etim. - o que escurece roupas) (s.) - tintureiro de panos (VLB, II, 128)
aopotuká (etim. - bater roupa) (v. intr.) - lavar roupa (VLB, II, 19) ● aopotukasara - lavadeira ou lavador de roupas (VLB, II, 19); aopotukasaba - tempo, lugar, modo, etc. de lavar roupa; lavadouro (VLB, II, 19)
aopuku (etim. - roupa comprida) (s.) - roupão, saio alto; loba (nome de vestido antigo) (VLB, II, 23; 108)
aopyasapaba (etim. - instrumento de tecer roupas) (s.) - lançadeira (peça de tear) (VLB, II, 18)
aopyranga (etim. - roupa vermelha) (s.) - púrpura: Amõ aopyranga mondepa sesé. - Uma púrpura colocando nele. (Ar., Cat., 60)
aosyryryka (etim. - roupa que se arrasta) (s.) - vestido comprido, loba (VLB, II, 23)
aparok (etim. - arrancar a tortuosidade) (v.tr.) - endireitar: Aîaparok. - Endireitei-o. (VLB, I, 115)
apeaob (etim. - cobrir por fora) (v.tr.) - forrar (p.ex., barrete, vestido, etc.): Aîapeaob. - Forrei-o. (VLB, I, 142)
ape'ara (etim. - parte de cima da casca) (s.) - superfície ● ape'arybo - na superfície, na parte de cima: 'Y ape'arybo pirá kûáî. - Na superfície das águas os peixes estavam. (VLB, I, 133)
apekũgûyra (etim. - fundo da língua) (s.) - guelras (de peixe) (VLB, I, 152)
apengok (etim. - arrancar a tortuosidade) (v.tr.) - endireitar: Aîapengok. - Endireitei-o. (VLB, I, 115)
ape'ok (etim. - arrancar a casca) (v.tr.) - descascar (casca grossa, como, p.ex., de árvore, de favas); aparar (como marmelo): Aîape'ok. - Descasquei-o. (VLB, I, 37, 97)
apepu2 (etim. - casco barulhento) (s.) - 1) bravateiro, fanfarrão, o que promete muito e nada faz ou faz pouco; 2) inconstância; (adj.) - inconstante; que fala muito e faz pouco (VLB, II, 11)
ape'yba (etim., pau de casca) (s.) - APEÍBA, árvore tiliácea; o mesmo que apé2 (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273)
'apiku'i (etim. - pó da pele da cabeça) (s.) - caspa da cabeça (Castilho, Nomes, 29)
'apira1 (etim. - pele de cabeça) (s.) - couro cabeludo: Aî'apirabo'o. - Eu lhe pelo o couro cabeludo. (VLB, II, 70)
'apira2 (etim. - pele da glande) (s.) - prepúcio: Mokõî oîoirundyk oito 'ara sykeme,... i 'apira mondoki. - Ao chegar o dia oitavo (duas vezes quatro), cortaram seu prepúcio. (Ar., Cat., 3)
'apiraíba (etim. - pele ruim da cabeça) (s.) - usagre, erupção de pústulas com corrimento e crostas que vêm ao rosto e à cabeça das crianças; (adj.: 'apiraíb) (xe) - ter usagre: Xe 'apiraíb. - Eu tenho usagre. (VLB, II, 140)
'apiramõ (etim. - molhar a pele da cabeça) (v.tr.) - 1) mergulhar; regar, aguar (p.ex., a casa) (VLB, I, 24; II, 99); 2) molhar a cabeça de; batizar: 'Y pupé asé 'apiramõû. - Com água nos molham a cabeça. (Ar., Cat., 80v); Marãîasûaramo temõ abaré xe 'apiramõneme xe angaîpab'e'ymebé xe re'õ mã!... - Ah, que bom seria minha morte ao me batizar o padre, antes de eu pecar. (Ar., Cat., 1686, 249)
apore'yma (etim. - não desistência) (s.) - pertinácia (VLB, II, 74); teima (VLB, II, 125); (adj.: apore'ym) - pertinaz, teimoso; (xe) - 1) teimar; insistir; 2) discutir; brigar por palavras: Ereîmoîebype kaûĩ, sesé nde apore'ymamo? - Vomitaste cauim, brigando por causa dele? (Ar., Cat., 111v) ● apore'ymbaba - tempo, lugar, modo, etc. de teimar, de insistir, de brigar por palavras; teima, insistência; discussão: Tupã nhe'enga abŷagûera t'ereîmombe'u..., apore'ymagûera béno. - Que confesses a transgressão da palavra de Deus, a persistência nisso também. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79)
apûãaba (etim. - pêlos do lábio superior) - bigode (VLB, I, 56); buço (Castilho, Nomes, 29)
apŷabebé (etim. - homem voador) (s.) - anjo (VLB, I, 36): apŷabebé remi'u... - comida dos anjos... (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618)
apŷapytanga (etim. - índio avermelhado) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 122)
apysae'yma1 (etim. - sem ouvidos) (s.) - pertinácia (VLB, II, 74); teima (VLB, II, 125)
apysae'yma2 (etim. - sem ouvidos) (s.) - surdo (VLB, II, 122)
'apyteîuba (etim. - o amarelo do meio) (s.) - gema de ovo (VLB, I, 147)
'apyteraname'yma (etim. - alto da cabeça não espesso) (s.) - moleira (Castilho, Nomes, 29)
'apyteratã (etim. - o alto da cabeça duro) (s.) - cocuruto, a parte mais alta e mais dura da cabeça (Castilho, Nomes, 29)
'apytereba (etim. - chamuscamento do meio da cabeça) (s.) - calvície; (adj.: 'apytereb) - calvo: Xe 'apytereb. - Eu sou calvo. (D'Evreux, Viagem, 157; VLB, I, 64)
'araíb (etim. - nascer mal) (v. intr.) - nascer de maneira desacostumada (p.ex., com os pés para diante) (VLB, II, 46)
'arakugûapaba (etim. - instrumento de se conhecer o sol) (s.) - relógio (de sol) (VLB, II, 100)
'arara'angaba (etim. - instrumento de se medir o sol) (s.) - relógio (de sol) (VLB, II, 100)
araruba (etim. - pau da arara) (s.) - ARAROBA, planta da família das leguminosas que produz tinta de cor violeta (RIHP, XL (1945), 81)
araruna1 (etim. - arara escura) (s.) - ARARAÚNA, ave psitaciforme da família dos psitacídeos, habitante do cerrado brasileiro, principalmente das regiões onde ocorrem buritizais. É conhecida, também, como arara-azul, arara-preta. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
Araruna2 (etim. - arara escura) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §2, 114)
Ararusuaîa (etim. - rabo de arara grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 182v)
araryba (etim. - planta da arara) (s.) - ARARIBA, ARARIBÁ, IRIRIBÁ, árvore da família das leguminosas [Centrolobium robustum (Vell.) Mart. ex Benth.], das florestas equatoriais e tropicais, também conhecida como putumuju (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 106). "... Dá outra tinta excelente em ser vermelha, muito mais fina e subida na cor que a do pau-do-brasil e dela se aproveitam as mulheres para o rosto." (Brandão, Diálogos, 208)
arasagûasu (etim. - araçá grande) (s.) - 1) o mesmo que ARAÇANHUMA, ARAÇAÍBA, uma das espécies de araçá, planta da família das mirtáceas; 2) o fruto dessa árvore; 3) nome com que nossos índios tupis da costa chamavam a goiaba (Psidium guayava L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 105; Brandão, Diálogos, 218)
arasaíba (etim. - araçá ruim) (s.) - ARAÇAÍBA (Psidium guineense Sw.), uma das espécies de araçá ou araçazeiro, nome comum a várias plantas da família das mirtáceas, tipicamente brasileiras, do gênero Psidium (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 105; Sousa, Trat. Descr., 187)
arasamirĩ (etim. - araçá pequeno) (s.) - ARAÇÁ-MIRIM, planta mirtácea (Psidium guineense Sw.); 2) o fruto dessa árvore (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 62)
araso'iá (etim. - açoiaba de arara) (s.) - ARAÇOIA, ARAZOIA, ornato feito de penas de nhandu ou de arara que era amarrado nos quadris e que descia quase aos joelhos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271; Staden, Viagem, 71)
araso'iapeba (etim. - araçoia achatada) (s.) - var. de planta herbácea da família das alismatáceas; espadana (VLB, I, 125)
aratikuapé (etim. - araticum de casca) (s.) - ARATICUM-APÊ, árvore anonácea, Annona montana Macfad. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93)
aratikugûasu (etim. - araticum grande) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 171)
aratikurana (etim. - falso araticum) (s.) - árvore semelhante ao araticu, de região de mangue, de madeira mole e lisa (Sousa, Trat. Descr., 223)
aratue'ẽ (etim. - aratu sápido, que tem muito sabor) (s.) - ARATUÉM, variedade de camarão (Sousa, Trat. Descr., CXLV)
aratupeba (etim. - aratu achatado) (s.) - ARATUPEBA, espécie de crustáceo dos mangues, da família dos grapsídeos. Vive em árvores ou arbustos, nos quais sobe facilmente, curiosamente se deixando cair quando ouve um ruído estranho. (D'Abbeville, Histoire, 248; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 183 e 185)
aratupinima (etim. - aratu pintado) (s.) - espécie de crustáceo dos mangues, da família dos grapsídeos (D'Abbeville, Histoire, 248; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 183 e 185)
araûaûapeba (etim. - araguaguá achatado) (s.) - peixe-morcego, da família dos oncocefalídeos (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. XII, §17) (Laet o confundiu com o puraquê.)
'araybysokeme (etim. - o sol, ao fustigar a terra) (s.) - meio dia (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276)
'areté (etim. - dia muito bom) (s.) - feriado, dia santo, dia de guarda: Ereîmborype nde rapixara 'aretéreme i porabyky-potareme? - És tolerante com teu próximo ao querer ele trabalhar nos feriados? (Ar., Cat., 100)
'aretegûasu (etim. - grande feriado) (s.) - Páscoa: 'Aretegûasu îabi'õ ã mundepora moîepé peîmosemukar ixébe îepi... - Eis que a cada Páscoa um prisioneiro fazeis-me libertar sempre. (Ar., Cat., 59v)
'ari (etim. - na parte superior) - em cima de, sobre (Anch., Arte, 41): I 'ari oîkó-potá. - Querendo estar em cima deles. (Anch., Teatro, 154, 2006)
arinhãmiri (etim. - arinhama pequena) (s.) - galinha européia (Léry, Histoire [1580], p. 276)
arinhãmusu (etim. - arinhama grande) - o mesmo que arinhama (v.) (Léry, Histoire [1580], p. 276)
Aru'ype (etim. - no rio dos sapos-arus) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 187)
'arybondûara (etim. - o que está por cima) (s.) - sela, assento: i 'arybondûara - a sela dele; Aî'arybondûá-rung. - Ponho sela nele (isto é, no cavalo); selo-o (o cavalo). (VLB, II, 115)
aseokãîa (etim. - dente da garganta) (s.) - úvula (Castilho, Nomes, 28)
atapûana (etim. - caminhada ligeira) (s.) - leveza; (adj.: atapûan) - leve (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276)
atuaî (etim. - na nuca) (loc. posp.) - na esteira de, detrás de, após: Xe atuaî turi. - Veio detrás de mim. (Anch., Arte, 41v); Xe atuaî bé turi. - Veio logo detrás de mim. (Anch., Arte, 41v)
atuasaba (etim. - o companheiro da nuca, isto é, o que segue alguém) (s.) - 1) compadre; comadre: -Marã e'ipe asé ruba, asé sy asé rerokara supé? -Xe atuasaba e'i. -Como dizem nosso pai e nossa mãe para o que nos batiza? -Dizem: -Meu compadre (Minha comadre). (Ar., Cat., 82-82v); Ata'y-nupã xe atuasaba. - Açoito o filho de meu compadre. (Fig., Arte, 88); 2) aliado, companheiro: ...Apŷaba karaíba atuasaba kori oîkó. - Os índios hoje são aliados dos cristãos. (D'Abbeville, Histoire, 342)
atuaupaba (etim. - lugar de estar deitada a nuca) (s.) - almofada (VLB, I, 32)
atuaupapuku (etim. - almofada comprida) (s.) - travesseiro (VLB, I, 61)
atyûasu (etim. - ati grande) (s.) - 1) ATIUAÇU, ATINGAÇU, ave da família dos cuculídeos. Vive na mata e à beira da mata, no cerrado e no cerradão. "...Tem as costas pardas, o peito e a barriga brancas, o rabo comprido, as pernas verdoengas, os olhos vermelhos." (Sousa, Trat. Descr., 238; VLB, I, 146)
a'ykaba (etim. - vespa de bicho-preguiça) (s.) - nome de uma vespa (VLB, I, 55)
bakutingy (etim. - tingui de bacu) (s.) - var. de cauim (Vasconcelos, Crônica, 106)
ba'u (etim. - come pau < 'yba + 'u) (s.) - nome genérico de insetos e vermes comestíveis que nascem dentro de paus, canas, etc. (VLB, I, 55)
eíra-akûãîetá (etim. - abelha de muitos pênis) (s.) - variedade de abelha da família dos meliponídeos (Anch., Cartas, 133)
eirapu'a (etim. - abelha de bola) (s.) - IRAPUÁ, ARAPUÃ, abelha da família dos meliponídeos, que nidifica no alto das árvores, com "casas" em forma de uma bola de meio metro de diâmetro (D'Abbeville, Histoire, 319; VLB, I, 18)
eîrara (etim. - toma mel) (s.) - IRARA, animal carnívoro da família dos mustelídeos, também conhecido como papa-mel (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 28)
eiruba (etim. - pai do mel) (s.) - espécie de abelha (Piso, De Med. Bras., IV, 178; VLB, I, 18)
embu'ayembó (etim. - planta de vergônteas do embuá) (s.) - árvore da família das aristoloquiáceas (Aristoloquia labiata Willd) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 26)
embyrusu (etim. - embira grande) (s.) - EMBIRUÇU, variedade de embira de tamanho avantajado, designação comum às plantas bombacáceas do gênero Pseudobombax (v. embyra) (Sousa, Trat. Descr., 216)
endysyryka (etim. - saliva escorrida) (t) (s.) - baba: xe rendysyryka - minha baba; [adj.: endysyryk (r, s)] - ter baba; (xe) babar: Xe rendysyryk. - Eu babo. (VLB, I, 50)
gûaburu (etim. - recipiente de ingestão) (s.) - recipiente de comer ou beber algo: ...I gûaburu koîpó inaîagûasu apepûera amõ pupé i nhang'iré... - Após vertê-la dentro do recipiente em que a bebe ou de alguma casca de coco... (Ar., Cat., 353)
gûaîá-apara (etim. - guajá torto) (s.) - GUAIÁ-APARÁ, GOIÁ, GUAIÁ, UACAPARÁ, espécie de crustáceo da família dos calapídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 182)
gûaîakatu (etim. - guajá bom) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 125)
gûaîamirĩ (etim. - guajá pequeno) (s.) - GUAJÁ-MIRIM, pequeno caranguejo pertencente, provavelmente, à família dos xantídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 183)
gûaîanãgûasu (etim. - grandes guaianás) (s.) - nome de povo indígena tapuia (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. IV, §13)
gûaîaná-timbó (etim. - timbó dos guaianás) (s.) - GORANÁ-TIMBÓ, GUAJANA-TIMBÓ, GUATIMBÓ ou TIMBÓ DE RAIZ, planta leguminosa-papilionada (Dahlstedtia pinnatum (Benth.) Malme, de cuja raiz é extraído entorpecente usado para matar peixes e para o tratamento das afecções parasitárias da pele e, ainda, como analgésico geral e hipnótico (Piso, De Med. Bras., IV, 201)
gûaîá-pinima (etim. - guajá pintado) (s.) - var. de crustáceo (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 82)
gûaîbiãîa (etim. - dente de velha) (s.) - nome de um peixe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 147)
gûaîbĩkûapyranga (etim. - vagina vermelha de velha) (s.) - nome de um peixe (Libri Princ., vol. II, 73)
gûaîbĩkûara (etim. - buraco, vagina de velha) (s.) - ABIQUARA, BIQUARA, nome comum a certos peixes da família dos pomadasídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 163)
gûaîbĩkûarusu (etim. - buracão, grande vagina de velha) (s.) - nome de um peixe (Brandão, Diálogos, 237)
gûaîbĩ-paîé (etim. - velha pajé) (s.) - var. de dança; modo de saltar (Vasconcelos, Crônica, [Not.], I, §143, 107); Nieuhof, Ged. Reize, 217-218)
gûaînumby-akaîu (etim. - caju de beija-flor) (s.) - nome de uma árvore (D'Abbeville, Histoire, 223)
gûaînumbygûasu (etim. - guainumbi grande) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I,129)
gûakagûasu (etim. - guacá grande) (s.) - ave da família dos larídeos, espécie de gaivota (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 205)
gûakaraîara (etim. - os que dominam os guacarás) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
gûamaîakuapé (etim. - guamaiacu de casca) (s.) - GUAMAIACU, BAIACU-COM-CHIFRE, peixe de constituição robusta que se abriga sob uma carapaça espinhosa sólida, de onde emergem pontas córneas, grossas e resistentes (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 142; Piso, De Med. Bras. III, 173)
gûamaîaku'atinga (etim. - guamaiacu da cabeça branca) (s.) - espécie de peixe da família dos tetrodontídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 168)
gûamaîakukuruba (etim. - guamaiacu encaroçado) (s.) - nome de um peixe (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 57)
gûaraabuku (etim. - penas compridas de guará) (s.) - manto de penas de guará usado pelos índios tupis da costa, e que tinha na parte superior um capuz, de sorte que podia cobrir toda a cabeça, os ombros e as coxas até as nádegas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
gûarabebé (etim. - guará voador) (s.) - espécie de peixe-voador (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 2211)
gûaragûasu (etim. - guará grande) (s.) - nome de um peixe (VLB, II, 149; Libri Princ., vol. II, 59)
gûara'i (etim. - guarazinho) (s.) - peixe da família dos serranídeos (Lisboa, Hist. Anim. Árv. do Maranhão, fl. 166)
gûaraîuba (etim. - guará amarelo) (s.) - GUARAJUBA, GUARAIUBA, GUARUBA, peixe da família dos carangídeos (VLB, II, 149)
gûarakangûyra (etim. - guará de cartilagem) (s.) - ARACANGUIRA, peixe da família dos carangídeos (VLB, II, 64)
gûaraky'ynha (etim. - pimenta de guará) (s.) - GUARAQUIM, planta da família das solanáceas (Solanum americanum L.), também conhecida como erva-de-bicho, erva-moura, pimenta-de-rato, carachichu. "É o único remédio para lombrigas e, de ordinário, quem as come, logo as lança." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 49)
gûaramirĩ (etim. - guará pequeno) (s.) - nome de peixe carangídeo (VLB, I, 67)
gûaranhana (etim. - guará corredor) (s.) - nome de um peixe (VLB, II, 149)
gûaraoby (etim. - guará verde) (s.) - nome de um peixe (VLB, I, 106)
gûarapuku (etim. - guará comprido) (s.) - peixe da família dos escombrídeos; cavala (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 178; VLB, II, 69, 149): Akûeîme rakó pirá asekyî-marangatu: ku'uka, gûarapuku... - Antigamente pescava bem os peixes: garoupas, cavalas... (Anch., Poemas, 152)
gûararamirĩ (etim. - tambor pequeno) (s.) - tamboril (VLB, II, 124)
gûararapinima (etim. - guarará manchado) (s.) - nome de um caranguejo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 187)
gûararaúna (etim. - guarará escuro) (s.) - espécie de caranguejo da família dos ocipodídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 184)
gûarasyaba (etim. - penas de sol) (s.) - GUARACIABA, uma das espécies de beija-flor (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 35) (v. tb. gûaînumby)
gûarasyma (etim. - guará liso) (s.) - GUARAÇAÍMA, GUARAÇUMA, peixe de mar da família dos carangídeos (VLB, II, 149)
gûará-tebiró (etim. - guará-tapa-bunda) (s.) - nome de um peixe (Lisboa, Hist. Anim e Árv. do Maranhão, fl. 164v)
gûaraúna (etim. - guará escuro) (s.) - ave da família dos ibidídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 204; Theat. Rer. Nat. Bras., 116)
gûatapygûasu (etim. - guatapi grande) (s.) - variedade de concha (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
gûatukupaîuba (etim. - guatucupá amarelo) (s.) - GUATUCUPAJUBA, peixe da família dos esparídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 147)
gûatukupapixyma (etim. - guatucupá da pele lisa) (s.) - nome de um peixe (VLB, II, 75)
gûatukupapuku (etim. - guatucupá comprido) (s.) - nome de peixe (VLB, II, 75)
gûebusu (etim. - guebo grande) (s.) - GUEBUÇU, peixe da família dos istioforídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 171)
gûetépe (etim. - em seu corpo) (adv.) - inteiro, inteiramente, por inteiro (VLB, II, 13): I Tupã irũmo bé kó seté rekóû, pesembûeri pupé bé gûetépe-katu re'a... - Eis que com seu corpo deve estar sua divindade, nos pedacinhos também, inteiramente. (Ar., Cat., 85); ...Itá gûetépe.- Inteiramente de pedra. (Léry, Histoire, 363) ● gûetépe bé (ou gûetépe nhẽ) - por inteiro (VLB, II, 13); todos juntos (VLB, II, 130)
gûetikorõîa (etim. - oiti áspero, nodoso) (s.) - GUITI-COROIÁ, nome comum a algumas árvores da família das crisobalanáceas, principalmente dos gêneros Licania e Couepia e também a algumas árvores sapotáceas, também chamadas OITI-COROIÁ e UITI-CURUBA (Piso, De Med. Bras., IV, 183)
gûetimirĩ (etim. - gueti pequeno) (s.) - espécie de gueti (v.) (Piso, De Med. Bras., IV, 183)
gûitigûasu (etim. - guiti grande) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 93)
gûiti'yba (etim. - pé de gueti) (s.) - árvore da família das crisobalanáceas (Licania tomentosa (Benth.) Fritsch.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 115)
gûyraãîmuku (etim. - ave da ponta comprida) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 152)
gûyraakangasaba (etim. - ave que cruza a cabeça) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 139)
gûyraakangatara (etim. - ave de cocar) (s.) - GUIRÁ-ACANGATARA, ave cuculiforme da família dos cuculídeos, comum em todo o país. Tem o alto da cabeça avermelhado e a nuca amarelada. Habita as matas e os cerrados. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 216; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 179)
gûyraenõîa (etim. - o chama-pássaros) (s.) - ave da família dos cerebídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 209)
gûyragûasu (etim. - ave grande) (s.) - nome comum a diferentes espécies de aves de rapina das famílias dos falconídeos e dos accipitrídeos; gavião (v. tb. ûyraûasu): gûyragûasu-aba - pena de gavião (Léry, Histoire, 349; VLB, I, 48)
gûyragûasuberaba (etim. - pássaro grande brilhante) (s.) - GUIRAGUAÇUBERABA, pássaro da família dos traupídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 212)
gûyragûasuúna (etim. - ave grande e escura) (s.) - nome de uma ave (Libri Princ., vol. II, 38)
gûyra'ĩeté (etim. - passarinho genuíno) (s.) - nome de um pássaro de penas amarelas e pretas (Brandão, Diálogos, 228)
gûyraîuba2 (etim. - pássaro amarelo) (s.) - GUIRAJUBA, GUARAJUBA, GUARUBA, MARAJUBA, TANAJUBA, pássaro da família dos psitacídeos. "... Têm-nos em tanta estima que dão resgate e valia de duas pessoas por um deles." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 35)
gûyramimby (etim. - pássaro-flauta) (s.) - cigarra, nome comum aos insetos homópteros da família dos cicadídeos, cujos machos são providos de órgãos musicais e que, geralmente, morrem cantando (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 256-257)
gûyranhe'engatu (etim. - pássaro de bom canto) (s.) - pequeno pássaro fringilídeo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 211)
gûyranhe'engetá (etim. - pássaro de muitos cantos) (s.) - GRONHATÁ, GRUNHATÁ, pássaro da família dos tiranídeos. "É pássaro excelente para gaiola por falar de muitas maneiras, arremedando muitos pássaros." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 36)
gûyraoby (etim. - pássaro azul) (s.) - nome comum a pássaros da família dos corvídeos, de cor predominantemente azul (VLB, I, 150)
gûyrapereá (etim. - ave preá) (s.) - GUIRAPEREÁ, ave da família dos traupídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 212)
gûyrapitinga (etim. - ave pintada) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 139)
gûyrapongoby (etim. - guiraponga verde) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 150)
gûyrapoti'apyrangaîuparaba (etim. - ave do peito manchado de vermelho e amarelo) (s.) - nome de uma ave (Brasil Holandês, vol. III, 50)
gûyrara'yrusu (etim. - filhote grande de ave) (s.) - frango (VLB, I, 143)
gûyrarurunhe'engetá (etim. - pássaro inchado de muitos cantos) (s.) - nome de um pássaro (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 141)
gûyrasama (etim. - ave-corda) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 102)
gûyrasapukaîa (etim. - ave que grita) (s.) - galo; galinha: ...Gûyrasapukaîa îabé ereîetu'u... - Como um galo te deitas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111)
gûyrasapukaîusu (etim. - galo grande) (s.) - peru (VLB, I, 146)
gûyratanheúna (etim. - pássaro duro e escuro) (s.) - nome de um pássaro (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 137)
gûyratyryka (etim. - pássaro arisco) (s.) - GUIRATIRICA, nome comum a vários pássaros da família dos fringilídeos, que aparecem em todo o Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 211)
gûyraúna (etim. - ave escura) (s.) - GRAÚNA, ARAÚNA, UIRAÚNA, CARAÚNA, CRAÚNA, IRAÚNA, nome comum a vários pássaros escuros, geralmente pertencentes à família dos icterídeos (Lisboa, Hist. Anim. Árv. do Maranhão, fl. 186v)
gûyraupi'agûara (etim. - comedor de ovos de pássaros) (s.) - papa-ovo, papa-pinto, serpente da família dos colubrídeos (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 31). "...Andam pelas árvores salteando pássaros e a comer-lhes os ovos nos ninhos, de que se mantêm, as quais não são grandes, mas muito ligeiras." (Sousa, Trat. Descr., 263)
îabeburapinima (etim. - arraia da cabeça pintada) (s.) - arraia de água doce de um palmo e meio de comprimento, muito redonda, perigosa e peçonhenta (Lisboa, Hist. Anim. Árv. do Maranhão, fls. 173v-174)
îabebyreté (etim. - jabebira verdadeira) (s.) - JABEBIRETÊ, peixe da família dos dasiatídeos. Tem o aspecto de papagaio de papel. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 175)
îabebyretepinima (etim. - jabebiretê pintado) (s.) - peixe da família dos dasiatídeos, uma variedade de raia (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 36
îabebytinga (etim. - jabebira clara) (s.) - var. de arraia (VLB, I, 41)
îaborandygûasu (etim. - grande jaborandi) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 161, 162, 163, 164)
îabotiapeba (etim. - jabuti do casco chato) (s.) - variedade de JABUTI (v.). "São muito amassados e têm as costas muito chãs e não têm verrugas." (Sousa, Trat. Descr., 255)
îabotimirĩ (etim. - jabuti pequeno) (s). - variedade de JABUTI de tamanho diminuto (v. îaboti) (Sousa, Trat. Descr., 255)
îabutikaba (etim. - gordura de jabuti* < îaboti + kaba) (s.) - 1) JABUTICABEIRA, árvore da família das mirtáceas, cuja principal espécie é a Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg, em cujo tronco aparecem os frutos parecidos a uvas, mas de casca mais dura. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 141); 2) o fruto da jabuticabeira, JABUTICABA (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 40)
îabyrugûasu (etim. - jaburu grande) (s.) - ave ciconiforme da família dos ciconídeos (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 116)
Îagûakûara (etim. - toca do cão) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
îagûapopeba (etim. - cão da pata achatada) (s.) - mamífero da família dos mustelídeos (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 65). "Andam sempre na água onde criam e parem muitos filhos e onde se mantêm dos peixes que tomam e dos camarões." (Sousa, Trat. Descr., 250)
îagûapytanga (etim. - cão pardo) (s.) - JAGUAPITANGA, raposa-do-campo, pequeno animal de cor predominante cinzento-escura, do tamanho de um cão, mamífero carnívoro da família dos canídeos (Dusicyom vetulus Lund). (VLB, II, 96) "...Faz ofício de raposa, despovoa uma fazenda de galinha que furta." (Sousa, Trat. Descr., 247)
îagûapytangusu (etim. - jaguapitanga grande) (s.) - nome de animal mamífero da família dos felídeos, parecido à onça na forma e não na cor (VLB, II, 56)
îagûarakangusu (etim. - onça da cabeça grande) (s.) - CANGUÇU, variedade de felino, maior que a onça, "cuja cabeça é tão grande como de um boi novilho. Criam-se estas alimárias pelo sertão, longe do mar." (Sousa, Trat. Descr., 245)
îagûarasá (etim. - olhos de onça) (s.) - JAGUARUÇÁ, JAGUARIÇÁ, JAGUAREÇÁ, JAGURIÇÁ, JUGURIÇÁ, peixe de alto-mar da família dos holocentrídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 147; Sousa, Trat. Descr., 285)
îagûarema (etim. - onça fedorenta) - o mesmo que îagûara1 (v.) (D'Abbeville, Histoire, 96)
îagûareté1 (etim. - onça verdadeira) (s.) - JAGUARETÉ, onça, o mesmo que îagûara1 (v.). Segundo Martius, é a Panthera onca de pelagem escura. (Sousa, Trat. Descr., 244)
Îagûareté2 (etim. - onça verdadeira) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
Îagûaruna (etim. - onça preta) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 60)
îagûarusu (etim. - grande cão) (s.) - animal mamífero da família dos canídeos (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 30; VLB, I, 65). "Andam dentro e fora d'água e matam gente." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 64-65)
Îagûatinga (etim. - cão branco) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185)
îakarepetymbûaba (etim. - jacaré-cachimbo) (s.) - cavalo-marinho, peixe singnatídeo de corpo revestido de anéis ósseos e com grande cauda preênsil. O macho possui uma bolsa abdominal em que os ovos são incubados, nadando sempre ereto. (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 33)
îakarepinima (etim. - jacaré pintalgado) (s.) - espécie de pequeno lagarto pintado (Sousa, Trat. Descr., 264)
îakuakanga (etim. - cabeça de jacu) (s.) - 1) JACUANGA, JACUACANGA, nome vulgar de plantas costáceas, dentre as quais se destaca a espécie Costus spicatus Willd., erva cultivada, ornamental, com propriedades diuréticas e febrífugas, também conhecida como cana-do-brejo, cana-do-mato, cana-roxa, cana-de-macaco, caatinga, paco-catinga, periná, ubacaiá; 2) fedegoso, planta borraginácea (Heliotropium indicum L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 6; Piso, De Med. Bras., IV, 195)
îakuoby (etim. - jacu azul) (s.) - ave galiforme da família dos cracídeos (D'Abbeville, Histoire, 236v)
Îakuparĩ (etim. - jacu coxo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185)
îakutinga (etim. - jacu branco) (s.) - JACUTINGA, nome comum a certas aves galiformes da família dos cracídeos, que habitam as matas virgens (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1388-1391; Léry, Histoire [1580], p. 278)
îaku'yba (etim. - planta do jacu) (s.) - nome de uma árvore (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §81, 153)
îandaîeté (etim. - jandaia verdadeira) - o mesmo que îendaîa (v.) (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1286-1288)
îandaîuba (etim. - jandaia amarela) (s.) - ave da família dos psitacídeos (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1286-1288)
îandaîusu (etim. - jandaia grande) (s.) - JANDAIA, NHANDAIA, nome comum a certas aves da família dos psitacídeos (D'Abbeville, Histoire, 233v)
îandûaba (etim. - penas de nhandu) (s.) - ENDUAPE, penacho utilizado pelos índios tupis nas nádegas, que era pendurado na cintura (D'Abbeville, Histoire, XLVI)
îandyparana (etim. - falso genipapo) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 110)
îandyroba (etim. - óleo amargo) (s.) - NHANDIROBA, trepadeira ou erva prostrada, da família das cucurbitáceas (Fevillea trilobata L.), também chamada ANDIROBA, ANDIROVA, NHANDIROVA, JANDIROBA, JENDIROBA, cipó-de-jabutá, etc. De seu fruto preparavam os indígenas um óleo para a iluminação. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 46)
îanypaba'yba (etim. - pé de jenipapo) - o mesmo que îanypaba (v.)
îanypapyxuna (etim. - pretejamento de jenipapo) (s.) - tingimento com jenipapo; (adj. - îanypapyxun) - tingido de jenipapo ● i îanypapyxunyba'e - o que está tingido de jenipapo (VLB, II, 128)
Îanypa'yba (etim. - pé de jenipapo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 186v)
îapĩûasu1 (etim. - japim grande) (s.) - var. de JAPIM, pássaro da família dos icterídeos. "Passarinho grande, mosqueado de várias cores." (D'Abbeville, Histoire, 183)
Îapĩûasu2 (etim. - japim grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Evreux, Viagem, 88)
Îapĩ'yba (etim. - planta do japim) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188v)
îapugûasu (etim. - japu grande) (s.) - JAPUAÇU, JAPUGUAÇU, JAPU-GRANDE, nome de pássaro icterídeo ● îapugûasu-kesaba - lugar em que dormem os japuguaçus, também antigo nome da Ilha de Santana, da cota leste do Brasil (VLB, II, 10)
îapuîuba (etim. - japu amarelo) (s.) - JAPUJUBA, nome de ave da família dos icterídeos; o mesmo que îupuîuba (v.) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 138)
îararagûaîpytanga (etim. - jararaca do rabo pardo) (s.) - espécie de cobra da família dos crotalídeos (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 32)
îararakusu (etim. - jararaca grande) (s.) - JARARACUÇU, réptil ofídio da família dos crotalídeos (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 32)
îaruparikuraba (etim. - escárnio do Jurupari) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 190)
îasanãmirĩ (etim. - jaçanã pequeno) (s.) - nome de uma ave (Piso, De Med. Bras., 154)
îasya'yra (etim. - filho da lua) (s.) - nome de um escorpião (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 245)
îasyendy (etim. - luz da lua) - luar (VLB, II, 25)
îasytatá1 (etim. - lua de fogo) (s.) - estrela: Îasytatá serekoarama resé... - Por causa da estrela sua guardiã. (Ar., Cat., 3); ...A'ereme îasytatá o apakuîamo. - Então as estrelas cairão completamente. (Ar., Cat., 159v)
îasytatá2 (etim. - lua de fogo) (s.) - estrela-do-mar (Libri Princ., vol. I, 120)
îasytatagûasu1 (etim. - estrela grande) (s.) - estrela-do-mar, nome genérico de animais equinodermos achatados em forma de estrela ou pentágono, com muitos braços, pés ambulacrários e boca na face inferior do corpo (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 29, 30)
îasytatagûasu2 (etim. - estrela grande) (s. astron.) - estrela d'alva (Léry, Histoire, 359)
îata'ypeba (etim. - jataí achatado) (s.) - JUTAIPEBA, planta da família das leguminosas- cesalpinoídeas; variedade de JATAÍ (Sousa, Trat. Descr., 208)
îatyrãbebé (etim. - felpas esvoaçantes) (s.) - feixe de penas ou chocalhos pendentes do tacape com que se fazia o sacrifício ritual (VLB, I, 50, 65)
îeakypûereroîebyr (etim. - fazer voltar consigo suas pegadas) (v. intr.) - voltar para trás, recuar, retroceder: Opá i îeakypûereroîebyri... - Todos eles voltaram para trás. (Ar., Cat., 54v)
îeapasaba (etim. - lugar de se entortar) (s.) - articulação dos ossos (VLB, I, 116); junta, articulação dos membros (VLB, II, 16); curva (da perna, do joelho) (VLB, I, 88; Castilho, Nomes, 31)
îeaytymonhang (etim. - fazer-se o ninho) (v. intr.) - nidificar, fazer ninho (VLB, II, 49)
îekuakubusu (etim. - o grande jejum) (s.) - Quaresma: -Mba'e-mba'eremepe asé nhemombe'une? -Îekuakubusureme... -Em que ocasiões a gente se confessará? -Na Quaresma. (Ar., Cat., 90v-91)
îekugûagûamamõ (etim. - aparecer o sol ao longe) (v. intr.) - vir a alvorada, a aurora, clarear a manhã (VLB, I, 123)
îepabok (etim. - tirar-se o leito < îe- + upab + 'ok) (v. intr.) - partir-se (p.ex., o viajante): Aîepabok. - Parto. (VLB, II, 66)
îepaboka (etim. - retirada do leito < îe- + upab + 'oka) (s.) - partida: T'îaîmombe'u é irã i îepaboka... - Havemos de anunciar futuramente sua partida. (Ar., Cat., 127, 1686)
îepe'aba (etim. - instrumento de aquecer-se) (s.) - lenha (VLB, II, 20): Aîepe'abar. - Arranco lenha. (VLB, II, 20) Aîepe'abá gûitekóbo. - Estou tomando lenha; Asó îepe'abá. - Vou para arrancar lenha. (VLB, II, 20) ● îepe'a-mobokaba - cunha de fender lenha (VLB, I, 87)
îepeká (etim. - quebrar-se o caminho) (v. intr.) - abrir caminho (em meio à multidão, em meio à mata, sem a cortar): Oroîepeká. - Abrimos caminho. (VLB, I, 22; II, 108)
îepirok (etim. - arrancar-se a pele) (v. intr.) - romper-se (p.ex., o dia) (VLB, I, 123)
îepoeîtyk (etim. - lançar-se a mão) (v. intr. compl. posp.) - acenar com a mão (para alguém: compl. com supé): Ereîepoeîtykype... kunhã amõ supé? - Acenaste com a mão para alguma mulher? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
îepoekyî (etim. - puxarem-se as fibras) (v. intr.) - estender-se (p.ex., o pano depois de molhado, para secar) (VLB, I, 128)
îepoerur (etim. - trazerem-se as mãos) (v. intr.) - acenar com a mão (principalmente chamando) (VLB, I, 19)
îeposypaba (etim. - instrumento de se limparem as mãos) (s.) - 1) guardanapo (VLB, I, 146); 2) toalha das mãos (VLB, II, 129) (v. syb)
îepotasaba (etim. - instrumento de juntar-se) (s.) - junta, juntura (em geral e também do corpo) (Castilho, Nomes, 31): ...I kanga îepotasaba pe'abo o îosuí. - As juntas de seus ossos afastando umas das outras. (Ar., Cat., 62); akanga îepotasaba - as juntas da cabeça (VLB, I, 84)
îepotasatyba (etim. - lugar habitual de arribar) (s.) - porto: ygara îepotasatyba - porto das canoas (VLB, II, 122) (V. tb. îepotar1)
îepyaobok (etim. - arrancar-se o pano dos pés) (v. intr.) - descalçar-se: Aîepyaobok. - Descalcei-me. (VLB, I, 96)
îepytasok1 (etim. - firmarem-se os pés) (v. intr. compl. posp.) - firmar-se (como o que vai levantar algo pesado para não escorregar), suster-se, escorar-se [em algo: compl. com esé (r, s)]: Aîepytasok (mba'e) resé. - Escorei-me em algo. (VLB, I, 131, adapt.)
îepytasok2 (etim. - firmarem-se os pés) (v. intr.) - combater, ter encontro (com inimigos) (VLB, I, 114)
îerebusu1 (etim. - volta grande) (s.) - nome de uma ave da família dos catartídeos, do grupo dos urubus (D'Abbeville, Histoire, 182v)
Îerebusu2 (etim. - volta grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 182v)
îeremũ-pakobá (etim. - jerimum pacova) (s.) - variedade de jerimum (v. îurumũ) (Brandão, Diálogos, 198)
îerumũeté (etim. - jerimum verdadeiro) (s.) - nome de uma planta; variedade de abóbora (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 216)
îeruresara (etim. - o que pede) (s.) - advogado, o que faz petições: Ene'ĩ, oré îeruresar! - Eia, advogada nossa! (Ar., Cat., 14v)
îetaysyka (etim. - resina de jatobá) (s.) - JETAICICA, resina transparente destilada pela îeta'yba (v.) (Piso, De Med. Bras., IV, 180)
îetykusu (etim. - jetica grande) (s.) - JETICUÇU, planta da família das convolvuláceas, de folhas cordiformes e raiz tuberosa, de efeito purgativo. É chamada também batata-de-purga ou tapioca-de-purga. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 47; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 41)
îetymixyra (etim. - batata-doce cozida) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 70)
îeupisaba (etim. - instrumento de se elevar) (s.) - escada (VLB, I, 122)
îe'yaponhang (etim. - encher-se a embarcação) (v. intr.) - fazer aguada, fazer armazenamento de água (p.ex., como o navio) (VLB, I, 24)
îe'yaporakar (etim. - encher-se a embarcação) (v. intr.) - fazer aguada, fazer armazenamento de água (p.ex., como o navio) (VLB, I, 24)
îe'ynhang (etim. - verter-se água) (v. intr.) - fazer aguada, fazer armazenamento de água (p.ex., como o navio) (VLB, I, 24)
ikepuba (etim. - flanco mole) (s.) - o espaço entre as costelas e o osso ilíaco (Castilho, Nomes, 32)
ikugûabypypabẽ (etim. - conhecido de todos) (s.) - o que é famoso; (adj.) - famoso, notório, público; (adv.) por fama, reconhecidamente (VLB, II, 89)
imongaraibypyre'yma (etim. - o que não é batizado) (s.) - pagão (VLB, II, 62): Cristãos rekokatu repîaka é ipó imongaraibypyre'yma... - Vendo os pagãos a virtude dos cristãos. (Ar., Cat., 26v)
inaîagûasu'yba (etim. - pé de inajá grande) - o mesmo que inaîagûasu (v.)
inaîegûasu (etim. - inajê grande) (s.) - var. de gavião grande, ave falconiforme da família dos acipitrídeos (Soares, Coisas Not. Bras. - ms. C, 1421)
inaîemirĩ (etim. - inajê pequeno) (s.) - var. de INAJÊ, ave falconiforme da família dos acipitrídeos (Soares, Coisas Not. Bras. - ms. C, 1421)
inambugûasukyîa (etim. - pimenta de inhambu-guaçu) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 152)
inambukaru (etim. - repasto de inhambu) (s.) - nome de planta trepadeira de "folha como a laranjeira.... A fruta é como um ovo de galinha... e tem a flor em feição de campainha". (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 181)
inambumirĩ (etim. - nhambu pequeno) (s.) - nome de uma ave (Léry, Histoire [1580], p. 278)
inambutinga (etim. - inhambu-branco) (s.) - INHAMBUTINGA, ave da família dos tinamídeos, "do tamanho de uma galinha. Tem a plumagem branca manchada de preto." Os índios serviam-se de suas penas para pintar e enfeitar suas armas. (D'Abbeville, Histoire, 237; VLB, I, 76)
ingaopeapi'yba (etim. - cabo para golpear as vagens de ingá) (s.) - variedade de ingá, planta da família das leguminosas-mimosoídeas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 112)
ingapenambi (etim. - orelhas de tacape) (s.) - pendentes ou campainhas de penas de diversas cores que ficavam no cabo do tacape que seria usado para matar um prisioneiro (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 117)
inhe'engatuba'e (etim. - o que tem a fala boa) (s.) - o língua (o que a sabe), o conhecedor de um idioma (VLB, II, 22)
Inĩgûasu (etim. - rede grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, III, cap. xxii)
inimbeba (etim. - rede de dormir achatada) (s.) - leito, cama de dormir (VLB, I, 64): inimbebytá - armação de leito (VLB, II, 20)
îoaby (etim. - diferir um do outro) (v. intr.) - ser diferente: Nd'oroîoabyî. - Não somos diferentes. (VLB, II, 9)
îoabye'yma (etim. - sem diferença) (s.) - igualdade, semelhança (VLB, II, 9)
îoamotare'yma (etim. - não querer bem um ao outro) (s.) - inimizade (recíproca) (VLB, II, 12); ódio, malquerença: Ereroker-etápe îoamotare'yma? - Dormiste muitas vezes com ódio? (Ar., Cat., 101v)
îoasaba (etim. - o atravessar um com o outro) (s.) - cruz (VLB, I, 86): Eîmoîar, eîmoîar ybyrá îoasaba resé... - Prega-o, prega-o na cruz de madeira... (Ar., Cat., 59v)
îoasykûera (etim. - pedaço um do outro) (s.) - o parentesco entre irmãos, a irmandade: ...O îoasykûera ri îasûaramo i îogûerekóû. - Eles se tratam uns aos outros como semelhantes por causa de sua irmandade. (Ar., Cat., 82v)
îoatypeteka (etim. - golpe das têmporas) (s.) - bofetada (VLB, I, 56)
îobapeteka (etim. - golpe da face) (s.) - bofetada (VLB, I, 56)
îobasab (etim. - cruzar-se o rosto) (v. intr.) - benzer-se: Marã e'ipe asé oîobasapa? - Que diz a gente benzendo-se? (Bettendorff, Compêndio, 35)
îobasypaba (etim. - instrumento de se limpar o rosto) (s.) - lenço (VLB, II, 20); toalha de rosto (VLB, II, 129)
îobaypyîtaba (etim. - instrumento de se aspergir o rosto) (s.) - hissope, bola de metal oca e furada com que se fazem as aspersões de água benta nas cerimônias religiosas (VLB, II, 15)
îoepîaka'uba (etim. - desejar muito ver um ao outro) (s.) - saudades (VLB, II, 113)
îogûerekó2 (etim. - combater um ao outro) (s.) - batalha (VLB, I, 53), escaramuça, peleja (VLB, I, 123), guerra já travada (VLB, I, 152)
îogûerekoaíba (etim. - combater um ao outro não completamente) (s.) - injúria (com palavras) (VLB, II, 12)
îogûerekokatu (etim. - tratar bem um ao outro) (s.) - favor, bom tratamento (VLB, I, 135)
îogûerekomemûã (etim. - tratar mal um ao outro) (s.) - discórdia (VLB, I, 103)
îoîtyîtyk (etim. - ficar atirando um no outro) (v. intr. compl. posp.) - lutar [apenas no plural] (com alguém: compl. com esé (r, s) ou ndi]: Oroîoîtyîtyk Peró ndi (ou Peró resé). - Lutei com Pedro. (VLB, II, 25)
iperuîagûara (etim. - tubarão onça) (s.) - espécie de tubarão (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 2085-2089)
iraîtyatã (etim. - cera dura) (s.) - breu (VLB, I, 59); pez (VLB, II, 76)
iraîtyendaba (etim. - lugar de estar a cera) (s.) - castiçal (VLB, I, 68)
iraîtytataendy (etim. - cera de luz de fogo) (s.) - vela: -Mba'epe oîme'eng asé pópe? -Iraîtytataendy. -Que põe na mão da gente? -Uma vela. (Ar., Cat., 81v)
irũnamo (etim. - na condição de companheiro) (loc. posp.) - com, em companhia de: ...xe irũnamo okaîba'e... - o que arde comigo (Anch., Teatro, 8); O sy ogûerekó o irũnamo. - Tem sua mãe consigo. (Fig., Arte, 83); ...Nde irũnamo aîkó-potá. - Contigo quero estar. (Anch., Poemas, 168); Aîkó Pero irũnamo. - Moro com Pedro. (VLB, II, 41) (Faz cair o pronome i antes de si: i irũnamo → irũnamo - com ele): Irũnamo aîkó. - Estou com ele. (VLB, I, 20) (V. tb. irũmo.)
itaakangaoba (etim. - chapéu de ferro) (s.) - capacete; elmo (VLB, I, 66, 109)
itaaoba (etim. - roupa de ferro) (s.) - couraça, armadura para a defesa na guerra ● itaaoba monhangara - armeiro, fazedor de armaduras (VLB, I, 41)
itaekobé (etim. - metal vivo) (s.) - mercúrio (VLB, I, 49)
itaemboaoba (etim. - roupa de vergas de ferro) (s.) - saia de malha para a guerra; cota (VLB, I, 84)
itaesakanga (etim. - pedra luzente) (s.) - cristal (VLB, I, 86)
itaeté (etim. - ferro muito bom) (s.) - aço (VLB, I, 21)
itagûaí (etim. - aguaí de ferro) (s.) - guizo, esfera de metal com uma bolinha solta, dentro, que a faz soar (VLB, I, 68)
itagûarakapá (etim. - escudo de ferro) (s.) - escudo, broquel (VLB, I, 60)
itãgûasu (etim. - itã grande) (s.) - mexilhão d'água doce (VLB, II, 37)
itagûyrusu (etim. - fundão de pedras) (s.) - furna em penedos ou rochas (VLB, I, 145); lapa em pedras (VLB, II, 18)
itaîabebypira (etim. - pele de arraia de ferro) (s.) - lima de ferro (VLB, II, 22)
itaîara (etim. - o que domina as pedras) (s.) - espécie de peixe da família dos serranídeos, também chamado îurukapeba (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 146)
itaitinga (etim. - pedrinha branca) (s.) - jaspe, variedade de quartzo (VLB, II, 7); pedra de mármore ou semelhante (VLB, II, 69)
itaîubaíba (etim. - ouro ruim) (s.) - latão (VLB, II, 19)
itaîuberekoara (etim. - o que guarda ouro) (s.) - tesoureiro (VLB, II, 129)
itaîubeté (etim. - ouro verdadeiro) (s.) - dinheiro (VLB, I, 103)
itaîubuna (etim. - ouro escuro) (s.) - dinheiro ou moeda de cobre (VLB, I, 103)
itaîuburu (etim. - receptáculo do ouro) (s.) - bolso, lugar de se pôr dinheiro (VLB, I, 32); bolso de dinheiro (VLB, I, 57)
itaîukamusi (etim. - vaso de ouro) (s.) - cálice (da missa): Mba'epe asé oîmoeté abaré itaîukamusi rupireme?... - Que a gente honra ao erguer o padre o cálice da missa? (Ar., Cat., 87v)
itaîukûara (etim. - buraco do ouro) (s.) - mina de ouro (VLB, II, 38)
itaîunema (etim. - ouro fedorento) (s.) - cobre (VLB, I, 76)
itaîutinga (etim. - ouro branco) (s.) - 1) prata (VLB, II, 84); 2) dinheiro ou moeda de prata (VLB, I, 103)
Itaîybá (etim. - braço de pedra) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §1, 113)
itaîyka (etim. - metal duro) (s.) - 1) chumbo (VLB, I, 74); 2) estanho (VLB, I, 128): itaîy-kamusi - vaso de estanho (VLB, II, 77)
itakasaba (etim. - instrumento de quebrar pedras) (s.) - martelo, marreta (VLB, II, 32)
itakereîugûá (etim. - pedra-querejuá) (s.) - rubi ou pedra semelhante a ele (VLB, II, 109)
itaku'i (etim. - pó de pedra) (s.) - cal de pedra (VLB, I, 63); cal: itaku'i-apŷaba - forno de cal (VLB, I, 142)
itakurubi (etim. - carocinho de pedra) (s.) - pedregulho; itakurubi-tyba - ajuntamento de pedregulhos (VLB, II, 69)
itakyru'uma (etim. - lama da mó) (s.) - amolada, a água suja que fica no fundo dos coches dos rebolos de afiar navalhas, facas, etc. (VLB, I, 34)
itakyseuru (etim. - receptáculo de facas de ferro) (s.) - faqueiro (VLB, I, 134)
itakytyngokaba (etim. - instrumento de brunir metais) (s.) - rascador de barbeiro (VLB, II, 97)
itamaraká (etim. - maracá de ferro) (s.) - sino (VLB, I, 65) ● itamaraká-mirĩ - sineta de mão, sinozinho manual, campainha (VLB, I, 64)
itamarana (etim. - ferro para guerra) (s.) - acha de armas, instrumento de guerra (VLB, I, 20)
itamembeka1 (etim. - metal mole) (s.) - chumbo (VLB, I, 74)
itamembeka2 (etim. - pedra mole) (s.) - esponja, animal metazoário porífero marinho inferior sem simetria nem tubo digestivo, com numerosos poros pelos quais entra e sai a água (Sousa, Trat. Descr., 294)
itamina (etim. - pua de ferro) (s.) - lança (de ferro) (v. mina): Itamina pupé iî yké kutuki. - Com uma lança espetou seu flanco. (Ar., Cat., 64)
itãmirĩ (etim. - itã pequeno) (s.) - mexilhão d'água doce (VLB, II, 37)
itamombipikaba (etim. - instrumento de lavrar a pedra) (s.) - picão, ponta de ferro de pedreiro (VLB, II, 77)
itamonhangara (etim. - fazedor de pedras) (s.) - pedreiro (VLB, II, 69)
itanema (etim. - metal fedorento) (s.) - cobre (VLB, I, 76)
itanemarepoti (etim. - ferrugem de metal fedorento) (s.) - azinhavre, matéria verde que se forma na superfície dos objetos de cobre pela ação dos ácidos ou da umidade; verdete (VLB, I, 49)
itanha'ẽpepó (etim. - bacia de ferro com asas) (s.) - caldeira, caldeirão (VLB, II, 123)
itanha'ẽpepogûasu (etim. - grande bacia de ferro com asas) (s.) - caldeira de engenho (VLB, I, 63); tacho (VLB, II, 123)
itaoba (etim. - roupa de ferro) (s.) - couraça: itaoba i apenhugûã-nhugûanyba'e - couraça com lâminas (VLB, I, 85)
itaobagûyra (etim. - fundo da face das pedras) (s.) - lapa em pedras (VLB, II, 18); furna em penedos ou rochas (VLB, I, 145)
itaoka1 (etim. - arranca pedra) (s.) - peixe da família dos pimelodídeos. "Tem três quinas em o corpo que todo ele parece punhal.... Consiste a peçonha na pele, fígados, tripas e ossos e qualquer animal que o come logo morre." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 56)
itaoka2 (etim. - refúgio de pedra) (s.) - prisão, cadeia, presídio (VLB, I, 62)
Itaomirĩ (etim. - casinha de pedra) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 187v)
itapesyryka (etim. - pedra achatada escorregadia) (s.) - 1) laje de rio; 2) água que corre por laje de rio, escoamento sobre laje (VLB, I, 24)
itaponupãsaba (etim. - instrumento de bater pedra grossa) (s.) - martelo (VLB, II, 32)
itapûã (etim. - ferro pontudo) (s.) - âncora (VLB, I, 35)
itapûapẽ (etim. - tenazes de ferro) (s.) - tenazinhas de sobrancelhas, pinça (VLB, II, 126)
itapûé (etim. - ferro de barulho diferente) (s.) - relógio de sino (VLB, II, 100)
Itapuku (etim. - pedra comprida) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 362)
itapukusama1 (etim. - corda de ferro comprido) (s.) - corrente de ferro (VLB, I, 62); espécie de corrente, argola com corrente de ferro que prende alguém pela parte inferior da perna (VLB, I, 59; D'Abbeville, Histoire, 183v)
itapynhûã (etim. - artelho de ferro) (s.) - pega de ferro que se punha nos escravos fugitivos (VLB, II, 69)
itapysykaba (etim. - instrumento de pegar metais) (s.) - tenaz de ferreiro (VLB, II, 126)
itasama (etim. - corda de ferro) (s.) - 1) amarra (VLB, I, 34); 2) âncora (VLB, I, 35): Aîtyk itasama. - Lancei a âncora (VLB, I, 35)
itasymirĩ (etim. - enxada pequena de ferro) (s.) - sacho, instrumento agrícola que consiste em uma lâmina de ferro com cinco ou seis centímetros de largura com alvado e cabo longo de pau (VLB, II, 110)
Itaukaîa (etim. - choça de pedra) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Poesias, 262)
Itaunguá2 (etim. - almofariz de pedra) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 187)
itaurapara (etim. - tacape de ferro) (s.) - besta (de atirar, instrumento de tiro) (VLB, I, 55)
itau'usama (etim. - corda de flecha de ferro) (s.) - arpão, arpoeira, farpão para arpoar peixes (VLB, I, 41, 135)
itayby'ama (etim. - terra erguida de pedras) (s.) - rocha; rochedo (VLB, II, 107)
itayîuîa (etim. - pedra espumante) (s.) - sabão (VLB, II, 110): Itayîuîa pupé aîkytyk. - Com sabão esfreguei-o. (VLB, I, 117)
itaysyka (etim. - resina de pedra) (s.) - 1) almécega, resina dura que servia de louça para os índios e que parece vidro (VLB, I, 32); 2) árvore que produz tal resina (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42). "Os índios chamam itaysyka e os portugueses incenso branco e tem os mesmos efeitos que o incenso." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Bras., 42)
îuembo'i (etim. - vergonteazinha de espinho) (s.) - amora silvestre (VLB, I, 34)
îu'iperereka (etim. - rã saltadeira) (s.) - PERERECA, nome genérico de anfíbios anuros, de ventosas nos dedos, que vivem nas moitas e sobem às árvores, pertencentes à família dos hilídeos, com mais de oitenta espécies no Brasil (Sousa, Trat. Descr., 265)
îu'iponga (etim. - rã batedeira) (s.) - JUIPONGA, sapo-ferreiro, sapo-tanoeiro, anfíbio anuro da família dos hilídeos, que vive junto aos alagadiços e rios e trepam nas árvores. "São grandes e quando cantam parecem caldeireiros que malham nas caldeiras..., as quais se comem e são muito alvas e gostosas." (Sousa, Trat. Descr., 264)
îuká1 (etim. - quebrar o pescoço < aîura + ká) (v.tr.) - matar: Aîuká îagûara. - Matei uma onça. (Fig., Arte, 150); Aûîé, xe îuká îepé! - Basta, tu me matas! (Anch., Teatro, 76); Îaîuká memẽ aîpó 'îara... - Matemos juntos o que diz isso. (Ar., Cat., 79, 1686); Aîuká-matutenhẽ. - Matei-os muito, fiz matança. (VLB, II, 33); Aporoîuká. - Mato gente. (VLB, II, 33); Atuîuká Francisco. - Matei o pai de Francisco. (Fig., Arte, 88) ● îukasara - o que mata, o matador: o mena... îukasara... - a que mata seu marido (Ar., Cat., 279); ...Îandé 'anga îukasara. - Matador de nossa alma. (Anch., Poemas, 90); i îukapyra - o morto, o que é (ou deve ser) morto: Mboîa i îukapyra. - A que é morta é a cobra. (Fig., Arte, 8); i îukapyre'ymaûama - coisa que não há de ser morta, digna de se não matar (Fig., Arte, 32); emiîuká (t) - o que alguém mata: Ereîápe so'o... îagûara remiîukapûera? - Tomaste o animal que a onça matou? (Ar., Cat., 107v); îukába (ou îukasaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de matar (Anch., Arte, 19)
îuká2 (etim. - quebrar o pescoço) (v.tr.) - quebrar: Nde akanga îuká aîpotá korine. - Tua cabeça quererei quebrar hoje. (Staden, Viagem, 156)
îukaíb (etim. - matar não completamente) (v.tr.) - forçar, violentar: Ereîukaípe mendare'yma i momoxy îanondé...? - Violentaste uma solteira antes de lhe fazer mal? (Ar., Cat., 103v); Nde nhe'ẽ-poroîukaípe abá supé? - Tu tiveste para alguém palavras que violentam? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
îukatu (etim. - estar bem deitado) (v. intr.) - estar tranquilo (VLB, I, 38); estar bonançoso (falando-se do mar) (VLB, I, 18); amainar (p.ex., a fúria), acalmar-se, serenar, tranquilizar-se: Aîukatu. - Acalmei-me. (VLB, I, 33)
îukeriomanõ (etim. - juqueri da folha morta) (s.) - sensitiva ou dormideira, variedade de erva leguminosa (Caesalpinia bonduc (L.) Roxb.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 64)
îukyrakokara (etim. - o que arranca o amargor do sal) (s.) - fazedor de sal (VLB, II, 112)
îukyrana (etim. - falso sal) (s.) - salitre (VLB, II, 112)
îukyruru (etim. - recipiente de sal) (s.) - saleiro (VLB, II, 112)
îukyry (etim. - água de sal) (s.) - JUQUIRAÍ, salmoura, molho, nome com que os índios chamavam um tempero formado pela junção de sal e pimenta cuiém seca e pisada, usado para carnes e peixes (D'Abbeville, Histoire, 306v)
îukytaîa (etim. - sal ardido) (s.) - 1) JIQUITAIA, pimenta reduzida a pó misturada com sal, que os índios socavam conjuntamente, com que temperavam a comida; sal-pimenta (VLB, II, 112); 2) molho de pimenta; molho ou caldo picante (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39)
îupabok (etim. - retirar-se o leito) (v. intr.) - partir-se, partir (o viajante): Aîupabok. - Parti. (VLB, II, 66)
îupaty2 (etim. - pati de espinhos) (s.) - JUPATI, espécie de palmeira da subfamília das lepidocarináceas (Sousa, Trat. Descr., 256)
i'upyra (etim. - o que é ingerido) (s.) - mantimento, comida (VLB, II, 31)
îurapupîara (etim. - os que estão dentro do jirau) (s.) - JURAPUPIARA, JURAPUPIÁ, nome de antigo grupo indígena do norte do Brasil (D'Abbeville, Histoire, 189)
îurar (etim. - tomar o pescoço) (v.tr.) - laçar, tomar com laço: Aîpukuîurar. - Lacei a perna dele. (VLB, I, 41)
îurarapeba (etim. - jurará achatado) (s.) - espécie de tartaruga, coberta de "um casco pardo pelas bordas, de meio palmo de comprido, e há a cabeça e os pés e pescoço pintado de pardo e amarelo e verde e vermelho" (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 174v)
îuraybaté (etim. - jirau elevado) (s.) - varanda; balcão (VLB, II, 141)
îura'ynha (etim. - caroços da garganta) (s.) - amigdalite; ínguas na garganta ou pescoço (VLB, I, 148; II, 12)
îuraytá (etim. - esteio de jirau) (s.) - tirante de casa; viga, travões (de telhado de casa) (VLB, II, 128; Léry, Histoire, 359)
Îuraytaûasu (etim. - grandes esteios de jirau) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
îuruapẽ (etim. - boca torta) (s.) - boquitorto (Anch., Arte, 32v)
îurubyra (etim. - parte inferior da boca) (s.) - papo; papada (Castilho, Nomes, 32)
îurubytypoîa (etim. - tipóia do papo) (s.) - barbas do galo (VLB, I, 51)
îuruîaba (etim. - abertura de boca) (s.) - fenda, abertura (VLB, I, 18)
îurumopyko'ẽ (etim. - concavidades dos cantos da boca) (s.) - covas do rosto (Castilho, Nomes, 32)
îurupara1 (etim. - boca torta) (s.) - arco: Ké turi, arupare'aka îurupara ndi seru. - Para cá vem, trazendo farpas junto com o arco. (Anch., Teatro, 132); Kobé xe îurupara... - Eis aqui meu arco. (Anch., Teatro, 162)
Îurupari (etim. - boca torta) (s. antrop.) - JURUPARI, 1) nome de uma entidade sobrenatural, na mitologia dos primitivos índios tupis da costa do Brasil: Eresykyîpe Anhanga, Tagûaíba, Kurupira, Îurupari koîpó te'õ abá supé? - Invocaste o Anhanga, o Taguaíba, o Curupira, o Jurupari ou a morte para alguém? (Ar., Cat., 102v); 2) o diabo cristão: Eîpe'a îurupari kó 'ara suí... - Afasta o jurupari deste mundo... (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); Kûesenhe'ym oroîkó îurupari ra'yramo... - Antigamente estávamos como filhos do diabo. (D'Abbeville, Histoire, 341v-342)
îurupopy (etim. - ponta da boca) (s.) - os cantos da boca (Castilho, Nomes, 33)
iurupukĩ (etim. - boca arrombada, sem mais) (s.) pasmo; (adj.) - pasmado, embasbacado, boquiaberto: I îurupukĩ ahẽ oîkóbo. - Ele está boquiaberto. (VLB, I, 111)
îurupupîara (etim. - o que está dentro da boca) (s.) - freio (de cavalo) (VLB, I, 143)
îurupyke'yma (etim. - o que não cessa a boca) (s.) - comilão (VLB, I, 146)
îurupyter (etim. - chupar a boca) (v.tr.) - beijar: Aîurupyter. - Beijo-o. (D'Evreux, Viagem, 158)
îurutimbora (etim. - fumaça da boca) (s.) - fôlego, hálito (VLB, I, 141); bafo (VLB, I, 50)
îuruûaîa (etim. - papagaio de cauda) (s.) - ave psitacídea de plumagem verde, manchada de negro, ventre multicor (D'Abbeville, Histoire, 234v)
îutypoîa (etim. - tipóia do pescoço) (s.) - papo (de boi), pele excrescente dele (VLB, II, 64)
îyapara (etim. - ferramenta torta) (s.) - foice: N'ererupe îyapara? - Não trouxeste foices? (Léry, Histoire, 345)
îybagûyra (etim. - parte inferior do braço) (s.) - sovaco, axilas (Castilho, Nomes, 32) ● îybagûyraba - pêlos das axilas (Castilho, Nomes, 32)
îybakanga (etim. - osso do braço) (s.) - canas do braço, o rádio e o cúbito (Castilho, Nomes, 32)
îybapekanga (etim. - osso da superfície do braço) (s.) - espádua, ombro, omoplata (Castilho, Nomes, 32)
îybatupoîa (etim. - tipóia do braço) (s.) - bucho do braço, parte do braço desde o cotovelo até o ombro (Castilho, Nomes, 32)
îybaypy (etim. - base do braço) (s.) - raiz do braço, o braço desde o cotovelo até o ombro; o ponto em que ele se une ao ombro (Castilho, Nomes, 45)
îyboîa (etim. - cobra do arco-íris < îy'yba + mboîa) (s.) - JIBOIA, nome comum a serpentes encontradas em todo o Brasil e não venenosas, da família dos boídeos, dentre as quais destaca-se a espécie Boa constrictor L. Seu habitat são as florestas e os campos. São arborícolas e carnívoras. Há relatos de jiboias que engoliram animais inteiros, após triturá-los. (D'Abbeville, Histoire, 253v; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 31): Xe îyboîa, xe sokó, xe tamuîusu Aîmbiré... - Eu sou uma jibóia, eu sou um socó, eu sou o grande tamoio Aimbirê. (Anch., Teatro, 28)
îyboîusu (etim. - jibóia grande) (s.) - JIBOIAÇU, espécie de cobra jibóia grande de rio (VLB, I, 107; Gândavo, Trat. Prov. Bras., 1238-1254; Monteiro, Rel. da Prov. do Brasil, in Leite, Hist., VIII, 422)
îykûara (etim. - ferramenta de buraco) (s.) - machado (VLB, II, 27)
îymonhangaba (etim. - instrumento de fazer ferramentas) (s.) - forja de ferreiro (VLB, I, 142)
îymonhangara (etim. - fazedor de ferramentas) (s.) - ferreiro (VLB, I, 138)
îynambikûara (etim. - ferramenta de buraco de orelha - v. nota em îykûara) (s.) - var. de machado (VLB, II, 27)
îyoby (etim. - ferramenta verde) (s.) - cunha de pedra usada principalmente antes da conquista portuguesa (VLB, I, 87)
îypytym (etim. - fazer engasgar a ferramenta) (v. intr.) - lavrar com sacho, cavando a terra para afofá-la (VLB, II, 110)
îy'yba (etim. - cabo de ferramenta) (s.) - arco-íris (VLB, I, 40)
ka'aakanga (etim. - folha-de-cabeça) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 226)
ka'aaxyma (etim. - folha lisa) (s.) - var. de mandioca (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §75, 149-150)
ka'ab (etim. - abrir a mata) (v. intr.) - defecar: Aka'ab. - Defequei. (VLB, I, 62)
ka'abondûara (etim. - o que está pelas matas) (s.) - caçador (VLB, I, 62): Ka'abondûarûera k'aîut. - Venho da caça (lit., caçador eis que venho). (D'Evreux, Viagem, 144)
ka'ae'õ (etim. - folha desmaiada, folha morta) (s.) - dormideira, sensitiva ou juqueri, variedade de leguminosa-mimosoídea (Mimosa pudica L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 73) "...Tocadas pela mão,... contraem as folhas, que logo depois, porém, se reabrem." (Piso, De Med. Bras., 202). O mesmo que îukeri (v.).
ka'aeté1 (etim. - folha muito boa) (s.) - CAITÉ, designação de várias plantas da família das marantáceas e das canáceas. "Servem estas folhas aos índios para fazerem delas uns vasos em que metem a farinha;... ainda que chova muito, não lhe entra água dentro." (Sousa, Trat. Descr., 225)
ka'aeté2 (etim. - mata verdadeira) (s.) - CAETÊ, mata virgem ou que nunca foi roçada (VLB, II, 33)
ka'aeté3 (etim. - mata verdadeira) (s. etnôn.) - CAETÉ, nome de antiga nação indígena da costa (Cardim, Trat. Terra e Gente do Bras., 122)
ka'agûasu'yba (etim. - pé de erva grande) (s.) - CAAGUAÇU, CAA-AÇU, planta ornamental, cultivada, da família das eriocauláceas (Eriocaulon sellowianum Kunth), com folhas lanceoladas e flores brancacentas em capítulos globosos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 97)
ka'aîandy'ûaba (etim. - folha em que se come óleo) - o mesmo que ka'apomonga (v.) (Piso, De Med. Bras., 197)
ka'aîara1 (etim. - o que domina a mata) (s.) - louva-a-deus, inseto da família dos mantídeos, com centenas de espécies (VLB, II, 24)
Ka'aîara2 (etim. - o que domina a mata) (s. antrop.) - espírito que incomodava os índios em suas atividades (Léry, Histoire, 360)
ka'a'îyîuîa (etim. - folhinha de espuma) (s.) - variedade de planta melastomácea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 59)
ka'amombyrõ (etim. - revolver a mata) (v. intr.) - caçar (sem cães), cercando e correndo o mato com muita gente (VLB, I, 62; II, 41)
ka'amondó (etim. - fazer ir a mata) (v. intr.) - caçar, fazer caçada, ir à caça: Aka'amondó. - Caço. (VLB, I, 62; II, 41); Aka'amondó-mo'ang. - Fui à caça sem proveito. (Fig., Arte, 143) ● ka'amondoara - o que caça, caçador (VLB, II, 41)
ka'anupã (etim. - ferir a mata) (v. intr.) - roçar: Aka'anupã. - Rocei. (VLB, II, 107)
ka'apeba (etim. - erva achatada) (s.) - CAAPEBA ou CAPEBA, nome comum a plantas trepadeiras da família das menispermáceas, segundo a Flora de Martius, entre as quais, no Rio de Janeiro, a Abuta rufescens Aubl., a Chondrodendron platiphyllum (A. St.-Hil.) Miers e a Cissampelos pareira L.; 2) Designa também plantas da família das piperáceas, dentre as quais a espécie Piper arboreum Aubl., arbusto de raiz amarga e medicinal, também chamada pari-paroba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 25; Piso, De Med. Bras., III, 172; Sousa, Trat. Descr., 210)
ka'api'a (etim. - folha-testículo) (s.) - CAPIÁ, CAAPIÁ, CAIAPIÁ, CAPIÁ, nome comum a várias espécies de plantas moráceas do gênero Dorstenia; ervas que têm "flores brancas... das quais se faz tinta amarela como açafrão muito fino, do que usam os índios no seu modo de tintas". (Sousa, Trat. Descr., 209; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 228). São também chamadas CARAPIÁ e contraerva, por causa da suposição de sua eficácia no tratamento do envenenamento ofídico. Sua raiz nodosa, moída e tomada com água, serve de antídoto para venenos. (Piso, De Med. Bras., III, 171; Sousa, Trat. Descr., 209; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 52)
ka'apîasó (etim. - ir ao mato) (v. intr.) - defecar, ir defecar: Aka'apîasó. - Defequei (ou fui defecar). (VLB, I, 62)
ka'apîasoaba (etim. - lugar de defecar) (s.) - latrina (VLB, II, 19); vaso sanitário (VLB, I, 50)
ka'apomonga (etim. - folha viscosa) (s.) - 1) CAAPOMONGA, trepadeira ornamental da família das plumbagináceas (Plumbago scandens L.), também chamada erva-do-diabo, folhas-de-louco (devido às aplicações locais que se faziam desta planta na nuca dos alienados mentais), jasmim-azul, louco e erva-divina. Era chamada, no século XVII, visgueira ou erva-do-amor, por grudar nas mãos e nas roupas devido a sua viscosidade. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 28; Piso, De Med. Bras., IV, 197)
ka'apotyragûá (etim. - planta de flor inchada) (s.) - nome de uma planta rubiácea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 8)
kaapûã (etim. - vespa pontuda) (s.) - var. de vespa (v. kabapuã) (Sousa, Trat. Descr., 240)
ka'apûanama (etim. - ajuntamento de mata) (s.) - moita ou ponta de mato muito vastas (VLB, II, 43)
ka'aromosorandyba (etim. - maçaranduba da folha amarga) (s.) - MAÇARANDUBA, nome comum a duas árvores da família das sapotáceas, a Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach., do Leste (ou MAÇARANDUBEIRA) e a Manilkara huberi (Ducke) Chevalieri, do Norte (ou MAÇARANDUBA-DO-PARÁ) (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42)
ka'asaba (etim. - passagem de mata) (s.) - vereda na mata: Ereîkópe kunhã amõ resé i ka'asaba rupi nhẽ nde sugûaraîyramo? - Tiveste relações sexuais com alguma mulher através das suas veredas na mata, como tua prostituta? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
ka'ataîa (etim. - folha ardida) (s.) - 1) mostarda (VLB, II, 43); 2) planta escrofulariácea do gênero Lindernia, conhecida pelos nomes vulgares de mata-cana e orelha-de-rato (Piso, De Med. Bras., 199; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 219)
ka'atinga (etim. - mata clara) (s.) - CAATINGA, mato raso e cerrado, tipo de vegetação xerófita característica do semi-árido nordestino e norte de Minas Gerais (VLB, II, 133; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
ka'atymã'i (etim. - folha de perninha) (s.) - variedade de erva (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 26)
ka'ayapûana (etim. - folha cheirosa) (s.) hortelã, planta rasteira da família das labiadas, principalmente as do gêneros Mentha e Peltodon (VLB, I, 153; II, 59)
kabaoîuba (etim. - vespa da roupa amarela) (s.) - inseto himenóptero da família dos vespídeos, de espécie indeterminada.... "São amarelas e criam nas tocas das árvores e são mais cruéis que todas..." (Sousa, Trat. Descr., 240)
kabatã (etim. - caba valente) (s.) - CABATÃ, inseto himenóptero da família dos vespídeos. "...Fazem seu ninho no ar, dependurado por um fio, que desce da ponta de um raminho;... mordem cruelmente..." (Sousa, Trat. Descr., 240)
kabesapysoe'yma (etim. - caba cega) (s.) - CABA-CEGA, inseto himenóptero da família dos vespídeos, que não voa durante o dia (VLB, I, 55)
kabobaîuba (etim. - vespa de cara amarela) (s.) - var. de CABA, de vespa, inseto himenóptero da família dos vespídeos (VLB, I, 55)
kabu'ĩ'yba (etim. - pé de cabuim) (s.) - CABUIM, pau-amarelo, árvore grande e alta, talvez uma aroeira, da família das anacardiáceas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 137)
kabureûasu (etim. - caburé grande) (s.) - ave do tamanho de uma águia, de corpo pardo e asas pretas. "...Criam em montes altos, onde fazem seus ninhos." (Sousa, Trat. Descr., 226)
kabure'yba (etim. - planta do caburé) (s.) - CABREÚVA, nome de duas espécies de árvores da família das leguminosas-mimosoídeas, do gênero Myrocarpus, o Myrocarpus frondosus Allemão e o Myrocarpus fastigiatus Allemão, da mata atlântica, de madeira, pardo-escura com tons avermelhados, cheirosa, pesada e resistente. Os portugueses do século XVI chamavam-na bálsamo. Serve muito para tratar feridas, além de ter ótimo odor. Também é conhecida como CABRIÚVA, CABURAÍBA, CABRIÚVA-PARDA, CABRUÉ, CABUREÍBA, ÓLEO-CABUREÍBA, óleo-pardo, pau-bálsamo. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 41) ● kabure'ybysyka (ou kabureysyka) - resina de cabreúva, de propriedades medicinais, balsâmicas (VLB, I, 51; II, 55; Piso, De Med. Bras., IV, 179)
kagûaba (etim. - lugar de beber cauim) (s.) - taça; copo (VLB, II, 123)
kagûaburu (etim. - vasilha em que se bebe cauim) (s.) - taça, copo (VLB, II, 123)
kagûera (etim. - gordura que foi) (s.) - gordura (fora da carne, de carne cortada ou prestes a ser comida, de caldo, etc.) (VLB, I, 149); banha (VLB, I, 51); (adj.: kagûer) - gorduroso, que tem gordura: Aîkyty-kytyk mba'e-kagûera pupé. - Fiquei-o esfregando com coisa gordurosa. (VLB, I, 117)
ka'ianhanga (etim. - macaco diabo) (s.) - var. de bugio muito grande, de hábitos noturnos. "O gentio tem agouro neles e como os ouvem gritar dizem que há de morrer algum." (Sousa, Trat. Descr., 254)
ka'iapi'a (etim. - testículos de macaco caí) (s.) - CAIAPIÁ, CARAPIÁ, CAPIÁ, nome comum a diversas plantas da família das moráceas, do gênero Dorstenia, ervas tenras e leitosas (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 48)
kaîarana (etim. - falso cajá) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 124)
Kaîa'yba (etim. - pé de cajá) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
ka'igûasu (etim. - caí grande) (s.) - var. de macaco CAÍ (VLB, I, 56)
ka'imirĩ (etim. - caí pequeno) (s.) - var. de macaco CAÍ, conhecido como mico-de-cheiro, pertencente ao gênero Saimiri. (D'Abbeville, Histoire, 252v)
Ka'ioby (etim. - caí verde) (s. antrop.) - CAIOBI, nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica, I, §158, 256)
ka'itaîa (etim. - caí rabudo) (s.) - espécie de macaco da família dos cebídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 227)
ka'i'ûara (etim. - comedores de caís) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
Ka'iûasu (etim. - grande macaco caí) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 186v)
kaîue'ẽ (etim. - caju doce) (s.) - árvore "semelhante à ameixeira, com flores brancas e um fruto arroxeado com um caroço pequeno dentro" (D'Abbeville, Histoire, 224)
kaîu'i (etim. - cajuzinho) (s.) - uma das espécies de caju (v. akaîu'i) (Sousa, Trat. Descr., 188)
ka'iúna (etim. - caí preto) (s.) - var. de macaco CAÍ (D'Abbeville, Histoire, 252v)
kaîupeba (etim. - caju achatado) (s.) - uma das espécies de CAJUEIRO-BRAVO, planta da família das dileniáceas (Curatella americana, L.) (Sousa, Trat. Descr., 220)
kamaraapena (etim. - camará torto) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 176)
kamaraîuba (etim. - camará amarelo) (s.) - CAMARÁ-DE-ESPINHO (Lantana camara L.), planta verbenácea (Piso, De Med. Bras., IV, 197)
kamarambaîa (etim. - camará de pingentes) (s.) - CAMARAMBAIA, planta da família das onagráceas (Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H. Raven) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 30)
kamaramirĩ (etim. - camará pequeno) (s.) - CAMARÁ-MIRIM, variedade de kamará (v.) (Piso, De Med. Bras., IV, 191)
kamaratinga (etim. - camará branco) (s.) - CAMARATINGA, CAMARÁ-BRANCO, planta verbenácea, Lantana brasiliensis Link. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 5)
kamaraûasu (etim. - camará grande) (s.) - CAMARÁ-AÇU, planta da família das aristoloquiáceas (Aristolochia brasiliensis) (Brandão, Diálogos, 212; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 236)
kamaraúna (etim. - camará escuro) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 175)
kamaripugûasu (etim. - camurupim grande) (s.) - peixe da família dos megalopídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 179)
kamasary (etim. - líquido dos olhos dos seios) (s.) - CAMAÇARI, 1) espécie de árvore combretácea (Terminalia fagifolia Mart.); 2) espécie de árvore clusiácea (Caraipa densiflora Mart.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 102). "Cria-se entre a casca e o âmago desta árvore uma matéria grossa e alva, que pega como terebintina... e, se toca nas mãos, não se tira senão com azeite." (Sousa, Trat. Descr., 215)
kambeba (etim. - seio achatado) (s.) - fêmea estéril (VLB, II, 31)
kamburiûasu (etim. - camuri grande) (s.) - peixe de mar da família dos centropomídeos (D'Abbeville, Histoire, 244v)
kamby (etim. - líquido dos seios) (s.) - leite (Castilho, Nomes, 31)
kambyamĩ (etim. - espremer leite) (v.tr.) - tirar leite de, ordenhar (a vaca): Aîkambyamĩ. - Ordenhei-a. (VLB, II, 58)
kambyk (etim. - apertar os seios) (v.tr.) - espremer (p.ex., com prensa, com a mão, etc.) (VLB, I, 127)
kambykaba (etim. - instrumento de espremer) (s.) - prensa de espremer, espremedor: u'ubae'ẽ kambykaba - prensa de espremer cana-de-açúcar (VLB, II, 85)
kamby'ok (etim. - tirar leite) (v.tr.) - ordenhar (p.ex., a vaca) (VLB, II, 58)
kamurupyûasu (etim. - camurupi grande) (s.) - CAMURUPIAÇU, var. de peixe: -Setápe pirá seba'e? -Nã: kurimã, parati, ...kamurupyûasu. -São muitos os peixes que são gostosos? -Ei-los: curimã, parati, ...camurupiaçu. (Léry, Histoire, 348-349)
kamusiaîura (etim. - jarro de garganta) (s.) - cântaro (VLB, I, 66)
kamusuîara (etim. - o que porta grandes seios) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena do sertão. O nome se deve à crença de que esses índios portavam grandes seios (kama + -usu + îara): "Estes têm mamas que lhes dão por baixo da cinta e perto dos joelhos e, quando correm, cingem-nas na cinta." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
kangûera1 (etim. - ossos que foram) (s.) - esqueleto (Castilho, Nomes, 31); ossada; espinha: pirá-kangûera - espinhas de peixe; mba'e-kangûera - ossada (de animal) (VLB, II, 59); (adj.: kangûer) - esquelético, muito magro, descarnado, posto nos ossos: Xe kangûer. - Eu estou esquelético. (VLB, II, 28)
kangûera2 (etim. - osso que foi) (s.) - instrumento para fumar ou beber fumo; espécie de cigarro grande; "canudo que se faz de uma folha de palma seca e tem três ou quatro folhas secas de erva-santa, que os índios chamam petume" (Sousa, Trat. Descr., 317)
kangûera3 (etim. - osso que foi) (s.) - CANGOEIRA, CANGUEIRA, instrumento musical feito de ossos de pessoas mortas (Vasconcelos, Crônica [Not.], §143, 107)
kãngyra (etim. - osso tenro) (s.) - cartilagem; pontas dos ossos tenros (VLB, II, 126)
kanûaûasu1 (etim. - grande resplendor de cores) (s.) - variedade de tintura (D'Abbeville, Histoire, 184v)
Kanûaûasu2 (etim. - grande resplendor de cores) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
kaopyá (etim. - planta de parede) (s.) - nome comum a plantas gutiferáceas do gênero Vismia, principalmente a Vismia guianensis (Aubl.) Pers., também chamada lacre, pau-de-lacre e árvore-da-febre (Piso, De Med. Bras., IV, 181)
kapara (etim. - folha torta) (s.) - planta de folhas largas, usadas para cobrir casas (Sousa, Trat. Descr., 225)
kapi'i (etim. - erva fina < ka'a + po'i) (s.) - 1) erva qualquer; feno, CAPIM (VLB, I, 137): ...Kapi'i anhẽ rerupa. - Deitando às pressas o capim. (Anch., Poemas, 130); Kapi'i sosé kó tuî... - Eis que sobre o capim ele está deitado. (Anch., Poemas, 164); 2) palha (VLB, II, 62) ● kapi'i-tyba (ou kapi'i-tybusu) - CAPINZAL, erval, ervaçal (VLB, I, 121)
kapi'ĩpururuka (etim. - capim que fica estalando) (s.) - var. de junco, nome comum a numerosas plantas herbáceas das famílias das ciperáceas e juncáceas (VLB, II, 16)
kapi'iûara (etim. - comedor de capim) - o mesmo que kapibara (v.) (Anch., Cartas, 122; Knivet, The Adm. Adv., 1242)
kapir (etim. - aparar mato) - 1) (v. intr.) - CARPIR, roçar, mondar as plantas; limpar as ervas, tirando-as: Akapir. - Carpi. (VLB, II, 41); 2) (v.tr.) CARPIR, mondar: Aîkapir. - Carpi-as. (VLB, II, 41) ● kapisaba - tempo, lugar, modo, etc. de mondar, de carpir; monda, ato de mondar ou carpir as plantas (VLB, II, 41)
kapŷaba (etim. - lugar da queimada da mata < ka'a + apy + -ab +a) (s.) - CAPUAVA, casa na roça, quinta (VLB, I, 68); herdade onde há casa (VLB, I, 121; Anch., Arte, 6v), propriedade rural, incluindo a sede, a área de plantação e o pasto: kapŷápe tekoara - residente na capuava (VLB, II, 102)
karagûatá-akanga (etim. - caraguatá de cabeça) (s.) - certa espécie de CARAGUATÁ, uma bromeliácea do gênero Bromelia (Piso, De Med. Bras., IV, 199-200)
karaguatagûasu (etim. - caraguatá grande) (s.) - CARAGUATÁ-AÇU, 1) planta herbácea da família das bromeliáceas, do gênero Bromelia (Bromelia karatas L.), de cujas folhas se extrai fibra para cordoaria, tapetes, etc. É também chamada CARAGUATÁ-PITEIRA, CARUATÁ-AÇU, CURUATÁ-AÇU, GRAVATÁ-AÇU. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 87); 2) nome comum a plantas da família das agaváceas, do gênero Furcraea. Destas, a nativa do Brasil é a Furcraea foetida (L.) Haw, chamada vulgarmente PITA-GRAGOATÁ, piteira-de-terra, etc. (Piso, De Med. Bras., IV, 199-200). Serviam-se os índios de sua madeira para acender o fogo. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273)
karagûataîara (etim. - os que portam caraguatás) (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
karaibebé (etim. - caraíba voador) (s.) - anjo; anjo da guarda, serafim: -Karaibebé serã, kó taba rarõaneté. - Talvez seja o anjo, guardião verdadeiro desta aldeia. (Anch., Teatro, 26); Pe îabi'õ Pa'i Tupã karaibebé moingóû. - De cada um de vós o Senhor Deus encarregou um anjo. (Anch., Teatro, 50); Nd'ouripe karaibebé amõ ybaka suí...? - Não vieram alguns anjos do céu? (Ar., Cat., 53v)
karaibeté (etim. - cristão normal) (s.) - leigo (VLB, II, 20)
kara'inambi (etim. - carazinho de orelha) (s.) - espécie de CARÁ, planta dioscoreácea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 52)
karamemûãmirĩ (etim. - arca pequena) (s.) - cofre (VLB, I, 76)
karamurupinima (etim. - caramuru pintado) (s.) - var. de enguia, peixe murenídeo (Libri Princ., vol. II, 55)
karaobamirĩ (etim. - cará da folha pequena) (s.) - CAROBA-MIRIM, variedade de CAROBA, planta da família das bignoniáceas, de tamanho diminuto, provavelmente do gênero Jacaranda. "É uma árvore como pessegueiro, mas tem a madeira muito seca e a folha miúda." (Sousa, Trat. Descr., 203)
karaobusu (etim. - caroba grande) (s.) - CAROBAGUAÇU, palissandra, variedade de CAROBA, árvore da família das bignoniáceas (Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don ou Jacaranda mimosaefolia D. Don) (Sousa, Trat. Descr., 203)
karapeba (etim. - cará achatado) (s.) - CARAPEBA, ACARAPEBA, peixe da família dos gerrídeos (Sousa, Trat. Descr., 285)
karapytanga (etim. - cará avermelhado) (s.) - CARAPITANGA, peixe da família dos lutjanídeos, também conhecido como ACARAPITANGA e CARAPUTANGA (Sousa, Trat. Descr., 280)
Karaûatá'ûara (etim. - comedor de gravatás) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Staden, Viagem, 74; D'Abbeville, Histoire, 184v)
karaúna (etim. - cará escuro) (s.) - CARAÚNA, peixe da família dos serranídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 147)
karipiratyatinga (etim. - caripirá da nuca branca) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 110)
karûaba1 (etim. - lugar de comer) (s.) - nome genérico para as cuias, cuipebas, cuiabas, etc., em que os antigos índios da costa do Brasil costumavam comer (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272)
karûaba2 (etim. - lugar de comer) (s.) - mesa (em que se come) (VLB, II, 36)
karûatapyranga (etim. - caraguatá vermelho) (s.) - cardo vermelho, variedade de karagûatá (v.) (D'Evreux, Viagem, 276)
karugûasu (etim. - grande repasto) (s.) - banquete (VLB, I, 81)
karukasy (etim. - dor da tarde) (s.) - saudade; tristeza, melancolia; (adj.) - saudoso, triste, melancólico; (xe) ter saudades: Xe karukasy (abá) resé. - Eu tenho saudades de alguém. (VLB, II, 113, adapt.); Xe karukasy. - Eu estou triste. (Léry, Histoire, 367); ...Nd'e'i te'e oîoepîaka'upa, o karukasyramo. - Por isso mesmo, tendo saudades um do outro, ficam tristes. (Ar., Cat., 156)
karukypy (etim. - começo do entardecer) (s.) - boca da noite (VLB, II, 50)
kasaba1 (etim. - instrumento de quebrar) (s.) - cunha de fender: îepe'a-kasaba - cunha de fender lenha (VLB, I, 87)
kasunununga (etim. - vespa que fica zunindo) (s.) - CAÇUNUNGA, var. de vespa social da família dos vespídeos (VLB, I, 55)
katinga (etim. - nhaca enjoativa < aby'aka + ting-a) (s.) - mau cheiro, CATINGA, fedor, cheiro desagradável, nauseabundo; (adj.: kating) - fedorento, CATINGUENTO, CATINGOSO; (xe) ter CATINGA, CATINGAR: Xe kating. - Eu tenho fedor; eu catingo. (VLB, I, 73)
katu'ok (etim. - tirar o bom) (v.tr.) - selecionar, tirar o que é bom, escolher (p.ex. o feijão, tirando-se a parte boa da ruim): Aîkatu'ok. - Selecionei-o. (VLB, I, 37)
kaûĩ'a (etim. - fruta de vinho) (s.) - uva (VLB, II, 140)
Kaûĩagûé (etim. - a metade do cauim) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 186v)
kaûĩaîa1 (etim. - cauim azedo) (s.) - vinho (de uvas) (VLB, II, 146): Kaûĩaîa 'useîa é, opakatu amboapy. - Querendo beber vinho, tudo esgotei. (Anch., Teatro, 46)
kaûĩaîasy (etim. - cauim azedo e ruim) (s.) - vinagre: Mba'e-py'aûpîara kaûĩaîasy resé i monani... - Uma coisa amarga com vinagre misturaram. (Ar., Cat., 63v)
kaûĩe'ẽ (etim. - cauim doce) (s.) - mosto, sumo de uva (VLB, II, 43)
kaûĩeté (etim. - cauim verdadeiro) (s.) - 1) o mesmo que kaûĩ (v.) (Anch., Cartas, 459); 2) vinho de uvas (VLB, II, 146)
kaûĩpysasu (etim. - cauim novo) (s.) - mosto, sumo de uva (VLB, II, 43)
kaûĩtatá (etim. - cauim-fogo) (s.) - aguardente: ...Gûy! I katu-tekatunhẽ kaûĩtatá. - Oh! É muito bom o aguardente! (D'Evreux, Viagem, 364)
kaûĩ'yba (etim. - planta de vinho) (s.) - videira, parreira (VLB, II, 66)
kaûĩymûana (etim. - cauim velho) (s.) - vinho de uvas (VLB, II, 146)
Kaûmondá (etim. - ladrão de cauim) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 130, 2006)
kerarõ (etim. - guardar o sono) (v. intr.) - velar (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277)
kerupaba (etim. - lugar de estar deitado para dormir) (s.) - dormitório (VLB, I, 106)
kesaba1 (etim. - lugar de dormir) (s.) - cama; rede de dormir: Eîotĩ nde kesaba xe porupi. - Amarra tua rede de dormir ao lado de mim. (Anch., Arte, 44)
kesaba2 (etim. - lugar de dormir) (s.) - poleiro: gûyrá-kesaba - poleiro de aves (VLB, II, 80)
kesapeba (etim. - lugar de dormir achatado) (s.) - cama de dormir (VLB, I, 64)
ko'arapukuî (etim. - durante este mundo; durante este dia) (adv.) - 1) sempre, perpetuamente, enquanto o mundo durar: N'osa'angi-te-p'akó nhembo'e ko'arapukuî? - Mas não tentam esses aprender sempre? (Anch., Teatro, 30); Apŷaba, gûaîbĩ, kunhãne, ko'arapukuî xe rembiá... - Homens, velhas, mulheres sempre serão minhas presas. (Anch., Teatro, 92); 2) o dia todo: -Abá bépe n'oîabyî oîekuakube'yma? -Ko'arapukuî morabykŷara... -Quem mais não o transgride, não jejuando? -Os que trabalham o dia todo. (Ar., Cat., 77v); 3) cotidianamente (VLB, II, 94) ● ko'arapukuîndûara - coisa cotidiana, o que é de cada dia (VLB, II, 94)
ko'emytanga (etim. - avermelhamento da manhã) (s.) - aurora (VLB, I, 33); luz da manhã (VLB, II, 25): Our ko'emytanga. - Veio a aurora. (VLB, I, 123)
kokaba (etim. - lugar de encostar-se) (s.) - 1) encosto (VLB, I, 115); escora (VLB, I, 123); 2) tranca: okena kokaba - tranca da porta (VLB, II, 135)
komandagûyra (etim. - comandá inferior) (s.) - variedade de planta leguminosa, feijão (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 62)
komanda'ĩ (etim. - comandazinho) (s.) - feijão (Fig., Arte, 140; VLB, I, 136)
komandamirĩ (etim. - comandá pequeno) (s.) - o grão de feijão; feijão (D'Abbeville, Histoire, 229): -Ma'epe ereîpotar? -Îetyka, komandaûasu, komandamirĩ... -Que queres? -Batata-doce, favas, feijões. (Léry, Histoire, 347)
kopa'ymbuka (etim. - copaíba de fenda, copaíba de furo) (s.) - gameleira, espécie de árvore morácea (Ficus gomelleira Kunth), de madeira mole, de raízes tabulares. "Estas árvores têm umas raízes sobre a terra feitas por tal artifício que parecem tábuas postas ali a mão, as quais lhe cortam ao machado, de que se tiram tabuões, de que se fazem gamelas de cinco, seis palmos de largo... de onde se fazem também muitas rodelas..." (Sousa, Trat. Descr., 219)
kopiara (etim. - caminho da roça) (s.) - COPIAR, alpendre, varanda contígua à casa, formada pelo prolongamento da cobertura, passagem para o exterior (Bettendorff [1698], Crôn. do Maranhão, in RIH, LXXII, [1909], 488)
kopir (etim. - mondar a roça) (v. intr.) - lavrar a terra, fazer lavoura, fazer roça; CARPIR, roçar: Akopir. - Faço roça. (VLB, II, 19) ● kopirara - carpidor, roçador: Kopirarûera ké aîur. - Venho aqui depois de ter roçado (lit., Aqui venho, o que foi roçador.) (D'Evreux, Viagem, 144)
kopira (etim. - monda-roça) (s.) - roçado; roçador: Ereîkó kopira resé kó tyma. - Estiveste no roçado para plantar roça. (Anch., Teatro, 166)
kopûera (etim. - roça que foi) (s.) - mato que já foi roçado (VLB, II, 33); lugar onde já houve roça (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 41)
Kororõûasu (etim. - grande roncador) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185v)
kotyasaba (etim. - o companheiro do lado) (s.) - aliado, que pode até mesmo casar-se com a filha ou irmã de seu aliado (Léry, Histoire, 358)
kotypotaba (etim. - isca de cilada) (s.) - 1) homem corredor que, na guerra, vai por negaça e põe os inimigos em cilada (VLB, I, 82); 2) negaça, engodo, isca (em guerra) (VLB, II, 48)
koybara (etim. - cata-paus de roça < kó + 'yba + ar + -a) (s.) - COIVARA, técnica indígena de manuseio da terra, que consiste em queimar restos de troncos, galhos de árvores e mato para preparar a terra para a lavoura, limpando-a (Rodrigues, Relação, in Leite, Novas Cartas Jesuíticas, 230)
kuabe'eng1 (etim. - dar a conhecer) (v.tr.) - 1) oferecer: Aîkuabe'eng (abá) supé. - Ofereci-o ao homem. (VLB, II, 54, adapt.); 2) prometer (VLB, II, 87)
kuabe'eng2 (etim. - dar a conhecer) (v.tr.) - mostrar: Eîkuabe'eng xe nhe'engaipaba... - Mostra o erro de minhas palavras... (Ar., Cat., 55v); Apé-kuabe'eng (abá) supé. - Mostrei o caminho ao homem. (VLB, I, 113, adapt.) ● kuabe'ẽsara - o que mostra, o mostrador: ...Îasytatá serekoarama resé... pé kuabe'ẽsaramo... - Pela estrela que os guia, como a que mostra o caminho. (Ar., Cat., 121, 1686)
kuabe'engaba (etim. - instrumento de dar a conhecer) (s.) - ponteiro, pequena haste com que se aponta em livros, quadros, etc.: nhembo'esaba kuabe'engaba - ponteiro da escola (VLB, II, 81)
kûabĩ (etim. - passar, sem mais) (v. intr.) - ir adiante, seguir, adiantar-se (a outrem que fica parado, que descansa, etc.); passar adiante: Akûabĩ. - Adiantei-me. (VLB, I, 102); ...ygara kûabĩ potá... - querendo que a canoa passe adiante (Anch., Poemas, 154); Akûabĩ tenondé. - Segui adiante. (VLB, II, 14)
kûakatu (etim. - sol bom < kûara + katu) (s.) - dia bom, dia calmo, dia bonançoso (VLB, I, 57) ● kûakatu ã - eis que é dia bom; faz dia sereno (VLB, I, 102)
ku'aman (etim. - circundar a cintura) (v.tr.) - abarcar, agarrar cingindo, pegar (com os braços); cingir (p.ex., com cinto): Aîku'aman. - Cingi-o. (VLB, I, 17)
kûandugûasu (etim. - cuandu grande) (s.) - var. de porco-espinho (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. V, §13)
kûandumirĩ (etim. - cuandu pequeno) (s.) - var. de porco-espinho (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. V, §13)
kuapagûera (etim. - instrumento de reconhecimento) (s.) - rastro (do que não tem pés): mboîa kuapagûera - rastro da cobra (VLB, II, 97)
ku'apûar (etim. - amarrar a cintura) (v.tr.) - cingir (p.ex., com cinto) (VLB, I, 74)
ku'apûasaba (etim. - instrumento de amarrar a cintura) (s.) - 1) cinto, cinta, o que cinge (VLB, I, 74); 2) arco de tonel (VLB, I, 40)
ku'apysyk (etim. - agarrar a cintura) (v.tr.) - abarcar, agarrar (algo bojudo), pegar (com os braços) (VLB, I, 17)
kûarasy (etim. - origem deste dia < kó 'ara sy) (s.) - 1) sol: Tó! Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Ó! Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); T'osepîak-y bé umẽ kûarasy! - Que não vejam mais o sol! (Anch., Teatro, 60); Kûarasy nipó oberá, putunusu kûab'iré. - O sol certamente brilha, após passar a grande noite. (Anch., Poemas, 142); Kûarasy onhemoputun... - O sol se eclipsa. (Ar., Cat., 64); 2) verão (VLB, II, 144) ● kûarasy sembaba - lugar do nascer do sol, oriente, leste: ...kûarasy sembaba koty suí ouryba'e... - ...os que vêm do lado em que nasce o sol... (Ar., Cat., 3); kûarasy-ro'y - sol frio, isto é, sol encoberto, tempo nublado (VLB, II, 121); kûarasy reîkeaba - lugar em que o sol se põe, poente, oeste (VLB, II, 54); kûarasy-etymã (ou kûarasy ru'uba) - raio de sol, réstia de sol (VLB, II, 103)
kûarasyeîkeaba (etim. - a entrada do sol) (s.) - ocidente, oeste, lugar em que se põe o sol (VLB, II, 54)
kûarasye'yma (etim. - sem sol) (s.) - crepúsculo: Nde ro'o xe moka'ẽ serã kûarasye'yma riré. - Tua carne será meu moquém provavelmente após o crepúsculo. (Staden, Viagem, 157)
Kûarasyîuba (etim. - sol amarelo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Knivet, The Adm. Adv., 1210)
kûare'yma (etim. - sem furo) (s.) - virgem: Ereîkópe kûare'ymano resé? - Tiveste relações com uma virgem também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89)
kûaruru (etim. - vagina inchada) (s.) - cio (da fêmea); (adj.) - saída, no cio (fal. de fêmeas): Xe kûaruru. - Eu estou no cio, eu estou saída. (VLB, II, 111)
kûarybỹîa (etim. - oco do buraco) (s.) - vão, oco (VLB, II, 141)
Kûatiarusu (etim. - pintura grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
kûatiasaba (etim. - registro, lugar de registrar) (s.) - rol, lista (VLB, II, 108)
kûatimundé (etim. - quati de armadilha) (s.) - QUATI-MUNDÉU, macho adulto dos quatis (Nasua nasua), que foi expulso do bando. Os quatis possuem uma organização social dominada por fêmeas. No bando, além destas, somente os machos jovens são admitidos. Quando chegam à idade adulta, estes são expulsos. O macho adulto é maior e, em geral, de coloração avermelhada. Como vive desgarrado de um bando, tendo vida solitária, é mais facilmente aprisionado, donde seu nome. (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1130-1137)
kuaukar (etim. - mandar saber) (v.tr.) - acusar, denunciar; delatar; fazer saber (seguindo-se um castigo): Kunhã kuauká i mena supé... - Acusando uma mulher para seu marido. (Ar., Cat., 74); Aporokuaukar. - Delato gente. (VLB, II, 29); ...Xe kuaukámo xe rubixaba supémo... - Denunciar-me-iam ao meu imperador. (Ar., Cat., 61); ...Nde é ã xe kuauká îepé... - Eis que tu mesma me denunciaste. (Ar., Cat., 161) ● kuaukasara - o que delata, o delator (VLB, II, 29)
kûesenhe'ym (etim. - o que não é ontem) (adv.) - antigamente, muito tempo atrás; havia muito tempo; no passado: ...Kûesenhe'ym bé sepîá-potá tenhẽ roîré. - Depois de querer vê-lo, em vão, desde muito tempo atrás. (Ar., Cat., 58v); Kûesenhe'ym oroîkó Îurupari ra'yramo... - Antigamente estávamos como filhos do diabo. (D'Abbeville, Histoire, 341v-342); ...Kuesenhe'ym nde angaîpabamo ereîkó. - Antigamente eras pecador. (D'Abbeville, Histoire, 350) ● kûesenhe'ỹndarûera - o que é de antigamente, o que é antigo (VLB, I, 36)
kugûapaba (etim. - instrumento de reconhecimento) (s.) - baliza: pé kugûapaba - baliza do caminho (VLB, I, 51)
kuîẽîurimũ (etim. - pimenta cuiém jerimum) (s.) - variedade de pimenta da feição da abóbora (Sousa, Trat. Descr., 186)
kuîemusu (etim. - pimenta cuiém grande) (s.) - variedade de pimenta nativa. É "grande e comprida e depois de madura faz-se vermelha". (Sousa, Trat. Descr., 176)
kuîeté (etim. - cuia legítima) (s.) - 1) CUITÉ, COITÉ, CUITEZEIRA, CUIEIRA, árvore bignoniácea, (Crescentia cujete L.), que dá cuias, cabaças ou cuités, também conhecida como cabaceiro, cabaceira (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 123); 2) o fruto dessa árvore, espécie de abóbora de miolo doce ou amargo que se separa e deixa um casco rijo de que se fazem cuias (VLB, I, 61)
kuîe'yba (etim. - pé de cuia) (s.) - CUIEIRA, árvore de cujos frutos, da cor dos cabaços verdes, faziam-se cuias, após serem cortados ao meio; o mesmo que kuîeté (v.) (Sousa, Trat. Descr., 223)
kuîmbuka (etim. - cuia fendida) (s.) - CUMBUCA, CUIAMBUCA, var. de cabaço partido ao meio, uma kuîeté (v.) partida ao meio (VLB, I, 61)
kuîpeba (etim. - cuia chata) (s.) - cabaça comprida partida pelo meio; metade de uma cabaça comprida (VLB, I, 61; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272)
kukuriîuba (etim. - cucuri amarelo) (s.) - var. de tubarão (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 2304-2310)
kukuritinga (etim. - cucuri branco) (s.) - var. de tubarão (Soares, Coisa Not. Brasil [ms .c], 2110-2111)
kumarugûasu (etim. - cumaru grande) (s.) árvore da família das leguminosas, grande e grossa, de flores amareladas, provavelmente o cumaru verdadeiro (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.) (D'Abbeville, Histoire, 226).
kumarumirĩ (etim. - cumaru pequeno) (s.) - variedade de CUMARU (v.), que "se parece muito com a cerejeira, com flores semelhantes às do pessegueiro; o fruto é uma noz do tamanho de um pêssego branco, encontrando-se dentro cinco ou seis grãos muito bons e medicinais". (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 176)
kunhãeté (etim. - mulher comum) (s.) - mulher forra que nunca foi escrava (VLB, I, 142)
kunhambyra (etim. - o defunto da mulher* < kunhã + ambyra) (s.) - CUNHAMBIRA, filho de um prisioneiro com uma mulher da aldeia em que ele estivera ou estava aprisionado. Tal filho era comido num ritual antropofágico. "A mãe é a primeira que come dessa carne, o que tem por grande honra." (Sousa, Trat. Descr., 325)
kunhãmuku'ĩ (etim. - mulher altinha) (s.) - mocinha de doze até treze ou quinze anos (VLB, II, 39)
kunhãmyxuna (etim. - mulher escura) (s.) - GRUMIXAMA, GRUMIXAMEIRA, 1) planta da família das mirtáceas (Eugenia brasiliensis Lam.), com frutas pequenas, à feição de murtinhos; 2) o fruto dessa árvore (Brandão, Diálogos, 217); 3) murta, murto, planta da família das mirtáceas, de origem mediterrânea; 4) árvore melastomácea do norte do Brasil (Mouriri guianensis Aubl.) (VLB, II, 45) (o mesmo que ybamyxuna - v.) (VLB, II, 45)
kunhataĩ (etim. - mulher firminha) (s.) - menina, CUNHANTÃ, CUNHANTAIM, menina da primeira idade até ser casadoira (VLB, II, 38); menina pequena até, mais ou menos, dez anos (VLB, II, 39); menina de sete a 15 anos (D'Evreux, Viagem, 135): Eresugûykápe kunhataĩ amõ? - Desvirginaste alguma menina? (Ar., Cat., 103v) ● kunhataĩ-a'uba - rapariga (por desprezo, pejorativo) (VLB, II, 96)
kunhataĩapé (etim. - caminho de menina) (s.) - pássaro "cujo canto forma o choro de uma criança" (Brandão, Diálogos, 230)
kunhataĩmirĩ (etim. - menina pequena) (s.) - menina de um a sete anos de idade (D'Evreux, Viagem, 135)
kunhã'yba (etim. - mulher-guia) (s.) - namorada (com quem não se têm relações sexuais), futura esposa: Kunhã'yba xe raûsu. - As namoradas me amavam. (Anch., Teatro, 176); Xe kunhã'ybamo arekó. - Tenho-a como minha namorada. (Ar., Cat., 114); (adj.: kunhã'yb) (xe) ter namorada: Nde kunhã'ype? - Tu tens namorada? (Anch., Doutr. Cristã, II, 93)
kunumĩmirĩ (etim. - menino pequeno) (s.) - menino cuja idade vai de um a sete ou oito anos (D'Evreux, Viagem, 129)
kupe'ab (etim. - rachar as costas) (v.tr.) - atacar pelas costas, fazer cilada contra: Îasó sesé îapu'ama, Tupana sy kupe'apa. - Vamos para assaltá-la, atacando pelas costas a mãe de Deus. (Anch., Teatro, 130); A'e ré, moxy rekóû pysaîé... kunhã mena kupea'pa. - Depois disso, os malvados estão alta noite atacando pelas costas os maridos das mulheres. (Anch., Teatro, 150); Aîkupe'ab tobaîara i îukábo. - Fiz cilada contra o inimigo, matando-o. (VLB, I, 81)
kupeasura (etim. - costas corcovadas) (s.) - corcova; (adj.: kupeasur) - corcunda; (xe) ter corcova: Xe kupeasur. - Eu tenho corcova, eu estou corcunda. (VLB, I, 30)
kupepema (etim. - costado anguloso) (s.) - quilha de embarcação (VLB, II, 94)
kupy'yba (etim. - planta da abelha "kupy") (s.) - CUPIÚBA, COPIÚBA, COPIÚVA, CUPIÚVA, CUTIÚBA, pequena árvore cunoniácea (Weinmannia pinnata L.) (Sousa, Trat. Descr., 196)
kupu'y'aîuba (etim. - cupiúba do fruto amarelo) (s.) - árvore anacardiácea de flor branca manchada de amarelo, cujo fruto possui uma pequena amêndoa dentro (D'Abbeville, Histoire, 222v)
kupu'ygûasu (etim. - grande ávore da abelha "kupy") (s.) - 1) CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.), árvore grande da família das esterculiáceas, de flor branca, fruto comprido e amarelado, com três duros caroços; 2) o fruto dessa árvore, muito apreciado por sua polpa aromática, doce, usado para a fabricação de sorvetes, refrescos, etc. (D'Abbeville, Histoire, 222v)
kurimãûasu (etim. - curimã grande) (s.) - peixe da família dos mugilídeos (D'Abbeville, Histoire, 244v).
kuruanha (etim. - curuá de dentes) (s.) - planta trepadeira que dá um fruto de feição de fava, que tem dentro três ou quatro caroços (Sousa, Trat. Descr., 194)
kurûatapinima (etim. - curuatá pintado) (s.) - CURUATÁ-PINIMA, peixe da família dos tunídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 150)
kurubipûera (etim. - grãozinho que foi) (s.) - migalha (de qualquer coisa) (VLB, II, 37): ...I kurubipûera anhõte îepé asé o'u. - Ainda que somente uma migalha dele a gente come. (Ar., Cat., 85)
kurubixok (etim. - socar as migalhas) (v.tr.) - esmigalhar: Aîkurubixok. - Esmigalhei-o. (VLB, I, 125)
kurûera (etim. - grãos que foram) (s.) - QUIRERA, CRUEIRA, acrivadura, o que resta na peneira após joeirar-se algo; grânulo, bolota (VLB, I, 21; 32) (v. kuruba)
Kurupira (etim. - pele de sarna, pele de verrugas) (s. antrop.) - CURUPIRA, nome de entidade sobrenatural, habitante das florestas, que tinha os pés voltados para trás: Eresykyîpe Anhanga, Tagûaíba, Kurupira, Îurupari koîpó te'õ abá supé? - Invocaste o Anhanga, o Taguaíba, o Curupira, o Jurupari ou a morte para alguém? (Ar., Cat., 102v)
kurupirara (etim. - apanha-Curupira) (s.) - 1) nome de um brinquedo de crianças (Nieuhof, Ged. Reize, 217); 2) dança ou modo de saltar de índios de menor idade (Vasconcelos, Crônica [Not.], §143, 107)
kurupireíra (etim. - abelha do Curupira) (s.) - abelha silvestre da família dos meliponídeos, cujo mel produz intoxicação (Piso, De Med. Bras., IV, 178)
kurupyka'yba (etim. - planta cessa-sarna) (s.) - CURUPICAÍ, leiteira, pau-de-leite, planta da família das euforbiáceas, do gênero Sapium. "As folhas estilam um leite como o das figueiras de Espanha, o qual é único remédio para feridas... "Se lhe picam a casca, deita grande quantidade de visco com que se tomam os passarinhos." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42; VLB, II, 146)
kururuapé (etim. - caminho de sapo) (s.) - CURURU-APÊ, planta sapindácea (Paullinia pinnata L.), conhecida também como timbó ou timbó-cipó, usada para entorpecer os peixes nas pescarias (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 22; Piso, De Med. Bras., IV, 200-201)
Kururupeba (etim. - sapo achatado) (s.) - CURURUPEBA, nome de uma entidade da mitologia dos antigos índios tupis da costa do Brasil (Soares, Coisas Not. Bras., ms. C, 676-683): Xe rera "Kururupeba". - Meu nome é "Sapo Achatado". (Anch., Teatro, 90)
kusuba (etim. - plantas de grande queimada < kaî-usu-'yba) (s.) - faíscas de folhagem queimada, sejam vivas ou não (VLB, I, 133)
kutukagûera (etim. - o que foi objeto de ferimento) (s.) - ferida; ferimento de coisa pontuda, de espada, de faca, etc.; estocada (VLB, I, 129): O pó, o py, o yké kutukagûera bépe erimba'e ogûeropu'am? - Ergueu-se com as feridas de suas mãos, de seus pés, de seu flanco? (Ar., Cat., 44v)
kybykyra (etim. - irmão tenro) (s.) - 1) irmão caçula (de m.); 2) primo caçula (de m.) (Ar., Cat., 269, 1686)
kyîaapu'a (etim. - pimenta redonda) (s.) - variedade de pimenta, espécie de planta solanácea (Capsicum baccatum L.), originária da América do Sul (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39; Piso, De Med. Bras., IV, 197)
kyîaapu'a'ĩ (etim. - pimenta redondinha) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 160)
kyîakumari (etim. - pimenta cumari) (s.) - variedade de pimenta, PIMENTA-CUMARI, de fruto de cor vermelha, planta solanácea do gênero Capsicum (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39)
kyîasarapó (etim. - pimenta sarapó) (s.) - variedade de pimenta nativa, planta solanácea do gênero Capsicum (Piso, De Med. Bras., IV, 198)
kyseapara (etim. - faca torta) (s.) - foice: Nd'ereruripe kyseapara amõ? - Não trouxeste algumas foices? (D'Evreux, Viagem, 246)
kysegûasu (etim. - faca grande) (s.) - cutelo: itá-kysegûasu - cutelo de ferro (VLB, I, 88)
Ma'eakanga (etim. - cabeça de coisa) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188v)
ma'enduara (etim. - o que está na vista) (s.) - lembrança: sesé o ma'enduara îabi'õ... - a cada lembrança dela; cada vez que se lembra dela (Ar., Cat., 71v); Aîkuab xe resé nde ma'enduara. - Sei que tu te lembras de mim (lit., sei de tua lembrança de mim). (Fig., Arte, 156)
Maíra-poxy (etim. - Maíra ruim) (s. antrop.) - nome de entidade mitológica dos antigos tupis da costa (Thevet, Cosm. Univ., 918)
Mairatã (etim. - Maíra forte) (s. antrop.) - nome de entidade mitológica dos antigos tupis da costa (Thevet, Cosm. Univ., 919)
mamõygûara (etim. - o que é de fora, o que é de longe) (s.) - forasteiro (VLB, I, 141)
mamõygûaraé (etim. - o que é de fora e diferente) (s.) - estrangeiro, estranho (VLB, I, 130)
mana'ybusu (etim. - manaíba grande) (s.) - variedade de mandioca (Sousa, Trat. Descr., 173)
mana'ytinga (etim. - manaíba branca) (s.) - variedade de mandioca, comestível a partir de oito meses de plantio, apta para cultivo em terras fracas e de areia (Sousa, Trat. Descr., 173)
mandi'oka'i (etim. - mandioca pequena) (s.) - MANDIOCAÍ, nome comum a várias plantas da família das araliáceas, do gênero Didymopanax; "árvore de madeira muito dura, pesada e de cor amarelaça" (Sousa, Trat. Descr., 218)
mandi'opeba (etim. - mandioca achatada) (s.) - var. de mandioca (Piso, De Med. Bras. IV, 177-178)
mandi'opûera (etim. - mandioca velha) (s.) - nome de um fruto (Knivet, The Adm. Adv., 1230)
mandi'ybumana (etim. - mandioca velha) (s.) - var. de mandioca (Piso, De Med. Bras., IV, 177)
mandi'ybusu (etim. - mandioca grande) (s.) - var. de mandioca (Piso, De Med. Bras., IV, 177)
mangaramirĩ (etim. - mangará pequeno) (s.) - MANGARÁ-MIRIM, MANGARITO planta arácea, variedade de taioba (Xanthosoma sagitifolium (L.) Schott) (Piso, De Med. Bras., 194)
mangarapeúna (etim. - mangará da casca escura) (s.) - planta arácea parecida à taioba (Colocasia esculenta (L.) Schott) (Piso, De Med. Bras., IV, 194)
manhana (etim. - o que espia) (s.) - 1) espião; espia (de guerra) (VLB, I, 126): ...Xe manhana, manembûera... - Eu sou um espião, um velho poltrão... (Anch., Teatro, 44); T'akûáne pe renondé, pe manhanamo, ranhẽ. - Hei de ir adiante de vós, como vosso espião, primeiro. (Anch., Teatro, 66); 2) alcoviteiro, o que serve de intermediário nas relações amorosas: Asó manhanamo. - Vou como alcoviteiro. (VLB, I, 30); O manhanamo abá moingóbo... - Fazendo alguém ser seu alcoviteiro. (Ar., Cat., 71v); 3) espionagem, alcovitice: ...Manhana, sygûaraîy - n'aîpotari abá seîara. - Alcovitice, prostituição - não quero que ninguém as deixe. (Anch., Teatro, 8)
mani'oketé (etim. - mandioca verdadeira) - o mesmo que mandi'oka (v.) (D'Abbeville, Histoire, 230)
manipo'i (etim. - mani fininho) (s.) - sopa feita pelos índios com a manipuera, o caldo da mandioca espremida (D'Abbeville, Histoire, 223)
manipokamirĩ (etim. - mani estourado pequeno) (s.) - variedade de mandioca (Sousa, Trat. Descr., 173)
manipûera (etim. - suco de mani) (s.) - MANIPUEIRA, MANIPUERA, suco leitoso da mandioca ralada, obtido por compressão, e que contém o veneno da planta. Evaporado o veneno, ao fogo ou ao sol, faz-se do líquido o molho denominado tucupi. Também é chamado de MANICUERA, água-brava, água-de-goma. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67; Piso, De Med. Bras. III, 173)
manisoba (etim. - mani folhudo) (s.) - MANIÇOBA, 1) folha da mandioca (Manihot esculenta Crantz); 2) planta da família das euforbiáceas (Manihot glaziovii Muell. Arg.), de que se extrai borracha (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 68)
manõaíb (etim. - morrer não completamente) (v. intr. compl. posp.) - 1) desmaiar, desfalecer; esmorecer (VLB, I, 125): Amanõaíb ambyasy suí. - Desfaleço de fome. (VLB, II, 73); 2) desanimar (de algo: compl. com -pe): ...Omanõaibí abá o mba'e gûápe bé. - O homem desanima, sem mais, de comer também... (Ar., Cat., 157v); ...Omanõaibí abá o poraseîtápe bé... - O homem desanima, sem mais, de suas danças também. (Ar., Cat., 157v)
marã'eaba (etim. - ato de dizer coisas más) (s.) - maledicência: Ereîmombe'upe abá marã'eagûera, "-aîpó e'i rakó nde resé" e'îabo? - Contaste a maledicência de alguém, dizendo: -"Ele dizia isso a teu respeito"? (Ar., Cat., 108)
marakagûasu (etim. - maracá grande) (s. etnôn.) - nome de nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 125)
marakaîaeté (etim. - maracajá verdadeiro) - o mesmo que marakaîá2 (v.) (VLB, I, 147)
Marakaîagûasu (etim. - maracajá grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica, I, § 202, 278)
marakaîamirĩ (etim. - maracajá pequeno) (s.) - variedade de gato do mato, animal da família dos felídeos (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1142-1144)
marakanãgûasu (etim. - maracanã grande) (s.) - MARACANÃ-GUAÇU, ave psitaciforme da família dos psitacídeos; variedade de papagaio (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1286-1288)
marakanãmirĩ (etim. - maracanã pequeno) (s.) - ave psitaciforme da família dos psitacídeos; variedade de papagaio (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1286-1288)
Marakapu (etim. - barulho de maracá) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
marakaûasu (etim. - maracá grande) (s.) - sino; grande campainha (Léry, Histoire, 351)
marãmonhang (etim. - fazer guerra) (v. intr. compl. posp.) - brigar (com muitos clamores, com muito barulho, com espada, etc.); lutar, guerrear (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277; VLB, I, 43) [com alguém: compl. com esé (r, s) ou ndi]: Oromarãmonhang Pero resé (ou Oromaramonhang Pero ndi). - Briguei com Pedro. (VLB, II, 71); - Nd'omarãmonhangi xópene? - Não brigarão? (Anch., Dial. da Fé, 159); Omarãmonhangype, oîoendyne? - Brigarão, cuspir-se-ão? (Anch., Doutr. Cristã, I, 228) ● marãmonhangaba - tempo, lugar, modo, etc. de lutar, de brigar; guerra, batalha, luta, briga: marãmonhangápe só... - ir para a guerra (Ar., Cat., 158)
marãmotara (etim. - o que quer guerra; querer guerra) (s.) - 1) o briguento, a pessoa briguenta; 2) fúria, ferocidade; briga; (adj.: marãmotar) - 1) furioso, feroz, briguento; (xe) enfurecer-se, enraivecer-se: Xe marãmotar. - Eu sou furioso. (VLB, I, 145); ...O aobusu mondoró-ndoroka o marãmotaramo... - Suas túnicas ficando a rasgar, estando furiosos. (Ar., Cat., 56v); Nde marãmotarype abá resé? - Tu te enfureceste por causa de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); abá-marãmotara - homem briguento (VLB, I, 59); 2) (xe) estar levantado, estar em guerra (alguma quadrilha ou nação): Xe marãmotar. - Eu estou em guerra. (VLB, II, 21)
maranaritekoara (etim. - o que está na guerra) (s.) - guerreiro; soldado (VLB, I, 152): Marãpe tobaîaretá, maranaritekoara, i pysyka, serekóû a'ereme? - Como os inimigos e os soldados, apanhando-o, trataram-no, então? (Ar., Cat., 56v)
maranebira (etim. - o traseiro da guerra) (s.) - retaguarda na guerra (VLB, II, 104)
marane'yma (etim. - sem doença) (s.) - 1) saúde, incolumidade: T'e'i nhẽ ã xe boîá o marane'yma rerasóbo rõ. - Deixai, pois, estes meus discípulos irem com saúde. (Ar., Cat., 54v); 2) incorruptibilidade, conservação, virgindade: Sepîakypyra niã aîpoba'e re'õmbûera o marane'yma rerekó... - Eis que são vistos os cadáveres daqueles manterem sua incorruptibilidade. (Ar., Cat., 179v); (adj.: marane'ym) - saudável, incorrupto, virgem: ...A'erame'ĩ i mbo'ar'iré, omarane'ymamo. - Igualmente, após dá-lo à luz, estando virgem. (Ar., Cat., 35); ...Kunhã-kûare'yma ...gûeté-marane'yma bé ogûeromanõba'epûera... - Mulheres virgens que morreram com seu corpo incorrupto. (Ar., Cat., 161v)
marane'ymaba (etim. - estado de falta de doença) (s.) - saúde: Abá supépe asé îeruréû o eté marane'ymaûama resé...? - Para quem a gente pede pela saúde de seu corpo? (Bettendorff, Compêndio, 64)
marangatuba'e (etim. - o que é bom) (s.) - beato, bem-aventurado: Marangatuba'e, santos ybakype, Tupã repîakaretá, osasá 'ara ro'y remierekó papasaba. - Os bem-aventurados e os santos no céu, que vêem a Deus, ultrapassam o número dos dias que o ano tem. (Ar., Cat., 134)
marãtekó1 (etim. - o estar em guerra) (s.) - batalha (VLB, I, 53); luta, guerra (VLB, I, 152)
marãtekó2 (etim. - o estar em ocupação) (s.) - 1) trabalho, obra, serviço, negócio (VLB, II, 49): Marãtekorama resé paîé mongetasara... - O que pede ao pajé por trabalhos. (Ar., Cat., 66v); 2) dificuldade: Ta xe pysyrõ marãtekó suí... - Que me livre das dificuldades. (Ar., Cat., 23)
marãtekoaba1 (etim. - tempo de estar em esforço) (s.) - dia de trabalho (VLB, I, 102)
marãtekoaba2 (etim. - a ação no mal) (s.) - mau procedimento; pecado: Îaîmoasy marãtekoagûera îandé py'a suíne... - Arrepender-nos-emos, de coração, dos maus procedimentos. (Ar., Cat., 122)
marãtekoaba3 (etim. - a consequência do estar em esforço) (s.) - obra feita com as mãos (VLB, II, 53)
marãtekoabe'yma (etim. - tempo sem estar em esforço) (s.) - feriado, dia de festa, ocasião de não trabalhar, ocasião em que não se trabalha: Kó 'ara marãtekoabe'yma. - Este dia é feriado. (Ar., Cat., 6v); Ogûeronhe'eng i mendarypyrama Tupãokype marãtekoabe'yma pupé... - Anuncia os que serão casados na igreja nos feriados. (Ar., Cat., 94)
marãtekoagûerepy1 (etim. - compensação do mau proceder passado) (s.) - penitência dos pecados (VLB, II, 72)
marãtekoagûerepy2 (etim. - recompensa do estar em esforço) (s.) - salário (VLB, II, 112)
marãtekoare'yma (etim. - o que não está em esforço) (s.) - preguiçoso, vadio (VLB, II, 108)
marãtekoarûere'yma (etim. - o que não agiu mal) (s.) - inocente (quando acusado de algo que não fez) (VLB, II, 12)
marigûiúna (etim. - marigui escuro) (s.) - MARIGUIÚNA, variedade de pequeno mosquito dos matos (VLB, II, 43)
mba'eaíba1 (etim. - coisa ruim) (s.) - 1) mal, maldade, coisa má: Oré pysyrõ-te mba'eaíba suí. - Mas livra-nos do mal! (Ar., Cat., 13v)
mba'eaíba2 (etim. - coisa ruim) (s.) - peçonha, veneno (VLB, II, 68): A'u temõ mba'eaíba mã a'emo nhẽ xe re'õû... - Ah, quem me dera comer veneno para que eu morresse! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102)
mba'eapanupãsaba (etim. - instrumento de golpear as coisas) (s.) - macete, maço, instrumento como um martelo, de madeira rija, usado por marceneiros, carpinteiros, etc. (VLB, II, 27)
mba'eapina (etim. - coisa tosquiada) (s.) - homem marinho, monstro marinho que os índios supunham existir (VLB, II, 32; Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. XIV, §11)
mba'easy (etim. - dor dos membros) (s.) - doença, dor, coisa dolorosa, infortúnio; má disposição (VLB, II, 27), tormento (VLB, II, 132): Aîporará temõ Tupã resé mba'easy katupabẽ mã...! - Ah, oxalá eu sofresse por Deus muitíssimos infortúnios! (Ar., Cat., 164v); (adj.) - doente; (xe) adoecer: ...Iîá omba'easyramo...! - Bem feito que adoeceu! (Ar., Cat., 69v); Xe mba'easy-'ar. - Caí doente. (VLB, I, 116) ● mba'easypotar - enfermiço, doentio: Xe mba'easypotar. - Eu sou enfermiço. (VLB, I, 105)
mba'easyaíba (etim. - doença superficial) (s.) - indisposição, doença fraca; (adj.: mba'easyaíb) - adoentado, mas não muito doente: Xe mba'easyaíb. - Eu estou adoentado. (VLB, II, 28)
mba'easyborerekoara (etim. - o que trata os doentes) (s.) - enfermeiro (VLB, I, 116)
mba'easyborupaba (etim. - lugar de estarem deitados os doentes) (s.) - enfermaria (VLB, I, 116)
mba'easyborupatyba (etim. - lugar costumeiro de estarem deitados os doentes) (s.) - enfermaria (VLB, I, 116)
mba'eatykasaba (etim. - instrumento de fincar coisas) (s.) - macete, maço, instrumento como um martelo, de madeira rija, usado por marceneiros, carpinteiros, etc. (VLB, II, 27)
mba'eba'u (etim. - bicho que come pau) (s.) - nome de um pássaro (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1464-1468)
mba'ee'yma (etim. - falta de coisas) (s.) - pobreza ● i mba'ee'ymba'e - o que é pobre, o despossuído, o que não tem posses ou coisas: Tekokatueté rerekoara o emimotarybo é i mba'ee'ymba'e. - O que tem a bem-aventurança é o que é pobre por sua própria vontade. (Ar., Cat., 18v)
mba'eîare'yma (etim. - o que não porta coisas) (s.) - pobre: ...Mba'eîare'yma îabé... so'o mimbaba roka ogûâr og upabamo... - Como um pobre, tomou a casa dos animais de criação como sua pousada. (Ar., Cat., 9v)
mba'ekuapara (etim. - o que sabe as coisas) (s.) - letrado (VLB, II, 20)
mba'ekugûapamo'anga (etim. - o que se supõe saber as coisas) (s.) - sábio (na opinião dos outros) (VLB, II, 110)
mba'ekugûapara (etim. - o que conhece as coisas) (s.) - sábio ● mba'ekugûapara'uba - sábio fingido, pseudo-sábio (VLB, II, 110)
mba'eme'engaba (etim. - doação das coisas) (s.) - patrimônio que o pai dá enquanto vivo: xe ruba xe mba'eme'engaba - o patrimônio dado a mim por meu pai (VLB, II, 68)
mba'emoasyîá (etim. - o que faz doer de costume) (s.) - sensibilidade; (adj.) - sensível: Xe mba'emoasyîá. - Eu sou sensível. (VLB, II, 116)
mba'emoîypaba (etim. - lugar de cozer as coisas) (s.) - cozinha (VLB, I, 85)
mba'emoîypara (etim. - o que coze as coisas) (s.) - cozinheiro (VLB, I, 85)
mba'emonhangara (etim. - o que faz as coisas) (s.) - oficial (VLB, II, 55)
mba'emosyryrykaba (etim. - lugar de fritar as coisas) (s.) - frigideira (VLB, II, 113)
mba'enhemonhangaba (etim. - o gerar-se das coisas) (s.) - fertilidade (VLB, I, 138)
mba'enhemonhangabe'yma (etim. - a não geração das coisas) (s.) - esterilidade (fal. de terra) (VLB, I, 129)
mba'enupãsaba (etim. - instrumento de golpear as coisas) (s.) - maço ou macete, instrumento como um martelo, de madeira rija, usado por marceneiros, carpinteiros, etc. (VLB, II, 27)
mba'epapasaba (etim. - contagem das coisas) (s.) - conta (de algarismos); contagem (VLB, I, 80)
mba'epokeka (etim. - embrulho de coisas) (s.) - envoltório, embrulho, trouxa (VLB, I, 120)
mba'epotara (etim. - desejo das coisas) (s.) - avidez, ganância; (adj.: mba'epotar) - ávido (de coisas), ganancioso: I mba'epotar îagûara. - O cão é ávido (isto é, bom de caça, quer tudo apanhar). (VLB, I, 62)
mba'epûera1 (etim. - coisas que foram) (s.) - despojos (VLB, I, 100)
mba'epûera2 (etim. - coisas que foram) (s.) - 1) mexerico, intriga; 2) dizeres vãos, fúteis, coisas equivocadas, baboseiras, tolices: ...Mba'epûera peîépe? - Dissestes tolices? (Ar., Cat., 157v); (adj.: mba'epûer) - mexeriqueiro; (xe) - fazer mexericos, mexericar: Nde mba'epûerype nde rapixarĩ nhe'engûera mombegûabo? - Tu fizeste mexericos, contando as palavras de teu próximo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99); Ereîmombe'upe abá marã'eagûera... nde mba'epûeramo? - Contaste a maledicência de alguém, sendo mexeriqueiro? (Ar., Cat., 108); Xe mba'epûer. - Eu sou mexeriqueiro; Xe mba'epûer-y îá. - Eu costumo mexericar. (VLB, II, 37)
mba'epûera3 (etim. - coisas que foram) (s.) - herança, patrimônio que deixa o defunto: xe ruba mba'epûera - herança de meu pai (VLB, I, 121), patrimônio de meu pai defunto (VLB, II, 68)
mbaepûeryîara (etim. - o que domina as coisas que foram) (s.) - herdeiro (VLB, I, 121)
mba'epysykaba (etim. - instrumento de segurar as coisas) (s.) - garfo (VLB, I, 146)
mba'era'angaba1 (etim. - instrumento de medir as coisas) (s.) - compasso (VLB, I, 78)
mba'era'angaba2 (etim. - instrumento de medir as coisas) (s.) - medida, peso (VLB, II, 34)
mba'ereme? (etim. - por ocasião de que coisas?) (interr.) - quando? em que situação? por ocasião de quê? (Fig., Arte, 133); em que hora? (Fig., Arte, 127) ● mba'e-mba'ereme? - quando? em que situações? em que ocasiões? em que horas: Mba'e-mba'eremepe asé îeruréû i xupé? - Em que situações a gente reza para ele? (Ar., Cat., 23v); Mba'e-mba'eremepe asé nhemombe'une? - Em que ocasiões a gente se confessará? (Ar., Cat., 90v-91)
mba'ererosapukaîtara (etim. - o que anuncia as coisas) (s.) - pregoeiro, pregador (VLB, II, 84)
mba'eresysaba (etim. - instrumento de assar as coisas) (s.) - espeto para assar (VLB, I, 126)
mba'erupaba (etim. - lugar de estarem as coisas) (s.) - despensa (VLB, I, 100)
mba'eruru (etim. - depósito das coisas) (s.) - celeiro (VLB, I, 70)
mba'etatá (etim. - coisa-fogo) (s.) - BOITATÁ (Anch., Arte, 9), BAITATÁ, BIATATÁ, BITATÁ, BATATÃO, mito dos antigos indígenas da costa brasileira. "...Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto ainda não se sabe com certeza." (Anchieta, Cartas, Rio de Janeiro, 1933).
mba'etegûama (etim. - coisa instrumento de morte) (s.) - peçonha, veneno (VLB, II, 68)
mba'etyba (etim. - abundância de coisas) (s.) - fertilidade (p.ex., da terra); lugar fértil (VLB, I, 138)
mba'etybe'yma (etim. - não abundância de coisas) (s.) - esterilidade, falta das coisas necessárias, infertilidade (p.ex., da terra) (VLB, I, 128)
mba'etymbaba (etim. - lugar de plantar as coisas) (s.) - horta, plantação (VLB, I, 153)
mba'etymbara (etim. - o que planta as coisas) (s.) - hortelão, o que cultiva horta (VLB, I, 153)
mba'e'ueteeté (etim. - o comer demais as coisas) (s.) - gula (VLB, I, 152)
mbeîupirá (etim. - andorinha peixe) (s.) - BIJUPIRÁ, o mesmo que mbyîu'ipirá (v.) (Piso, De Med. Bras., 154)
mbeîutingy (etim. - água de biju claro) (s.) - bebida fermentada com biju, que se guardava durante muitos dias nos jurás, o que a fazia muito forte (VLB, II, 146); bebida feita de farinha de mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
mberuoby (etim. - meru verde) (s.) - variedade de mosca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 254; D'Abbeville, Histoire, 255v)
mbirakubora (etim. - os de pele quente) (s.) - verão (VLB, II, 144)
mbo'eaíb (etim. - ensinar mal) (v.tr.) - confundir: O 'anga sumarã o mbo'eaíme... - Por confundir o inimigo sua alma. (Ar., Cat., 34v)
mboîeté (etim. - cobra verdadeira) (s.) - nome de uma cobra com duas braças de comprimento em média, com pele lisa e manchada de diversas cores, um chocalho na ponta de sua cauda e picada mortal (D'Abbeville, Histoire, 253)
mboîgûasu (etim. - cobra grande) (s.) - BOIGUAÇU, o mesmo que îyboîa (v.). (Piso, De Med. Bras., III, 171)
mboîgûasurepoti (etim. - fezes de cobra grande) (s.) - âmbar (VLB, I, 34)
Mboî'i (etim. - cobrinha) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
mboîkûatiara (etim. - cobra pintada) (s.) - BOIQUATIARA, cobra da família dos viperídeos (VLB, I, 76; Anch., Cartas, 124)
mboîkupekanga (etim. - cobra do dorso ossudo) (s.) - variedade de serpente venenosa com espinhos no dorso (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 32; VLB, I, 76)
mboîkyba (etim. - piolho de cobra) (s.) - escorpião, nome comum a certos aracnídeos venenosos (Anch., Cartas, 125)
mboîmaraká (etim. - chocalho de cobra) (s.) - var. de planta medicinal, heléboro, da família das liliáceas (VLB, I, 121; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 202)
mboîoby (etim. - cobra verde) (s.) - BOIOBI, nome comum a várias espécies de cobras, geralmente verdes, finas e alongadas (VLB, I, 76)
mboîpeba (etim. - cobra chata) (s.) - BOIPEVA, BOIPEBA, GOIPEVA, PEPÉUA, PEPEVA, cobra-chata, cabeça-chata, cobra não peçonhenta da família dos colubrídeos, que, quando irritada, achata o corpo (Piso, De Med. Bras., III, 171; VLB, I, 76)
mbo'ir2 (etim. - fazer separar-se) (v.tr.) - desgrudar, desprender, separar; desapegar (o que está grudado), tirar: Oîmbo'ir i angaîpaba i xuíne. - Tirarão suas maldades deles. (Anch., Doutr. Cristã, I, 227) ● mbo'iraba - tempo, lugar, modo, etc. de desgrudar, de desprender; desprendimento: Nd'opo'ẽî xûé-tepe asé o îuru pupé i mbo'iragûama reséne? - Mas não porá a gente a mão na boca para desgrudá-la? (Anch., Doutr. Cristã, I, 217)
mboîro'ysanga (etim. - cobra de frio) (s.) - cobra cuja "mordedura comunica ao corpo um grande frio." Não é venenosa. (Anch., Cartas, 124)
mboîsinimbeba (etim. - cobra que retine, achatada) (s.) - nome de uma cobra, provavelmente da família dos crotalídeos. "Também tem cascavel, mas mais pequeno; é preta e tem muita peçonha." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 33)
mboîuna (etim. - cobra escura) (s.) - BOIÚNA, cobra da família dos colubrídeos (Sousa, Trat. Descr., 259; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 32)
Mboîusu1 (etim. - cobra grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 138, 2006)
mboîusu2 (etim. - cobra grande) - o mesmo que mboîgûasu (v.) (VLB, I, 107; II, 117; Anch., Teatro, 162)
mbyîu'ipirá (etim. - andorinha peixe) (s.) - BIJUPIRÁ, BEIJUPIRÁ, BEIUPIRÁ, peixe da família dos raquicentrídeos. "É muito sadio, gordo e de bom gosto." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 52)
mbype2 (etim. - no pé) (adv.) - 1) perto; por perto; por aqui, aqui (Fig., Arte, 128; VLB, II, 81), aí por perto: Mbype erebasẽ i xupé? - Achaste-os por perto? (Anch., Teatro, 46); Koba'e îakatu mbype, xe re'õ roîré ybŷá xe rerekóûne. - Como a estes por aqui, farão comigo após minha morte. (Ar., Cat., 155); Mbype emondarõ sesé. - Rouba-o aí por perto. (Anch., Teatro, 148, 2006)
me'engaba1 (etim. - dom, oferta) (s.) - 1) cônjuge: O me'engabeté re'õneme, abá nd'e'ikatuî omendá i asykûera amõ resé. - Quando morre seu cônjuge verdadeiro, uma pessoa não pode casar-se com algum irmão ou irmã dele. (Ar., Cat., 280); 2) noivo (a), prometido (a): O me'engabeté pyky'yra koîpó tykera... resé obykyba'e n'e'ikatuî omendá o me'engabeté resé tiruã... - O que tocou na irmã mais moça ou na irmã mais velha de sua noiva verdadeira não pode casar-se nem mesmo com sua noiva. (Ar., Cat., 131)
me'engyîeby (etim. - dar de volta) (v.tr.) - devolver: Oîme'engîeby sepypûera morubixabetá... supé... - Devolveu seu pagamento aos príncipes. (Ar., Cat., 57v)
Meîrugûasu (etim. - grande meru) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §2, 114)
membykambu (etim. - filho que mama) (s.) - lactente, criança de peito, filho que mama: Xe membykambu. - Meu filho que mama. (VLB, I, 86) ● i membykambuba'e - o que tem criança de peito, o que tem filho que mama: -Abá bépe n'oîabyî oîekuakube'yma? -I membykambuba'e. -Quem também não o transgride, não jejuando? -As que têm filhos que mamam. (Ar., Cat., 77v)
membykunhã (etim. - filha mulher) (s.) - 1) sobrinha, filha da irmã ou da prima (de m.); 2) enteada (de m.) (Ar., Cat., 114v; VLB, II, 119)
membykyra (etim. - filho tenro) (s.) - criança recém-nascida (VLB, II, 126)
membynhemonhangaba (etim. - lugar de se fazerem filhos) (s.) - vagina (Castilho, Nomes, 33)
membypitanga (etim. - filho criança) (s.) - filhinho(a), filho(a) bebê (de m.): Asé sy o membypitanga raûsuba sosé asé raûsume nhẽ. - Por nos amar mais do que nossa mãe ama seus próprios filhinhos. (Ar., Cat., 37)
membyra (etim. - sêmen do marido*) (s.) - 1) filho ou filha (em relação à mãe): ...I membyra rerobîá. - Acreditando no filho dela. (Anch., Teatro, 136); O membyra re'õ ré opabĩ abá raûsubi... - Após morrer seu filho, ama todos os homens. (Anch., Teatro, 156); Asaûsub nde membyrĩ. - Amo teu filhinho. (Anch., Poemas, 102); 2) afilhado ou afilhada (de m.) (Ar., Cat., 114v); 3) filhote (macho ou fêmea) de qualquer fêmea de animal (VLB, I, 139)
membyrakyrara (etim. - nascimento de filho tenro) (s.) - parto prematuro ou por aborto (VLB, II, 43)
membyrara (etim. - nascimento de filho) (s.) - parto: ...O membyrara kûab'iré, Santa Maria o membyra Îesus rerasóû Tupãokype... - Após passar seu parto, Santa Maria levou seu filho Jesus ao templo. (Ar., Cat., 3v); ...Santa Maria o membyrá-kakara omo'ã-mo'ang... - Santa Maria está supondo a aproximação de seu parto. (Ar., Cat., 9); (adj.: membyrar) - parturiente; (xe) - parir, dar à luz: Xe membyrar. - Eu dou à luz. (VLB, II, 66) ● i membyraba'e - a que dá à luz: -Abá abépe nd'oîabyî oîekuakube'yma? -Kunumĩ, kunhataĩ, ... i membyraba'e... -Quem mais não o transgride, não jejuando? -Os meninos, as meninas, as que dão à luz. (Anch., Diál. da Fé, 203); membyrasara - parida, mulher que gerou filhos (VLB, II, 66); membyrasaba - tempo, lugar, modo, etc. de parir, de dar à luz; parto: N'i tybi tugûy nde membyrasápe. Não houve sangue em teu parto. (Anch., Poemas, 118)
membyrasy (etim. - dor de filho) (s.) - dor de parto; (adj.) (xe) - ter dor de parto: I xy n'i membyrasyî... - Sua mãe não teve dor de parto. (Anch., Poemas, 162); Xe membyrasy. - Eu tenho dores de parto. (VLB, II, 66); A'epe muruapora membyrasy kakara, na nheangûaba bé ruã? - E a aproximação das dores de parto de uma grávida não é causa de se ter medo também? (Ar., Cat., 91)
membyra'ysé (etim. - parente dos filhos) (s.) - 1) enteado (de m.) (VLB, I, 118); 2) sobrinho (de m.), filho de sua irmã ou prima (Ar., Cat., 114v; VLB, II, 119)
membyre'yma (etim. - sem filhos) (s.) - fêmea estéril (VLB, II, 31); (adj.: membyre'ym) - estéril, sem filhos: ...kunhã-marangatu-membyre'yma... - mulher bondosa e estéril (Ar., Cat., 6v)
mendare'yma (etim. - o não casado) (s.) - solteiro (VLB, II, 120); (adj.: mendare'ym) - solteiro: Ereîkópe... abá-mendare'yma resé? - Tiveste relação sexual com pessoa solteira? (Ar., Cat., 103v)
menduba (etim. - pai de marido) (s.) - sogro (de m.) (Ar., Cat., 115)
mendy (etim. - mãe de marido) (s.) - sogra (de m.) (Ar., Cat., 115)
mene'õ (etim. - marido morto) (s.) - viúva; (adj.) - viúva; (xe) enviuvar, ser viúva: kunhã-mene'õ - mulher viúva (VLB, II, 147); Xe mene'õ. - Eu enviuvei. (VLB, I, 120) ● i mene'õba'e - viúva, a que é viúva: I mba'ee'ymba'e memetipó tube'yma i mene'õba'e bé asé serekomemûãmo. - Tratando-se mal os pobres e, principalmente, os órfãos e as viúvas. (Bettendorff, Compêndio, 17)
mene'yma (etim. - sem marido) (s.) - mulher solteira; solteira: Mene'yma resé oîkoba'e... oîaby-eté Tupã nhe'enga... - O que tem relações sexuais com uma solteira transgride muito a palavra de Deus. (Ar., Cat., 109)
menybyra (etim. - irmão de marido) (s.) - cunhado mais moço (de m.), irmão mais novo do marido (Ar., Cat., 115)
menyky'yra (etim. - irmão de marido) (s.) - cunhado mais velho (de m.), o irmão mais velho do marido (Ar., Cat., 115)
meriti'yba (etim. - pé de miriti) (s.) - MIRITI, BURITI, MERITI, palmeira altíssima de lugares alagados (Mauritia flexuosa L.), que fornece palmas para cobrir casas. Tem fruto do tamanho de um ovo grande, com casca avermelhada e com manchas pretas. Sua polpa é vermelha e dentro dela há uma noz doce. (D'Abbeville, Histoire, 221)
Metarapu'a (etim. - tembetá redondo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 182)
miapeatã (etim. - pão duro) (s.) - biscoito feito de mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); biju duro e torrado que se guarda por muito tempo [Vasconcelos, Crônica [Not.], II, § 74, 149]
miapeteka (etim. - o que é espalmado) (s.) - 1) bola de farinha-puba feita com as mãos e secada ao calor do sol (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); 2) bolota grande que faziam da mandioca curtida, com que depois davam cor à farinha de guerra (VLB, II, 71)
miaûsube'yma (etim. - não escravo) (s.) - forro, homem livre; mulher forra que nunca foi escrava (VLB, I, 142): Mbiaûsube'yma mbiaûsubeté resé omendaryba'e "-miaûsube'yma kó" o'îaba'upa, n'omendari... - O forro que se casou com uma escrava verdadeira, pensando falsamente "-eis que esta é forra", não se casou. (Ar., Cat., 131v)
mie'esaba (etim. - lugar de ralar) (s.) - instrumento utilizado para ralar a mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 66)
migûaîuba (etim. - biguá amarelo) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 98)
mimbaba1 (etim. - lugar de esconder) (s.) - esconderijo: ...Nd'e'ikatuî sesé omendá mimbápe serekó pukuî... - Não pode com ela casar-se enquanto a mantiver em esconderijo. (Ar., Cat., 128v)
mimbaba2 (etim. - objeto do esconder) (s.) - MUMBAVO, XERIMBABO, qualquer animal manso que o homem cria ou o animal que ele amansa; animal doméstico, animal caseiro (VLB, II, 31); criação: ...So'o mimbaba roka ogûar og upabamo... - Tomou a casa dos animais de criação como sua pousada. (Ar., Cat., 9v) [o mesmo que eîmbaba (t) - v.]
mimbabararõana (etim. - o que guarda as criações) (s.) - pastor de gado (VLB, II, 67)
mimbaberekoara (etim. - o que cuida das criações) (s.) - pastor de gado (VLB, II, 67)
mimbabetá (etim. - muitas criações) (s.) - rebanho (de gado) (VLB, II, 97)
mimbo'e (etim. - o ensinado; o que alguém ensina) (s.) - discípulo (VLB, I, 103) [V. tb. emimbo'e (t)]
mimbûaîa (etim. - o comandado) (s.) - moça de serviço doméstico (VLB, II, 39); moço que serve em casa como pajem; criado de mulher (VLB, II, 39); criado ou criada; serviçal (VLB, I, 86)
mimby1 (etim. - o que é soprado) (s.) - 1) apito (VLB, I, 38); 2) gaita (VLB, I, 146)
mimbyapara (etim. - flauta torta) (s.) - 1) var. de flauta de taquara dos índios (VLB, II, 137); 2) var. de trombeta (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
mimbygûasu (etim. - flauta grande) (s.) - 1) instrumento musical feito de concha (Vasconcelos, Crônica [Not.], §143, 107); 2) trombeta: A'ereme karaibebé ruri, te'õmbûera renõîa, mimbygûasu pŷabo. - Então os anjos virão, chamando os mortos, tocando trombetas. (Ar., Cat., 160v)
mimbypuku (etim. - flauta comprida) (s.) - var. de flauta de taquara dos índios (VLB, II, 137)
mimotara (etim. - o que se quer) (s.) - desejo (VLB, I, 98) [V. tb. emimotara (t)]
mimuku (etim. - estrepe comprido) (s.) - lança, lança longa (VLB, II, 18): -Mba'e-mba'epe i popesûaramo? -Mimuku-katupabẽ ... -Que havia como seus objetos de mão? -Muitíssimas lanças... (Ar., Cat., 54)
minga'upomonga (etim. - mingau viscoso) (s.) - var. de mel silvestre (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
minusu (etim. - estrepe grande) (s.) - lança: Minusu pupé iî yké kutuki... - Com uma lança espetaram seu flanco. (Anch., Diál. da Fé, 192)
miraibora (etim. - o que tem pele ruim) (s.) - 1) doente de bexigas, de varíola (Anch., Arte, 31); 2) leproso (VLB, II, 20)
mi'umoîypaba (etim. - lugar de cozer a comida) (s.) - cozinha (VLB, I, 85)
mi'umoîypara (etim. - o que coze a comida) (s.) - cozinheiro (VLB, I, 85)
mixysaba (etim. - instrumento de assar) (s.) - espeto (VLB, I, 126)
moabaibe'ym (etim. - tornar sem dificuldades) (v.tr.) - tornar possível: ...Mba'e i abaiba'e moabaibe'yma... - Tornando possíveis coisas que são difíceis. (Ar., Cat., 58v)
moapysakûaîe'o (etim. - fazer cerrarem-se os buracos das orelhas) (v.tr.) - ensurdecer (VLB, I, 118)
moapysakûakanhem (etim. - fazer desaparecer os buracos das orelhas) (v.tr.) - ensurdecer (VLB, I, 118)
moatãe'ym (etim. - tornar sem força) (v.tr.) - enfraquecer: Oîopyk muru akanga, i moatãe'ỹngatûabo. - Aperta a cabeça do maldito, enfraquecendo-o muito. (Anch., Poemas, 180)
moa'ypab (etim. - fazer esgotar o sêmen de) (v.tr.) - esfalfar: Aîmoa'ypab. - Esfalfei-o. (VLB, I, 124)
mo'ekatu (etim. - fazer poder) (v.tr.) - dar jeito a, dar possibilidade a, favorecer: Na xe mo'ekatuî. - Não me dá possibilidade. (VLB, I, 129)
moîekuab (etim. - fazer conhecer-se) (v.tr.) - mostrar, evidenciar: Peîmoîekuakatu aîpó Santíssima Trindade rekó. - Mostrai bem o que é essa Santíssima Trindade. (Anch., Doutr. Cristã, I, 134); Tupã raûsupareté oîmoîekuabukar o Tupã raûsuba. - Os que amam verdadeiramente a Deus fazem evidenciar seu amor a Deus. (Bettendorff, Compêndio, 111)
moingatu (etim. - fazer estar bem) (v.tr.) - guardar; firmar: ...Xe nhy'ãme t'ereîké, xe py'a moingatûabo. - Que entres no meu coração, guardando bem meu interior. (Anch., Poemas, 130)
moîuraragûaî (etim. - tornar mentira) (v.tr.) - desmentir (ao que fala) (VLB, I, 99)
moîurué (etim. - fazer a boca ter gosto) (v.tr.) - fazer apetecer; fazer ter vontade de comer; fazer ter apetite: Aîmoîurué. - Fi-lo ter vontade de comer. (VLB, I, 98)
mokaba (etim. - instrumento de estouro) (s.) - arma de fogo; artilharia, bombarda (VLB, I, 57); tiro de arma de fogo (VLB, II, 129): -Esenõî mbá!... -Mokaba, mororokaba, mokaku'i-uru. -Nomeia tudo. -Armas de fogo, explosivos, recipientes de pólvora. (Léry, Histoire, 343-344); Saûsupara, aîuruîuba, mokaba ogûeru tenhẽ... - Seus amigos, os franceses, trouxeram armas de fogo em vão. (Anch., Teatro, 52)
mokaba'ynha (etim. - caroço de instrumento de estouro) (s.) - pelouro, bola de metal para arma de fogo (VLB, II, 71)
mokabusu (etim. - grande instrumento de estouro) (s.) - bombarda (VLB, I, 57)
mokabusumirĩ (etim. - pequena bombarda) (s.) - bombarda, peça de artilharia curta conhecida no passado como berço (VLB, I, 57)
mokaîe'yba (etim. - pé de macaé) (s.) - MOCAJAÍBA, MACAÚBA, BOCAIÚVA, nome comum a certas palmeiras do gênero Acrocomia, principalmente a Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart., também chamada MACAÉ, MACAÚVA, MACAÍBA, MACACAÚBA, MACAIBEIRA, MUCAJÁ, MUCAIA, MUCAJUBA (D'Abbeville, Histoire, 224)
mokakûara (etim. - buraco do instrumento de estouro) (s.) - bombardeira, abertura no muro para colocar a boca do canhão (VLB, I, 57)
mokaku'i (etim. - pó de instrumento de estouro) (s.) - pólvora: -Esenõî mbá!... -Mokaba, mororokaba, mokaku'i-uru. -Nomeia tudo. -Armas de fogo, explosivos, recipientes de pólvora. (Léry, Histoire, 343-344)
mokambûara (etim. - a que faz beber leite) (s.) - ama-de-leite (VLB, I, 33)
mokamembyra (etim. - filho de arma de fogo) (s.) - fogo de artifício (VLB, I, 64)
mokamondykara (etim. - o que acende o instrumento de estouro) (s.) - bombardeiro, o que assesta e aponta para atirar (VLB, I, 57)
moko'em (etim. - fazer amanhecer) (v.tr.) - tranquilizar, serenar (VLB, I, 45)
mokõmokõîsyk (etim. - dois e dois no total) (num.) - quatro (VLB, I, 154)
mokûar (etim. - fazer buraco) (v.tr.) - furar: Aîmokûar. - Furei-o. (VLB, I, 60); Ereîmombukype kunhataĩ amõ, i mokûá...? - Desvirginaste alguma menina, furando-a? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89)
mokunhã (etim. - tornar mulher) (v.tr.) - alforriar (uma escrava) ● i mokunhãmbyra - a que é (ou deve ser) alforriada (VLB, I, 142)
mokunhãeté (etim. - tornar mulher normal) (v.tr.) - alforriar (uma escrava) ● i mokunhãetepyra - a que é (ou deve ser) alforriada (VLB, I, 142)
mombe'uabaíb (etim. - contar com dificuldade) (v.tr.) - confundir, misturar (uma coisa com outra quando se conta algo) (VLB, I, 80)
mombe'uaíb (etim. - contar mal) (v.tr.) - difamar, dizer mal de: Aîmombe'uaíb. - Digo mal dele. (VLB, II, 28)
mombe'uporang (etim. - proclamar belamente) (v.tr.) - louvar (VLB, II, 24) ● i mombe'uporangymbyra - o que é (ou deve ser) louvado (VLB, II, 24)
momburu'aba (etim. - consequência do engravidar) (s.) - feto: Peín pe îara momburu'abamo nhẽ. - Estais na condição de fetos de vosso senhor. (Ar., Cat., 85v)
mondarõagûera (etim. - o que foi consequência de uma traição) (s.) - filho adulterino, filho bastardo (Anch., Cartas, 458)
mondok (etim. - fazer quebrar-se) (v.tr.) - 1) cortar [p.ex., vergas, cordas, varas, pau já derrubado, a garganta de alguém (com instrumento cortante), uma fila de pessoas, etc.]: S. Pedro itangapema osekyî... i nambi mondoka. - São Pedro puxou a espada..., cortando sua orelha. (Ar., Cat., 54v); Aîakã-mondok. - Cortei-lhe a cabeça. (VLB, I, 92); Asysy-mondok. - Cortei a fila deles. (VLB, I, 83); ...I 'apira mondoki. - Cortaram seu prepúcio. (Ar., Cat., 3); Aîpi-mondok. - Corto-lhe a pele. (Anch., Arte, 51); ybyrá mondoka - cortar árvores (D'Evreux, Viagem, 144); 2) quebrar (como corda, linha, etc.) (VLB, II, 93); 3) interromper (VLB, II, 13): 4) entalhar (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277) ● mondokara - o que corta, o que quebra, etc.; mondokaba - tempo, lugar, modo, etc. de cortar, de quebrar, etc. (Fig., Arte, 119)
mongu'i (etim. - tornar pó) (v.tr.) - moer, pulverizar (com pedra ou moinho) (VLB, II, 40) ● i mongu'ipyra - o que é (ou deve ser) moído (VLB, II, 40)
monhangaba (etim. - instrumento de fabricar) (s.) - forma (de pão, de modelar, etc.) (VLB, I, 142)
monhangypy (etim. - fazer primeiro) (v.tr.) - introduzir, inventar (VLB, II, 13)
monharõ1 (etim. - fazer investir) (v.tr.) - fazer isca ou chamariz para, atrair (a caça ou as aves com assobios ou reclamos) (VLB, II, 48): Ereîmonharõpe kunhã amõ nde rapixara pyri? - Atraíste alguma mulher para junto de teu próximo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
monharõ2 (etim. - fazer investir) (v.tr.) - provocar (VLB, II, 89); fazer ficar bravo (VLB, II, 95); irritar, açular (p.ex., o animal, para que arremeta) (VLB, II, 89)
monheãîãî (etim. - ficar fazendo dentes) (v.tr.) - fazer mossas no gume ou fio de (ferramentas) (VLB, II, 43)
monhemombe'u (etim. - fazer confessar-se) (v.tr.) - confessar, ouvir confissão: ...Asé monhemombegûabo... - Confessando a gente. (Ar., Cat., 93v) ● monhemombe'ûara (ou monhemombegûara) - confessor, o que ouve a confissão de: ...o monhemombe'ûarama resé oîkotebẽmo... - ...tendo falta de um confessor seu... (Ar., Cat., 76); monhemombegûaba - tempo, lugar, modo, etc. de confessar; confissão: Ereîmombe'upe abá rera abaré nde monhemombegûápe...? - Contas o nome de alguém quando te confessa o padre? (Ar., Cat., 108)
monhemũ (etim. - fazer parentes) (v.tr.) - pacificar, reconciliar: Aîmonhemũ. - Reconciliei-os. (Fig., Arte, 112)
monheran (etim. - fazer atacar) (v.tr.) - fazer irritar-se, provocar (p.ex., um animal para que arremeta) (VLB, II, 89)
moropeteka (etim. - bate gente) (s.) - MORUPETECA, formiga-correição; o mesmo que gûaîu-gûaîu (v.) (VLB, I, 142)
mopiririk (etim. - fazer faiscar) (v.tr.) - fazer estalar: Aîepó-mopiririk. - Faço-me estalar as mãos. (VLB, I, 68)
mopoîoybyr (etim. - fazer ficar as fibras lado a lado) (v.tr.) - dobrar (uma só vez), duplicar (p.ex., fio, pano) (VLB, I, 105)
mopok (etim. - fazer estourar) (v.tr.) - disparar (tiro) (VLB, I, 100)
mopopyatambab (etim. - tornar mãos e pés completamente duros) (v.tr.) - 1) vencer a braços, vencer à força de braços (VLB, I, 141); 2) cansar, enfraquecer (VLB, I, 65)
mopopytun (etim. - fazer escurecer as fibras) (v.tr.) - tapar (um pano ou aquilo que se tece) (VLB, II, 124)
mopukusam (etim. - fazer as pernas terem cordas) (v.tr.) - prender, amarrar pelos pés, pôr trava nos pés de (VLB, I, 46)
moputupab (etim. - fazer cessar a respiração) (v.tr.) - espantar, assombrar: ...Opá îandé moputupabymo... - A todos nós espantaria. (Ar., Cat., 165v)
mopyatã (etim. - fazer pé firme) (v.tr.) - fazer valente, animar (VLB, I, 36); encorajar, tornar corajoso, fortalecer: Xe mopyatã îepé... - Faze-me tu valente. (Anch., Poemas, 144); A'e pe mopyatã. - Ele vos fortalece. (Anch., Teatro, 50) ● mopyatãsaba (ou mopyatãaba) - tempo, lugar, modo, meio, etc. de encorajar, etc., encorajamento: ...asé mopyatãgûama resé. - ...para nosso encorajamento. (Ar., Cat., 82v)
mopysakang (etim. - fazer tropeços) (v.tr.) - dar tropeçada em (VLB, I, 112)
moran1 (etim. - tornar falso) (v.tr.) - fingir, simular: Aîmorã-moran. - Fiquei-o simulando. (VLB, I, 139; II, 65)
morandupapabẽ (etim. - notícia de todos) (s.) - coisa notória por fama, coisa pública (VLB, II, 51)
morerekoara1 (etim. - o que está com as pessoas) (s.) - guardião, o que cuida, o que agasalha, o responsável [por algo ou por alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Eresaûsubápe nde sy nde ruba i mba'easy tume, sesé nde morerekoaramo...? - Tens compaixão de tua mãe e de teu pai quando eles estão deitados, doentes, sendo responsável por eles? (Ar., Cat., 101); (adj.: morerekoar) - agasalhador, guardião (VLB, I, 23): Nde morerekoar xe ri... - Tu és guardião de mim. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618)
moroîubykaba (etim. - lugar de enforcar gente) (s.) - forca (VLB, I, 141)
moroîubykatyba (etim. - instrumento costumeiro de enforcar gente) (s.) - algoz, enforcador por ofício (VLB, I, 31)
morombo'esaba1 (etim. - instrumento de ensinar pessoas) (s.) - ensinamento: ...Tupã nhe'enga morombo'esaba - ensinamento da palavra de Deus (Ar., Cat., 66)
morombo'esaba2 (etim. - lugar de ensinar gente) (s.) - escola (VLB, I, 123)
moronambiokaba (etim. - lugar de arrancar a orelha das pessoas) (s.) - pelourinho (VLB, II, 71)
moronupãsaba (etim. - instrumento de castigar gente) (s.) - chicote (VLB, I, 49)
moropopûasaba (etim. - instrumento de amarrar as mãos das pessoas) (s.) - algemas (VLB, I, 31)
moroposanongara (etim. - o que põe remédio em gente) (s.) - médico (VLB, I, 140)
moropotaraba (etim. - o desejo de gente) (s.) - desejo sensual: moropotaragûera posanga - remédio de nossos antigos desejos sensuais (Ar., Cat., 92)
moropotare'yma (etim. - o não desejar gente) (s.) - pureza; castidade (Bettendorff, Compêndio, 20): Moropotara robaîara moropotare'yma. - O oposto do desejo sensual é a pureza. (Ar., Cat., 18)
moropûasaba (etim. - instrumento de amarrar as pessoas) (s.) - algemas (VLB, I, 31)
moropysykara (etim. - o prendedor de gente) (s.) - oficial de justiça (que prende pessoas) (VLB, I, 54)
mororokaba (etim. - instrumento de explosão) (s.) - bombarda (VLB, I, 57); tiro de arma de fogo (VLB, II, 129); explosivo, bomba; artilharia: -Esenõî mbá!... -Mokaba, mororokaba, mokaku'i-uru. -Nomeia tudo. -Armas de fogo, explosivos, recipientes de pólvora. (Léry, Histoire, 343-344)
mororokaba'ynha (etim. - caroço de instrumento de explosão) (s.) - pelouro, bola de metal de qualquer tiro de fogo (VLB, II, 71)
mororokaku'i (etim. - pó de instrumento de explosão) (s.) - pólvora (VLB, II, 80)
morosogûara (etim. - o que convida gente) (s.) - mensageiro (que convida para festas) (VLB, II, 35)
Moroupîarûera (etim. - o antigo adversário das pessoas) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 130, 2006)
moruru (etim. - fazer inchar) (v.tr.) - amolentar, pondo de molho (p.ex., o couro) (VLB, I, 34); empapar
mosam (etim. - fazer ter corda) (v.tr.) - atar, amarrar com corda, encabrestar (p.ex., um cavalo) (VLB, I, 47)
mosykyakanitara (etim. - medusa de canitar, de cocar) (s.) - var. de fitozoário; medusa (VLB, I, 67)
mosykypyranga (etim. - medusa vermelha) (s.) - var. de fitozoário; medusa (VLB, I, 67)
moti'apeba (etim. - peito achatado) (s.) - var. de caranguejo (VLB, I, 67)
motuîuk (etim. - fazer água podre) (v.tr.) - enlamear: ...Asé 'anga motuîukukare'yma... - Para não fazer enlamear a alma da gente. (Ar., Cat., 81v)
motumung (etim. - fazer estremecer) (v.tr.) - sacudir (VLB, I, 17; II, 110)
motyb (etim. - fazer haver) (v.tr.) - fazer caso de, acatar, respeitar, ter em conta; prezar: -Marãpe Herodes serekó-ukari a'ereme? -N'oîmotybi... -Como Herodes, então, o fez tratar? -Não o respeitou... (Ar., Cat., 59); Aûîé, kó temiminõ nd' ogûari Tupã rekó, nd'osaûsubi, n'omotybi... - Enfim, esses temiminós não tomam a lei de Deus, não a amam, não a acatam... (Anch., Teatro, 20)
motykyr (etim. - fazer gotas) (v.tr.) - destilar (VLB, I, 129)
mourué (etim. - tornar os recipientes diferentes) (v.tr.) - apartar, separar: ...Îarekó é rakó mba'e-katu i poxyba'e suí i mouruébo. - Tenhamos, de fato, as coisas boas, apartando-as do que é mau. (Ar., Cat., 89)
mo'ybatatã (etim. - tornar pau duríssimo) (v.tr.) - tornar rígido, tornar duro; dificultar: ...Nhemondîara mo'ybatatãmo... - Dificultando a primeira menstruação. (Ar., Cat., 66v)
moybysok (etim. - fazer socar a terra) (tr.) - fincar no chão (VLB, I, 139)
moyku (etim. - tornar líquido) (v.tr.) - derreter (cera, metal, etc.) (VLB, I, 95)
mo'ypiting (etim. - tornar a água pintada) (v.tr.) - turvar a água de: Aîmo'ypiting. - Turvei sua água. (VLB, II, 138)
Mo'ytinga (etim. - contas brancas) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184)
mo'ytykyr (etim. - fazer gotas d'água) (v.tr.) - destilar (VLB, I, 129)
mo'y'useî (etim. - fazer querer beber água) (v.tr.) - fazer ter sede: Kûarasy... oporomo'y'useîeté. - O sol faz as pessoas terem muita sede. (Ar., Cat., 164)
mu'amara (etim. - o que se opõe) (s.) - oponente: I aûîé mu'amarûera... - Renderam-se os oponentes. (Anch., Teatro, 52) (v. tb. pu'am2)
mûãnha'ã (etim. - manilha de dedo) (s.) - anel (VLB, I, 36)
mukunagûasu (etim. - mucuná grande) (s.) - MUCUNÁ-GUAÇU, variedade de mucuná (v.), com fava de grande beleza e tamanho, de virtudes nocivas (Piso, De Med. Bras. III, 175; Brandão, Diálogos, 196)
mundekûara (etim. - buraco de mundéu) (s.) - prisão (VLB, II, 137)
mundeoka (etim. - casa de prisão) (s.) - prisão, cadeia, presídio (VLB, I, 62): Abá-mondá ...mundeokype i mondebypyrûera. - Um ladrão que fora posto na prisão. (Ar., Cat., 59v)
mundepora (etim. - morador de prisão) (s.) - prisioneiro: ...Mundepora amõ îepé peîmosemukar ixébe îepi... - Um prisioneiro fazeis-me sempre libertar. (Ar., Cat., 59v)
mundubigûasu (etim. - mundubi grande) - o mesmo que munduigûasu (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 96)
muresigûasu (etim. - murici grande) (s.) - var. de MURICI, nome comum a várias árvores e arbustos (v. murisi) (Piso, De Med. Bras. IV, 188)
muruanha (etim. - biru dentado) (s.) - MERUANHA, BERUANHA, BIRONHA, MURUANHA, BERONHA, variedade de mosca, menor que a mutuca e azulada, da família dos muscídeos. Suga o sangue de animais, provocando feridas. (Sousa, Trat. Descr., 241)
murukuîaeté (etim. - maracujá verdadeiro) (s.) - variedade de MARACUJÁ, planta da família das passifloráceas, do gênero Passiflora (Piso, De Med. Bras., 197-198)
murukuîamirĩ (etim. - maracujá pequeno) (s.) - MARACUJÁ-MIRIM, a espécie mais comum de maracujá (Passiflora edulis Sims), planta trepadeira da família das passifloráceas. Considerava-se ter propriedades abortivas e medicinais. (Piso, De Med. Bras., IV, 198)
murukuîamixyra (etim. - maracujá cozido) (s.) - variedade de MARACUJÁ (Brandão, Diálogos, 212)
murukuîapiruna (etim. - maracujá de pele escura) (s.) - variedade de MARACUJÁ, planta da família das passifloráceas, do gênero Passiflora (Piso, De Med. Bras., 197-198)
murukuîaúna (etim. - maracujá escuro) (s.) - variedade de MARACUJÁ (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §78, 151)
murukuîayperoba1 (etim. - maracujá da casca amarga) (s.) - variedade de MARACUJÁ, MARACUJÁ-PEROBA (Brandão, Diálogos, 212)
Murukuîayperoba2 (etim. - maracujá da casca amarga) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 182v)
musurana (etim. - falso muçum) (s.) - MUÇURANA, MAÇARANA, corda tecida com que se amarrava pela cintura o prisioneiro num sacrifício ritual (Staden, Viagem, 90; Sousa, Trat. Descr., 312, 324): Tataûrana, eru ké nde musurana! - Tataurana, traze aqui tua muçurana! (Anch., Teatro, 64); Kó xe musuranusu. - Eis aqui minha grande muçurana. (Anch., Teatro, 64)
mutugûaba (etim. - tempo de descanso) (s.) - festa religiosa, feriado religioso, dia santo (VLB, I, 138)
mutukusu (etim. - mutuca grande) (s.) - MUTUCUÇU, mosca de gado, inseto da família dos tabanídeos (VLB, II, 43)
mutumutuka (etim. - muitas mutucas) (s.) - 1) broca de furar, furador de alfaiate (VLB, I, 60; 145); furador com que os índios furavam as contas (VLB, I, 145); 2) punção (VLB, II, 89)
mutupapaba (etim. - esgotamento do fôlego) (s.) - coisa maravilhosa (VLB, II, 32) [v. putupaba (m)]
myîu'itinga (etim. - andorinha branca) (s.) - var. de andorinha (VLB, I, 36)
mytaîurá (etim. - jirau de andaimo) (s.) - andaimo no mato para esperar caça (VLB, I, 35)
mytamytá (etim. - andaimos e andaimos) (s.) - escada: mytamytá-ypy - topo de escada (VLB, II, 132)
mytapuku (etim. - andaimo comprido) (s.) - baluarte ou guarita (VLB, I, 51, 86); cubelo, torreão que, nas fortificações antigas, acompanhava o lanço dos muros (VLB, I, 86)
mytũporanga (etim. - mutum bonito) (s.) - MUTUMPORANGA, ave galiforme da família dos cracídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 195)
nambipaîa (etim. - carga de orelha) (s.) - objetos que se penduravam nas orelhas, do comprimento aproximado de um palmo, roliços e da grossura de um dedo polegar; orelheira (Staden, Viagem, 149).
nambipora (etim. - o que está na orelha) (s.) - orelheira de ossos de búzios muito compridos ou de pedra que chegam aos ombros ou passam deles (VLB, I, 42)
nambipupîara (etim. - o que está na orelha) (s.) - orelheira, arrecada (VLB, II, 58)
nanaka'apora (etim. - ananás habitante do mato) (s.) planta bromeliácea (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 78)
nariréî (etim. - não depois) (adv.) - o mais cedo possível, em um momento, imediatamente (VLB, I, 36)
nongatu (etim. - colocar bem) (v.tr.) - 1) amansar; pacificar, aplacar, deixar sossegado; aquietar (VLB, II, 94); 2) bem colocar; guardar; 3) reconciliar: Anhonongatu o îoupé. - Reconciliei-os um com o outro. (VLB, I, 34); 4) remediar (VLB, II, 100); 5) reformar (p.ex., os costumes, os atos): Asekó-nongatu. - Reformei seus atos. (VLB, II, 99) ● onongatuba'e - o que amansa, o que aquieta, o que deixa sossegado, o que guarda, etc.: A'epe bé kunumĩ, kunhataĩ, kunhãmuku Tupã resé ogûeté onongatuba'epûera rekóû. - Ali também estão os meninos, as meninas, as moças que guardaram seus corpos em Deus. (Ar., Cat., 168v); nongatusara (ou nongatûara) - o que amansa, o que aquieta, o que guarda; o que pacifica, o que reconcilia, o medianeiro (VLB, II, 127): A'epe bé ogûekokatu pupé o 'anga nongatusarûera... oína. - Ali também estando os que guardaram sua alma em sua virtude. (Ar., Cat., 168v); nongatûaba - tempo, lugar, modo, etc. de amansar, de reconciliar, de remediar, de bem colocar, etc.: Ybaka aé Tupã îandé resé i nhemosako'îaba, îandé mba'ekaturama nongatûaba re'a... - O próprio céu é o que Deus prepara para nós, lugar em que bem coloca nossa felicidade futura. (Ar., Cat., 167)
nha'ẽpepó (etim. - prato de asa) (s.) - panela (VLB, II, 63; Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §140, 106)
nha'ẽpygûaîa (etim. - prato côncavo) (s.) - tigela de comer, prato fundo (VLB, II, 128)
nha'ẽpyko'ẽ (etim. - prato côncavo) (s.) - tigela de comer, prato fundo (VLB, II, 128)
nha'ẽpykytykaba (etim. - instrumento de esfregar o interior do prato) (s.) - esfregão, escova ou bucha de esfregar pratos (VLB, I, 124)
nha'ẽpyúna (etim. - bacia de fundo escuro) (s.) - forno de fazer farinha (VLB, I, 142)
nha'erupaba (etim. - lugar de estarem os pratos) (s.) - armário de louça (VLB, I, 32)
nhambugûasu1 (etim. - nhambu grande) (s.) - NHAMBUGUAÇU, INAMBUGUAÇU, ave da família dos tinamídeos, de matas virgens, que aparecia em todo o Brasil, sendo também chamada INHAMBUGUAÇU, NAMBUGUAÇU, INAMUGUAÇU (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 77)
nhambugûasu2 (etim. - nhambu grande) (s.) - mamoneira, carrapateira ou rícino, nome comum a várias plantas euforbiáceas, dentre as quais a espécie Ricinus communis L. (Piso, De Med. Bras., IV, 192-193)
nhanduabiîu (etim. - aranha peluda) (s.) - NHANDUABIJU, escorpião-vinagre, aracnídeo da ordem dos pedipálpidos. "São todos cheios de pêlo e muito peçonhentos, cujas mordeduras são mui perigosas." (Sousa, Trat. Descr., 268)
nhanduapu'a (etim. - nhandu redondo) - o mesmo que îabyrugûasu (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 200)
nhandugûasu1 (etim. - aranha grande) (s.) - NHANDU-AÇU, aranha caranguejeira, nome comum a certos insetos terafosídeos, de hábitos solitários, carnívoros. Seu pelo causa irritação na pele humana. Alimentam-se de pequenos animais. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 248)
nhandugûasu2 (etim. - nhandu grande) (s.) - NHANDUGUAÇU, NANDU, ema, ave reiforme, da família dos reídeos (Rhea americana L.), dos campos e cerrados do Brasil. Vive em bandos, alimentando-se de frutos e de pequenos animais. Os ovos botados pela fêmea são chocados pelo macho. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 190)
nhandy'a (etim. - fruto de azeite) (s.) - azeitona (VLB, I, 49)
nhandyeté (etim. - óleo muito bom) (s.) - azeite de coco (VLB, I, 49)
nhandynema (etim. - óleo fedorento) (s.) - óleo de tubarão ou de baleia (VLB, I, 49)
nhandyroba (etim. - óleo amargo) (s.) - NHANDIROBA, NHANDIROVA; o mesmo que îandyroba (v.)
nhandy'yba (etim. - planta de azeite) (s.) - oliveira; toda planta que dá azeite (VLB, II, 56)
nhati'ũasu (etim. - jatium grande) (s.) - variedade de pernilongo (Sousa, Trat. Descr., 243)
nhau'ũgûara (etim. - comedor de barro) (s.) - barreiro, lugar donde se tira barro (VLB, I, 52)
nheambubok (etim. - arrancar-se o monco) (v. intr.) - assoar-se (o nariz) (VLB, I, 45)
nheangerekó2 (etim. - estar com seus pensamentos) (s.) - cuidado, preocupação, consideração: ...Ogûe'õnama resé nheangerekó n'oîkuabi... - Não conhece a preocupação com sua própria morte. (Ar., Cat., 155)
nhe'ẽe'yma (etim. - sem palavras) (s.) - silêncio (VLB, II, 117)
nhe'ẽkurukuruka (etim. - palavras resmungonas) (s.) - resmungão; (adj.: nhe'ẽkurukuruk) - resmungão; (xe) resmungar: Xe nhe'ẽkurukuruk. - Eu resmungo. (VLB, II, 101)
nhe'ẽmbyk (etim. - entalar as palavras) (v.tr.) - deixar atônito, deixar sem palavras: Xe nhe'ẽmbyk ahẽ. - Ele me deixou sem palavras. (VLB, I, 110)
nhe'ẽmemûã (etim. - palavras más) (s.) - reprovação, maledicência; (adj.) - reprovador; (xe) reprovar; dizer mal [de alguém: compl. com esé (r, s)]: Xe nhe'ẽmemûã (abá) resé. - Eu digo mal do homem. (VLB, II, 28, adapt.)
nhe'ẽmonhang (etim. - fabricar palavras) (v.tr.) - urdir palavras, inventar palavras, inventar (que alguém disse algo): "-E'i kó nde resé onhe'enga" eré tenhẽpe, abá nhe'ẽmonhã-tenhẽmo...? - Disseste falsamente: "-Disse isso, falando a teu respeito", urdindo palavras de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100) ● oînhe'ẽmonhangyba'e - o que urde palavras: Abá oînhe'ẽmonhã-monhangyba'e. - O que fica urdindo as palavras de alguém. (Anch., Diál. da Fé, 215)
nhe'engaba1 (etim. - modo de falar) (s.) - refrão, provérbio (VLB, II, 105)
nhe'engaba2 (etim. - instrumento de mensagens) (s.) - intriguista, mentiroso: Eresekyîpe îuraragûaîa abá supé... i moamo... nhe'engabamo serekó-uká...? - Urdiste mentiras contra alguém, envergonhando-o, fazendo-o ser tratado como mentiroso? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
nhe'engagûera (etim. - o que foi uma fala) (s.) - recado (em mau sentido, isto é, de alcoviteira) (VLB, II, 98)
nhe'engaíba1 (etim. - o das palavras incompletas) (s.) - gago; (adj.: nhe'engaíb): Xe nhe'engaíb. - Eu sou gago. (D'Evreux, Viagem, 157)
nhe'engaíba2 (etim. - discurso ruim) (s.) - maledicência, vitupério, injúria; (adj.: nhe'engaíb) - maldizente; (xe) dizer palavras más, falar mal, murmurar: Mba'epoxy koty onhe'engaíbamo... - Dizendo palavras más acerca de coisas nojentas... (Ar., Cat., 71v); Xe nhe'engaíb (abá) resé. - Eu falo mal do homem. (VLB, I, 134, adapt.)
nhe'engaipaba (etim. - maldade de palavras) (s.) - vitupério, injúria: Nd'oîmoasyîpe amõ o nhe'engaibagûera iî a'o ré? - Não se arrependeram alguns de seus vitupérios após o injuriarem? (Ar., Cat., 63)
nhe'engapaparaíba (etim. - o mau contador de mensagens) (s.) - gabola, mentiroso; (adj.: nhe'engapaparaíb): -Nde nhe'engapaparaípe mba'epoxy resé nde ma'enduaramo? - Tu foste gabola, lembrando-te de coisas más? (Anch., Doutr. Cristã, II, 92)
Nhe'engaroby (etim. - cantiga azul) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
nhe'engaryryî (etim. - cantar tremendo) (v. intr.) - gargantear, trinar com a voz, cantando (VLB, I, 146)
nhe'engasara (etim. - o que canta) (s.) - músico; cantor (VLB, II, 45)
nhe'engatã (etim. - falar duramente) (v. intr. compl. posp.) - gritar (com alguém: compl. com supé): Anhe'engatã (abá) supé. - Gritei com o homem. (VLB, I, 59, adapt.) ● nhe'engatãndûera - pessoa que grita muito, gritador, bradador: Xe nhe'engatãndûer. - Eu sou gritador. (VLB, I, 59)
nhe'engerekoaba (etim. - guarda de palavras) (s.) - omissão (de palavras): Ene'ĩ a'e nde nhe'engerekoagûera papasaba mombegûabo rõ. - Eia, pois, confessa o número daquelas tuas antigas omissões. (Ar., Cat., 98)
nhe'engerekoara1 (etim. - o que tem discursos) (s.) - arauto; porta-voz (VLB, I, 134)
nhe'engerekoara2 (etim. - o que tem as palavras) (s.) - intérprete, tradutor (VLB, II, 13): abaré nhe'engerekoara - o tradutor do padre (VLB, II, 22)
nhe'engetá (etim. - muitas palavras) (s.) - desatino, palavra desatinada; (adj.) - desatinado; (xe) ter palavras desatinadas: Xe nhe'engetá. - Eu tenho palavras desatinadas. (VLB, I, 96)
nhe'enge'yma (etim. - sem palavras) (s.) - mudo (D'Evreux, Viagem, 157)
nhe'engu (etim. - o come-palavras) (s.) - o que não fala, o mudo (VLB, II, 43)
nhe'engûera (etim. - o que foram palavras) (s.) - recado (que se manda) (VLB, II, 98)
nhe'engybõ (etim. - flechar palavras) (v.tr.) - ferir com palavras, ofender: Ereînhe'engybõpe nde ruba...? - Ofendeste teu pai? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86)
nhe'ẽnhe'enga (etim. - ficar falando) (s.) - discurso, sermão, NHENHENHÉM: ...abaré nhe'ẽnhe'enga renduba... - ouvir o sermão do padre (Ar., Cat., 12)
nhe'ẽnhe'engaba (etim. - lugar de ficar falando) (s.) - púlpito (VLB, II, 89)
nhe'ẽpoepyk (etim. - revidar as palavras) (v.tr.) - 1) replicar a, responder a: Aînhe'ẽpoepyk Pero. - Replico a Pero. (VLB, II, 101); 2) discutir com, altercar com (VLB, I, 33) ● nhe'ẽpoepykaba - tempo, lugar, modo, etc. de replicar, de responder, de discutir; réplica; resposta; discussão (VLB, II, 101)
nhe'ẽpokarugûara (etim. - sagacidade de palavras) (s.) - manha (nas palavras); (adj.: nhe'ẽpokarugûar) - manhoso em palavras: Xe nhe'ẽpokarugûá-katu. - Eu sou muito manhoso em palavras. (VLB, II, 31)
nhe'ẽporanga (etim. - palavras bonitas) (s.) - gabola, bom falador (D'Evreux, Viagem, 158)
nhe'ẽporangaíba (etim. - palavras bonitas ruins) (s.) - palavras de rufianice, palavras de sexo, de coisas sensuais; (adj.: nhe'ẽporangaíb) (xe) - ter palavras de sexo, de coisas sensuais: Xe nhe'ẽporangaíb (abá) supé. - Eu tenho palavras de sexo para as pessoas. (VLB, I, 34; II, 109, adapt.)
nhe'ẽporoîukaíba (etim. - palavras que matam gente não completamente) (s.) - agressão (com palavras); (adj.: nhe'ẽporoîukaíb) - agressivo (nas palavras); (xe) fazer agressão com palavras, falar brioso: Nde nhe'ẽporoîukaípe abá supé? - Tu fizeste agressão com palavras a alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
nhe'ẽpyo'u (etim. - comer numerosas palavras) (s.) - rouquidão; (adj.) - Xe nhe'ẽpyo'u. - Eu estou rouco. (VLB, I, 117)
nhe'ẽrueru (etim. - ficar vindo com as palavras) (s.) - gagueira; gago; (adj.) - gago: Xe nhe'ẽrueru. - Eu sou gago. (VLB, I, 146)
nhembo'e1 (etim. - o instruir-se) (s.) - 1) doutrina (VLB, I, 106); 2) aprendizagem: nhembo'e-irũ - companheiro de aprendizagem, condiscípulo (VLB, I, 79); (adj.) - que aprende, aprendiz: kunumĩ-nhembo'e - moço que aprende, moço aprendiz (Anch., Arte, 32)
nhembo'e2 (etim. - o instruir-se) (v. intr. compl. posp.) - aprender; exercitar-se [compl. com esé (r, s)]: Onhembo'e Tupã nhe'enga o emierobîarama resé... - Aprende acerca da palavra de Deus, em que crerá. (Ar., Cat., 80v); N'osa'angi-te-p'akó nhembo'e ko'arapukuî? - Mas não tentam esses aprender sempre? (Anch., Teatro, 30) ● nhembo'esaba (ou nhembo'eaba) - tempo, lugar, objeto, etc. do aprender; o que alguém aprende: Eîporu nde nhembo'eagûera. - Pratica o que tu aprendeste. (VLB, I, 131)
nhembo'esaba1 (etim. - meio de aprender) (s.) - doutrina escrita (VLB, I, 106): ...Ta penhemosaînãngatu sesé, nhembo'esaba resé i mbo'ebo... - Que vos preocupeis muito com ele, ensinando-o acerca da doutrina. (Ar., Cat., 127-127v)
nhembo'esaba2 (etim. - lugar de aprender) (s.) - escola (VLB, I, 123)
nhemoabaré (etim. - fazer-se padre) (s.) - sacramento da ordem (Ar., Cat., 17v)
nhemoapytereb (etim. - fazer-se calvo) (v. intr.) - ordenar-se, tornar-se padre (VLB, II, 58)
nhemoasy (etim. - fazer doer em si) (v. intr.) - irritar-se, ofender-se (VLB, I, 44)
nhemoatã1 (etim. - fazer-se endurecer) (v. intr.) - esforçar-se: Anhemoatãngatu. - Esforço-me muito. (VLB, I, 124)
nhemoatã2 (etim. - fazer-se direito) (v. intr.) - estender-se (o que estava encolhido) (VLB, I, 128)
nhemoatypy (etim. - fazer bochechas em si) (v. intr.) - inchar-se as bochechas (com ar, bocado de comida): Anhemoatypygûasu. - Inchei-me muito as bochechas. (VLB, I, 56)
nhemoa'ypupuk (etim. - fazer-se expelido o sêmen) (v. intr.) - ter polução: Erenhemoa'ypupukype nde poropotaramo? - Tu tiveste polução, tendo desejos sensuais? (Anch., Doutr. Cristã, II, 90)
nhemoerapûan (etim. - fazer-se ter o nome ligeiro) (v. intr.) - tornar-se famoso (VLB, II, 12)
nhemoesabyk (etim. - apertar-se o olho) (v. intr. compl. posp.) - piscar (para alguém: compl. com supé): Anhemoesabyk (abá) supé. - Pisquei para o homem. (VLB, I, 19, adapt.)
nhemoesakûarasy (etim. - fazer-se ruim a cavidade dos olhos) (v. intr.) - ficar carrancudo, ficar mal-encarado (VLB, I, 140)
nhemoesapysó (etim. - estender-se a vista) (v. intr. compl. posp.) - notar só com a vista (para depois conhecer a causa), olhar fixamente, indiscretamente, curiosamente (VLB, II, 51) [para algo ou para alguém: compl. com esé (r, s)]: Anhemoesapysó-katu (abá) resé. - Olhei muito fixamente para o homem. (VLB, I, 47, adapt.)
nhemoeté (etim. - fazer-se muito bom) (v. intr.) - envaidecer-se, elogiar-se, exaltar-se: Anhemoeté-a'ub. - Envaideço-me sem motivo (isto é, de coisas más). (VLB, I, 117); Aîpó te'õ îanondé irã amõ abá-angaîpabeté Anti-Cristo seryba'e ruri onhemoetébo... - Antes dessas mortes, um certo homem muito mau, chamado Anti-Cristo, virá, exaltando-se. (Ar., Cat., 160)
nhemoetee'yma (etim. - não se fazer muito bom) (s.) - humildade: Morerobîare'yma robaîxûara nhemoetee'yma. - O contrário da soberba é a humildade. (Bettendorff, Compêndio, 15)
nhemoîeîaî (etim. - fazer-se esquivo) (v. intr. compl. posp.) - gabar-se [de algo: compl. com esé (r, s)]: Anhemoîeîaî (mba'e) resé. - Gabei-me de algo. (VLB, I, 147, adapt.)
nhemoîereb (etim. - fazer-se virar) (v. intr.) - revolutear, girar ● nhemoîerepaba - tempo, lugar, modo, etc. de revolutear, de girar; o ato de revolutear, o giro: Urubu mba'enema 'arybo nhemoîereba... îabé... - Como o revolutear de um urubu sobre coisas fedorentas... (Anch., Doutr. Cristã, II, 111-112)
nhemoîerobîar (etim. - confiar em si) (v. intr.) - ser presumido, vangloriar-se, alardear grandeza (VLB, I, 150)
nhemoîerobîara (etim. - o confiar em si) (s.) - presunção, vanglória (VLB, I, 150)
nhemoingó (etim. - fazer-se estar) (v. intr.) - comportar-se: ...A'eboé Tupã ra'yramo anhemoingó re'a... - Muito a propósito comportei-me como filho de Deus. (Ar., Cat., 169)
nhemoîyb (etim. - fazer-se cozer) (v. intr.) - tomar suadouros (VLB, II, 122)
nhemoîyba (etim. - o fazer-se cozer) (s.) - suadouros (VLB, II, 122)
nhemokunu'um (etim. - fazer-se carinhoso) (v. intr. compl. posp.) - fazer mimos, fazer agrados, fazer afagos, fazer carinhos [a alguém: compl. com esé (r, s)]: Anhemokunu'um (abá) resé. - Faço mimos no homem. (VLB, II, 38, adapt.) ● nhemokunu'usaba (ou nhemokunu'umbaba) - tempo, lugar, modo, objeto, etc. de fazer mimos; o mimado (VLB, II, 38)
nhemokunu'unu'uma'ub (etim. - ficar-se fazendo carinhoso falsamente) (v. intr. compl. posp.) - lisonjear, fazer lisonjas [a alguém: compl. com a posp. esé (r, s)]: Anhemokunu'unu'uma'ub abá resé. - Faço lisonjas ao homem. (VLB, II, 23, adapt.)
nhemombeb (etim. - fazer-se achatado) (v. intr.) - 1) agachar-se: Anhemombé-mombeb gûitekóbo. - Estou-me agachando (em movimento). (VLB, I, 23); Anhemombeb gûitena. - Estou-me agachando (parado). (VLB, I, 23); 2) deitar-se, dispor-se deitado (VLB, I, 19)
nhemombe'ukugûapaba (etim. - meio de conhecer o que se conta de si) - livro de confessionário (VLB, I, 79)
nhemombe'umirĩ (etim. - confessar-se um pouco) (v. intr.) - reconciliar-se confessando-se (VLB, II, 98)
nhemomboreaûsub (etim. - fazer-se miserável) (v. intr.) - humilhar-se: Onhemomboreaûsub, o angaîpaba moasŷabo... - (A gente) se humilha, arrependendo-se de suas maldades. (Anch., Dial. da Fé, 229)
nhemondubyr (etim. - empoeirar-se) (v. intr.) - espojar-se, lançar-se em terra de costas e revolver-se, agitar-se para se coçar: Anhemonduby-ndubyr. - Fico a espojar-me. (VLB, I, 127)
nhemongaraíba (etim. - o tornar-se caraíba, o tornar-se cristão) (s.) - batismo: -Marãpe aîpó mosangypy rera...? -Nhemongaraíba. -Qual é o nome daquele primeiro remédio? -Batismo. (Ar., Cat., 80)
nhemongaraibypyra (etim. - o tornado cristão) (s.) - o batizado, pessoa batizada: Memetipó nhemongaraibypyra tekokatu abŷara... abaré... supé ogûasema, sorybetéûne... - E ainda mais um batizado, transgressor da boa lei, encontrando um padre, alegrar-se-á muito. (Ar., Cat., 219)
nhemongatu (etim. - fazer-se bem) (v. intr.) - sossegar, tranquilizar-se: Penhemongatu mamõ xe suí n'opoapyî. - Sossegai longe de mim senão vos queimo. (Anch., Poesias, 56)
nhemoputupab (etim. - fazer-se acabar a respiração) (v. intr.) - afligir-se: Ybakygûara onhemoputupab. - Os habitantes do céu afligiram-se. (Ar., Cat., 9v)
nhemopyatã (etim. - fazer-se pé firme) (v. intr.) - 1) animar-se, fortalecer-se (VLB, I, 36); 2) esforçar-se (VLB, I, 124): Enhemopyatã Tupã resé... - Esforça-te por causa de Deus. (Ar., Cat., 141)
nhemoryryîe'yma (etim. - o não se fazer tremer) (s.) - desinteresse: Tupã rekó resé nhemoryryîe'yma... - desinteresse pela lei de Deus (Ar., Cat., 18)
nhemosaînane'yma (etim. - falta de cuidado) (s.) - negligência; descuido (VLB, II, 49)
nhemosapysó (etim. - fazer-se estender os olhos) (v. intr. compl. posp.) - alongar-se a vista; olhar detidamente [para algo ou alguém: compl. com esé (r, s)]: ...Mendarûera amõ resé enhemosapysóbo. - Olhando detidamente para alguma que foi casada. (Anch., Doutr. Cristã, II, 101)
nhemosaraî (etim. - esquecer-se de si) (v. intr. compl. posp.) - 1) brincar, divertir-se (como as crianças); jogar: Anhemosaraî. - Brinco. (VLB, I, 60); 2) festejar; (VLB, I, 138); fazer festa: Îandé moetébo apŷaba nhemosaraî... - Para nos honrar os índios fazem festa. (Anch., Teatro, 24); 3) zombar [de algo ou de alguém: compl. com esé (r, s)]: Enhemosaraî umẽ xe resé! - Não zombes de mim! (Fig., Arte, 124) ● nhemosaraîtaba - tempo, lugar, modo, etc. de brincar, de festejar, de zombar; brincadeira, diversão: Omanõaibí... o nhemosaraîtápe bé. - Desanima, sem mais, de suas diversões também. (Ar., Cat., 157v)
nhemosaraîa (etim. - o fazer-se esquecer de si) (s.) - 1) brincadeira (de crianças), folguedo, diversão, jogo (de adultos) (VLB, I, 60): I porambyrambykĩ xe nhemosaraîa ixébo. - Estava agradável a mim meu jogo. (VLB, I, 71); Nhemosaraîa aîmonhang. - Faço a brincadeira, o jogo. (VLB, II, 14); 2) festa: Nhemosaraîa aîmonhang (abá) resé. - Fiz festa por causa do homem. (VLB, I, 138; adapt.) ● nhemosaraîxûera - gozador, brincalhão, zombeteiro (VLB, I, 59); folgazão (VLB, I, 141)
nhemotekokuaba (etim. - o fazer-se conhecer os fatos) (s.) - entendimento, compreensão: Otupãar-y bé o nhemotekokuá-katu roîré... - Comunga também após seu bom entendimento. (Bettendorff, Compêndio, 82)
nhemotimbor (etim. - fazer-se fumaça) (v. intr.) - 1) defumar-se; incensar-se: Paîea'uba supé onhemotimbó-timborukaryba'e... - O que manda a um falso pajé ficar defumando a si... (Ar., Cat., 96, 1686); 2) perfumar-se (VLB, II, 73)
nhemotimbosaba (etim. - instrumento de se defumar) (s.) - perfume (VLB, II, 73)
nhemoyaî (etim. - fazer-se suar) (v. intr.) - tomar suadouros (VLB, II, 122)
nhemoyaîa (etim. - o fazer-se suar) (s.) - suadouro (VLB, II, 122)
nhemo'yb (etim. - fazerem-se plantas) (v. intr.) - criar mato (a terra que já foi cultivada) (VLB, II, 33)
nhenonhena (etim. - o corrigir-se a si) (s.) - emenda, correção (Bettendorff, Compêndio, 20)
nhenupã2 (etim. - o castigar-se) (s.) - 1) açoite (VLB, I, 21); 2) auto-flagelação, castigo que se inflige a si próprio: Ereîmoporype nde monhemombegûara nhe'enga, nhenupã, îekuakuba...? - Cumpriste as palavras de teu confessor, a auto-flagelação, os jejuns? (Anch., Doutr. Cristã, II, 79)
nhenupãsaba (etim. - instrumento de se castigar) (s.) - disciplinas, correias com que frades e devotos se açoitavam por penitência ou castigo (VLB, I, 103)
nherane'yma (etim. - sem agressão) (s.) - 1) mansidão (Bettendorff, Compêndio, 20); humildade (VLB, I, 154); 2) pessoa humilde (VLB, I, 154); (adj.: nherane'ym) - humilde, manso: Abanherane'yma ixé. - Eu sou homem manso. (VLB, II, 31)
nhetamonhang (etim. - fazerem-se tabas) (v. intr.) - fazer povoação, fundar aldeia (VLB, II, 84)
nheypyrung (etim. - pôr início a si) (v. intr.) - começar: Quarta-feira tanimbukaraíba rasápe, îekuakupabusu Quaresma 'îaba nheypyrungi. - Ao passar a quarta-feira de cinzas sagradas começa o grande jejum, chamado Quaresma. (Ar., Cat., 122, 1686)
nhoamotare'yma (etim. - falta de querer bem um ao outro) (s.) - ódio, malquerença, discórdia (VLB, I, 103): ...Abá resé nhoamotare'yma rerekouká abá supé. - Fazendo as pessoas terem ódio umas das outras por causa de alguém. (Ar., Cat., 74)
nhopa'ũme (etim. - no intervalo) (loc. posp.) - entre (VLB, I, 119)
nhuãpupegûasu (etim. - nhuapupé grande) (s.) - variedade de perdiz (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c] 1403-1407)
nhy'ãbebuîa (etim. - coração leve) (s.) - pulmão: Kó aîkó sygepûera t'arasó i nhy'ãbebuîa abé xe raîxó-gûaîbĩ supé. - Aqui estou para levar seu ventre e também seus pulmões para minha sogra velha. (Anch., Teatro, 66; Castilho, Nomes, 35)
oîoaname'yma (etim. - sem parentesco uns com os outros) (s.) - espécie, tipo: Mbobype tekoangaîpaba oîoaname'yma? - Quantas são as espécies de pecados? (Bettendorff, Compêndio, 70)
oîoirũ (etim. - companheiros um do outro) (s.) - par (VLB, I, 154); (adv.) em número par (VLB, II, 65) ● oîoirũîrũ - um par de pares, quatro (VLB, I, 154)
oîopebondûara (etim. - o que está em um) (s.) - variedade de linha, entre grossa e delgada, de três fios que se torciam juntos (VLB, II, 23)
oîopobaî (etim. - uma mão na frente da outra) (adv.) - com ambas as mãos: Oîopobaî aîar. - Tomei-o com ambas as mãos. (VLB, II, 131)
oîoybari (etim. - ao longo um do outro) (adv.) - de ombro a ombro (como os que carregam uma canoa): Oîoybari orogûar. - Tomamo-lo de ombro a ombro. (VLB, II, 131)
okabytera (etim. - o meio das ocas) (s.) - 1) praça; terreiro entre as ocas (VLB, II, 84; 127); 2) convés: ygara rokabytera - convés da embarcação (VLB, I, 81)
okamirĩ (etim. - ocara pequena) (s.) - beco ou rua estreita (VLB, I, 53)
omanõ'ĩba'e (etim. - o que não morre) (s.) - imortal (VLB, II, 10)
omenapoîe'yma (etim. - a que não alimenta seu marido) (s.) - espécie de batata, de caule sarmentoso, verde, de folhas cordiformes ou auriculares, provavelmente uma convolvulácea do gênero Ipomoea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 51)
opakatumba'e (etim. - todas as coisas) (s.) - mundo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276)
opakombó (etim. - ambas estas mãos) (num.) - dez (Fig., Arte, 4): Opakombó îabi'õ Tupã supé oîepé asé mba'e moîa'oka... - De cada dez, repartir uma de nossas coisas com Deus. (Ar., Cat., 78)
opambó (etim. - ambas as mãos) (num.) - dez (VLB, I, 102)
opóbo (etim. - em suas mãos) (adv.) - de gatinhas: Agûatá opóbo (ou Opóbo nhẽ agûatá). - Ando de gatinhas. (Anch., Arte, 43; Fig., Arte, 122; VLB, I, 35)
oykébo (etim. - no seu flanco) (adv.) - de lado, de ilharga: Oykébo aîub. - Jazo de lado. (VLB, II, 7)
paîegûasu (etim. - grande pajé) (s.) - artífice, artesão: -Paîegûasu remimonhanga. -Obra de um artífice. (Léry, Histoire, 345)
paîemarĩoba (etim. - folha do pajé manco) (s.) - PAJAMARIOBA, MAJERIOBA, MANJERIOBA, nome comum de plantas leguminosas-cesalpinoídeas do gênero Senna, conhecidas também como PAJOMARIOBA, PAIERIABA, folha-de-pajé, mata-pasto, fedegoso-verdadeiro. A espécie mais importante é a Senna occidentalis (L.) Link, espalhada por quase todo o Brasil. (Brandão, Diálogos, 118)
pakaîara (etim. - os que portam pacas) (s. etnôn.) - PACAJÁ, nome de antigo grupo indígena do norte do Brasil (D'Abbeville, Histoire, 189)
pakaíb (etim. - acordar não completamente) (v. intr.) - levantar-se dormindo: Apakaíb. - Levantei-me dormindo. (VLB, I, 129)
pakoba (etim. - folha de paca) (s.) - PACOBA, PACOVA, o fruto da pacobeira, var. de bananeira (Sousa, Trat. Descr., 188; VLB, I, 51; Thevet, Les Sing. de la France Antart., 61; Gândavo, Trat. Prov. Bras., 825-853)
pakobamirĩ (etim. - pacova pequena) (s.) - PACOVA-MIRIM, 1) variedade de bananeira pequena; 2) o fruto dessa planta, "do comprimento de um dedo, mas mais grossa" (Sousa, Trat. Descr., 189)
pakobeté (etim. - pacova verdadeira) (s.) - 1) variedade de bananeira, planta musácea do gênero Musa; 2) o fruto dessa planta (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
pakobusu (etim. - pacova grande) (s.) - 1) PACOVEIRA, PACOBEIRA, bananeira, planta da família das musáceas (Musa paradisiaca L.); 2) o fruto dessa planta (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
pakoby (etim. - caldo de pacova) (s.) - variedade de bebida feita da pacova (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
pakoka'atinga (etim. - pacova da folha clara) (s.) - PACÓ-CAATINGA, nome de duas espécies de ervas da família das zingiberáceas, a Costus spicatus (Jacq.) Sw. e a Costus spiralis (Jacq.) Roscoe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 102)
Pakurypanã (etim. - borboleta de bacuri) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
pakurypari (etim. - bacuri torto) (s.) - BACURIPARI, BACURIPATI, árvore da família das clusiáceas (Garcinia macrophylla Mart.). "Dá esta árvore um fruto tamanho como fruta nova, que é amarelo e cheira muito bem." (Sousa, Trat. Descr., 191)
pakury'yba1 (etim. - pé de bacuri) - o mesmo que pakury (v.)
Pakury'yba2 (etim. - pé de bacuri) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185)
panamoby (etim. - borboleta verde) (s.) - var. de borboleta (Libri Princ., vol. II, 119)
panãpanãmuku (etim. - panapaná comprido) (s.) - variedade de borboleta (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 249)
papyxûara (etim. - o que está nos pulsos) (s.) - ornato feito de corais de várias cores, usado nos braços e pulsos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
parabok (etim. - arrancar a variedade) (v.tr.) - selecionar, tirar o que é estranho, vário, ruim; escolher (p.ex., o feijão, tirando-se a parte ruim da boa) (VLB, I, 37)
paraíba (etim. - rio ruim) (s.) - nome de um antigo grupo indígena (Léry, Histoire, 152, 1994)
paranãgûasu (etim. - mar grande) (s.) - oceano: Paranãgûasu rasapa aîu. - Vim, atravessando o oceano. (Anch., Poemas, 114)
paranãmbora (etim. - habitante do mar) (s.) - marisco: Paranãmbora ri aîkó. - Vivo de mariscos. (VLB, II, 32)
paranãygûara (etim. - habitante do mar) (s.) - nome pelo qual eram chamados os habitantes da beira-mar do Maranhão (D'Abbeville, Histoire, 260v)
patyoba (etim. - pati folhudo) (s.) - variedade de palmeira do gênero Syagrus, com folhas largas. "Dá palmitos pequenos, mas muito gostosos." (Sousa, Trat. Descr., 199)
pear (etim. - tomar caminho) (v. intr.) - desembarcar: O îara opeá ytupe é... - Desembarcando seu senhor na própria cachoeira. (Anch., Poesias, 269)
pe'arung (etim. - pôr afastamento) (v.tr.) - afastar: Sarûab amõme asé posangygûaba, mara'ara moîerobu-bé-uká, amõme i pe'arunga o arûabíreme. - Não faz efeito, às vezes, nosso remédio, fazendo avivar mais a doença, às vezes por sua ineficácia em afastá-la. (Anch., Doutr. Cristã, II, 78)
peasaba1 (etim. - lugar em que se toma caminho) (s.) - PEAÇABA, PEAÇAVA, caminho que vai do sertão para a praia (VLB, II, 83)
peasaba2 (etim. - lugar em que se toma caminho) (s.) - porto, desembarcadouro (VLB, II, 83): aîuruîuba peasaba - porto dos franceses (Knivet, The Adm. Adv., 1239)
peîpesaba (etim. - instrumento de varrer, varrer... ) (s.) - planta da família das escrofulariáceas (Scoparia dulcis L.), também conhecida como vassourinha-de-varrer. Dela "fazem as vassouras na Bahia, com que varrem as casas." (Sousa, Trat. Descr., 210)
pekugûapara (etim. - o que conhece o caminho) (s.) - guia (do caminho) (VLB, I, 152)
pemim (etim. - esconder o caminho) (v.tr.) - cercar, murar: Aîpemim. - Cerquei-o. (VLB, I, 70)
pemimbaba (etim. - instrumento de esconder o caminho) (s.) - muro, cerca; valado, qualquer cercado (VLB, II, 45; 140)
pe'ok (etim. - arrancar a casca) (v.tr.) - descascar, arrancar a casca de (fal. de árvore); escamar (VLB, I, 97, 122)
pepoata'yba (etim. - cabo de pena direita) (s.) - pena de escrever (VLB, II, 71)
pepokanga (etim. - osso de asa) (s.) - barbatana (de peixe) (VLB, I, 125)
pepytera (etim. - meio do caminho) (s.) - estrada (VLB, I, 130)
petymbu (etim. - ingerir petima) (v. intr.) - fumar: Moraseîa é i katu, îegûaka, ...petymbu... - A dança é que é boa, enfeitar-se, fumar. (Anch., Teatro, 6)
petymbûaba1 (etim. - instrumento de fumar, cachimbo) (s.) - PETIMBUABA, peixe da família dos fistulariídeos, de cor vermelha, com o corpo muito alongado, desprovido de escamas e com o focinho semelhante a um tubo comprido. Tem três ou quatro pés de comprimento, com o corpo semelhante à enguia. É também conhecido como cachimbo. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 148)
petymbûaba2 (etim. - instrumento de fumar, cachimbo) (s.) - PETIMBABO, catimbu, catimbó, catimbaua, catimbaba, cachimbo indígena feito do coco da pindoba (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; Brandão, Diálogos, 293)
Petymuku (etim. - longo tabaco) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Knivet, The Adm. Adv., 1227)
pe'yba (etim. - caminho-guia) (s.) - trilha; (adj.: pe'yb) - trilhado, batido (fal. de caminho), seguido, limpo de erva, etc.: I pe'ybĩ nakó tapiti kûara. - Está limpa, como se vê, a cova da lebre. (VLB, II, 114)
peypy (etim. - começo do caminho) (s.) - entrada de um lugar povoado, antes de chegarem as casas (VLB, I, 119)
peypykõîa (etim. - começo de caminhos gêmeos) (s.) - caminho que se divide em dois, bívio (VLB, I, 56)
pîabusu (etim. - piaba grande) (s.) - PIABUÇU, designação comum a certos peixes da família dos caracídeos, de porte avantajado (D'Abbeville, Histoire, 247v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 170)
pîaîuba (etim. - piaba amarela) (s.) - nome de um peixe fluvial (Piso, De Med. Bras., I, 154)
piamondó (etim. - fazer ir o caminho) (v.tr.) - fazer alguém ir atrás de, fazer alguém ir em busca de: Abaré abépe asé oîpiamondó? - A gente o faz ir em busca de padre também? (Anch., Doutr. Cristã, I, 222)
piarõ (etim. - guardar o caminho) (v.tr.) - ficar à espera de (como faz o gato ao rato); ficar no caminho de (para atacar): Aîpiarõ. - Fico à espera dele, fico no caminho dele. (VLB, I, 23)
pikirana (etim. - falso pequi) (s.) - PEQUIRANA, nome de uma planta [Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist. (4ª edição, 1951, III, 177)]
piku'igûasu (etim. - picuí grande) (s.) - nome de uma ave columbiforme, columbídea (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 174; Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1358-1361)
piku'ipinima (etim. - picuí pintado) (s.) - PICUIPINIMA, ave da família dos columbídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 204)
piku'ipytanga (etim. - picuí rosado) (s.) - nome de uma ave (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1358-1361)
pikyra (etim. - pele tenra) (s.) - PIQUIRA, PEQUIRA, peixe pequeno (Rodrigues, Relação, in Leite, Novas Cartas Jesuíticas, 199)
pikyratã (etim. - piquira duro) (s.) - nome de um peixe (VLB, II, 70)
Pindagûasu (etim. - anzol grande) (s. antrop.) - v. Pindaûasu (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §1, 113)
pindaîtykara (etim. - lançador de anzol) (s.) - pescador com linha (VLB, II, 75): Pindaîtykara îepotasápe, memẽ o agûasá-poxy supé oîmoîa'ok o embiara, o îara kupébo nhẽ. - Ao chegarem os pescadores, repartem sempre com suas amantes ruins seu pescado, pelas costas de seus senhores. (Anch., Poesias, 268)
pindasama (etim. - corda de anzol) (s.) - linha de pescar (VLB, II, 23): pindasã-po'i - linha de pescar delgada (VLB, II, 114) ● pindasã-muku - linha grossa de pescar (VLB, II, 23); pindasã-pokuruba - linha grossa de pescar (VLB, II, 23)
Pindaûasu (etim. - anzol grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Thevet, Cosm. Univ., 923)
pindaúna (etim. - pindá preto) (s.) - PINDAÚNA, PINDÁ-PRETO, var. de ouriço-do-mar preto, que habita as pedras do litoral (VLB, II, 60)
pinda'yba1 (etim. - pé de anzol) (s.) - PINDAÍBA, PINDAÚVA; o mesmo que pena'yba (v.) (Piso, De Med. Bras., IV 185)
pinda'yba3 (etim. - haste de anzol) (s.) - vara de pescar (VLB, I, 65)
pindobusu1 (etim. - pindoba grande) (s.) - 1) variedade de palmeira PINDOBA (Léry, Histoire, 377; Sousa, Trat. Descr., 197); 2) folhas dessa palmeira, que cobrem casas como telhado; cobertura de suas folhas (Sousa, Trat. Descr., 197)
Pindobusu2 (etim. - pindoba grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Cartas, 214)
Pindotyba (etim. - ajuntamento de pindobas) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 186v)
pipeká (etim. - abrir a pele) (v.tr.) - romper, abrir a pele de: Erepokokype nde rapopé resé... i pipekábo? - Tocaste nas tuas pudendas, abrindo-lhes a pele? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95)
pira'aka (etim. - peixe de chifre) (s.) - PIRAACA, peixe marinho da família dos balistídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 154)
piraakãmuku (etim. - peixe da cabeça comprida) (s.) - PIRACAMBUCU, PIRAMBUCU, var. de bagre d'água doce, peixe da família dos pimelodídeos, com muitas manchas alongadas pelo corpo (VLB, I, 50)
piraakangatá (etim. - peixe da cabeça dura) (s.) - nome de um peixe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 144)
pirabebé (etim. - peixe voador) (s.) - PIRABEBE, peixe-voador, nome de várias espécies de peixes marinhos, com peitorais triangulares, semelhantes a asas, que voam frequentemente fora d'água para apanhar peixes pequenos e crustáceos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 162; VLB, II, 70, 147)
pirãîagûara (etim. - comedor de piranhas) (s.) - mamífero cetáceo da família dos delfinídeos, uma espécie de boto (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 175-175v)
piraîké (etim. - entrada dos peixes) (s.) - PIRAQUÊ, entrada dos peixes pela foz dos rios, saindo do mar, para desovar em lugares estreitos e rasos, principalmente nas regiões de mangues (Anch., Cartas, 120; Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, III, cap. xviii)
pira'itinga (etim. - peixinho claro) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 73)
piraîuba1 (etim. - peixe amarelo) (s.) - PIRAJUBA, 1) dourado, peixe de rio da família dos caracinídeos; 2) nome também dado, no século XVII, ao roncador (do Rio de Janeiro para cima), peixe de mar da família dos conifaenídeos (VLB, I, 106; II, 108)
Piraîuba2 (etim. - peixe amarelo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Evreux, Viagem, 88)
piraîurumembeka (etim. - peixe da boca mole) (s.) - nome de um peixe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 149)
Piraîybá (etim. - braço de peixe) (s. antrop.) - PIRAGIBA, nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §1, 113)
pirakaba (etim. - peixe-caba) (s.) - PIRACAVA, peixe da família dos polinemídeos (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 166v)
Piraka'ẽ (etim. - peixe queimado) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 8)
pirakûatiara (etim. - peixe pintado) (s.) - nome de um peixe (D'Abbeville, Histoire, 247v)
pirakyba (etim. - piolho de peixe) (s.) - PIRAQUIBA, rêmora, pegador, peixe-piolho, nome comum a certos peixes da família dos equeneídeos (principalmente o Remora remora L.). Tem na cabeça um disco adesivo com o qual se prende aos tubarões para se deslocar pelo mar. É também chamado piolho-de-cação, piolho-de-tubarão, agarrador, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 180; VLB, II, 69)
pirakyîa (etim. - pimenta de peixe; peixe apimentado) (s.) - mistura de pimenta, sal, farinha e peixe cozido sem espinhas, da qual os índios faziam uso em viagem e que se conservava durante vários dias (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 39)
pirakyra (etim. - peixe tenro) (s.) - nome de um peixe (Sousa, Trat. Descr., 288)
pirambu (etim. - peixe-barulho) (s.) - PIRAMBU, peixe da família dos hoemulídeos, também conhecido como roncador (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 53; VLB, II, 113)
pirameîu'i (etim. - peixe-andorinha) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 55)
pirametara (etim. - peixe tembetá) (s.) - PIRAMETARA, peixe marítimo de cor rósea viva (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 156)
piranema (etim. - peixe fedorento) (s.) - PIRANEMA, PIRAPEMA, peixe marítimo da família dos priacantídeos, de olhos grandes (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 145)
piranha (etim. - peixe dentado) (s.) - PIRANHA, o mesmo que pirãîa (v.) (Lisboa, Hist. Anim e Árv. do Maranhão, fl. 173)
piranhatinga (etim. - peixe dentado branco) (s.) - PIRANHA BRANCA, peixe carnívoro da família dos caracídeos (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 173v)
Piraoby (etim. - peixe verde) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica, I, §203, 278)
pirapanema (etim. - peixe imprestável) (s. astron.) - 1) estrela-d'alva (VLB, I, 130); 2) o planeta Mercúrio (VLB, II, 36)
pirapema (etim. - peixe anguloso) (s.) - PIRAPEMA, peixe marítimo da família dos elopídeos (D'Abbeville, Histoire, 244)
pirapinima (etim. - peixe pintado) (s.) - PIRAPINIMA, peixe salpicado de pontos ou pintas; possui aproximadamente dois pés de comprimento, pigmentação branca, à exceção da cabeça, de cor cambiante, e da cauda, vermelha (D'Abbeville, Histoire, 247v)
pirapoti (etim. - fezes de peixe) (s.) - âmbar gris (D'Evreux, Viagem, 181)
pirapoxy (etim. - peixe ruim) (s.) - nome de um peixe (Léry, Histoire [1580], p. 297)
pirapu'amarepoti (etim. - fezes de baleia) (s.) - âmbar (VLB, I, 34; Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §98, 162; Knivet, The Adm. Adv., 1224)
pirapuku (etim. - peixe comprido) (s.) - PIRAPUCU, peixe da família dos caracídeos (Sousa, Trat. Descr., 279)
pirapyxanga (etim. - peixe rosado) (s.) - espécie de peixe da família dos serranídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 152)
piraroba (etim. - peixe vesgo folha) (s.) - PIRAROBA, nome de um peixe com os dois olhos de um mesmo lado do corpo (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 39)
pirasema (etim. - saída dos peixes) (s.) - PIRACEMA, a saída dos peixes para as cabeceiras dos rios ou para as ervas com pouca água, para desovar, deixando-se apanhar sem muito trabalho (Anch., Cartas, 116)
piratinga (etim. - peixe branco) (s.) - PIRATINGA, nome de um peixe da família dos esparídeos (VLB, II, 65)
piraúna (etim. - peixe escuro) (s.) - PIRAÚNA, nome comum a certos peixes da ordem dos perciformes, do grupo dos acarás, dos atuns e das percas (D'Abbeville, Histoire, 243v; Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 164v)
pirauruku (etim. - peixe urucu) (s.) - PIRARUCU, peixe da família dos osteoglossídeos (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 175v)
piraybyrá (etim. - peixe-pau) (s.) - nome de um peixe (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 47)
pirok (etim. - arrancar a pele) (v.tr.) - 1) pelar, arrancar a pele de, tirar a pele de [pessoa, batatas, figo e de tudo o mais que tenha pele fina. Arrancar pele grossa é ape'ok (p.ex., de favas) ou pe'ok (p.ex., de madeira) (v.).]; esfolar: Aîpirok. - Tiro-lhe a pele. (Anch., Arte, 51); ...Serokypyre'yma São Bartolomeu piroki... - Os pagãos esfolaram São Bartolomeu. (Ar., Cat., 133); 2) debulhar (p.ex., milho) (VLB, I, 97)
pitãmo'asara (etim. - a que faz nascer as crianças) (s.) - parteira (VLB, II, 66)
pitangûagûasu (etim. - pitauá grande) (s.) - PITANGUÁ-AÇU, bem-te-vi, nome comum a pássaros tiranídeos que ocorrem em todo o Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 216)
pitanguru (etim. - recipiente de crianças) (s.) - órgão sexual feminino (Castilho, Nomes, 36)
pitãnhemonhangaba (etim. - lugar de se fazerem as crianças) (s.) - útero de mulher ou de qualquer fêmea (VLB, II, 27)
pixyb (etim. - limpar a pele) (v.tr.) - untar; ungir: Oropixyb umã îandy-karaíba pupé... - Já te ungi com o óleo bento. (Ar., Cat., 315); Ereîpotápe îandy-karaíba pupé ixé nde pixyba? - Queres que eu te unte com óleo bento? (Ar., Cat., 309)
poanama (etim. - grossura de fibra) (s.) - espessura, grossura (de tecido); (adj.: poanam) - grosso, áspero (ao tato): amyniîu-aó-poanama - roupa de algodão grossa (isto é, malha para a defesa na guerra) (VLB, I, 41)
poanamusu (etim. - grande espessura de fibra) (s.) - espessura, grossura (de pano) (VLB, I, 151)
poekyî (etim. - puxar as fibras) (v.tr.) - estender (p.ex., pano) (VLB, I, 128)
poesãîa (etim. - mãos alegres) (s.) - ligeireza de mãos; (adj.: poesãî) - ligeiro de mãos, ágil, presto: Xe poesãî. - Eu sou ligeiro de mãos. (VLB, II, 22)
poesemõ (etim. - encher as mãos) (v.tr.) - encher, abarrotar, repletar: Ereîmoîebyrype kaûĩ nde poesemõneme? - Vomitaste cauim quando te encheu? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103) [v. tb. esemõ] (VLB, I, 17)
poîoybyra (etim. - fibras ao longo de outras) (s.) - dobra (de fios) (VLB, I, 105) ● i poîoybyryba'e - o que é dobrado (como fio) (VLB, I, 105)
po'ir2 (etim. - desprender-se a mão) (v.tr.) - parar de, deixar de, "largar a mão de": A'e remebépe erimba'e Tupã abá raûsupo'iri? - Por ocasião disso Deus deixou de amar o homem? (Anch., Doutr. Cristã, I, 162); Asaûsupo'ir. - Deixei de amá-lo. (VLB, I, 96); Ta xe rerobîapo'ir umẽ. - Que não deixem de crer em mim. (Ar., Cat., 160)
pokanga (etim. - mão ossuda) (s.) - raleamento; raridade; coisa rala (VLB, II, 95); (adj.: pokang) - ralo (p.ex., pano); raro ● i pokãba'e - o que é ralo; o que é raro, poucas vezes visto ou que não se acha a cada passo (VLB, II, 96); pokãngatu - muito ralo, sutil: ...I angaturamba'e reté i pokãngatu kûarasy sosé oberapa... - Os corpos dos que são bons serão sutis, brilhando mais que o sol. (Ar., Cat., 161); pokangi nhõte - raro (VLB, II, 96)
pokasaba (etim. - instrumento de espremer) (s.) - prensa (de espremer): u'ubae'ẽ pokasaba - prensa de cana-de-açúcar (VLB, II, 85)
pokesara (etim. - o que envolve, o que embrulha) (s.) - envoltório, invólucro, embrulho (amarrado com fio): Aîpokesá-rab. - Solto o embrulho dele. (VLB, I, 98)
pokok1 (etim. - apoiar a mão) (v. intr. compl. posp.) - 1) tocar, passar a mão; apalpar (VLB, I, 37) [compl. com esé (r, s) ou ri]: I potá nhote, sesé opokoka abé. - Somente desejando-a, nela tocando também. (Ar., Cat., 71); ...Opokok asé akanga resé... - Tocam na cabeça da gente. (Ar., Cat., 82); 2) furtar [compl. com esé (r, s)]: Apokok mba'e resé. - Furto coisas (lit., toco nas coisas). (Fig., Arte, 124) ● pokokaba - tempo, lugar, modo, etc. de tocar; o toque, o passar a mão: Ereîmombe'upe... kunhã resé nde pokó-pokokagûera abá supé? - Contaste para alguém que tu ficaste passando a mão em mulheres? (Ar., Cat., 104v); pokok mba'e resé - aplicar-se ao trabalho, pôr a mão na massa (Fig., Arte, 124)
pokok3 (etim. - apoiar a mão) (v.tr.) - guiar: Memẽ-te, nipó, pe 'anga amotá, ...i pokoka. - Mas sempre, com certeza, a vossas almas querem bem, guiando-as. (Anch., Teatro, 54); Eîori oré pokoka. - Vem para nos guiar. (Anch., Poemas, 144)
pokytã (etim. - nó das fibras) (s.) - nó (de fio ou corda) (VLB, II, 50); (adj.) - nodoso; (xe) ter nós (VLB, II, 50)
pomobybyk (etim. - fazer as mãos ficarem tocando) (v. intr.) - andar às apalpadelas (VLB, II, 63)
pomogûab (etim. - abrandar as mãos) (v.tr.) - escapulir das mãos de: Aîpomogûab. - Escapuli das mãos dele. (VLB, I, 123)
pomoîyb (etim. - lavar as fibras) (v.tr.) - fazer lixívia para (a lavagem de roupa), lavar com lixívia (a roupa) (VLB, I, 52)
pomombyk (etim. - atar as fibras) (v.tr.) - torcer (como corda) ● i pomombykypyra - o que é (ou deve ser) torcido; yby-pomombykypyra - estopa torcida (VLB, I, 82)
pomonga (etim. - visgo das mãos) (s.) - viscosidade; visgo, grude; (adj.: pomong) - viscoso, grudento (VLB, I, 53); (xe) grudar, pegar como grude (VLB, II, 69)
po'ok (etim. - tirar a mão) (v. intr.) - parar (de chorar, de chover, de mamar, etc.) (VLB, I, 63)
popeba (etim. - largura da mão) (s.) - largura (como de fita, etc.) (VLB, II, 19); (adj.: popeb) - largo (como fita, tira, etc.): I popebusu. - Ela é muito larga. (VLB, II, 18, adapt.)
popysyk (etim. - tomar a mão) (v.tr.) - 1) receber: Oroîopopysyk. - Recebemo-nos uns aos outros. (VLB, II, 98); 2) casar-se com ● oîpopysykyba'e - o que se casa com: Oîoaûsu-katupe amẽ oîopopysykyba'epûera? - Devem amar-se muito os que se casaram um com o outro? (Ar., Cat., 95)
popytuna (etim. - escurecimento das fibras) (s.) - fechamento (de pano); (adj.: popytun) - fechado, tapado (como pano, isto é, nem fino nem tênue) (VLB, II, 124)
popytybõ (etim. - ajudar a mão) (v.tr.) - ajudar (VLB, I, 29): Ereîpopytybõpe nde ruba nde sy abé? - Ajudas teu pai e tua mãe? (Ar., Cat., 100v)
poreaûsuberekó (etim. - ter compaixão) (v.tr.) - compadecer-se de: ...T'oîporeaûsuberekó îudeus... - Que se compadeçam dele os judeus. (Ar., Cat., 59v) ● poreaûsuberekosara (m) - compadecedor, o que se compadece de: Nd'oîkóîpe abá amõ... i poreaûsuberekosaramo? - Não havia nenhuma pessoa que se compadecesse dele? (Ar., Cat., 61v)
porepenhang (etim. - atacar gente) (v. intr. compl. posp.) - brigar [com alguém: compl. com esé (r, s)]: Aporepenhang (abá) resé. - Briguei com o homem. (VLB, I, 59, adapt.)
porero'ar (etim. - derrubar gente) (v. intr.) - saltear (no mar), piratear, ser salteador: Aporero'ar. - Salteio. (VLB, II, 112) ● porero'asara (m) - salteador (pelo mar) (VLB, II, 112)
porok (etim. - arrancar o conteúdo) (v.tr.) - despejar, arrancar o conteúdo de (p.ex., vaso, caixa, etc.); esvaziar, tirar tudo de (p.ex., vasilha, arca, casa, etc.); descarregar (p.ex., o navio): Ereîosubype abá îeke'a i poroka? - Visitaste o covo de alguém, esvaziando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99)
poromombab (etim. - fazer acabar a gente) (v. intr.) - fazer matança (apenas de pessoas) (VLB, II, 33)
poromonhang (etim. - fazer gente) (v. intr.) - gerar, gerar filhos (também se pode dizer de animais) (Anch., Arte, 49v); -Mba'erama resépe abá mendari? -O poromonhanga potá. -Por que alguém se casa? -Querendo gerar filhos. (Ar., Cat., 95) ● oporomonhangyba'e - o que gera: ...Oito anhõ o nhe'enga rupi tekoara oporomonhangyba'erama raûsubá... - Compadecendo-se somente de oito que viviam segundo suas palavras e que gerariam filhos. (Ar., Cat., 106v)
poropokuab (etim. - conhecer a mão das pessoas) (v. intr.) - ser manso (VLB, II, 31)
poruukar (etim. - mandar usar) (v.tr.) - emprestar: Aîporuukar (abá) supé. - Emprestei-a ao homem. (VLB, I, 113, adapt.)
posanong1 (etim. - pôr remédio) (v.tr.) - remediar, medicar, curar: T'oú îandé posanonga... - Que venha para nos curar. (Anch., Poemas, 166); Oîposanongype Îandé Îara a'e i nambimondokypyra? - Curou Nosso Senhor aquela sua orelha arrancada? (Ar., Cat., 55) ● posanongara (m) - o que cura, o que dá remédios: Sorybeté rakó abá tegûama porarasara moroposanongara... supé ogûasema. - Fica muito feliz, de fato, o homem que se defronta com a morte, encontrando o que cura. (Ar., Cat., 219, 1686); posanongaba (m) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de remediar, de curar; cura, remédio: Marãpe amoaé îandé 'anga posanongaba? - Qual é o outro meio de curar nossa alma? (Anch., Doutr. Cristã, I, 207)
posykyîe'yma (etim. - falta de afabilidade) (s.) - severidade, rigor (VLB, II, 105); (adj.: posykyîe'ym) - severo, rigoroso: abaposykyîe'yma - homem severo (VLB, II, 117)
potãîmoín1 (etim. - pôr fecho) (v.tr.) - trancar, aldravar (VLB, I, 30)
potakatu (etim. - desejar muito) (v.tr.) - folgar com, folgar em: Asendu-potakatu. - Folgo muito em ouvi-lo. (VLB, I, 141)
potarĩ (etim. - querer, sem mais) (v.tr.) - preferir: Oîpotarĩ-p'amẽ abá erimba'e... o îuká? - Preferiam outrora as pessoas que as matassem? (Ar., Cat., 83)
potegûama (etim. - futura morte de gente) (s.) - insalubridade; (adj.: potegûam) - insalubre (p.ex., um lugar, uma terra) (VLB, I, 105)
poti'atinga (etim. - camarão da cabeça branca) (s.) - espécie de camarão da família dos peneídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188)
potigûara1 (etim. - comedor de camarões) (s.) - POTIGUARA, POTIGUAR, PETIGUAR, PITAGUAR, PITIGUAR, PITIGUARA, nome de grupo indígena que, no século XVI, habitava a costa que ia da foz do rio Paraíba ao Rio Grande do Norte (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 121)
Potigûara2 (etim. - comedor de camarões) (s. antrop.) - nome de um chefe do qual tomaram nome os índios potiguaras (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §149, 109)
potirygûasu (etim. - paturi grande) (s.) - ganso, ave da família dos anatídeos, introduzida no Brasil com a colonização (VLB, I, 146)
potisoba (etim. - merda-folha) (s.) - erva-púlgera ou erva-do-bicho, planta poligonácea (Polygonum punctatum Elliott), de muitas aplicações na medicina popular brasileira, como vermífugo, antifebril e excitante geral. É também chamada cataia ou persicária-do-brasil. (Piso, De Med. Bras., IV, 196)
potiûasu (etim. - poti grande) - o mesmo que potigûasu (v.) (Sousa, Trat. Descr., 297)
poungá (etim. - apertar as fibras) (v.tr.) - fiar, reduzir a fio adelgaçando as fibras onde elas ficam muito volumosas e bastas, igualando-as com as outras (VLB, I, 138; II, 9)
pûaratã (etim. - amarrar fortemente) (v.tr.) - reatar (VLB, II, 97)
pûerabaíb (etim. - sarar não completamente) (v. intr.) - convalescer (VLB, I, 81)
pukamirĩ (etim. - rir um pouquinho) (v. intr.) - sorrir: Ereîeîuru-mopiningype, abá supé epukamirĩamo? - Pintaste-te a boca, sorrindo para os homens? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95)
pukasûera (etim. - o que tem propensão a rir) (s.) - o risonho; (adj.: pukasûer): Xe pukasûer. - Eu sou risonho. (VLB, II, 106)
pukuî1 (etim. - na extensão) (loc. posp.) - durante, enquanto, no decorrer de, durante o tempo de, ao longo de: Oré raûsubá îepé oré rekobé pukuî. - Tem tu compaixão de nós durante nossa vida. (Anch., Teatro, 122); ...ture'yma pukuî - enquanto ele não vem (VLB, I, 118); Nd'e'ikatuî sesé omendá mimbápe serekó pukuî... - Não pode com ela casar-se enquanto a mantiver em esconderijo. (Ar., Cat., 128v); ...xe só pukuî - enquanto eu vou (Fig., Arte, 126); ...ixé i monhanga pukuî - enquanto eu o faço (VLB, I, 118); pé pukuî - ao longo do caminho, todo o caminho (VLB, II, 130); 'ara pukuî - ao longo do dia, todo o dia (VLB, II, 130)
pukusãmoín (etim. - pôr cordas de pernas) (v.tr.) - amarrar pelos pés (VLB, I, 138); prender em ferros, aferrolhar com prisões (VLB, I, 23); pear: Aîpukusãmoín. - Amarrei-o pelos pés. (VLB, I, 46; II, 68) ● i pukusãmoinymbyra - o que está (ou deve ser) preso em ferros, o que está (ou deve ser) amarrado pelos pés (VLB, II, 85)
putunusu (etim. - grande escuridão) (s.) - limbo: Umãmepe a'e putunusu pitanga nhemongaraibypyre'yma rekoaba rekóû? - E onde está aquele limbo, morada das crianças que não foram batizadas? (Ar., Cat., 48)
putupyk (etim. - cessar o fôlego) (v.tr.) - tapar a boca a: Aîputupyk. - Tapei-lhe a boca. (VLB, II, 124)
putu'u2 (etim. - ingerir alento) (v. intr.) - descansar, repousar; ficar descansado; ficar tranquilo; tomar ou ter refrigério (VLB, II, 99): Tapuîpe gûaîbĩ aru amõ Magûeá suí... A'ereme aputu'u. - Aos tapuias trouxe as velhas de além de Magueá. Então, fiquei descansado. (Anch., Teatro, 12); Ta soryb, oputugûabo. - Que se alegrem, descansando. (Anch., Teatro, 58); Erĩ, aûîé, peputu'u! - Ah, muito bem, ficai tranquilos! (Anch., Teatro, 166, 2006); Aîosub Itaokaîa; i pupé kó aputu'u. - Visito Itaocaia; eis que nela descanso. (Anch., Poesias, 269)
py'aká (etim. - romper o estômago) (v.tr.) - embaçar (batendo na boca do estômago) (VLB, I, 110)
pyapasamoîar (etim. - pregar ferradura) (v.tr.) - ferrar (p.ex., cavalo) (VLB, I, 138)
pyapasamoín (etim. - pôr ferradura) (v.tr.) - ferrar (p.ex., cavalo): Aîpyapasamoín. - Ferrei-o. (VLB, I, 138)
py'arĩ (etim. - tomar, sem mais, o coração) (v.tr.) - saber perfeitamente, entender completamente, ser mestre em (VLB, II, 131, 110)
pybo'ir (etim. - pés afastados) (v. intr.) - 1) pernear (como o animal que está morrendo) (VLB, II, 74); 2) fazer mesura com o pé (VLB, II, 36)
pyeî (etim. - lavar o interior) (v.tr.) - lavar (p.ex., louça): Aîpyeî. - Lavo-a. (VLB, II, 19)
pykasueté (etim. - pomba verdadeira) (s.) - var. de rola (VLB, II, 108; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 173)
pykasuroba (etim. - pomba amargosa) (s.) - PICUÇAROBA, nome de uma ave columbídea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 204)
pykasutinga (etim. - pomba branca) (s.) - var. de pomba (VLB, II, 80)
pykõîa (etim. - gêmeo do pé) (s.) - peia para trepar, para subir (VLB, II, 68), PECONHA (N.), laço de corda ou de embira preso ao tronco das árvores sem ramos para nele se colocarem os pés a fim de subir (in Novo Dicion. Aurélio)
pykutuk (etim. - cutucar o interior) (v.tr.) - escarafunchar, esgaravatar (VLB, II, 37)
pymondyk (etim. - queimar os pés) (v. intr.) - patear, bater os pés no chão (como o cavalo, ou bailando) (VLB, II, 67)
pyri (etim. - no pé) (loc. posp.) - na parte próxima de, ao pé de, perto de (Anch., Arte, 41); com, para junto de (fal. de pessoas e não de lugares): ...Xe pyri marãtekoara... - O que trabalha perto de mim. (Anch., Teatro, 8); ...I abaeté muru supé São Sebastião ru'uba, São Lourenço pyri bé. - Foram terríveis contra os malditos as flechas de São Sebastião, com São Lourenço também. (Anch., Teatro, 52); T'asó nde pyri kori. - Hei de ir contigo hoje. (Anch., Teatro, 66); Asó xe ruba pyri. - Vou para junto de meu pai. (VLB, II, 14); Tapi'ira osó ogûapixara pyri. - O boi foi para junto dos seus companheiros. (Fig., Arte, 126)
pysamirĩ (etim. - puçá pequeno) (s.) - var. de rede de pescar de mão (VLB, II, 99)
pysa'ybusu (etim. - puçá de cabo grande) (s.) - var. de rede de pesca de varas compridas para rios muito fundos, nos quais se pesca da embarcação (VLB, II, 99)
pysa'ypeba (etim. - puçá de cabo chato) (s.) - var. de rede de pescar de mão (VLB, II, 99)
pysebo'i (etim. - verme dos pés) (s.) - frieira (dos pés) (VLB, I, 144)
pytaî (etim. - no calcanhar) (posp.) - atrás de (Anch., Arte, 41); Xe pytaî turi. - Veio atrás de mim. (Anch., Arte, 41v)
pytapuku (etim. - ficar longamente) (v. intr.) - demorar-se: ...Opytapuku-mirĩ bé Tupãokype... - Demora-se um pouco na igreja, também. (Bettendorff, Compêndio, 89)
pytasok (etim. - socar o calcanhar) (v.tr.) - escorar, apoiar (para que não caia); firmar (VLB, I, 123) ● pytasokaba - tempo, lugar, modo, etc. de escorar; escora (VLB, I, 123); tranca (de porta, janela, etc.) (VLB, II, 135)
pytũaroana (etim. - o que guarda a respiração) (s.) - 1) vigia da noite; 2) espião que age à noite (VLB, II, 145)
pytunarõ (etim. - guardar a noite) (v. intr.) - 1) vigiar de noite; 2) fazer espionagem à noite (VLB, II, 145)
rerieté (etim. - ostra verdadeira) (s.) - variedade de ostra da família dos ostreídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188)
rerigûara (etim. - comedor de ostras) (s. etnôn.) - nome de nação indígena (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §151, 110)
rerimirĩ (etim. - ostra pequena) (s.) - nome de ostra pequena que se cria nos mangues, da família dos ostreídeos (Sousa, Trat. Descr., 291)
reripeba (etim. - ostra achatada) (s.) - var. de ostra (VLB, II, 18; Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 2235-2236)
reriûasu1 (etim. - ostra grande) (s.) - variedade de ostra grande da família dos ostreídeos (Sousa, Trat. Descr., 291)
Reriûasu2 (etim. - ostra grande) (s. antrop.) - nome tupi dado ao francês Jean de Léry (Léry, Histoire, 341)
ro'yîukyra (etim. - sal do frio) (s.) - geada; neve (VLB, II, 8)
ro'ynhemoapysanga (etim. - frio coalhado) (s.) - geada; neve (VLB, II, 8)
rurunhynga (etim. - o murchar do inchamento) (s.) - ato de desinchar; (adj.: rurunhyng) - desinchado: Xe rurunhyng. - Eu estou desinchado. (VLB, I, 99)
sabeyporaíb (etim. - embriagar-se não completamente) (v. intr.) - ficar alterado por bebida (mas sem se embriagar de todo, nem ficar fora de si) (VLB, II, 131)
sabîagûasu (etim. - sabiá grande) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 146)
sabîapoka (etim. - sabiá estourado) (s.) - SABIAPOCA, pássaro da família dos mimídeos (Sousa, Trat. Descr., 237)
sabiapytanga (etim. - sabiá alaranjado) (s.) - variedade de sabiá, pássaro da família dos turdídeos, também conhecido como sabiá-laranjeira, inconfundível pela intensa cor ferrugínea-laranja da barriga (Sousa, Trat. Descr., 234; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 147)
sabîatinga (etim. - sabiá branco) (s.) - SABIATINGA, pássaro da família dos traupídeos (Sousa, Trat. Descr., 236)
sabîaúna (etim. - sabiá preto) (s.) - SABIAÚNA, SABIÁ-PRETO, pássaro da família dos turdídeos (Sousa, Trat. Descr., 238)
sagûiapyxuna (etim. - sauiá escuro) (s.) - nome de uma espécie de coelho do mato de tamanho grande (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1154-1156)
sagûiîuba (etim. - sagui amarelo) (s.) - var. de bugio (VLB, I, 56)
saîimbe'yembó (etim. - sambaíba de vergôntea) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 172)
sa'ioby'i (etim. - saí azul pequeno) (s.) - SAIUBUÍ, nome de um pássaro pequeno, de cor azul e bico preto (Sousa, Trat. Descr., 236)
sa'iûasu (etim. - saí grande) (s.) - SANHAÇO, ASSANHAÇO, SAÍ-AÇU, nome comum a certos pássaros da família dos traupídeos. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 193)
sakûãîba'e (etim. - o que tem pênis) (s.) - macho (VLB, II, 27)
sakûãîba'egûyra (etim. - macho inferior; abaixo do que tem pênis) (s.) - mulher de modos masculinos; machona, mulher-macho (que não conhece homem e tem mulher e fala e peleja como homem) (VLB, II, 27)
samambaîa (etim. - corda de pesos, i.e., corda de brincos, de pingentes) (s.) - SAMAMBAIA, SAMAMBAIA-DO-MATO-VIRGEM, gleiquênia, 1) planta bromeliácea, Tillandsia usneoides (L.) L., segundo a Flora de Martius; 2) fetos xerófilos da família das gleiqueniáceas, do gênero Dicranopteris, muito ornamentais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 46)
sambok (etim. - tirar a corda) (v.tr.) - desatar, desencabrestar (p.ex., o animal): Aîuru-sambok. - Desatei a boca dele (isto é, do cavalo), desencabrestei-o. (VLB, I, 96; 98)
samoín (etim. - pôr cordas) (v.tr.) - amarrar (com corda); encabrestar (p.ex., a besta) (VLB, I, 47)
samongy (etim. - untar penas) (v. intr.) - grudar penas no corpo, emplumar-se (colando no corpo penas delicadas de várias cores com goma, mel silvestre, etc.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
samysyk (etim. - segurar a corda) (v.tr.) - amarrar com corda; puxar por corda: Oîxamysyk sero'ama... - Amarraram-no com corda, fazendo-o estar em pé. (Ar., Cat., 56v)
sapopyra (etim. - raiz crua) (s.) - SAPOPIRA, o mesmo que sebypyra (v.) (Brandão, Diálogos, 171)
saporema (etim. - raiz fedorenta) (s.) - SAPOREMA, doença que ataca as plantas, principalmente a mandioca, e se caracteriza por suberização anormal (Anch., Arte, 3v)
sapotaîa (etim. - raiz ardida) (s.) - SAPOTAIA, feijão-de-boi, nome comum a várias plantas da família das caparidáceas (como Capparis flexuosa (L.) L.), cujo fruto é uma vagem muitas vezes oleaginosa (Brandão, Diálogos, 197)
sapumim (etim. - mergulhar os olhos) (v. intr.) - pestanejar, piscar: Asapumim. - Pisco. (D'Evreux, Viagem, 158); Eresapumimype amõ supéno? - Piscaste para alguma, também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 90)
sapupeybyra (etim. - casca tenra de raiz) (s.) - raspas, como de cascas, da parte de dentro, como as da figueira-do-inferno para as feridas (VLB, II, 97)
sarakupytanga (etim. - saracura avermelhada) (s.) - var. de SARACURA, ave da família dos ralídeos, de plumagem esbranquiçada e manchada de vermelho (D'Abbeville, Histoire, 238v)
sarapopeba (etim. - sarapó achatado) (s.) - nome de um peixe (Libri Princ., vol. II, 103)
sarigûeîmbeîu (etim. - sarigué biju) (s.) - carnívoro aquático da família dos mustelídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 234; VLB, II, 32). O mesmo que ybyîa (v.).
sarinambigûara (etim. - comedor de cernambis) (s.) - CERNAMBIGUARA, var. de peixe da família dos carangídeos (VLB, I, 81)
sarinambitinga (etim. - cernambi branco) (s.) - CERNAMBITINGA, variedade de molusco bivalve da família dos venerídeos (Sousa, Trat. Descr., 292)
saûasu (etim. - olhos grandes) (s.) - nome de peixe de mar da família dos carangídeos (Brandão, Diálogos, 238)
Saûîaeté (etim. - sauiá verdadeiro) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Poemas, 156)
saûîasobaîa (etim. - sauiá da banda de além) (s.) - SAUIÁ-COBAIA, COBAIA, porquinho-da-índia, mamífero da família dos caviídeos (Cavia porcellus L.), originário da América Andina (as Índias Ocidentais) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 224)
saûîatinga (etim. - sauiá branco) (s.) - variedade de roedor do tamanho de coelho, de pêlo branco. "...Criam em covas e comem frutas cuja carne é muito boa, sadia e saborosa." (Sousa, Trat. Descr., 254)
saúna (etim. - olhos escuros) (s.) - SAÚNA, nome comum a certos peixes mugilídeos (Brandão, Diálogos, 238)
seba'e (etim. - o que é gostoso) (s.) - 1) mantimento (Fig., Arte, 72); qualquer tipo de manjar (VLB, II, 31): i xeba'e - seu mantimento (Fig., Arte, 72); 2) aquilo que se come habitualmente com pão; conduto (VLB, I, 79); 3) legumes (VLB, II, 19)
sebo'inhanga (etim. - sanguessuga que corre) (s.) - var. de sanguessuga (v. sebo'i) (VLB, I, 64)
sebo'ipeba (etim. - sanguessuga achatada) (s.) - var. de sanguessuga (v. sebo'i) (Léry, Histoire, 375)
sebypyragûasu (etim. - sucupira do fruto grande) (s.) - variedade de SUCUPIRA, planta leguminosa faboídea do gênero Bowdichia (Piso, De Med. Bras., IV, 188) (v. tb. sebypyra)
sebypyramirĩ (etim. - sibipira do fruto pequeno) (s.) - variedade de SUCUPIRA (v. sebypyra) (Piso, De Med. Bras., IV, 188)
seîxuîurá (etim. - jirau das plêiades) (s. astron.) - constelação com nove estrelas dispostas em forma de grelha, que, segundo os índios, anunciava a chuva (D'Abbeville, Histoire, 316v)
seîxupirá (etim. - peixe das plêiades) (s.) - nome de um peixe (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 158)
seîxutatá (etim. - plêiades de fogo) (s.) - ano: ...Tupã oîmonhyrõ o îoupé setá nhẽ seîxutatá tekoangaîpaba repy-mondykápe... - Fazem aplacar a Deus a si mesmos, ao eliminarem a dívida dos pecados de muitos anos. (Ar., Cat., 142v)
sembiararaîybo'ira (etim. - colar da filha da sua presa) (s.) - constelação que, segundo os índios, anunciava a chuva (D'Abbeville, Histoire, 316v)
senembyîuba (etim. - senembi amarelo) (s.) - var. de lagarto (Libri Princ., vol. I, 161)
senembyúna (etim. - senembi escuro) (s.) - nome de um réptil da família dos iguanídeos; uma variedade de lagarto (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 53)
sepîakypypabẽ (etim. - o que é visto totalmente) - v. epîak (s) (VLB, II, 89)
sera'yba (etim. - planta dos siris) (s.) - 1) SEREÍBA, SIRIBA, SIRIÚVA, SIRIÚBA, SARAÍBA, mangue-branco, nome de árvore do mangue da família das verbenáceas (Avicennia germinans (L.) L.); 2) planta combretácea (Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.), também conhecida como canapaúba, mangue canapomba, mangue branco e mangue rateiro (Sousa, Trat. Descr., 218; VLB, II, 30; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 127, 135)
sere'yba (etim. - planta dos siris) (s.) - SEREÍBA (v. sera'yba) (Sousa, Trat. Descr., 218)
sere'ybuna (etim. - planta escura dos siris) (s.) - SEREIBUNA, mangue-amarelo (Avicennia germinans (L.) L.), planta verbenácea dos manguezais, também conhecida como sereitinga, guapirá, mangue guapirá, mangue branco e MANGUE-SERIVA (Piso, De Med. Bras., IV, 200)
sere'ytinga (etim. - planta clara dos siris) (s.) - nome de uma planta verbenácea dos manguezais (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 126)
serinambi (etim. - siri de orelha) (s.) - CERNAMBI, nome comum a algumas espécies de moluscos, muito usados pelos índios do passado para sua alimentação. A maior parte dos sambaquis é constituída por eles. "...Tem a casca muito redonda e grossa e tem dentro grande miolo de cor pardaça, que se come assado e cozido." (Sousa, Trat. Descr., 292)
serokypyre'yma (etim. - o que não tem nome retirado) (s.) - pagão (VLB, II, 62)
sîesîeeté (etim. - ciecié verdadeiro) (s.) - CIECIÉ, chama-maré, nome comum a pequeninos caranguejos da família dos ocipodídeos, que apresentam uma das pinças muito maior que a outra. É também chamado siri-patola, caranguejinho-dos-mangues, chora-maré, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 185)
sîesîepanema (etim. - ciecié imprestável) (s.) - CIECIÉ-PANEMA, crustáceo da família dos ocipodídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 185)
siriapûã (etim. - siri pontudo) (s.) - SIRIPUÃ, espécie de crustáceo da família dos portunídeos. Devora cadáveres e apanha peixes. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 183)
sirigûasu (etim. - siri grande) (s.) - SIRIAÇU, crustáceo da família dos portunídeos, a espécie de maior tamanho da família (VLB, I, 67)
sirimirĩ (etim. - siri pequeno) (s.) - SIRIMIRIM, crustáceo da família dos portunídeos (VLB, I, 67)
sirinema (etim. - siri fedorento) (s.) - var. de SIRI (v.) (VLB, I, 67)
sirioby (etim. - siri verde) (s.) - espécie de crustáceo da família dos portunídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 184)
soaba (etim. - finalidade da ida) (s.) - destino, lugar de chegada: Pekûãî pe soápe. - Ide para o vosso destino. (Depoimento de Pero Leitão, apud Viotti, 1980, 207); Xe soaba Tupã retama... - Meu destino é a terra de Deus. (Anch., Teatro, 162, 2006)
sokopinima (etim. - socó pintado) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 118)
so'ogûasurãîgûera (etim. - dente do animal grande) (s.) - marfim, dentes de elefante (VLB, II, 32)
so'oîukasara (etim. - o que mata animais) (s.) - açougueiro (VLB, II, 28)
so'oma'e'ĩndaba (etim. - lugar de vender carne) (s.) - açougue (VLB, I, 21)
so'ombiara (etim. - o que traz caça) (s.) - açougueiro (VLB, I, 67)
so'ombo'isaba (etim. - lugar de retalhar carne) (s.) - açougue (VLB, I, 21) (v. mbo'i)
so'ombo'isara (etim. - o que retalha carne) (s.) - açougueiro; carniceiro (VLB, II, 28) (v. mbo'ir)
so'omimbaba (etim. - animal de criação) (s.) - gado (manso) (VLB, I, 146)
so'oragûera (etim. - o que foi pele de animal) (s.) - 1) pano de couro (VLB, II, 64); 2) lã (VLB, I, 136)
so'orupîara (etim. - adversário de caça) (s.) - cão caçador (VLB, I, 62)
Sûasuakanga (etim. - cabeça de veado) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 182)
Sûasuka'ẽ (etim. - veado assado) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'abbeville, Histoire, 186v)
sûasukanga (etim. - osso de veado) (s.) - nome de uma árvore pequena, de "madeira alvíssima como marfim... Serve para marchetar em lugar de marfim." (Sousa, Trat. Descr., 214)
sûasumandi'yba (etim. - mandioca de veado) (s.) - variedade de mandioca silvestre, de crescimento espontâneo, arbusto arborescente muito semelhante à mandioca comum. Talvez seja a Manihot pusilla Pohl ou a Jatropha sylvestris Vell. (Piso, De Med. Bras., IV, 178)
sûasutinga (etim. - veado branco) (s.) - SUAÇUTINGA, mamífero da família dos cervídeos, dos descampados do Brasil, que tem barriga e rabo claros e olhos circundados por anel branco (Monteiro, Rel. da Província do Brasil, in Leite, Hist., VIII, 416)
sugûasuremi'u (etim. - comida de veado) (s.) - nome de raízes silvestres semelhantes à mandioca (Piso, De Med. Bras. IV, 178; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 170)
supiara (etim. - o que domina a verdade) (s.) - mestre (em qualquer arte ou ciência), perito (VLB, I, 72); o que é máximo em qualquer arte ou habilidade (VLB, II, 33)
su'uagûera (etim. - lugar de mordida que foi) (s.) - sinal deixado por mordida (VLB, II, 42)
su'uame'eng (etim. - dar mordida) (v.tr.) - morder (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277)
sye'yma (etim. - sem mãe) (s.) - órfão (de mãe) (VLB, II, 59)
sygûasupytanga (etim. - veado avermelhado) (s.) - var. de veado pequeno do mato, animal mamífero da família dos cervídeos (VLB, I, 81)
symena (etim. - marido da mãe) (s.) - padrasto (de h. e m.) (Ar., Cat., 114)
sypotingapé (etim. - cipó claro de casca) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 197)
syûasumimbaba (etim. - veado de criação) (s.) - cabra (VLB, I, 62)
sy'yra (etim. - semente de mãe) (s.) - 1) tia (irmã ou prima da mãe) (VLB, II, 127): i xy'yra - sua tia (Fig., Arte, 73); 2) madrasta (de h. e m.) (Ar., Cat., 114); 3) a companheira da mãe, isto é, a outra mulher do pai, a outra mulher que vive com ele junto com a mãe de alguém: xe sy'yra - a companheira de minha mãe (Léry, Histoire, 369)
tabaîara (etim. - os que dominam as aldeias) (s. etnôn.) - TABAJARA, tribo indígena que habitava o Nordeste do Brasil (D'Abbeville, Histoire, 158v)
tabapîasaba (etim. - abrigo da aldeia) (s.) - muro (alto) (VLB, II, 45)
tabebira (etim. - traseiro de aldeia) (s.) - fim, extremidade de um lugar, de um povoado (VLB, I, 61)
tabeté (etim. - aldeia enorme) (s.) - cidade (VLB, I, 74)
tabe'yma (etim. - sem aldeias) (s.) - ermo (VLB, I, 121); o que é despovoado (VLB, I, 100)
tabusu (etim. - aldeia grande) (s.) - cidade: ...akûé tabusu Îerusalém 'îaba... - aquela cidade chamada Jerusalém (Ar., Cat., 61v-62)
tagûapyranga (etim. - tauá vermelho) (s.) - barro vermelho com que se pintava (VLB, I, 52)
tagûatogûasu (etim. - tauató grande) (s.) - var. de tauató (v. tagûató) (VLB, I, 134)
tagûatomirĩ (etim. - tauató pequeno) (s.) - var. de tauató (v. tagûató) (VLB, I, 134)
Taîaapûá (etim. - taiá pontudo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185)
taîaobusu (etim. - tajá folhudo grande) (s.) - TAIOBUÇU, tipo de taioba, planta da família das aráceas, semelhante à couve (Sousa, Trat. Descr., 181)
taîasueté (etim. - taiaçu verdadeiro) (s.) - o TAIAÇU selvagem, não o porco doméstico (ver observação abaixo) (D'Abbeville, Histoire, 249v; Sousa, Trat. Descr., 249)
taîasugûaîa (etim. - taiaçu de rabo) (s.) - porco doméstico (VLB, II, 82): - Xe abé taîasugûaîa... - Eu também sou um porco... (Anch., Teatro, 44). V. tb. taîasu.
taîasupytá (etim. - porco que fica, i.e., que não foge) (s.) - espécie de porco selvagem da família dos taiaçuídeos (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 26)
taîasutirika (etim. - dentes grandes que estalam) (s.) - espécie de porco selvagem da família dos taiaçuídeos. "...Os índios que os flecham hão de ter, prestes, aonde se acolham, porque, se se não põem em salvo com muita presteza, não lhes escapam, os quais são muito ligeiros e bravos..." (Sousa, Trat. Descr., 249) "...Com seus dentes atassalham quantos animais acham." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 26)
taîaûasu (etim. - taiá grande) (s.) - TAIAGUAÇU, 1) espécie de raiz redonda e branca de plantas da família das aráceas e das dioscoreáceas; o inhame; 2) as plantas dessas raízes (D'Abbeville, Histoire, 229v)
takûãînha'a (etim. - fita do pênis) (s.) - fita com que os homens tapuias amarravam o pênis (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 270)
takûaîûsara (etim. - taquara-juçara) (s.) - var. de TAQUARA (v. takûara) (VLB, I, 65)
takûakysé (etim. - taquara-faca) (s.) - nome de uma variedade de TAQUARA, TAQUARA-FACA, isto é, usada para se fazerem facas (Nieuhof, Ged. Reize, 219-220)
takûapembyra (etim. - cercado de taquaras) (s.) - esteira de taquara com que se armavam os navios por causa das flechas (VLB, I, 128)
takûapinima (etim. - taquara pintada) (s.) - var. de TAQUARA (v. takûara) (VLB, I, 65)
takûapoka (etim. - taquara estourada) (s.) - var. de TAQUARA (v. takûara) (VLB, I, 65)
takûare'ẽ (etim. - taquara doce) (s.) - cana-de-açúcar, planta da família das gramíneas (Saccharum officinarum L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 82) ● takûare'ẽ-ndyba - canavial (VLB, I, 65)
takûare'ẽ-eíra (etim. - mel de taquara doce) (s.) - melado de cana-de-açúcar (VLB, II, 35)
takûare'ẽypy'oka (etim. - coalhada de cana-de-açúcar) (s.) - açúcar (VLB, I, 21)
takûari (etim. - taquarinha) (s.) - TAQUARI, TAQUARINHA, nome de muitas plantas da família das gramíneas (entre as quais várias espécies dos gêneros Merostachys e Olyra), usadas para a fabricação de cestos (VLB, I, 65)
takûarusu (etim. - taquara grande) (s.) - TAQUARUÇU, taboca-gigante, bambu da família das gramíneas (Guadua superba Huber), com colmos muito grandes e largos (VLB, I, 65): takûarusu-tyba - ajuntamento de taquaruçu (Léry, Histoire, 349)
takûã'ynha (etim. - caroço do pênis) (s.) - íngua na virilha (VLB, II, 12)
takypûeri (etim. - no rastro) (adv.) - na parte posterior, após, atrás (Anch., Arte, 41; VBL, II, 135)
tamandûabeba (etim. - tamanduá achatado) (s.) - nome de um animal mamífero (Col. Niedenthal, Brasil Holandês, vol. II, 58)
tamandûagûasu (etim. - tamanduazão) (s.) - TAMANDUÁ-AÇU, TAMANDUÁ-BANDEIRA, mamífero desdentado da família dos mirmecofagídeos (Myrmecophaga jubata L.), de cauda muito peluda. É dócil e alimenta-se de cupins. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 225)
tamandûa'i1 (etim. - tamanduazinho) (s.) - TAMANDUAÍ, 1) espécie de TAMANDUÁ, mamífero desdentado que habita as matas, da família dos mirmecofagídeos (Cyclopes didactylus L.), com cauda preênsil, vivendo sobre as árvores, enrolando a cauda em seus galhos. Tem dois dedos na mão e quatro nos pés; 2) TAMANDUÁ-MIRIM, espécie de tamanduá arborícola (Tamandua tetradactyla L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 225)
Tamandûa'i2 (etim. - tamanduazinho) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188)
tamandûapitinga (etim. - tamanduá pintado) (s.) - var. de TAMANDUÁ, animal mamífero da família dos mirmecofagídeos (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 36)
tamatîãgûasu (etim. - tamatiá grande) (s.) - ave de belíssimas penas, provavelmente da família dos ardeídeos. "Voa sempre muito por alto, por onde vai formando umas vozes que parecem humanas." (Brandão, Diálogos, 229)
tambeaoba (etim. - roupa de concha) (s.) - var. de musgo (VLB, II, 45)
tamûatarana (etim. - falso tamuatá) (s.) - variedade de planta marantácea, do gênero Saranthe, muito provavelmente Saranthe marcgravii Pickel, de "bulbo branco... formado de túnicas triangulares, da figura e conformação da tulipa" (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 53)
tangarakagûasu (etim. - tangaracá grande) (s.) - nome de uma planta poligonácea (Coccoloba crescentiaefolia Cham.) (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 119)
tanimbuky (etim. - água de cinzas) (s.) - lixívia, água de lavagem de roupa onde entram cinzas e outros elementos de limpeza e branqueamento (VLB, I, 91)
tapera (etim. - aldeia que foi) (s.) - aldeia em ruínas, aldeia extinta; aldeia destruída, TAPERA (Fig., Arte, 76; Anch., Arte, 14)
Taperusu (etim. - grande tapera) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
tapiîara (etim. - o que domina na aldeia) (s.) - morador de um lugar, morador antigo ou que está de assento em algum lugar (VLB, II, 41); habitante de aldeia; natural de alguma terra (VLB, II, 48), TAPIJARA: ...Opakatu tapiîara... osaûsu. - Ama a todos os moradores do lugar. (Anch., Teatro, 184); Tapiîara... xe pópe arekó-katu. - Os habitantes da aldeia tenho-os bem em minhas mãos. (Anch., Teatro, 34)
tapi'ikuruba (etim. - caroço de anta) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 156)
tapi'irapé (etim. - caminho de anta) (s.) - via-láctea, caminho-de-Santiago (VLB, I, 64)
tapi'irapekũ (etim. - língua de vaca) (s.) - TAPIRAPECU, língua-de-vaca (Chaptalia nutans (L.) Pol.), planta composta empregada na medicina popular como tônico abstergente e emoliente, sendo que as folhas aquecidas são colocadas sobre as têmporas para combater as cefaléias e provocar sono. Era também chamada erva-do-fígado. (Piso, De Med. Bras., 200)
tapi'iraraîygûera (etim. - filhota de anta) (s. astron.) - nome de certa estrela de primeira magnitude do signo de Touro (VLB, II, 56)
tapi'irarepanakũ (etim. - panacu de bois) (s.) - carreta, carroça (VLB, I, 68)
tapi'irarõana (etim. - guardador de vacas) (s.) - vaqueiro (VLB, II, 141)
tapi'ira'yrusu (etim. - filhote grande de vaca) (s.) - vitela, novilho (VLB, II, 51, 147)
Tapi'irebira (etim. - traseiro de vaca) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184)
tapi'irerekoara (etim. - guardião de vacas) (s.) - vaqueiro (VLB, II, 141)
tapi'iresá (etim. - olho-de-boi) (s.) - TAPIREÇÁ, olho-de-boi, peixe da família dos carangídeos (Sousa, Trat. Descr., 283)
tapi'ireté (etim. - tapira verdadeira) (s.) - TAPIRETÊ, anta, mamífero perissodáctilo da família dos tapirídeos (Tapirus terrestris L.) de grande parte da América do Sul. É o maior animal da fauna silvestre do Brasil, atingindo até 180 quilos. (o mesmo que tapi'ira, n. 1 - v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 229; D'Abbeville, Histoire, 250; Anch., Cartas, 459)
tapi'irusu (etim. - tapira grande) (s.) - 1) anta (Léry, Histoire, 347) (v. tapi'ireté); 2) boi, vaca, gado bovino em geral: Kapi'ĩ sosé kó tuî, tapi'irusu karuápe. - Eis que sobre o capim ele está deitado, no lugar de comer da vaca. (Anch., Poemas, 164) ● tapi'irusu 'aka. - chifre de boi (Léry, Histoire, 344)
tapi'opuba (etim. - tapioca mole) (s.) - tipo de pão que se fazia de mandioca; "bolos mui brandos" (Fig., Missão do Maranhão, in Leite, Luiz Figueira, 195)
tapiti2 (etim. - lebre) (s. astron.) - nome de uma constelação (D'Abbeville, Histoire, 251)
tapitigûasu (etim. - tapiti grande) (s.) - asno (VLB, I, 44)
tapura'ybá (etim. - fruta da anta < tapi'ira + 'ybá) (s.) - TAPIRIBA, TAPEREBÁ, nome de árvore do norte do Brasil, o mesmo que CAJÁ (v. akaîá) (Piso, De Med. Bras. IV, 178)
tapy'ymirĩ (etim. - tapuia pequeno) (s. etnôn.) - nome de nação indígena. "É gente pequena, anã, baixos do corpo... A estes chamam os portugueses pigmeus." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
taragûyboîa (etim. - taraguira cobra) (s.) - nome de um lagarto (D'Abbeville, Histoire, 253v)
tare'imboîa (etim. - traíra cobra) (s.) - TRAIRABÓIA, TRAIRAMBÓIA, cobra-d'água, réptil ofídio da família dos colubrídeos, de uma braça de comprimento e da grossura de uma perna (D'Abbeville, Histoire, 253v; Piso, De Med. Bras., III, 171); ..."Criam nos rios, sem saírem à terra.... São amarelas e muito compridas e grossas." (Sousa, Trat. Descr., 260)
tasybura (etim. - taciba erguida) (s.) - TACIBURA, variedade de formiga pequena, inseto da família dos formicídeos. "...Têm grande cabeça, têm dois corninhos nela; são pretas e mordem muito." É também chamada formiga-lava-pé. (Sousa, Trat. Descr., 272)
tasypytanga (etim. - taciba avermelhada) (s.) - TACIPITANGA, variedade de formiga pequena, inseto da família dos formicídeos (Sousa, Trat. Descr., 272)
tataeíra (etim. - abelha de fogo) (s.) - TATAÍRA, abelha da família dos meliponídeos, também chamada caga-fogo por picar forte, sendo muito agressiva (VLB, I, 55)
tataendy1 (etim. - luz de fogo) (s.) - chama, lume: Tataendy-etá, asé apekũ abŷare'yma anhõ osepîak. - Viram somente muitas chamas, parecidas com as línguas da gente. (Ar., Cat., 45)
tataendy2 (etim. - luz de fogo) (s. astron.) - nome de uma estrela brilhante (D'Abbeville, Histoire, 319v)
tataendyuru (etim. - recipiente de chama) (s.) - candeeiro (VLB, I, 65)
Tatagûasu (etim. - fogo grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 183v)
tataîyba (etim. - pau de fogo) (s.) - 1) TATAJUBA, TATAÚBA, árvore morácea (Bagassa guianensis Aubl.), de madeira amarela e frutos do tamanho de laranjas, também chamada AMOREIRA-TATAÍBA, ESPINHEIRO-BRANCO, JATAÍBA, JATAÚBA, MOREIRA, TAGUAÚVA, TAÚBA, TUIJUBA, etc. Serviam-se os índios dessa árvore para fazer fogo, donde seu nome. 2) o fruto dessa árvore (VLB, I, 34; 126; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 119; 273)
tatapeîuaba (etim. - instrumento de abanar o fogo) (s.) - foles de ferreiro (VLB, I, 141)
tatapu'i (etim. - pó de fogo) (s.) - pólvora: -Ererupe tatapu'i setá? -Trouxeste muita pólvora? (D'Evreux, Viagem, 246)
tatapyasyka (etim. - carvão cortado) (s.) - tição (VLB, II, 128)
tatapynhapŷara (etim. - o que queima carvão) (s.) - carvoeiro (VLB, I, 68)
Tatapytera (etim. - chupa-fogo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 130, 2006)
tata'u (etim. - come-fogo) (s.) - arcabuz: Ererupe tata'u? - Trouxeste arcabuzes? (D'Evreux, Viagem, 246)
tataupaba (etim. - lugar de estar o fogo) (s.) - lareira, fogão (Thevet, Cosm. Univ., 915; VLB, I, 140)
tataûrana1 (etim. - falso fogo escuro) (s.) - TATURANA, TATARANA, nome comum a lagartas de insetos lepidópteros que causam sensação urticante, de queimadura, quando tocam a pele; é também conhecida como lagarta-de-fogo: Akó xe îubykarûera, tataûrana...! - Esse é meu antigo enforcador, uma taturana... (Anch., Teatro, 62)
Tataûrana2 (etim. - falso fogo escuro) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Teatro, 64)
tatauru (etim. - repositório de fogo) (s.) - braseiro (VLB, I, 59)
tatau'uba1 (etim. - flecha de fogo) (s.) - flecha incendiária com que se queimam as casas durante as guerras (VLB, I, 141)
tatau'uba2 (etim. - flecha de fogo) (s.) - foguete, fogo de artifício (VLB, I, 141)
tataûyramirĩ (etim. - pequeno pássaro de fogo) (s.) - nome de um pássaro (D'Abbeville, Histoire, 238v)
tataûyraûasu (etim. - grande pássaro de fogo) (s.) - nome de um pássaro (D'Abbeville, Histoire, 239)
tata'yba1 (etim. - planta de fogo) (s.) - TATAÚBA, árvore da família das moráceas (v. tataîyba) (Piso, De Med. Bras., I, 151)
tata'yba2 (etim. - haste de fogo) (s.) - fuzil, antiga peça de aço, feridor movediço que, nas armas de fogo, sendo percutido com força pela pederneira, fazia cintilar fogo que, caindo em uma pequena porção de pólvora, incendiava-a, produzindo a detonação e a explosão dos projéteis com que a arma estava carregada (VLB, I, 143)
tatuapara (etim. - tatu curvo) (s.) - TATUAPARA, APARA, APAR, tatu-bola, mamífero da família dos dasipodídeos, que se encurva por ocasião de perigo, ficando como uma perfeita bola (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 232)
tatueté (etim. - tatu verdadeiro) (s.) - TATUETÊ, TATU-VERDADEIRO, TATU-GALINHA, TATU-DE-FOLHA, nome de um animal mamífero desdentado da família dos dasipodídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 231)
tatu'i (etim. - tatuzinho) (s.) - TATUÍ, animal mamífero desdentado da família dos dasipodídeos, Dasypus septemcinctus, conhecido também como TATU GALINHA PEQUENO, TATU MULITA, TATU-MIRIM. Ocorre na Colômbia, Venezuela e Brasil. (Monteiro, Rel. da Prov. do Brasil, in Leite, Hist., VIII, 420)
tatumirĩ (etim. - tatu pequeno) (s.) - variedade de TATU de tamanho pequeno (v.) (Sousa, Trat. Descr., 251)
tatupeba (etim. - tatu achatado) (s.) - TATUPEBA, TATUPOIÚ, TATU-CASCUDO, mamífero desdentado da família dos dasipodídeos, que aparece em todo o Brasil, tendo seis cintas de placas móveis no corpo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 231; Sousa, Trat. Descr., 252)
tatupebusu (etim. - grande tatu achatado) (s.) - var. de tatu, mamífero desdentado da família dos dasipodídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1069-1072)
tatuûasu (etim. - tatu grande) (s.) - TATUAÇU, variedade de tatu de tamanho avantajado, mamífero da família dos dasipodídeos. "Mantêm-se de frutas silvestres e minhocas, andam devagar e, se caem de costas, têm trabalho para se virar." (Sousa, Trat. Descr., 251)
tatybe'yma (etim. - sem ocorrência de aldeias) (s.) - ermo (VLB, I, 121); lugar despovoado (VLB, I, 100)
Taubymana (etim. - o antigo Taúba) (s.) - nome de entidade sobrenatural da cosmologia dos antigos tupis da costa (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
Tebiresá (etim. - olho das nádegas) (s. antrop.) - TEBIRIÇÁ, TEBIREÇÁ, TIBIRIÇÁ, nome de índio tupi, de famoso chefe de Piratininga, que muito auxiliou os portugueses nos primeiros tempos da vila de São Paulo (Vasconcelos, Crônica I, §158, 256)
tebiró (etim. - tapa-bunda < tebir + 'o) (s.) - sodomita, homossexual passivo. Termo conhecido indiretamente pelo topônimo quinhentista ACAJUTIBIRÓ (PB) (v. p. 386). (v. tb. tebira)
tegûama (etim. - futura causa de morte) (s.) - veneno; peçonha; (adj.: tegûam) - peçonhento; (xe) ter peçonha (como cobra, etc.): Xe tegûam. - Eu tenho peçonha. (VLB, II, 69)
teîkeaba (etim. - lugar de entrar) (s.) - porta (Fig., Arte, 61)
teîkuare'ẽ (etim. - sesso doce) (s.) - nome de uma ave (Brandão, Diálogos, 230)
teîkûare'yma (etim. - sem ânus) (s.) - var. de caramujo (VLB, I, 66)
teîkûatatina (etim. - ânus fumegante) (s.) - nome de uma pequena lombriga (VLB, II, 24)
teîunhana (etim. - teju corredor) (s.) - espécie de lagarto da família dos teídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 238)
tekoaraíba (etim. - o que mora mal) (s.) - homiziado, fugitivo (Anch., Arte, 14)
tekokuapara (etim. - o que conhece os fatos) (s.) - juiz, chefe: ...Cristãos i mongaraibypyra tekokuaparamo Cristo remieîara... - O que Cristo deixa como chefes dos cristãos batizados. (Ar., Cat., 6-6v)
tembekûaritá (etim. - pedra do buraco do beiço) (s.) - pedra usada como enfeite nas bochechas pelos índios homens (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
te'yîpe (etim. - na multidão) (adv.) - publicamente, em público: Te'yîpe memẽ nhẽ ixé aporombo'e. - Sempre eu ensinei publicamente as pessoas. (Ar., Cat., 55v)
te'yîupaba (etim. - lugar de estar deitada a multidão) (s.) - TIJUPÁ, TIJUPABA, TAJUPÁ, TAJUPAR, TIJUPAR, TUJUPAR, choupana feita para abrigo durante as viagens pela floresta; pequena cabana coberta de folhagem e aberta por todos os lados (D'Evreux, Viagem, 77; Sousa, Trat. Descr., 321; VLB, I, 74)
tie'apyragûyra (etim. - tiê da moleira baixa) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
tiegûaîsyka (etim. - tiê-esfrega-cauda) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
tiegûasu (etim. - tiê grande) - o mesmo que tiîegûasu - v. (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
tiemirĩ (etim. - tiê pequeno) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
tieoby (etim. - tiê verde) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
tieobygûasu (etim. - tiê verde e grande) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
tiepyranga (etim. - tiê vermelho) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347) (o mesmo que tiîepyranga - v.)
tieúna (etim. - tiê escuro) (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347) (o mesmo que tiîeúna - v.)
tiîeakãpyranga (etim. - tiê da cabeça vermelha) (s.) - nome de um pássaro (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 136)
tiîegûasu (etim. - tiê grande) (s.) - TIÉ-GUAÇU, pássaro da família dos traupídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 212)
tiîeîuba (etim. - tié amarelo) (s.) - espécie de TIÉ, pássaro da família dos traupídeos. "...São passarinhos pequenos que têm o corpo amarelo, as asas verdes, o bico preto." (Sousa, Trat. Descr., 236; VLB, I, 65)
tiîepyranga (etim. - tiê vermelho) (s.) - TIÊ-PIRANGA, pássaro da família dos traupídeos. É também chamado TAPIRANGA, TIÉ-FOGO, TIÉ-VERMELHO, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 192; Sousa, Trat. Descr., 236)
tiîepytanga (etim. - tiê cinza) (s.) - nome de um pássaro (Libri Princ., vol. I, 75)
tiîeúna (etim. - tiê preto) (s.) - nome de um pássaro da família dos traupídeos (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 130, 131, 132, 133)
timbeba (etim. - nariz chato) (s.) - obesidade; (adj.: timbeb) - obeso: Xe timbeb. - Eu estou obeso. (D'Evreux, Viagem, 157)
timbogûasu (etim. - timbó grande) (s.) - TIMBÓ-AÇU, variedade de barbasco, grande cipó da floresta de várzea, nome comum às plantas Magonia pubescens A. St.-Hil., da família das sapindáceas, e Deguelia scandens Aubl., da família das leguminosas (Piso, De Med. Bras., IV, 201)
timbopeba (etim. - timbó achatado) (s.) - var. de timbó (v.) (VLB, II, 145)
timbopiriana (etim. - timbó listrado) (s.) - var. de timbó (v.) (VLB, I, 51; II, 145)
timbora (etim. - conteúdo das ventas) (s.) - vapor, bafo, fumaça (de coisa quente) (VLB, I, 50): O îuru timbora pupé asé robá peîuû. - Com o bafo de sua boca sopra-nos o rosto. (Ar., Cat., 81); (adj.: timbor) - enfumaçado, abafado; (xe) fumegar, vaporar, soltar fumaça ou vapor (VLB, I, 50)
timborana (etim. - falso timbó) (s.) - TIMBORANA, fava-de-rosca, timbó-da-mata, árvore da família das leguminosas (Enterolobium schomburgkii (Benth.) Benth. ) (Sousa, Trat. Descr., 224; VLB, II, 145)
timuna (etim. - bico preto) (s.) - nome de um passarinho pequeno e preto (Sousa, Trat. Descr., 238)
tingaíba (etim. - claro não completamente) (s.) - cor trigueira; cor tirante a pardo, moreno (VLB, II, 137)
tipoîrana (etim. - falsa tipóia) (s.) - rede tapada de dormir (VLB, II, 99)
Tipoîusu (etim. - grande tipóia) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
Tokaîusu (etim. - galinheiro grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 185)
tugûygûasu (etim. - muito sangue) (s.) - sanguessuga (VLB, II, 112)
tugûypabe'yma (etim. - sangue que não acaba) (s.) - sanguessuga (VLB, II, 112)
tu'ĩakãpyranga (etim. - tuim da cabeça vermelha) (s.) - nome de um pássaro (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 167)
tu'ĩ'aputeîuba (etim. - tuim do cocuruto amarelo) (s.) - nome de um periquito largamente espalhado em todo o Nordeste, pássaro da família dos psitacídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
tu'ĩeté (etim. - tuim verdadeiro) (s.) - TUIETÊ, provavelmente o macho do pássaro conhecido genericamente como tuim, da família dos psitacídeos (v. tu'ĩ) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
tu'ĩîuparaba (etim. - tuim manchado de amarelo) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 171)
tu'ĩtyryka (etim. - tuim arisco) (s.) - TUITIRICA, periquito da família dos psitacídeos, provavelmente a fêmea do pássaro conhecido genericamente como tuim (v. tu'ĩ) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
tukanusu1 (etim. - grande tucano) (s.) - TUCANUÇU, TUCANAÇU, ave da família dos ranfastídeos (Brandão, Diálogos, 230)
tukanusu2 (etim. - grande tucano) (s. etnôn.) - nome de uma nação de índios tapuias do sertão nordestino (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. III, §14)
tukũkurûatá (etim. - tucum-croatá) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 189)
Tukumusu (etim. - tucuma grande) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 188v)
tukurasu (etim. - gafanhoto grande) (s.) - espécie de gafanhoto, inseto tetigonídeo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 245)
tukuroby (etim. - gafanhoto verde) (s.) - espécie de gafanhoto, inseto tetigonídeo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 246)
tungusu (etim. - tunga grande) (s.) - pulga, inseto da família dos pulicídeos. "...São compridos, com feição de pernas, como os piolhos-ladros, e fazem grande comichão no corpo." (Sousa, Trat. Descr., 274; VLB, II, 89)
tupãar (etim. - tomar Deus) (v. intr.) - comungar, tomar a hóstia: Mobype erenhemombe'u koîpó eretupãar...? - Quantas vezes te confessaste ou comungaste? (Ar., Cat., 98)
tupãberaba (etim. - brilho de trovão) (s.) - raio; clarão que antecede o trovão (Léry, Histoire, 359); relâmpago (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
tupãerogûatá1 (etim. - caminhada com Deus) (s.) - procissão (VLB, II, 87)
tupãerogûatá2 (etim. - caminhar com Deus) (v. intr.) - fazer procissão: Orotupãerogûatá. - Fizemos procissão. (VLB, II, 87)
tupãmongetá1 (etim. - conversa com Deus) (s.) - oração: ...tupãmongetá pupé... - por meio da oração (Ar., Cat., 48v)
tupãmongetá2 (etim. - conversar com Deus) (v. intr.) - orar, rezar (para Deus ou em geral) (VLB, II, 39)
tupãmongetasaba1 (etim. - instrumento de oração) (s.) - missal (VLB, II, 39)
tupãmongetasaba2 (etim. - companhia de oração) (s.) - ornamentos da missa (VLB, II, 59)
tupãoka (etim. - casa de Tupã) (s.) - igreja, templo: Marãngatupe asé rekóû... tupãokype oîkŷabo?- Como a gente faz, entrando na igreja? (Ar., Cat., 24); (adj.: tupãok) (xe) - ter igreja: I tupãok îepé... aîmomoxy pabenhẽ... - Embora eles tenham igrejas, a todos arruinei. (Anch., Teatro, 132); Oré tupãoketá... - Nós temos muitas igrejas. (Anch., Poemas, 114)
tupãomirĩ (etim. - igreja pequena) (s.) - ermida (VLB, I, 121)
tupãrara (etim. - tomar a Deus) (s.) - eucaristia; comunhão: Páscoa îabi'õ tupãrara. - Comunhão a cada Páscoa. (Ar., Cat., 17)
tupãrasara (etim. - o que toma a Deus) - comungante: Oîaby bépe abá Tupã nhe'enga o a'yra tupãrasarymana supé tupãrarukare'yma? - Transgride também alguém a palavra de Deus não mandando comungar a seu filho que é comungante antigo? (Ar., Cat., 76v)
tupãrerobîasare'yma (etim. - o que não crê em Deus) (s.) - infiel, descrente, ateu (VLB, II, 12)
tupãrorypaba (etim. - lugar da alegria de Deus) (s.) - paraíso: Endé tupãrorypápe aûîeramanhẽ ereîkó. - Tu no paraíso para sempre estás. (Anch., Teatro, 122)
tupãsununga (etim. - barulho de Tupã) (s.) - trovão, "o estrondo causado pela suprema perfeição" (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
tupãypy1 (etim. - primícias de Deus) (s.) - cebola-albará, variedade de canácea, provavelmente a Canna glauca L. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 32)
tupeisaba (etim. - instrumento de varrer) (s.) - TUPIXABA, TUPIÇABA, TAPIXABA, vassourinha, planta escrofulariácea (Scoparia dulcis L.), de cujos ramos enfeixados se fazem vassouras simples, úteis para se varrerem terreiros. É muito empregada na medicina popular como emoliente, béquica e febrífuga. (Piso, De Med. Bras., IV, 199)
tupigûaé (etim. - tupis diferentes < tupi + aé2) (s. etnôn.) - TUPIGUAÉ, nome de nação indígena que habitava do sertão de São Vicente até Pernambuco (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 122)
tupinakyîa (etim. provável: os que invocam Tupi < Tupi2, nome de um personagem mítico + ekyî (s) ou ykyî (s) + suf. -a] (s. etnôn.) - TUPINIQUIM, TUPINAQUI, nome de nação indígena ou indivíduo dessa nação: Soryb, xe îabé, xe ruba tupinakyîa. - Está alegre, como eu, meu pai tupiniquim. (Anch., Poemas, 110)
turuygûera (etim. - turu de pau velho) (s.) - TURU, verme que se cria na madeira e a destrói, da família dos teredinídeos (VLB, I, 60)
tyamĩsaba (etim. - instrumento de espremer caldo) (s.) - instrumento utilizado para prensar a mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 66)
tyeté (etim. - rio verdadeiro) (s.) - leito do rio dentro das margens, que às vezes fica descoberto (VLB, II, 27)
tyîuîar (etim. - tirar espuma) (v. intr.) - espumar (como a panela, etc.) (VLB, I, 124)
tyîuîok (etim. - arrancar espuma) (v. intr.) - espumar (como a panela, etc.) (VLB, I, 124)
tykyra1 (etim. - água tenra) (s.) - gota, pingo (de qualquer líquido): Tugûy tykyrûera abŷare'yma. - Semelhante a gotas de sangue. (Ar., Cat., 53v); (adj.: tykyr) - gotejante: Xe resa'y-tykyr. - Eu tenho lágrimas gotejantes. (VLB, II, 17)
typa'ama (etim. - obstrução de urina) (s.) - cálculo renal (VLB, II, 69); (adj.: typa'am) - doente de cálculos renais; (xe) ter cálculos: Xe typa'am. - Eu tenho cálculos renais. (VLB, II, 69)
typy'abyka (etim. - fécula apertada - v. pyk) (s.) - fécula de mandioca espremida (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
typy'oky (etim. - água de tapioca) (s.) - var. de bebida (Vasconcelos, Crônica, I, 106)
tyuru1 (etim. - recipiente de urina) (s.) - bexiga (Castilho, Nomes, 40)
tyuru2 (etim. - recipiente de urina) (s.) - urinol, penico (VLB, II, 60)
tyurutyba (etim. - recipiente costumeiro de urina) (s.) - urinol, penico (VLB, II, 60)
ûaîanaûasu (etim. - grande guaianá) (s. etnôn.) - GUAIANÁ-GUAÇU, nome de nação indígena tapuia (Knivet, The Adm. Adv., 1230)
ûaîaûasu (etim. - guajá grande) (s.) - espécie de caranguejo encontrado nos mangues (D'Abbeville, Histoire, 248)
ûarapyranga (etim. - guará vermelho) (s.) - GUARAPIRANGA, talvez o mesmo que gûará1 (v.) (Staden, Viagem, 175)
ubaeaîa (etim. - fruta gostosa e azeda) (s.) - UVAIA, 1) planta mirtácea, do gênero Eugenia; 2) nome de seu fruto (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 114)
ubandaba (etim. - instrumento de envolver) (s.) - envoltório (VLB, I, 120)
ubapûã (etim. - extremidade da coxa) (s.) - a ponta da coxa junto ao joelho (Castilho, Nomes, 41)
ubarana (etim. - falsa ubá) (s.) - UBARANA, OBARANA, peixe de corpo cilíndrico e alongado, da família dos elopídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 154)
ubaranasagûasu (etim. - ubarana dos olhos grandes) (s.) - nome de um peixe elopídeo (Griebe, Brasil Holandês, vol. III, 71)
uburu (etim. - envoltório das coxas) (s.) - ceroulas (VLB, I, 59)
ubypy (etim. - começo da coxa) (s.) - a raiz da coxa junto à virilha (Castilho, Nomes, 41)
u'iatã (etim. - farinha dura) (s. etnôn.) - nome de grupo indígena que vivia, no século XVI, próximo dos potiguaras da costa nordestina (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 121)
u'imogûapaba (etim. - instrumento de joeirar farinha) (s.) - peneira (VLB, II, 72)
u'imoîypaba (etim. - lugar de assar farinha) (s.) - vaso utilizado para secar a farinha de mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
u'ipeba (etim. - farinha achatada) (s.) - farinha delicada e de melhor qualidade, preparada a partir da mandiopuba (Piso, De Med. Bras., 62)
u'ipukuîtaba (etim. - instrumento de mexer farinha) (s.) - pá utilizada na produção de farinha de mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
u'itinga1 (etim. - farinha branca) (s.) - farinha de mandioca meia seca e meia úmida, VITINGA (Nieuhof, Mem. Viag., 282)
U'itinga2 (etim. - farinha branca) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 187)
upaba1 (etim. - lugar em que jaz a água < 'y + ub + -aba) (s.) - lago; lagoa (VLB, II, 17)
uparana (etim. - falso lago) (s.) - brejo (VLB, I, 59)
urubitinga (etim. - urubuzinho branco) (s.) - URUBITINGA, cancã, gavião da família dos falconídeos. "Ave semelhante à águia, do tamanho de um pato de seis meses." (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 214)
urubu'anga (etim. - imagem de urubu) (s.) - var. de ave de rapina (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1422-1424)
urubutinga (etim. - urubu branco) (s.) - URUBUTINGA, var. de URUBU, ave da família dos catartídeos (Sousa, Trat. Descr., 234)
uru'i (etim. - uruzinho) (s.) - nome de uma ave (Brandão, Diálogos, 226)
urukurana (etim. - falso urucu) (s.) - URUCURANA, URUCUANA, URICURANA, ARICURANA, LICURANA, árvore da família das euforbiáceas (Hieronyma alchorneoides Allemão), que fornece boa e pesada madeira (Sousa, Trat. Descr., 215)
urukure'aûasu (etim. - urucureá grande) (s.) - nome de uma ave de rapina (D'Abbeville, Histoire, 233)
urupe'i (etim. - urupê pequeno) (s.) - var. de cogumelo comestível que cresce na terra (VLB, I, 86)
urutaû'i (etim. - urutauzinho) (s.) - URUTAUÍ, URUTAÍ, nome de um pássaro (D'Abbeville, Histoire, 240)
urutaûrana (etim. - falso urutau) (s.) - URUTAURANA, ave falconiforme de grande porte e carnívora (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 203; VLB, I, 27): Ké urutaûrana ruri! - Aqui vem um urutaurana. (Anch., Teatro, 180, 2006)
urutaûranusu (etim. - grande urutaurana) (s.) - nome de uma ave (v. urutaûrana) (VLB, I, 27)
urutueíra (etim. - urutu-abelha) (s.) - nome comum a várias espécies de abelhas da família dos meliponídeos (Piso, De Med. Bras., IV, 178)
usagûasu (etim. - uçá grande) (s.) - espécie de caranguejo, da família dos ocipodídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 185)
usapeba (etim. - uçá achatado) (s.) - espécie de caranguejo (D'Abbeville, Histoire, 248v)
usaúna (etim. - uçá escuro) (s.) - UÇAÚNA, var. de caranguejo, crustáceo da família dos gecarcinídeos, que vive nos mangues (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 184)
'useîmogûab (etim. - saciar o desejo de comer, de beber) (v.tr.) - fartar-se de comer, de beber: Aî'useîmogûab. - Fartei-me de comê-lo. (VLB, II, 33)
u'ubae'ẽ (etim. - ubá doce) (s.) - cana-de-açúcar, planta da família das gramíneas (Saccharum officinarum L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 82) ● u'ubae'ẽndyba - ajuntamento de cana-de-açúcar, canavial (VLB, I, 65); u'ubae'ẽ eíra - melado ou mel de cana-de-açúcar (VLB, II, 35)
u'ubae'ẽypy'oka (etim. - coalhada de ubá doce) (s.) - açúcar (VLB, I, 21)
u'ubapûaetá (etim. - flecha de muitas pontas) (s.) - espécie de flecha com extremidade de muitas pontas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
u'ubarana (etim. - falso ubá) (s.) - planta herbácea da família das alismatáceas (VLB, I, 125)
u'uberekoara (etim. - o que cuida das flechas) (s.) - flecheiro (VLB, I, 143)
u'ubeté (etim. - ubá verdadeiro) (s.) - nome de uma planta (VLB, I, 65)
u'usama (etim. - corda de flecha) (s.) - farpão para arpoar peixes (VLB, I, 135)
ûyraîuba (etim. - ave amarela) (s.) - GUARUBA, ave psitacídea, espécie de papagaio amarelo, salvo nas extremidades das asas e da cauda, que são verdes (D'Abbeville, Histoire, 234)
Ûyrapapeba (etim. - arco achatado) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
Ûyrapasama (etim. - corda de arco) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Léry, Histoire, 431-432, 1994)
ûyraroka'ĩ (etim. - cercadinho de pássaros) (s.) - 1) gaiola de pássaros; 2) galinheiro (D'Abbeville, Histoire, 283v)
ûyrate'õ (etim. - pássaro-morte) (s.) - GUIRA-TÉU, nome de uma ave do mangue (Sousa, Trat. Descr., 232)
ûyrate'õte'õ (etim. - ave-morte-morte) (s.) - GUIRATEUTÉU, TERÉU-TERÉU, TERO-TERO, TETÉU, TÉU-TÉU, ave da família dos caradriídeos, que vive nas várzeas, praias, beiras de rios, lagoas, brejos, pastagens. Era considerada capaz de ressuscitar: "pássaro que tem acidentes de morte e que morre e torna a viver." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 62). "Esses pássaros andam no mar, perto da terra e voam ao longo da água tanto, sem descansar, até que caem como mortos; e assim descansam até que se tornam a levantar e voam." (Sousa, Trat. Descr., 232)
ûyraûasu (etim. - passarão) (s.) - nome comum a certas aves de rapina, de grandes garras e possuidoras de grande fúria e força (D'Abbeville, Histoire, 232)
Ûyraûasupinima (etim. - passarão pintado) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 182v)
ûyraûasupytanga (etim. - passarão cinza) (s.) - nome de uma ave de rapina de plumagem cinza e manchada de amarelo (D'Abbeville, Histoire, 232v)
ûyraûasuúna (etim. - passarão preto) (s.) - nome de uma ave de rapina (D'Abbeville, Histoire, 232v)
ûyraupi'a (etim. - ovos de pássaro) (s. astron.) - nome de duas estrelas não identificadas (D'Abbeville, Histoire, 319)
'yaipuka (etim. - rompimento de água ruim) (s.) - saída de água do útero da mulher que está para dar à luz, também chamada dianteira (VLB, I, 103)
yanhurĩ (etim. - cabaça-pescocinho) (s.) - var. de cabaça em forma de pescoço, com estreitamento entre duas partes mais largas, isto é, estreita no meio e grossa nas pontas (VLB, I, 93) (v. yganhurĩ)
'yapyra (etim. - extremidade de rio) (s.) - cabeceiras, nascentes de rio (VLB, I, 61)
'yaroba (etim. - planta amargosa) (s.) - JAROBA, arbusto escandente da família das bignoniáceas (Tanaecium jaroba Sw.). Seu fruto serve como cabaça. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 25; Nieuhof, Ged. Reize, 219-220)
yasyka (etim. - cabaça cortada) (s.) - var. de cabaço partido ao meio (VLB, I, 61)
'yba4 (etim. - água ruim) (s.) - planta cuja raiz era utilizada para embriagar os peixes; uma variedade de TIMBÓ (D'Abbeville, Histoire, 182)
'ybá (etim. - 'yba + 'a > fruto de planta) (s.) - fruta, fruto: Eva, îandé sy-ypy, onhemomotar-eté 'ybá-poranga resé... - Eva, nossa mãe primeira, atraiu-se muito pelo belo fruto. (Anch., Poemas, 178); Okuî rakó amũme 'ybarambûera o 'yba suí ybotyramo oîkóbo bé. - Caem, às vezes, os frutos das suas árvores, sendo ainda flores. (Ar., Cat., 157v); E'u ymẽ ikó 'ybá... - Não comas este fruto... (Anch., Doutr. Cristã, I, 162)
'ybaaîa (etim. - fruta azeda) (s.) - 1) laranja (VLB, II, 18); 2) limão (VLB, II, 22)
'ybab (etim. - cortar a planta) (v.tr.) - podar: Aî'ybab. - Podei-a. (VLB, II, 79)
'yae'ẽ (etim. - fruta doce) (s.) - melancia, planta cucurbitácea (o mesmo que 'ybae'ẽ - v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 22)
'ybagûasu (etim. - fruta grande) (s.) - cidra (VLB, I, 74)
'ybaîuba (etim. - fruta amarela) (s.) - laranja (VLB, II, 18)
'ybakamusi (etim. - fruta-pote) (s.) - CAMBUCI, 1) árvore da família das mirtáceas (Campomanesia phaea (O. Berg) Landrum); 2) o fruto dessa árvore, "semelhante ao limão, com uma casca fina, muito suco, acre como a uva brava" (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 141)
'ybakurupari (etim. - fruta de caroço torto) (s.) BACURI, 1) árvore da família das clusiáceas (Platonia insignis Mart.), também chamada BACURIZEIRO; 2) o fruto dessa planta, grande e carnoso, de polpa amarela e comestível (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 119; Brandão, Diálogos, 217)
'ybamembeka (etim. - fruta mole) (s.) - nome de uma árvore de fruto amarelo e caroço amargo (D'Abbeville, Histoire, 222v)
'ybametara (etim. - pau-tembetá) (s.) - árvore anacardiácea (Spondias purpurea L.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 129)
'ybamirĩ (etim. - fruta pequena) (s.) - nome de uma fruta semelhante ao limão (Brandão, Diálogos, 217)
'ybamoîybypyra (etim. - fruto cozido) (s.) - conserva (VLB, I, 80)
'ybamyxuna (etim. - fruto escuro) (s.) - 1) murta, gênero de plantas da família das mirtáceas; 2) árvore melastomatácea do norte do Brasil (Mouriri guianensis Aubl.) (VLB, II, 45)
'ybapaar (etim. - tirar todos os paus) (v. intr.) - roçar (VLB, II, 107)
'ybapaara (etim. - o tirar todos os paus) (s.) - lavoura, roça, roçado (VLB, II, 19) ● kopisaba 'ybapaara - (lit., o arrancar todos os paus do lugar de carpir) roçado antes de se queimar (VLB, II, 107)
'ybapeba (etim. - fruto achatado) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 212)
'ybapekanga (etim. - planta da casca ossuda) (s.) - salsaparrilha, JAPECANGA, nome comum a duas plantas esmilacáceas, Smilax papyracea Duhamel e Smilax officinalis Kunth (VLB, II, 62)
'ybapiroba (etim. - fruto da pele amarga) (s.) - nome de uma planta (D'Abbeville, Histoire, 224v)
'ybapyranga (etim. - fruta vermelha) (s.) - nome de uma fruta (Piso, De Med. Bras., I, 11)
'ybarema (etim. - fruto fedorento) (s.) - alho (Anch., Arte, 3v; VLB, I, 32)
'ybaremusu (etim. - fruto grande fedorento) (s.) - cebola (VLB, I, 69)
'yba-sapé (etim., planta sapé) (s.) - SAPÉ (v. sapé) (Piso, De Med. Bras., IV, 194; VLB, II, 62)
'ybasyka-kuîmbuka (etim. - cabaço de cumbuca) (s.) - árvore que dá a CUITÉ (v. kuîeté) (VLB, I, 61)
'ybatatã1 (etim. - pau duríssimo) (s.) - cerne (de madeira, de árvore) (VLB, I, 70)
'Ybatatã2 (etim. - pau duríssimo) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §2, 114)
ybaté2 (etim. - o alto) (s.) - sobrado, casa assobradada (VLB, II, 119)
ybatinga (etim. - brancura do céu) (s.) - nuvem: -Marãpe irã turine? -Ybatinga 'arybo. -Como virá futuramente? -Sobre as nuvens. (Ar., Cat., 46v; VLB, II, 52)
'ybaûasurana (etim. - falsa cidra) (s.) - árvore grande e grossa, com flores brancas, fruto grande de casca muito amarela e polpa muito doce (D'Abbeville, Histoire, 222v)
'ybesembabaka (etim. - ralo que vira de um lado e do outro) (s.) - roda utilizada na produção de farinha de mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 66)
'ybotyra (etim. - flor de planta < 'yb + potyra) (s.) - flor (VLB, I, 144): Okuî rakó amũme 'ybarambûera o 'yba suí 'ybotyramo oîkóbo bé. - Caem, às vezes, os frutos das suas árvores, sendo ainda flores. (Ar., Cat., 157v).
yby'ama (etim. - terra levantada) (s.) - 1) barranco (VLB, I, 52); 2) ladeira (VLB, II, 17); 3) costa (VLB, I, 83); 4) planalto, chapada; superfície plana e alta (VLB, I, 72) ● yby'ã-by'ama - barrancos (VLB, I, 52)
yby'apaba (etim. - fenda da terra) (s.) - 1) cava, cova, buraco, vala, fosso, barreiro (v. 'ab) (VLB, I, 69; II, 135); 2) valado, vala pouco funda, guarnecida de tapume ou sebe (VLB, II, 140)
ybyapetekypyra (etim. - parede de terra batida < yby + pyá + petek + pyr + -a) (s.) - taipa de mão ou francesa (isto é, parede que se barreia à mão) (VLB, II, 123)
ybyasura (etim. - lombada de terra) (s.) - barranco (VLB, I, 52); ladeira (não muito grande) (VLB, II, 17)
ybyboboka (etim. - fende-terra) (s.) - IBIBOBOCA, IBIBOCA, IBIOCA, coral-verdadeira, nome de vários répteis ofídios da família dos elapídeos. "Não somente os campos e matos, mas até as casas andam cheias delas." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 33). "... Elas, no rojarem, fendem a terra à maneira de toupeiras...", donde seu nome. (Anch., Cartas, 124)
ybybura (etim. - saliência da terra) (s.) - ABIBURA, var. de cogumelo que cresce na terra (VLB, I, 86; Theat. Rer. Nat. Bras., 183)
ybyeté (etim. - terra verdadeira) (s.) - terra firme, em oposição ao mar ou ao que está no mar: T'îasó ybyetépe. - Vamos a terra (diz o que está no navio). (VLB, II, 127)
yby'îaba (etim. - indicação da terra) (s.) - limite (p.ex., entre roças) (VLB, I, 130); margem que divide as roças (comumente uma carreira de erva ou mato que não se limpava) (VLB, II, 32)
ybỹîagûyra (etim. - parte de baixo do interior) (s.) - concavidade (VLB, I, 78)
ybyîara (etim. - a que domina a terra) (s.) - IBIJARA, cobra-de-duas-cabeças, cobra-cega, nome genérico de répteis lacertílios da família dos anfisbenídeos. Têm corpo com a mesma grossura da cabeça à cauda; Daí, o nome popular. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 239; VLB, I, 76)
ybykuapaba (etim. - instrumento de conhecimento da terra) (s.) - instrumento de mensuração de terras; marco de terras (VLB, II, 32)
ybykûara (etim. - buraco da terra) (s.) - mina (VLB, II, 38)
ybykûarusu (etim. - grande buraco da terra) (s.) - caverna, furna: Mbobype ybykûarusu yby apyterype sekóû...? - Quantas furnas há no meio da terra? (Bettendorff, Compêndio, 48)
ybyku'i (etim. - farinha de terra) (s.) - areia: ...Ybyku'i-tinga gûyri... - Sob a areia branca. (Anch., Teatro, 170); ybyku'i-una - areia preta (VLB, I, 41)
ybyokamonhangara (etim. - o que faz casas de terra) (s.) - taipeiro de pilão, isto é, aquele que constrói casas de barro socado entre tábuas paralelas (VLB, II, 123)
ybypeba (etim. - terra plana) (s.) - 1) várzea (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 82); 2) planície (VLB, I, 134)
ybypypûera (etim. - o que foi um tronco da terra) (s.) - cepo, toco (da árvore que foi cortada) (VLB, I, 70) (v. ypy)
ybyraapûaîara (etim. - os que portam paus agudos: ybyrá + apûá + îara) (s. etnôn.) - nome de nação indígena tapuia. "Pelejam com paus tostados, agudos; são valentes." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 125)
ybyrababaka1 (etim. - madeira que se move para um lado e para o outro) (s.) - pedaço de pau para atirar a alguma coisa, como para derrubar alguma fruta da árvore, etc. (VLB, II, 69)
ybyrababaka2 (etim. - madeira que se move para um lado e para o outro) (s.) - roda de engenho (VLB, II, 98); máquina de moagem da cana, engenho (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 83)
ybyrae'ẽ (etim. - madeira doce) (s.) - 1) nome de uma árvore sapotácea nativa (Pradosia lactescens (Vell.) Radlk.), também chamada guaco, cujo fruto "é produzido cada quatriênio" (Piso, De Med. Bras., I, 6); 2) IVURANHÊ, BURANHÉM, GURANHÉM, EMIRAÉM, BURAÉM ou IVURAÉM, árvore da família das sapotáceas, de boa madeira, muito usada nos séculos XVI e XVII para a construção de navios (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101; Brandão, Diálogos, 171)
ybyraîara (etim. - o que porta pau) (s. etnôn.) - UBIRAJARA, nome de grupo indígena que habitava para além dos carijós (Vasconcelos, Crônica, I, §169, 262)
ybyraitá (etim. - árvore pedra) (s.) - pau-ferro, árvore de madeira muito dura, da família das leguminosas (Caesalpinea ferrea Mart.) (Sousa, Trat. Descr., 217)
ybyrakûara2 (etim. - toca de madeira) (s.) - prisão (VLB, II, 137)
ybyraku'i (etim. - madeira-pó) (s.) - BRACUÍ, GUARACUÍ, nome de uma árvore (Brandão, Diálogos, 171)
ybyrakytã (etim. - nó de árvore) (s.) - MUIRAQUITÃ, pedra verde com que índios da Amazônia compravam mulheres; pedra verde que servia como amuleto (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 172)
ybyranha'ẽ (etim. - prato de madeira) (s.) - gávea (de navio) (VLB, I, 147)
ybyranupã (etim. - os bate-paus) (s. etnôn.) - nome de nação indígena tapuia. "Quando justam com os contrários, fazem grandes estrondos, dando com uns paus nos outros." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
ybyraoby (etim. - árvore verde) (s.) - pau-ferro, o mesmo que ybyrapyteruna (v.). "É uma das árvores brasileiras que mais crescem, cujo material é duríssimo e vermelho por dentro; não é sujeita à corrupção; não dá fruto; nasce em bosques altíssimos e vales." (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 141)
ybyrapandara (etim. - o que lavra a madeira) (s.) - carpinteiro (VLB, I, 67)
ybyraparanga (etim. - madeira que resvala) (s.) - nome que designava a máquina de moagem da cana, o engenho de açúcar (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 83)
ybyrapararanga1 (etim. - madeira que roda) (s.) - carreta, carroça (VLB, I, 68)
ybyrapararanga2 (etim. - madeira que roda) (s.) - pequeno engenho de açúcar, movido por animais; trapiche (VLB, I, 116)
ybyraparyba (etim. - planta de arco) (s.) - árvore grande, muito dura, "...de que os índios fazem os seus arcos... cuja madeira se não corrompe" (Sousa, Trat. Descr., 217)
ybyrapeasoka (etim. - verme da casca das árvores) (s.) - inseto negro alado, coleóptero, da família dos escarabeídeos. "Devora as raízes, seguindo-se, daí, a destruição total da cana." (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 83)
ybyrapeba (etim. - madeira chata) (s.) - tábua (VLB, II, 125)
ybyrapema (etim. - pau anguloso) (s.) - IVIRAPEMA, IVIRAPEME, tacape (Staden, Viagem, 70) (v. tb. ingapema e ygapema)
ybyrapesẽ (etim. - colher de madeira) (s.) - var. de colher com que as índias mexiam suas bebidas e mingaus (VLB, I, 76)
ybyrapinima (etim. - pau pintado) (s.) - IBIRAPINIMA, IBURAPINIMA, nome de uma árvore (Bettendorff [1698], Crôn. do Maranhão, in RIH, LXXII [1909], 33). "...É o pau mais precioso que se tem descoberto em toda a América Portuguesa." (Pe. José de Moraes [1759], livro IV, p. 502)
ybyrapiroka (etim. - árvore arranca-pele) (s.) - IBIRAPIROCA, árvore da família das mirtáceas, comprida, muito direita, de madeira pesada. "...Têm estas árvores a casca lisa, a qual péla cada ano e vem criando outra nova por baixo daquela pele." (Sousa, Trat. Descr., 218; Brandão, Diálogos, 171)
ybyrapokaba (etim. - pau instrumento de estouro) (s.) - arcabuz; espingarda (VLB, I, 40; 126)
ybyrapûã (etim. - pau pontudo) (s.) - estaca pontuda utilizada na cultura da mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 66)
Ybyrapûé (etim. - árvore distante) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 12v)
Ybyrapuku (etim. - pau comprido) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 186v)
ybyrapytanga (etim. - árvore avermelhada, árvore rosada) (s.) - IBIRAPITANGA, ARABUTÃ, pau-brasil, pau-rosado, árvore da família das leguminosas (Caesalpinia echinata Lam.), de madeira vermelho-alaranjada e, depois, vermelho-violácea, pesada e dura. É também chamada pau-de-tinta, sapão, etc. O Brasil deve seu nome a essa árvore. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101; VLB, I, 59)
ybyrapyteruna (etim. - árvore de cerne escuro) (s.) - pau-ferro, árvore da família das leguminosas (Caesalpinia ferrea Mart.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 120)
ybyrarema (etim. - madeira fedorenta) (s.) - IBIRAREMA, nome comum às seguintes plantas fitolacáceas: 1) a Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms, chamada também GORAREMA, GURAREMA, GUAREMA, UARAREMA, GUARAREMA ou pau-d'alho. Quando cortada sua madeira, exala fedor terrível. (Sousa, Trat. Descr., 222); 2) o cipó-d'alho, Seguiera americana L. Essas plantas "a tal ponto rivalizam com as qualidades do alho que, tocadas ainda de mui leve, recendem de acentuadíssimo cheiro bosques e casas inteiros..." (Piso, De Med. Bras., 201)
ybyrasoka (etim. - verme de madeira) (s.) - UBIRAÇOCA, gusano, teredo, verme que fura a madeira dos navios (Sousa, Trat. Descr., 295)
ybyrasyka (etim. - pau de resina) (s.) - UBIRACICA, árvore anacardiácea (Protium icicariba (DC.) Marchand) que lança grande quantidade de resina, que os índios usavam como mezinha (Sousa, Trat. Descr., 204)
ybyrataîa (etim. - madeira ardida) (s.) - planta da família das anonáceas, árvore de tamanho mediano, "de madeira mole, de cor parda, que cheira muito bem" (Sousa, Trat. Descr., 221)
ybyratimbó (etim. - árvore-timbó) (s.) - var. de barbasco, planta cujo veneno entorpece ou mata os peixes (VLB, I, 51)
ybyratinga (etim. - pau branco) (s.) - IBIRATINGA, árvore da família das apocináceas, com cuja madeira se faziam hastes de lança e dardos (Sousa, Trat. Descr., 222)
ybyratingyîara (etim. - o que porta pau branco) (s.) - 1) alcaide (VLB, I, 29); 2) juiz (VLB, II, 16)
ybyraúna (etim. - madeira preta) (s.) - BRAÚNA (Melanoxylon brauna Schott), árvore grande da família das leguminosas, de madeira preta, duríssima e pesada, também chamada BARAÚNA, GARAÚNA, maria-preta, etc. (Sousa, Trat. Descr., 218)
ybyrayagûasu (etim. - grande cabaça de madeira) (s.) - cuba (VLB, I, 86)
ybyrayamirĩ (etim. - pequena cabaça de madeira) (s.) - var. de barril de madeira (VLB, I, 52)
ybyraygara (etim. - madeira de canoa) (s.) - IBIRAIGARA, árvore nativa do sertão da Bahia, da qual "...fazem umas embarcações para pescarem pelo rio e navegarem." (Sousa, Trat. Descr., 220)
ybyraypy (etim. - tronco de árvore) (s.) - variedade de abelha (VLB, I, 18)
ybyraysyka (etim. - resina de árvore) (s.) - incenso (VLB, I, 114)
ybyryby'apaba (etim. - instrumento de abrir covas da terra) (s.) - arado (VLB, I, 40)
ybysosok (etim. - ficar socando terra) - 1) (v.tr.) - pilar taipas (p.ex., de uma casa): Aîybysosok. - Pilei-lhe as taipas. (VLB, II, 77); 2) (v. intr.) - fazer taipa de pilão: Aybysosok. - Fiz taipa de pilão. (VLB, II, 123) ● ybysosokaba - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de pilar taipas; pilão de socar o barro dentro dos taipais para se fazerem paredes (VLB, II, 77)
ybysosokara (etim. - o que fica socando terra) (s.) - taipeiro de pilão, isto é, aquele que constrói paredes de barro socado entre tábuas paralelas (VLB, II, 123)
ybysosokypyra (etim. - terra socada) (s.) - 1) entulho de terra (VLB, I, 119); 2) taipa de pilão, isto é, parede de barro socado entre duas tábuas paralelas, que lhe servem de molde e que são retiradas quando seca o barro (VLB, II, 123)
ybytimbora (etim. - fumaça da terra) (s.) - poeira (que se levanta da terra seca) (VLB, II, 79)
ybytinga1 (etim. - brancura da terra) (s.) - 1) nuvem: ...Pesepîak irã... ybytinga 'arybo xe rura béne... - Vereis também futuramente minha vinda sobre as nuvens. (Ar., Cat., 56v); Yby opá ybytinga ybaka suí o'aryba'e i aso'iûne. - A terra, todas as nuvens que caem do céu cobri-la-ão. (Ar., Cat., 7); 2) névoa, nevoeiro (VLB, II, 49; Léry, Histoire, 359)
Ybytinga2 (etim. - brancura da terra) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §1, 113)
ybytuura (etim. - vento que vem) (s.) - furacão (VLB, I, 145)
ybytygûaîa2 (etim. - cauda de montanha) (s.) - córrego (VLB, II, 141)
Ybytyrapé (etim. - superfície de montanha) (s. antrop.) - nome de índio tupi (Anch., Poemas, 156)
ybyyby'ab (etim. - abrir terras e terras) (v.tr.) - arar, fazer aração: Aîybyyby'ab. - Arei-a. (VLB, I, 40)
ybyyby'apaba (etim. - instrumento de arar) (s.) - arado (VLB, I, 40)
'yekobé (etim. - água viva) (s.) - manancial, fonte d'água (VLB, II, 30); fonte, água perene (VLB, II, 73)
'yemby (etim. - pé de rio [de água doce ou salgada]) (s.) - esteiro de mar ou rio, braço muito estreito de mar ou rio, que entra pela terra (VLB, I, 128)
'ygapé (etim. - caminho d'água) (s.) - corrente de água que se desviava de um rio para regar ou mover algum engenho (VLB, II, 20)
ygapeba (etim. - canoa chata) (s.) - jangada (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272; VLB, II, 7)
ygapebusu (etim. - canoa chata grande) (s.) - barca, como de engenho, que leva cana-de-açúcar (VLB, I, 52)
ygapukuî (etim. - mexer a canoa) (v. intr.) - remar: Aygapukuî. - Remo. (VLB, II, 100)
ygapukuîtaba (etim. - instrumento de mexer a canoa) (s.) - remo (VLB, II, 101)
ygapukuîtara (etim. - o que mexe a canoa) (s.) - remeiro, o que rema (VLB, II, 101)
ygarapé (etim. - caminho de canoas) (s.) - IGARAPÉ, pequeno rio da bacia amazônica; canal natural que une dois trechos de um mesmo rio; rio pequeno que se aparta dos grandes, retalhando terras e florestas [Ferreira, América Abreviada, in RIH, LVII [1894], 55]
ygarembé (etim. - beiço de canoa) (s.) - bordo de canoa, postiças, obras exteriores no costado de uma embarcação para protegê-la e evitar a fácil abordagem (VLB, I, 58)
ygareté (etim. - canoa verdadeira) (s.) - IGARITÉ, almadia, var. de canoa de madeira (VLB, I, 32)
ygarupaba (etim. - lugar de estarem fundeadas as canoas) (s.) - ancoradouro de canoas (VLB, II, 83) ● ygarupá-tyba (s.) - ancoradouro usual de canoas (VLB, II, 83)
ygarusu (etim. - canoa grande) (s.) - navio, IGARUÇU: ...Ygarusu nungara... - Algo semelhante a um navio. (Ar., Cat., 41v); Onhemombe'upe abá ...ygarusupe o 'ar-y îanondé? - Confessa-se alguém antes de embarcar num navio? (Anch., Doutr. Cristã, I, 212)
ygarusuetá (etim. - muitos navios) (s.) - armada (VLB, I, 41)
ygarusumirĩ (etim. - navio pequeno) (s.) - caravelão, var. de embarcação (VLB, I, 67)
ygasaba (etim. - lugar de tomar água) (s.) - IGAÇABA, GAÇABA, QUIÇABA, pote de barro, geralmente de boca larga, para água e outros líquidos; talha de fazer cauim: ...Setá nhẽ ygasabusu... - São muitas as grandes igaçabas. (Anch., Teatro, 24); Ygasápe kaûĩ-tuîa, a'e ré, îamomotá... - O cauim transbordante nas igaçabas, depois disso, os atrai. (Anch., Teatro, 28); Tynysẽ memẽ ygasaba... - Estão sempre cheias as igaçabas... (Anch., Teatro, 34)
ygaybyrá (etim. - árvore de canoa) (s.) - nome de uma árvore, de cuja casca, destacada de cima a baixo, faziam-se canoas (Staden, Viagem, 156)
ygepo'ĩ (etim. - ventre fino) (s.) - tripas (Castilho, Nomes, 40); tripas delgadas (VLB, II, 137)
'ygûara (etim. - habitante da água) (s.) - tartaruga de água doce (Thevet, Cosm. Univ., 918v)
'Ykatu (etim. - água boa) (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 184v)
ykepuba (etim. - flanco mole) (s.) - ilhargas (VLB, II, 142); ilhais dos bois, isto é, cada uma das duas partes situadas entre a última costela, a ponta da alcatra e o lombo da rês (VLB, II, 10)
'ykûapaba (etim. - lugar de passar a água) (s.) - rego d'água (VLB, II, 100)
'ykûara (etim. - buraco d'água) (s.) - 1) cisterna (VLB, I, 75); 2) fonte (VLB, I, 141); 3) poço (VLB, II, 79)
'ykutukaba (etim. - instrumento de perfurar a água) (s.) - bomba de navio (VLB, I, 57)
'ymbîasaba (etim. - lugar de se abrigar da água) (s.) - barra de porto (VLB, I, 52)
'ymombîasaba (etim. - lugar de desviar a água) (s.) - sangradouro (VLB, II, 112)
'yno'onga (etim. - água que se ajunta) (s.) - charco, lagoa (VLB, I, 72); poça d'água (VLB, II, 79)
'yno'ongaba (etim. - lugar de ajuntar-se a água) (s.) - cisterna (VLB, I, 75)
'ypa'ũ (etim. - intervalo das águas) (s.) - ilha: 'Ypa'ũgûasu - Ilha Grande (antigo nome de ilha das costas do Rio de Janeiro) (VLB, II, 9); 'Ypa'ũ-mirĩ - Ilha Pequena (nome que davam os indígenas à ilha de Santana, no Maranhão) (D'Abbeville, Histoire, 57) ● 'ypa'ũmendûara - o que está na ilha, o que é da ilha: ...opá 'ypa'ũmendûara... - todos os que estão nas ilhas (Anch., Teatro, 12)
'ype'asaba (etim. - lugar de afastar a água) (s.) - levada d'água, corrente de água que se desviava de um rio para regar ou mover algum engenho (VLB, II, 20)
ypebebuîa (etim. - casca leve) (s.) - cortiça (VLB, I, 83)
ypekakûãîa (etim. - pênis de pato) (s.) - IPECACUANHA, poaia, raiz-do-brasil, planta trepadeira da família das rubiáceas (Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes), de propriedades medicinais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 17)
ypekapara (etim. - ipeca torta) (s.) - filhote de ave d'água que ainda não sai fora (VLB, I, 21)
yperoba (etim. - casca amarga) (s.) - PEROBA, PEROBEIRA, nome comum a várias árvores das famílias das apocináceas e das bignoniáceas, de boa madeira (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 97)
yperukyba (etim. - piolho de tubarão) (s.) - PIRAQUIBA, piolho-de-tubarão, rêmora, espécie de peixe da família dos equenídeos, conhecido também como peixe-pegador, pegador, peixe-piolho. Ele adere a outros peixes para se locomover, inclusive aos tubarões, por meio de um disco adesivo que tem na cabeça, mas não é um parasita. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 180; VLB, II, 69)
yperupinima (etim. - tubarão pintado) (s.) - nome de um peixe (VLB, II, 128)
yperuûasu (etim. - tubarão grande) (s.) - var. de tubarão (Staden, Viagem, 68)
'ypîasaba (etim. - lugar de desviar-se a água) (s.) - rego d'água (VLB, II, 20)
'yporu (etim. - água que come gente) (s.) - dilúvio: -Mba'e pupépe i mokanhemi? -'Yporu pupé. -Com que os destruiu? -Com um dilúvio. (Ar., Cat., 41, 41v)
'ypûera (etim. - rio que foi) (s.) - IPUEIRA, terreno alagado; charco formado nas áreas baixas pela junção de rios que transbordaram e onde as águas se conservam muitos meses, tornando indistintos os canais fluviais que lhe deram origem [abn, lxxxii [1962], 220]
'Ypupîara (etim. - o que está dentro d'água) (s.) - IPUPIARA, nome de entidade sobrenatural dos antigos índios tupis da costa do Brasil (VLB, I, 85). "Eram homens marinhos que atacavam as pessoas, comendo partes de seus corpos." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 57). Era também chamado "homem-marinho", o qual, segundo certos relatos da época colonial, teria sido morto por Baltazar Ferreira no litoral da capitania de São Vicente em 1564. (Sousa, Trat. Descr., 277)
ypygûara (etim. - habitante das profundezas) (s.) - alma (Thevet, Cosm. Univ., 915v)
ypymoín (etim. - pôr começo) (v.tr.) - começar: Aîypymoín. - Comecei-o. (VLB, I, 77)
ypymonhang (etim. - fazer o começo) (v.tr.) - 1) introduzir, começar; 2) inventar: Aîypymonhang. - Inventei-o. (VLB, I, 77; II, 13)
ypyrung (etim. - pôr começo) (v.tr.) - 1) começar: Aîypyrung. - Comecei-o. (Fig., Arte, 145); ...Taûîé iîypyrunga. - Começando-os logo. (Ar., Cat., 165); 2) fundar: Atabypyrung. - Fundei uma aldeia. (VLB, II, 84); 3) introduzir, inventar (VLB, II, 13) ● ypyrungaba - tempo, lugar, modo, etc. de começar; começo, início: Erenhemosaînanype... nde rambyagûá missa iîypyrungápe sendubagûama ri? - Tu te preocupaste com que teus vizinhos ouvissem a missa ao começar ela? (Anch., Doutr. Cristã, II, 105)
ypyrunga (etim. - pôr começo) (s.) - começo, início, origem: Galilea suí katu, i ypyrunga... - Desde a Galiléia, sua origem... (Ar., Cat., 83, 1686)
'ysoka (etim. - fere pau: 'yb + sok + -a) (s.) - nome comum a vários insetos ou vermes que atacam carne, madeira, etc. (VLB, I, 55; II, 17)
'ysokapé (etim. - verme de casca) (s.) - traça, nome comum às larvas de lepidópteros, quase todas de origem européia, e que atacam roupas (VLB, II, 134)
'ysokarenimbó (etim. - fio de lagarta) (s.) - seda em fio; seda tecida (VLB, II, 114)
'ysokaúna (etim. - lagarta do pêlo preto) (s.) - nome de uma lagarta preta "...de cor muito fina, todas cheias de pêlo tão macio como veludo e tão peçonhento que faz inchar a carne se lhe tocam, com cujo pêlo os índios fazem crescer a natura (isto é, o pênis)" (Sousa, Trat. Descr., 266)
'ysokoba (etim. - lagarta das folhas) (s.) - nome de uma lagarta que come as plantas (VLB, II, 17)
'ysoko'ĩ (etim. - pequeno socó da água ) (s.) - nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 120)
ysykapûangatu (etim. - resina muito cheirosa) (s.) - incenso (VLB, I, 114)
ysypopytanga (etim. - cipó avermelhado) (s.) - raiz avermelhada utilizada pelos índios para fazer a farinha que lhes servia de matéria-prima para a fabricação do pão (D'Abbeville, Histoire, 230)
ysypoysyka (etim. - cipó resinoso) (s.) - nome de uma planta (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 215)
ysysay'ambaba (etim. - lugar de estar a candeia) (s.) - haste fincada num cepo com pé, na qual se pendurava a candeia (VLB, I, 65); tocheiro (VLB, II, 130)
ysysayendaba (etim. - lugar de estar a candeia) (s.) - castiçal (VLB, I, 68); tocheiro (VLB, II, 130)
'ytororoma (etim. - jorro d'água) (s.) - bica d'água (VLB, I, 55)
'ytororombaba (etim. - lugar de jorro d'água) (s.) - valeta d'água (VLB, I, 55)
ytymãmbûera (etim. - o que foi perna) (s.) - castanha-de-caju (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 95)
'yura (etim. - água que vem) (s.) - crescente da maré, enchente do mar (VLB, I, 85)
A etimologização de tais topônimos enriquece nosso conhecimento do passado do Brasil, revela-nos fatos que escapam às narrativas de outras épocas. Muitas vezes estaremos diante de nomes pré-cabralinos como Anhangabaú, Paraguaçu, etc., de nomes que acompanharam o avanço das entradas, bandeiras e monções como Uberaba, Cuiabá, Piracicaba, etc., de nomes que acompanharam o avanço das missões católicas às margens dos rios amazônicos, como Surubiú (atual Alenquer), Arucará (atual Portel), etc. Analisá-los é penetrar na história do nosso país.
As etimologias aí dadas por Silveira Bueno não têm nenhum fundamento. Embu não significa "lugar" nem em tupi, nem em guarani, nem nas línguas gerais coloniais. Consultando o próprio Vocabulário Tupi-Guarani-Português, vemos que nem o próprio Silveira Bueno o consigna... Ademais, em que vocabulário antigo ou moderno de tupi, guarani, língua-geral ou nheengatu teria Silveira Bueno visto que "ama" é um coletivo? Em português isso acontece (como em dinheirama, por exemplo). Mas em tupi também seria assim? O autor não o esclarece.
Itaguaçu (Atibaia, SP). De itá + -ûasu: pedra grande.
branquear - moting
camarão - po
catinga - katinga
defecar - poti / epoti; ka'apîasó; ka'ab
defumar - motimbor
desonrar - mobyk
peito - poti'a (m)
îeposanong [etim. - por remédios (ou poções) em si] (v. intr.) - tomar remédio, tomar poções: Pitanga nhemonhanga suí oîeposanõ-sanonga. - Ficando a tomar poções para não gerar uma criança. (Ar., Cat., 97, 1686)
nhoepenhan [etim. - atacar um(s) ao(s) outro(s)] (v. intr.) - brigar (com muito barulho e clamores, com flechadas ou cutiladas) (VLB, I, 43)
nhoepenhana [etim. - o atacar um(s) ao(s) outro(s)] (s.) - briga (com flechadas, cutiladas, etc., não com punhadas ou agarrando-se os cabelos, que é îoîrarõ - v.) (VLB, II, 71)
tupiminó [etim. - netos dos tupis < tupi + emiminõ (t)] (s. etnôn.) - TUPIMINÓ, nome de nação indígena falante da língua brasílica (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §151, 110)
tupinambá [etim. provável - todos da família dos tupis < tupi + anam/a + mbá (nasal. de pá)] (s. etnôn.) - TUPINAMBÁ, nome de nação indígena ou indivíduo dessa nação (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 122; D'Abbeville, Histoire, 61): Ma'ẽne, tupinambá Paragûasupendarûera ...opakatu îamombá. - Olha, arrasamos todos os tupinambás que estavam no Paraguaçu. (Anch., Teatro, 14)
Tuputapuku [etim. - tronco comprido < toputá + puku)] (s. antrop.) - nome de índio tupi (D'Abbeville, Histoire, 82)
yîerebasaba [etim. - a que atravessa os rios que se reviram, i.e., meândricos < 'y + îereb + asab (s) + -a] (s.) - nome de uma ave rincopídea, a talha-mar, dos grandes rios do Norte e da costa atlântica do Brasil. Costuma voar junto da água, alimentando-se de peixes. (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 102)
tupi antigo Língua geral setentrional nheengatu (falado ainda no AM)
Acajutibiró (antigo nome da Baía da Traição, PB.). De akaîu - caju + tebiró - sodomita; (fig.) estéril, que não gera: cajueiro estéril: "Chama-se esta Bahia pelo gentio Pitiguar Acajutibiro, e os portuguezes, da Traição, por com ella matarem uns poucos de castelhanos e portuguezes que n'esta costa se perderam." (Sousa, Trat. Descr., XI).
Aguaçaí (Cotia, SP). De Agûasaí, nome de uma entidade da cosmologia dos tupis.
Araritaguaba (antigo nome da Porto Feliz, SP). De arara + itá + 'u + -aba: lugar de as araras comerem pedras (paredão salitroso à beira do rio Tietê, onde se encontram essas aves à procura de salitre).
Caiapiá (Cotia, SP). De ka'api'a (folha-testículo), capiá, caapiá, caiapiá, plantas moráceas do gênero Dorstenia.
Caraguatá (Cotia, SP). De karagûatá, gravatá, planta bromeliácea.
Ibitiruí (antigo nome do Serro Frio, em Diamantina, MG). De ybytyra + ro'y: serro frio, morro frio. "Antônio Soares (...) chegou ao Serro do Frio, nome que os portugueses traduziram em língua própria: sendo que na gentílica é Hyvituruhy, que quer dizer Serro do Frio, aludindo ao muito enregelado frio, que faz pelo cume daquela Serra, com frigidíssimos ventos (...)" (Manuel José Pires da Silva Pontes [n.d.], p. 47)
Jacaré Catinga (SP). De îakaré + katinga: catinga dos jacarés.
Piratininga (antigo nome de São Paulo, SP). De pirá - peixe + tining/a + -a - seco: peixes secos.
Reritiba (antigo nome de Anchieta, ES). De reri + tyba: ajuntamento de ostras, sambaquis.
Saracura (antigo riacho de São Paulo, SP). De sarakura - ave gruiforme da família dos ralídeos.
amarrar - apy ● amarrar pelas mãos: popûar
assassinar - apiti
cotia - akuti
desenhar - kûatiar
escrever - kûatiar
fezes - (e)poti (r, s)
milho - abati
neblina - ybytinga
névoa - ybytinga
nevoeiro - ybytinga
nuvem - ybatinga; ybytinga
pernilongo - nhati'ũasu
pintar - kûatîar; (pintar de branco): moting; (pintar de vermelho): mopyrang; (pintar de preto): moún; (pintar de amarelo): moîub
trucidador - apitîara (v. apiti)
trucidar - apiti
volta - nhatimana; nhemoîereba
akûanhaíba (t) (etim. - pênis ruim) (s.) - cavalo (nome vulgar de doença venérea do homem); [adj.: akûanhaíb (r, s)] (xe) - ter cavalo, ter doença venérea: Xe rakûanhaíb. - Eu estou com doença venérea. (VLB, I, 69)
akubaíba (t) (etim. - mau aquecimento) (s.) - tepidez; [adj.: akubaíb (r, s)] - morno (fal. de água ou outro líquido): Xe rakubaíb. - Eu estou morno. (VLB, II, 42)
aky2 (s.) - tibieza; frouxidão; (adj.) - tíbio, frouxo: Aîpó gûi'îabo, n'akyî ixé. - Isso dizendo, eu não estou tíbio. (Anch., Teatro, 144)
akypûembour (s) (etim. - fazer virem as pegadas) (v.tr.) - seguir o rastro de (na volta): Asakypûembour. - Sigo-lhe o rastro. (VLB, II, 115); I ara'a îagûara îá, îandé rakypûemboú. - Ele é lampeiro como uma onça, seguindo nosso rastro. (Anch., Poemas, 188)
akypûemomosem (s) (etim. - perseguir as pegadas) (v.tr.) - seguir o rastro de (acossando-o): Asakypûemomosem. - Sigo-lhe o rastro. (VLB, II, 115)
akypûemondó (s) (etim. - fazer ir as pegadas) (v.tr.) - seguir o rastro de (na ida), ir atrás de, ir no encalço de: Kunhã rakypûemondóbo... - Seguindo o rastro das mulheres. (Anch., Teatro, 150)
akyra2 (s.) - tibieza, frouxidão; enternecimento; (adj.: akyr) - tíbio, frouxo; (xe) enternecer-se, afrouxar-se: Erepo'ẽpe kunhã rapopé amõ pupé, nde akyramo? - Passaste as mãos nalguma virilha de mulher, estando enternecido? (Anch., Doutr. Cristã, II, 90); ...Xe repyramo omanõba'epûera ri xe akyre'ymamo... - Não me enternecendo eu pelo que morreu para me resgatar. (Ar., Cat., 86)
ambeaoba (t) (etim. - roupa da virilha) (s.) - 1) ceroulas; cueca, calção (VLB, I, 63); 2) espécie de tanga (VLB, II, 64)
anhapûá (t) (etim. - dente pontudo) (s.) - dente canino (VLB, II, 85)
anhasy1 (t) (etim. - dente ruim) (s.) - presa de cobra (VLB, II, 85)
anhasy2 (t) (etim. - coisa ruim do dente) (s.) - peçonha; [adj.: anhasy (r, s)] - peçonhento: Xe ranhasy. - Eu sou peçonhento. (VLB, II, 69)
apearõ (s) (etim. - guardar o caminho) (v.tr.) - esperar no caminho de, esperar escondido (p.ex., a caça, o inimigo, para apanhá-los) (VLB, I, 126): Oîkuá-katu marana, morapearõ-arõmo. - Conhece bem as guerras, ficando a esperar escondido as pessoas. (Anch., Teatro, 138); Asapearõ. - Espero-o no seu caminho. (VLB, I, 126)
apekysym (s) (etim. - atalhar o caminho) (v.tr.) - tomar dianteira a: Asapekysym. - Tomei-lhe a dianteira. (VLB, I, 103)
api'agûasu (t) (etim. - testículos grandes) (s.) - hérnia do escroto; [adj.: api'agûasu (r, s)] (xe) - ter hérnia: Xe rapi'agûasu. - Eu tenho hérnia. (VLB, II, 83)
api'a'ok (s) (etim., arrancar os testículos) (v.tr.) - castrar (VLB, I, 66) ● sapi'a'okypyra - castrado (VLB, I, 66)
api'aỹîa (t) (etim. - semente dos testículos) (s.) - sêmen (Castilho, Nomes, 38)
api'a'yĩ'ok (s) (etim. - arrancar os grãos dos testículos) (v.tr.) - castrar: Asapi'a'yĩ'ok. - Castrei-o. (VLB, I, 66) ● sapi'a'ỹî'okypyra - castrado (VLB, I, 66)
atagûasu (t) (etim. - grande fogo) (s.) - bomba de fogo (VLB, I, 57)
atãngatu (t) (etim. - muito firme) (s.) - 1) valente, forte, rijo (Segundo D'Abbeville, era como os índios se chamavam quando se consideravam guerreiros. In Histoire, 293v); 2) força, valentia: Pe ratãngatu resé gûiîekoka, asó-potá... - Apoiando-me na vossa valentia, quero ir. (Anch., Teatro, 146-148); [adj.: atãngatu (r, t) ou (r, s)] - valente; forte: ...Eîmombe'u pakatu nde angaîpagûera... nde ratãngaturamo... - Conta todos os teus pecados, sendo forte. (Ar., Cat., 98); Epytá! Kagûápe nhõ nde ratãngatu-potá? - Fica! Somente quando bebes cauim tu queres ser valente? (Anch., Teatro, 64)
ebitapyîa (t) (etim. - cobertura de popa) (s.) - toldo (de barco ou navio) (VLB, I, 72)
ebixama (t) (etim. - corda de popa) (s.) - corda com que se comanda a vela da embarcação para virá-la, para tomar mais ou menos vento; escota (VLB, I, 123)
ebykasy-pyranga (t) (etim. - diarréia vermelha) (s.) - diarréia com eliminação de sangue; [adj.: ebykasy-pyrang (r, s)] (xe) - ter diarréia com sangue: Xe rebykasy-pyrang. - Eu tenho diarréia com sangue. (VLB, I, 64)
eîkûakytã (t) (etim. - verruga do ânus) (s.) - hemorróidas (VLB, I, 32)
eîkûarugûy (t) (etim. - sangue do ânus) (s.) - diarréia com eliminação de sangue; [adj.: eîkûarugûy (r, s)] (xe) - ter diarréia (com sangue): Xe reîkûarugûy. - Eu tenho diarréia com sangue. (VLB, I, 64; D'Abbeville, Histoire, 183v)
ekoaíba1 (t) (etim. - mau estado, má condição) (s.) - 1) menstruação (VLB, I, 84); 2) mênstruo (VLB, II, 36)
ekoaíba2 (t) (etim. - mau estado, má condição) (s.) - pecado, vício: Opabĩ tekoaíba mondebi-katu o py'ape. - Todos os vícios colocaram bem em seus corações. (Anch., Teatro, 10); ...Eboinga tekoaíba nd'oîkuabi... - Essas não conhecem o pecado. (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); ...Tekoaíba oromombó. - O vício atiramos fora. (Anch., Poemas, 84)
ekoangaîpaba (t) (etim. - mau proceder) (s.) - maldade; pecado: Xe 'anga omonem tekoangaîpaba. - A maldade fez feder minha alma. (Anch., Poemas, 106); Ta xe pe'a Tupã tekoangaîpaba suí... - Que me livre Deus do pecado. (Ar., Cat., 21v)
ekoate'yme'yma (t) (etim. - falta de avareza) (s.) - liberalidade: Tupã myatã-eté-eté, sekoate'yme'ymeté-eté... - A imensa força de Deus, sua imensa liberalidade. (Bettendorff, Compêndio, 62); [adj.: ekoate'yme'ym (r, s)] - liberal: abá-ekoate'yme'yma - homem liberal (VLB, II, 21)
ekoaûîé (t) (etim. - o estar pronto) (s.) - prontidão, presteza; [adj.: ekoaûîé (r, s)] - pronto, prestes, preparado: Marãpe erimba'e sekóû o e'õ îanondé o ekoaûîéramo? - Que fez antes de morrer, estando pronto? (Ar., Cat., 52); Sekoaûîépe gûaîtaká koîpó gûaîanã ra'yra? - Está pronto o guaitacá ou o filho do guaianá? (Anch., Teatro, 62)
ekobeîebyraba (t) (etim. - volta à vida) (s.) - ressurreição: Arobîar asé rekobeîebyragûama. - Creio na nossa futura ressurreição. (Anch., Doutr. Cristã, I, 142)
ekobekatu (t) (etim. - vida boa) (s.) - 1) felicidade, bem estar: ...Sekobekaturama resé bé onhemboryryîa. - Interessando-se também por sua felicidade. (Ar., Cat., 123); 2) saúde (VLB, II, 113; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276)
ekoeté (t) (etim. - proceder verdadeiro) (s.) - esforço; magnanimidade (para realizar coisas árduas e perigosas) (VLB, I, 124; II, 28)
ekoetee'yma (t) (etim. - falta de procedimento verdadeiro) (s.) - 1) covardia; timidez; [adj.: ekoetee'ym (r, s)] - covarde, tímido: abá-ekoetee'yma - homem covarde (VLB, I, 84); 2) molengão (VLB, II, 40)
ekokatu (t) (etim. - vida boa) (s.) - 1) felicidade: Asé rekokaturama mombegûabo. - Anunciando nossa futura felicidade. (Ar., Cat., 93v); 2) virtude: Îesu, tekokatu îara... - Jesus, senhor da virtude. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618); ...nde rekokatu ra'anga. - imitando tua virtude (Anch., Poemas, 98); 3) justiça: ...tekokatu 'useîtara... - o que tem sede de justiça. (Ar., Cat., 19); 4) paz, quietação, sossego (Bettendorff, Compêndio, 20; VLB, II, 68) ● ekokatûaba (ou ekokatusaba) (t) - tempo, lugar, modo, causa, etc., da felicidade, da virtude; virtude, felicidade: Abá supé sekokatusagûama mombe'u. - Contar aos homens a futura felicidade deles. (Ar., Cat., 18v)
ekokatueté (t) (etim. - felicidade verdadeira) (s.) - bem-aventurança: Tekokatueté rerekoara onherane'ymba'e... - O que tem a bem-aventurança é o que não agride. (Ar., Cat., 18v-19)
ekombegûé (t) (etim. - modo de ser lento) (s.) - 1) fleugma; moleza de ânimo; 2) molengão; [adj.: ekombegûé (r, s)] - molengão: Xe rekombegûé. - Eu sou molengão. (VLB, II, 40)
ekoporanga (t) (etim. - modo de ser belo) (s.) - virtude: ...T'ereîekosubeté tekoporanga resé. - Que te regozijes muito com a virtude. (Ar., Cat., 250)
emimbo'e (t) (etim. - o ensinado) (s.) - discípulo, aluno: Osó kunhã semimbo'e-etá sapirõmo. - Iam mulheres, discípulas dele, pranteando-o. (Ar., Cat., 61v)
emimbûaîa (t) (etim. - o comandado) (s.) - súdito; criado: Opakatu xe yby pora nde remimbûaîamo sekóû... - Todos os habitantes de minha terra são teus súditos. (D'Abbeville, Histoire, 342)
emime'enga (t) (etim. - o doado, o dado) (s.) - dom: Espírito Santo remime'enga - os dons do Espírito Santo (Ar., Cat., 19)
emimotara (t) (etim. - o que se deseja) (s.) - desejo; vontade: T'onhemonhang nde remimotara... - Faça-se tua vontade. (Ar., Cat., 13v) ● emimotare'yma rupi (t) - contra a vontade de: Kunhã reroîabapara semimotare'yma rupi... nd'e'ikatuî sesé omendá... - O que foge com uma mulher contra sua vontade não pode casar-se com ela. (Ar., Cat., 128v); emimotarybo (r, s) - voluntariamente, por vontade de: Nde membyrápe erimba'e nde remimotarybo? - Tu deste à luz por tua vontade? (Anch., Doutr. Cristã, II, 97); Xe remimotarybo asó. - Vou por minha vontade. (VLB, II, 147); o emimotare'yma - não por vontade, contra a vontade: O emimotare'yma-katu... omendaryba'e. - O que se casa bem contra sua vontade. (Ar., Cat., 128)
emirekó (t) (etim. - a que alguém faz estar consigo) (s.) - esposa (com a qual um homem se une com ânimo marital ou não): A'epe o mena koîpó o emirekó mũetéramo sekó mombe'ue'yma, marã? - E não confessando ser parente, de fato, de seu marido ou de sua esposa, que acontece? (Ar., Cat., 71v); Nde ererupe nde remirekó? - Tu trouxeste tua esposa? (Léry, Histoire, 352); Ogûemirekó resé, i mena nd'o'u-poûsubi... - Por causa de sua esposa, o marido dela não temeu comê-lo. (Anch., Poemas, 178); xe remirekorama - minha futura esposa (Thevet, Cosm. Univ., II, 932) ● emirekó-eté (t) - 1) esposa legítima, com a qual alguém se casou na igreja; 2) a "mulher mais estimada ou mais querida, a qual, muitas vezes, é a última que se tomou... " (Anch., Cartas, 459)
emirekó-membyra (t) (etim. - filho da esposa) (s.) - enteado ou enteada (de h.) (Ar., Cat., 116)
emirekó-pyky'yra (t) (etim. - irmã mais nova da esposa) (s.) - cunhada mais moça (de h.), a irmã mais nova de sua esposa (Ar., Cat., 116)
emirekó-ykera (t) (etim. - irmã mais velha da esposa) - a cunhada mais velha do homem, a irmã mais velha de sua esposa (Ar., Cat., 116)
emi'uru (t) (etim. - vasilha de comida) (s.) - 1) receptáculo, vasilha, tigela (com relação a quem come neles): xe remi'uru - minha vasilha (isto é, aquela em que eu como); semi'uru - sua vasilha (isto é, aquela em que ele come) (Fig., Arte, 79); 2) manjedoura, cocho (sempre com relação a quem come neles): taîasu remi'uru - cocho de porcos (VLB, I, 76); ...Semi'uru rupápe i xy i nongi... - Sua mãe o pôs no lugar onde estava a manjedoura deles. (Ar., Cat., 9v). V. tb. uru (r, s) e (ep)uru (r, s).
emo'emyîara (t) (etim. - portador de mentiras) (s.) - mentiroso: ...Temo'emyîara... o 'anga rekobesaba... mokanhemi. - O mentiroso perde a vida de sua alma. (Ar., Cat., 241, 1686)
endamoín (s) (etim. - pôr o lugar de sentar-se) (v.tr.) - selar (o cavalo): Asendamoín. - Selo-o (o cavalo). (VLB, II, 115). V. in / en(a) (t) (Anch., Arte, 58v)
endubaíb (s) (etim. - ouvir superficialmente) (v.tr.) - entreouvir: Asendubaíb nde nhe'enga. - Entreouvi tuas palavras. (VLB, I, 119)
endybagûyaîa (t) (etim. - papo da parte inferior do queixo) (s.) - papada (do gordo); [adj.: endybagûyaî (r, s)] - papudo; (xe) ter papo, ter papada (como o gordo): Xe rendybagûyaî. - Eu tenho papo (ou papada). (VLB, II, 64)
endypuka (t) (etim. - lume fendido) (s.) - resplendor; [adj.: endypuk (r, s)] - luzente, brilhante, resplandecente: Xe rendypuk. - Eu sou luzente. (VLB, II, 26)
erapûana (t) (etim. - nome ligeiro) (s.) - 1) fama, nomeada (boa ou má): Agûatá ko'arapukuî nde rerapûana resé. - Caminhei o dia todo por causa da tua fama. (Anch., Poemas, 150); Moreaûsuba rerekoara nde rerapûana îepi. - A de protetora dos aflitos é tua fama sempre. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); 2) divulgação: ...Se'õagûera rerapûaneme, abaré serekoara aé t'osekokuab. - Em caso de divulgação de sua morte, o próprio padre responsável por ele que o julgue. (Ar., Cat., 128v); [adj.: erapûan ou erapûã (r, s)] - famoso: Serapûã kó mosakara... - São famosos esses moçacaras. (Anch., Teatro, 6); Eîerok moxy resé ta nde rerapûãngatu. - Arranca-te o nome por causa dos malditos, para que sejas muito famoso. (Anch., Teatro, 46); Serapûan ahẽ mondá. - Os furtos de fulano são famosos. (VLB, II, 109); Ixé Saûîaetá. Serapûã xe renoĩndaba. - Eu sou Sauiaetá. Famoso é meu nome. (Anch., Poemas, 156); Anhẽté, kó serapûan Maria rekó-poranga. - Eis que era famosa, certamente, a bela vida de Maria. (Anch., Poemas, 184) ● serapûanyba'e - o que tem fama, o que é famoso (VLB, I, 22)
erapûanaíba (t) (etim. - fama má) (s.) - difamação: Eresendu-potá-katupe terapûanaíba abá remimombe'u...? - Quiseste muito ouvir difamações que alguém profere? (Ar., Cat., 108v)
ere'yma (t) (etim. - falta de nome) (s.) - paganismo: ...Og ere'yma pupé abá remipysyrõ oîabé sere'ỹme? - O que alguém acolhe no seu paganismo, no paganismo dele está igualmente? (Ar., Cat., 95v)
esabanga (t) (etim. - olho torto) (s.) - vesgo; [adj.: esabang (r, s)]: Xe resabang. - Eu estou vesgo. (D'Evreux, Viagem, 157; Castilho, Nomes, 38)
esaetá (t) (etim. - muitos olhos) (s.) - 1) cuidado, preocupação; 2) o cuidado (pessoa ou coisa que é objeto de desvelos): Peîori pitanga gûabo, Tupana resaetá... - Vinde para comer a criança, o cuidado de Deus. (Anch., Poemas, 166)
esaeté (t) (etim. - olhos a valer) (s.) - lascívia, libertinagem, erotismo; [adj.: esaeté (r, s)] - lascivo, libertino (diz-se de mulher ligeira em olhar para homens): Xe resaeté. - Eu sou libertina. (VLB, I, 96)
esaeté (t) (etim. - olhos a valer) (s.) - espanto, susto; [adj.: esaeté (r, s)] - espantadiço (VLB, I, 125); assustado, arisco (como o animal bravo e muito espantadiço, como o pássaro que não espera o tiro): Xe resaeté. - Eu sou arisco. (VLB, I, 59)
esakûarasy (t) (etim. - cavidades dos olhos ruins) (s.) - carranca; mau semblante; [adj.: esakûarasy (r, s)] - carrancudo, mal-encarado: Xe resakûarasy. - Eu sou mal-encarado. (VLB, I, 140)
esakûé (t) (etim. - olhos ágeis) (s.) - desassossego, travessura, lascívia; [adj.: esakûé (r, s)] - desassossegado, travesso, lascivo, dissoluto: Xe resakûé-kûé. - Eu sou travesso. (VLB, I, 96)
esakuruba (t) (etim. - caroço de olho) (s.) - grão [como de sal, farinha grossa, etc., à diferença de grão de milho ou de arroz, que é a'ỹîa (t) - v.] (VLB, I, 150); [adj.: esakurub (r, s)] - granuloso, grosso (p.ex., farinha ainda não transformada em pó) (VLB, I, 151)
esakytã (t) (etim. - nó de olho) (s.) - caroço, godilhão, nó (que se forma na farinha mal diluída ou em pasta ou mingau mal mexidos) (VLB, I, 148); grão [como de sal, farinha grossa, etc., à diferença de grão de milho ou de arroz, que é a'ỹîa (t) - v.]: U'i-esakytã - grão de farinha (VLB, I, 150)
esangá (t) (etim. - arrebentar os olhos) (s.) - choro contínuo; [adj.: esangá (r, s)] - chorão; choramigas; (xe) chorar continuamente: Xe resangá. - Eu sou chorão. Abá-esangá. - homem choramigas (VLB, I, 73); ...Pe resangá, pe angaîpaba rapirõmo. - Chorai continuamente, pranteando vossos pecados. (Ar., Cat., 85v)
esaoby (t) (etim. - olho azul) (s.) - belida, mancha esbranquiçada na córnea do olho (Castilho, Nomes, 38); catarata (dos olhos) (VLB, I, 69); [adj.: esaoby (r, s)] (xe) - ter catarata: Xe resaoby. - Eu tenho catarata. (VLB, I, 69)
esapysoe'yma (t) (etim. - falta de visão) (s.) - cegueira (VLB, I, 70)
esapytumbyka (t) (etim. - olhos escuros cessantes) (s.) - tontura, desmaio, vertigem; [adj.: esapytumbyk (r, s)] - tonto, desmaiado; (xe) tontear, ter vertigens; desmaiar: Xe resapytumbyk. - Eu desmaio. (VLB, II, 15)
esatinga (t) (etim. - brancura do olho) (s.) - 1) belida, névoa ou mancha esbranquiçada na córnea do olho; 2) esclerótica, o branco do olho (Castilho, Nomes, 38); 3) catarata (dos olhos) (VLB, I, 69)
esaúna (t) (etim. - olhos escuros) (s.) - cegueira; [adj.: esaún (r, s)]: Xe resaún. - Eu sou cego. (D'Evreux, Viagem, 156)
esau'uma (t) (etim. - lama dos olhos) (s.) - ramela (dos olhos); [adj.: esau'um (r, s)] - rameloso: Xe resau'um. - Eu estou rameloso. (D'Evreux, Viagem, 157)
esa'y (t) (etim. - água dos olhos) (s.) - lágrima: Eîmo'ẽ nde resa'y... - Derrama tuas lágrimas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); [adj.: esa'y (r, s)] - lacrimejante (como por doença, etc.); (xe) lacrimejar: Xe resa'y-sa'y. - Eu estou lacrimejando. (VLB, II, 17)
esa'yra (t) (etim. - filho dos olhos) (s.) - pupila (VLB, II, 38; Castilho, Nomes, 38)
etee'yma (t) (etim. - falta de corpo) (s.) - incorporeidade; [adj.: etee'ym (r, s)] - incorpóreo, sem corpo: -Oîekuabi (asé 'anga)? -Nd'oîekuabi. -Marãnamope? -O etee'ymamo nhẽ. -É visível (a alma da gente)? -Não é visível. -Por quê? -Por ser incorpórea. (Anch., Doutr. Cristã, I, 161) ● setee'ymba'e - o que não tem corpo, o incorpóreo: Marãpe sepîaki, setee'ymba'eramo sekó e'ymeté? - Como o viu se ele é o que não tem corpo? (Ar., Cat., 31)
etymãkangupîara (t) (etim. - armadilha da canela da perna) (s.) - varinha que se punha atravessada em armadilhas grandes para veados ou antas, que tomava seu vão cerca de palmo e meio do chão, que a caça, ao passar, levava com as pernas, fazendo desarmar o pinguelo que se apoiava em uma das pontas, prendendo o animal (VLB, II, 78)
îanypagûera (s.) - tintura de jenipapo (por contato com alguém já tingido); (adj. - îanypagûer) - tingido de jenipapo (por encostar em alguém já tingido): Xe îanypagûer. - Eu estou tingido de jenipapo. (VLB, II, 128)
mba'eerekoara (t) (etim. - o que guarda as coisas) (s.) - despenseiro (VLB, I, 100)
miapapakaba (s.) - tipo de calçado; alpargatas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271)
obaapûã (t) (etim. - ponta do rosto) (s.) - topete (Castilho, Nomes, 40)
obaapyra (t) (etim. - ponta do rosto) (s.) - topete (Castilho, Nomes, 40)
obaîuba (t) (etim. - rosto amarelo) (s.) - palidez; [adj.: obaîub (r, s)] - pálido; (xe) empalidecer, ficar pálido: Nd'e'i te'e... opá abá robaîubamo tekotebẽ suíne. - Por isso mesmo todos os homens ficarão pálidos de aflição. (Ar., Cat., 160)
obaîxûara2 (t) (etim. - o que está em face) (s.) - oposto, contrário: Morerobîare'yma robaîxûara nhemoetee'yma. - O contrário da soberba é a humildade. (Bettendorff, Compêndio, 15)
obamoún (s) (etim. - escurecer o rosto) (v.tr.) - manchar o rosto de (com carvão, tinta, fuligem, etc.) (VLB, II, 33)
oba'ok (s) (etim. - arrancar o rosto) (v.tr.) - alargar, dilatar as bordas de (buraco, cova, etc.) (VLB, I, 29)
obapegûasu (t) (etim. - bochecha grande) (s.) - bochechudo (D'Evreux, Viagem, 158)
obaposanga (t) (etim. - unguento do rosto) (s.) - cosmético; enfeite feminino (VLB, II, 44)
obapy1 (t) (etim. - fundo do rosto) (s.) - entradas da cabeça, os ângulos que formam os cabelos na parte superior do rosto (Castilho, Nomes, 40)
obapŷaba (t) (etim. - instrumento de queimar o rosto) (s.) - carapuça de cera que se colocava naquele que era enforcado (VLB, I, 67)
obapytym (s) (etim. - sufocar o rosto) (v.tr.) - tapar, cobrir (p.ex., uma fenda) (VLB, II, 124) ● obapytymbaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de tapar; tampa, cobertura (VLB, II, 124)
obapytymbaba (t) (etim. - instrumento de sufocar o rosto) (s.) - rolha de garrafa (VLB, II, 108); tampão, cobertura (VLB, I, 66) [v. tb. obapytym (s)]
obara'angaba (t) (etim. - imagem do rosto) (s.) - máscara (VLB, II, 33)
obasab (s) (etim. - cruzar o rosto) (v.tr.) - fazer o sinal da cruz, benzer: Osobasápe asé o emi'urama? - Benze a gente sua comida? (Ar., Cat., 21v)
obasakatu (s) (etim. - cruzar bem o rosto) (v.tr.) - abençoar ● obasakatûaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de abençoar; bênção: ...Îandé porabykysaba robasakatûagûama resé bé. - Para a benção também do nosso trabalho. (Ar., Cat., 126, 1686)
obasy (t) (etim. - cara ruim) (s.) - carranca, cara feia, má catadura; [adj.: obasy (r, s)] - carrancudo, mal-encarado; (xe) ficar de cara feia para, ter má catadura para: Ta sobasy umẽ i xupé, serekokatûabo... - Que não fique de cara feia para ele, tratando-o bem. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); Xe robasy. - Eu sou mal-encarado. (VLB, I, 140)
obasypaba (t) (etim. - instrumento de limpar a cara) (s.) - toalha de rosto (VLB, II, 129)
obaybyra (t) (etim. - margem do rosto) (s.) - topete (Castilho, Nomes, 40)
obyeté (t) (etim. - azul verdadeiro) (s.) - o azul; [adj.: obyeté (r, s)] - azul: -Mba'epe ereru nde karamemûã pupé? -Aoba. -Marãba'e? -Sobyeté. -Que trouxeste dentro de tua caixa? -Roupas. -De que tipo? -Elas são azuis. (Léry, Histoire, 342-343)
okaîrana (t) (etim. - tocaia falsa) (s.) - variedade de chiqueiro, curral ou qualquer lugar sobre quatro esteios em que se mantêm animais (VLB, II, 121)
okaîybaté (t) (etim. - tocaia elevada) (s.) - andaimo no mato para esperar caça (VLB, I, 35)
okendabok (s) (etim. - arrancar o tampo) (v.tr.) - abrir (p.ex., a porta, a janela, o tampo de): Esokendabok nde roka. - Abre a porta de tua casa. (VLB, I, 18)
okendapaba(r, s) (etim. - instrumento de fechar) (s.) - fechadura; ferrolho para trancar (VLB, I, 136); tranca (de porta) (VLB, II, 135)
o'opore'yma (t) (etim. - falta de conteúdo do corpo) (s.) - o que tem corpo mirrado, o que tem pouco corpo; [adj.: o'opore'ym (r, s)] - de corpo mirrado; (xe) mirrar-se de corpo, esvaziar-se de corpo: Nd'e'i te'e abá tekokatu potasara gûo'opore'yma. - Por isso mesmo, a pessoa que deseja a virtude mirra-se de corpo. (Ar., Cat., 11)
opeaba (t) (etim. - pêlos das pálpebras) (s.) - pestanas (Castilho, Nomes, 40)
opebypebyka (t) (etim. - pálpebras que ficam a tocar-se) (s.) - cochilo; [adj.: opebypebyk (r, s)] (xe) - cochilar: Xe ropebypebyk. - Eu cochilo. (VLB, II, 133)
opepirekó (t) (etim. - estar com casca a pálpebra) (s.) - terçol dos olhos; (adj.) (xe) - ter terçol: Xe ropepirekó. - Eu tenho terçol. (VLB, II, 127)
opepytanga (t) (etim. - vagem rosada) (s.) - broto, folhinha tenra e nova da planta; [adj.: opepytang (r, s)] (xe) - ter brotos, ter folhinhas novas a brotar (VLB, I, 60)
opesyîa (t) (etim. - pálpebras pesadas) (s.) - sono, vontade de dormir; [adj.: opesyî (r, s)] - sonolento, que tem sono, que está com sono: Xe pûeraî, xe ropesyî! - Eu estou cansado, eu estou com sono! (Anch., Teatro, 44)
opytaerobak (s) (etim. - virar a popa) (v.tr.) - dirigir (p.ex., embarcação) (VLB, I, 149)
opytaerobakaba (t) (etim. - instrumento de virar a popa) (s.) - 1) leme [os tupis de São Vicente diziam ebikobaka (t)]: ygara ropytaerobakaba - o leme da embarcação (VLB, II, 20); 2) cano de leme de embarcação (VLB, I, 65)
opytakok (s) (etim. - escorar a popa) (v.tr.) - dirigir (p.ex., embarcação) (VLB, I, 149)
orypaba (t) (etim. - lugar de felicidade) (s.) - paraíso (Ar., Cat., 24v)
osange'yma (t) (etim. - falta de paciência) (s.) - impaciência (VLB, II, 10)
oŷpyre'yma (t) (etim. - sem zelador) (s.) - ausência (do lugar ou casa onde se reside): xe roŷpyre'yma - minha ausência (VLB, I, 48)
parati'yba (m) (etim. - pé de mandioca parati) (s.) - antebraço (Castilho, Nomes, 35)
pesyma (m) (etim. - casca lisa) (s.) - lisura; (adj.: pesym) - liso (o que tem casca ou crosta) (VLB, II, 23)
piku'i1 (m) (etim. - farinha da pele) (s.) - carepa, caspa miúda que se cria pelo rosto e por outras partes do corpo (VLB, I, 67); pequenas escamações esbranquiçadas da pele: Aîpiku'i-momemûã. - Esfreguei-lhe a caspa. (VLB, I, 124)
pimondá (m) (etim. - ladrão de pele) (s.) - borbulhas que destroem a pele e não criam humor aquoso ou purulento (VLB, I, 57)
piraíba (m) (etim. - pele ruim) (s.) - 1) doença de bexigas, varíola (Anch., Arte, 31); 2) lepra (VLB, II, 20); (adj.: piraíb) - bexigoso, leproso: Xe piraíb. - Eu sou leproso. (VLB, II, 20)
piremonã (m) (etim. - comichão da pele) (s.) - sarna (VLB, II, 113)
piryty (m) (etim. - pele imunda) (s.) - lepra (VLB, II, 20); (adj.) - leproso: Xe piryty. - Eu sou leproso. (VLB, I, 146)
pirytybora (m) (etim. - o que costuma ter pele imunda) (s.) - leproso (VLB, II, 20); o que tem lepra (VLB, I, 146)
pititinga (m) (etim. - muitas pintas) (s.) - impigem, erupção cutânea. O mesmo que titinga e unhẽ (v.) (VLB, II, 10)
pobebuîa (m) (etim. - mãos leves) (s.) - ligeireza de mãos; (adj.: pobebuî) - ligeiro de mãos (diz-se do que faz tudo com presteza): Xe pobebuî. - Eu sou ligeiro de mãos. (VLB, II, 22)
po'ẽ2 (s.) - tipo de armadilha (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §122, 99); pinguela de esteira, isto é, tipo de esteirinha ou grade feita de varinhas delgadas que toma quase todo o vão da armadilha. Quando se arma, fica essa esteirinha dois ou três dedos levantada do chão e, assim que a caça põe os pés para passar por cima dela, faz desarmar o pinguelo que se apoiava em uma das varinhas da extremidade. (VLB, II, 77)
poîababa (m) (etim. - mãos fugidias) (s.) - diligência, destreza, presteza, ligeireza de mãos; (adj.: poîabab) - destro, ligeiro (de mãos), habilidoso, que faz as coisas com destreza: Xe poîabab. - Eu sou destro. (VLB, I, 101)
pokoka (m) (etim. - apoio da mão) (s.) - toque, sentido do tato: Mba'e resé mokoka anduba. - Sentir o toque nas coisas. (Ar., Cat., 20)
pokokaba (m) (etim. - lugar de apoiar a mão) (s.) - bordão, bengala (VLB, I, 58)
popesûara (m) (etim. - o que está na mão) (s.) - 1) objeto de mão: -Mba'e-mba'epe i popesûaramo? -Mimuku-katupabẽ ... -Que havia como seus objetos de mão? -Muitíssimas lanças... (Ar., Cat., 54); 2) arma (VLB, I, 41); (adj.: popesûar) - armado: Pa'i, marãpe guarinĩme na nde popesûari? - Padre, por que, na guerra, tu não estás armado? (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 204)
popetekaba (m) (etim. - instrumento de golpear as mãos) (s.) - palmatória (VLB, II, 63)
popiaba (m) (etim. - instrumento de picar as mãos) (s.) - 1) aguilhão (para picar) (VLB, I, 27); 2) punhal, adaga (VLB, II, 89)
popongaba (m) (etim. - lugar de bater das mãos) - atabaque (VLB, I, 46)
popy'i (m) (etim. - mãos rápidas) (s.) - ligeireza, habilidade, destreza de mãos; (adj.) - ligeiro, destro, hábil de mãos: Xe popy'i. - Eu sou ligeiro de mãos. (VLB, II, 22); Xe popy'i emonã gûitekóbo. - Eu sou hábil em assim agir. (VLB, I, 34)
popytera (m) (etim. - meio da mão) (s.) - palma da mão (Castilho, Nomes, 31): N'asasabi i popytera... - Não cruzei suas palmas das mãos. (Anch., Teatro, 162, 2006)
poranduba (m) (etim. – ouvir gente) (s.) - novidade, notícia, história, PORANDUBA: Marã-pipó moranduba? - Quais as novidades, por acaso? (Anch., Teatro, 22)
porapitîaba (m) (etim. - instrumento de assassinar gente) (s.) - arma ofensiva (VLB, I, 41)
poraûsubarerekosara (m) (etim. - o que tem compaixão, piedade) (s.) - piedoso (Ar., Cat., 14v)
porenonhandara (m) (etim. - o que faz correr consigo as pessoas) (s.) - 1) corredor na guerra que vai por negaça e põe os inimigos em cilada (VLB, I, 82); 2) negaça, isca (na guerra) (VLB, II, 48)
porenonhena (m) (etim. - castigar gente) (s.) - repreensão, admoestação (VLB, I, 68)
porenonhendaba (m) (etim. - castigo de gente) (s.) - repreensão, admoestação (VLB, I, 68)
porepenhana (m) (etim. - atacar gente) (s.) - briga (VLB, I, 59)
porepîakaba (m) (etim. - lugar de ver gente) (s.) - miradouro, mirante (VLB, I, 46, II, 38)
porepîaka'uba (m) (etim. - ver gente na imaginação) (s.) - saudades (VLB, II, 113)
porero'ara (m) (etim. - o que derruba gente) (s.) - agressor: Memeté a'e morero'arupîara. - E, principalmente, eles são adversários de agressores. (Léry, Histoire, 357)
porerobîare'yma1 (m) (etim. - não acreditar em gente) (s.) - soberba, altivez, denodo (em coisas de guerra ou briga), orgulho: Morerobîare'yma robaîxûara nhemoetee'yma. - O contrário da soberba é a humildade. (Bettendorff, Compêndio, 15); (adj.: porerobîare'ym ou morerobîare'ym) - soberbo, altivo (VLB, II, 118), orgulhoso: Abá-porerobîare'yma ixé. - Eu sou um homem soberbo. (VLB, II, 118)
porerobîare'yma2 (m) (etim. - não acreditar em gente) (s.) - 1) pertinácia (VLB, II, 74); contumácia, obstinação; 2) reincidência (no desprezo das leis da Igreja) (VLB, I, 81)
porerokarûera (m) (etim. - o que retirou o nome de pessoas) (s.) - padrinho, madrinha (de batismo ou crisma) (VLB, II, 27): Abaré koîpó amõ abá pyri morerokarûera nd'e'ikatuî omendá gûemierokûera resé... - Os padrinhos junto ao padre ou a outra pessoa não podem casar-se com o que batizaram. (Ar., Cat., 129)
porero'yasapara (m) (etim. - o que faz as pessoas atravessarem um rio consigo) (s.) - barqueiro (VLB, I, 52)
pore'ymbara (m) (etim. - o que dá de beber à gente) (s.) - copeiro, o que serve vinho; a que serve cauim; a que tem a função de dar de beber (VLB, I, 81)
poro'aîubykatyba (m) (etim. - o que enforca gente de costume) (s.) - algoz, enforcador (VLB, I, 31)
poroamotare'yma (m) (etim. - não querer bem as pessoas) (s.) - cólera; (adj.: poroamotare'ym) - colérico, encolerizado: Xe poroamotare'ym. - Eu estou encolerizado. (D'Evreux, Viagem, 147)
poroapindara (m) (etim. - o que tosquia as pessoas) (s.) - barbeiro; tosquiador (VLB, I, 52)
poro'asypara (m) (etim. - o que limpa o cabelo das pessoas) (s.) - barbeiro; tosquiador (VLB, I, 52)
porogûykutukaba (m) (etim. - instrumento de sangrar as pessoas) (s.) - lanceta (VLB, II, 18)
porogûymombukaba (m) (etim. - instrumento de sangrar as pessoas) (s.) - lanceta (VLB, II, 18)
poroîukaíba1 (m) (etim. - matar gente não completamente) (s.) 1) braveza, fereza (VLB, I, 59); 2) pessoa exaltada, feroz, arrebatada, brava (VLB, I, 45)
poroîukaíba2 (m) (etim. - o matar gente não completamente) (s.) - soberba; (adj.: poroîukaíb) - soberbo: abá-poroîukaíba - homem soberbo (VLB, II, 118)
porokutukaba (m) (etim. - instrumento de furar gente) (s.) - 1) lanceta (VLB, II, 18); 2) punhal, adaga (VLB, II, 89)
porombo'esara (m) (etim. - o que faz as pessoas dizerem) (s.) - mestre; professor (VLB, II, 36); (adj.) (xe) - ter mestre: Xe porombo'esar. - Eu tenho mestre. (Anch., Arte, 48)
poromborybe'yma (m) (etim. - o que não se compraz com as pessoas) (s.) - intolerante, pessoa seca, que não suporta as pessoas; (adj.: poromborybe'ym): abá-poromborybe'yma - homem intolerante (VLB, II, 114)
poromoaîu (m) (etim. - molestar gente) (s.) - importunação, incômodo (VLB, II, 10)
poromoîarusûera (m) (etim. - o que zomba de gente, de costume) (s.) - gozador, brincalhão, zombeteiro (VLB, I, 59)
poromoîasukaba (m) (etim. - lugar de lavar gente) (s.) - pia batismal, pia de batismo (VLB, II, 76): Moromoîasukaba pupé onhemongaraípa... - Santificando-se na pia batismal. (Anch., Doutr. Cristã, I, 133)
poromongaraipaba (m) (etim. - lugar de batizar as pessoas) (s.) - pia batismal, pia de batizar (VLB, II, 76)
poromonhangaba (m) (etim. - consequência do fazer gente) (s.) - filho, filha, filhos (com relação ao pai e à mãe): T'oroîopytybõne oré poromonhangagûera mongakuapa... - Havemos de nos ajudar um ao outro para criarmos nossos filhos. (Ar., Cat., 95)
poromonhemombegûaba (m) (etim. - lugar de confessar gente) (s.) - confessionário (VLB, I, 79)
poromotare'yma (m) (etim. - não querer bem à gente) (s.) - ódio (VLB, II, 54)
poropytasokara (m) (etim. - o escorador das pessoas) (s.) - retaguarda na guerra (VLB, II, 104) (v. pytasok)
posangaíba (m) (etim. - poção ruim) (s.) - feitiço (para afastar o mal). "São algumas coisas com que se untam, como o escravo, para que o senhor não o açoute, e a mulher, com medo do marido, etc." (VLB, I, 137)
posangyîara (m) (etim. - o que domina os feitiços) (s.) - 1) feiticeiro, PUÇANGUARA, aquele a quem pertencem as poções, o que leva as poções (Léry, Histoire, 351); 2) mulher feiticeira ou que é possuída por um mau espírito (Léry, Histoire, 351)
potaba1 (m) (etim. - objeto do querer) (s.) - 1) porção, parte, POTABA, quinhão, o que cabe a: I py'apûera xe potabamo t'oîkó. - Seus fígados hão de ser minha porção. (Anch., Teatro, 64); Xe potaba nde! - Meu quinhão és tu! (Anch., Teatro, 76); Xe potaba kaûĩ rá. - O que me cabe é tomar cauim. (Anch., Teatro, 25, 2006); 2) herança: xe potaba - minha herança (VLB, I, 121); 3) ração (VLB, II, 95) ● Tupã potaba - quinhão de Deus dízimo (VLB, I, 104): O emitymbûerypy pupé Tupã potá-me'engano. - Dar também o dízimo naquilo que plantou primeiro. (Ar., Cat., 17)
potãîgûara (m) (etim. - buraco de botão) (s.) - ilhós, buraco da roupa para o fecho com botões ou colchetes (VLB, II, 10)
poti1 / epoti (t) (v. intr. irreg.) - defecar: Apoti. - Defeco. (Anch., Arte, 58); sepotireme - quando ele defeca (Anch., Arte, 58) ● potîara - o que defeca; potîaba - tempo, lugar, modo, etc. de defecar (Fig., Arte, 63)
po'ypuku (m) (etim. - colar comprido) (s.) - fio de contas (VLB, II, 113)
pûakatu (m) (etim. - dedos bons) (s.) - boa pontaria, destreza no tiro, nos golpes, na flechada; (adj.) - destro, certeiro, bom flecheiro: I pûakatu kó muru. - É certeiro esse maldito. (Anch., Teatro, 132); Xe pûakatu. - Eu sou certeiro. (VLB, I, 71)
pu'amagûera (m) (etim. - objeto de assalto) (s.) - presa, coisa ou pessoa capturada na guerra, prisioneiro: xe pu'amagûera - minha presa (o que eu capturei na guerra) (VLB, II, 130)
pûapẽ (m) (etim. - crosta do dedo) (s.) - 1) unha (de dedo da mão) (Castilho, Nomes, 34); 2) garra, tenaz: ...Kó bé xe pûapẽ... - Eis aqui também minhas garras. (Anch., Teatro, 40) ● pûãpẽgûasu (m) - unhas dos dedos polegares (Castilho, Nomes, 34); pûãpẽ-apyra (m) - pontas das unhas dos dedos das mãos (Castilho, Nomes, 34)
pûapẽîara (m) (etim. - o que porta unhas) (s.) - unha-de-fome, sovina; (adj.: pûapẽîar): abá-pûapẽîara - homem sovina (VLB, II, 139)
pûapendaba (m) (etim. - lugar de entortar os dedos) (s.) articulações dos dedos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276)
pukusama (m) (etim. - corda de perna) (s.) - peia (VLB, II, 68); prisão ou trava dos pés ou das pernas (VLB, II, 87): Aîpukusamb-ok. - Soltei as peias dos pés dele. (VLB, II, 120); (adj.: pukusam) - peado, preso com peia: Xe pukusam. - Eu fui peado. (VLB, II, 68) ● i pukusamba'e - o que está preso em ferros, o que está peado (VLB, II, 85)
putumuku (m) (etim. - fôlego longo) (s.) - paciência; tolerância; (adj.) - paciente, tolerante (que não responde logo ao mal que fazem ou dizem): Xe putumuku. - Eu sou paciente. (VLB, II, 119)
putupaba1 (m) (etim. - fôlego esgotado) (s.) - admiração, espanto; abalo; (adj.: putupab ou putupá) - admirado, espantado, maravilhado: Xe putupab nhẽ nde ri. - Eu estou admirado contigo. (Léry, Histoire, 353)
putupaba2 (m) (etim. - fôlego esgotado) (s.) - preocupação, interesse [compl. com esé (r, s)]: ...Îandé 'anga rekorama resé îandé putupaba potá. - Querendo nossa preocupação com o futuro estado de nossa alma. (Ar., Cat., 154); (adj.: putupab ou putupá) - preocupado, interessado; (xe) interessar-se, preocupar-se, importar-se: O a'yra resé oputupabe'ymamo... - Com seu filho não se importando. (Ar., Cat., 69); Nde putupápe nde ra'yra resé...? - Tu te importas com teu filho? (Ar., Cat., 101); Apŷaba raûsupa nhẽ... oré putupá sesé. - Amando os homens, nós nos preocupamos com eles. (Anch., Teatro, 28)
putupabe'yma (m) (etim. - falta de provimento) (s.) - negligência ou descuido (VLB, II, 49)
putu'u1 (m) (etim. - o ingerir alento) (s.) - descanso: Mutu'u resé Tupã îekosu-berame'ĩ... - Deus parece obter o descanso. (Ar., Cat., 11v) ● putugûaba (m) - tempo, lugar, modo, etc. de descanso (VLB, I, 96)
pyapasaba1 (m) (etim. - instrumento de entortar os pés) (s.) - sapato, calçado: Aîpyapasá-mondeb. - Pus o sapato. (VLB, I, 63); (adj.: pyapasab) (xe) - ter sapato: Na xe pyapasabi. - Eu não tenho sapatos. (VLB, I, 96) ● mbyapasá-puku (ou kunhã-pyapasaba) - sapatas de mulher, sapato largo e grosso de mulher, sem salto ou de salto baixo (VLB, I, 66)
pyapasaba2 (m) (etim. - instrumento de entortar a pata) (s.) - ferradura (VLB, I, 138)
pyapasabapûã (m) (etim. - sapato pontudo) (s.) - sapato de salto alto de mulheres (VLB, I, 72)
pyapasabybaté (m) (etim. - sapato alto) (s.) - sapato de salto alto de mulheres (VLB, I, 72)
pyapasapuku (m) (etim. - sapato comprido) (s.) - bota (VLB, I, 58)
py'aûpîara (m) (etim. - adversário do fígado) (s.) - fel; bílis; (adj.: py'aûpîar) - féleo, amargo: Mba'e-py'aûpîara kaûĩaîasy resé i monani... - Uma coisa amarga com vinagre misturaram. (Ar., Cat., 63v)
pybo'ira (m) (etim. - afastamento dos pés) (s.) - mesura com o pé (VLB, II, 36)
pynhûãkanga (m) (etim. - osso do artelho) (s.) - tornozelo (VLB, I, 60)
pysãgûasu (m) (etim. - dedo grande do pé) (s.) - unheiro, tumor na raiz da unha ou entre a unha e o dedo de pé doente, que era comum entre os índios (VLB, II, 139)
pysykaba (m) (etim. - lugar de pegar) (s.) - 1) asa (de xícara) (VLB, I, 44); 2) alça (de cesto) (VLB, I, 44); 3) empunhadura (VLB, I, 113)
pytasaba (m) (etim. - lugar de ficar) (s.) - pouso, pousada: Eîpytybyrok xe roka, nde pytasaba îepi. - A poeira dos pés arranca de minha casa, tua pousada sempre. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618)
pytasama (m) (etim. - corda de calcanhar) (s.) - jarreto ou nervo; tendão: Aîpytasã-mondok. - Cortei seus nervos. (VLB, II, 7)
pytubara (m) (etim. - o prender o fôlego) (s.) - 1) cansaço (VLB, I, 133); 2) aborrecimento (VLB, I, 23); 3) melancolia, "uma que quebranta o corpo sem que se possa fazer nada, nem falar" (VLB, II, 29); (adj.: pytubar) - cansado, aborrecido, melancólico: Xe pytubarusu. - Eu estou muito melancólico. (VLB, II, 29)
pyuru (m) (etim. - envoltório dos pés) (s.) - sapato (VLB, I, 66)
taîupara (s.) - TIJUPÁ, TIJUPABA, TAJUPÁ, TAJUPAR, TIJUPAR, TUJUPAR, AJUPÁ, TIUPÁ, choupana feita para abrigo durante as viagens pela floresta (Sousa, Trat. Descr., 321); v. te'yîupaba
tepiti (s.) - TIPITI, cesto feito de folhagem de palmeira para tirar o suco de raízes já raladas; prensa (Staden, Viagem, 141); espremedor de mandioca (VLB, I, 127) (o mesmo que tapeti2 - v.)
tié (s.) - TIÊ, TIÉ, nome comum a pássaros da família dos traupídeos (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, §99, 163)
tieté (ou tiete'ĩ) [part. que expressa desgosto, arrependimento. Emprega-se com o verbo 'i / 'é como auxiliar, traduzindo-se por estou desgostoso (em), tenho desgosto (por)]: Arasó tieté a'é. - Tenho desgosto por o ter levado. (VLB, I, 43) ● tieté (kó)... maniîabo! - Irra! (VLB, II, 15); Que mau!: Tieté kó angaîpaba maniîabo mã! - Ah, que mau é o pecado! Tieté kó ahẽ maniîabomã! - Que mau que é fulano! (VLB, II, 65); Tieté maniîabo a'e! - Que mau é ele! (VLB, II, 103); E'i tieté ahẽ maniîabo niã! - Eis que ele é mau! (VLB, II, 142)
tiîegûasuparûara (s.) - TIÉ-GUAÇU-PAROARA, cardeal, PAROARA, PARAUARA, cabeça-vermelha, nome comum a pássaros da família dos fringilídeos, que aparecem em todo o Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 214; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 146)
timbó (s.) - TIMBÓ, nome comum a certas plantas das leguminosas (especialmente a Dahlstedtia pinnata (Benth.) Malme e espécies dos gêneros Derris e Lonchocarpus) e das sapindáceas (dos gêneros Magonia e Serjania) que, por suas propriedades tóxicas, são utilizadas para induzir entorpecimento em peixes e, por isso, usadas para pescar. São lançadas na água após serem maceradas, fazendo que os peixes possam ser apanhados à mão. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 50; Piso, De Med. Bras., IV, 201)
tingasu1 (s.) - TINGUAÇU, ave da família dos cuculídeos, das matas e capoeiras do sul da América (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 179)
tingy (ou tingyry) (etim. - líquido de enjôo) (s.) - 1) TINGUI, arbusto da família das sapindáceas (Magonia pubescens A. St.-Hil. ou Paullinia trigona Vell. ) que, lançado à água doce, serve para pescar o peixe, envenenando-o, sem, porém, fazer dano a quem o come. É também conhecido como titim. [O mesmo que timbó - v.] (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272); 2) o sumo do barbasco (v. timbó) (VLB, I, 51)
tipi (s.) - TIPI, PIPI, planta fitolacácea (Petiveria alliacea L.), de cheiro forte. Também é chamada erva, guiné ou raiz-da-guiné. (Piso, De Med. Bras., 201)
tipirati (s.) - TIPIRATI, farinha de mandioca crua com que se faziam bijus (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67; Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §74, 149)
tiriba (s.) - TIRIBA, TIRIVA, TIRIBAÍ, TIRIBINHA, nome comum a certos pássaros da família dos psitacídeos; espécie de papagaio (Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist., III, 188)
titinga (s.) - TITINGA, mancha branca na pele; impigem, erupção cutânea (VLB, II, 29); (adj.: titing) (xe) - ter impigem, ter TITINGA: Xe titing. - Eu tenho impigem. (VLB, II, 10); Xe tĩ-titing. - Meu nariz tem titinga. Xe py-titing. - Meus pés têm titinga. Xe pi-titing. - Minha pele tem titinga. (VLB, II, 29)
tuîuka2 (s.) - TIJUCO, TIJUCA, atoleiro; charco, pântano, lama (VLB, II, 17), TIJUCAL ● tuîukusu - tijucal, grande atoleiro, pântano (VLB, I, 47); lamaçal (VLB, II, 18)
tukupá (s.) - TICOPÁ, peixe da família dos pomadasídeos, da costa leste do Brasil (Sousa, Trat. Descr., 286)
tyryryka (s.) - TIRIRICA, erva daninha da família das ciperáceas, do gênero Cyperus, que é uma praga nos campos cultivados, alastrando-se rapidamente (Matos, Obras, II, 282)
ugûyká (s) (etim. - romper o sangue) (v.tr.) - 1) desvirginar: Eresugûykápe kunhataĩ amõ? - Desvirginaste alguma menina? (Ar., Cat., 103v)
ugûykutuk (s) (etim. - espetar o sangue) (v.tr.) - dar sangria; sangrar (VLB, II, 112)
ugûymombuk (s) (etim. - furar o sangue) (v.tr.) - dar sangria; sangrar: Asugûymombuk. - Sangro-o. (VLB, II, 112)
yaîa (t) (etim. - água azeda) (s.) - suor: -Marã sekó resépe i angekoaíba îekûabi? -Syaîa resé. -Por qual estado seu aparecia sua angústia? -Por seu suor. (Ar., Cat., 53); [adj.: yaî (r, s)] - suado; (xe) suar, estar suado: Xe ryaî. - Suo. (Léry, Histoire, 367); Te'õ rerobyka, syaî-tekatu. - Aproximando-se da morte, suou bastante. (Anch., Poemas, 120)
yaîká (s) (etim. - arrancar suor) (v.tr.) - fazer suar: Asyaîká. - Fi-lo suar. (VLB, II, 122)
yby'ab (s) (etim. - abrir a terra) (v.tr.) - arar: Asyby'ab. - Arei-o. (VLB, I, 40)
ygeaíba (t) (etim. - ventre ruim) (s.) - diarréia (forte, perigosa); [adj.: ygeaíb (r, s)] - diarréico; (xe) ter diarréia: Xe rygeaíb. - Eu tenho diarréia. (VLB, I, 64)
ygeapûá (t) (etim. - extremidade do ventre) (s.) - intestino: Opakatu serã sygeapûá-kuîamo i ku'a sorokaba rupi? - Acaso todo o seu intestino caiu pela fissura de sua cintura? (Ar., Cat., 57v)
ygeasypu'ãpu'ama (t) (etim. - ataques de ventre dolorido) (s.) - puxo, esforço com dores que a mulher faz para dar à luz; dores de parto; [adj.: ygeasypu'ãpu'am (r, s)] (xe) - ter puxos: Xe rygeasypu'ãpu'am. - Eu tenho puxos. (VLB, II, 90)
ymãoba (t) (etim. - roupa das pernas) (s.) - meias-calças (VLB, I, 63)
ymão'o (t) (etim. - polpa da perna) (s.) - barriga da perna (VLB, I, 52)
ypygûaîa (t) (etim. - cauda do fundo) (s.) - canal do fundo de rio, talvegue (VLB, I, 65)
ypytym (s) (etim. - enterrar o fundo) (v.tr.) - entulhar (como a parede que a água dos beirais descarnou) (VLB, I, 119)
ysyrung (s) (etim. - pôr em fila) (v.tr.) - enfileirar: Oroîoysyrung. - Enfileiramo-nos. (VLB, I, 139); Asysyrung. - Enfileirei-o. (VLB, II, 101)
Contudo, se tiverem sido corretamente formados ou, dependendo de suas fontes, saber seu significado não é algo desprezível. Muitas vezes, o que é artificial é o ato de nomear, não o nome em si. É o caso, por exemplo, do nome Moema, bairro de São Paulo. Foi atribuído há poucas décadas, porém tomado da obra de Santa Rita Durão, Caramuru, publicada em 1781. Esse nome é do tupi antigo e significa mentira. O autor assim chamou a uma das amantes do herói dessa epopéia, Diogo Álvares Correia, a qual morreu nas águas do mar quando tentava alcançar o navio em que seu amado partia para a Europa. Ela simbolizava o amor "mentiroso" de uma amante em oposição ao amor conjugal da heroína Paraguaçu, que se casara com Diogo. Assim, saber o significado do nome do bairro Moema, fora dessa contextualização, resultaria inútil, algo desprovido de interesse algum. Dentro daquele contexto, porém, é um rico mergulho na literatura do Brasil colonial e na língua tupi.
Indaiá (Bertioga, SP). De inaîá, espécie de palmeira.
Itaguaré (Bertioga, SP). Da língua geral meridional, itá + jaguaré* - um animal carnívoro: jaguaré de pedra.
Marambaia, Restinga da (SP). De kamarambaîa - camarambaias, plantas verbenáceas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 30).
Marombas (Itatiaia, RJ). O termo maromba é, talvez, das línguas gerais coloniais e tem muitos significados (v. Marumbi).
(Castilho) CASTILHO, Pero de, Os Nomes das Partes do Corpo Humano pela Língua do Brasil. Edição de Plínio Ayrosa, Revista dos Tribunais, São Paulo, 1937.
ANDRADA, Martim Francisco Ribeiro de [1805], Diario de uma Viagem Mineralogica pela Provincia de S. Paulo no Anno de 1805: pelo Conselheiro Martim Francisco Ribeiro de Andrada. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, t. 9, pp.527-548, 1847
ygabebé (s.) (etim. - ygara; bebé) - avião | airplane | ygabebé pupé xe soypy - minha primeira ida em uma avião - my first ride on an airplane ("Ygabebé pupé xe soypy", Tupinizando, 23/05/2024, Minuto 0:02) - neologismo
'arypy (s.) (etim. - 'ara; ypy) - domingo | sunday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
itagûyragûasu (s.) (etim. - itá; gûyrá; -ûasu) - avião | airplane | - - (ENHE'ENG TUPINHE'ENGA RUPI, Tiago Matheus, 2024, 17) - neologismo
îagûapuká (s.) (etim. - Îagûara; puká) - Hiena | Hyena | Îagûapuká o'u te'õmbûera - A hiena comeu o cadáver - The hyena ate the corpse (CPB Tupi, 19/08/2024, Cpb chat) - neologismo
nhemosaraîtara (s.) (etim. - îe; mo-; esaraî; -ara) - atleta; jogador | athlete; player | nhemosaraitara remimombe’u - o juramento dos atletas - the athletes' oath (TPK, 2024, 87) - neologismo
ybaté (koty) (s.) (etim. - extensão semântica) - norte; ponto cardeal | north; cardinal point | "Îerobîara 'yembe'ypendûara / ybaté suí toryba oguerur." - "Orgulho do litoral norte / que nos traz grande alegria." - (Versos 15-16 do texto "A diversidade da 14ª região", no TPK, 2024, 31) - neologismo
gûyra (koty) (s.) (etim. - extensão semântica) - sul; ponto cardeal | south; cardinal point | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
îasytatatyba (s.) (etim. - îasy; atá; tyba) - galáxia | galaxy | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
ybakybypá (s.) (etim. - ybaka; yby; pá) - universo | universe | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
yby'arana (s.) (etim. - yby; 'ara; rana) - planeta | planet | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
Yby'ara (s.) (etim. - yby; 'ara) - planeta Terra | planet Earth | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
mba'emokanhema (s.) (etim. - mba'e; mokanhem) - subtração | subtraction | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
mba'emoîo'ara (s.) (etim. - mba'e; moîo'ar) - multiplicação; cálculos básicos | multiplication; basic arithmetic | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
ka'aatãndyba (s.) (etim. - ka'a; atã; tyba) - cerrado; biomas | cerrado; biomes | - - (TPK, 2024, 114) - neologismo
îasytatabebé (s.) (etim. - îasy; atá; bebé) - estrela cadente | shooting star | - - (TPK, 2024, 114) - neologismo
gûanhamỹ (s.) (etim. - extensão semântica) - constelação | constellation | - - (TPK; Cabral, 2024; 2024, 114; 109) - neologismo
panakũ (s.) (etim. - extensão semântica) - constelação; o mesmo que gûanhamỹ | constellation; the same as gûanhamỹ | - - (TPK; Cabral, 2024; 2024, 114; 109) - neologismo
Kurusá (s.) (etim. - extensão semântica) - Cruzeiro do Sul | Crux or Southern Cross | - - (TPK, 2024, 114) - neologismo
gûyragûasu (s.) (etim. - gûyrá; -ûasu) - avião | airplane | - - (ENHE'ENG TUPINHE'ENGA RUPI, Tiago Matheus, 2024, 17) - neologismo
'aramokõîa (s.) (etim. - 'ara; mokõîa) - segunda-feira | monday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
'aramosapyra (s.) (etim. - 'ara; mosapyra) - terça-feira | tuesday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
'arairundyka (s.) (etim. - 'ara; oîoirundyka) - quarta-feira | wednesday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
'arambó (s.) (etim. - 'ara; pó) - quinta-feira | thursday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
'aramboîepé (s.) (etim. - 'ara; pó; oîepé) - sexta-feira | friday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
'arambomokõîa (s.) (etim. - 'ara; pó; mokõîa) - sábado | saturday | - - (TPK, 2024, 125) - neologismo
coelho - tapiti
esterco - tepoti
ferrugem - tepoti
fumaça - tatatinga; timbora
jabuticaba - îabutikaba
aty1 (s.) - ATI, gaivota, nome genérico de aves larídeas de penas brancas, cauda grande e estreita, que habitam a costa sul-americana e voam longe no mar para buscar peixes (D'Abbeville, Histoire, 241v)
îuruaíb (xe) (etim. - boca má) (v. da 2ª classe) - falar mal, ser maledicente: "-E'i kó..." eré tenhẽpe... nde îuruaíbamo? - Disseste falsamente que ele disse isso, sendo maledicente? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
îuru'ar (xe) (etim. - cair a boca) (v. da 2ª classe) - dizer mal; boquejar; murmurar, falar mal [de algo ou de alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: T'e'i tenhẽ umẽ xe ri o îuru'aramo. - Não fique ele boquejando a meu respeito. (VLB, II, 28; VLB, II, 29); Nde îuru'arype abá amõ resé? - Tu falaste mal de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
îurué (xe) (etim. - sabor de boca) (v. da 2ª classe) - apetecer; dar vontade de comer; ter vontade de comer; ter apetite: Na xe îuruéî. - Não me dá vontade de comer. (Léry, Histoire, 367)
îuruîaî (xe) (etim. - boca aberta) (v. da 2ª classe) - bocejar (como o que está morrendo), ter a boca entreaberta (VLB, I, 57)
keraíb (xe) (etim. - dormir mal) (v. da 2ª classe) - gemer, confranger-se dormindo: Xe keraíb. - Eu gemo dormindo. (VLB, I, 129)
kerambu (xe) (etim. - roncar de sono) (v. da 2ª classe) - roncar (o que dorme): Xe kerambugûasu. - Eu ronco muito. (VLB, II, 108)
nhe'endok (xe) (etim. - palavras quebradas) (v. da 2ª classe) - calar-se, parar de falar: Xe nhe'endok. - Eu me calei. (VLB, I, 63)
papasaba1 (mb) (etim. - instrumento de contar) (s.) - número: Marangatuba'e santos ybakype Tupã repîakaretá osasá 'ara ro'y remierekó papasaba. - Os bem-aventurados e os santos no céu, que vêem a Deus, ultrapassam o número dos dias que o ano tem. (Ar., Cat., 135, 1686)
papasaba2 (mb) (etim. - lugar de contar) (s.) - rol (VLB, II, 108)
pîasaba1 (mb) (etim. - instrumento de abrigar) (s.) - cerca, defensão (VLB, I, 70); valado, qualquer cercado (VLB, II, 140): taba pîasaba - cerca da aldeia (VLB, II, 45)
poaoba (mb) (etim. - roupa de mãos) (s.) - luva (VLB, II, 25)
popyatã (xe) (etim. - ponta firme) (v. da 2ª classe) - resistir, ser forte de braços, ser firme, ser resistente: Eresugûykápe kunhataĩ amõ? Semimotara rupipe koîpó i popyatã-mbápe? - Desvirginaste alguma menina? Segundo tua vontade ou ela resistiu completamente? (Ar., Cat., 103v); Na xe popyatãî. - Eu não sou resistente, eu não sou firme. (VLB, I, 143)
porypab (xe) (etim. - esgotar o conteúdo) (v. da 2ª classe) - absorver (como o vaso novo ao líquido) (VLB, I, 111)
pouru (mb) (etim. - envoltório das mãos) (s.) - luva (VLB, II, 25)
pupuk (xe) (etim. - ficar a romper-se) (v. da 2ª classe) - masturbar-se, poluir-se ● I pupukyba'e - o que se masturba (Ar., Cat., 72)
pyaba (mb) (etim. - pés de penas) (s.) - calçuda (diz-se de aves que têm as pernas ou as patas cobertas de penas) (VLB, I, 63); (adj.: pyab) - calçudo (VLB, I, 63)
py'anhemongetá (mb) (etim. - conversa do fígado; conversa do coração) (s.) - pensamento (VLB, II, 72); (adj.) - pensante; (xe) pensar, ter pensamentos [compl. com esé (r, s)]: Nde py'anhemongetápe kunhã amõ resé? - Pensaste nalguma mulher? (Anch., Doutr. Cristã, II, 92; VLB, II, 72)
pyaoba (mb) (etim. - roupa dos pés) (s.) - sapato, calçado (VLB, I, 63)
pyaopuku (mb) (etim. - roupa dos pés comprida) (s.) - bota (var. de calçado) (VLB, I, 58)
pyapyrá (xe) (etim. - tomar a ponta dos pés) (v. da 2ª classe) - levantar-se nas pontas dos pés (VLB, II, 21)
pyendaba (mb) (etim. - lugar de estarem os pés) (s.) - estribos (VLB, I, 131)
pykupé (mb) (etim. - costas dos pés) (s.) - peito do pé (Castilho, Nomes, 30; VLB, II, 70)
pypora (mb) (etim. - marca do pé) (s.) - pegada, rastro (VLB, II, 69): ...Îasepîak îepi i pypora... - Vemos sempre as suas pegadas. (Ar., Cat., 138, 1686)
pypytera (mb) (etim. - meio do pé) (s.) - 1) palmilha da meia, parte inferior da meia onde assenta o pé (VLB, II, 63); 2) planta do pé, sola (D'Evreux, Viagem, 159; Castilho, Nomes, 30)
pyta'am (xe) (etim. - calcanhar erguido) (v. da 2ª classe) - manquejar nas pontas dos pés, levantar-se nas pontas dos pés: Xe pyta'ã-ta'am. - Eu me fico levantando nas pontas dos pés. (VLB, II, 21)
pytubar (xe) (etim. - prender fôlego) (v. da 2ª classe) - cansar-se, cansar-se de: ...N'oîeruré-pytubari Tupã supé... - Não se cansam de rezar a Deus. (Ar., Cat., 8v)
tekokuabar (xe) (etim. - tomar conhecimento dos fatos) (v. da 2ª classe) - voltar à razão, retomar o juízo, recuperar o bom senso: Xe tekokuabar. - Eu retomei o bom senso. (VLB, II, 133)
NOTA - Daí, TIJUPABA (te'yî + upaba, "pousada da multidão"), 1. cabana improvisada de índios, aberta dos lados, para abrigo de muitos deles durante suas travessias pela floresta; 2. palhoça que os trabalhadores constroem no meio da mata, nos seringais, roças, etc.
buzina (= cornetim indígena) - îombyá
ermo (= desértico) - tabe'ym (v. tabe'yma)
garça - gûyratinga
matança - îoapiti; paba (mb); porapiti (m)
secar - (intr.): tining; (tr.): motining; monga'ẽ
agûá (s.) - altibaixos (VLB, I, 33)
aîxé (s.) - 1) tia paterna; 2) prima do pai (Ar., Cat., 114; VLB, II, 127)
akuti (s.) - CUTIA, AGUTI, ACUCHI, ACOUTI, ACUTI, nome genérico de diversos mamíferos roedores da família dos caviídeos ou dasiproctídeos, com nove espécies no território brasileiro, dentre as quais a espécie Dasyprocta leporina, que está associada à Mata Atlântica e à Amazônia. Vivem nas matas e capoeiras, de onde saem à tardinha para alimentar-se de frutos e sementes caídos das árvores, tendo predileção por coquinhos. A coloração varia entre as espécies. (D'Abbeville, Histoire, 96v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 224; Thevet, Les Sing. de la France Antarct., 62v)
akutimirĩ (s.) - CUTIA-MIRIM, variedade de cutia de cor parda, de rabo muito felpudo..., também conhecida como cutiara. Restrito à região amazônica, este animal é incluso no gênero Myoprocta, com três espécies reconhecidas. (Sousa, Trat. Descr., 252-253)
akutitere'yba (s.) - CUTIRIBÁ, CUCUTIRIBÁ, CUTITIRIBÁ, árvore grande da família das sapotáceas (D'Abbeville, Histoire, 219v)
akypûeri (r, s) (etim. - nas pegadas) (loc. posp.) - atrás de, no encalço de, em seguida a, no rastro de, pelo rastro de: Nd'osóîpe i boîá amõ sakypûeri? - Não foi algum discípulo seu atrás dele? (Ar., Cat., 55); Sakypûeri aîkó. - Estou atrás dele (isto é, no seu encalço). (VLB, I, 47); Sakypûeri asó. - Vou atrás dele. (VLB, II, 135); Abá 'anga mara'ara i pupé opûeîrá-katu; sakypûeri Tupã rara. - As doenças da alma do homem com ela saram bem; em seguida a ela, a comunhão. (Anch., Teatro, 38) ● o îoakypûeri - um atrás do outro; o îoakypûé-kypûeri - uns atrás dos outros (VLB, I, 154)
apysyka (s.) - satisfação; consolo, sossego, agrado; (adj.: apysyk) - 1) satisfeito, farto (inclusive do que se come): Xe apysy-katu sekoápe. - Estava muito satisfeito na morada deles. (Anch., Teatro, 10); 2) (xe) consolar-se; quietar-se internamente consigo; sossegar, estar sossegado; satisfazer-se: Îasepenhan, îaîpysyk i apysyk' e'ymebé... - Ataquemo-los, prendamo-los antes que se consolem... (Anch., Teatro, 66); ...Sesé nhõ abá resá apysykamo ybakype... - Somente com Ele os olhos dos homens se satisfazem no céu. (Ar., Cat., 167); Pe apysykĩ serã peîkóbo pe rekomemûã aty-atyra pupé...? - Será que estais sossegados, sem mais, com vossos montes de maldades? (Ar., Cat., 166): Na nde apysyki, tobaîara rekorama kuabe'yma... - Tu não sossegas, não sabendo as ações dos inimigos. (Ar., Cat., 158); 3) (xe) agradar-se, regozijar-se, gostar [compl. com esé (r, s)]: Xe apysyk (mba'e) resé. - Agrado-me com as coisas. (VLB, I, 27, adapt.); I apysyk pabẽ sesé. - Todos gostaram delas. (Anch., Poesias, 259); 4) (xe) bastar a (compl. verbal no gerúndio): N'i apysyki xûépemo serobîasara o py'ape nhote serobîá? - Não bastaria ao crente acreditar nele em seu coração somente? (Bettendorff, Compêndio, 33) ● apysykaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de se consolar; consolo: Mba'epe asé apysykabamo a'ereme? - Qual é nosso consolo, então? (Ar., Cat., 92v)
asusura (s.) - altibaixos na terra (VLB, I, 33); (adj.: asusur) - apinhado, coalhado, lotado: Oré asusur. - Nós estamos apinhados (isto é, por sermos muitos, fazemos que a terra perca sua planura e fique rugosa, cheia de sinuosidades, de altibaixos. Diz-se de quaisquer coisas: gafanhotos, soldados, etc.) (VLB, I, 33)
(e)minga'u (r, s) (etim. - o empapado) (s.) - MINGAU; papa; sopa rala (Staden, Viagem, 143): Aîapó minga'u. - Faço mingau. (VLB, II, 64); xe reminga'u - meu mingau (Fig., Arte, 79) ● minga'u-pomonga - mingau grudento (VLB, I, 151); amido ou glúten feitos de mandioca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); espécie de goma ou grude usado para se prenderem penas no corpo (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271); minga'upetinga (ou minga'u-pitinga)* - espécie de papa preparada a partir da mandiopeba misturada com ervas, lagostins, peixe ou carne cozida (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67; Piso, De Med. Bras. IV, 177)
emirekoe'õ (r, s) (etim. - esposa morta) (xe) (v. da 2ª classe) - enviuvar, ser viúvo (o h.): Xe remirekoe'õ. - Eu enviuvei. (VLB, I, 120) ● seremirekoe'õba'e - o que é viúvo, o viúvo (VLB, II, 147)
(e)mityma (r, s) (etim. - o que alguém planta) (s.) - 1) plantação; horto, jardim, pomar (VLB, II, 89); horta (VLB, I, 153): -Mamõpe i xóû o mba'e'u-pab'iré? -Amõ abá remitỹme. -Aonde ele foi após acabar de comer? -Para o horto de certo homem. (Ar., Cat., 52v); O emitymaysó Paraíso Terreal seryba'epe. - No seu jardim formoso chamado "Paraíso Terreal". (Ar., Cat., 39); Sugûy turusu, ...ybype osyryka, mityma pupé. - Seu sangue era muito, na terra escorrendo, dentro do horto. (Anch., Poemas, 120); 2) planta (VLB, II, 84)
(e)nha'ẽpepó (r, s) (etim. - prato de asa) (s.) - panela: Oú bé senha'ẽpepó t'omoîy xe renondé. - Veio também sua panela para que os cozinhe adiante de mim. (Anch., Teatro, 66)
gûa'a1 (s.) - altibaixo (VLB, I, 33) ● gûa'a-gûa'a - altibaixos (VLB, I, 33)
îasuka (s.) - batismo: Xe ryke'yr, ereîeruré îasuka ri. - Meu irmão, pedes pelo batismo. (D'Abbeville, Histoire, 350)
îatiman - v. nhatiman
îetyka (s.) - JETICA, JATICA, batata-doce, planta herbácea americana, da família das convolvuláceas (Ipomoea batatas (L.) Lam.), de raízes tuberosas alimentícias e folhas medicinais. É também chamada batata-da-terra, batata-da-ilha. (D'Abbeville, Histoire, 229; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 16) ● îetyky - vinho de batata-doce (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
moîanypagûer (v.tr.) - tingir de jenipapo (encostando em alguém, isto é, pelo contato físico) (VLB, II, 128)
moún (v.tr.) - tingir de preto, pretejar (VLB, II, 128); escurecer ● moundara - o que tinge de preto, o que escurece: aó-moundara - o que escurece roupas, o tintureiro (VLB, II, 128)
nhatiman (ou îatiman) (v. intr.) - andar à roda, andar em círculos, rodar (não no chão, como uma roda de carroça, mas como a roda do engenho, a roda de mão, roda de algodão, etc.) (VLB, I, 35); fazer voltas, descrever círculo (p.ex., o caminho) (VLB, II, 147)
nhati'ũ (s.) - JATIUM, espécie de mosquito pequeno da família dos culicídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 257; VLB, II, 43)
nhomongakugûaba (s.) - notícia, novidade (VLB, II, 97)
obabo (r, s) (etim. - no rosto, na cara) (loc. posp.) - à vista de, diante de, junto a, defronte de: ...îudeus-etá cruz robábo... - os muitos judeus junto à cruz (Ar., Cat., 63); Sobábo akûab. - Diante deles passei. Nhoesembé robábo i kûáî. - Ele passou defronte de Nhoesembé. (VLB, II, 67); xe robábo - à minha vista; sobábo - à vista dele (VLB, II, 67)
obaî (r, s) (etim. - no rosto, na cara) (loc. posp.) - 1) além de, adiante de, do outro lado de: 'y robaî - além do rio (VLB, I, 31); 2) em face de, em frente de, à frente de, diante de (Fig., Arte, 126): paranã robaîkatu... - bem em frente do mar (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618) ● obaîygûara (r, s) - o que está em frente de, o que está diante de: Takûary, sobaîygûara, Tapera, xe rerobîá. - Taquari e Tapera, que está diante dela, acreditam em mim. (Anch., Poesias, 269)
oîtikoro'i (s.) - OITICOROIA, OITICORÓ, 1) nome de árvore da família das crisobalanáceas (Couepia rufa Ducke); 2) nome de seu fruto, "do tamanho de uma grande pinha" (Brandão, Diálogos, 216)
oîtysyka (s.) - OITICICA, planta da família das crisobalanáceas (Manifesto de utilidades do Brasil. In Brasilia (1687), VII, 184)
okanga (r, s) (etim. - ossatura de casa) (s.) - madeira ou madeiramento para casas ou de casas (VLB, II, 27)
okapuku (r, s) (etim. - ocara comprida) (s.) - rua (VLB, II, 109)
okapyra (r, s) (etim. - cume da casa) (s.) - telhado (VLB, II, 125)
okarupagûama (r, s) (etim. - lugar de futuro assentamento de casa) (s.) - terreno apropriado para uma casa (VLB, I, 72)
okendaba (r, s) (etim. - instrumento de fechar) (s.) - madeira, tampo que fecha uma entrada (de casa, de caixa, etc.); porta; janela (VLB, I, 18)
okupagûama (r, s) (etim. - lugar de futuro assentamento de casa) (s.) - terreno apropriado para uma casa (VLB, I, 72)
okusu (r, s) (etim. - casa grande) (s.) - sala, dianteira da casa (VLB, II, 112)
okytá (r, s) (etim. - esteio de casa) (s.) - 1) esteio, coluna, pilar: Oîaobok, itá-okytá resé i popûá... - Despiram-no, amarrando-lhe as mãos numa coluna de pedra. (Ar., Cat., 60); Aîmaman okytá ysypó pupé. - Amarrei o esteio com cipó. Aîmaman ysypó okytá resé. - Enrolei o cipó no esteio. (VLB, I, 117); 2) mastro: ygara rokytá - mastro da embarcação (VLB, II, 33)
paty (s.) - PATI, PAXIÚBA, variedade de palmeira (Syagrus botryophora (Mart.) Mart.). O tronco fornece madeira para construções rústicas e ripas de ótima qualidade. É também chamada coco-da-quaresma. (Sousa, Trat. Descr., 198)
patygûá (s.) - PATIGUÁ, espécie de cesto; o mesmo que patûá (v.) (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §120, 98; VLB, I, 65)
ponga (s.) - batida, percussão; (adj. - pong) - que bate, que percute: gûyrá-ponga - "pássaro que bate", ARAPONGA. Seu canto parece os sons metálicos do bater de ferro em bigorna. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 201)
poti2 - v. epoti (t) ou (e)poti (r, s)
sura (s.) - altibaixos (VLB, I, 33); lombada; lombo (VLB, II, 24); (adj.: sur) (xe) - ter lombada (VLB, II, 24)
NOTA - O sentido antigo de TAPERA é, hoje, menos conhecido. Em nossos dias, essa palavra é mais usada com o sentido de casa em ruínas, casebre abandonado.
tatatinga - v. atatinga (t)
tepoti - v. epoti (t)
tipoîa (s.) - 1) TIPÓI, espécie de saco, feito de fios de algodão, aberto em cima e em baixo, que as mulheres vestiam (Staden, Viagem, 132); 2) TIPÓIA, pano com que as mulheres traziam amarrados aos corpos os bebês (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 107)
tutyra (s.) - 1) tio materno; 2) primo da mãe; 3) primo, filho de tio materno (Ar., Cat., 117)
ubangaba (t, t) (etim. - imagem do pai) (s.) - padrinho*: Oîkobé xe rubangaba, tupi moangaîpaparûera. - Há um padrinho meu, velho pervertedor dos tupis. (Anch., Teatro, 136); Erobîá, xe rubangaba, ta nde moembiá kori. - Acredita, meu padrinho, hão de te apresar hoje. (Anch., Teatro, 142)
ube'yma (t, t) (etim. - sem pai) (s.) - órfão (de pai): ...tube'yma i mene'õba'e bé asé serekomemûãmo. - ...tratando-se mal os órfãos e as viúvas. (Bettendorff, Compêndio, 17)
ûiti (s.) - OITI, GOITI, OITIZEIRO, árvore da família das crisobalanáceas, de flores brancas e amarelas (Licania tomentosa (Benth.) Fritsch) (D'Abbeville, Histoire, 225)
umûana (s.) - antiguidade; (adj.: umûan) - antigo, velho: Nainanĩ temiminõ... o erumûana mombó. - De modo nenhum os temiminós tiram seus nomes antigos. (Anch., Teatro, 142); Mairumûana - o velho Maíra, nome de personagem mítico dos primitivos índios tupis da costa (Staden, Viagem, 147)
upaba3 (t, t) (etim. - lugar de estar deitado) (s.) - leito, cama, rede: Kó xe 'anga, nde rusaba, nde rupabamo t'oîkó. - Eis que minh' alma, à qual tu vens, há de estar como teu leito. (Anch., Poemas, 128) ● upagûera (t) - leito que já foi usado (onde se deitou pessoa ou animal que já se foi) (VLB, II, 7)
upaba4 (t, t) (etim. - lugar de estar deitado) (s.) - pousada (de caminhantes, de viajantes) (VLB, II, 84): ...Ybyrá itá monhangymbyra kupépe so'o mimbaba roka ogûar og upabamo... - Atrás de uma cerca feita de pedras, tomou a casa dos animais de criação como sua pousada. (Ar., Cat., 9v)
upaba5 (t, t) (etim. - lugar de estar estendido) (s.) - campo (limpo) para plantação: Atupá-rung abati. - Estabeleci uma plantação de milho. (VLB, II, 81)
u'ubá2 (t) (s.) - tiras estreitas que se faziam nas mangas dos vestidos, das calças; rocas (VLB, II, 106)
u'uburu (r, s) (etim. - repositório de flechas) (s.) - aljava: itá-u'uburu - aljava de ferro (VLB, I, 32)
yaíba (r, t) (etim. - água má) (s.) - tormenta do mar bravo; tempestade do mar: O'ar yaíba ixébo. - Caiu-me uma tormenta. (VLB, II, 125); [adj.: yaíb (r, t)] - tempestuoso (VLB, II, 126); (xe) - fazer ondas (o mar, quando em tormenta) (VLB, II, 57) ● yaíbusu (r, t) - grande tormenta do mar (VLB, II, 132)
yamĩsaba (t, t) (etim. - instrumento de espremer líquido) (s.) - prensa de espremer: u'ubae'ẽ-yamĩsaba - prensa de cana-de-açúcar (VLB, II, 85)
yapogûasu (t, t) (etim. - água cheia e grande) (s.) - maré alta, águas vivas (VLB, I, 24)
yapopeba (t, t) (etim. - largura das águas cheias) (s.) - largura (de rio) (VLB, II, 19); [adj.: yapopeb (r, t)] - largo (o rio) (VLB, II, 18)
yapoypaba (t, t) (etim. - água cheia esgotada) (s.) - maré baixa, águas mortas (VLB, I, 24)
yarybé (t, t) (etim. - água tranquila) (s.) - bonança no mar; água calma (VLB, I, 57)
yby'y (r, s) (etim. - água da terra) (s.) - umidade; [adj.: yby'y (r, s)] - úmido: Xe ryby'y. - Eu estou úmido. (VLB, I, 154; II, 20)
ygapotitinga (t, t) (etim. - manchas brancas da água cheia) (s.) - ovelhas do mar (VLB, II, 60); [adj.: ygapotiting (r, t) (xe) - fazer ovelhas (o mar)] (VLB, II, 60)
ypye'yma (t, t) (etim. - sem fundura) (s.) - baixio no mar (VLB, I, 51)
ypyu'uma (t, t) (etim. - barro do fundo) (s.) - borra de um líquido, isto é, a parte sólida dele que se deposita no fundo de uma garrafa; sedimento (VLB, I, 58)
Caipuna (Juquitiba, SP). De ka'i + pó + un + -a: macaco caí da mão preta, macaco prego (Bodin, p. 93)
Guapeva (Juquitiba, SP). Da língua geral meridional, nome de uma trepadeira da família das cucurbitáceas. De 'ybá + peb + -a: frutos achatados.
Manacá (Juquitiba, SP). De manaká, planta solanácea.
Sumé (PB). Entidade da cosmologia dos antigos tupis. Nome dado em 1951 ao antigo distrito de São Tomé, tornado município (fonte: IBGE).
PITTA, Sebastião da Rocha [1730], Historia da América Portugueza desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento até o de mil setecentos e vinte e quatro. Lisboa, na Officina de Joseph Antônio da Sylva, 1730. Biblioteca Brasiliana, USP.
a'angamỹîa (t) (s.) (etim. - a'angaba; mỹîa) - vídeo; filme | vídeo; movie | Asepîak mbarakaîá ra'angamỹîa kûesé. - Ontem eu vi um vídeo de um gato - Yestarday, I saw a video of a cat (CPB Tupi, 2018, Comum) - neologismo
ganã (v.tr.) (etim. - empréstimo adaptado do português) - enganar | to deceive | "Re'ĩ kó xe ganã." - "Ai, eis que me enganam." - (Diogo da Costa, carta 4, apud TPK, 2024, 44) - neologismo
etamusu (t) (s.) (etim. - etama; -usu) - país | country | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
mba'emoîa'oka (t) (s.) (etim. - mba'e; moîa'ok) - divisão; cálculos básicos | division; basic arithmetic | - - (TPK, 2024, 113) - neologismo
ekoabeté (t) (s.) (etim. - ekoaba; eté) - habitat | habitat | - - (TPK, 2024, 114) - neologismo
ekoaparaba (t) (s.) (etim. - ekoaba; paraba) - bioma; habitats | biome; habitats | - - (TPK, 2024, 114) - neologismo
embranquecer (tr.) - moting
enjoar (tr.) - moting
espinho - îu; îua
abati'imirĩ (s.) - ABATIMIRIM, planta da família das gramíneas, variedade de arroz com grão avermelhado e pequeno (VLB, I, 44)
akutigûepó (ou akutitigûepó) (s.) - AGUTIGUEPE, erva da família das marantáceas (Maranta arundinacea L.), de caule subterrâneo que armazena amido utilizável na alimentação. É também chamada araruta, araruta-comum, araruta-especial, araruta-gigante, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 53)
anangatu1 (s.) - multidão; (adj.) - muitos ou muitas em número: Oré anangatu. - Nós somos muitos. (VLB, II, 44)
angaîbabîara (s.) - héctica, doença em que se manifesta diminuição progressiva das forças, emagrecimento, que vai consumindo o corpo sem febres; tísica; (adj. angaîbabîar) - tísico: Xe angaîbabîar. - Eu sou tísico. (VLB, I, 131)
apytera2 (s.) - vértice, ápice, alto, cume (de monte ou outeiro): Ybytyra Olivete seryba'e apyterybo o sy o boîá rerasóû. - Para o alto do chamado Monte das Oliveiras levou sua mãe e seus discípulos. (Ar., Cat., 127) ● apyteri - no vértice, no ápice (Anch., Arte, 41)
aratiku (s.) - ARATICUM, ARATICUNZEIRO, ARATICUZEIRO, 1) árvore do cerrado (Annona crassiflora Mart.), da família das anonáceas, de frutos grandes, pesados e comestíveis; 2) nome de outras espécies de árvores anonáceas, do gênero Annona (Annona montana Macfad. e Annona glabra L.), também conhecidas como araticum-cortiça, marolo; 3) o fruto dessas árvores (D'Abbeville, Histoire, 219v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93; Brandão, Diálogos, 216)
aratikuponhẽ (s.) - ARATICUM-PANÃ, ARATICUM-DE-PACA, árvore anonácea (Annona montana Macfad.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 97)
gûeti (s.) - GUETI, OITI, nome genérico de árvores altas que produzem frutos amarelos: gûetitoroba, gûetimirĩ e gûetikoroîa (v.). (Piso, De Med. Bras., IV, 183; Brandão, Diálogos, 217). O mesmo que ûiti (v.).
gûiti (ou gûitimirĩ) (s.) - fruto da gûiti'yba (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 115)
gûititoroba (s.) - GUITITIROBA, GUITIROBA, planta da família das sapotáceas (Pouteria macrophylla (Lam.) Eyma) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 113)
îase'opapara (s.) - lástima, o que se diz quando se chora (VLB, I, 74)
îekaraimonhanga (s.) - feitiço, magia, pajelança: Ererobîarype paîé... îekaraimonhanga...? - Acreditas nos feitiços do pajé? (Anch., Doutr. Cristã, II, 83)
îepotabẽ3 (s.) - continuidade; (adj.) - contínuo (VLB, I, 81)
NOTA - Daí, POTIRENDABA (município de SP) (v. p. 386).
îuraragûaîa (s.) - mentira: Eresenõî tenhẽpe Tupã rera, ...nde îuraragûaîamo nhẽ, îuraragûaîamo sekó kuapa? - Invocaste em vão o nome de Deus, mentindo, sabendo ser mentira? (Ar., Cat., 99v) ● îuraragûaîa ekyî (s): urdir mentiras: Eresekyîpe îuraragûaîa abá supé...? - Urdiste mentiras contra alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
karaimonhanga (s.) - feitiço, magia, pajelança: Ererobîápe îetanonga'uba koîpó karaimonhanga? - Acreditas em falsas oferendas ou em pajelanças? (Ar., Cat., 98v); T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma, moraseîa, mbyryryma karaimonhanga ndi. - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés, em danças, rodopios com feitiços. (Anch., Teatro, 118)
karaipaba (s.) - santificação: ...O karaibagûama raûsukatûabo. - Amando muito sua santificação. (Anch., Doutr. Cristã, I, 202)
katupabẽ (s.) - multidão, grande número; (adj.) – muitíssimos, numerosíssimos: ...-Setápe? -I katupabẽ. -Eles são muitos? -Eles são muitíssimos. (Léry, Histoire, 343); ...O mba'e-katupabẽ îarama... - Futuro senhor de suas muitíssimas riquezas. (Ar., Cat., 7); Ko'yr bé a'e oka a'e cristãos-katupabẽ i moetesabamo. - Agora também aquela casa é lugar de muitíssimos cristãos cultuá-la.
kûati (s.) - QUATI, COATI, QUATI-DE-BANDO, nome comum a mamíferos carnívoros que vivem em bandos de oito a dez, da família dos procionídeos, do gênero Nasua, que aparecem em todo o Brasil, dentre os quais se destacam as espécies Nasua socialis Newied, Nasua nasua L. e Nasua narica L., esta semelhante à raposa, tendo fina cauda de até 1,20 m de comprimento (D'Abbeville, Histoire, 251; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 228)
mbegûé (s.) - lentidão, vagar; fleugma; (adj.) - vagaroso, lento, fleumático, molengão (VLB, II, 40): Xe mbegûé. - Eu sou fleumático, eu sou vagaroso. (VLB, I, 143; II, 140); (adv.) 1) devagar; aos poucos, lentamente, vagarosamente: T'îasó, mbegûé, îapu'ama... - Vamos, devagar, para fazer o assalto. (Anch., Teatro, 24); Mbegûé-katu aîmonhang. - Bem devagar o fiz. (VLB, II, 140); 2) baixo (som ou voz): Mbegûé îaîomongetá, t'onhandu umẽ abá. - Conversemos baixo, para que não o percebam os índios. (Anch., Teatro, 146) ● mbegûé-mbegûé (nhẽ) - pouco a pouco (VLB, II, 83), aos poucos: Mbegûé-mbegûé gûyrá nhemoaî. - Aos poucos a ave se torna papuda. (Isto é, como se diria em português: "de grão em grão a galinha enche o papo".) (VLB, I, 150); Sobaké suí mbegûé-mbegûé i xóû oîeupi... - De diante deles ele foi, aos poucos, subindo. (Ar., Cat., 4v); mbegûé-katu - brandamente, suavemente (VLB, I, 34); tardiamente (VLB, II, 125); mbegûé irã - logo mais: -N'asepîaki xópene? -Mbegûé irã. -Não as verei? -Logo mais. (Léry, Histoire, 345); mbegûé nhote - devagar; mbegûé'ĩ (ou mbegûé'ĩ nhote) - devagarinho; mbegûé-mbegûé nhote (ou mbegûé-mbegûé nhẽ) - aos passinhos, devagarinho (p.ex., como anda o doente) (VLB, II, 67)
mo'ema (s.) - mentira - v. (e)mo'ema (r, s)
nhe'engara (s.) - cantiga (VLB, I, 66); música (VLB, II, 45)
nhetinga (ou nhitinga) - o mesmo que îetinga (v.) (VLB, II, 43)
peîtika (s.) - PEITICA, ave da família dos tiranídeos, considerada de mau-agouro (Brandão, Diálogos, 230)
NOTA - Daí, o título da obra de João Barbosa Rodrigues (século XIX), PORANDUBA AMAZONENSE.
NOTA - NO P.B., -TINGA é um elemento de composição presente em dezenas de palavras: CAATINGA, CAMARATINGA, COUVETINGA, CAPINTINGA, GAVIÃOTINGA, GUIRATINGA, JABUTITINGA, JACUTINGA, etc. Aparece também em inúmeros nomes de lugares no Brasil: ITATINGA (SP), CARATINGA (MG), CURURUTINGA (BA), etc. (v. p. 386).
tininga2 (s.) - héctica, doença em que se manifesta diminuição progressiva das forças; tísica (VLB, I, 131)
NOTA - No P.B., TIBA pode ser, também, adjetivo, assim como TIBI ou TUBI (formas populares): 1) cheio, abarrotado: uma casa TIBA; um carro TIBI; 2) (NE) grande, grosso, considerável.
Tiê (MG). De tié, pássaros traupídeos.
Timbopeba (SE). De timbopeba, var. de timbó, plantas leguminosas que entorpecem os peixes.
Tipi (CE). De tipi: tipis, pipis, plantas fitolacáceas.
SVENSÉN, B., Practical Lexicography Principles and Methods of Dictionary Making. Oxford, Oxford University Press, 1993.
assassino - poroapitîara (m) (v. apiti)
balançar - (tr.): moîatimung; (intr.): atimung
fedor - nema; katinga
prensa (para retirar o sumo de plantas) - tepiti
akaîakatinga (s.) - CAJATI, variedade de cedro brasileiro, árvore da família das lauráceas (Cryptocarya mandioccana Meisn.), da mata atlântica (Sousa, Trat. Descr., 212)
apysagûé (adv.) - detidamente: Aîpó îandé rekó oîoirundyk mondykaba îabi'õ t'amombe'u apysagûé. - Cada um daqueles quatro destinos últimos de nossa vida hei de anunciar detidamente. (Ar., Cat., 154v)
araka'e (adv.) - antigamente (VLB, I, 36); então, naquele tempo (VLB, I, 118)
asura (s.) - 1) altibaixos (na terra), lombada (como a que, às vezes, tem a faca ou a vara acepilhada e o mais que houvera de ser direito ou igual) (VLB, I, 33); 2) calombo; inchação produzida por golpe, pancada, sem pus (VLB, II, 24; 80); corcova; (adj.: asur) - calombento; corcovado: Xe asur. - Eu estou calombento. (VLB, II, 24); kupé-asura - costas corcovadas (VLB, I, 30)
atitara (ou 'ybatitara) (s.) - TITARA, JACITARA, planta palmácea sarmentosa (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 64)
eno'ẽ (v.tr.) - retirar (como a comida da panela, algo do buraco, da cova, etc.); tirar: Ano'ẽ. - Retirei-a. (VLB, II, 129)
erok2 (v.tr.) - retirar: Aînhubã-rok. - Retirei o invólucro dele. (VLB, I, 98)
gûyratinga (ou ûyratinga) (etim. - ave branca) (s.) - GUIRATINGA, ACARATINGA, ave ciconiforme americana da família dos ardeídeos, de cor branca. Era conhecida no século XVI como garça. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 61; VLB, I, 146) ● ûyratingusu - garça grande (Staden, Viagem, 70)
îaboti (s.) - JABUTI, JABUTIM, réptil da ordem dos quelônios, da família dos testudíneos, muito encontrado nas matas brasileiras. É frugívoro e sua fêmea é maior que o macho, chamada também carumbé ou JABUTI-CARUMBÉ. Também é chamado cágado, JABUTIPIRANGA, JABUTITINGA. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 241; VLB, I, 62)
îeruti (s.) - JURITI, o mesmo que îuru (v.) (D'Abbeville, Histoire, 239)
îupati1 (s.) - JUPATI, nome de mamífero marsupial, da família dos didelfídeos, do gênero Philander. "Não se comem, os quais criam em troncos das árvores velhas." (Sousa, Trat. Descr., 254-255)
îuriti (ou îeruti ou îuru) (s.) - JURITI, JURUTI, nome comum a aves columbiformes da família dos peristerídeos e dos columbídeos (Sousa, Trat. Descr., 230)
mboîsininga (ou mboîtininga) (etim. - cobra que retine) (s.) - BOICININGA, BOIÇUNUNGA, cascavel, cobra venenosa da família dos crotalídeos, com guizo ou chocalho na ponta da cauda. Alimenta-se de roedores em geral. É também chamada BOIQUIRA, BOITINGA, maracá, maracabóia. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 240; Piso, De Med. Bras., III, 171; Knivet, The Adm. Adv., 1242): Gûaîxará kagûara ixé, mboîtiningusu... - Eu sou Guaixará, bebedor de cauim, grande boicininga. (Anch., Teatro, 26)
moaparatã (v.tr.) - estirar, retesar (p.ex., corda) (VLB, I, 129)
mongy2 (v.tr.) - 1) tingir [de algo: compl. com esé (r, s)]: Aîmongy îanypaba resé. - Tinjo-o com jenipapo. (VLB, II, 128); 2) usar como tinta, passar (tinta): Aîmongy îanypaba. - Uso jenipapo como tinta; passo jenipapo. Aîîanypá-mongy. - Passo jenipapo nele. (VLB, II, 128)
mopyring (v.tr.) - estimular, excitar (p.ex., os ógãos sexuais, o corpo, com lascívia) (VLB, I, 129)
mopytubar (v.tr.) - fatigar, aborrecer, deprimir: Iî abaibeté nhẽ rakó... asé atá mysakanga..., asé mopytubara... - São muito molestos, certamente, os tropeços de nossa caminhada, o fatigar-se. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79)
parati1 (s.) - PARATI, peixe da família dos mugilídeos, do Atlântico sul (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 181): Nd'aruri amõ parati. - Não trouxe nenhum parati. (Anch., Poemas, 152) (D'Abbeville, Histoire, 244v)
patakûera (s.) - prostituta (D'Evreux, Viagem, 126)
petyma (s.) - 1) PETIMA, PETEMA, PETUM, PETUME, tabaco, nome genérico de plantas solanáceas (entre as quais a Nicotina tabacum L.), cujas folhas, depois de preparadas, servem para cheirar, fumar ou mastigar (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; Staden, Viagem, 154): Ererupe nde petyma? - Trouxeste teu fumo? (Anch., Teatro, 146); 2) fumaça que se inala ao se fumar (VLB, I, 144) ● petymaoba - folhas de tabaco (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
Como substantivo comum, PARANAMBUCA é passagem entre recifes costeiros, ou entradas de um lagamar (in Novo Dicion. Aurélio).
pyti'u (m) (s.) - PITIÚ, PITIUM, cheiro de peixe fresco cru; (adj.) (xe) - ter cheiro de peixe, ter PITIÚ: Xe pyti'ugûasu. - Eu tenho muito pitiú. (VLB, I, 73)
sygûaraîybora (s.) - prostituta: Na xe reroŷrõî ...sygûaraîybora... - Não me detestam as prostitutas. (Anch., Teatro, 150)
sygûasutinga - v. sûasutinga (VLB, I, 81)
tabatinga (s.) - TABATINGA, TAUATINGA, TOBATINGA, argila esbranquiçada usada para caiar casas; o mesmo que tobatinga (v.) (Monteiro, "Rel. da Prov. Bras.", in Leite, S., Hist., VIII, 411, 1949; Brandão, Diálogos, 208)
tamatîá (ou tamatîã) (s.) - TAMATIÁ, ave ciconiforme dos mangues, das beiras dos rios e lagos, da família dos coclearídeos, de bico largo e achatado (D'Abbeville, Histoire, 241; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 208)
tapeti1 (ou tapiti) (s.) - TAPITI, coelho-do-mato, nome comum a roedores leporídeos americanos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 223; VLB, I, 76; Léry, Histoire, 347-348)
tapeti2 (ou tapiti) (s.) - TIPITI, cilindro feito de folha de palmeira, usado pelos índios para espremer a massa da mandioca ralada (Piso, De Med. Bras. IV, 177) (o mesmo que tepiti - v.)
tekoaraibora (s.) - fugitivo (Fig., Arte, 77); homiziado, o que anda embrenhado pelos matos; (adj.: tekoaraibor) (xe) - homiziar-se, viver fugido: Xe tekoaraibor gûitekóbo. - Eu estou-me homiziando, eu estou vivendo fugido. (VLB, I, 140)
tobatinga (s.) - TOBATINGA, TABATINGA, var. de barro branco como cal (VLB, I, 52; Anch., Arte, 14v)
tupi'atinga - v. upi'atinga (t)
a'ang5 (s) (v.tr.) - atirar (VLB, I, 47); atirar ao alvo (p.ex., flecha): Asa'ang. - Atiro-a. (VLB, II, 129)
abati (s.) - 1) AVATI, ABATI, AUATI, milho, planta da família das gramíneas (Zea mais L.) (Staden, Viagem, 67): Atupá-rung abati. - Estabeleci uma plantação de milho. (VLB, II, 81); 2) o grão dessa planta ● abati-'y - ABATINI, variedade de bebida feita de milho; vinho de milho (D'Abbeville, Histoire, 207; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; Thevet, Les Sing. de la France Antart., 56v); abati-tyba - milharada, milharal; abatigûasu (ou abati-atã ou abatipeba) - milho zaburro; abati-una - milho preto; abati-eté - milho verdadeiro (em oposição às suas variedades menos comuns); abati-tinga - milho de que se faz pão (VLB, II, 38)
angĩme (adv.) - pertinho (VLB, II, 74)
api'a2 (t) (s.) - testículo (Castilho, Nomes, 38) ● api'a sama (t) - as cordas dos testículos (Castilho, Nomes, 38)
apynhang (s) (v.tr.) - atiçar (o fogo): Asapynhang. - Aticei-o. (VLB, I, 47)
aratikupaná (s.) - 1) ARATICU-PANÁ, ARATICU-DO-BREJO, árvore anonácea (Annona glabra L.); 2) outra espécie a que também se aplica a denominação araticu-paná é a Duguetia furfuracea (A. St.-Hil.) Saff. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 93). "Das raízes destas árvores fazem bóias para redes e são tão leves como cortiças." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 40)
arumatîá (s.) - ARAMATIÁ, inseto da família dos fasmídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 251)
atapy (s) (v.tr.) - atiçar o fogo para: Esatapy nde remimõîa. - Atiça o fogo para o que cozinhas. (VLB, I, 47)
ekosykaba (t) (s.) - destinos últimos, os novíssimos do homem: Nde ma'enduar nde rekosykagûama, nde rekó pabagûama resé rá... - Lembra-te já de teus destinos últimos, do fim de tuas coisas. (Ar., Cat., 154)
embe'yrungaba (t) (s.) - postiças de embarcação (VLB, II, 83)
emonanĩ (adv.) - continuamente (VLB, I, 80)
eroîase'o (v.tr.) - lastimar, lamentar, deplorar, chorar com, fazer chorar consigo: ...O angaîpaba moasŷabo, seroîasegûabo... - Arrependendo-se de seus pecados, deplorando-os. (Anch., Dial. da Fé, 229)
e'yîa (t) (s.) - multidão, bando, ajuntamento, grande número (Fig., Arte, 5; VLB, I, 135); cardume (VLB, I, 67): T'asóne parati'ype, tupinakyîa re'yîpe... - Hei de ir para o rio dos paratis, ao bando dos tupiniquins. (Anch., Teatro, 182); Mamõpe erimba'e te'yî-katupabẽ Îandé Îara rerasóû...? - Para onde a multidão numerosíssima levou Nosso Senhor? (Ar., Cat., 58); itá re'yîa - ajuntamento de pedras (VLB, I, 29); [adj.: e'yî (r, s)] - numerosos, muitos: Se'yî nde rekasara... - São numerosos os que te procuram. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); ...Se'yî i kuabypyre'yma Tupã i monhangara remingûaba nhõ. - São muitos os não conhecidos que Deus somente, o criador deles, conhece. (Ar., Cat., 37); Oré re'yî. - Nós somos numerosos. (VLB, I, 51)
'ia'ub / 'ea'ub (etim. - dizer na mente, dizer na imaginação) (v. tr. irreg.) - supor: "Osó ipó" a'ea'ub niã ixé. - Suponho eu que ele tenha ido, de fato. (VLB, I, 87)]
îeaibok (v. intr.) - tirar o luto: Aîeaibok. - Tirei o luto. (VLB, I, 105)
îekytybá (s.) - JEQUITIBÁ, árvore de tronco muito grosso e alto da família das lecitidáceas (Cariniana legalis (Mart.) Kuntze). "Tem a cor brancacenta, é leve e pouco durável onde lhe chove." (Sousa, Trat. Descr., 214)
îekytyûasu (s.) - JEQUITIGUAÇU, saboeiro, árvore da família das sapindáceas (Sapindus divaricatus Willd. Ex A. St.-Hil.), de grande difusão, com frutos e casca ricos em saponinas e que espumam muito em água. É também chamada sabão-de-macaco, sabão-de-soldado, saboneteiro, sabãozinho, salta-martim. "A casca... serve de sabão e, assim, ensaboa como o melhor de Portugal." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 44)
îepé3 (adv.) - inutilmente, sem resultado, debalde: Apŷaba kunhã resé o ekó osa'ang-îepeba'e nd'e'ikatuî omendá... - O homem que tenta, sem resultado, ter relações sexuais com uma mulher, não pode casar-se. (Ar., Cat., 131v); Îepémo asó. - Eu iria inutilmente. (Anch., Arte, 23v); Îepé asó. - Vou debalde. (Fig., Arte, 136)
imbé / embé (t) (etim. - continuar a estar) (v. intr. irreg.) [deriv. de in / en(a) (t) - v.] - ficar, estar (VLB, I, 128): Îesu 'ekatûápe nde nhõ ereimbé. - À direita de Jesus somente tu estás. (Anch., Poemas, 126)
îombyá (s.) - cornetim de madeira que os índios sopravam (Léry, Histoire, 375)
îybaubagûasu (s.) - roca, tiras estreitas que se colocavam ao comprido das mangas dos vestidos, e que deixavam entrever o tecido sobre o qual se assentavam (VLB, II, 107)
karaíba3 (s.) - 1) santidade: Tupã aé, o karaíba pupé, i 'anga seté monhangi. - O próprio Deus, com sua santidade, as almas e os corpos deles fez. (Anch., Teatro, 28); 2) poder do espírito, virtude: -Marãpe i monhangi? -O karaíba pupé. -Como os fez? -Com o poder do seu espírito. (Ar., Cat., 42); (adj. - karaíb ou karaí): santo, bento; divino, sagrado, virtuoso, benzido: Oîeypyî 'y-karaíba pupé. - Asperge-se com água benta. (Ar., Cat., 24); ...A'e anhẽ mosapyr pessoaamo i îa'oki, oîepé og ekó-karaíba îese'ara pupé nhẽ. - Eles, na verdade, em três pessoas se distinguem, na união de seu único ser divino. (Anch., Doutr. Cristã, I, 134); Xe cristão, xe karaí. - Eu sou cristão, eu sou virtuoso. (Anch., Teatro, 164); Xe karaíb. - Eu estou benzido.(VLB, I, 54)
ko'ĩ (adv.) - pertinho (VLB, II, 74); perto; aqui pertinho (Fig., Arte, 130): Ko'ĩ aîkó (abá) suí. - Pertinho estou do homem. (VLB, II, 75, adapt.); ko'ĩ rupi - por aqui pertinho (Fig., Arte, 132); (adj.) - próximo, contíguo: ...Karaibebé i ko'ĩ? - O anjo da guarda está perto? (Anch., Teatro, 162, 2006)
kunusãîa (s.) - modéstia, discrição (Bettendorff, Compêndio, 20); honestidade no aspecto (VLB, I, 153); (adj.: kunusãî) - modesto, discreto: Xe kunusãî. - Eu sou modesto. (VLB, II, 40); I kunusãî abá supé onhe'enga... - É discreta, falando aos homens. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); (adv.) modestamente (VLB, II, 40)
minupã (s.) - o castigado, o açoitado [o mesmo que eminupã (t) - v. nupã] (Anch., Arte, 3v)
mo'ang3 (adv.) - inutilmente, em vão, sem proveito, de mentira, ficticiamente: Aka'amondó-mo'ang. - Fui à caça sem proveito. (Fig., Arte, 143)
moaob (v.tr.) - vestir, pôr roupa em; fazer ter roupa: Ikatupendûara moaoba. - Vestir os nus. (Ar., Cat., 18); Aîmoaob Pedro. - Faço Pedro ter roupa. (Anch., Arte, 48v)
moîa'ok2 (v.tr.) - distinguir: Tupã é abaré oîmoîa'ok gûekobîaramo... - O próprio Deus distinguiu o padre como seu substituto. (Anch., Doutr. Cristã, II, 77)
moîepotabẽ (v.tr.) - continuar (p.ex., uma ação, um ato), fazer alastrar-se (VLB, I, 30; 81)
mombok (v.tr.) - partir, dividir, rachar: Oîopyterybo rupi aîmombok. - Parti-o pelo meio. (VLB, II, 73) ● mombokaba - tempo, lugar, instrumento, etc. de partir, de rachar: ...Kó xe itangapema xe pópe nd'oîkóî tenhẽ, pe mombokaûama é. - Este meu tacape não está à toa nas minhas mãos, mas, sim, é o instrumento com que vos racharei. (Anch., Poesias, 56)
nhemoîa'oîa'oka (s.) - repartição, distribuição: Arobîar santos rekokatu nhemoîa'oîa'oka. - Creio na repartição das virtudes dos santos (isto é, na comunhão dos santos). (Anch., Doutr. Cristã, I, 142)
obamoîar (s) (v.tr.) - atiçar (p.ex., o fogo) (VLB, I, 47)
pikitinga (s.) - PIQUITINGA, PITITINGA, nome comum a certos peixes da família dos engraulídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 159)
Em Cavalcanti Proença lemos "...parou no remanso para escutar minha PORANDUBA." (in Manuscrito Holandês, apud Novo Dicion. Aurélio).
porangu (m) (s.) - mentira, falácia, ilusão, fantasia; (adj.) mentiroso, falaz, ilusório, fantasioso: ...Nhe'ẽ-porangu... ereîapi ko'arapukuî. - Atiras nele, o dia todo, as palavras mentirosas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); Na xe poranguî gûitekóbo. - Eu não estou sendo fantasioso. (VLB, I, 131)
posanga3 (m) (s.) - feitiço, prodígio: Ererobîápe paîé-aíba mosangyîaramo sekó? - Crês que o pajé ruim é o que tem o dom dos prodígios? (Ar., Cat., 98v); Mosangape ereîpuru ture'ymagûama ri? - Usaste feitiço para que não viessem? (Anch., Teatro, 12)
NOTA - No P.B., POTIGUAR também significa 1) o natural do Rio Grande do Norte; 2) (adj.) relativo àquele estado brasileiro, rio-grandense-do-norte.
setatupabẽ (adv.) - muitíssimo: Îuraragûaî setatupabé. - Mentiu muitíssimo. (D'Evreux, Viagem, 88)
NOTA - Daí TAMATIATUBA (nome de localidade do RN) (v. p. 386).
tapyîtinga (ou tapuîtĩ) (etim. - tapuia branco) (s.) - 1) alcunha dada pelos tupinambás do Maranhão aos ingleses e a outros europeus inimigos dos franceses e daqueles índios (D'Abbeville, Histoire, 298): Tapuîtĩ i poxy, sekate'ỹngatupabẽ. - O tapuia branco é mau; ele é muito avaro. (D'Abbevile, Histoire, L); 2) indiano: Ké suí serã i asabi India tapyîtinga retãme. - Daqui, certamente, passou para a Índia, terra dos indianos. (Ar., Cat., 9v)
tarakutinga (s.) - TRACUTINGA, TRACUXINGA, SARACUTINGA, formiga com aguilhão de cor preta e picada muito dolorosa, da família dos formicídeos, que pode chegar a mais de 2cm de comprimento. Constrói formigueiro subterrâneo. (VLB, I, 142)
ubaubagûasu (s.) - roca, tiras estreitas que se colocavam ao comprido das mangas dos vestidos e que deixavam entrever o tecido sobre o qual se assentavam (VLB, II, 107)
(ou ygá) (etim. - pega água) (s.) - cabaça ou cabaço inteiros, sem serem cortados (VLB, I, 61); cabaça que serve para buscar água (D'Abbeville, Histoire, 283)
ybykûaba (s.) - produtividade; [adj. - ybykûab (r, s)] - produtivo, de bom rendimento (p.ex., terra) (VLB, I, 144) ● ybykûabusu (r, s) - muito produtivo, de mui bom rendimento (p.ex., terra) (VLB, I, 144)
ypab (r, t) (xe) (etim. - água acabada) (v. da 2ª classe) - secar, esgotar-se a água de (p.ex., rio, vaso, etc.): Typab. - Ele secou. (VLB, I, 111); Xe rypab. - Eu seco. (VLB, II, 114)
NOTA - Daí, SOCATINGA (nome de localidade do CE) (v. p. 386).
ytykyr (r, t) (xe) (etim. - água gotejante) (v. da 2ª classe) - destilar-se (o líquido) (VLB, I, 129)
Um bom préstimo do estudo toponímico é o de aumentar nosso conhecimento do léxico do tupi antigo e das línguas gerais coloniais. Somente a toponímia revela-nos, por exemplo, que o substantivo pará designava rio, em tupi antigo. Gabriel Soares de Sousa informa, inclusive, que Pará era nome dado ao rio São Francisco. Vemos, ademais, centenas de nomes no Nordeste do Brasil que incluem o morfema ji (ou gi): Araçaji, Sergipe, etc. Ele é, na verdade, um alomorfe da palavra 'y (rio). Nenhum vocabulário nô-lo informa, mas a toponímia o faz. Assim, o estudo toponímico é um apêndice indispensável do estudo gramatical e lexical do tupi antigo.
Catinga (BA). De katinga (de aby'aka + ting + -a - nhaca enjoativa): mau cheiro. Pode provir, também, de ka'atinga (mata clara), formação vegetal do semi-árido nordestino.
Pati (RJ). De pati, var. de palmeira.
feder - nem (xe); kating (xe)
rodar (intr.) - nhatiman; pararang; (rodar como pião): pyryrym
enosem (v.tr.) - 1) retirar, arrancar, fazer sair consigo: Mamõpe Pilatos senosemi a'ereme? - Para onde Pilatos retirou-o, então? (Ar., Cat., 60v); Kó nhõ anosẽ îepé moxy suí... - Na verdade, somente estas retirei dos malditos. (Anch., Poemas, 150); 2) resgatar: I momiaûsubypyra renosema. - Resgatar os cativos. (Ar., Cat., 18v); 3) desembarcar, descarregar (p.ex., embarcação): Anosem mba'e ygara suí. - Descarreguei as coisas da canoa. (VLB, I, 97) ● enosemara (t) - o que retira, o que resgata: ...N'oîeruré-pytubari Tupã supé ogûenosemarûera resé. - Não se cansam de pedir a Deus pelos que os resgataram. (Ar., Cat., 8v); enosembaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de retirar; retirada: Arobîar... asé rubypy-karaibetá 'angûera a'epe turama osarõba'e renosemagûera bé. - Creio que ele retirou também as almas dos nossos primeiros e santos pais (da mansão dos mortos), que aí esperavam sua vinda. (Ar., Cat., 16); emienosema (t) - o retirado, o que alguém faz sair consigo, o que alguém retira: Marãpe a'e semienosegûama rekóû a'epe? - Que faziam aí os que ele faria sair consigo? (Ar., Cat., 44); Anosẽ-nosem (ou Anosẽ-nosemĩ). - Vivo retirando-o; Anosẽ-sem. - Vivo retirando-as [quando são muitas coisas]. (VLB, II, 129)
epoti1 (t) [ou (e)poti (r, s)] (s.) - fezes (Castilho, Nomes, 39); excrementos (VLB, II, 23); esterco (de qualquer animal) (VLB, I, 128)
îarakatîá (s.) - JARACATIÁ, nome comum a várias plantas da família das caricáceas, como, por exemplo, a espécie Jaracatiá spinosa (Aubl.) A. DC, árvore muito larga na parte superior, que produz um suco cáustico usado como vermífugo, de frutos pequenos e sem préstimo, conhecida também como mamoeiro-do-mato (D'Abbeville, Histoire, 218v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 128-129)
ikobé / ekobé (t) (etim. - estar ainda) (v. intr. irreg.) - 1) viver, estar vivo (Fig., Arte, 66): Orébe t'oré mondyki, nde irũmo t'oroîkobé. - Que ela nos destrua para que vivamos contigo. (Anch., Poemas, 124); Osem oîkobébo, o tym-y roîré... - Saiu vivendo após o enterrarem. (Anch., Poemas, 124); 2) estar bem, estar são, estar bem disposto: Aîkobé. - Estou bem, estou são. (Fig., Arte, 60). (Em forma de saudação é equivalente ao Vale, do latim.): ...Eîkobé-katu, xe mbo'esar gûy...! - Estejas bem, ó meu mestre! (Ar., Cat., 54); 3) existir, haver: Oîkobé îemombe'u, mosanga mûeîrabyîara. - Existe a confissão, remédio portador de cura. (Anch., Teatro, 38); Oîkobé xe pytybõanameté..., tubixakatu Aîmbiré... - Existe meu auxiliar verdadeiro, o chefão Aimbirê. (Anch., Teatro, 8); Oîkobépe amõ abá sekobîaramo? - Há algum homem na condição de seu substituto? (Ar., Cat., 50v); 4) estar presente, ser, aqui estar (Fig., Arte, 66): Aîkobé, n'aîepe'aî i xuí. - Aqui estou, não me afasto deles. (Anch., Teatro, 88); Oîkobé nde arûara é... - Aqui está teu danador. (Anch., Teatro, 90); Nde rembiarama é oîkobé morubixaba. - Os que tu apresarás são reis. (Anch., Teatro, 60); 5) permanecer, continuar a ser ou estar: Aîkobé n'ixé sarõana... - Permaneço seu guardião. (Anch., Teatro, 40) ● oîkobeba'e - o que vive, o que está bem, o que existe, etc.: A'e suí turi oîkobeba'e omanõba'epûera pabẽ rekomonhangane. - Daí virá para julgar todos os que vivem e os que morreram. (Anch., Doutr. Cristã, I, 142); ekobesaba (t) - tempo, lugar, meio, instrumento, etc. de viver, de existir, etc.; vida: 'Y i mongaraibypyra t'oîkó xe 'anga rekobesabamo... - A água benta seja o meio de viver de minha alma. (Ar., Cat., 24v); ...o 'anga rekobesaba - a vida de sua alma (Ar., Cat., 241)
ikopepu / ekopepu (etim. - estar de pálpebras leves) (t) (v. intr. compl. posp. irreg.) - duvidar [de algo ou de alguém: compl. com esé (r, s)]: Aîkopepu-pepu (abá) resé. - Eu estou duvidando do homem. (VLB, I, 107, adapt.)
îubé / ubé (t, t) (etim. - estar deitado ainda) (v. intr. irreg.) - 1) jazer acordado, jazer desperto: Aîubé. - Jazo acordado. (VLB, I, 20); 2) estar vivo (VLB, II, 147); 3) estar presente, estar por perto, estar por aí: Oubépe nde ruba? - Está por aí teu pai? (VLB, I, 128); Oubé rakó abá mba'e mundépe oína biã... - Ainda que estivessem presentes as coisas de alguém na prisão. (Ar., Cat., 165); 4) jazer imóvel, ficar sem se mexer: Aîubé. - Jazo imóvel. (VLB, II, 7)
îubĩ / ubĩ (t, t) (etim. - estar deitado, sem mais) (v. intr. irreg.) - estar quieto, estar deitado, estar sem mudar de lugar (mas não imóvel): Aîubĩ. - Estou quieto. (VLB, II, 93)
kambu (ou kamu) (etim. - ingerir leite) (v. intr.) - 1) mamar: Akambu. - Mamei. (VLB, II, 29); Akambu-seî. - Quero mamar. (VLB, II, 29); I kamu-seî kunumĩ... - Deseja o menino mamar. (Anch., Poemas, 162); 2) (v.tr.) - tomar o leite de: ...O sy kambûabo oúpa. - Tomando o leite de sua mãe. (Anch., Poemas, 162)
moatã2 (v.tr.) - 1) estirar (p.ex., corda); estender (p. ex., ao longo do chão o que estava dobrado, enrolado ou encolhido) (VLB, I, 128); 2) alargar: Aîmoatã xe rapupa'ũ. - Alarguei meus passos. (VLB, II, 66) ● i moatãmbyra - o que é (ou deve ser) estirado, alargado: A'e o kakuab'iré, ...i nheme'engi apŷabaíba supé, oîeîuká-uká ybyraîoasaba resé i moatãmbyramo... - Ele, após crescer, entregou-se aos homens maus, fazendo-se matar na cruz, estirado. (Anch., Doutr. Cristã, I, 194)
serubu (s.) - diabo, tinhoso: Îori sekyîa taûîé, i py suí, serubu. - Vem para arrancar logo, de dentro dela, o tinhoso. (Anch., Poemas, 136); ...Serubu rá, muru ri opurũ-purung. - Tomando o diabo, o maldito fica pisando. (Anch., Poemas, 190)
sugûaraîy1 (s.) - 1) prostituta: Ereîkópe kunhã amõ resé... nde sugûaraîyramo? - Tiveste relações sexuais com alguma mulher como tua prostituta? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91); 2) prostituição: Nde serã i poepyka... sugûaraîy... ereîapi ko'arapukuî. - Tu, talvez para retribuir, atiras nele, o dia todo, a prostituição. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
taîbu (s.) - TAIBU, TIMBU, mamífero marsupial da família dos didelfídeos, parecido ao gambá (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, I, cap. ix)
TIPITI (fonte: Instituto Sócio-Ambiental)
Aratingaúba (SC). De aratinga - ave psitacídea + 'yba - planta das aratingas.
Aratinguara (MG). De aratinga - ave psitacídea + kûara - toca das aratingas.
Caititu (SP). De taîtitu, mamífero taiaçuídeo.
Categipe (MG). De kûati + îy + -pe: no rio dos quatis.
Cotegipe (BA). De akuti + îy + -pe: no rio das cutias.
Cotia (SP). De akuti - cutia, nome genérico de diversos mamíferos roedores da família dos caviídeos ou dasiproctídeos.
Cutapé (MT). De akuti + (a)pé (r, s): caminho de cutias.
Guaecá (São Sebastião, SP). Da língua geral meridional guaicá*, designando uma pequena árvore laurácea; canela-guaicá.
Juqueí (São Sebastião, SP). De îeky + 'y: rio dos covos.
Miriti (RJ). V. Meriti.
Piranji - a mesma etimologia de Pirangi (v.).
Quati (MT). De kûati, mamífero procionídeo.
Quatiguaba (CE). De kûati + 'y + 'u + -aba: lugar em que os quatis bebem água.
Quatituba (MG). De kûati + tyba: ajuntamento de quatis.
Saí (São Sebastião, SP). De sa'i - pássaros cerebídeos ou traupídeos.
Tapuru, São Sebastião do (AM). Do nheengatu itá + puru: pedras enfeitadas.
Tramataia (aldeia potiguara de Baía da Traição, PB). "[...] fica distante do porto da Tramataya 3 leguas e meia [...]" (Antonio Ferreira Soares Pinto [n.d.], Relação das Matas da Capitania da Parahyba, p. 359). De taramîá*, taramá* - plantas verbenáceas medicinais + taî/a - ardido, que requeima + suf. -a: taramás ardidos.
Ubatuba (SP). Duas etimologias são possíveis: 1) de u'ubá - cana-ubá, cana-de-flecha (da qual se faziam flechas pelos índios) + tyba: ajuntamento de canas-ubás, de canas-de-flecha. "As cannas da Bahia chama o gentio ubá, as quaes tem folhas como as de Hespanha." (Sousa, Trat. Descr., LXII); 2) De ubá - var. de canoa, de embarcação indígena (Sotomaior, Jornada ao Pacajá, in DAP, VIII [1945], 2): "Falo aqui só das canoas ordinárias; porque também algũas vezes por algũas conveniências particulares, fazem [outros] a que chamam ubá com feitio mais ligeiro quase semelhante ao que costumam os castelhanos." (Pe. João Daniel [1757], p. 422).
VIDE, Dom Sebastião Monteyro da [1707], Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia feitas e ordenadas pelo illmo. e Rev. Sr. D. Sebastião Monteiro da Vide, Arcebispo do dito arcebispado, e do conselho de sua Magestade: propostas e aceitas em o Synodo Diocesano, que o dito celebrou em 12 de junho do anno de 1707. Lisboa, Paschoal da Silva, [526]p. ; 28cm. 1718.
fome - ambyasy; maaré
poeira - tubyra; ybytimbora
abaekoete'yma (s.) - pessoa tímida (VLB, II, 128)
(e)mo'ema (r, s) (s.) - mentira (Também pode ser regular, tendo, assim, na forma absoluta, o prefixo t-: temo'ema - mentira.) (Anch., Arte, 13v): xe remo'ema - minha mentira; semo'ema - sua mentira (Fig., Arte, 78); Abá resé mo'ema oîmonhangyba'e. - O que cria mentiras por causa de alguém. (Ar., Cat., 73v); Ererobîápe abá remo'ema? - Acreditaste nas mentiras de alguém? (Ar., Cat., 108v); [adj.: emo'em (r, s)] - mentiroso; (xe) mentir: Nde remo'em umẽ abá resé... - Não sejas mentiroso por causa de ninguém. (Ar., Cat., 73v); Xe remo'em aîpó gûi'îabo... - Eu fui mentiroso dizendo isso. (Ar., Cat., 73v); Semo'ẽ, oîobaúpa. - Eles mentem, um de cara para o outro. (Anch., Teatro, 164)
ene'ĩhengûy - forma negativa de ene'ĩ (v.) (VLB, II, 58)
NOTA - Daí, no P.B., TIJUPABA (te'yî + upaba, "pousada da multidão"), 1. cabana improvisada de índios, aberta dos lados, para abrigo de muitos deles durante suas travessias pela floresta; 2. palhoça que os trabalhadores constroem no meio da mata, nos seringais, roças, etc.
ikoaíb / ekoaíb (t) (etim. - estar mal) (v. intr. irreg.) - menstruar-se, estar menstruada: Aîkoaíb. - Estou menstruada. (VLB, II, 36)
ikoeté / ekoeté (t) (etim. - estar muito bem) (v. intr. irreg.) - ser valente, ser forte (de saúde física ou de ânimo), estar disposto, estar animado, ser esforçado, ser magnânimo (VLB, I, 36; II, 28): ...Xe reté ã n'oîkoetéî, omembeka... - Eis que meu corpo não está disposto, amolecendo. (Ar., Cat., 53); ...Peîkoeté pe robaîara pé. - Sede valentes junto de vosso inimigo. (Ar., Cat., 89)
ikonhẽ / ekonhẽ (t) (etim. - viver, não mais) (v. intr. irreg.) - folgar (o contrário de trabalhar): Aîkonhẽ. - Folgo. (VLB, I, 141)
inĩote / enĩote (t) (etim. - estar, somente) (v. intr. irreg.) - estar quieto num lugar, sem se mexer (VLB, II, 93)
NOTA - Daí, no P.B., TITICA (teîtyka, o que se joga fora), excremento de aves, merda; PEITICA (NE) ('yb+eîtyka, "lançar o pau"), pilhéria insistente e de mau gosto, grosseria, impertinência.
NOTA - Daí, no P.B., TIJUPABA (te'yî + upaba, "lugar de se hospedar a multidão"), cabana feita na mata para abrigo provisório de muitas pessoas que a atravessam; qualquer palhoça ou rancho feitos em meio a uma roça, um seringal, uma mata, para proteger e abrigar pessoas provisoriamente. Daí, também, o nome da localidade de IGARAPAVA (SP) (v. p. 386).
mbo'ir1 (ou mbo'i) (etim. - fazer separar-se) (v.tr.) - partir, repartir, retalhar; dividir, espedaçar, esmigalhar: A'e miapepûera abaré oîmbo'i re'a... - Aquele pão o padre o partiu, certamente. (Ar., Cat., 85); ...Nhũ-myterype i mbo'îabo. - Em meio de campo repartindo-os. (Anch., Teatro, 140) ● mbo'isara - o que retalha, retalhador: so'o mbo'isara - o que retalha carne, açougueiro; mbo'isaba - tempo, lugar, modo, etc. de partir, de retalhar: so'o mbo'isaba - lugar de retalhar a carne, açougue (VLB, I, 67)
mi'u (ou mbi'u) (etim. - o que é comido) (s.) - mantimento (VLB, II, 31); qualquer tipo de comida (VLB, II, 31): N'i tybi xûépe amõ mi'u...?... - Não haverá outra comida? (Ar., Cat., 84) [v. tb. embi'u (t)]
mongaraíb (v.tr.) - 1) santificar; benzer, consagrar: I angaîpabetépe abá... oporomongaraiba'upa? - Peca muito o homem, benzendo falsamente as pessoas? (Ar., Cat., 66); ...Domingo momba'eté-ukari i mongaraibypyretá supé o ekobé îebyragûera pupé Îandé Îara i mongaraib'iré... - Mandam que os batizados honrem o domingo após Nosso Senhor o santificar com seu retorno à vida. (Ar., Cat., 12); 2) batizar ● mongaraipara - o que batiza, o que benze, o que santifica, etc.: A'e abaré nde mongaraipara iraîtytataendy me'engi nde pópe. - Aquele padre que te batiza dá uma vela na tua mão. (Ar., Cat., 187); i mongaraibypyra - o que é (ou deve ser) batizado, bento, santificado, etc.: I mongaraibypyra ixé. - Eu estou bento. (VLB, I, 54); mongaraipaba - tempo, lugar, modo, etc. de santificar, de benzer, de batizar; o ato de santificar, de batizar: ...O aó-tinga o mongaraibagûera... repyramo... reroína. - Estando com suas roupas brancas, como recompensa de o terem batizado. (Ar., Cat., 168-168v)
moybyr (ou moyby) (etim. - tornar fresco) (v.tr.) - remoçar, renovar: Îandé o 'u îabi'õ îandé moybymo... - Far-nos-ia remoçar cada vez que nós o comêssemos... (Ar., Cat., 40)
-ne3 (part. enclítica) 1) Expressa o futuro: Xe reîtyk korine mã! - Ah, vencer-me-ão hoje! (Anch., Teatro, 26); ...Arobebéne... - Fá-los-ei voar comigo. (Anch., Teatro, 40); Aîukáne. - Matá-lo-ei. (Fig., Arte, 7); Our-y bépe irã Jesus Cristo ybaka suíne? - Virá novamente Jesus Cristo do céu? (Anch., Doutr. Cristã, I, 172); 2) expressa deliberação, com o sentido de haver de: Osapirõ-n'asé og uba o sy kanhemagûera... - Há de prantear a gente o desaparecimento de seu pai e de sua mãe. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112) (Com o permissivo, geralmente só se usa com a 1ª p.): T'asóne. - Hei de ir. T'orosóne. - Havemos de ir. (Anch., Arte, 23); T'aîmopóne nde nhe'enga... - Hei de cumprir tuas palavras. (Anch., Poemas, 130); T'asepîáne nde robá... - Hei de ver tua face. (Anch., Poemas, 98)
nupã (v.tr.) - 1) castigar: Ké turi îandé nupãmo! - Aqui vêm para nos castigar! (Anch., Teatro, 26); N'oînupãî xûé-tepe abá o a'yra o embiaûsubane? - Mas não castigará o homem seu filho e seu escravo? (Ar., Cat., 69v); 2) açoitar, espancar, dar pancadas em, dar em: Ata'y-nupã xe atûasaba. - Açoito o filho de meu compadre. (Fig., Arte, 88); Sugûy mombukapa, îaînupã-nupã. - Derramando o seu sangue, ficaram a açoitá-lo. (Anch., Poemas, 120) ● nupãsara - o que castiga, etc.: - Setápe i nupã-nupãsara? - Eram muitos os que estavam a castigá-lo? (Ar., Cat., 60); nupãsaba (ou nupãma): lugar, tempo, companhia, resultado, etc. de castigar, de açoitar: Oîaratã serã i aoba i nupãsagûera i moperé-perebagûera resé? - Pegou-se fortemente sua roupa com que ele foi castigado por o ficarem ferindo? (Ar., Cat., 62); i nupãmbyra (ou i nupãpyra) - o que é (ou deve ser) castigado, açoitado, etc. (Anch., Arte, 3; 52v)
'ok (-îo-) (v.tr.) - 1) tirar, arrancar (tb. o que está fincado ou encravado, como o prego, a batata, o bicho-de-pé, ervas, raízes, etc.): Oré rekopoxy 'oka... - Arrancando nossos vícios. (Anch., Poemas, 144); Aîo'ok xe aoba. - Tirei minha roupa. (VLB, I, 96); ...I poraûsuboka... - Arrancando suas aflições. (Anch., Teatro, 54); ...T'oîe'ok ixé suí xe resá-poropotara... - Que se arranquem de mim meus olhos concupiscentes. (Anch., Poemas, 146); ...Oîmoîasyk i ky'a 'oka. - Banha-a, arrancando sua sujeira. (Bettendorff, Compêndio, 113); 2) apanhar: Ausá-'ok. - Apanho caranguejos. (VLB, I, 66); 3) agadanhar, agarrar com as unhas (VLB, I, 23) ● 'okara - o que tira, o que apanha, etc.: Tekoangaîpabokaramo Îandé Îara Îesu Cristo rekóreme. - Por ser Nosso Senhor Jesus Cristo o que tira os pecados. (Ar., Cat., 52)
posaká (m) (s.) - valentia; (adj.) - valente, respeitado na aldeia por ser forte guerreiro, MOÇACARA: Xe posaká, xe ratã. - Eu sou moçacara, eu sou forte. (Anch., Teatro, 162)
sining (v. intr.) - retinir (como metal) (VLB, II, 104)
takura (s.) - TUCURA, TICURA, gafanhoto, o mesmo que tukura (v.) (Sousa, Trat. Descr., 239)
tataka1 (s.) - ato de tiritar; tremor (com o frio); (adj.: tatak) - tiritante; (xe) tiritar, tremer (com frio) (Anch., Arte, 14): Xe rãîtatak. - Meus dentes tiritam (isto é, batem com o frio). Xe rembé-tatak. - Meu beiço tirita. (VLB, I, 53)
teîteî (s.) - TEITEI, TIETÊ, TEM-TEM, pássaro da família dos traupídeos. É pássaro pequeno, de belo canto e de cores ornamentais. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 212)
tekatueté2 (adv.) - 1) muitíssimo: I abaeté-tekatueté Tupã... pópe abá 'ara. - É muitíssimo terrível cair o homem nas mãos de Deus. (Ar., Cat., 159v); 2) totalmente; verdadeiramente: Emonã-tekatuetépe... nde 'eagûera nd'ereîmopori? - Assim, verdadeiramente, não cumpriste o que disseste? (Ar., Cat., 111v)
NOTA - A palavra TIJUPÁ, hoje, também designa qualquer palhoça ou rancho feitos em meio a uma roça, um seringal, uma mata, para proteger e abrigar pessoas provisoriamente.
timbopotiana (s.) - var. de timbó (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272)
tingyîar - 1) (v. intr.) - TINGUIJAR, dar barbasco (para entorpecer os peixes); 2) (v.tr.) TINGUIJAR, embarbascar (o rio, o peixe) (VLB, I, 52)
tukura (s.) - TUCURA, TICURA, gafanhoto, nome genérico de insetos da ordem dos ortópteros, da família dos tetigonídeos (VLB, I, 146)
NOTA - Daí, no P.B., TIGUERA, roça de milho ou de outras plantações anuais depois de efetuada a colheita (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Daí, no P.B., TIQUINHO, pouquinho, poucadinho, bocadinho. Daí, também, o nome da serra da MANTIQUEIRA (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B., TIQUIRA, aguardente de mandioca (isto é, a que foi destilada no alambique): "A sua tentação não era... a cerveja, nem o conhaque..: era a aguardente nacional, o parati indígena, a cachaça cabocla, a TIQUIRA maranhense." (Humberto de Campos, in Memórias Inacabadas, apud Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Daí, no P.B., TIMBIRA (i tymbyra, "os enterrados"), nome de um povo indígena tapuia, extinto. Alusão ao fato de não construírem eles casas como os tupis da costa. Deviam fazer buracos no chão, onde se abrigavam. O Pe. Fernão Cardim e Gabriel Soares de Sousa dizem a mesma coisa a respeito de outros povos indígenas: "Obacoatiáras - estes vivem em ilhas no Rio de São Francisco, têm casas como cafuas debaixo do chão." (Pe. Fernão Cardim [1585], p. 104); (sobre os índios Guaianás):"Não vive este gentio em aldêas com casas arrumadas, como os Tamoyos seus visinhos; mas em covas pelo campo debaixo do chão..." (Sousa, Trat. Descr., LXIII).
NOTA - Daí, no P.B., TIRIÚMA (tyre'yma, "sem acompanhamento"), solitário, só, desacompanhado (in Dicion. Caldas Aulete).
A busca de etimologias de topônimos pode ser uma importante ferramenta do estudo histórico quando eles foram atribuídos naturalmente por índios, caboclos ou quaisquer colonos falantes do tupi ou das línguas gerais coloniais. Revelam-nos aspectos do ambiente físico e humano do passado. Os topônimos continuam a existir, muitas vezes, mesmo depois que esse ambiente já se modificou. Com efeito, o topônimo é um verdadeiro fóssil linguístico, segundo o geógrafo Jean Brunhes. Muitos topônimos têm fácil etimologia. Outros, contudo, necessitam, para se compreender seu perfeito significado, de estudo dos mais antigos documentos históricos disponíveis para se averiguar a motivação de sua atribuição, sua mais antiga grafia ou, ainda, explicações etimológicas daqueles que falavam tupi ou as línguas gerais. Isso foi feito quando possível, neste trabalho, com emprego de grande documentação.
Boiuçu (PA). Mesma etimologia de Boaçu (v.).
Boiuçucanga (PA). Mesma etimologia de Boiçucanga (v.).
Buriti (MA). De meriti('yba) - miriti, buriti, meriti, var. de palmeira.
Buritirana (MA). De meriti + ran + -a: falsos miritis
Inhamuns (CE). Mesma etimologia de Inhamum (v.).
Iretama (PR). Nome artificial, atribuído em 1954, da composição de eíra + etama (t): terra do mel. (fonte: IBGE)
Itacuaxiara (SP). Mesma etimologia de Itacoatiara (v.).
Itacuru (SP). Mesma etimologia de Itacuruba (v.).
Itajobi (SP). Nome artificial: distrito criado com a denominação de Itajubi em 1906. Poderia ser um topônimo com significado se proviesse da composição de itá + îá + oby: repleto de pedras verdes. Mas parece que foi Theodoro Sampaio quem criou o nome, dando-lhe outra significação, que não procede.
Itamirindiba (MG). Mesma etim. de Itamarandiba (v.).
Itapimerum (AM). Mesma etim. de Itapemirim (v.).
Iturama (MG). Nome artificial: de ytu + ama (t), corruptela de etama (t): região de cachoeiras. O nome passou a ser usado a partir de 1949. (fonte: IBGE)
Jaboticatubas (MG). De îabotikaba + tyba: abundância de jabuticabeiras; jaboticabal.
Jaratimana (BA). Mesma etim. de Jatimana (v.).
Maritéua (PA). Mesma etimologia de Umarituba (v.).
Meritiba (MA). De meriti'yba, var. de palmeira.
Muritiba (BA). De meriti'yba, var. de palmeiras.
Tabatinga (AM). De tobatinga ou tabatinga - var. de barro branco como cal (VLB, I, 52).
Tamatiatuba (RN). De tamatîá - ave ciconiforme dos mangues, das beiras dos rios e lagos + tyba: ajuntamento de tamatiás.
Tapaiúna (PA). Mesma etimologia de Tapanhuna (v.).
Tapiara (AM). Mesma etimologia de Tapejara (v.).
LANDAU, Sidney, Dictionaries: The Art and Craft of Lexicography. University of Cambridge Press, Cambridge, 1993.
dianteira (= vanguarda) - apyra
pinta - pinima (m); pitinga
seco - aku'i; ka'ẽ; tining
ekobîara (t) (s.) - 1) substituto, sucessor: ...Îudas Tupã Ta'yra me'engarûera rekobîaramo tari... - Tomou-o como substituto de Judas, que entregara Deus-Filho. (Ar., Cat., 121-122); Té! Oîpotareté îandé ramuîa o ekobîareté îandébe. - Ah, nossos avós muito quiseram verdadeiros substitutos seus para nós. (Léry, Histoire, 356); Asó nde rekobîaramo. - Vou como teu substituto. (Anch., Arte, 44v); 2) substituição, troco, troca: Sekobîaramo aîme'eng. - Dei-o em troca. (VLB, I, 90); Seîmbaba rekobîáramo amõ aîme'eng i xupé. - Em troca de sua criação, dei-lhe outra. (VLB, II, 103)
îate'i (s.) - JATAÍ, JATI, variedades de abelhas da família dos meliponídeos (VLB, I, 18)
îepotabẽ2 (v. intr.) - continuar: Aîepotabẽ. - Continuei. (VLB, I, 81)
ikoaibĩ / ekoaibĩ (t) (etim. - estar miseramente) (v. intr. irreg.) - aparecer às furtadelas, deixar-se entrever (como os homiziados ou as almas): Aîkoaibĩ. - Apareço às furtadelas. (Fig., Arte, 138)
ikomarã1 / ekomarã (t) (etim. - estar em labuta) (v. intr. irreg.) - estar ativo, produzir (com as mãos) (VLB, II, 53)
ikomarã2 / ekomarã (t) (etim. - estar em guerra) (v. intr. irreg.) - batalhar, lutar (VLB, I, 53)
îuru1 (s.) - boca (Castilho, Nomes, 32): Nde îurupe nhõtemo ã ererekó. - Em tua boca somente tens isso. (D'Abbeville, Histoire, 350); Aîîuru-mopen nhe'engixûera. - Quebro a boca de um tagarela. (Fig., Arte, 88); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30) ● îuru-boka - boca entreaberta (como a ostra com a enchente ou alguém que dorme): Xe îuru-bok. - Eu estou com a boca entreaberta. (VLB, I, 18); îuru-pyk - tapar a boca a: Aîuru-pyk. - Tapei-lhe a boca; îuru-py-pyk - ficar pondo comida, aos poucos, na boca de (p.ex., na boca de um doente) (VLB, II, 124)
ka'aroba (ou karoba) (etim. - folha amarga) (s.) - CAROBA, jacarandá-preto ou barbatimão, designação comum a várias árvores pequenas, da família das bignoniáceas, do gênero Jacaranda, de propriedades medicinais (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42; Piso, De Med. Bras., IV, 185)
kabapûã (ou kaapûã) (etim. - vespa pontuda) (s.) - variedade de vespa que "faz ninho no chão, de barro..., o qual é redondo, do tamanho de uma panela..." (Sousa, Trat. Descr., 240) (VLB, I, 55)
NOTA - Daí, MANGARATIBA (nome de localidade de SP) (v. p. 386).
mbo'y'u (ou mo'y'u) (etim. - fazer beber água) (v.tr.) - dar de beber a, dessedentar: 'Useîbora mbo'y'u. - Dar de beber aos sedentos. (Ar., Cat., 18); -Oîmo'y'upe gûá? - Deram-lhe de beber? (Ar., Cat., 63)
memetiã - v. abiã... memetiã
minga'upetinga (s.) - MINGAUPITINGA, papa preparada com a mandiopeba (Piso, De Med. Bras., 62) [v. tb. (e)minga'u (r, s)]
mo'ar2 (ou mbo'ar) (etim. - fazer cair) (v.tr.) - fazer nascer, parir, gerar, dar à luz: ...Marã-pakó xe sy xe mbo'ari erimba'e...? - Por que minha mãe me deu à luz outrora? (Ar., Cat., 163); Aîmo'ar. - Dei-o à luz. (VLB, II, 66); I mbo'a tiruãpe i xy-angaturama rekóû ababykagûere'ymamo?... - Mesmo dando-o à luz sua mãe bondosa estava virgem? (Ar., Cat., 42) ● mo'asara - o que faz dar à luz, o que faz nascer: pitã-mo'asara - a que faz nascer crianças; a parteira (VLB, II, 66)
moasy (ou mboasy) (etim. - fazer doer) (v.tr.) - 1) invejar: Abá mba'ekatu moasy. - Invejar as coisas boas de alguém. (Anch., Doutr. Cristã, I, 151); 2) ressentir-se de; levar a mal: Aûîé sapirõmbyre'yma o moetee'yma oîmoasy... - Enfim, o que não é pranteado ressente-se de não o honrarem. (Ar., Cat., 85v); 3) sentir a dor de, ter dor por, lamentar: Aîmoasy nde só. - Lamento tua ida. (VLB, II, 75); Xe mba'e-moasy îá. - Eu lamento-me, de costume (isto é, reclamo de qualquer coisa). (VLB, I, 106); ...O sy suí o 'aragûera moasŷabo... - Lamentando terem nascido de suas mães. (Ar., Cat., 163-163v); ...O kaîa moasŷabo... - Tendo dor de suas queimaduras. (Ar., Cat., 161); 4) arrepender-se de: O ekó moasy riré, abá sóû îemombegûabo... - Após arrependerem-se de seus atos, os índios vão confessar-se. (Anch., Teatro, 38); Nd'oîmoasyîpe amõ o nhe'engaibagûera? - Não se arrependeram alguns de seus vitupérios? (Ar., Cat., 63); 5) fazer sofrer: Tupã sy îandé senõîa oîmoasy-katu-eté. - O nosso chamado à mãe de Deus fá-lo sofrer muito. (Anch., Poemas, 186) ● moasŷaba - tempo, lugar, modo, etc. de ressentir-se, de arrepender-se, etc.; arrependimento: ...I moasyagûera... repyramono. - Como recompensa também de seu arrependimento delas (isto é, das coisas más). (Ar., Cat., 169v); i moasypyra - aquilo de que se arrepende ou de que se deve arrepender; o que é (ou deve ser) lamentado, lastimado, o que é doído: ...Seroŷrõmo opakatu ikó 'ara pupé i moasypyra, seroŷrõmbyra sosé. - Detestando-os mais que tudo o que deve ser lamentado e o que se deve detestar neste mundo. (Ar., Cat., 220)
moîebyr2 (ou moîeby) (etim. - fazer voltar) (v.tr.) - vomitar: Ereîmoîebype kaûĩ...? - Vomitas cauim? (Ar., Cat., 111v); Mba'eeté ka'ugûasu, kaûĩ moîeby-îebyra. - Coisa muito boa é uma grande bebedeira, ficar vomitando cauim. (Anch., Teatro, 6)
momotar (ou momotá) (etim. - fazer desejar) (v.tr.) - atrair: Aîmomotar Pedro. - Atraio a Pedro. (Anch., Arte, 49); Xe momotar Tupã. - Deus me atrai. (Anch., Arte, 49); Xe momotar ahẽ aoba. - Atrai-me a roupa daquele. (VLB, I, 75); Ygasápe kaûĩ-tuîa, a'e ré, îamomotá... - Depois disso, o cauim transbordante nas igaçabas atrai-os. (Anch., Teatro, 28)
muru1 (s.) - maldito, tinhoso: Eîori, muru mombapa... - Vem para destruir o maldito. (Anch., Poemas, 132); Eîori muru moingóbo îandé nhe'enga rupi. - Vem para colocar os malditos conforme nossas palavras. (Anch., Teatro, 16); ...I abaeté muru supé São Sebastião ru'uba... - Foram terríveis contra os malditos as flechas de São Sebastião. (Anch., Teatro, 52); (adj.): itá-pu'ã-muru - pedra erguida maldita (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 266)
nheangu (ou îeangu) (etim. - devorar-se a alma) (v. intr. compl. posp.) - recear, temer, ter medo [de algo ou de alguém, por algo ou por alguém: compl. com suí ou esé (r, s)]: ...Te'õ suí o nheangu îabi'õ... - Cada vez que tem medo da morte. (Ar., Cat., 91); ...O 'anga resé oîeangûabo. - Receando por suas almas. (Ar., Cat., 161); Anheangu (abá) resé. - Temo pelo homem (que ele faça algo que não deve). (VLB, I, 42, adapt.) ● nheangûaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de temer, de recear; temor, receio: Mba'e-mba'e-piã te'õ suí nheangûaba? - Quais são, por acaso, as ocasiões de se ter medo da morte? (Ar., Cat., 91); ...Nde nheangûaba bé irumõ-rumõmo. - Ficando a aumentar teu temor também. (Ar., Cat., 112)
OBSERVAÇÃO - Também existia a forma maîé, certamente a forma absoluta de paîé. Aquela deve ter caído em desuso já no século XVI.
pyrung (ou purung) (etim. - pôr o pé) (v. intr. compl. posp.) - pisar [compl. com esé (r, s) ou ri]: -Muru ri opurũ-purung. - Fica pisando o maldito. (Anch., Poemas, 190) ● purungaba - tempo, lugar, modo, etc. de pisar: Nd'e'i te'e yby asé purungaba tiruã aîpoba'e re'õmbûera reroŷrõmo... - Por isso mesmo, até a terra que a gente pisa detesta os cadáveres daqueles. (Ar., Cat., 179-179v)
taîaoba1 (ou taîoba) (etim. - taiá folhudo) (s.) - TAIOBA, TAIOVA, 1) nome comum a plantas herbáceas alimentícias tropicais da família das aráceas, como, por exemplo, a Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott (também chamada arão, aro, jarro, etc.) e a Colocasia esculenta (L.) Schott (taioba-de-são-tomé); 2) as folhas dessas plantas, comidas como couve (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 35; Brandão, Diálogos, 198); 3) couve (Fig., Arte, 77)
tyk (adv.) - em multidão; em grande número, em muitos (com o v. no pl.) - Tyk oro'é (ou Tyk oro'é nhẽ). - Em grande número estamos. (VLB, II, 44; Anch., Arte, 57); Tyk e'i. - Estão em grande número, são muitos. (Anch., Arte, 57)
'yapé (ou 'yrapé) (etim. - caminho de água) (s.) - rego para água (VLB, II, 100)
'ybae'ẽ (ou 'yae'ẽ) (etim. - fruta doce) (s.) - UBAÉM, 1) cabaça; 2) espécie de melancia, planta da família das cucurbitáceas (Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai) (D'Abbeville, Histoire, 228v)
ysaeté (ou ysaúba) (etim. - içá verdadeira) (s.) - espécie de formiga. Vivem em grandes montes de terra que elas edificam, possuem asas e voam aos bandos. (D'Abbeville, Histoire, 255v). "É a praga do Brasil... pois se dá nele tudo o que se pode desejar, o que esta maldição impede." (Sousa, Trat. Descr., 269)
Guaratinga (BA). De gûaratinga: garças.
Guaratinguetá (SP). De gûaratinga - garça + etá (r, s) - muitos(as): muitas garças.
ALMEIDA NOGUEIRA, Batista Caetano de, "Esboço gramatical do Abáñeê ou língua guarani, chamada também no Brasil língua tupi ou língua geral, propriamente Abañeenga". Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, pp. 1-90. Rio de Janeiro, 1879.
____Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil. (Traduzido do inglês por Moacir M. Vasconcelos. Confronto com a edição holandesa de 1682, introdução, notas, crítica bibliográfica e bibliografia por José Honório Rodrigues). Livraria Martins, São Paulo, 1942.
envergonhar - momara'ar; mo
akaraãîa (ou karanha) (etim. - cará dentado) (s.) - CARANHA, nome comum a várias espécies de peixes da família dos lutjanídeos, que atingem até 1 m de comprimento, tendo boa carne. Ocorrem em toda a costa brasileira. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 167; VLB, II, 70)
NOTA - Daí, no P.B., JATICÁ, arpão de haste longa com o qual se arpoam tartarugas.
é8 (s.) - coisa distinta, coisa própria, coisa diferente; (adj.) - próprio, vário, outro, diferente, não comum aos outros, particular; separado (e não de parceria com alguém): Tub-é. - Tem outro pai (isto é, diferente do pai de seu irmão); Xe kó-é. - Eu tenho roça própria (isto é, que não faço com os outros). (VLB, I, 62); (adv.) - variamente, diversamente, à parte: Aindé. Estou à parte. (Anch., Arte, 58); Aîkoé. - Sou diferente. (VLB, I, 103)
NOTA - Daí, no P.B. (N.), TIBIRA, vaca que dá pouco leite, ou cujo leite não espuma; uma espécie de "vaca macho".
ekoesaba (t) (s.) - gênero, tipo, diferenciação: Onheangerekó-katu opabinhẽ o angaîpagûera resé... sekoesaba resé, i papasaba resé bé... - Reflete muito acerca de todos os seus antigos pecados, acerca de seus gêneros e acerca de seu número. (Bettendorff, Compêndio, 92)
ekotebẽ (t) (s.) - 1) angústia (VLB, I, 36); tristeza, aflição (VLB, II, 62): Naetenhẽ ã tekotebẽ xe 'anga apypyki... - Eis que grandemente a aflição oprime minha alma. (Ar., Cat., 52v); Xe resaraî tekotebẽ-eté suí! - Eu tinha-me esquecido por causa da muita aflição. (Anch., Teatro, 138); 2) necessidade; [adj.: ekotebẽ (r, s)] - angustiado, triste, necessitado: Xe py'a-ekotebẽ. - Eu tenho o coração angustiado. (VLB, I, 36) ● ekotebẽsaba (ou ekotebẽma) - lugar, tempo, causa, etc. de aflição; aflição; necessidade: I xupé o ekotebẽsaba resé oîerurébo... - Rezando a ele no tempo de sua aflição. (Ar., Cat., 65v); -Mba'e i 'upyra resé nhõpe asé îeruréû Tupã supé? -Aani; amboaé o ekotebẽsaba resé bé... -Só pelas coisas que são comidas a gente pede a Deus? -Não; também por suas outras necessidades. (Anch., Diál. da Fé, 227); ekotebẽbora (t) - aflito, angustiado: ...tekotebẽboramo oîkóbo... - estando aflito (Ar., Cat., 34)
ikomemûã1 / ekomemûã (t) (etim. - agir mal) (v. intr. irreg.) - 1) fazer o que não deve, errar, pecar: -Marãpe ereîkó kaûĩ suí esabeypó? Ereîkomemûãpe a'ereme? - Como ages embriagando-te de cauim? Fazes o que não deves, então? (Ar., Cat., 111v); 2) desequilibrar-se, comportar-se estranhamente, entrar em colapso: ...Kûarasy, îasy, yby, paranã rekomemûã roiré... a'ereme karaibebé ruri... - Após entrarem em colapso o sol, a lua, a terra, o mar, então os anjos vêm. (Ar., Cat., 160v) ● oîkomemûãba'e - o que erra, etc.: Oîkomemûãba'e renonhena. - Corrigir os que erram. (Bettendorff, Compêndio, 23)
ikomemûã2 / ekomemûã (t) (etim. - agir mal) (v. intr. irreg.) - 1) ser desprezível, ser motivo de zombaria: Aîkomemûã. - Sou desprezível. (Léry, Histoire, 368)
ikonhote / ekonhote (t) (etim. - viver, somente) (v. intr. irreg.) - ser sisudo, modesto, quieto, sossegado (VLB, II, 117; 121)
ikotenhẽ / ekotenhẽ (t) (etim. - estar à toa) (v. intr. irreg.) - ser vadio, vadiar, vagabundear, estar ocioso (VLB, II, 54; 140)
îogûerekó1 (ou îoerekó) (etim. - ter um ao outro; o ter comum) (s.) - associação, consorciação: I mongaraibypyretá oîepegûasu îasûá, i îogûerekó anhẽ. - Os cristãos como uma unidade, a consorciação deles. (Ar., Cat., 49v)
îubĩote / ubĩote (t, t) (etim. - estar deitado, somente) (v. intr. irreg.) - estar quieto (num lugar, deitado, bolindo-se ou não): Aîubĩote. - Estou quieto. (VLB, II, 7).
îybá (s.) - braço (Castilho, Nomes, 32): Pitangamo seni Maria îybápe. - Como criança está sentado nos braços de Maria. (Anch., Poemas, 108); Endé, nde îybápe Îesu eresupi... - Tu, em teus braços ergueste Jesus. (Anch., Poemas, 118) ● îybapûera - braço arrancado do corpo; quarto dianteiro que se parte de um animal (VLB, II, 91): T'a'u kori i îybapûera... - Hei de comer hoje seus braços (arrancados). (Anch., Teatro, 64)
Daí, no P.B., ITAQUATIARA, inscrições feitas pelos índios pré-históricos nas pedras; QUATIARA, COTIARA, BOICOATIARA ou BOIQUATIARA (mboî + kûatiar + -a - "cobra pintada"), nome de uma serpente da família dos crotalídeos. ITAQUATIARA também é nome de muitos lugares no Brasil (v. p. 386).
kyûaba ou (kygûaba) (etim. - instrumento de comer piolhos) (s.) - pente (Léry, Histoire, 346; VLB, I, 32)
marãîasûaramo (part. de optativo futuro - Pode aparecer com as partículas mã, temõ... mã ou -mo.) - que bom seria se...! oxalá!: Marãîasûaramo ahẽ kûepe se'õ mã! - Ah, que bom seria a morte do fulano por aí! (Ar., Cat., 101v); Marãîasûaramo asó mã! - Que bom seria se eu fosse! (Anch., Arte, 24v); Marãîasûaramo xe sóû kûesé mã! - Ah, que bom seria se eu tivesse ido ontem! (Anch., Arte, 24v); Marãîasûaramo Tupã xe rerasóû mã! - Ah, que bom seria se Deus me levasse! (VLB, I, 104); Marãîasûaramo turi mã! - Ah, oxalá ele viesse! (VLB, II, 61)
mboîgûasu1 (ou mboîusu) (etim. - cobra grande) (s.) - BOIGUAÇU, BOIAÇU, BOIUÇU, BOIOÇU, BOIÇU, cobra da família dos boídeos, não peçonhenta, do Brasil. Atinge até dez metros de comprimento. Vive em ambiente aquático; come peixes, aves e mamíferos, que engole, comprimindo-os. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 239)
me'ĩ (part. de optativo passado; indica algo que poderia ter ocorrido, mas não ocorreu): Aîuká me'ĩ mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Ixé me'ĩ asó mã! (ou Asó me'ĩ mã!) - Ah, quem me dera eu tivesse ido! (Anch., Arte, 24v; Fig., Arte, 142)
me'ĩmo (part. de optativo passado; indica algo que poderia ter ocorrido, mas não ocorreu): Asó me'ĩmo mã! - Ah, quem me dera eu tivesse ido! (Anch., Arte, 24v; Fig., Arte, 142); Aîuká me'ĩmo mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Asó me'ĩmo ybakype mã! - Ah, se eu tivesse ido para o céu! (Anch., Arte, 24); Asepîak me'ĩmo! - Que o tivesse visto! (Anch., Arte, 2)
moîa'ok1 (v.tr.) - 1) repartir, dividir (coisas múltiplas) (aquele com quem se reparte: compl. com supé ou pé): Aîmoîa'ok xe itaîuba ahẽ pé (ou supé). - Reparti meu dinheiro com ele. (VLB, II, 66); Oîopytera rupi aîmoîa'ok. - Reparti-os pela metade. (VLB, II, 73); -I aogûera, marã serekóû? -I îukasarama oîmoîa'ok o îoupé. -E suas velhas roupas, que fizeram com elas? -Seus matadores repartiram-nas uns com os outros. (Ar., Cat., 62); Opá kombó îabi'õ Tupã supé oîepé asé mba'e moîa'oka. - De cada dez, repartir uma de nossas coisas com Deus. (Ar., Cat., 17); 2) apartar (p.ex., os que brigam): Aîmoîa'ok. - Apartei-os. (VLB, I, 130) ● i moîa'okypyra - o que é (ou deve ser) repartido, dividido:... Mba'eramo i moîa'okypyra rekóreme. - Por ser coisa que deve ser dividida. (Ar., Cat., 78v); emimoîa'oka - o que alguém reparte, divide: ...Ogûemimoîa'oka ogûa'yra pé ranhẽ onhe'enga... - Falando primeiro a seus filhos, que divide (isto é, os bons dos maus). (Ar., Cat., 162)
moka'ẽ2 (ou monga'ẽ) (etim. - deixar tostado) (v.tr.) - assar em grelhas (em labaredas e fumaça, como churrasco), MOQUEAR: Aîmoka'ẽ - Moqueei-o. (VLB, II, 134); Peîori, perasó muru, supi îandé ratápe sapeka, i monga'ẽmo... - Vinde, levai os malditos, erguendo-os para sapecá-los em nosso fogo, moqueando-os... (Anch., Teatro, 90)
mokambu (ou mokamby) (etim. - fazer beber leite) (v.tr.) - amamentar, aleitar, lactar (VLB, I, 33): ...i pitangĩ mokambûabo - ...amamentando seu neném (Anch., Poemas, 134) ● mokambûara - a que amamenta (VLB, I, 33)
NOTA - No P.B. (NE), PEITICA é, também, 1) brincadeira de mau gosto; impertinência; 2) pessoa impertinente, maçadora; pessoa importuna (in Dicion. Caldas Aulete).
pirãîa1 (ou piranha) (etim. - peixe dentado) (s.) - PIRANHA, nome comum a várias espécies de peixes carnívoros da família dos caracinídeos. Possuem muitos dentes e atacam pessoas e animais que entram n'água, principalmente quando percebem sangue. (D'Abbeville, Histoire, 247; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 164)
pirãîa2 (ou piranha) (etim. - dentes de peixe) (s.) - tesoura, tenaz. Os dentes da piranha eram usados pelos índios para cortar cabelos e cordas. (D'Abbeville, Histoire, 283v)
pitub (v.tr.) - pintar, tingir, untar (com azeite e urucu misturados) o corpo de forma geral (VLB, I, 32): Aîpitu-pyrang. - Tinjo-o de vermelho (com urucu). (VLB, II, 128; 139) ● i pitubypyra - o que é (ou deve ser) pintado, untado: Mba'e-mba'epe asé suí i pitubypyra? - Que deve ser ungido de nós (isto é, de nosso corpo)? (Ar., Cat., 92)
pitupuku (v.tr.) - pintar, tingir, untar as pernas: Aîpitupuku. - Tinjo as pernas. (VLB, I, 32)
NOTA - Daí, no P.B., POTIMIRIM ("poti pequeno"), POTIÚNA ("poti escuro"), variedades de camarão. Daí, também, o nome do rio POTENGI, que banha Natal, capital do Rio Grande do Norte (v. p. 386).
pykasu (s.) - pomba-legítima, PICAÇU, PUCAÇU, PICAÚ, ave da família dos columbídeos (D'Abbeville, Histoire, 242v): Mokõî pykasy ra'yra i xy ogûerasó îetanongabamo. - Dois filhotes de pomba sua mãe levou como oferenda. (Araújo, Cat., 3v); 2) rola (VLB, II, 108)
pytuura (ou putuura) (etim. - bafo que vem) (s.) - vento, bafo contínuo, sem parar (p.ex. de furacão, o bafejar produzido por furo na barriga, etc.) (VLB, II, 143); (adj.: pytuur ou putuur) (xe) ventar, bafejar continuamente, sem parar (VLB, II, 143)
NOTA - Daí, no P.B., PITIMBA, mal-estar, achaque; PITIMBADO, que tem pitimba; achacado, indisposto.
sybá (s.) - testa (Castilho, Nomes, 37): Marãnamope asé o sybápe îoasaba moíni? - Por que a gente põe a cruz na testa? (Ar., Cat., 21)
NOTA - Daí, no P.B. (N.), TIJUCUPAUA,
typoîa (s.) - lenço ou tira de pano que se prendia ao pescoço para se carregarem os filhos junto ao corpo (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 107) (v. tipoîa)
yganhurĩ (ou yanhurĩ) (etim. - cabaça pescocinho) (s.) - cabaça de gargalo (VLB, I, 77); cabaça de colo, cabaça em forma de pescoço, estreita no meio e bojuda nas pontas (VLB, I, 61)
Acaraí (BA). A mesma etimologia de Acaraú.
Aguapeú (SP). A mesma etimologia de Aguapeí (v.).
Aitinga (BA). De a'y + ting/a + -a: preguiças brancas.
Anajatéua (PA). A mesma etimologia de Anajatuba (v.).
Araçahi (MG). A mesma etimologia de Araçaí (v.).
Araçaí (MG). A mesma etimologia de Araçagi (v.).
Araçaji (MA). A mesma etimologia de Araçagi (v.).
Aracanga (cach. do rio Tietê). De arara + akanga: cabeça de arara.
Aracati (CE). A mesma etimologia de Aracatu (v.).
Aracatiara (CE). De îarakatîá - jaracatiá, nome comum a várias plantas da família das caricáceas.
Araçatiba (ES). A mesma etimologia de Araçatuba (v.).
Aranaú (CE). A mesma etimologia de Aranaí (v.).
Araticum (BA). A mesma etimologia de Araticu (v.).
Baquari (MG). A mesma etimologia de Baguari (v.).
Batuba (BA). A mesma etimologia de Ubatuba (v.).
Berigui (PR). A mesma etimologia de Birigui (v.).
Biribiri (MG). A mesma etimologia de Peri-Peri (v.).
Bossoroca (BA). A mesma etimologia de Boçoroca (v.).
Brejaúva (SP). A mesma etimologia de Brejaúba (v.).
Brejetuba (ES). A mesma etimologia de Brejatuba (v.).
Buji (PI). A mesma etimologia de Bugi (v.).
Bupeva (SC). A mesma etimologia de Boipeba (v.).
Caiuá (SP). A mesma etimologia de Caiobá (v.).
Caiubá (PR). A mesma etimlogia de Caiobá (v.).
Caiubi (BA). A mesma etimologia de Caiobi (v.).
Cajubi (MG). A mesma etimologia de Cajobi (v.).
Cajubim (PA). A mesma etimologia de Cajobi (v.).
Camanducaia (MG). A mesma etim. de Camandocaia (v.).
Cambaratiba (SP). A mesma etim. de Camaratuba (v.).
Cambuti (BA). A mesma etim. de Cambuci (v.).
Camucim (CE). A mesma etimologia de Cambuci (v.).
Camuti (PA). A mesma etimologia de kamusi (v.).
Cangonhal (MG). A mesma etim. de Congonhal (v.).
Cangueira (PR). A mesma etim. de Canguera (v.).
Canhuma (AM). A mesma etim. de kanhema (v.).
Capituva (SP). A mesma etim. de Capintuba (v.).
Caraí (MG). A mesma etim. de Caraíba (v.). "Distrito criado com a denominação de Caraí (...) pela lei estadual nº 556, de 30-08-1911, subordinado ao município de Arussaí." (fonte: IBGE).
Caraíva (BA). A mesma etim. de Caraíba (v.).
Carajuru (AM). A mesma etim. de Carajeru (v.).
Caranandiua (PA). A mesma etim. de Carananduba (v.).
Carandá (MT). A mesma etim. de Caraná (v.).
Carapeva (SP). A mesma etim. de Carapeba (v.).
Carapi (AL). A mesma etim. de Carapina (v.).
Caraúbas (PB). A mesma etim. de Caraíba (v.).
Carnaíba (BA). A mesma etimologia de Caranaíba (v.).
Carnaúbas (CE). A mesma etimologia de Caranaíba (v.).
Carpina (PE). A mesma etimologia de Carapina (v.).
Caruá (BA). A mesma etimologia de Caraguatá (v.).
Cauçu (PA). A mesma etimologia de Cauaçu (v.).
Comoci (PI). A mesma etimologia de Camuci (v.).
Coripe (AM). A mesma etimologia de Coribe (v.).
Coroatá (PI). A mesma etimologia de Caraguatá (v.).
Croatá (CE). A mesma etimologia de Curaçá (v.).
Cuité (PB). A mesma etimologia de Cuieté (v.).
Cujubim (AM). A mesma etimologia de Cajobi (v.).
Curupari (PA). A mesma etimologia de Curupaí (v.).
Cururipe (AL). A mesma etimologia de Cururupe (v.).
Embira (AM). A mesma etimologia de Imbira (v.).
Embura (SP). A mesma etimologia de Imbira (v.).
Garapuá (BA). A mesma etim. de Guarapuava (v).
Garapuava (MG). A mesma etim. de Guarapuava (v).
Graíba (AL). A mesma etimologia de Caraíba (v.).
Gravatá (PA). A mesma etimologia de Caraguatá (v.).
Guajiru (RN). A mesma etimologia de Guajeru (v.).
Guandu (AL). A mesma etimologia de Gandu (v.).
Guanumbi (PE). A mesma etimologia de Guanambi (v.).
Guarapuá (SP). A mesma etim. de Guarapuava (v.).
Guaraúna (PR). A mesma etimologia de Braúna (v.).
Guaxuma (BA). A mesma etim. de Guaxima (v.).
Ibirarema (SP). A mesma etim. de Guararema (v.).
Ibitinga (SP). De yby + ting + -a: terra branca. É nome do século XIX: A família Landim fundou a "Vila do Senhor Bom Jesus de Ibitinga" por volta de 1860, ainda na época em que a língua geral meridional era usada na província de São Paulo. (fonte: IBGE)
Ibitiruna (MG). A mesma etimologia de Ibituruna (v.).
Igapó (PE). A mesma etimologia de Iapó (v.).
Imbituva (PR). A mesma etimologia de Imbituba (v.).
Inajá (GO). A mesma etimologia de Indaiá (v).
Inhapim (MG). A mesma etimologia de Inhapi (v.).
Inhombim (BA). A mesma etimologia de Inhobi (v.).
Inhuma (PI). A mesma etimologia de Inhaúma (v.).
Irapoã (PI). A mesma etimologia de Irapuã (v.).
Itaci (MG). A mesma etimologia de Itaici (v.).
Itaimbé (ES). A mesma etimologia de Itambé (v.).
Itajutiba (MG). A mesma etimologia de Itajubatiba (v.).
Itanhém (BA). A mesma etimologia de Itanhaém (v.).
Itapebi (BA). A mesma etimologia de Itapevi (v.).
Itapecirica (SP). A mesma etimologia de Itapecerica (v.).
Itapuranga (GO). A mesma etim. de Itaporanga (v.).
Itaquaciara (SP). A mesma etim. de Itaquatiara (v.).
Itaquari (ES). A mesma etim. de Itaquaraí (v.).
Itaquatiara (BA). A mesma etim. de Itacoatiara (v.).
Itatinga (SP). De itá + ting + -a: pedra branca.
Itatingui (BA). De itá + ting + 'y: rio das pedras brancas.
Itatuba (SP). A mesma etim. de Itatiba (v.).
Itinga (SP). A mesma etimologia de Utinga (v.).
Itutinga (SP). De ytu + ting + -a: cachoeira clara.
Jacaraú (PA). A mesma etimologia de Jacaraí (v.).
Jacareci (BA). A mesma etimologia de Jacaraci (v.).
Jacarequara (MA). A mesma etim. de Jacarecoara (v.).
Jaciguá (ES). A mesma etimologia de Jaceguai (v.).
Jaguará (BA). A mesma etimologia de Jaguaraba (v.).
Jaguaripe (BA). A mesma etimologia de Jaguaribe (v.).
Jandaíra (BA). A mesma etimologia de Jandira (v.).
Japiúba (SP). A mesma etimologia de Japiba (v.).
Jaracatiá (MG). De îarakatîá, planta caricácea.
Jaraueté (AM). A mesma etimologia de Jaquaretê (v.).
Jiribatuba (BA). A mesma etim. de Jurubatuba (v.).
Juatinga (RJ). De îuá + ting + -a: juazeiros claros.
Jucurutu (BA). A mesma etimologia de Jacurutu (v.).
Juerana (BA). A mesma etimologia de Juarana (v.).
Miracema (RJ). A mesma etimologia de Piracema (v.). "Pela deliberação de 13-04-1883, o distrito de Santo Antônio dos Brotos passou a denominar-se Miracema." (fonte: IBGE).
Munduri (PE). A mesma etimologia de Manduri (v.).
Muquém (GO). A mesma etimologia de Moquém (v.).
Muriti (CE). A mesma etimologia de Buriti (v.).
Mutuca (PE). A mesma etimologia de Motuca (v.).
Nuguaçu (BA). A mesma etim. de Nhunguaçu (v.).
Orissanga (SP). A mesma etimologia de Uruçanga (v.).
Pegueri (MG). A mesma etimologia de Piqueri (v.).
Periquara (CE). A mesma etimologia de Perigara (v.).
Pindaíba (MG). A mesma etimologia de Pindaúva (v.).
Pindaíva (MT). A mesma etimologia de Pindaíba.
Piquiri (PR). A mesma etimologia de Piqueri (v.).
Pirapitinga (MG). A mesma etim. de Pirapetinga (v.).
Piritiba (BA). A mesma etimologia de Pirituba (v.).
Piuí (MG). A mesma etimologia de Piuim (v.).
Potunduva (cach. do rio Tietê, SP). "As cachoeiras notaveis d'este rio Tieté são as seguintes: Acanguerusú [...], Acanguemirí, Jurumirí, Avaremondoava, [...] Potunduva [...]." (Francisco de Oliveira Barbosa [1792], Noticias da Capitania de S. Paulo, p. 25)
Quatiguá (PR). A mesma etimologia de Catiguá (v.).
Sapopema (PR). A mesma etim. de Sapopemba (v.).
Sirigi (PE). A mesma etimologia de Sergi (v.).
Sucatinga (CE). A mesma etimologia de Socatinga (v.).
Sucuri (SP). A mesma etimologia de Securi (v.).
Sussuí (SP). A mesma etimologia de Suaçuí (v.).
Tacima (PA). A mesma etimologia de Itacima (v.).
Taguarassu (GO). A mesma etim. de Taquaruçu (v.).
Taim (RS). A mesma etimologia de Itaim (v.).
També (PE). A mesma etimologia de Itambé (v.).
Tanhaçu (BA). A mesma etimologia de Taiaçu (v.).
Taperoá (BA). A mesma etimologia de Taperuaba (v.).
Tapuiara (CE). A mesma etimologia de Tapejara (v.).
Taquaraçu (MG). A mesma etim. de Taquaruçu (v.).
Tatinga (MA). De itá + ting/a + -a: metal branco, prata.
Tigipió (SC). A mesma etimologia de Tijipió (v.).
Tijucopapo (PE). A mesma etim. de Tejucupapo (v.).
Tobati (MG). A mesma etimologia de Tabatinga (v.).
Tucuruí (AM). A mesma etimologia de Tucuruvi (v.).
Ubatiba (RJ). A mesma etimologia de Ubatuba (v.).
Uiraponga (CE). A mesma etimologia de Araponga (v.).
Uiraúna (RN). A mesma etimologia de Graúna (v.).
Umbaúba (SE). A mesma etimologia de Embaúba (v.).
Umirim (CE). A mesma etimologia de Imirim (v.).
_____Novas Cartas Jesuíticas de Nóbrega a Vieira. Brasiliana, série 5ª, vol. 194. São Paulo, 1940.
entorpecente (para peixes) - tingy; timbó
girar - (intr.): îereb; îatiman; (tr.): moîereb
lebre (do mato) - tapiti
mosquito - (variedades): îati'ũ; marigûi; nhetingaruru
qualquer (quaisquer) - tetiruã
abyraru (s.) - umidade fétida; (adj.) - úmido; languinhento (fal. do que "está em algum lugar úmido e que ganha um certo suorzinho de mau cheiro") (VLB, II, 20)
ame'yba (s.) - AMEIVA, réptil da família dos teídeos, que vive nas capoeiras, alimentando-se de frutas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 238)
NOTA - Daí, no P.B., ABATIAPÉ (abati + apé, "milho cascudo"), arroz encontrado em estado silvestre nas margens dos lagos amazônicos; arroz-bravo.
atukupé (s.) - costas (Castilho, Nomes, 30): xe atukupé - minhas costas (Léry, Histoire, 365); Sugûy-syryk serã sobá rupi i atukupé rupi bé? - Por acaso ele tinha o sangue escorrido pelo rosto e pelas costas? (Ar., Cat., 60v) ● o atukupé pyterybo - de costas: Opá i îeakypûereroîebyri, o atukupé pyterybo o'á ybype. - Todos eles voltaram para trás, caindo no chão de costas. - (Ar., Cat., 54v)
epîakĩ (s) (v.tr.) - consentir, permitir tacitamente, ver sem se importar: ...Og okype îopotara repîakĩamo. - Em sua própria casa o desejo sensual consentindo. (Ar., Cat., 71v) ● osepîakĩba'e - o que consente, o que vê sem se importar: Abá mondarõ osepîakĩba'e... - O que vê um homem furtar sem se importar. (Ar., Cat., 72v)
esá (t) (s.) - olho (Castilho, Nomes, 38); vista: Xe resá pupé-katu asepîak nde i mimagûera. - Bem com os meus olhos vi que tu as escondeste. (Anch., Teatro, 176); Nde resá poraûsubara erobak ixé koty... - Teus olhos misericordiosos volta em minha direção. (Anch., Poemas, 146); [adj.: esá (r, s)] - dotado de olho; (xe) ter olho: Xe resá-ynhusu. - Eu tenho olhos esbugalhados. (VLB, II, 56) ● esápe (t) - à vista de, aos olhos de: Tupã resápe ã xe rekóû... - Eis que estou à vista de Deus. (Ar., Cat., 66); Sesé abá pûari nde resápe nhẽ. - Os homens batem nele à tua vista. (Anch., Poemas, 122); gûesá-popybo (ou gûesá-popybonhote) - com o rabo do olho, de esguelha (VLB, II, 56); esá-rorẽ (t) - olhos encovados (VLB, II, 56); esá-tinga (t) - olhos claros (azuis, verdes-azulados, verdes esbranquiçados), tirantes a brancos; olhos enevoados: Xe resá-ting. - Eu tenho olhos claros. (VLB, I, 147); Og uba rupi ahẽ resá-tingamo. - Ele tem olhos claros como seu pai. (VLB, II, 131); esá-îuba (t) - olhos claros, gázeos, tendendo a brancos, zarcos: Xe resá-îub. - Eu tenho olhos zarcos. (VLB, I, 147); esá-kûá-rorẽ (ou esá-kûá-rorẽ-muku) (t) - olhos encovados: Xe resá-kûá-rorẽ. - Eu tenho olhos encovados; esá-kûasó (ou esá-kûasó-puku ou esá-kûarûé-mba'easy) (t) - olhos encovados (como os de um doente) - Xe resá-kûasó-puku. - Eu tenho olhos encovados. (VLB, I, 115); esá-banga (t) - olhos vesgos (VLB, II, 144); esá-oby (t) - olhos enevoados: Xe resá-oby. - Eu tenho olhos enevoados. (VLB, II, 49); esá-tunga (t) - olho quebrado, torto ou todo coberto, mas não vazio (VLB, II, 133); esá-ynhusu (t) - olhos esbugalhados: Xe resá-ynhusu. - Eu tenho olhos esbugalhados. (VLB, II, 56)
îakuasu (ou îakuûasu) (etim. - jacu grande) (s.) - JACU-AÇU, ave galifome da família dos cracídeos. São "...da feição das garças grandes.... Andam nos rios e lagoas, criam ao longo delas e dos rios, no chão. Mantêm-se do peixe que tomam." (Sousa, Trat. Descr., 230)
îekuakub (v. intr.) - 1) praticar o couvade, isto é, um conjunto de restrições alimentares e de ritos observados por um homem durante a gravidez da mulher e logo depois do nascimento da criança; fazer resguardo: Ereîekuakupe nde remirekó membyrara resé? - Fizeste resguardo por causa do parto de tua mulher? (Ar., Cat., 99); 2) jejuar (como prática cristã): -Abá abépe nd'oîabyî oîekuakube'yma? - Quem mais não o transgride, não jejuando? (Anch., Diál. da Fé, 203) ● oîekuakuba'e - o que jejua, o que faz resguardo: Oîaby bépe aîpó o emirekó membyrara resé oîekuakuba'e...? - Transgride também aquele (mandamento) o que faz resguardo por causa do parto de sua esposa? (Ar., Cat., 66v-67); îekuakupaba - tempo, lugar, modo, etc. de jejuar; jejum: 'Ara i pîasaba, îekuakupaba. - Dia de guarda e de jejum. (Ar., Cat., 4)
NOTA - Daí, no P.B., JUATI, erva da família das solanáceas, de inúmeros acúleos pungentes, também conhecida como juá-arrebenta-cavalo.
kanga2 (s.) - 1) osso (Castilho, Nomes, 31): ...I kanga îepotasaba pe'abo o îosuí. - As juntas de seus ossos afastando umas das outras. (Ar., Cat., 62v); ...Asé i kangûerĩ tiruã momba'etéû, o aîuri serekóbo... - Até mesmo seus ossinhos a gente cultua, tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v); 2) espinha (de peixe) ● kanga putu'uma - tutano dos ossos (VLB, II, 138; D'Evreux, Viagem, 159); kangûera - osso fora do corpo, osso descarnado; espinha já fora do peixe (VLB, I, 126)
kapi'ipuba (ou kapupuba) (etim. - capim mole) (s.) - CAPIMPUBA, CAPIM-BEBA, erva da família das gramíneas (Andropogon bicornis L.) (Piso, De Med. Bras., IV, 196)
NOTA - Em guarani antigo caracú, além de vinho de raízes, também designava tutano de vaca, etc. (Montoya, Tesoro, 90). Daí se explica o nome de uma variedade de gado bovino, o gado caracu.
NOTA - Daí, no P.B. (AM), TIPACOEMA, TEPACUEMA (typab + ko'ema, "manhã do seca-água"), fenômeno lunar de que provém a parada do fluxo e refluxo das marés, descobrindo trechos do rio por vezes nunca vistos; a parada da maré, ao amanhecer, no final da vazante; baixa-mar matutina (in Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, COEMA, o nome de uma personagem indígena da obra Os Timbiras, de Gonçalves Dias, evocada no poema Lindoya, de Machado de Assis:
kuîaba (s.) - cabaço de tipo grande e largo, partido pelo meio (VLB, I, 61); variedade de cuia: Oîmboapy abá kuîaba... - Os homens esvaziam as cuias. (Anch., Teatro, 30) "Pode conter no seu bojo trinta ou trinta e cinco cântaros de líquido." (Nieuhof, Ged. Reize, 219-220)
kurimatá (ou kurimatã) (etim. - curimã duro) (s.) - CURIMATÁ, CURIMBATÁ, CURIMATÃ, nome comum a peixes da família dos caracídeos, com mais de vinte espécies em todo o Brasil. São também chamados CORIMATÁ, CORIMBATÁ, CURIMATAÚ, CURIMBA, CURUMBATÁ, CURIBATÁ, GRUMATÁ ou GRUMATÃ. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 156)
mokonhõ (ou mokõînhõ) (etim. - dois, somente) (pron.) - 1) poucos (em número) (VLB, II, 83): Mokõînhõ... kó taba pupé sekóû. - Poucos moram nesta aldeia. (Anch., Teatro, 16); 2) pouco (em quantidade, em valor, em preço): Xe repy mokonhõ'ĩ. - Meu preço é pouquinho. (VLB, I, 51)
nhandu'i (ou nhandu'ĩ) (etim. - aranha pequena) (s.) - NHANDUÍ, nome genérico para as aranhas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 248; VLB, I, 40) ● nhandu'i-kesaba - teia de aranha (VLB, II, 125)
nhemobabak (v. intr.) - resistir estrebuchando (VLB, II, 102)
nhemoîa'ok (v. intr.) - repartir-se: Oronhemoîa'ok. - Repartimo-nos. (VLB, II, 101)
NOTA - Em guarani antigo essa palavra também existia com o mesmo sentido e deu nome ao grande rio PARAGUAI (paragûá + 'y, "rio dos paraguás") e ao país vizinho do Brasil.
pen2 (v. intr.) - 1) partir-se, quebrar-se (como pau, vara, flecha, serra, espada, etc.); 2) render-se (a pessoa, p.ex., com algum peso) (VLB, II, 92; Anch., Arte, 1v)
peré (m) (s.) - baço (Castilho, Nomes, 35)
pusu'umukaîa (m) (s.) - azia (Castilho, Nomes, 37); (adj.: pusu'umukaî) (xe) - ter azia: Xe pusu'umukaî. - Eu tenho azia. (VLB, I, 49)
putuẽ (ou pytuẽ) (xe) (etim. - fôlego parado) (v. da 2ª classe) - 1) resfolegar, recobrar o fôlego, tomar alento, tomar refrigério (VLB, II, 99): Ta pe putuẽngatuté irã... pe îemokane'õ ré. - Haveis de bem recobrar o fôlego após vos cansardes. (Ar., Cat., 170); Xe putuẽ-tuẽ. - Eu estou resfolgando. (VLB, I, 50); 2) descansar, sossegar: Nde pytuẽ. Na satãngatuî maíra! - Descansa. Não é muito forte o maíra. (Anch., Teatro, 16)
pysagûasu (ou pysaûasu) (etim. - puçá grande) (s.) - PUÇÁ-GUAÇU, rede para apanhar peixe, como chinchorro (VLB, II, 99) ● pysagûasu-eîtykara - pescador com puçá-guaçu (VLB, II, 75); pysagûasu-eîtykaba - pescaria com puçá-guaçu (VLB, II, 75)
NOTA - Sumé foi identificado a São Tomé, no Brasil colonial, e isso por muitos séculos: "Dizem eles que S. Tomé, a quem eles chamam Zomé, passou por aqui, e isto lhes ficou por dito de seus antepassados e que suas pisadas estão sinaladas junto de um rio; as quais eu fui ver por mais certeza da verdade..." (Manuel da Nóbrega, in Leite, Cartas dos Primeiros Jesuítas do Brasil).
tagûato'ĩ (ou taûato'i) (etim. - tauatozinho) (s.) - var. de tauató (v. tagûató) (VLB, I, 134; 147)
tatapynha (ou tatapyĩa) (etim. - ventas de fogo) (s.) - brasa (acesa ou apagada) (VLB, I, 59); morrão de candeia; carvão: Tatapynha n'oîabyî... - As brasas não falham. (Anch., Teatro, 88); Asapy tatapynha. - Queimei carvão. (VLB, I, 68)
teîú (s.) - TEIÚ, TEJU, TIÚ, TIJU, nome genérico para os lagartos, répteis lacertílios da família dos teídeos (D'Evreux, Viagem, 207; VLB, II, 17)
teîugûasu (ou teîuûasu) (etim. - teju grande) (s.) - TEIUAÇU, réptil lacertílio da família dos teídeos, o maior lagarto do Brasil, que pode atingir cerca de 2 metros de comprimento. Sua carne é muito saborosa e sua pele tem grande preço. (D'Abbeville, Histoire, 248v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 237; VLB, II, 17)
temiminó (ou temiminõ) (etim. - os netos) (s. etnôn.) - TEMIMINÓ, TIMIMINÓ, nome de nação indígena que falava a língua brasílica; indígena da tribo dos temiminós, do Espírito Santo (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 122): Kó temiminó-poxy îandé rekó ogûeroŷrõ... - Esses temiminós malvados nossa lei detestam... (Anch., Teatro, 16)
Temoti (s.) - nome de entidade sobrenatural da cosmologia dos antigos tupis da costa (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278)
NOTA - Em guarani antigo também existia tal palavra, donde proveio o nome do rio URUGUAI, que banha o sul do Brasil, sendo, também, nome de um país sul-americano (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B. (AM), TIPUCA (ty + puk + -a, "líquido arrebentado"), o último leite que sai da teta das vacas, muito grosso e gorduroso; apojo; TIQUARA (ty + pûar + -a, "caldo batido"), bebida preparada com água, farinha de mandioca, açúcar ou mel e, às vezes, com um pouco de cachaça; qualquer bebida refrigerante (in Dicion. Caldas Aulete). Daí provêm, também, os nomes geográficos TIETÊ (SP), TIJUCA (RJ), etc. (v. p. 386).
'ybatitara - o mesmo que atitara (v.)
ybyrayá (ou ybyraygá) (etim. - cabaça de madeira) (s.) - barril (de madeira) (VLB, I, 52)
'ye'ẽkûaba (ou 'yekûaba) (etim. - água doce que passa) (s.) - ribeirão; água corrente (Léry, Histoire, 360); ribeiro, regato (VLB, II, 100) ● 'yekûabusu - riacho (VLB, II, 105)
NOTA - Daí, no P.B. (AM), TIPACOEMA, TEPACUEMA (typab + ko'em + -a, "o seca-água matutino"), fenômeno lunar de que provém a parada do fluxo e refluxo das marés, descobrindo trechos do rio por vezes nunca vistos; a parada da maré, ao amanhecer, no final da vazante; baixa-mar matutina (in Novo Dicion. Aurélio).
Batinga (SE). De 'yba + ting + -a: pau branco, arbusto da família das mirtáceas.
Botuporã (BA) - a mesma etimologia de Votuporanga (v.).
A forma mais antiga é Corupá: "O que de prezente se deve procurar, he o descobrimento do Rio Corupá, onde está a força do gentio (...)" (Souza Deça [1619], Diversos Documentos sobre o Maranhão e o Pará, p. 345). De kurub/a + suf. -aba: lugar de seixos.
Iratinga (CE). De ûyrá + ting + -a: aves brancas, garças.
Itapura (salto do rio Tietê, SP). De itá + byr + -a: pedra levantada.
Itati (BA). De itá + a: pedras pontudas.
Itatiaia (RJ). De itá + atîaî/a (r, s) + -a: pedras pontudas.
Itatim (BA). De itá + a: pedras pontudas.
Jacutinga (MG). De îaku + ting + -a: jacus brancos.
Jatimana (BA). De 'y + îatiman + -a: giro, volta, curvas de rio, i.e., os meandros do rio ou, ainda, rio meândrico.
Jurupari (ilha do PA). Entidade sobrenatural dos antigos índios tupis). De îuru - boca + parĩ - torto: boca torta.
Maetinga (BA). De ma'e + ting + -a: coisa branca.
Marangatu (RJ). Em tupi antigo significa bondade, virtude, termo atribuído artificialmente a uma localidade, mas registrado em textos quinhentistas.
Sapetinga (BA). De sapé + ting + -a: sapé claro.
Seritinga (MG). De seri + ting + -a: siris brancos.
Tingui (rio da BA). De tingy: líquido de enjôo, arbusto da família das sapindáceas que, lançado à água doce, serve para pescar o peixe, envenenando-o: "...foram a um rio dar tinguí, sc. barbasco ao peixe, e ficaram bem providos..." (Pe. Fernão Cardim [1583], Informação da Missão do P. Christovão Gouvêa ás partes do Brasil - anno de 83, p. 155).
BOSI, Alfredo, Dialética da Colonização. Companhia das Letras, São Paulo, 1992.
GRENAND, Françoise, Dictionnaire Wayãpi-Français. Peeters / Selaf, Paris, 1989.
clara (de ovo) - tupi'atinga
melancia - 'ybae'ẽ; anhumatiroba
akûãîa (t) (s.) - pênis (Castilho, Nomes, 37): Erepokokype nde rakûãîa resé enhemoagûyrõmo? - Tocaste no teu pênis, excitando-te? (Anch., Doutr. Cristã, II, 90) ● sakûãîba'e - o que tem pênis, macho (VLB, II, 27)
anong (s) (v.tr.) - prognosticar coisas a, fazer agouros a (geralmente coisas más): Asanong. - Fiz agouros a ele. (VLB, II, 87)
'apyra (s.) - moleira (Castilho, Nomes, 29)
NOTA - Daí, no P.B., IMBETIBA, IMBITUBA, qualquer praia alta (in Dicion. Caldas Aulete).
etymã1 (t) (s.) - perna (Castilho, Nomes, 39): Osó bé amõ maranaritekoara a'e mokõî mondabora retymã mopena... - Foram de novo alguns soldados para quebrar as pernas daqueles dois ladrões. (Ar., Cat., 64) ● etymãmbûera (t) - perna que já foi decepada; quarto traseiro que se parte de um animal (VLB, II, 91): T'a'u kori i îybapûera, ...Kaburé, setymãmbûera. - Hei de comer hoje seus braços, Caburé, suas pernas. (Anch., Teatro, 64); etymã-îura (t) - colo da perna (Castilho, Nomes, 39); etymã-kanga (t) - canela da perna (Castilho, Nomes, 39); etymã-o'o (t) - barriga da perna (Castilho, Nomes, 39); etymã-ygé (t) - barriga da perna (Castilho, Nomes, 39)
NOTA - Daí, no P.B., JABUTIBA (îaboti + 'yba, "planta do jabuti"), certa árvore da flora paulista; JABUTICABA, nome de uma árvore, de etimologia mais obscura.
îemotupan (ou nhemotupã) (etim. - fazer-se Tupã) (v. intr.) - santificar-se: S. Sebastião 'ara, se'õagûera, cristãos oîmoeté oîemotupana... - O dia de São Sebastião, em que ele morreu, os cristãos comemoram para se santificarem. (Ar., Cat., 3v)
inhati'ũ - o mesmo que îati'ũ (v.) (Sousa, Trat. Descr., 242)
itaîuba (ou itaîuîuba) (etim. - metal amarelo) (s.) - 1) ouro: Ereîpotápe itaîuba? - Queres ouro? (Anch., Teatro, 44); I xupé ogûeru îetanongabamo itaîuba, ysykatã syapûãba'e, mirra. - Para ele trouxeram, como oferendas, ouro, incenso e mirra. (Ar., Cat., 3); 2) dinheiro, moeda (de ouro): Aîar itaîuba Pedro suí. - Aceitei dinheiro de Pedro. (VLB, I, 19, adapt.)
katuté (adv.) - muito, muitíssimo, bem, bastante: ...Ta pe putu'ẽngatuté irã... pe îemokane'õ ré... - Haveis de bem recobrar o fôlego no futuro, após vos cansardes. (Ar., Cat., 170)
kaûĩaîa2 (ou kaûĩiaîa) (etim. - cauim azedo) (s.) - vinagre (VLB, II, 145)
ku'a2 (s.) - cintura (Castilho, Nomes, 31): Xe ku'aî arekó. - Tenho-o na cintura. (VLB, I, 74); ...Nde rapixara ku'a îubana... - Abraçando a cintura de teu companheiro. (Anch., Doutr. Cristã, II, 96-97); Enhonong nde itaîngapema nde ku'aî. - Põe tua espada na tua cintura. (Fig., Arte, 125)
kuapaba (ou kugûapaba) (etim. - instrumento de reconhecimento) (s.) - sinal, marca (como das caixas, das vacas, etc.): i kuapaba - as marcas delas (VLB, II, 32)
mani'yba (ou mandi'yba) (etim. - pé de mani) (s.) - MANIBA, MANIVA, outro nome para a variedade de mandioca Manihot esculenta Crantz (D'Abbeville, Histoire, 229v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 65)
mba'e8 (ou ma'e) (s.) - mantimento (VLB, II, 31)
mimbypysara (ou mimbysara) (etim. - o soprador de instrumento de sopro) (s.) - gaiteiro (VLB, I, 146)
mogûeb (v.tr.) - apagar, extinguir: Emogûeb tatá. - Apaga o fogo. (Léry, Histoire, 367)
momboî1 (v.tr.) - ameçar, intimidar: Îandé rokesỹ memẽ Anhanga, îandé momboîa. - Toma-nos a dianteira sempre o diabo, ameaçando-nos. (Anch., Poemas, 186); Aîmomboî-katu. - Ameaço-o muito. (VLB, II, 16); Omarãmonhã-monhanga, oîmomboî abá akanga. - Ficando eles a fazer guerras, ameaçam as cabeças dos índios. (Anch., Teatro, 152) ● momboîtara - o que ameaça, ameaçador (Anch., Teatro, 156); momboîsaba (ou momboîtaba) - tempo, lugar, modo, etc. de ameaçar; ameaça...: Te'õ a'e mendasareté momboîsabamo. - A morte é a ameaça daqueles que se casam verdadeiramente. (Ar., Cat., 94v); Kó nde momboîtaba kó! - Eis tua ameaça aqui! (Anch., Teatro, 76)
mongaturõ1 (ou mongatyrõ) (etim. - tornar bom, enfim) (v.tr.) - pôr ordem em, ordenar, arranjar (VLB, I, 33), arrumar (o que se desmanchou): Aîtapuîmongaturõ xe sy. - Arrumei a choupana à minha mãe. (Fig., Arte, 88); Xe 'anga mongaturõmo... - Para pôr ordem em minha alma. (Anch., 100); Sekó omongaturõ îandé rekó-poxypûera. - Sua lei pôs ordem em nossa antiga vida má. (Anch., Poemas, 184)
morekar (ou moreká) (xe) (etim. - buscar gente) (v. da 2ª classe) - buscar sexo, buscar companhia: Xe-te, xe rembiá-potá sabeypora amõ resé: kunhã ri i moreká. - Eu, em vez disso, quero presas em alguns bêbados: com as mulheres eles buscam sexo. (Anch., Teatro, 148)
moytarõ (v.tr.) - saciar, satisfazer, fartar (Anch., Arte, 39): Îé, aîpó xe moytarõ... - Sim, esses me satisfazem. (Anch., Teatro, 60) ● i moytarõmbyra - o que é (ou deve ser) saciado, satisfeito: A'eba'e i moytarõmbyramo sekóûne. - Aqueles serão saciados. (Ar., Cat., 19)
nhemombe'u2 (ou îemombe'u) (etim. - o declarar-se) (s.) - confissão (Ar., Cat., 17v): Oîkobé îemombe'u, mosanga mûeîrabyîara. - Existe a confissão, remédio portador de cura. (Anch., Teatro, 38)
nhemongetá2 (ou îemongetá) (etim. - conversar consigo mesmo): (v. intr.) - pensar, refletir, devanear: Nd'ei te'e, o py'a pupé oîemongetá-ngetábo, Tupã momburukatûabo... - Por isso mesmo é que, em seus corações ficando a refletir, desafiam muito a Deus. (Anch., Teatro, 30); Oîkó kûepe mba'e resé nde ma'enduara... enhemongetábo ekupa? - Estava longe tua lembrança das coisas, estando a devanear? (Anch., Doutr. Cristã, II, 105)
pitigûara - o mesmo que potigûara (v.) (Anch., Arte, 1v)
poti'a (m) (s.) - peito (Castilho, Nomes, 34): Marãnamope asé o poti'ape i moíni? - Por que a gente a põe em seu próprio peito? (Ar., Cat., 21v); ...Amõ amõ o poti'a resé opûá-pûá... - Alguns ficavam batendo no peito. (Ar., Cat., 64) ● poti'a-aba - pêlos do peito (Castilho, Nomes, 34)
sosok (v.tr.) - socar continuamente; esbofetear: ...Setobapé sosoka. - Esbofeteando suas faces. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
supikatu2 (s.) - verdade, justiça: Supikatu i kuabypyra supé "aan nhẽ" o'îabo tenhẽ. - Dizendo não para a verdade conhecida. (Bettendorff, Compêndio, 16) ● supikatundûara - o que é verdade, o que é justo, o que é verdadeiro: ...Marana supikatundûaramo sekóreme é. - Quando a guerra for aquilo que é justo. (Ar., Cat., 103)
tekatunhẽ1 (adv.) - muito; muitíssimo: Gûy i katu-tekatunhẽ kaûĩtatá. - Oh! É muito bom o aguardente! (D'Evreux, Viagem, 364); Aîmomba'eté-tekatunhẽ. - Honrei-o muitíssimo. (VLB, I, 113)
tinga2 (s.) - coisa enjoativa, coisa que enfastia (Anch., Arte, 14; Fig., Arte, 77); enjôo; (adj.: ting) - enjoativo: I ting xe remi'u. - É enjoativa minha comida (VLB, I, 135); I ting pirá ixébo. - O peixe é-me enjoativo. (VLB, I, 115)
NOTA - No P.B., o verbo TINGUIJAR pode também significar ser envenenado pelo tingui: "O peixe tinguijou".
Tupã2 (s. antrop.) - 1) entidade que faz chover ou trovejar (Thevet, Les Sing. de la France Antart., 52v); 2) nome pelo qual os missionários e os índios cristianizados designavam a Deus (D'Abbeville, Histoire, 65): Arekó Tupã xe îopupé. - Tenho a Deus dentro de mim. (Fig., Arte, 81); Pedro t'oîmonhyrõ Tupã o îoupé... - Pedro há de aplacar a Deus para si. (Fig., Arte, 81)
una'uûasu (ou yna'yûasu) (etim. - unau grande) (s.) - var. de preguiça, mamífero desdentado da família dos bradipodídeos (D'Abbeville, Histoire, 252)
ûyrapara (ou ybyrapara) (etim. - pau torto) (s.) - URAPARÁ, arco de madeira vermelha ou preta, de cordas de algodão bem trançadas, utilizado pelos índios como arma (D'Abbeville, Histoire, 288v)
NOTA - Daí, o nome BARTIRA, a mulher de João Ramalho, personagem da história quinhentista de São Paulo de Piratininga.
ybyraba (s.) - árvore lecitidácea (Eschweilera ovata (Cambess.) Miers) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 136)
ybysó (t) (s.) - boa produtividade, bom rendimento; [adj.: ybysó (r, s)] - produtivo, de bom rendimento (p.ex., terra) (VLB, I, 144)
ybysopuku (t) (s.) - boa produtividade, bom rendimento; (adj.: ybysopuku (r, s)] - produtivo, de bom rendimento (p.ex., terra) (VLB, I, 144)
ygegûasu (ou ygeûasu) (t) (etim. - barriga grande) (s.) - 1) estômago; bucho (Castilho, Nomes, 40); 2) barriga (D'Evreux, Viagem, 159)
ypyó (s.) - grande quantidade, multidão; (adj.) - numerosos: Oré ypyó (ou Oré ypyó nhẽ). - Nós somos numerosos. (VLB, I, 81; II, 12)
Biguatinga (MG). De migûá + ting + -a: biguás claros.
Caratinga (MG). De akará + ting + -a: carás claros, var. de peixes.
Cotindiba, Ilha (MA). De akuti + -'ĩ + tyba: ajuntamento de cutiazinhas.
Guiratinga (MT). De gûyrá + ting + -a: aves brancas, garças.
Ibiratinga (PE). De ybyrá + ting + -a: árvore branca, pau branco. "Pelo decreto-lei estadual nº 235, de 09-12-1938, o município passou a ser grafado Sirinhaém e o distrito de Pau Branco passou a denominar-se Ibiratinga." (fonte: IBGE)
Ipatinga (MG). De upaba + ting + -a: lagoa clara.
Itapetingui (BA). De itá + piting/a + 'y: rio das pedras pintalgadas.
Upatininga (PE). De upaba + tining + -a: lagoa seca.
carta - papera (port.); kûatiara
repartir - moîa'ok ● repartir em pedaços - pyse'ong; pese'õ
akûeîme (adv.) - outrora, antigamente, há tempos, naquela época, naquele tempo, nesse tempo, então: Aîmomburu akûeîme tupinambá. - Ameacei, outrora, os tupinambás. (Anch., Teatro, 132); Akûeîme aîkotebẽ, xe rekopoxy purûabo. - Antigamente eu estava aflito, praticando meus vícios. (Anch., Poemas, 130); Akûeîme kó tabygûara xe pó gûyrybo sekóû. - Antigamente estes habitantes da aldeia sob minhas mãos estavam. (Anch., Teatro, 126); N'i tyb-angáî setãmbûera. Opá... akûeîme n'i poretáî. - Não existem mais absolutamente suas antigas terras. Todas, há tempos, não contêm muita coisa. (Anch., Teatro, 52) ● akûeîme bé (ou akûeîmengatutenhẽ) - então, naquele mesmo tempo (VLB, I, 118)
'amopira (s.) - prepúcio (Castilho, Nomes, 28); (adj. - 'amopir) (xe) - ter prepúcio: Na xe 'amopiri. - Eu não tenho prepúcio (isto é, eu sou circuncidado). (VLB, I, 74)
apixaba (s.) - ferimento; cutilada (geralmente na cabeça): Peteumẽ pe poxyramo angiré, t'okanhẽ pe rekopûera: marã 'é, îoapixaba, marandûera. - Guardai-vos de serdes maus doravante, para que desapareça vossa lei antiga: dizer maldades, ferimentos mútuos, antigas guerras. (Anch., Teatro, 54) ● apixapaba - tempo, lugar, modo, etc. de ferir; cutilada; ferida (VLB, I, 88)
NOTA - Daí, no P.B., IGARATIM (ygar + atĩ, "canoa pontuda"), var. de canoa indígena. Daí, também, o nome geográfico ITATINS (MT) (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B., TUBI, TIBI, TUVI (pop.), ânus; TUVIRA, peixe gimnotídeo com orifício anal localizado sob a cabeça.
eîkûara (t) (s.) - 1) ânus (Castilho, Nomes, 38), sesso; 2) nádegas (VLB, II, 84)
endybaaba (ou enybaaba) (t) (etim. - pêlos do queixo) (s.) - barba (Castilho, Nomes, 39): xe rendybaá-tinga - minha barba branca (VLB, I, 65); [adj.: endybaab (r, s)] - barbado; (xe) ter barba: Xe rendybaá-îub. - Eu tenho barba ruiva. (VLB, II, 109) ● sendybaá-îuba'e - o que tem barba ruiva (VLB, II, 109); tendybaaba rerekoara - o que tem barba; o barbudo (D'Evreux, Viagem, 158)
enõîndaba (ou enõîtaba) (t) (etim. - meio de chamar) (s.) - designativo; nome: Ixé Saûîaetá. Serapûã xe renõîndaba. - Eu sou Sauiaetá. Famoso é meu nome. (Anch., Poemas, 156); Esenõî nde reté renõîndabetá ixébe. - Nomeia os muitos designativos de teu corpo para mim. (Léry, Histoire, 364)
erokaba (t) (s.) - nome de batismo: Marãpe nde rerokaba abaré reminongûera? - Qual o teu nome de batismo que o padre pôs? (Anch., Teatro, 168, 2006)
eteté (adv.) - demais, muitíssimo: Aîaby-eteté xe monhangara... nhe'enga mã...! - Ah, transgredi muitíssimo as palavras de meu criador! (Ar., Cat., 85v)
gûang (-îo- ou -nho-) (v.tr.) - tingir com urucu: Moraseîa é i katu, îegûaka,... îetymã-gûanga... - A dança é que é boa, enfeitar-se, tingir-se as pernas com urucu. (Anch., Teatro, 6); Aîpy-gûang. - Tinjo-lhe os pés (com urucu). (VLB, I, 32)
gûetitoroba - o mesmo que gûititoroba (v.) (Piso, De Med. Bras., IV, 183)
gûitikorõîa - o mesmo que gûetikorõîa (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 114; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 92)
guti - o mesmo que gûeti (v.) (Sousa, Trat. Descr., 194)
gûyrapunga (ou gûyraponga) (etim. - pássaro que bate, que percute) (s.) - ARAPONGA, IRAPONGA, GUIRAPONGA, nome comum a pássaros da família dos cotingídeos, também conhecidos com o nome de ferreiro e ferrador. Seu canto parece os sons metálicos do bater de ferro em bigorna. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 201; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 149-150)
îasanãgûasu (ou îasanãûasu) (etim. - jaçanã grande) (s.) - nome aplicado a várias aves aquáticas distintas (Piso, De Med. Bras., 154; Griebe, Brasil Holandês, vol. III, 79)
îepokuab (ou îepokugûab) (etim. - conhecer-se a mão) (v. intr.) - acostumar-se, estar em seu natural: N'aîepokuabi. - Não me acostumei. (VLB, II, 47)
îepykixûera (s.) - pessoa vingativa (VLB, II, 145); (adj.: îepykixûer): Xe îepykixûer. - Eu sou vingativo. (VLB, II, 146)
kûatimondi - o mesmo que kûatimundé (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 228)
kunhãmuku (ou kunhãmbuku) (etim. - mulher alta) (s.) - moça “de 15 a 25 anos” (D'Evreux, Viagem, 136): Kunhãmuku taba pora xe py'a pupé anhomim... - As moças habitantes das aldeias escondo-as em meu coração. (Anch., Teatro, 150); Nd'e'i te'e kunumĩgûasu... oîkébo memẽ kagûápe, a'epe kunhãmuku repenhana... - Por isso mesmo os moços entram sempre no lugar de beber cauim, ali atacando as moças. (Anch., Teatro, 34)
kunumĩgûasu (ou kunumĩûasu) (etim. - menino grande) (s.) - 1) rapaz, moço, adolescente; mancebo (VLB, II, 30): ...Kunumĩgûasu, apŷaba, kunhãmuku, xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Os moços, os homens, as moças, a todos bem os tenho em minhas mãos como meus súditos. (Anch., Teatro, 34); A'epe kunumĩgûasu kunhã... oîmomosemba'e...? - E os rapazes que perseguem mulheres? (Anch., Teatro, 36); ...Karaibebé îepîakukari i xupé kunumĩgûasu-porãngaturamo nhẽ. - O anjo revelou-se a ela como um rapaz muito belo. (Ar., Cat., 31); 2) adolescência, juventude (de 15 a 25 anos) (D'Evreux, Viagem, 130): I kunumĩûasureme se'õû. - Em sua adolescência morreu. (D'Evreux, Viagem, 131) ● kunumĩgûasu-kakuabamo - mancebo de pouca idade (VLB, II, 30)
kutimirĩ - o mesmo que akutimirĩ (v.) (Sousa, Trat. Descr., 252)
mandi'opuba (ou mani'opuba) (etim. - mandioca mole) (s.) - mandioca macerada e amolecida em água pelo espaço de quatro a cinco dias (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
marãba'e? (interr.) - de que tipo? que tipo? que espécie?: Marãba'e kunhãpe Santa Maria? - Que espécie de mulher é Santa Maria? (Ar., Cat., 30v); -Marãba'e? -Itá gûetépe. -De que tipo (são as casas)? -Inteiramente de pedra. (Léry, Histoire, 363); Marãba'e-p'iã ri? - De que espécie será que é isto? (ou Que será que é isto?) (Anch., Teatro, 162, 2006)
mba'ekugûaba (ou mba'ekuaba) (etim. - conhecimento das coisas) (s.) - saber (adquirido); (adj.: mba'ekugûab) - sábio: Xe mba'ekugûab. - Eu sou sábio. (VLB, II, 110)
menondera (s.) - ladra e prostituta (D'Evreux, Viagem, 126)
moîa'oîa'okaba (s.) - comunhão, partilha: Tupã resé marã o ekó o îoupé moîa'oîa'okaba... - A partilha entre si de suas obras por Deus. (Ar., Cat., 179)
momba'eté (ou momba'eeté) (etim. - tornar coisa muito boa) (v.tr.) - honrar, louvar, enaltecer, dignificar, cultuar, prezar (VLB, II, 86) (Referindo-se a coisas más, não se usa momba'eté, mas moeté - v.): ...Opabĩ kunhã sosé nde momba'etébo é. - Honrando-te mais que a todas as mulheres. (Anch., Poemas, 144); ...Opakatu karaíba xe momba'eté-katu. - Todos os cristãos honram-me muito. (Anch., Poemas, 114); Aîmomba'eté nde roka, i pupé gûiporaseîa. - Honro tua casa, dentro dela dançando. (Anch., Poemas, 170); ...I kangûerĩ tiruã momba'etéû... - Até mesmo seus ossinhos cultua. (Ar., Cat., 12v) ● i momba'etepyra - o que é (ou deve ser) honrado, louvado, etc.: 'Ara i momba'etepyra pupé missa rendupa... - Ouvindo missa nos dias que devem ser honrados. (Ar., Cat., 75v); emimomba'eté - o que alguém honra, louva, dignifica, etc.: Nde 'anga Tupã remimomba'eté me'enga anhanga pé... - Entregando tua alma, que Deus dignifica, para o diabo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
moupixûar (v.tr.) - tornar feiticeiro, fazer ser feiticeiro: Ereîmoupixûarype paîé, serobîá...? - Fizeste o pajé ser feiticeiro, acreditando nele? (Anch., Doutr. Cristã, II, 78)
muru'apora (ou muru'abora) (etim. - carregada de feto) (s.) - grávida, gestante: - A'epe muru'apora membyrasy kakara na nheangûaba bé ruã? - E a aproximação do parto de uma grávida não é também motivo de se ter medo? (Ar., Cat., 91); -Abá bépe n'oîabyî oîekuakube'yma? -Muru'apora... -Quem também não o transgride, não jejuando? -As grávidas. (Ar., Cat., 77v)
nhemoapapub (ou nhemoapapu) (etim. - fazer-se todo mole) (v. intr.) - amolecer, abrandar-se: ..."T'onhemomembek, t'onhemoapapu." - ..."Que se enfraqueça, que amoleça." (Ar., Cat., 11)
nhemoîasuka (ou îemoîasuka) (etim. - o fazer-se lavar) (s.) - batismo: Ereîpotápe... nde nhemoîasuka? - Queres teu batismo? (Ar., Cat., 118v)
nhemoîasuk (ou nhemoîasyk) (etim. - fazer-se lavar) (v. intr.) - batizar-se (Bettendorff, Compêndio, 113): ...A'eboé Tupã ra'yramo anhemoingó re'a, gûinhemoîasukuká... - Muito a propósito comportei-me como filho de Deus, fazendo-me batizar. (Ar., Cat., 169)
nhemoputun (ou nhemopytun) (etim. - fazer-se escuro) (v. intr.) - eclipsar-se; escurecer-se (p.ex., o sol, o tempo, etc.) (VLB, I, 71; 108): Kuarasy onhemoputun... - O sol eclipsa-se. (Ar., Cat., 159v)
nhemoryryîa (ou îemoryryîa) (etim. - o fazer-se tremer) (s.) - interesse, envolvimento, cuidado: ...Tupã rekó resé nhemoryryîa - interesse pela lei de Deus (Ar., Cat., 18)
nhemote'õ'a (ou nhemotegûá) (etim. - fazer cair a morte em si) (v. intr.) - 1) desfalecer: Onhemote'õ'a moxy... - Desfaleceram os maus. (Anch., Teatro, 136); 2) ficar impotente, ficar atônito, ficar sem interesse: Erenhemote'õ'ape nde remirekó supé, i amotare'yma nhẽ? - Ficaste impotente diante de tua esposa, detestando-a? (Ar., Cat., 235-236)
pirapu'ã (ou pirapu'ama) (etim. - peixe erguido) (s.) - baleia, nome genérico dos grandes cetáceos da família dos balenídeos (Sousa, Trat. Descr., 275)
pokyram (v.tr.) - excitar, estimular: ...nde rapixara ku'a îubana, nde poropotá-pokyramamo - abraçando a cintura de teu companheiro, estimulando teu desejo sensual (Anch., Doutr. Cristã, II, 96-97)
poreaûsubok (ou poraûsubok) (etim. - arrancar a aflição; tirar a miséria) (v.tr.) - compadecer-se de: Eporeaûsubok xe 'anga - Compadece-te de minha alma. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., 1618) ● poreaûsubokara - o que se compadece: îandé poreaûsubokara - os que se compadecem de nós (Léry, Histoire, 356)
puru'ã2 (m) (s.) - umbigo (Castilho, Nomes, 34) ● puru'ã-sama - cordão umbilical (Castilho, Nomes, 34); puru'ã-apyra - a ponta do umbigo (Castilho, Nomes, 35); puru'ã kûara - o buraco do umbigo (Castilho, Nomes, 35); puru'ã-pora - umbigo saltado, o que sai muito fora por falta das parteiras (Castilho, Nomes, 35)
putusok (ou pytusok) (xe) (etim. - bater o fôlego) (v. da 2ª classe) - perder o fôlego, perder o alento, acalmar-se (p.ex., o vento) (VLB, I, 19): Akó Îagûanharõ îá i nharõ; n'i pytusoki. - Aquele Jaguanharõ está bravo como de costume; não perde o alento. (Anch., Teatro, 154)
NOTA - Daí, no P.B., CAAPITIÚ (planta de pitiú), arvoreta da família das monimiáceas, que exala forte odor. Daí, também, o nome geográfico BITIÚ (MA) (v. p. 386).
reriapỹîa (ou reriapynha) (etim. - ostra de argola) (s.) - nome comum a crustáceos cirrípodos, frequentes no território brasileiro, da família dos lepadídeos e dos balanídeos, que aderem a substratos sólidos (p.ex., madeira). Aparecem debaixo do costado dos navios ou nos rochedos e também nas carapaças das tartarugas e na casca dos crustáceos decápodos. (VLB, I, 85; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188)
sugûasueté (ou sygûasueté) (etim. - veado verdadeiro) (s.) - var. de veado, mamífero da família dos cervídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 235)
taramîarana (s.) - TAMEARANA, URTIGA-TAMEARANA, trepadeira da família das euforbiáceas (Dalechampia scandens L.) (VLB, II, 59)
temapara (s.) - TEMAPARA, réptil lacertílio da família dos iguanídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 237)
tu'ĩ (s.) - TUIM, TUIETÊ, TIÚ, TUIUTI, o menor periquito do Brasil, pássaro da família dos psitacídeos, que vive em grandes bandos que atacam as plantações (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206; Sousa, Trat. Descr., 231)
ybyrakûatiara - o mesmo que kûatiara2 (v.) (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, IV, cap. xxxviii)
Arapoti (PR). De ará + epoti: fezes de arás. Arapoti foi cacique de uma tribo tupi catequizada pelos jesuítas e que constituiu a redução de São Francisco Xavier, às margens do Rio Tibagi. (fonte: IBGE).
Bitiú (rio do MA). De pyti'u - cheiro de peixe fresco (VLB, I, 73)
Capetinga (MG). De kapi'i + ting + -a: capim claro, var. de gramínea que só medra à sombra das matas.
Curuatinga (PA). De keîruá + ting + -a: curuás claros.
Cururutinga (BA). De kururu + ting + -a: sapos brancos.
Jacaretinga (AM). De îakaré + ting + -a: jacaré claro, jacaré do Amazonas e do Parnaíba, de focinho mais comprido que largo.
Patipe (rio da BA). De pati, var. de palmeira + 'y + -pe: no rio dos patis.
Pirapetinga (MG). De pirá + piting + -a: peixes pintados.
Pirapitingui (SP). De pirá + piting/a + 'y: rio dos peixes pintados.
Potengi (rio do RN). De po + îy: rio dos camarões.
Poti (rio do PI). De po: camarões.
Putiri (rio do ES). De potiry - aves anatídeas.
Tuiutinga (MG). De tuîuka + tinga: tejuco claro.
_____Léxico, Produção e Criatividade. Processos de Neologismo. 2.ª ed. Ed. Global, São Paulo, 1981.
estalar (intr.) - pok; puruk; tirik
NOTA - Daí no P.B (AM), ABATINGA ("cabelos brancos"), pessoa velha, pessoa encanecida; ABATIRÁ ('aba + tyrá, "cabelos arrepiados"), nome de um antigo grupo indígena de Porto Seguro).
abatiputá (s.) - JABUTAPITÁ, BATIPUTÁ, o mesmo que aîabutipytá (v.) (Brandão, Diálogos, 202)
agûarakyîa (ou agûarakynha) (etim. - pimenta de aguará) (s.) - AGUARAQUIÁ, pequena erva cosmopolita, da família das solanáceas (relacionadas a Solanum americanum L.), de pequenas flores alvas e diminutos frutos negros. O nome aguaraquinha também designa o Heliotropium elongatum Hoffm. ex Roem. & Schult., uma borraginácea. A primeira também é conhecida como caraxixu, araxixu, erva-de-bicho, erva-moura, maria-preta, maria-pretinha, pimenta-de-galinha. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 55; VLB, I, 121; Piso, De Med. Bras., IV, 198)
aîabutipytá (s.) - JABUTAPITÁ, BATIPUTÁ, arbusto da família das ocnáceas [Ouratea parviflora (DC.) Baill.], "do comprimento de cinco, seis palmos; é como amêndoa e preta e assim é o azeite que estimam muito e se untam com ele em suas enfermidades." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 43). Esse óleo é a chamada manteiga de batiputá, usada na medicina popular.
akó2 (t) (s.) - virilha (Castilho, Nomes, 37) ● akó-a'ynha (t) - íngua na virilha (VLB, II, 12)
api'a'ỹnha (t) - grãos dos testículos (VLB, I, 150)
ebokûe'ĩ (adv.) - ei-lo aí pertinho, eis aí pertinho (VLB, I, 109)
ebokûeté'ĩ (adv.) - ei-lo aí pertinho, eis que aí pertinho: Ebokûeté'ĩ turi. - Eis que aí pertinho vem. (VLB, I, 109)
ekotenhẽ (ou ekotenhẽa) (t) (etim. - estar à toa) (s.) - ociosidade (VLB, II, 54; 140); preguiça, vadiagem, mândria (VLB, II, 108); [adj.: ekotenhẽ (r, s)] - ocioso, vadio, preguiçoso: Abá-ekotenhẽ ixé. - Eu sou um homem vadio. (VLB, II, 140)
enangupy (t) (s.) - quadril (Castilho, Nomes, 39)
-i1 (ou -î) (posp. de sentido partitivo. Expressa parte de um lugar ou parte do corpo.) - em: ...i akangusuî... - nas grandes cabeças deles (Anch., Teatro, 48); ...O aîuri serekóbo. - Tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v); ku'aî - na cintura (Anch., Arte, 41v)
îambugûasu (ou inambugûasu) (etim. - inhambu grande) (s.) - nome de uma ave da família dos tinamídeos (D'Abbeville, Histoire, 237)
îeku'apûar (ou îekugûapûar) (etim. - amarrar-se a cintura) (v. intr.) - cingir-se: Aîeku'apûar. - Cingi-me. (VLB, I, 74)
ikoangaîpab / ekoangaîpab(a) (t) (etim. - agir de alma má) (v. intr. irreg.) - pecar: Karaíba, ipó, n'oîkoangaîpá-pyrybi. - Os cristãos, na verdade, não pecam pouco. (Anch., Teatro, 20)
ka'asyka2 - o mesmo que ka'atîá (v.) (Piso, De Med. Bras., IV, 196)
kama (s.) - mama, teta (Castilho, Nomes, 31), seio (de mulher ou de homem) (VLB, II, 29); úbere (VLB, II, 139): Endé, nde îybápe, Îesu eresupi i poîa-mirĩ nde kama pupé. - Tu, em teus braços, Jesus ergueste para alimentá-lo um pouco em teu seio. (Anch., Poemas, 118); Nde rorype... nde kama abá sungáreme? - Tu te comprazes quando um homem apalpa teus seios? (Ar., Cat., 234) ● kamapûá - ponta, bico de seio (Castilho, Nomes, 31); kama pora (ou kambora) - o que está no seio, o conteúdo do seio (Anch., Arte, 31v)
katutenhẽ (adv.) - 1) muito, muitíssimo, bastante, bem, muito mesmo: Aîpotá-katutenhẽ opabĩ taba mondyka. - Quero muito mesmo todas as aldeias destruir. (Anch., Teatro, 12); 2) nem mesmo, ainda que: ...Marãpe... nd'ereîase'o-mirĩngatutenhẽ-motari...? - Por que não queres chorar nem mesmo um pouquinho? (Ar., Cat., 157)
komandagûasu (ou komandaûasu) (etim. - comandá grande) (s.) - 1) fava (Fig., Arte, 140; Léry, Histoire, 333, 1994; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 200): -Ma'epe ereîpotar? -Îetyka, komandaûasu... - Que queres? - Batata-doce, favas. (Léry, Histoire, 347); komandagûasu-tyba - faval, plantação de favas (VLB, I, 135); 2) feijão (VLB, I, 136)
kuapamoín (ou kugûapamoín) (etim. - colocar meio de reconhecer) (v.tr.) - assinalar, marcar (VLB, I, 45)
kûe'ĩ (adv.) - ei-lo aí pertinho, eis aí pertinho (VLB, I, 109)
Mairumûana (ou Maíra-humane) (etim. - o antigo Maíra) (s. antrop.) - nome de personagem mítico dos primitivos índios tupis da costa (Staden, Viagem, 147)
morubixaba (ou mborubixaba) (etim. - chefe de gente) (s.) - 1) chefe tribal, MORUBIXABA, MURUMUXAUA, MURUXAUA, cacique: ...Apŷaba, morubixaba, kyre'ymbaba mondóbo xe retama pupé. - Homens, chefes e pessoas valentes enviando para minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Morubixaba tuîba'e onhe'eng memẽ i xupé... - Os chefes velhos falam sempre a eles. (Anch., Teatro, 34); ...mosapyr morubixaba - três chefes (Ar., Cat., 3); 2) príncipe; rei (Knivet, The Adm. Adv., 1208): Xe resy Lorẽ-ka'ẽ, xe morubixaba biã. - Assa-me o Lourenço tostado, embora eu seja um rei. (Anch., Teatro, 90); Morubixaba Anás seryba'e supé. - Para um príncipe que tinha nome Anás. (Ar., Cat., 55); 3) juiz: Morubixaba mondá îaînambi-'okukar... - O juiz mandou desorelhar o ladrão. (Anch., Arte, 36v); 4) governador; superior (Fig., Arte, 9); 5) senhor: Morubixaba, nde akanga omanõ? - Senhor, tua cabeça dói? (D'Abbéville, Histoire, 327)
mosugûaraîy (v.tr.) - tornar prostituta, fazer ser prostituta: Ereîmosugûaraîype nde rapixarĩ? - Fizeste tua companheira uma prostituta? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
nhy'ã (s.) - 1) coração (Castilho, Nomes, 35): Eîké kori xe nhy'ãme. - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Obok nde nhy'ã, saûsuba resé. - Rompeu-se teu coração, por amor a ele. (Anch., Poemas, 120); Asé sybápe cruz moíni asé nhy'ã 'arybo bé. - Em nossa testa põe a cruz e sobre nosso coração também. (Ar., Cat., 81); 2) entranhas: Itamina pupé iî yké kutuki, i nhy'ã moboka. - Com uma lança de ferro espetou seu flanco, estourando suas entranhas. (Ar., Cat., 64) ● nhy'ã-sama - fibras do coração (Castilho, Nomes, 35)
o'o (t) (s.) - 1) carne (Castilho, Nomes, 40): ...Og o'o remimotara rupi oîkó-potare'yma. - Não querendo proceder segundo a vontade de sua própria carne. (Ar., Cat., 27v); ...Eîmoasy nde angaîpagûera, to'o amõ 'u ré... - Arrepende-te de tuas maldades, após teres comido alguma carne (humana). (Ar., Cat., 118v); Nde ro'o xe moka'ẽ serã... - Tua carne será meu moquém. (Staden, Viagem, 157); 2) polpa (de fruta) (VLB, I, 67); cerne: ...mirra, mosanga to'o suí... - mirra, poção de polpa (Ar., Cat., 3); 3) corpo: O koty og o'o repyîagûama resé... - Para a aspersão de seu aposento e de seu próprio corpo. (Ar., Cat., 93)
pira (mb) (s.) - 1) pele (Castilho, Nomes, 30): Nd'e'i te'e a'ereme Îudeus sykyîatãmo, i pira abé reru... - Por isso mesmo, então, os judeus a puxaram fortemente, fazendo vir junto a pele dele também. (Ar., Cat., 62); Aîpi-kutuk. - Furo-lhe a pele. (Anch., Arte, 8); Aîpi-mondok. - Corto-lhe a pele. (Anch., Arte, 51); 2) casca (de fruta mole) (VLB, I, 68) ● pirûera - pele esfolada, fora da carne (VLB, II, 70); couro, PIRERA.
NOTA - Daí, no P.B., PIRAPITINGA ("peixe pintado"), nome de um peixe caracídeo; TIPITINGA (N.) (ty + piting + -a, "água pintada"), águas barrentas e esbranquiçadas de certos rios.
tapiti1 - o mesmo que tapeti1 (v.) (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 30)
tekokuaba (ou tekokugûaba) (etim. - conhecimento dos fatos) (s.) - prudência; sabedoria, entendimento, conhecimento, compreensão, juízo, saber natural [à diferença de mba'ekuaba (v.), que é o saber adquirido], instinto natural, razão. (Neste termo, o t- é forma fixa e não um prefixo de relação. Ele nunca é substituído por r- ou s-.): Xe tekokuaba opá amokanhem. - Meu entendimento todo fiz desaparecer. (Anch., Poemas, 106); (adj.: tekokuab ou tekokugûab) - ajuizado, entendido, que tem discernimento, prudente, sábio: abá-tekokugûá-katu - homem muito entendido (VLB, I, 48); (xe) saber, ser conhecedor (das coisas): Na xe tekokuabi. - Eu não sei (sou ignorante). (VLB, II, 48); Anhẽ, n'i tekokuabi... - Na verdade, não são conhecedores das coisas. (Anch., Teatro, 38)
tieimbu (s.) - variedade de TIÊ, pássaro da família dos traupídeos (Soares, Coisas Not. Brasil [ms .c], 1337-1347)
OBSERVAÇÃO - Pode formar vocativo com -p: xe rup!: Meu pai! (Anch., Arte, 8v)]
ybaka (s.) - céu (tb. no sentido de paraíso cristão): Ybaka suí ereîur... - Do céu vieste. (Anch., Poemas, 100); Ybaka rasapa, osó, nde reîá... - Atravessando o céu, foi, deixando-te. (Anch., Poemas, 124); Xe asó-potar ybakype sepîaka... - Eu quero ir para o céu para vê-los. (D'Abbeville, Histoire, 357v); (...) n'ikatuî ybaka; yby nhõ i katu (...) - Não é bom o céu; a terra, somente, é boa. (Bettendorff [1699], p. 318) ● ybakygûara - habitante do céu: Xe rarõana ybakygûara... - O que me guarda é o habitante do céu. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618)
NOTA - Daí, o nome do antigo quilombo de IVAPORUNDUVA, no Vale do Ribeira do Iguape (SP) (v. p. 386).
'ybapytanga (ou 'ubapytanga) (etim. - fruta avermelhada) (s.) - PITANGA, 1) árvore mirtácea Eugenia uniflora L.) de fruto avermelhado, também chamada PITANGUEIRA. Suas folhas são aromáticas e anti-reumáticas. 2) o fruto dessa árvore (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 109, 116; Piso, De Med. Bras., IV, 203; Brandão, Diálogos, 218; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 146; Lourenço, Carta [1554], in Leite, Cartas, II [1957], 43)
Coroara (MA). De Karûara, entidade sobrenatural da cosmologia dos antigos tupis da costa.
Iuruti (ig. do AM). De îeruti, aves columbídeas.
Maruiim (ig. do AM). Mesma etim. de Maruim (v.).
Saquarema (lagoa do RJ). De etimologia controvertida. "Correndo aq^la Costa p^a o Sul, junto a barra de Saquarema, acha-se hua lagôa d'agua turva, e vermelha..." (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa) [1765], p. 78). Talvez de sakurá - var. de caramujo (VLB, I, 66) + rem - fedorento + suf. -a: caramujos fedorentos.
Timbotéua (PA). Do nheengatu timbó + téua: ajuntamento de timbós.
encontrar - gûasem; basem; obaî (s)
mesmo - aé; é ● nem mesmo: tiruã
turvar (a água de) - mo'ypiting
ãîîuara (t) (s.) - gengivas (Castilho, Nomes, 38)
ãîmbira (t) (s.) - gengivas (Castilho, Nomes, 37)
atîãîa2 (t) (s.) - ponta; [adj.: atîãî (r, s)] - pontiagudo, pontudo, incisivo (p.ex., o raio solar); (xe) lançar raios, setas, pontas (p.ex., o sol, o ouriço-cacheiro, o porco espinho, etc.) (VLB, II, 95)
ebira1 (t) (s.) 1) nádegas (Castilho, Nomes, 38); traseira, anca de qualquer animal (VLB, II, 135): Sebira aîpetek. - Esbofeteei suas nádegas. (VLB, I, 21); Tapi'irebira - Traseira de Anta (antropônimo masculino) (D'Abbeville, Histoire, 184); 2) partes sexuais da mulher (Castilho, Nomes, 38)
endybagûyra (ou enybagûyra) (t) (etim. - parte inferior do queixo) (s.) - papo, papada (Castilho, Nomes, 39)
endypy'ã (t) (s.) - 1) joelho (Castilho, Nomes, 39); 2) nó (de cana, etc.) (VLB, II, 50) ● o endypy'ãe'ybo (ou o endypy'ãe'yîbo) - de joelhos: -Marãpe seni og uba mongetábo? -O endypy'ãe'ybo, ybype oîeaŷbyka. -Como estava orando a seu pai? -De joelhos, no chão reclinando a cabeça. (Ar., Cat., 52v); O endypy'ãe'yîbo aín. - Estou de joelhos. (VLB, I, 92)
eno- pref. da voz causativo-comitativa (v. ero-)
gûeba (s.) - GUEBO, peixe istioforídeo (Piso, De Med. Bras., 154)
îemopaîeangaíb (v. intr.) - fazer feitiçarias: ...Oporaseî pysaré, oîemopaîeangaípa... - Dançaram a noite toda, fazendo feitiçarias. (Anch., Teatro, 14)
îeroky3 (s.) - espécie de feiticeiro, "que dizem ser um anjo que veio do céu." (Rodrigues, Relação, in Leite, Novas Cartas Jesuíticas, 241)
îoakypûerekar (ou îoakypûereká) (etim. - buscar as pegadas) (v. intr.) - esquadrinhar todos os lugares, ir por toda a parte: Té, oîoakypûereká... îandébe. - Ah, esquadrinham todos os lugares por nós. (Léry, Histoire, 355)
karaimonhang (v. intr.) - fazer feitiços: Moraseîa é i katu, îegûaka, îemopyranga, ...karaimonhã-monhanga... - A dança é que é boa, enfeitar-se, avermelhar-se, ficar fazendo feitiços. (Anch., Teatro, 6)
NOTA - Daí, no P.B. (Amaz.), OITICOROIA ("oiti áspero"), árvore da família das rosáceas, de grandes folhas coriáceas, isto é, ásperas e grossas como o couro.
kote'ĩ (adv.) - eis aqui pertinho: Kote'ĩ turi kó. - Eis que aqui pertinho vem. (VLB, I, 109)
mbypete'ĩ (adv.) - por aqui pertinho, por aqui em alguma parte próxima (VLB, II, 81); aqui pertinho em algum lugar (VLB, I, 40); pertinho: Mbypeteĩ ipó ahẽ rekóû. - Pertinho certamente ele está. (VLB, II, 74)
moting1 (v.tr.) - 1) branquear, tingir de branco: Eîori xe 'anga reîa, i motinga... - Vem para lavar minha alma, branqueando-a. (Anch., Poemas, 170); 2) caiar (VLB, I, 62)
munduigûasu (ou mundubigûasu) (etim. - mundubi grande) (s.) - MUNDUÍ-GUAÇU (Jatropha curcas L.), planta euforbiácea, também denominada MANDUBI-GUAÇÚ, MANDUBI, pinhão-do-paraguai (Piso, De Med Bras., IV, 190)
murukuîagûasu (ou murukuîaûasu) (etim. - maracujá grande) (s.) - MARACUJÁ-AÇU, 1) nome que designa uma variedade de maracujá, planta trepadeira da família das passifloráceas (Passiflora quadrangularis L), com frutos enormes, bem como, de modo geral, todas as espécies de plantas do gênero Passiflora (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 70; Piso, De Med. Bras., IV, 197-198); 2) laranja: -Ma'epe ereîpotar? -...Îetyka, komandaûasu, komandá-mirĩ, murukuîaûasu, ma'e tiruã. -Que queres? -Batata-doce, favas grandes, feijões, laranjas, quaisquer coisas. (Léry, Histoire, 347)
obasem (ou obasẽ) (r, s) (xe) (etim. - cara saída) (v. da 2ª classe) - aparecer, dar a cara: Abápe ké sobasẽ...? - Quem aqui dá a cara? (Anch., Teatro, 138)
opé1 (t) (s.) - pálpebra (Castilho, Nomes, 40); topé-pira - pele da pálpebra (Castilho, Nomes, 40; D'Evreux, Viagem, 158)
pitinga (m) (s.) - pinta; (adj.: piting - pintado, pintalgado): gûyrá-pitinga - ave pintada, nome de uma ave (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 139)
NOTA - Daí, no P.B., PIRIQUITI, nome de uma erva canácea.
raka'e (adv.) - 1) outrora, antigamente:... raka'e 'ara nhemonhang'iré... - antigamente, após a criação do mundo (Ar., Cat., 84); 2) (Expressa o imperfeito do indicativo.): Ixé raka'e. - Era eu. (VLB, I, 121); Oroîo'u raka'e. - Comíamo-nos uns aos outros. (D'Abbeville, Histoire, 341v)
sûasuapara (ou sûgûasuapara) (etim. - veado arqueado) (s.) - SUAÇUAPARA, SUÇUAPARA, AÇUÇUAPARA, veado-galheiro, quadrúpede ruminante da família dos cervídeos. É uma espécie de veado que habita as campinas. (Sousa, Trat. Descr., 246; D'Abbeville, Histoire, 249)
Tagûypytanga (s.) - nome de uma entidade da mitologia dos antigos índios tupis da costa do Brasil [Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 676-683]
tapy'yîuna (ou tapy'yînhuna) (etim. - tapuia negro) (s.) - homem negro; escravo africano (VLB, II, 49), TAPANHUNO, TAPANHUNA.
-te3 (part.) - como (no sentido de quão intensamente, quão grandemente): Aîpotá-te kûé kunhã-mendara mã! - Ah, como desejo aquela mulher casada! (Anch., Doutr. Cristã, II, 101); Xe moaîu-te i nema mã! - Ah, como me importuna o fedor dele! (Anch., Teatro, 8)
typy'asyka (s.) - bolo feito de tipioku'i (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
ûyratinga - o mesmo que gûyratinga (v.)
ybyraŷsanga (s.) - maça, clava (do tipo aimoré): -Mba'e-mba'epe i popesûaramo? -Mimuku-katupabẽ... ybyraŷsanga... -Que (havia) como suas armas? -Muitas lanças, maças... (Ar., Cat., 54; VLB, II, 64)
Ora, Anchieta não "santificou" a língua guarani, pois ela era falada no Paraguai e não no Brasil. O grande gramático do guarani antigo foi o Padre Montoya e não Anchieta...
Abaremandoava (cachoeira do rio Tietê, SP). De abaré - + ma'enduar + -aba: lembrança do padre. É uma referência a um episódio da vida do padre José de Anchieta: "[...] tem várias cachoeiras, e algumas perigosas, e entre elas um salto Abaremanduaba, por cair nele o venerável Padre José de Anchieta, e ser achado dos índios debaixo da água rezando no Breviário." (desconhecido [n.d.], Cartografia das Monções dos Séculos XVII E XVIII, 118).
Acutianga (ilha do AM). De akuti + 'anga: abrigo das cutias.
Araru (rio do PA). Mesma etimologia de Arari (v.).
Canguera (cachoeira do rio Tietê, SP). De kanga + -ûer + suf. -a: ossos velhos, esqueleto.
Cotejuba (ilha do PA). De akuti + îub + -a: cutias amarelas.
Imburuçu (rib. de GO). Mesma etim. de Imbiruçu (v.).
Inambu (AM). De îambu, aves tinamídeas.
Inhanduva (rio do RS). Mesma etim. de Inhanduba (v.).
Paratiji (rio da BA). De parati - peixes mugilídeos + îy - rio: rio dos paratis.
Tabatinguera (rua de SP). De tabatinga + -ûer + -a: barreiro extinto.
Tapessirica (rio de PE). Mesma etim. de Itapecirica (v.).
Tapiti (rio do AP). De tapeti (ou tapiti), coelhos-do-mato.
Tijipió (PE). De teiú - teju, tiú, nome genérico para os lagartos + ypyó - grande quantidade, multidão (VLB, I, 81): multidão de tejus.
Una, Rio (PE). Em tupi antigo é preto, escuro. Durante a fase de emprego da língua geral, foi comum o uso de adjetivos tupis com substantivos portugueses: Monte Piranga, Rio Una, etc.
agûeá1 (s.) - dente molar (Castilho, Nomes, 28)
ama'ytinga - o mesmo que amba'ytinga (v.)
anhapopûera (ou anhypypûera) (t) (etim. - o que foi base de dente) (s.) - pedaço, resto de dente que fica na gengiva após ele apodrecer ou quebrar ao ser arrancado; arnela (VLB, I, 41)
anyîuakanga (s.) - ANIJUAGANGA, réptil lacertílio iguanídeo que vive em árvores (Sousa, Trat. Descr., 264)
asy'ab (v.tr.) - dividir, repartir, cortar, partir (p.ex., com faca); segar (como o arroz) (VLB, II, 114): Oîopytera rupi aîasy'ab. - Parti-o pelo meio. (VLB, II, 73); Asykûera aîasy'ab. - Cortei um pedaço. (VLB, II, 66, 123)
etun (s) (v.tr.) - cheirar, sentir o cheiro de: mba'e retuna... - cheirando as coisas (Ar., Cat., 92); Asetun. - Cheirei-o. (VLB, I, 73)
îasuk (v. intr.) - lavar-se; batizar-se: Aîasuk. - Lavo-me. (Fig., Arte, 102) ● oîasukyba'e - o que se batiza (VLB, I, 53); i moîasukypyra - o batizado; o cristão; moîasukaba - tempo, lugar, modo, etc. de se lavar, de se batizar (VLB, II, 76)
îybaypya'ỹîa (ou îybaypya'ynha) (etim. - semente da base do braço) (s.) - bucho do braço, polpa do braço, a parte mais grossa e carnuda dele, do cotovelo até o ombro (Castilho, Nomes, 32; VLB, II, 17)
kakuabe'yma (ou kakugûabe'yma) (etim. - a que não se conduz bem) (s.) - prostituta (VLB, II, 90); mulher ruim (VLB, II, 27)
karagûatanema (ou karagûatarema) (etim. - caraguatá fedorento) (s.) - babosa, planta liliácea (VLB, I, 121)
mindu'u (s.) - o mordido, o mastigado [o mesmo que emindu'u (t) - v. su'u] (Anch., Arte, 4)
momiaûsub (v.tr.) - escravizar, cativar ● i momiaûsubypyra - o escravizado, o cativo: I momiaûsubypyra renosema. - Resgatar os cativos. (Ar., Cat., 18v)
mosykyîe'yma (ou mosykyîee'yma) (etim. - sem afabilidade) (s.) - severidade (VLB, II, 117); crueza, crueldade (VLB, I, 86)
nipó [contração das partículas ne e ipó (v.)] - 1) porventura, talvez, por acaso: Oîepé-ĩombé, nipó, i angaîpab amõme é. - Um ou outro, porventura, foi mau, às vezes. (Anch., Teatro, 36); Yby anhẽ nipó asé ro'o? - Porventura é terra, na verdade, a nossa carne? (Anch., Doutr. Cristã, I, 161); Osó nipó? - Vai, por acaso? (VLB, II, 82); 2) com certeza, realmente: Memẽ-te nipó, pe 'anga amotá... - Mas sempre, com certeza, a vossas almas querem bem. (Anch., Teatro, 54); Satãngatu-te nipó... - Eles são, realmente, muito fortes. (Anch., Teatro, 144, 2006)
nhemoangekoaíb (ou îemoangekoaíb) (etim. - fazer-se estar mal a alma) (v. intr. compl. posp.) - molestar-se; entristecer-se, afligir-se (VLB, II, 40), lastimar-se [por algo: compl. com a posp. esé (r, s)]: ...O apixara mba'e-katu rerekó moasŷabo, sesé onhemoangekoaípa. - Tendo inveja por seu próximo ter coisas boas, entristecendo-se por isso. (Ar., Cat., 109v); Taûîé pe poreaûsubagûama rapirõmo, peîemoangekoaíb peína. - Pranteai logo vossa miséria, estai a vos lastimar. (Ar., Cat., 165-165v)
pekuabe'eng (ou pekugûabe'eng) (etim. - dar a conhecer o caminho) (v. intr. compl. posp.) - guiar, mostrar o caminho (a alguém: compl. com a posp. supé): Apekuabe'eng (abá) supé. - Mostro o caminho para os homens (VLB, I, 152, adapt.) ● pekugûabe'engara - o que mostra o caminho; o que guia (VLB, I, 152)
py'a (mb) (s.) - 1) fígado (Castilho, Nomes, 30): I py'apûera xe potabamo t'oîkó. - Seus fígados hão de ser minha porção. (Anch., Teatro, 64); 2) entranhas, estômago (Léry, Histoire, 365); 3) coração (no sentido de sede dos sentimentos. O fígado era considerado pelos índios tupis a sede das emoções e dos sentimentos.): Omboasy-katu o angaîpaba o py'ape. - Arrepende-se muito de seus pecados em seu coração. (Ar., Cat., 24); 4) interior, íntimo do ser: ...Xe nhy'ãme t'ereîké, xe py'a moingatûabo. - Que entres em meu coração, guardando meu interior. (Anch., Poemas, 130); 5) mente (sede da consciência) ● xe py'ape (ou xe py'ape-katu ou xe py'ape nhote) - cá comigo, em minha mente, por vontade (VLB, II, 13; 36); comigo mesmo, interiormente, de coração (VLB, I, 91): Îé t'asóne xe mondoápe. Memeté ixé, xe py'ape, emonã tekó potá... - Hei de ir para onde me mandam. Mesmo porque eu, por vontade, assim quero fazer... (Anch., Teatro, 22); "Our temõ mã!", a'é xe py'ape. - Disse em meu coração: - Ah, oxalá ele venha! (VLB, II, 72)
pytá3 (m) (s.) - calcanhar (Castilho, Nomes, 36): Aîpytá-pûar. - Amarrei-lhe os calcanhares. (VLB, I, 46)
ranhẽ1 (adv.) - ainda (na negativa e na interrogativa, com o verbo auxiliar 'i / 'é): Nd'a'éî saûsupa ranhẽ. - Não o amo ainda. (Anch., Arte, 56); Nd'eréîpe esóbo ranhẽ? - Não foste ainda? (Fig., Arte, 144); Nd'a'éî gûixóbo ranhẽ. - Ainda não vou. (Fig., Arte, 162); Nd'eréîpe mba'e monhanga ranhẽ? - Ainda não fizeste nada? (Fig., Arte, 162)
tining2 (v. intr.) - sofrer de tísica, de héctica (VLB, I, 131)
upaba2 (t, t) (s.) - carreta de tiro (peça de artilharia) (VLB, II, 101)
ybyrarerekoara (ou ybyraerekoara) (etim. - guardião da cerca de moirões) (s.) - 1) alcaide (VLB, I, 29); 2) governador, governante: Pilatos ybyrarerekoara supé i popûasaba resebé serasóû. - Levaram-no, com suas ataduras, para Pilatos, o governador. (Ar., Cat., 58); 3) juiz (VLB, II, 16)
Buiuçu (ig. do PA). A mesma etim. de Buiçu (v.).
Caguaçu (córr. do MT). Mesma etim. de Caaguaçu (v.).
Cajaíba, Ponta (RJ). A mesma etim. de Acajaíba (v.).
Cresciúma, Córrego (SP). Mesma etim. de Criciúma (v.).
Guapiara (Cajamar, SP). Mesma etim. de Grupiara (v.).
Inajatuba (ilha de RR). Mesma etim. de Indaiatuba (v.).
Itinguçu (rio de SP). De 'y + ting + -ûasu: rio muito claro.
Poraquê (ilha do PA). Mesma etimologia de Piraquê (v.)
Ubaporanga (MG). Nome adotado artificialmente no séc. XX: de u'ubá + porang + -a: belas canas ubás.
Upanema, Ponta (RN). A mesma etim. de Ipanema (v.).
'ab - (v.tr. irreg.; no indicativo é usado somente com objeto incorporado): abrir; cortar, rachar, fender, talhar: Aybyrá-'ab. - Corto madeira. (Fig., Arte, 145); Ayby-'ab. - Abro a terra. (Fig., Arte, 145); Aî'ybab. - Cortei o pé dela (isto é, da parreira, da mandioca, etc.). (VLB, I, 83); Aîasy-'ab. - Cortei um pedaço dela. (VLB, I, 83); Morubixaba ybyragûype ahẽ sóû ybyrá 'apa. - Para a coutada do rei ele foi para cortar madeira. (VLB, II, 141) ● 'apaba - tempo, lugar, modo, etc. de abrir, de rachar; abertura, rachadura, corte: yby 'apaba - rachadura da terra; cava, cova, buraco, vala, fosso, barreiros (VLB, I, 69)
ABARÉ (padre) (quadro de Portinari)
aîurupy2 (s.) - pé (de árvore frutífera) (VLB, II, 68)
aîyka (t) (s.) - veia, nervo (Castilho, Nomes, 38); [adj.: aîyk (r, s)] - fibroso, (xe) ter fibras ou nervos (p.ex., a carne ou a vara que, por mais que a dobrem, não quebra): Xe raîy-raîyk. - Eu sou fibroso. (VLB, II, 49)
ameresyma (s.) - espécie de lagartixa, pequeno lagarto da família dos teídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 238; VLB, II, 17)
apepokumã (s.) - PICUMÃ, PUCUMÃ, TATICUMÃ, fuligem (da chaminé, das labaredas de fogo, etc.) (VLB, I, 138)
arakuí (s. etnôn.) - nome de antigo grupo indígena tapuia do norte do Brasil (D'Abbeville, Histoire, 189)
endyapytaîyka (ou enyapytaîyka) (t) (etim. - saliva dura) (s.) - fleugma (VLB, I, 143)
NOTA - Daí, no P.B., GUIRAREPOTI (fezes de passarinho), erva-de-passarinho, nome comum a diversas plantas lorantáceas, parasitas de árvores, cujas sementes são ali colocadas pelos pássaros. Daí, também, o nome geográfico ARAPOTI (PR) (v. p. 386).
eté1 (t) (s.) - 1) verdade, legitimidade; 2) excelência; 3) normalidade; [adj.: eté (r, s)] - 1) verdadeiro, legítimo, autêntico, genuíno: Tupã rendabeté, Tupã raîyra. - Verdadeira estância de Deus, filha de Deus. (Anch., Poemas, 88); T'orosaûsu îandé ruba, îandé monhangareté. - Que amemos nosso pai, nosso verdadeiro criador. (Anch., Teatro, 120); 2) muito bom; excelente, ótimo; fino; enorme, fora do comum, a valer: Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); ka'aeté - mata ótima, de boa madeira (Anch., Cartas, 460); ybyrá-eté - madeira fina, ótima (Anch., Cartas, 460); 3) normal: kunhãeté - mulher normal (isto é, que nunca foi escrava) (VLB, I, 142); karaibeté - cristão normal (isto é, o que não é missionário; leigo) (VLB, II, 20); 4) mais, maior, melhor: Turusueté - Ele é maior. I porangeté - Ele é mais bonito. (VLB, II, 35); Ixé xe katueté. - Eu sou melhor. (VLB, II, 35); (adv.) - muito, bastante; verdadeiramente, de fato: Sekó-te i poxyeté... - Mas sua vida é muito má. (Anch., Teatro, 28); Aûîé; xe rorybeté. - Basta; eu estou muito contente. (Anch., Teatro, 128); 'Arangaturameté... - Dia muito bom. (Anch., Poemas, 94); Adão, oré rubypy, oré mokanhemeté... - Adão, nosso primeiro pai, fez-nos perder verdadeiramente. (Anch., Poemas, 130); Té oureté kybõ Reriûasu mã! - Ah, veio de fato para cá o Ostra Grande! (Léry, Histoire, 341) ● eté-eté (r, s) (adj.) - imenso, grandioso: Tupã myatã-eté-eté... - a imensa força de Deus (Bettendorff, Compêndio, 62); (adv.) - demais, muitíssimo: O'u-eté-eté ahẽ mba'e. - Ele comeu demais aquela coisa. (VLB, II, 118); etekatu - muitíssimo, demais: Xe moaîu-marangatu, xe moŷrõ-etekatûabo, aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me bem, irritando-me muitíssimo, aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); Asé ra'angetekatu... Anhanga...? - Tenta-nos demais o diabo? (Ar., Cat., 92v); eté nhẽ - muito; muito bem (VLB, II, 44); eté'ĩ - muito, verdadeiramente: Xe angaîpabeté'ĩ ra'u mã! - Ah, eu fui muito pecador! (Anch., Doutr. Cristã, I, 195); eté'ĩ ...mã! - ó, como me alegro! graças a Deus!: Our-eté'ĩ xe ruba mã! - Graças a Deus meu pai veio! (VLB, II, 54)
îakuruîu (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
îetu'u (v. intr.) - acamar-se, estirar-se; deitar-se - Gûyrá-sapukaîa îabé ereîetu'u... - Como um galo te deitas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111); Aîetu'u. - Estiro-me. (VLB, I, 29)
inaîagûasu (ou inaîagûasu'yba) (etim. - inajá grande) (s.) - 1) coqueiro-da-bahia, árvore da família das palmáceas (Cocos nucifera L.); 2) o fruto dessa árvore, também chamado coco-da-bahia (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 138; Piso, De Med. Bras., IV, 182): inaîagûasu apepûera - casca de coco (Ar., Cat., 353)
kamaragûã (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
karakuîu (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
kurupy'a (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
kurusá (s. - portug.) - cruz: O ati'yba ri kurusá osupi. - No seu próprio ombro levanta a cruz. (Anch., Poemas, 122); Kurusá xe pópe sekóreme... t'our é Îurupari... - Se a cruz estiver em minhas mãos, que venha o Jurupari. (D'Abbeville, Histoire, 357)
moesagûyryb (v.tr.) - enjoar; dar vertigens a (VLB, I, 117)
nambi1 (s.) - orelha, NAMBI (Castilho, Nomes, 35): ...i nambi mondoka. - ...arrancando sua orelha. (Ar., Cat., 54v); Anambi-kutuk. - Furo orelhas. (Anch., Arte, 50); nambi-asyka - orelha cortada; coisa mocha ou sem orelhas (VLB, II, 39); Xe nambi-asyk. - Eu tenho as orelhas cortadas. (VLB, II, 58); nambi-xoré - orelhas caídas (VLB, II, 58); nambigûasu (ou mba'e-nambigûasu) - orelhudo (VLB, II, 59); nambie'yma - o sem-orelhas, coisa mocha (VLB, II, 39)
nhamombykob (v. intr.) - entre os potiguaras era fazer feitiço com massa chamada îekyegûasu (v.), para pessoas a quem se queria mal, para que morressem (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 279)
opyá (r, s) (s.) - parede, repartição de casa (VLB, II, 101)
panakuîu (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
NOTA - Por seu próprio sentido, a posposição -PE (em, para, a) acompanha muitos nomes de lugares em tupi, como, p.ex., JAGUARIBE (îagûar + 'y + -pe, "no rio das onças"). Pode parecer estranho um lugar chamar-se "No Rio das Onças", mas o emprego de -PE com topônimos é uma característica dessa língua e de explicação não muito clara. Alguns dos inúmeros nomes próprios de origem tupi que terminam em -PE ou -BE no Brasil são: PERUÍBE, BEBERIBE, JACUÍPE, MERUÍPE, PIRAGIBE, CAPIBARIBE, SERGIPE, COTEGIPE, IGUAPE, MAPENDIPE, etc.
pinakuîu (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
piragûayagûy (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
pirakuîu (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 126)
piriîu (s. etnôn.) - nome de antiga nação indígena (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 127)
NOTA - Daí provêm, no P.B., MUTIRÃO (ou MUTIRUM, MUXIRÃO, MUXIRÃ, MUXIROM, MUQUIRÃO, PUTIRÃO, PUTIROM, PUTIRUM, PIXURUM, PONXIRÃO, PUNXIRÃO, PUXIRUM, MUTIROM), que é o auxílio gratuito que prestam uns aos outros os membros de uma determinada comunidade, reunindo-se todos em proveito de um de seus membros e trabalhando em grupo para ele, que deve oferecer, no final, uma refeição e bebida aos trabalhadores.
pynõ1 / epynõ (t) (v. intr.) - emitir ventosidade, peidar: Apynõ. - Peido. (Anch., Arte, 58); sepynõneme - quando ele peida (Anch., Arte, 58) ● pynõsara - o que peida (Fig., Arte, 63); pynõsaba - tempo, lugar, modo, etc. de peidar (Fig., Arte, 63)
ukar (v.tr.) - 1) fazer (no sentido de obrigar): ...Aîuká-ukar îagûara Pedro supé. - Fiz a Pedro matar uma onça. (Fig., Arte, 146); Aîe'apin-ukar. - Fiz-me rapar a cabeça. (Fig., Arte, 146); Aporombo'e-ukar Pedro supé. - Faço a Pedro ensinar gente. (Fig., Arte, 146); Abá-abápe Tupã rera oîmoeté-ukar? - Quem faz louvar o nome de Deus? (Ar., Cat., 26v); 2) mandar: ...Eîmoîar-ukar ybyraîoasaba resé... - Manda pregá-lo na cruz... (Ar., Cat., 60v); Ema'enãngatu xe ri, xe mbo'are'ymuká. - Vela bem por mim, mandando que não me façam cair. (Anch., Poemas, 142); Aîuká-ukar. - Mando matá-lo. (VLB, II, 30); 3) deixar: Arasó-ukar. - Deixo-o levar. (VLB, I, 92) ● ukasara - o que manda, o que faz fazer algo, o mandante: ...i îuká-ukasara... - o que manda matá-lo (Ar., Cat., 279, 1686); ukasaba (ou ukaraba) - tempo, lugar, modo, etc. de mandar, de fazer alguém fazer; o ato de mandar: Pitanga mokõî ro'y omoaûîeba'e mombab-ukaragûera 'ara îaîmoeté ko'yr... - Agora comemoramos o dia em que mandou eliminar as crianças que completavam dois anos. (Ar., Cat., 139, 1686)
yby1 (s.) - 1) terra a) (no sentido de mundo, região, pátria): Yby îar, nde angaturameté erimba'e... - Senhor da terra, tu foste muito bondoso. (D'Abbeville, Histoire, 341v); ...Asé i angaîpaba'e ipó ikó ybype Tupã remimotara n'oîmonhangi. - Os que, de nós, são maus são os que não fazem nesta terra a vontade de Deus. (Ar., Cat., 27); ...Our kó xe yby supa rimba'e. - Veio para visitar esta minha terra outrora. (Ar., Cat., 9v); b) (no sentido de solo, matéria rochosa decomposta): Ere'upe yby? - Comeste terra? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); yby-pytanga - terra avermelhada, barro (VLB, I, 52); yby-oka - casa de terra (Anch., Teatro, 184, 2006); 2) chão: Sugûy turusu... ybype osyryka... - Seu sangue era muito, no chão escorrendo. (Anch., Poemas, 120); O'ar ybype. - Caiu no chão. (VLB, I, 72); 3) terra firme (em oposição a mar): Opá ybaka ereîmopó, paranã, yby abé. - Todo o céu preenches, o mar e a terra firme também. (Anch., Poemas, 128) ● mba'e ybybondûara - coisa que costuma estar no chão (Fig., Arte, 139); ybype - em baixo, na lájea (VLB, I, 110)
As palavras do tupi antigo que originaram nomes próprios no Brasil serão apresentadas no interior dos verbetes abaixo tal como se acham no dicionário tupi-português. Assim, dispensamo-nos de traduzi-las sempre, podendo o consulente ali procurá-las, se o desejar. Se citarmos palavras do nheengatu ou das línguas gerais coloniais, elas serão escritas em itálico ou com asterisco *quando forem hipotéticas e conhecidas somente por sua presença no léxico do português do Brasil.
Barueri (SP). Talvez a mesma etimologia de Bariri (v.).
Botovi (rio de MT). A mesma etimologia de Batovi (v.).
Buquira (rio de SP). A mesma etim. de Boquira (v.).
Cambu (rio do PA). A mesma etimologia de Camu (v.).
Camburiú (rio de SP). A mesma etim. de Camboriú (v).
Caratuva (rio do PR). A mesma etim. de Caratuba (v.).
Cauvi (rio de SP). A mesma etimologia de Caubi (v.).
Coriaí (rio do PA). A mesma etimologia de Coreaú (v.).
Curimataí (rio de MG). A mesma etimologia de Corumbataí (v.).
Curimataú (rio do PA). A mesma etimologia de Curimataí (v.).
Curuçu, Arroio (RS). A mesma etim. de Curuçá (v.).
Groatá (rib. de GO). A mesma etim. de Caraguatá (v.).
Guaratuba (rio de SP). A mesma etim. de Guaratiba (v.).
Ibicuitinga (CE). De yby + ku'i + ting + -a: areia branca. Nome atribuído artificialmente na década de quarenta ao distrito cearense de Areia Branca, no município de Morada Nova (CE).
Inhatium, Banhado do (RS). De îati'ũ - inseto culicídeo.
Itapetininga (SP). De itá + peb/a + tining/a + -a: pedra achatada seca, laje seca.
Itaquaquecetuba (SP). "(...) Os Jezuitas q̃. tiveraõ Sempre o maior Cuidado em possuir Indios, deraõ Origem as Aldeas de Carapucuyba Mboy, Itapecirica, Taquaquecetyba, e S. Joze (...)." (Joze Arouche de Toledo Rendon [1802], p. 92). De takûara + kysé + tyba: ajuntamento de taquara-faca: "Há também o taquaquicé, que quer dizer taquara de faca, porque, rachadas, ficam com gume como faca, de sorte que dão golpes penetrantes, e por esse respeito o gentio delas usam [...]" (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 784)
Itariru (rio de SP). A mesma etimologia de Itareru (v.).
Jandiá (rio do PA). A mesma etimologia de Jundiá (v.).
Japaratinga (AL). De 'y + apar/a + ting/a + -a: japara branca (v. Japara).
Javari (rio do AM). A mesma etimologia de Jauari (v.).
Jundaí (rio de SP). A mesma etimologia de Jundiaí (v.).
Juqui (rio do AM). A mesma etimologia de Jequi (v.).
Majé (RJ). De maîé: pajé, feiticeiro indígena.
Marituba (rio de AL). A mesma etimologia de Umarituba (v.)
Maroim (rio da BA). A mesma etimologia de Maruim (v.).
Muritipucu (serra do PA). De meriti + puku: meritis compridos.
Oiti, Riacho do (PE). De gûeti, nome de uma árvore.
Paxuíba (rio do AM). A mesma etim. de Paxiúba (v.).
Pequeri (rio de MT). A mesma etimologia de Piqueri (v.).
Piriqui (rio do PR). A mesma etim. de Piraquê (v.).
Putuna (rio do PR). A mesma etimologia de Pituna (v.).
Taboco (rio do MT). A mesma etim. de Tabocas (v.).
Taquaru (rio de SP). A mesma etim. de Taquari (v.).
Tatajiba (rio do RS). A mesma etim. de Tatajuba (v.).
Tijuco (rib. de SP). A mesma etimologia de Tijuca (v.). "...é de barro, ou tijuco, que assim se chama por cá, é de não dificultosa subida." (Caetano da Costa Matoso [1749], Diário da Jornada que fez o ouvidor Caetano da Costa Matoso..., p. 895).
BARBOSA, A.L., Curso de Tupi Antigo. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1956.
lombriga - sapoaîobaîa; teîkûatatina
NOTA - Daí provêm, no P.B., ABATIAPÉ ("milho de casca"), variedade de arroz encontrado em estado silvestre nas margens dos lagos amazônicos, arroz-bravo; ABATIGUERA (abati + pûer + -a, "milho que foi"), milharal já colhido e extinto, roça depois de efetuada a colheita; BATUERA, BATUEIRA (abati + pûer + -a, "milho que foi"), sabugo de milho; BATITÉ (ou CATETE ou CATETO) (abati + eté, "milho muito bom"), certa espécie de milho miúdo.
NOTA - Daí, no P.B. (SE), os adjetivos ACAJIBADO e ACAJIPADO, significando deformado pelo uso; envelhecido. (in Dicion. Caldas Aulete)
'ar6 (v. intr. compl. posp.) - atinar, compreender [complemento com esé (r, s)]: A'ar ko'yté aîpó resé. - Atinei, enfim, com isso. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277)
Arikonta (s. antrop.) - nome de entidade mitológica dos antigos tupis da costa (Thevet, Cosm. Univ., 914v)
atapyĩ'ok (s) - espevitar (o fogo, tirar a pevide, o morrão às velas ou candieiros para darem luz mais clara): Asatapyĩ'ok. - Espevitei-o. (VLB, I, 126)
erekomarã (v.tr.) - 1) maltratar, castigar (ferindo, espancando, isto é, com atos. Para maltratar com palavras ou doutra maneira, v. erekomemûã ou erekoaíb.): Arekomarã. - Maltrato-o. (VLB, I, 68); 2) punir: Arekomarã. - Puni-o. (VLB, II, 90)
esé (r, s) (posp.) - 1) com [sentido de companhia, levando o verbo para o plural]: Nde resé memẽ oroîkó... - Contigo sempre estou. (Anch., Poemas, 84); N'ereîkuabipe ko'yr te'õ nde resé sekó? - Não sabes que agora a morte está contigo? (D'Abbeville, Histoire, 350); Mba'e-py'aûpîara kaûĩaîasy resé i monani... - Uma coisa amarga com vinagre misturaram. (Ar., Cat., 63v); Sesé orosó. - Vou com ele. (Anch., Arte, 44v); Penheŷnhang pabẽ sesé! - Ajuntai-vos todos com eles! (Anch., Teatro, 60); 2) a respeito de, de: ...Sesé oma'enduaramo. - A respeito dele lembrando-se. (Ar., Cat., 22); Ma'e resé îandé mongetáû? - A respeito de quê conversamos? (Léry, Histoire, 358); 3) em (em sentido locativo não geográfico): Tupana resé aîkó. - Vivo em Deus. (Fig., Arte, 166); ...Xe aé aporomoingó moropotara resé. - Eu mesmo pus gente no desejo sensual. (Anch., Teatro, 36); atuá resé - na nuca (Fig., Arte, 126); Sesé i moîarypyramo omanõmo... - Nela (isto é, na cruz) morrendo crucificado. (Ar., Cat., 22); Enhonong nde itaingapema nde ku'a resé. - Põe tua espada na tua cintura. (Fig., Arte, 125-126); 4) em (em sentido temporal): Putuna amõ resé... - Numa certa noite... (Ar., Cat., 7); 5) na pessoa de: Na xe ra'y-potari nde resé. - Não quero meu filho na tua pessoa (isto é, não te quero ter por filho). (Fig., Arte, 124); Xe rembiá-potá sabeypora amõ resé... - Eu quero presas nas pessoas de alguns bêbados. (Anch., Teatro, 150, 2006); 6) por; por causa de [às vezes com um deverbal em -sab(a)]: Abápe asé resé Tupã mongetasara sekóû? - Quem é a que fala a Deus por nós? (Ar., Cat., 23); Eîerok moxy resé ta nde rerapûãngatu. - Arranca-te o nome por causa dos malditos, para que sejas muito famoso. (Anch., Teatro, 46); Aîeruré aoba resé Pedro supé. - Peço a Pedro por roupa. (Anch., Arte, 44); ...Mba'e-asy porarábo Tupana resé... - Suportando as coisas dolorosas por causa de Deus. (Anch., Teatro, 120); Oromoeté-katu... nde xe pysyrõagûera resé. - Louvo-te muito por me teres salvado. (Ar., Cat., 87v); 7) para [com o sentido de finalidade; às vezes com um deverbal em -sab(a)]: Tupã... moeteagûama resé. - Para honrar a Deus. (Ar., Cat., 24); Ne emongetá nde Tupã t'okûab é amanusu îandé momarane'yma resé. - Roga a teu Deus para que passe a tempestade para não nos arruinar. (Staden, Viagem, 66); 8) contra: Aîtyk nhe'enga sesé. - Lanço palavras contra ele. (Anch., Arte, 44v); Quatro tekoangaîpaba ybaka resé oposẽ-posemba'e. - Quatro são os pecados que ficam bradando contra os céus. (Bettendorff, Compêndio, 17); 9) de (de posse, pertença), destinado a, tocante a, cabível a: Xe resendûara ebokûea. - Isso é o que é destinado a mim. (VLB, II, 74, 129); 10) no encalço de, atrás de (a perseguir, a importunar): Xe resé-katu ahẽ rekóû. - Fulano está muito atrás de mim (isto é, fica no meu encalço, a importunar-me). (VLB, II, 74); So'o resé aîkó. - Estou atrás de caça. (VLB, II, 41) ● mba'e resé? - por quê? (VLB, II, 82); mba'erama resé? - 1) por quê? (referente a algo posterior a um determinado marco temporal): Mba'erama resépe Tupã i me'engi asébe? - Por que Deus os deu para a gente? (Ar., Cat., 23v); 2) para quê?: -Mba'erama resépe Tupã semirekorama monhangi? -I pytybõsarama resé... - Para que Deus criou a esposa dele? -Para sua futura ajudante... (Ar., Cat., 48); mba'e-resémo? - por que seria que? por que razão haveria de? (VLB, II, 82)
karũîé (s.) - CARUNJE, árvore nativa semelhante ao loureiro "...nas folhas, na casca e no cheiro..." (Sousa, Trat. Descr., 220)
kuapamoindaba (ou kugûapamoindaba) (etim. - instrumento de colocar um meio de reconhecer) - marca, ferrete (para gado, para escravos): i kuapamoindaba - seu ferrete (VLB, II, 32)
kub (v. intr.) - estar (em sentido geral. Usa-se apenas no plural, quando não se sabe ou não se tem interesse em se definir a posição em que está o sujeito.): Mokõnhõ... kó taba pupé sekóû, oîepysyrõmo okupa. - Poucos nesta aldeia moram, estando a salvar-se. (Anch., Teatro, 16); Oîkó kûepe mba'e resé nde ma'enduara,... enhemongetábo ekupa? - Estava longe tua lembrança das coisas, estando a conversar contigo mesmo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 105); Orokub ikó. - Eis que aqui nós estamos. (VLB, I, 128); ...Nde membyramo orokupa... - Como teus filhos estando nós. (Anch., Poemas, 148)
mbo- prefixo da voz causativa, alomorfe de mo- (v.)
obapytymabok (ou obapytymbabok) (s) (etim. - arrancar a cobertura) (v.tr.) - destapar, abrir (p.ex., buraco, caixa) (VLB, I, 101)
pûã (m) (s.) - dedo da mão (Castilho, Nomes, 34) ● pûã-îepotasaba (m) - as juntas dos dedos das mãos (Castilho, Nomes, 34); pûã-mirĩ (m) - dedo mínimo da mão, dedo mindinho (Castilho, Nomes, 34); pûã-myterybyrixûara (m) - dedo anular da mão (Castilho, Nomes, 34); pûã-mytera (ou pûã-mbytera) (m) - dedo médio da mão (Castilho, Nomes, 34); pûãgûasu (m) - dedo polegar da mão (Castilho, Nomes, 34); pûã-kytaba (m) - sinais dos dedos das mãos, impressões digitais (Castilho, Nomes, 34); pûã-kytã (m) - os nós dos dedos das mãos (Castilho, Nomes, 34); pûãbe'engaba (m) - dedo indicador da mão (Castilho, Nomes, 36); pûãpyra (m) - pontas dos dedos das mãos (Castilho, Nomes, 34)
punaru (s.) - PUNARU, peixe marítimo da família dos blenídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 165)
ruî - forma do modo indicativo circunstancial do v. îub / ub(a) (t, t) (v.)
syî1 (v. intr.) - 1) tremer, sentir arrepios; estremecer: Mokõîbé osyî kori, xe repîaka rupibéne. - Ambos tremerão hoje, assim que me virem. (Anch., Teatro, 18); Ybytu îabé osunung, î abaeté suí osyîa. - Como o vento zune, tremendo por causa de sua bravura. (Anch., Poemas, 190); Asy-syî. - Fiquei estremecendo. (VLB, I, 130); 2) espantar-se; sobressaltar-se (VLB, II, 119)
taîtetu (s.) - TATETO, CATETO, CAITITU, CAITATU, CAITETU, TAITITU, porco do mato pequeno, mamífero da família dos taiaçuídeos (Tayassu tajacu L.) (VLB, II, 82)
Tamendonara (s. antrop.) - nome de entidade mitológica dos antigos tupis da costa (Thevet, Cosm. Univ., 914v)
Taúba (s. antrop.) - nome de entidade da cosmologia dos antigos índios tupis habitantes da costa do Brasil (VLB, I, 102)
tekokuabe'yma (ou tekokugûabe'yma) (etim. - falta de conhecimento dos fatos) (s.) - 1) ignorância (VLB, II, 8); falta de entendimento; parvoíce (VLB, II, 48); 2) o ignorante, o bruto, o que não sabe nada; o sem juízo, o desatinado (VLB, I, 60) (Neste termo, o t é forma fixa e não um prefixo de relação. Ele nunca é substituído por r- ou s-.); (adj.: tekokuabe'ym ou tekokugûabe'ym) - ignorante, desatinado, parvo: abá-tekokuabe'yma. - homem ignorante (VLB, II, 8); nhe'ẽ-tekokugûabe'yma - palavras desatinadas (VLB, I, 96); O tekokuabe'ymamo nhẽ emonã xe rerekóû... - Sendo ignorantes, sem mais, assim me tratam. (Ar., Cat., 63); abá-tekokuabe'ymusu - homem parvoeirão, ignorantão (VLB, II, 66) ● i tekokuabe'ymba'e - o que é ignorante: I tekokuabe'ymba'e motekokuaba. - Instruir os que são ignorantes. (Ar., Cat., 18v)
u'uba2 (r, s) (s. fig.) - pênis (Castilho, Nomes, 41)
Boiaçu (ilha do PA). A mesma etimologia de Boaçu (v.).
Cajuuba (ilha do PA). A mesma etim. de Cajuba (v.).
Capiau (ilha do AM). A mesma etim. de Capuava (v.).
Cipotuba (ilha do PA). A mesma etim. de Sepotuba (v.).
Ecatu (SP). Nome atribuído artificialmente, no século XX. Do verbo tupi 'ikatu / 'ekatu - poder, nominalizado: poder, força.
Envira (ilha do AM). A mesma etimologia de Imbira (v).
Guajuru, Furo do (PA). A mesma etim. de Guajeru (v.).
Iaciara (GO). Nome atribuído artificialmente no ano de 1887. É termo de língua geral, provindo, talvez, de îeîsara: juçara, var. de palmeira.
Ibarama (RS). Nome atribuído artificialmente no ano de 1945. De 'yba + ama (t), corruptela de etama (t), usado no nheengatu (Stradelli, p. 657): região de árvores.
Igaci (AL). Nome atribuído artificialmente em 1904 à localidade de Olho D` Água do Acioli. Quis-se verter olho d'água para o tupi e pôs-se o nome Igaci, que significa, na verdade, água ruim ['y + asy (r, s)]. Cremos que se tentou homenagear o antigo povoador Acioli.
Iguatama (MG). Nome atribuído artificialmente em 1943 a partir das palavras tupis 'y + kûá + etama (t): terra da enseada do rio, para se referir a um remanso do rio São Francisco. (fonte: IBGE)
Imbaúba (córr. de MT). A mesma etim. de embaúba (v.).
Ipeúna (SP). Nome atribuído artificialmente em 1944, significando ipê escuro. A palavra ipê, por sua vez, deve provir das línguas gerais coloniais. A primeira datação conhecida é de 1765 (in Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa, p. 221).
Ipiaú (BA). Nome atribuído artificialmente em 1944 ao município de Rio Novo, desmembrado de Jequié. Em tupi antigo seria Ipiçaçu ('y - rio + pysasu - novo). A forma Ipiaú é do guarani.
Ipuã (SP). Nome atribuído artificialmente em 1944 ao distrito de Olho d'Água. A bem dizer, isso seria, em legítimo tupi clássico, Icuara (de 'y + kûara).
Irauçuba (CE). Nome atribuído artificialmente em 1899: "A partir de junho de 1899, o desembargador Álvaro de Alencar, de acordo com o povo, conseguiu mudar o topônimo para Irauçuba, que na língua indígena significa "amizade". (fonte: IBGE). Na verdade, o nome correto deveria ser Ioauçuba (VLB, I, 34).
Irecê (BA). Nome atribuído artificialmente em 1896. "É um nome indígena, dado pelo Tupinólogo Teodoro Sampaio, em substituição ao nome Carahybas. Irecê significa "pela água, à tona d'água, à mercê da corrente." (fonte: IBGE). Nome incorreto: em tupi antigo, "pela água" é 'y rupi e não 'y resé.
Itaiçaba (CE). Nome atribuído artificialmente em 1938: "Cortado pelo Rio Jaguaribe, num imenso vale, surgiu o lugarejo Passagem das Pedras, onde se situa Itaiçaba." (fonte: IBGE). De itá + asab + -a: passagem das pedras.
Itambaracá (PR). Nome atribuído artificialmente em 1943 (fonte: IBGE). De itá + maraká: chocalho de pedra. (v. Itamaracá)
Itamuri (MG). Nome atribuído artificialmente a um distrito de Muriaé (MG).
Itatiaiuçu (MG). De itá - pedra + atîaî (r, s) - pontudo, pontiagudo + suf. -ûasu: pedras muito pontudas.
Itobi (SP). Nome atribuído artificialmente em 1898: "Rio Verde passou a ser chamada Itobi, que, em tupi-guarani, significa água corrente verde ou rio verde." (fonte: IBGE). "Rio verde", em tupi antigo, é 'y-oby. A localidade deveria chamar-se, pois, Iobi e não Itobi.
Janduís (RN). Nome atribuído artificialmente em 1943 por decreto-lei estadual. De îandu2 + 'y: rio dos nhandus, ave reídea. (fonte: IBGE)
Meruim (ilha do PA). A mesma etim. de Maruim (v.).
Mumbuca (ilha do PA). A mesma etimologia de Mombuca (v.).
Murituba (ilha do PA). A mesma etim. de Muritiba (v.).
Pará (estado brasileiro, antigo nome dos rios Amazonas e São Francisco). De pará: rio (grande): "Esta gente multiplicou de maneira que tem senhoreado ao longo d'este rio de S. Francisco, a que o gentio chama o Pará (...). (Sousa, Trat. Descr., CLXXX). "Tem seu princípio esta terra, a respeito do que está hoje em dia povoado dos portuguêses, do Rio das Amazonas, por outro nome chamado o Pará (...)"(Brandão, Diálogos, I).
Quandu (cach. do AM). A mesma etim. de Gandu (v.).
Tijucussu (riacho da BA). Mesma etim. de Tijucuçu (v.).
Timbó, Santa Cruz do (SC). De timbó, nome genérico de algumas plantas entorpecentes.
Votuporanga (SP). Nome atribuído artificialmente em 1937, tomado da língua geral meridional: de votura* + poranga*: morro bonito. A etimologia "bons ares", corrente naquela cidade, não tem fundamento.
animal - (quadrúpede): so'o; (doméstico): mimbaba; temimbaba
apŷapagûama (s.) - antepassados, os antigos (VLB, I, 36)
aseoka (s.) - garganta, goela (Castilho, Nomes, 28): Aîaseó-kytĩ. - Cortei-lhe a garganta, degolei-o. (VLB, I, 92); Aîaseó-mondok. - Cortei-lhe a garganta. (VLB, I, 92); aseó-tininga - garganta seca; secura na garganta; Xe aseó-tining. - Eu tenho secura na garganta. (VLB, II, 114) ● aseó-kytã - nó da garganta (VLB, II, 50)
asu (s.) - 1) mão esquerda (Castilho, Nomes, 28); 2) a esquerda, o lado esquerdo: Aûîé i asu koty é i angaîpaba'epûera oîkóbone... - Enfim, à sua esquerda estando os que foram pecadores. (Ar., Cat., 161v)
NOTA - Daí, no P.B. (PE), MINGAUPITINGA, mingau de mandioca puba (in Dicion. Caldas Aulete) (v. tb. a nota de (e)mi-).
karukuoka (s.) - rato pequeno doméstico (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 229)
kuî (v. intr.) - 1) cair (no sentido de desprender-se, p.ex., a folha, o dente, o fruto, o cabelo, etc.): Okuî rakó amũme 'ybarambûera o 'yba suí 'ybotyramo oîkóbo bé. - Caem, às vezes, os que seriam os frutos das árvores, sendo ainda flores. (Ar., Cat., 157v); 2) nascer: Erenhemombe'upe nde memby-kuî îanondé? - Confessaste-te antes de nascer teu filho? (Anch., Doutr. Cristã, II, 84)
maniakaó (s.) - lombo interior (Castilho, Nomes, 33; VLB, II, 24)
monhang (v.tr.) - 1) fazer: a) no sentido de fabricar: Aîkó-monhang xe ruba. - Faço a roça de meu pai. (Fig., Arte, 87); Aîmonhang oka. - Fiz uma casa. Xe rokûama aîmonhang. - Faço minha futura casa. (VLB, I, 108); b) no sentido de causar, levar a: ...Ybakype îandé sorama monhanga... - Fazendo-nos ir para o céu. (Ar., Cat., 53, 1686); c) no sentido de criar, gerar: N'asé ruba ruã-tepe asé reté oîmonhang? - Mas não foi nosso pai que fez nosso corpo? (Ar., Cat., 25); d) no sentido de realizar, proceder, agir, cometer: ...Semimonhangûera îamonhangyne. - Faremos o que ele fez. (Ar., Cat., 122, 1686); e) no sentido de proferir: ...Opakatu abá sóû ladainhas monhanga... - Todas as pessoas vão fazendo as ladainhas. (Ar., Cat., 126); 2) transformar (com a posp. -ramo): Mba'epe erimba'e oîmonhang 'aramo? - Que transformou outrora em mundo? (isto é, de que fez o mundo?) (Anch., Doutr. Cristã, I, 159); ...'Y anhẽ monhangi kaûĩnamo... - A água transformou em vinho. (Ar., Cat., 12); Aîmonhang itá pindáramo. - Transformo o ferro em anzol. (Anch., Arte, 43v); So'o ragûera aobamo îaîmonhang. - A lã em roupa transformamos (isto é, da lã fazemos roupa). (VLB, I, 136); 3) urdir, maquinar: ...E'i mo'ema monhanga... - Mostram-se a urdir mentiras. (Anch., Teatro, 36); 4) modelar, dar forma, tender (os pães, a partir de uma massa) (VLB, II, 126) ● monhangara - o que faz (Fig., Arte, 120); criador, autor, causador (VLB, I, 48): ...O monhangaramo nde rekó kuapa... - Reconhecendo que tu és o seu próprio criador. (Ar., Cat., 26); emimonhanga (t) - a obra, o feito, o que alguém faz ou gera: ...T'oîkuab ybaka piara, Tupana remimonhanga. - Que conheça o caminho do céu, obra de Deus (lit., o que Deus faz). (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); monhangaba - tempo, lugar, etc. de fazer, de gerar, de criar; geração, criação: ...T'ereîub moreaûsuba monhangápe. - Que estejas prostrado no lugar de se fazerem sofrimentos. (Anch., Teatro, 48); i monhangymbyra - o que é (ou deve ser) feito, criado; feito de: ...ybyrá itá-monhangymbyra kupépe... - atrás de uma cerca feita de pedras (Ar., Cat., 9v); Tupã syrama ri i monhangymbyra... - Para mãe de Deus é feita. (Anch., Poemas, 88)
motekokuab (ou motekokugûab) (v.tr.) (etim. - fazer conhecer os fatos) - ensinar, instruir (nos bons costumes): Aîmotekokuab. - Ensino-o. (VLB, II, 12) ● motekokuapaba - tempo, lugar, modo, etc. de ensinar, de instruir: Tupã o motekokuapaba rupi mba'e mombe'u. - Narrar as coisas segundo o modo em que Deus o instruiu. (Ar., Cat., 19v)
motyryryk (v.tr.) - arrastar (p.ex., vestido, roupa muito comprida) (VLB, I, 42)
sapy'a (adv.) - de repente, repentinamente, logo, cedo, de súbito, rápido (o mesmo que esapy'a - v.): ...Asé rerasó sapy'a potá. - Querendo logo levar-nos. (Anch., Dial. da Fé, 231); Ogûerasó temõ sapy'a ybakype Tupana xe ruba mã. - Oxalá Deus levasse cedo a meu pai para o céu. (Fig., Arte, 99)
sok2 (v. intr.) - quebrar-se, partir-se (como corda, linha, espada, serra, etc.) (VLB, II, 93; Anch., Arte, 53v); Osó-osok. - Quebra-se muitas vezes. (Anch., Arte, 53v)
tamũîa1 (ou tamuîa ou tamỹîa) (etim. - os avós) (s. etnôn.) - TAMOIO, nação indígena que habitava a Baía da Guanabara e o Vale do Paraíba (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 122): ...Xe tamũîusu Aîmbiré... - Eu sou o grande tamoio Aimbirê. (Anch., Teatro, 28); São Sebastião... tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - São Sebastião destruiu os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52)
temõ (part. usada com o optativo. É acompanhada geralmente por mã ou mûã no final do período.) - oxalá, quem me dera, que bom seria se: Asó temõ ybakype mã! - Ah, quem me dera eu fosse para o céu! (Anch., Arte, 24); Ogûerasó temõ sapy'a ybakype Tupana xe ruba mã! - Oxalá Deus levasse logo a meu pai para o céu! (Fig., Arte, 99); Ikatupe nhẽ temõ mûã! - Oxalá ela estivesse nua! (Ar., Cat., 72); Anhẽ temõ turi mã. - Oxalá ele viesse, de fato. Anheté temõ! - Oxalá fosse verdade! (VLB, II, 59); Apûar temõ sesé mã! - Ah, quem me dera bater nele!. (Ar., Cat., 101v); Asó temõ kori ahẽ irũmo mã! - Ai, quem me dera ir com ele hoje! (VLB, II, 94)
tingyry (s.) - outro nome para o TINGUI; o mesmo que tingy (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272)
Bacururu, Barra de (AM). A mesma etimologia de Baquirivu (v. Baquirivu-Guaçu).
Caiobá (pico da Serra dos Itatins, MT). De ka'i: caí, var. de macaco + obá (t) - cara, rosto: cara de caí.
Iararaca, Ig. (AM). De îararaka, réptil crotalídeo.
Itapecuru (serra de PE). A mesma etimologia de Itapicuru (v.).
Itarari, Barra do (BA). A mesma etim. de Itariri (v.).
Paratiguassu (ribeiro do RJ). De parati + ûasu: grandes paratis, peixes mugilídeos.
Quatiara, Salto da (SP). A mesma etimologia de Itaquatiara (v.)
Sapetiba (porto do RJ). A mesma etim. de Sapetuba (v.).
Tapeva (córrego de SC). Mesma etim. de Itapeva (v.).
Taquaritinga (SP). De takûara + 'y + ting/a + -a: rio claro das taquaras.
Urucum, Serra do (MG). A mesma etim. de Urucu (v.).
ãîa1 (ou ãnha) (t) (s.) - dente (Castilho, Nomes, 37): Kó xe 'akusu, xe rãnha... - Eis meus chifrões, meus dentes... (Anch., Teatro, 40); [adj.: ãî (r, s)] - dentado, (xe) ter dentes: Xe rãîasy. - Eu tenho dentes doloridos. (D'Evreux, Viagem, 158); Na xe rãî. - Eu não tenho dentes. (VLB, I, 97) ● ãîmytera (t) - dentes incisivos; dentes dianteiros (Castilho, Nomes, 38); ãîmbara (ou ãîîoara) (t) - dentes separados uns dos outros: Xe rãîmbar (ou Xe rãîîoar). - Eu tenho dentes separados. (Castilho, Nomes, 37); anhesyîa (t) - dentes botos (os que sentem a impressão desagradável que neles causam os ácidos): Xe rãîesyî (ou Xe ranhesyî). - Eu tenho dentes botos. (VLB, I, 94); ãîmba'ũ (t) - intervalo, interrupção nos dentes: Xe rãîmba'ũ (ou Xe rãîma'ũ). - Tenho intervalo, interrupção nos dentes (isto é, faltam-me alguns dentes). (VLB, I, 97); ãî-ngyryî (t) - dentes que rangem: Xe rãî-ngyrỹî. - Rangem-me os dentes. (VLB, II, 96)
apyrixûara (s.) - vizinho de casa contígua (VLB, II, 145)
'arybo1 (loc. posp.) - sobre (em sentido difuso ou, ainda, sem contato): ...Pesepîak irã... ybytinga 'arybo xe rura béne... - Vereis também futuramente minha vinda sobre as nuvens... (Ar., Cat., 56v); ...Missa pupé miapé rari o pópe, sobasapa, i 'arybo Îandé Îara Îesu Cristo nhe'engûera ra'anga... - Na missa toma o pão em suas mãos, benzendo-o, sobre ele pronunciando as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo. (Ar., Cat., 84v); I 'arybo omanõmo Îandé Îara îandé repyme'engagûera resé... - Sobre ela morrendo Nosso Senhor para nos resgatar. (Ar., Cat., 21)
'atypuba (s.) - têmporas, fontes (Castilho, Nomes, 30)
beraba (s.) - brilho, resplendor: Otĩ kûarasy osema nde beraba robaké. - Envergonha-se o sol, nascendo, diante de teu brilho. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); ...Tupã beraba reru. - Trazendo o resplendor de Deus. (Anch., Poemas, 142); (adj.: berab) - brilhante, resplandecente: Seté-beraba tiruãpe n'osepîaki xûéne? - Não verão sequer seu corpo brilhante? (Ar., Cat., 46v)
-bo2 (posp.) 1) em, por, per (locativo, expressando difusão, indeterminação do lugar, não um lugar específico): kóbo - nas roças (Anch., Arte, 42); pelas roças (Anch., Arte, 42v); ka'abo - pelas matas (VLB, II, 81); nhũbo - pelos campos (VLB, II, 81); kóbo - por aqui (VLB, II, 81); 2) segundo, de acordo com, conforme: ...Cruz resé i moîari, i îeruresabo é... - Conforme seu próprio pedido, na cruz o pregaram. (Ar., Cat., 9); ...Îudeos ekomonhangábo i 'apira mondoki. - Segundo o rito dos judeus, seu prepúcio cortaram. (Ar., Cat., 3); 3) para (dativo, com pron. pess.):... - O'a îandébo kori. - Nasceu para nós hoje. (Anch., Poemas, 94); 4) por, no caso de [com deverbais em -sab(a)]: Nde i potasábo-katu é, t'onhemonhang... - No caso de o desejares muito mesmo, que se faça (tua vontade). (Ar., Cat., 53)
eîkûaru'umbok (s) (v.tr.) - desemporcalhar, tirar a sujeira das fezes do que defecou: Aseîkûaru'umbok. - Desemporcalhei-o. (VLB, II, 22)
esagûyryba (t) (s.) - vista turbada, vertigem, tontura, enjôo; [adj.: esagûyryb (r, s)] - enjoado, turbado, tonto; (xe) ter vertigens: Xe resagûyryb. - Eu tive vertigem (ou eu estou enjoado). (VLB, I, 117, 131)
îá5 (s.) - porção, pequena quantidade, um pouco (à semelhança de um partitivo. Às vezes é acompanhado pela partícula rá.): Eruri, t'a'une îá. - Traze-o para que eu coma um pouco dele. (Fig., Arte, 141); Îori u'i îá rá gûabo. - Vem para comer uma porção de farinha. (Fig., Arte, 141); Eruri îá. - Traze uma porção, traze um pouco. (Fig., Arte, 141); Ekûãî 'y îá rá gûabo (ou Ekûãî 'y îá r'ûabo). - Vai para beber um pouco d'água. (VLB, I, 154); Ekûãî îá reru. - Vai para trazer um pouco dela. (VLB, I, 154); Eîme'eng îá ixébo. - Dá-me dele; dá-me uma porção. (VLB, I, 93)
îepi (adv.) (às vezes com a partícula nhẽ) - sempre, comumente; constantemente, cada dia (Fig., Arte, 129): ...Ereîase'o îepi. - Choravas sempre. (Anch., Poemas, 96); Aîur ybaka suí... îepi nhẽ pe pytybõmo. - Vim do céu para vos ajudar sempre. (Anch., Teatro, 50); Ixé kó ka'u resé aporomoingó îepi... - Eis que eu faço as pessoas estarem sempre na bebedeira. (Anch., Teatro, 134); -Mba'e-mba'eremepe asé îeruréû i xupé? -Îepi nhẽ... - Em que ocasiões a gente reza para eles? - Constantemente. (Ar., Cat., 24); Osyk oré ri sendy îepi nhẽ. - Chegou a nós sua luz para sempre. (Anch., Poemas, 124); N'i apori oré sumarã îepi nhẽ oré ra'anga. - Não desiste nosso inimigo de sempre nos tentar. (Anch., Poemas, 174) ● îepindûara (ou îepinhẽndûara) - o que é de sempre; coisa cotidiana (VLB, II, 94)
îo-2 (pref. que forma substantivos a partir de temas verbais): îonupã - o açoite: Angaîpaba oîporará îonupã. - Os maus padecem açoites. (Anch., Arte, 35v); îoaûsuba - amizade, amor: Tupã îoaûsuba pupé îaîkóbo... - Estando nós no amor de Deus (Anch., Doutr. Cristã, I, 202)
îuraragûaî (xe) (v. da 2ª classe) - mentir: Pe îuraragûaî. - Vós mentis. (Anch., Teatro, 180); Îuraragûaî setatupabé. - Mentiu muitíssimo. (D'Evreux, Viagem, 88); O 'anga... renõîndara abé o îuraragûaîamo nhẽ, marãpe? - E mentindo também aquele que invoca sua alma, que acontece? (Ar., Cat., 67) ● îuraragûaîtaba (ou îuraragûaîaba) - tempo, lugar, modo, etc. de mentir; mentira: Eresenõî tenhẽpe Tupã nde îuraragûaîtápe? - Invocaste a Deus em vão ao mentires? (Anch., Doutr. Cristã, II, 84)
koapapy1 (adv.) - sem resultado, inutilmente, em vão (VLB, I, 140)
monomo? (interr.) - quanto? (em quantidade) (VLB, II, 91)
nãbo?2 (interr.) - quanto? (em quantidade) (VLB, II, 91)
pakury (s.) - BACURI, 1) árvore frutífera muito grossa e alta, da família das clusiáceas (Platonia insignis Mart.), com flor esbranquiçada, também chamada bacurizeiro; 2) o fruto dessa árvore, com casca de meia polegada e polpa branca (D'Abbeville, Histoire, 222)
pokuab (ou pokuá ou pokugûab) (etim. - conhecer a mão) (v.tr.) - estar acostumado com, ter por costume, estar prático em, ter a prática de: Aîpokugûab. - Tenho-o por costume. (VLB, I, 84); Apŷaba xe pokuá... - Os homens estão acostumados comigo. (Anch., Teatro, 22) ● emipokuaba (t) - o que alguém torna costumeiro, o que alguém pratica: moropotara semipokuabe'yma - o desejo sensual que ele não torna costumeiro (Ar., Cat., 88v)
pokupé (m) (s.) - costas da mão (Castilho, Nomes, 30): Aîpokupé-petek. - Esbofeteio as costas de suas mãos. (VLB, I, 73)
tîaté (part.) - atenção! cuidado!: Tîaté i mĩme i xupé marã oîkóbo. - Cuidado ao esconder-lhe o que faz. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228)
NOTA - Daí, o nome geográfico TIMBOPEBA (SE) (v. p. 386).
umby3 (t) (s.) - ancas, quadris (Castilho, Nomes, 40); lombos, pela parte inferior deles, a que chamam cadeiras (VLB, II, 24): -Mba'e-mba'epe asé suí i pitubypyra? -Asé rumby. - Que é ungido de nós? - Nossas ancas. (Ar., Cat., 92)
umẽ (part. usada para a negativa dos modos imperativo e permissivo) - não: Eporapiti umẽ. - Não mates gente. (Ar., Cat., 69v); Xe pe'a umẽ îepé. - Não me desterres tu. (Anch., Poemas, 102); Îori anhanga mondyîa, ta xe momoxy umẽ. - Vem para espantar o diabo, para que não me dane. (Anch., Poemas, 132); (Pode separar-se do verbo e vir após partículas.): Nde nhõ umẽ eîuká. - Não o mates tu sozinho. (Anch., Arte, 22v); T'osepîak-y bé umẽ kûarasy! - Que não vejam mais o sol! (Anch., Teatro, 60)
Abaitinga (SP). De abá + a'yra (t) + ting + -a: filhos claros de índios, i.e., caboclos, mamelucos.
Acutiacanga (cachoeira do AM). De akuti - cutia + akanga - cabeça: cabeça de cutia.
Baeté (BA). De mba'eeté: coisa ótima (VLB, I, 129). Talvez a mesma etimologia de Abaeté (v.).
Cajapió (MA). De akaîá + ypyó: multidão de cajás.
Ibicuara (arroio do RS). A mesma etim. de Ibicoara (v.).
Itatins (serra de MT). De itá + a: pedras pontudas.
Macaé (RJ). Do termo do tupi antigo mokaîé, conhecido indiretamente na composição mokaie'yba - mocajaíba, bocaiúva, var. de palmeira.
Macajatuba (MA). Do termo do tupi antigo mokaîé, conhecido indiretamente na composição mokaie'yba - mocajaíba, bocaiúva, var. de palmeira + tyba: ajuntamento de mocajaíbas.
Mairiporã (SP). É nome atribuído artificialmente em 1948 (fonte: IBGE). De mauri, da língua geral setentrional - cidade (Frei Arronches, Caderno da Língua, 96) + porã, do guarani: cidade bonita.
Meriti, São João do (RJ). De meriti'yba, var. de palmeira.
Poxim, Riacho do (AL). A mesma etimologia de Poti (v.).
(Carder) CARDER, Peter, "The relation of Peter Carder of Saint Verian in Cornwall, within seven miles of Falmouth, which went with Sir Francis in his Voyage about the world begun 1577". In Purchas, Samuel, His Pilgrimes, London, 1625.
papagaio - (variedades): aîuru; anaká; tiriba; îandaîusu; îendaîa; îuruba, etc.
abiã2 (conj.) - se (usado com memetipó ou memetiã ou memetaé): Mene'yma resé oîkoba'e abiã koîpó sesé onhemomotaryba'e oîaby-eté Tupã nhe'enga, memetipó mendara momoxysara koîpó sesé nhemomotasara. - Se o que tem relações sexuais com uma solteira ou por ela se atrai transgride muito a palavra de Deus, tanto mais o que perverte uma casada ou o que se atrai por ela. (Ar., Cat., 109); Mba'e sekatuba'e abiã... oîmoting i 'uetébo, memetiã nde nda mba'e-katu ruã euĩ ereîmo'ẽ. - Se uma coisa que é muito saborosa enjoa, comendo-a muito, eis que tanto mais tu expelirás o que não é coisa boa. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111); Kûarasy abiã oporomo'y'useî-eté, memetaé tatápe oína abá o'useî-etéramo. - Se o sol faz as pessoas terem muita sede, tanto mais estando no fogo as pessoas desejam beber. (Ar., Cat., 164)
apỹîa1 (ou apynha) (s.) - ventas (Castilho, Nomes, 29); cachagens, ossos abertos do nariz que dão passagem ao ar que se respira (VLB, I, 62)
atatinga (t) (s.) - fumaça: Xe run tatatinga suí. - Eu estou preto de fumaça. (VLB, I, 92); [adj.: atating (r, s)] - fumegante: Xe ratating. - Eu estou fumegante. (VLB, I, 144)
NOTA - Daí, o nome geográfico ATIBAIA (SP) (v. p. 386).
embé2 (t) (s.) - beiço inferior (Castilho, Nomes, 39); [adj.: embé (r, s)] (xe) - ter beiço: Xe rembegûasu. - Eu tenho beiço grande. Mba'e-embegûasu! - Coisa beiçuda! (VLB, I, 54) ● sembegûasuba'e - o que tem beiço grande (VLB, I, 54)
epysama (t) (s.) - 1) intervalo, interstício, divisão que há entre as partes pudendas da frente da mulher e seu ânus (VLB, II, 22); 2) faixa, língua (p.ex., de mato que ficou em pé após a derrubada da floresta, de terra que une duas ilhas, etc.) (VLB, II, 22)
esapy'a (adv.) - 1) de repente, repentinamente, de súbito: Akûeîme, gûimanõmo, anhanga, esapy'a, xe 'anga oîuká pecado irũmomo. - Antigamente, morrendo eu, o diabo, de repente, minha alma mataria com o pecado. (Anch., Poemas, 106); 2) depressa, logo: ...Pekûá esapy'a! - Ide depressa! (Anch., Teatro, 32); Erasó esapy'a. - Leva-o depressa. (VLB, I, 44); ...T'obasem esapy'a o îukaûãme... - Que chegue logo ao lugar em que o matarão. (Ar., Cat., 61v)
gûararymá (s.) - nome de uma ave aquática (Brandão, Diálogos, 234)
îenosem (ou nhenosem) (v. intr.) - omitir-se; retirar-se: ...Mba'emirĩ tiruã, abá rekoagûerĩ oîenosem a'epene. - Nem sequer uma pequena coisa, nem um só pequeno ato das pessoas omitir-se-á, então. (Ar., Cat., 161v); ...Mba'e resé o nhemoma'enduaragûera a'epe onhenosẽne... - Suas antigas lembranças das coisas aí se retirarão. (Ar., Cat., 161v)
kytyngok (v.tr.) - limpar esfregando, tirar a sujeira de, brunir, polir, açacalar; limpar de ferrugem: Aîkytyngok. - Limpo-o de ferrugem. (VLB, II, 22)
Maíra1 (s. antrop.) - nome de um antigo profeta, sucessor e herdeiro de Mairumûana (v.) (Thevet, Les Sing. de la France Antart., 53v)
pinõ (s.) - espécie de planta urticácea (Laportea aestuans (L.) Chew) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 48)
poraûsubare'yma (ou poroaûsubare'yma) (m) (etim. - falta de compaixão) (s.) - crueldade (VLB, I, 86)
tambeaobubaubagûasu (s.) - calções de rocas, vestimenta do século XVI (VLB, II, 107)
-y-1 (vogal de ligação epentética): ...mosanga mûeîrabyîara... - remédio portador de cura (Anch., Teatro, 38); nhemim-y îanondé - antes de te esconderes (Anch., Teatro, 44)
Caetetu (córrego de MT). A mesma etim. de Caetetuba.
Capiá (AL). De ka'api'a: folha-testículo, nome comum a várias espécies de plantas moráceas.
Inhambu (ig. do AM). De îambu, aves tinamídeas.
Mocori (PA). De mukury, plantas gutíferas.
Socatinga (CE). De soka + ab/a (r, s) + ting/a + -a: lagartas dos pelos claros.
Taguaruçu (córrego do MT). A mesma etimologia de Taquaruçu (v.).
Tutinga (rio de Cubatão). De ty + ting + -a: rio claro.
Utinga (Santo André, SP). De 'y + ting + -a: rio claro.
FERREIRA FRANÇA, Ernesto, Crestomatia da Língua Brasílica,Leipzig, 1859.
fedorento - nem (v. nema); rem (v. rema); kating (v. katinga)
pintado (= que tem pintas): pinim/a; piting/a; (= que tem pintura): kûatiar/a
akûãîypytá (t) (s.) - 1) base do pênis (Castilho, Nomes, 37); púbis masculino; 2) pêlos das partes pudendas do homem (Castilho, Nomes, 37) ● akûãîypytá-aba (ou akûãînhypytá-aba) - pêlos do púbis (VLB, II, 89)
apor (xe) (v. da 2ª classe) - desistir, abrir mão, deixar passar, relevar (com palavras); ser liberal, ser pacífico, ser condescendente, ser tolerante, deixar as coisas para lá [compl. com esé (r, s) ou com gerúndio]: Na xe apori. - Não desisto (teimo, sou importuno). (VLB, II, 10); N'i apori oré sumarã îepinhẽ oré ra'anga. - Não desiste nosso inimigo de sempre nos tentar. (Anch., Poemas, 174); Tynysẽ memẽ ygasaba... N'i apori kaûĩ resé... - Estão sempre cheias as igaçabas... Não abrem mão do cauim. (Anch., Teatro, 34)
epoti2 (t) (s.) - 1) ferrugem: itá repoti - ferrugem do ferro (VLB, I, 138); 2) escória (como de ferro): itá repoti - escória do ferro (VLB, I, 123); [adj.: epoti (r, s)] - enferrujado; (xe) - ter ferrugem: Sepoti. - Ele está enferrujado, ele tem ferrugem (p.ex., o ferro). (VLB, I, 138)
etá (t) (s.) - 1) grande número, multidão: nde rekobesaba 'ara retá... - o grande número de dias de tua vida (Ar., Cat., 157); Îandé retá îandé pe'abo. - A multidão de nós afastando. (Anch., Teatro, 158, 2006); 2) (aparece como substantivo, muitas vezes, na função de objeto): muitos, muitas coisas, muitas pessoas: Ereruretá serã? - Trouxeste muitas coisas, porventura? (Anch., Teatro, 44); -Ererupe itá kysé amõ? -Aruretá. -Trouxeste algumas facas de ferro? -Trouxe muitas. (Léry, Histoire, 346); Aruretá kó reri... - Trouxe muitas destas ostras. (Anch., Poemas, 150); [adj.: etá (r, s)] - muitos (em número), numerosos, múltiplos, diversos; (xe) ter muitos: kunumĩ-etá - muitos meninos (Anch., Teatro, 24); tatá-endy-etá - muitas chamas de fogo (Ar., Cat., 45); Oré retá. - Nós somos muitos. (VLB, II, 44); Xe retá. - Eu tenho muitos (parentes). (VLB, I, 37); Na setáî xe angaîpaba... - Não são muitos meus pecados. (Anch., Teatro, 76); I porang kó tupãoka, îegûakabetá rerupa! - É bonita esta igreja, contendo muitos enfeites! (Anch., Poemas, 112); (adv.) 1) muitas vezes: Marãnamope asé îobasabetá-etáûne? - Por que a gente se persignará muitas e muitas vezes? (Ar., Cat., 21v); 2) muito, demais: Xe repy-etá. - Eu tenho muito preço. (VLB, I, 88); Okeretápe se'õmbûera...? - Dormiu demais seu cadáver? (Ar., Cat., 44v); 3) No tupi colonial também serviu, às vezes, como desinência de plural, como o -s do português: Emonãnamope asé îeruréû santos-etá supé? - Portanto, nós rezamos aos santos? (Ar., Cat., 23v) ● etá-katu (ou etá-tekatunhẽ ou etá-katutenhẽ) (r, s) - muitíssimos, muitíssimas vezes (VLB, II, 44); etá-eté (r, s) - mais; muito mais (VLB, II, 28); etá nhote (r, s) - mais ou menos (em número), medíocre (em número) (VLB, II, 34)
ikararasá (s.) - var. de cogumelo comestível que cresce na madeira (VLB, I, 86)
îomoaîu (v. intr. compl. posp.) - competir, fazer disputa [por algo ou por alguém: compl. com esé (r, s)]: Nd'e'i te'e moxy sesé og orybamo, ...sesé oîomoaîuabo... - Por isso mesmo os malditos se alegram por causa deles, fazendo disputa por eles. (Ar., Cat., 159)
ityk / eîtyk(a) (t) (v.tr.) - 1) lançar, atirar, jogar, lançar à água (um navio ou uma canoa): Aîtyk ygara. - Lanço [à água] a canoa. (VLB, II, 48); Eîori, muru mombapa, satápe seîtyka nhẽ. - Vem para destruir o maldito, em seu fogo lançando-o. (Anch., Poemas, 132); 2) lançar fora, jogar fora: T'aîtyk pá koty... - Que eu lance fora todas as armadilhas. (Anch., Poemas, 130); Xe rekó i porang-eté; n'aîpotari abá seîtyka... - Minha lei é muito bela; não quero que ninguém a lance fora. (Anch. Teatro, 6); T'oroîtyk oré poxy... - Que lancemos fora nossa maldade. (Anch., Teatro, 118); Opá xe ramyîa ma'epûera aîtyk. - Todos os bens de meus avós joguei fora. (Léry, Histoire, 356); ...Xe 'anga ky'a reîtyka... - Lançando fora a sujeira de minha alma. (Ar., Cat., 86); 3) derrubar, vencer, derrotar: Eîori xe sumarã reîtyka... - Vem para derrotar meus inimigos... (Anch., Teatro, 178); Xe reîtyk korine mã! - Ah, vencer-me-ão hoje. (Anch., Teatro, 26) ● eîtykara (t) - o que lança, o que derruba (Fig., Arte, 61); emityka (t) - o que alguém lança, o que alguém derruba: ...Tekoangaîpab-ypy moroesé Adão remitykûera pe'abo. - Afastando o pecado original, o que Adão lançou na gente. (Ar., Cat., 6); eîtykaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de lançar, de derrubar, de lançar fora, de atirar; ato de lançar, lançamento: Nd'ereîkuabype Tupã... opakatu ikó 'ara pupé îandé remimborará-tyba abé seîtykagûera? - Não sabes que Deus lançou neste mundo também tudo o que a gente sofre costumeiramente? (Ar., Cat., 112) ● ityk nhe'enga - dizer mal de alguém, murmurar [compl. com ri ou esé (r, s)]: Aîtyk nhe'enga (abá) resé. - Digo mal do homem. (VLB, II, 28, adapt.); Tupã resé tiruã kó nhe'enga reîtyki... - Eis que até mesmo contra Deus murmura. (Ar., Cat., 56v)
kará1 (s.) - 1) CARÁ, CARANAMBU, CARATINGA, nome de várias plantas da família das discoreáceas. É nome atribuído erroneamente ao inhame. 2) o tubérculo comestível de algumas dessas plantas (D'Abbeville, Histoire, 229v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 29) ● kará-embó - vergôntea de cará (VLB, II, 144)
Karûara2 (s. antrop.) - nome de uma entidade da cosmologia dos antigos tupis da costa: Osekyî kunhã maîé Karûara. - Invocam as mulheres o pajé Caruara. (Anch., Teatro, 150, 2006)
NOTA - BAGUARI é também um adjetivo: vagaroso, pesadão.
membeka (s.) - 1) fraqueza, moleza: O ati'yba ri krusá osupi. Membeka suí, Îesu sero'ari. - No seu próprio ombro levanta a cruz. De fraqueza, Jesus fá-la cair consigo. (Anch., Poemas, 122); 2) molengão (VLB, II, 40); o mole, o covarde, o fraco, o tímido: xe remipoîmembeka - o molengão que convido (Anch., Arte, 52v); (adj.: membek) - mole, fraco, MEMBECA; molengão: ...I membek, Anhanga pó gûyrybo nhẽ sekóû... - É mole, está sob as mãos do diabo. (Ar., Cat., 31v); Xe membek. - Eu sou molengão. (VLB, II, 40)
mo-1 (ou mbo-) (pref. da voz causativa): Emoîerekûab orébo... - Faze perdoar a nós. (Anch., Poemas, 84); ...O pyri pe mogûapyka. - Junto a si fazendo-vos sentar. (Anch., Poemas, 158)
moendyîab (v.tr.) - produzir faísca de, tirar faísca de (p.ex., com um machado num pau): Aîmoendyîab. - Tirei faísca dele. (VLB, I, 137)
moetá (v.tr.) - tornar numeroso, multiplicar (VLB, II, 44)
obá (t) (s.) - rosto, face, cara (Castilho, Nomes, 40): ...Nde robá repîaka'upa .... - Tendo saudades de tua face. (Anch., Poemas, 84); T'asepîáne nde robá... - Hei de ver tua face. (Anch., Poemas, 98); Marã e'ipe Îandé Îara og obá petekarûera supé? - Como disse Nosso Senhor para o que esbofeteou seu rosto? (Ar., Cat., 55v); îagûarobá - cara de onça (Anch., Arte, 9) ● obá-ky'a-ky'a (r, s) (lit., de cara suja, suja) - brusco, feio (fal. do tempo, das condições atmosféricas) (VLB, I, 60)
pu'am2 (v. intr. compl. posp.) - investir, fazer assalto, opor-se [a alguém, contra alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Eîori muru mondyîa, t'opu'am umẽ oré ri... - Vem para espantar o maldito, para que não invista contra nós. (Anch., Poemas, 146); Pé ku'ape, kunumĩ pu'ama'ubi xe ri. - No meio do caminho, meninos fizeram assalto a mim. (Anch., Poemas, 150); Xe mopyatã îepé, t'apu'am muru resé... - Faze-me tu valente para que eu me oponha ao maldito. (Anch., Poemas, 144)
pyryb2 (forma nasal: mbyryb) (adv.) - tirante a, com um ar de, como que: Gûyrá pepóbo pyryb. - Como que em asas de pássaro. (VLB, II, 17); pyrã-mbyryb - tirante a vermelho (VLB, II, 128)
NOTA - Da forma reduplicada de tirik provém a expressão FICAR TIRIRICA, irritar-se, enfurecer-se, encolerizar-se.
tykytykyr (ou tukutukur) (v. intr.) - destilar (VLB, I, 129): ...Mba'e-akuba, mba'e-robeté tukutuku okûapa. - Estando a destilar coisa quente, coisa muito amarga. (Ar., Cat., 164)
ûer [alomorfe de pûer (v.)] - antigo, passado, que foi: Xe Îetu'u ra'yrûera... - Eu sou antigo filho de Jetuú. (Anch., Poemas, 152); aîuruîubupîarûera - adversário antigo de franceses (Anch., Teatro, 44)
NOTA - Daí, o nome geográfico BATINGA (BA, SE) (v. p. 386).
Anhumaí (ribeirão do PR). A mesma etimologia de Anhembi (v.).
Araci (nome de pessoa). A mesma etim. de Iraci (v.).
Caiçara (CE). De ka'aysá - cerca rústica feita de galhos e ramos entrelaçados para defesa e proteção (VLB, I, 143).
Jerivá, ribeirão do (PR). A mesma etim. de Jeribá (v.).
Piaugui (ribeirão de MT). A mesma etim. de Piauí (v.).
Pracajuba, São João do (PA). A mesma etimologia de Piracanjuba (v.).
BETTS, La Vera, Dicionário Parintintín-Português / Português Parintintín. SIL, Brasília, 1981.
a'ang2 (s) (v.tr.) - 1) compassar, medir, tirar a medida de: Asa'ang. - Medi-o. (VLB, I, 78); Atypy-a'ang. - Medi a profundidade dele. (VLB, II, 121); Aty-ypy-a'ang. - Eu meço a profundidade do rio. (VLB, II, 63); 2) pesar (com pesos, balanças) (VLB, II, 75) ● sa'angymbyra - o que é (ou deve ser) medido (VLB, II, 34); a'angaba (t) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de medir; medida, peso (VLB, II, 34)
akaîá2 (s.) - vagina; útero, madre (Castilho, Nomes, 27)
NOTA - Daí, o nome geográfico ITATIAIA (RJ) (v. p. 386).
esaîyra (t) (s.) - menina dos olhos (Castilho, Nomes, 38)
îugûá (s.) - visco, suco vegetal glutinoso com que os caçadores untam pequenas varas para nelas prender as aves que aí pousem (VLB, II, 146)
îuruboka (s.) - 1) abertura da boca (Castilho, Nomes, 32); 2) fenda, abertura (VLB, I, 18); (adj.: îurubok) - fendido: Xe îurubok. - Eu estou fendido. (VLB, I, 137); Xe îurubó-bok. - Eu estou fendido em diversas partes. (VLB, I, 137)
NOTA - Daí, o nome geográfico BERTIOGA (município de SP) (v. p. 386).
mondykaba (s.) - 1) conclusão, final, o último: Marã e'ipe Santa Madre Igreja asé rekomonhangaba mondykaba? - Como diz o último dos mandamentos da Santa Madre Igreja? (Ar., Cat., 78); Missa mondykápe épe ereîké îepi...? - É no final da missa que entras sempre? (Anch., Doutr. Cristã, II, 105); 2) destino final: Abá rekó mondykaba. - O destino final das coisas dos homens. (Ar., Cat., 20)
nhemoaíb2 (v. intr.) - estar de luto, vestir luto (VLB, I, 105)
peũî (adv.) - completamente, definitivamente: Eresó nhẽ peũî. - Vais definitivamente. (VLB, I, 102)
ty1 (s.) - urina (Anch., Arte, 14; Castilho, Nomes, 39)
umbûá (s.) - almofariz de madeira utilizado para pilar a mandioca (o mesmo que ungûá - v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
NOTA - Daí, no P.B., o nome da erva TIPUANA (de tyapûana, "bom cheiro").
NOTA - Daí, o nome geográfico IBITINGA (SP) (v. p. 386).
NOTA - Daí, o nome geográfico IBITIÚRA (MG) (v. p. 386).
Assim, corremos o risco de dar etimologias de nomes criados artificialmente há poucas décadas. Procuramos, contudo, sempre que possível, identificar tais nomes em nossa relação de topônimos. Eles aparecem, principalmente, a nomear municípios de regiões colonizadas no século XX: Potirendaba, Piacatu, Ecatu, etc. Figuram, também, na nomeação de algumas ruas e praças de grandes cidades. Dificilmente incidem na microtoponímia, i.e., nos nomes dos cursos d'água, dos acidentes de relevo, etc., o que torna nosso trabalho bem mais simples, mormente com as facilidades trazidas pela rede internacional de computadores (INTERNET), que faculta fácil identificação de topônimos dessa natureza, principalmente quando nomeiam municípios.
Baruri (ig. do AM). Talvez a mesma etimologia de Bariri (v.).
Botujuru (morro entre Jundiaí e Itatiba). De ybytyra (na língua geral meridional botura*) - montanha, serra) + îuru - boca: boca da serra.
Buruti da Cachoeira (MG). A mesma etim. de Buriti (v.).
Caraibuna (BA). De karaíba - profeta-santidade dos tupis + un (r, s) + -a: caraíba negro, caraíba escuro.
Inhamum, Ilha do (BA). De îambu, aves tinamídeas.
Jararaca (rio do PR). De îararaka, réptil crotalídeo.
Juruti, Lago Grande de (PA). De îuriti, aves columbiformes.
Mumbaba (rio da PB). A forma mais antiga do nome é outra: "Segue-se o Gramame, entra n'este pela parte do Sul, o Iacoca, e pelo poente o Paranombababa, ou Mombaba." (desconhecido [n.d.], Informação Geral da Capitania de Pernambuco, p. 475). De paranã + papaba (mb) (do v. pab): final do mar.
Sururu (BA). De sururu - moluscos mitilídeos.
castanha (de caju) - akaîu-'akaîá; akaîu
espremedor (de massa de mandioca) - tepiti
palmeira - (variedades): pindoba; tukũ; pati; pysandó; îeîsara; inaîá; karaná; îupati; maraîa'yba; karana'yba, etc.
abutua (s.) - ABUTUA, ABÚTUA, ABUTA, ABUTINHA, BUTUA, BUTINHA, BUTU, nome comum a várias plantas da família das menispermáceas (Cadornega, Hist. Guerras Angolanas, III, 201)
aîura (ou anhura) (s.) - 1) pescoço (Castilho, Nomes, 28): Oîabo asé santos 'ara kuabi, oîabo bé asé i kangûerĩ tiruã momba'etéû, o aîuri serekóbo... - Assim como a gente reconhece o dia dos santos, do mesmo modo, também, até mesmo seus ossinhos a gente cultua, tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v); 2) gargalo (de pote, etc.): anhurĩ - gargalo fino (como da cabaça) (VLB, I, 93) ● o aîurybo - pelo pescoço: Aîmondeb o aîurybo. - Meto-o pelo pescoço. (Anch., Arte, 43); Nde mondeb o aîurybo. - Meteu-te pelo pescoço. (Anch., Arte, 43); aîurar - ter o pescoço caído: Xe aîurar. - Eu tinha o pescoço caído (isto é, por um desmaio. Também se diz do figo derrubado, por estar muito maduro.) (VLB, I, 95); aîuri - no pescoço. (Fig., Arte, 126): O îoaîuri aîmoín. - Prendi-os um no pescoço do outro. (VLB, II, 85); anhurĩ - estreitado em forma de pescoço, isto é, com estreitamento entre duas partes bojudas (VLB, I, 93)
api2 (v.tr.) - 1) golpear; apedrejar, atirar; dar pancadas em; dar pedradas em; acertar (o alvo sem o atravessar ou furar) (VLB, II, 63); picar (com coisa sem ponta ou sem penetrar o corpo, atirando algo com a mão, com arco), dar marrada (p.ex., o carneiro, etc.) (Difere de sok porque o uso deste implica não se largar da mão o objeto com que se pica.) (VLB, II, 77): ...I pupé Îudeus nheŷnhangi Santo Estêvão apîá-apîábo... - Nele os judeus juntaram-se para ficar atirando pedras em Santo Estêvão. (Ar., Cat., 138-139); Nde serã i poepyka tekomemûã..., poropotara... ereîapi ko'arapukuî. - Tu, talvez, para retribuir, a vida má, o desejo sensual atiras nele o dia todo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); Aîapi-api. - Fiquei-o apedrejando. (VLB, I, 38); 2) dar topadas em (p.ex., em parede, como quem anda às escuras): Aîapi okytá. - Dou topadas no esteio. (VLB, II, 32)
api'ab (v.tr.) - castrar, cortar os testículos - Ereîapi'a'ipe pitangamo i kerype koîpó marandé serekóbo? - Castraste-o, sem mais, sendo criança, em seu sono, ou de outra maneira tratando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88)
atuá (ou atyá) (s.) - cogote, ATUÁ, toutiço, nuca, cerviz, parte posterior da cabeça (Castilho, Nomes, 30): Aîatuá-petek. - Esbofeteei a nuca dele. (VLB, II, 75); karipiratyatinga - caripirá da nuca branca (nome de uma ave) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 110) ● atuá-pyko'ẽ - cova da nuca (VLB, I, 84; Fig., Arte, 126)
gûyri (loc. posp.) - abaixo de (em sentido pontual); menos (comparativamente); menor que: xe gûyri bé - menor ainda que eu (VLB, II, 35); xe gûyri - abaixo de mim, mais pequeno que eu (Anch., Arte, 41) ● gûyri nhote - menor ou menos que: akûeîa gûyri nhote - menos ou menor que aquele (VLB, II, 28); gûyri-pyryb (ou gûyri-pyrybĩ) - algum tanto menor, um pouco menor ou menos que (VLB, II, 35)
îaparandyba (s.) - JAPARANDUBA, árvore lecitidácea (Gustavia hexapetala (Aubl.) Sm.), também conhecida como JANIPARINDIBA, JANIPARANDIBA, JANIPARANDUBA ou JAPOARANDIBA, e cujas raízes têm usos medicinais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 109)
îeku'yba (s.) - nome de uma árvore lecitidácea (Cariniana legalis (Mart.) Kuntze) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 127)
îemongaraíb (ou nhemongaraíb) (v. intr.) - batizar-se ● oîemongaraiba'e - o que se batiza: T'ogûerobîá oîemongaraiba'erama... - Para que creiam os que se batizarão... (Anch., Doutr. Cristã, I, 200-201); nhemongaraipaba (ou nhemongaraibaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de se santificar, de se batizar; ato de se santificar, de se batizar; santificação: Oîpotá-katu o nhemongaraibagûama... - Quer muito a sua futura santificação. (Ar., Cat., 80v)
kuîẽpiá (s.) - variedade de pimenta nativa (Sousa, Trat. Descr., 186)
mani'okaba (s.) - variedade de mandioca utilizada pelos índios para a preparação de papas e uma bebida chamada karaku (v.) (D'Abbeville, Histoire, 230)
moîepotar2 (v.tr.) - acender (com brasa ou tição) (VLB, I, 19)
monem (v.tr.) - fazer feder, tornar fétido: Xe 'anga omonem tekoangaîpaba. - Minha alma fez feder a vida pecaminosa. (Anch., Poemas, 106); ...Kó taba monema moropotara pupé. - Fazer feder esta aldeia com o desejo sensual. (Anch., Teatro, 138)
mopyrang (v.tr.) - 1) pintar de vermelho, tingir de vermelho; tornar vermelho (VLB, I, 32); 2) ensanguentar (VLB, I, 117)
oîeperemõ (adv.) - sem mistura, de um só tipo, de uma só espécie ● oîeperemõndûara - o que é sem mistura, puro, de uma só espécie (VLB, I, 130)
paîé (m) (s.) - 1) pajé, curandeiro, feiticeiro indígena (Thevet, Les Sing. de la France Antart., 65): T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma... - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés. (Anch., Teatro, 118); Kûesé paîé mba'easybora subani. - Ontem o feiticeiro chupou o enfermo. (Fig., Arte, 96); 2) padre (por ordens ou hábito) (VLB, II, 62) ● paîé-aíba (ou paîé-angaíba) - pajé ruim, pajé aliado a espírito malfazejo. Diferenciava-se o paîé-aíba do paîé propriamente dito (às vezes também chamado de paîé-katu, pajé bom), porque o espírito deste último "tudo o que faz é em favor comum, isto é, dar vitórias nas guerras, etc. O espírito deste se chama Gûaîupîá (v.)." O paîé-aíba é "inclinado a matar e causar diversas enfermidades, fomes e fazer ausentar o peixe das pescarias, etc., e por isso também recebe o adjetivo aíb ou angaíb, mau. E são muitos os diabos de que se ajuda. Também se chama mosangyîara, que quer dizer senhor das mezinhas ou feitiços, os quais faz para matar." (VLB, I, 137): T'ereîuká ixébe paîé-aíba supé... - Que o mates para mim diante do pajé ruim. (Ar., Cat., 70v); Supixûar ikó paîé-angaíba... - Este pajé ruim tem um espírito protetor. (Ar., Cat., 98v)
sykaba (s.) - limite, fim, término, o último: Oîoirundy tekó sykaba... - og orypápe Tupã asébe tekobé opaba'erame'yma me'enga i xykaba. - Quatro são os últimos dos fatos: o último deles é Deus dar para a gente, em seu paraíso, a vida que não acabará. (Ar., Cat., 154v); xe kó sykaba - o limite de minha roça (VLB, II, 22); (adj.: sykab) (xe) - ter limite, ter término: -N'i sykabi, n'i papabi. - Não tem limite, não tem fim. (Ar., Cat., 165)
Tagûaíba (s. antrop.) - 1) nome de uma entidade da mitologia dos antigos índios tupis da costa do Brasil: Eresykyîpe Anhanga, Tagûaíba, Kurupira, Îurupari koîpó te'õ abá supé? - Invocaste o Anhanga, o Taguaíba, o Curupira, o Jurupari ou a morte para alguém? (Ar., Cat., 102v); 2) fantasma (Fig., Arte, 76)
tapi'oka (s.) - 1) TAPIOCA, fécula alimentícia da mandioca (Sousa, Trat. Descr., 174); 2) bolo ou pão indígena feito dessa fécula (Denunciações de Pernambuco, 80) (o mesmo que typy'oka - v.)
ubá1 (s.) - CANA-UBÁ, nome de cana nativa, o mesmo que u'ubá (v.) (Sousa, Trat. Descr., 208)
Auati-Paraná (rio do AM). Do nheengatu auati + paraná: rio do milho.
Avaré (SP). De abaré - padre. Nome antigo de rio que banha a região, atribuído artificialmente ao município no final do século XIX. "(...) Nome de um monte avistado ao longe onde, segundo a lenda, fora encontrado um monge quando os posseiros ali penetraram." (fonte: IBGE)
Caruara (Cubatão, SP). De karûara - feitiço, quebranto.
Ipitinga (cachoeira do AP). De 'y + piting + -a: rio pintado.
Paraqueçaba (praia da ilha de São Sebastião, SP). De pará + ker + sab/a + -a: lugar em que o rio dorme, remanso do rio.
Sabaúna (uma das cachoeiras do rio Tietê, SP): "As cachoeiras notaveis d'este rio Tieté são as seguintes: Acanguerusú [...] Jurumirí, Avaremondoava, [...] Sabauna, Itaguasava [...]" (Francisco de Oliveira Barbosa [1792], Noticias da Capitania de S. Paulo, p. 25). De sabîaúna: sabiás pretos, sabiaúnas, pássaros da família dos turdídeos (Sousa, Trat. Descr., 238).
Taipu, São Miguel de (PB). A mesma etim. de Itaipu (v.).
As edições e os manuscritos utilizados aparecem a seguir, tendo à frente, entre parênteses, o nome abreviado ou por extenso do autor, da obra ou da instituição que a publica, na forma em que figura no dicionário.
amor - taûsuba; îoaûsuba ● amor erótico: poropotara (m)
mosca - (variedades): meru; mberuoby; îetinga; mutukusu, etc.
sobre - (ponto preciso): 'ari; sosé; (sentido difuso): 'arybo
akangagûá (s.) - cabeça de virote (arma antiga); maça, clava, qualquer porra de madeira; (adj.) (xe) - ser cabeçudo (como o virote) ● i akangagûaba'e - o que é cabeçudo (como o virote) (VLB, I, 61)
NOTA - Daí, os nomes geográficos COTIA (SP), ACUTIACANGA (AM), etc. (v. p. 386).
andub (ou andu) (v.tr.) - 1) perceber, sentir: ...Putuna nd'îaîandubi xûéne... - A noite não perceberemos. (Ar., Cat., 167); Maria i katu-eté; n'onhanduî moropotara. - Maria é muito bondosa; não sentiu o desejo sensual. (Anch., Poemas, 182); Mbegûé îaîomongetá t'onhandu umẽ abá. - Baixo conversemos para que não o percebam os índios. (Anch., Teatro, 146); Na pe andubi. - Não vos perceberam. (Anch., Teatro, 66); ...O angaîpaba posyîûera andube'yma. - Não sentindo o peso de suas maldades. (Ar., Cat., 92); ...Anhandub Anhanga ratápe nde só-potara. - Sinto que tu queres ir para o fogo do diabo. (Ar., Cat., 112); 2) observar: ...abá rekó andu-andupa - ficando a observar o procedimento das pessoas (Ar., Cat., 74); 3) prognosticar (VLB, II, 87); 4) suspeitar (VLB, II, 121) ● emianduba (t) - o que alguém sente, o que alguém percebe, observa, etc.: Ereîkópe kunhã resé... abá remiandubamo? - Fizeste sexo com uma mulher com alguém observando-o? (Ar., Cat., 105); andupaba - tempo, lugar, modo, etc. de sentir, de perceber; percepção: São João pitangĩ, tygépe o endápe, nde rura andupápe, o por-oporĩ... - São João criancinha, estando no ventre, ao perceber tua vinda, ficou saltando. (Anch., Poemas, 118); inhandubypyre'yma - o que não é percebido; a coisa secreta (VLB, II, 114)
apekũ1 (s.) - língua (parte da boca) (Castilho, Nomes, 28); Tatá-endy-etá, asé apekũ abŷare'yma anhõ osepîak. - Viram somente muitas chamas, parecidas com nossas línguas. (Ar., Cat., 45); Xe apekũ-mombyk ikó 'ybá. - Trava-me a língua esta fruta. (VLB, II, 136) ● apekũ apyra - a ponta da língua (Castilho, Nomes, 28)
SAPIRÃO, a saudação lacrimosa dos antigos tupis da costa (fonte: De Bry)
apytagûá (s.) - cabeça de virote (arma antiga); maça, clava; (adj.) (xe) - ter cabeça de virote (VLB, I, 61) ● i apytagûaba'e - o que é cabeçudo (como o virote) (VLB, I, 61)
NOTA - MUMBAVA pode ter outros sentidos correlatos: 1) agregado; 2) apaniguado; 3) capanga (in Dicion. Caldas Aulete).
(s.) - arroto: eú-rema - arroto fétido (VLB, I, 44); xe eúme - se eu arrotar (lit. - no caso de meu arroto) (Anch., Arte, 26); (adj.) - arrotador; (xe) ter arroto, arrotar (VLB, I, 44)
gûarikuru (s.) - espécie de camarão comestível (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 187; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 78)
NOTA - No P.B., JEREBA tem vários sentidos: 1) animal ruim de montaria; 2) arreios; 3) indivíduo desajeitado ou desleixado; 4) (SP Pop.) meretriz; 4) (BA) espécie de raia grande (in Novo Dicion. Aurélio).
îerobîar1 (v. intr. compl. posp.) - 1) ser altivo, arrogante, denodado (em coisas de guerra ou briga): Aîerobîá-katu. - Sou muito arrogante; Aîerobîá-pyryb gûitekóbo. - Estou sendo um tanto arrogante. (VLB, I, 33); 2) ensoberbecer-se, gloriar-se, ser presumido, ser fantasioso, ser contador de vantagem [compl. com esé (r, s)]: Aîerobîá-katu (mba'e) resé. - Ensoberbeci-me muito acerca das coisas. (VLB, I, 118, adapt.); Aîerobîá xe îoesé. - Ensoberbeci-me acerca de mim mesmo. (VLB, I, 117); Aîerobîar-a'ub (mba'e) resé. - Glorio-me em vão das coisas. (VLB, I, 148)
ka'aysá (ou ka'aysara) (s.) - CAIÇARA, fortificação contra inimigos feita de ramos de árvores; cerca rústica feita de galhos e ramos entrelaçados para defesa e proteção (VLB, I, 143)
karuka (s.) - tarde, entardecer, CARUCA: Tiá nde karuka! - Boa tarde! (D'Evreux, Viagem, 246) ● karukeme - à tarde (Fig., Arte, 128): Marãpe asé rekóû karukeme, o ker-y îanondé? - Como a gente faz à tarde, antes de dormir? (Ar., Cat., 74v); karukĩneme - ao entardecer (VLB, I, 36)
korine'yba (s.) - CORINDIÚBA, CORINDIBA, QUATINDIBA, nome comum a plantas arbustivas e espinescentes da família das ulmáceas, de boa madeira (Sousa, Trat. Descr., 204)
penaranga (m) (s.) - 1) rodela do joelho (Castilho, Nomes, 35); 2) rodela do braço (VLB, I, 73)
pynhûã (m) (s.) - dedo do pé, artelho (Castilho, Nomes, 30)
pysãpẽ (m) (s.) - unha de dedo do pé (Castilho, Nomes, 33) ● pysãpẽgûasu - unha de dedo polegar do pé (Castilho, Nomes, 33)
pysapy'i (s.) - rede de pesca para piquitingas (VLB, II, 99)
sygûasueté (ou sûasueté ou sugûasueté) (etim. - veado verdadeiro) (s.) - var. de veado pequeno do mato, animal mamífero da família dos cervídeos (VLB, I, 81)
temone1 (part. que indica o modo optativo. Leva o verbo para o gerúndio. Pode ser acompanhada por -mo no final do período.) - oxalá (VLB, II, 53); ah se... (VLB, II, 59): Temone a'ereme osykamo - Oxalá chegasse então. (Anch., Arte, 57); Temone ko'yr Anhanga ratá pora, abá amõ opu'ama iké îandé re'yîpemo... - Oxalá agora alguma pessoa, habitante do fogo do inferno, levantasse aqui na nossa multidão. (Ar., Cat., 165v); Temone xe gûixóbo... - Ah, se eu fosse... (Fig., Arte, 143)
(suf. que marca o modo indicativo circunstancial): ...I kangûerĩ tiruã momba'etéû... - Até mesmo seus ossinhos cultua. (Ar., Cat., 12v); Kó xe rekóû nde reká... - Eis que aqui estou, procurando-te. (Anch., Poemas, 104); Kori i îukáû. - Hoje o matou. (Anch., Arte, 39v)
Carioca (ribeirão do RJ e nome de antiga aldeia indígena da Guanabara, a mais próxima da vila de São Sebastião, fundada por Estácio de Sá). De kariîó, carijó, nome de grupo indígena com origem no Paraguai + oka (r, s): casa de carijós: "Yaupa Moçupiroka, Yequej, guatapitiba, [...] Carijo oca, Pacucaya, Araçatiba." (Anchieta, Poemas [Auto de São Lourenço], versos 147-151). Os carijós também estavam na costa: "(...) destes ha infinidade e correm pela costa do mar e sertão até o Paraguay." (Pe. Fernão Cardim, [1585], Do principio e origem dos Indios do Brasil, p. 103). De nome de lugar passou a designar, ainda no período colonial, também os que nascem no Rio de Janeiro: "[...]os Cariocas e Americanos eram fracos, vis, patifes e pusillanimes (Jeronymo de Castro e Souza [1789], Carta do Alferes Jeronymo de Castro e Souza, Denunciando o Tiradentes", pp. 266-267)
Itanhentinga (rio da BA). De itá + nha'ẽ + ting + -a: bacia de pedra branca.
Maíra (nome de mulher). De maíra - entidade mitológica dos antigos tupis que serviu para designar os franceses, que os índios supunham ser criaturas sobrenaturais. Significa, assim, francês.
Paraitinga (rio de SP). De pará + aíb/a + ting + -a: rio ruim e claro.
Tauá, Santo Antônio do (PA). Mesma etim. de Taguá (v.).
Tejuçuoca (SP). De teîuûasu - teiuaçu, réptil teídeo + oka (r, s): toca dos teiuaçus.
AGUIAR, Manoel Gonçalves de [n.d.], Notícia - 1.ª prática e resposta que deu o sargento-mor da praça de santos, manoel gonçalves de aguiar, às perguntas que lhe fez o governador e capitão general da cidade do rio de janeiro, e capitanias do sul, antonio de brito e menezes, sobre a costa e povoações do mesmo mar. Ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq).
barro - nhau'uma ● barro branco: tobatinga; barro vermelho ou amarelo: tagûá
vespa - kaba; (variedades): kabapuã; kaba; kabesé; kabobaîuba; kasunununga, etc.
a'anga (t) (s.) - imagem, representação: Aó-tinga pupé asé resé sobá ra'anga rari. - Num pano branco, por nossa causa, a imagem de seu rosto tomou. (Anch., Diál. da Fé, 188)
ãînhoba'ũ (t) (s.) - vão entre os dentes (Castilho, Nomes, 38)
amati'ã (t) (s.) - clítoris (VLB, II, 35), TAMATIÁ (AM pop.): Xe ramati'ã - meu clítoris, meu tamatiá (Léry, Histoire, 366)
NOTA - Daí, os nomes geográficos ARATICU (PA), ARATICUM (BA), etc. (v. p. 386).
eîar (ou eîá) (s) (v.tr.) 1) deixar (no sentido de abandonar): Oîabab i xuí, seîá... - Fugiram dele, deixando-o. (Ar., Cat., 55); ...Aseîá kûesé xe roka... - Deixei ontem minha casa. (Anch., Poemas, 112); Ybaka rasapa, osó, nde reîá... - Atravessando o céu foi, deixando-te. (Anch., Poemas, 124); 2) deixar (no sentido de pôr à disposição, legar, entregar): Kó santo o mbo'esara rekopûera erimba'e oîkûatiar îandébo, seîá. - Esse santo a vida de seu mestre escreveu para nós, deixando-a. (Ar., Cat., 134); 3) omitir, pôr de lado: Xe resaraî é gûitekóbo, n'aseîá-potá ruã! - Eu estava, mesmo, esquecendo, não que o quisesse omitir. (Anch., Teatro, 180, 2006) ● eîasaba (t) - tempo, lugar, companhia, modo, etc. de deixar: Ouîebype erimba'e o boîá reîasagûerype? - Voltou a vir ao lugar em que tinha deixado seus discípulos? (Ar., Cat., 53); emieîara (t) - o que alguém deixa: Cristãos i mongaraibypyra tekokuaparamo Cristo remieîara... - O que Cristo deixa como chefes dos cristãos batizados. (Ar., Cat., 6-6v); seîarypyra - o que é (ou deve ser) deixado: Seîarypyrama ruã-tepe mba'e tetiruã kûáî? - Acaso o que será deixado é tudo? (Ar., Cat., 165)
eke'yra (t, t) (s.) - irmão, primo (filho de tio paterno) ou sobrinho (filho de irmão) mais velhos (de h.): -Abá abépe asé oîmoeté aîpó Tupã nhe'enga mopóne? -Ogû eke'yra... -Quem mais a gente honrará para cumprir aquela palavra de Deus? -A seu irmão mais velho. (Ar., Cat., 69)
erimba'e1 (ou rimba'e) (adv.) - 1) outrora, antigamente, no passado, outro dia, já não agora; há tempo; tempos atrás (VLB, II, 61): ...Tamũîa... omombab erimba'e... - Destruiu outrora os tamoios. (Anch., Teatro, 52); Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava segundo a lei primeira. (Anch., Poemas, 114); I porang, erimba'e, Mia'y, xe retãmbûera. - Era bela, outrora, Miaí, minha antiga região. (Anch., Poemas, 152); 2) futuramente, algum dia (VLB, I, 31): ...Peẽ bé ybŷá pe tymagûama na peîkuabi, "-rimba'e ipó ixénone" 'ee'yma? -Vós também não reconheceis que vos enterrarão, não dizendo "-futuramente serei eu também"? (Ar., Cat., 155v); (Erimba'e foi muito usado no tupi colonial para assinalar tempo passado, haja vista que, em tupi antigo, o verbo não expressa tempo. Muitas vezes não se traduz.) ● erimba'endûara (ou erimba'endûarûera) - o que é de antigamente, o que é de outrora; coisa antiga (VLB, II, 143): Erimba'endûarûera ixé. - Eu sou o que é antigo, o de tempos atrás. (VLB, I, 91)
(e)ro- [pref. que indica a voz causativo-comitativa. Assume, antes de nasal, a forma (e)no-.]: Abebé kó ybytu îá; anonhan, arobebéne... - Vôo como este vento; fá-los-ei correr comigo, fá-los-ei voar comigo... (Anch., Teatro, 40); ...Xe anametá aroporaseî seru. - Meus parentes trazendo, faço-os dançar comigo. (Anch., Poemas, 138)
gûariniama (s.) - guerra: Gûariniãme oporapitiba'e tiruãpe?... - Mesmo o que assassina na guerra (transgride o mandamento de Deus)? (Ar., Cat., 69v)
2 (interj.) - diz o que está angustiado (Fig., Arte, 147)
NOTA - No P.B., JIRAU tem, além dos sentidos acima, mais os seguintes: 1) armação de madeira sobre a qual se edificam as casas a fim de evitar a água e a umidade; 2) (p. ext.) qualquer armação de madeira em forma de estrado ou palanque; 3) cama de varas; 4) (arquit.) no interior de um compartimento, piso a meia altura que cobre, apenas parcialmente, a sua área; 5) sobreloja (in Novo Dicion. Aurélio). "JIRAO chamam no Amazonas ũa como grade de paos levantados da terra, onde costumam secar carnes, peixe, ou qualquer outra cousa (...)" (Pe. João Daniel [1757], p. 300)
pora3 (s.) - 1) conteúdo, o que está contido, o que está em ou dentro de: Eresópe abá... îeky-'ye'ẽ supa, i pora rá? - Foste para revistar os covos de água doce de alguém, tomando seu conteúdo? (Ar., Cat., 107v); Nd'aruri amõ parati; oîepé xe pysá pora. - Não trouxe nenhum parati; um só é o conteúdo de minha rede. (Anch., Poemas, 152); ikó 'ara pora - o que está neste mundo (Ar., Cat., 141); kamusi pora - o que está no pote (Anch., Arte, 31v); paranã pora - o que está no mar (Anch., Arte, 31v); 2) componente: ...Te'õ abé reîkéû ikó 'ara poramo oîá. - Da mesma forma, como componente deste mundo, a morte também entrou. (Ar., Cat., 155); (adj.: por) - 1) cheio, pejado, carregado; (xe) ter conteúdo; conter coisas: ...N'i pori be'ĩ xe aîó. - Não contém mais nada minha bolsa. (Anch., Teatro, 46); N'i tybangáî setãmbûera. Opá... akûeîme n'i poretáî. - Não existem mais as suas antigas terras. Todas, desde então, não contêm muita coisa. (Anch., Teatro, 52); ...I por nde rygé. - Está cheio teu ventre. (Anch., Poemas, 116); muru'a-pora (lit., carregada de feto) - grávida (Ar., Cat., 77v); 2) saciado; (xe) saciar-se: Tekoangaîpaba pupé pore'yma. - Com o pecado não se saciar. (Bettendorff, Compêndio, 17)
pu2 (v. intr.) - cessar (tb. a chuva); estiar (VLB, I, 122)
re'ĩ1 (part. de m.) 1) (expressa expectativa, projeção de futuro) - haver de ser, dever ser: ...Xe ruba rekobîara é re'ĩ... - Há de ser o substituto de meu pai. (Ar., Cat., 95v); ...Sesápe xe rekóû re'ĩ... - A seus olhos eu hei de estar. (Ar., Cat., 32); 2) (expressa temor ou má expectativa) - dever, haver de: Omanõ îepémo pitanga xe suí ixé so'o 'useî tenhẽ roîrémo re'ĩ... - Haveria de morrer certamente a criança de mim após eu querer comer caça. (Ar., Cat., 77v); Xe mendûera ipó re'ĩ... - Meu ex-marido há de ser certamente. (Anch., Teatro, 8)
tuî1 - forma de 3ª p. do modo indicativo circunstancial de îub /ub(a) (t, t) (v.) (Anch., Arte, 58)
tyba2 (s.) - 1) ajuntamento, reunião, multidão, TIBA, TUBA, conjunto, abundância: Pa'igûasu irũndyba... - a multidão de companheiros do provincial (Anch., Poemas, 114); takûarusutyba - ajuntamento de taquaras grandes (Staden, Viagem, 116); tá-tyba - ajuntamento de aldeias (VLB, II, 84); Rerityba - "ajuntamento de ostras", nome de um lugar (Anch., Poemas, 112); 2) existência, ocorrência: -Nd'e'ikatupe amoaé abá oporomongaraípa abaré suí? -E'ikatu, abaré tybe'ỹme é. -Não pode outra pessoa batizar em vez do padre? -Pode, no caso de não existência, mesmo, de padre. (Ar., Cat., 80v)
ybyîa (s.) - nome de um carnívoro aquático (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 234)
Anguera (BA). De 'anga + -ûera: abrigo antigo.
Caboclo (serra do MA). De kuriboka - mestiço de índio e branco.
Ererê (PA). De aîriré: irerês, aves anatídeas.
Gurupá (PA). Gurupá foi nome de uma antiga capitania do Norte, localizada no nordeste do Pará, na boca do rio Amazonas,"na zona fisiográfica do Marajó e Ilhas. Primitivamente era habitado por índios, até que, em época desconhecida, os holandeses ali se estabeleceram, construindo feitorias e portos fortificados". (fonte: IBGE).
Itabuna (BA). De itá + abuna - homem vestido de preto, padre (Vieira, Cartas, I, 382): padre de pedra, referência a formação rochosa que semelha um padre.
Manaíra (PB). Apareceu tal nome, em substituição ao antigo, Alagoa Nova, após 1939: "Conta a lenda que a denominação Manaíra (...) foi escolhida em homenagem a uma índia com esse nome, prometida por seu pai Boiassu, como noiva, ao índio Piancó, chefe da tribo dos Coromas." (fonte: IBGE). Etimologia obscura, podendo não ser nome tupi.
Quebo (MT). De gûeba: guebos, peixes istioforídeos.
Tinguatiba (BA). Nome de plantas rutáceas, tinguacibas*, espinhos-de-vintém, de língua geral.
(Fig.) FIGUEIRA, Luís, Arte de Grammatica da Lingoa Brasilica. Miguel Deslandes, Lisboa, 1687 (Ed. facsimilar de Julius Platzmann, sob o título Gramática da língua do Brasil). B. G. Teubner, Leipzig, 1878.
embora (= apesar de que) - îepé; aûîebé-te; tiruã
'a2 (s.) - cabeça do pênis, glande (Castilho, Nomes, 27) ● 'a-îuru - orifício do pênis (Castilho, Nomes, 28)
NOTA - PIXAIM, no P.B., pode ser substantivo ou adjetivo: Ele tinha PIXAIM curto. Seu cabelo PIXAIM era bonito.
'ayîá (s.) - cabeça do pênis, glande (Castilho, Nomes, 28)
endybangã1 (ou enybangã) (t) (s.) - cotovelo (Castilho, Nomes, 39)
îurumopy (s.) - cantos da boca, de fora (Castilho, Nomes, 32)
kapibara (ou kapi'ibara ou kapi'iûara) (etim. - comedor de capim) (s.) - CAPIVARA, carpincho, o maior roedor do mundo, que pode atingir mais de 50 quilos. Pertence à família dos hidroquerídeos (Hydrochoerus hydrochoeris L.), da América do Sul oriental. Vive à beira dos rios, nos brejos, nas lagoas, sendo grande nadadora, habitando também perto de matas ou cerrados. Sai geralmente à noite, vivendo sempre em bandos. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 230)
mboryb2 (ou moryb ou mbory) (v.tr.) - consentir; dar consentimento a, permitir, aceitar, tolerar, ser tolerante com, admitir: Asé aé oîemoabangá i mborypa... - A gente mesma acovarda-se, consentindo-o. (Anch., Diál. da Fé, 231); Na xe poromborybi. Eu não sou tolerante com as pessoas. (VLB, II, 114); Ereîmorype abá paîé rerobîaragûama resé? - Toleraste as pessoas em sua crença no pajé? (Ar., Cat., 98v); Ereîmorype i nhe'enga...? - Aceitaste as palavras deles? (Ar., Cat., 100v) ● morypaba - tempo, lugar, modo, etc. de consentir; consentimento: ...Tupã nhe'engaby morybagûera... - consentimento na transgressão da palavra de Deus (Ar., Cat., 90); mborypara (ou morypara) - o que consente; o que permite, o que tolera: ...'Aretéreme i porabyky-potaryba'e mborypara... - O que tolera o que quer trabalhar nos feriados. (Ar., Cat., 68v); omboryba'e - o que tolera, o que permite: Mba'e-poxy resé oporomboryba'e. - O que tolera as pessoas em coisas más. (Anch., Diál. da Fé, 209); ...O ké-poxy omboryba'e... - O que se compraz em seu sonho mau. (Anch., Diál. da Fé, 211)
panema (m) (s.) - carência, imperfeição, inutilidade; azar, desdita, desgraça; o mofino, o desgraçado; (adj.: panem) - PANEMA, carente (falto de algo), imperfeito, azarado (na caça ou na pesca), imprestável, inútil; infeliz na vida, desgraçado, desditoso, aziago; (xe) ficar sem porção ou sem presa (numa distribuição): Xe panem (mba'e) resé. - Eu fico sem porção nas coisas (isto é, não recebo nada numa partilha). (VLB, II, 40, adapt.)
po'ir1 (v. intr. compl. posp.) - deixar, partir, afastar-se, separar-se, apartar-se (como, p.ex., os cônjuges, os amancebados, etc.), desaferrar-se (de algo ou de alguém: compl. com suí): E'ikatupe o îosuí opo'i? - Podem deixar um do outro? (Ar., Cat., 94v); Pepo'i xe remiarõ suí! - Afastai-vos daquele que eu guardo! (Anch., Teatro, 180, 2006)
Sumé (s. antrop.) - Sumé, nome de uma entidade da mitologia dos tupis da costa, que teria ensinado aos índios a agricultura: Pa'i, Sumé pypûera'angaba a'e. - Padre, aquele é o sinal dos pés de Sumé. (Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §20, 123)
tobi (s.) - peixe da família dos gimnotídeos (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 172v)
tyb (xe) (v. da 2ª classe) - haver, existir (usado apenas com a 3ª pessoa: i tyb): N'i tybi xe rasapaba ogûataba'e supé. - Não há como passar por mim para os que caminham. (Anch., Poemas, 158); N'i tybi a'epe îase'o, mba'easy n'i tybi, n'i tybi ambyasy, 'useîa bé n'i tybi... - Não há ali choro, não há doença, não há fome, sede também não há. (Ar., Cat., 167)
ura2 (t, t) (s.) - vinda: ...Pesepîak irã... ybytinga 'arybo xe rura béne... - Vereis também, futuramente, minha vinda sobre as nuvens... (Ar., Cat., 56v); Osepîakype i boîá tura? - Viram seus discípulos a vinda dele? (Ar., Cat., 45)
ybytygûaîa1 (ou ybytyûaîa ou ybytyngûaîa) (etim. - cauda de montanha) (s.) - passagem, caminho estreito entre montes (VLB, I, 82); vale: Ikó ybytygûaîa îasegûaba pupé. - Neste vale, lugar de choro. (Ar., Cat., 14v); Ybytygûaîa Îosafat seryba'epe. - No vale que tem nome Josafat. (Ar., Cat., 46v)
Canhema (lugar de Diadema, SP). A mesma etim. de Canhima.
Itiquiri (SP). De 'y + tykyra + suf. -'i: gotinhas d'água.
Moema (nome de mulher). De mo'ema - mentira (nome de uma personagem da epopéia Caramuru, de Santa Rita Durão, de 1781). Moema fora amante de Diogo Álvares, simbolizando o amor-concupiscência, donde o nome que recebeu na epopéia.
Tamboatá (PE). De tamûatá - peixes caliquitídeos.
Argumento e Predicado em Tupinambá. Boletim da Associação Brasileira de Lingüística, no 19, 1996.
atenção - (dar atenção): îeapysaká; (atenção!): tîaté!
porco - (porco-do-mato): taîasu; (porco doméstico): taîasugûaîa
serra2 (= instrumento de serrar) - ybyrakyaba
amõroré (s.) - eternidade; (adj.) - eterno, inextinguível: ...Yby apyterype tatá-amororé ogûeba'erame'yma monhanga... - No meio da terra fazendo um fogo inextinguível, que não se apagará. (Ar., Cat., 38)
amynyîu (s.) - 1) árvore do algodão, nome antigo das malváceas do gênero Gossypium, cuja espécie mais comum é o Gossypium barbadense L., árvore copada, de flores ora amarelas, ora brancas (D'Abbeville, Histoire, 226v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 59); 2) algodão, penugem que envolve as sementes do algodoeiro: Aamynyîu-poban. - Fiei o algodão. (VLB, I, 138) ● amynyîu-tyba - algodoal (VLB, I, 31); amynyîu-aoba - malha de algodão para a defesa na guerra; amynyîu-aó-poanama - malha de algodão grossa para a defesa na guerra (VLB, I, 41); amynyîu-'yba - pé de algodão, algodoeiro (VLB, I, 31)
apysakarara (s.) - surdo (como se dizia em Piratininga) (VLB, II, 122)
'ekatuaba1 (s.) - a mão direita (VLB, II, 32; Castilho, Nomes, 31): Mba'epe oîme'eng i 'ekatuápe? - Que deram à sua mão direita? (Ar., Cat., 60v); (adj.: 'ekatuab) - dotado de mão direita; (xe) ter mão direita: I pópe Tupã-Tuba, i 'ekatuápe, i asupe? - Deus-Pai tem mãos, tem mão direita, tem mão esquerda? (Ar., Cat., 45)
-i3 (suf. que expressa o modo indicativo circunstancial) - Koromõ xe kanhemi. - Logo fujo. (Anch., Arte, 39v); Koromõ sepîaki. - Logo o viu. (Anch., Arte, 39v); Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez uma certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); Abá sosé pabẽ i momorangi... - Mais que a todos os seres humanos embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); Emonãnamo, xe ruri... Portanto, eu vim. (Anch., Poemas, 100)
îekyegûasu (s.) - grande massa usada pelos potiguaras para fazer feitiço para aqueles a quem queriam mal, matando-os (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 279)
kupy3 (s.) - 1) parte interna da coxa (Castilho, Nomes, 31); 2) perna: Aîkupyîurar. - Lacei-lhe as pernas. (VLB, II, 74); Aîkupy-pûar. - Amarrei-lhe as pernas. (VLB, I, 46)
papy (mb) (s.) - pulso do braço, punho (Castilho, Nomes, 35)
parati2 (s.) - variedade de mandioca, comestível a partir de oito meses de plantio, apta para cultivo em terras fracas e de areia; o mesmo que mandi'yparati (v.) (Sousa, Trat. Descr., 173)
pese'õ (ou pyse'õ ou pyse'ong) (v.tr.) - partir em pedaços: A'epe abaré hóstia pese'õ-etá-etáreme i pese'õmbûera îabi'õ Îandé Îara Îesu Cristo rekóû? - E ao partir muitas vezes o padre a hóstia em pedaços, em cada pedaço Nosso Senhor Jesus Cristo está? (Ar., Cat., 87v)
suí2 (s.) - peixe da família dos ranfictídeos (Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 175)
tapîora (s.) - remédio feito da raiz do îetikusu (v.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 41)
NOTA - Há no P.B. (S. pop.), a expressão NO TIPITI, em dificuldades, em apuros.
NOTA - Daí, no P.B., TATE, com o mesmo sentido (v. taté).
-ûasu (ou -gûasu) (suf.) - 1) -ão (suf. aumentativo, como em matão); grande, GUAÇU, AÇU: Osokendab a'e karamemûã itagûasu pupé. - Fecharam aquele túmulo com uma pedra grande. (Ar., Cat., 64v); piragûasu - peixão, peixe grande (Anch., Arte, 13); Xe tupinambagûasu. - Eu sou o grande tupinambá. (Anch., Poemas, 114); Oîké îugûasu, i akanga kutuka... - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); ...andyragûasu-bebé... - morcegão voador (Anch., Teatro, 26); Reriûasu - Ostra Grande, nome de pessoa (Léry, Histoire, 341); 2) muito (em quantidade): I kaûĩgûasu-pipó xe ramũîa Îagûaruna? - Tem muito cauim, porventura, meu avô Jaguaruna? (Anch., Teatro, 60); 3) muito (em intensidade): Xe kerambugûasu. - Eu ronco muito. (VLB, II, 108) (V. tb. -usu.)
uba1 (s.) - coxa, da parte dianteira (Castilho, Nomes, 40); coxa da perna (VLB, I, 85): Aryryî, opá xe uba îesyî... - Tremo, ambas as minhas coxas adormeceram. (Anch., Teatro, 26) ● ugûera - quarto traseiro que se parte de um animal ou de uma pessoa (VLB, II, 91); coxa arrancada do corpo: T'a'u kori i îybapûera, Îagûarusu, i ugûera... - Hei de comer hoje seus braços, Jaguaruçu, suas coxas. (Anch., Teatro, 64)
Araraú (morro de Itanhaém, SP). A mesma etim. de Araraí (v.).
Atininga, Santo Antônio do (AM). De 'ara + tining + -a: ar seco, tempo seco.
Bugi (córrego de MG). Talvez a mesma etimologia de Mogi (v.) ou, ainda, pela língua geral meridional, nome de uma erva que brota às primeiras chuvas (in Dicion. Caldas Aulete, 538).
Cuxiauaia (ig. do AM). Pelo nheengatu, de akuti + ûaîa (t): cotias de cauda. (Stradelli, 144)
Juruvaíva (Cajamar, SP). De îuruba - ave momotídea + 'yba: planta das juruvas, planta não identificada.
Pititinga (RN). Nome de um peixe. De pira + titing/a + -a: pele de manchas brancas.
Tinguá (RJ). Nome de uma planta não identificada, da língua geral meridional.
contar - mombe'u ● contar número ou quantidade: papar
sob - (ponto preciso): gûyri; gûyrype; (sentido difuso): gûyrybo
aîriré (s.) - IRERÊ, ave da família dos anatídeos (Brandão, Diálogos, 234)
akûaba (t) (s.) - púbis; pêlos da virilha (Castilho, Nomes, 37); [adj.: akûab (r, s)] - pubescente; (xe) pubescer, ser pubescente (VLB, II, 89)
Anhanga (s.) - ANHANGA, ANHANGÁ, 1) nome de entidade sobrenatural entre os índios (Staden, Viagem, 138): Anhanga koîpó te'õ koîpó Îurupari rekyîa. - Invocando o Anhanga ou a morte ou o Jurupari. (Ar., Cat., 70v); 2) diabo, demônio, em sentido genérico: T'aroŷrõngatu anhanga... - Que deteste muito o diabo. (Anch., Poemas, 98); Îori anhanga mondyîa oré moaûîé suí! - Vem espantar o diabo para que não nos vença! (Anch., Poemas, 102); Aîmosem anhanga xe îosuí. - Lanço o diabo fora de mim. (Fig., Arte, 81) ● anhanga ratá - fogo do diabo; inferno: -A'epe i 'anga mamõ i xóû? -Anhanga ratápe. - E sua alma para onde foi? - Para o inferno. (Ar., Cat., 58-58v)
biã2 (part. que expressa idéia adversativa, indicando algo contrário ao que se espera) - 1) mas..., etc., sem resultado: Asó biã. - Fui sem resultado. (Anch., Arte, 21v); Xe n'aîu-potari biã, karaíba moabaîtébo. - Eu não queria vir (mas vim), irando os homens brancos. (Anch., Poemas, 194); Asaûsu biã. - Amo-o (mas nem por isso ele me ama). (Anch., Arte, 21v); Kunhã iké sekóû biã mã! - Oxalá houvesse uma mulher aqui (mas não há)! (Anch., Doutr. Cristã, II, 93); Asé ruba oîmonhang (asé reté) biã, Tupã i monhanga potasápe é. - Nosso pai o fez (i. e., nosso corpo) mas porque Deus o quis fazer, na verdade. (Ar., Cat., 25); Anhanga ratápe ko'yr oîkoba'e, a'epe o só îanondé "-Asó-potar ybakype" e'i biã. - Os que estão no inferno agora, antes de irem para lá diziam (sem resultado): -Quero ir para o céu. (Ar., Cat., 248); 2) embora, apesar de, apesar disso: Xe resy Lorẽ-ka'ẽ, xe morubixaba biã. - Assa-me o Lourenço tostado, embora eu seja um rei. (Anch., Teatro, 90); Oîepé nhõngatu erimba'e karaibebé Tupã nhe'enga abyû biã, sesé nhõ Tupã i moingóû Anhangamo... - Embora tão somente uma vez uns anjos tenham transgredido a palavra de Deus, por causa disso, somente, Deus os fez ser diabos. (Ar., Cat., 112)
erokarûera (t) (s.) - padrinho ou madrinha (de batismo ou crisma): xe rerokarûera - meu padrinho (VLB, II, 27)
îagûasatigûasu (s.) - pica-peixe, uma espécie de martim-pescador existente no Brasil, pássaro da família dos alcedinídeos, que vive nos rios grandes, lagos, lagunas, manguezais e à beira-mar, sempre onde há barrancos ou rochas para fazer ninhos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 194; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 111)
5 (part.) (Com o verbo 'i / 'é na negativa. Forma condicionais.): no caso de, se: Nd'e'i ké ogûatá-pytuna... - Se não andasse de noite... (Fig., Arte, 161); N'e'i ké oguatábo... - Se ele não andasse... ; Nd'e'i ké o angaîpabamo... - Se ele não fosse ruim... (Fig., Arte, 161)
kytynga (s.) - ferrugem, mancha: Aîkytyngok. - Tiro a sua ferrugem. (VLB, II, 22)
mbyr - forma nasalizada do suf. deverbativo -pyr (v.)
NOTA - Daí, no P.B. (AM) MOPONGA, MUPUNGA, batição, processo de pesca que consiste em bater a água de um rio com uma vara, ou com a mão, a fim de afugentar o peixe na direção desejada. Há a locução bater MOPONGA (in Novo Dicion. Aurélio).
poro- (m-) (pref. que indica objeto em sentido indeterminado, podendo traduzir-se por gente, pessoas): Xe îara Îesu sosang poresé. - Meu senhor Jesus sofre pela gente. (Anch., Poemas, 122); Mboîa oporosu'u. - A cobra morde a gente. (Fig., Arte, 6); Aporomondó. - Mando gente. (Fig., Arte, 86); Aporoîuká. - Mato gente. (Fig., Arte, 86); Marã eré-p'amẽ eporombo'ebo? - Que dizes, de costume, ensinando as pessoas? (Ar., Cat., 55v)
posanga1 (m) (s.) - remédio, PUÇANGA, mezinha; antídoto; poção, beberagem, feitiço; remédio preparado pelos pajés; purgante, unguento (VLB, II, 12): mosãngatu - remédio bom (VLB, II, 34); ...Mosanga ra'ã-ra'anga... - Ficando a experimentar poções. (Anch., Teatro, 36); ...mosanga mûeîrabyîara. - remédio portador de cura (Anch., Teatro, 38); Nde îepi oré posanga. - Tu és sempre nosso remédio. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); mboîasy-posanga - remédio contra dor de picada de cobra, antídoto contra veneno de cobra (VLB, II, 137); ...ka'a mosanga ra'anga... - experimentando poções de ervas (Anch., Poesias, 268)
OBSERVAÇÃO - Com a colonização, o porco doméstico foi trazido para o Brasil, passando a receber o mesmo nome dado a um animal silvestre, que os tupis caçavam e não criavam, o taiaçu. Para se diferenciar um animal do outro, passou-se a utilizar, muitas vezes, o adjetivo eté (verdadeiro, genuíno) com referência ao taiaçu do mato (taîasueté - o taiaçu verdadeiro). Isso aconteceu também com outras palavras: tapi'ira (v.) (anta ou vaca), îagûara (v.) (onça ou cão).
te'e (adv.) - sem razão, sem causa, sem motivo, à toa, em vão, por engano, por erro, por modo diverso. Com o verbo 'i / 'é como auxiliar significa não é à toa que, por isso mesmo, por essa causa mesma, não por outra razão (seguindo-se o verbo principal no gerúndio): Nd'a'éî te'e gûixóbo. - Por isso mesmo vou (etim. - não estou indo sem razão). (Fig., Arte, 161); Nd'e'i te'e moxy onhana... - Por isso mesmo as malditas correm. (Anch., Teatro, 128); Nd'e'i te'e omanõmo. - Por essa causa mesma morreu. (Fig., Arte, 161)
NOTA - Daí, no português do Brasil, MUTUTI
tyabora (s.) - penúria, miséria, falta de mantimentos (VLB, I, 128)
tybytaba (s.) - sobrancelhas (Fig., Arte, 76; Castilho, Nomes, 40)
2 (part. que acompanha a forma negativa do futuro do indicativo, do condicional e do optativo): Nd'oromombe'uî xóne. - Não te denunciarei. (Anch., Teatro, 32); ...Marã 'é n'opyki xóne... - Não cessarão de dizer maldades. (Anch., Teatro, 36) (o mesmo que xûé - v.)
Daí, também, os nomes geográficos IBITINGA (município de SP), IBIAPABA (serra entre o CE e o PI), etc. (v. p. 386).
Há, contudo, topônimos atribuídos artificialmente e que datam de poucas décadas, em ambientes em que já não mais havia falantes das línguas em que o topônimo foi atribuído. Com efeito, no século XX a frente pioneira do Brasil passou pelo oeste paulista, pelo norte e oeste paranaenses, pelo centro-oeste do país, para onde se deslocou a própria capital do Brasil. Getúlio Vargas apregoou, na década de quarenta, a Marcha para o Oeste, tendo havido a fundação de centenas de municípios nas sobreditas regiões. Pujantes cidades nelas surgiram muito tempo depois que a língua geral meridional desapareceu. Por outro lado, a primeira metade do século vinte foi marcada, no Brasil, por forte nacionalismo político, econômico e cultural. O Modernismo, surgido com a Semana de 22, a Revolução de 30, a Era de Vargas, tudo conduzia a uma busca de referenciais da pátria brasileira. Surgem tupinistas nas universidades brasileiras, alguns dos quais passarão a ter a incumbência de dar nomes aos novos municípios que se fundavam nessa época. Aparecem, assim, muitos topônimos de origem tupi no século XX. Alguns são composições corretas, da índole do tupi antigo, das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Outros são fruto da elaboração fantasiosa de amadores, que resolveram embrenhar-se por um campo de estudo sem conhecimento suficiente das línguas. Em alguns casos, etimologizar tais palavras é uma tarefa inútil, a de tentar atinar com significados, quando eles não existem. É o caso do nome Umuarama, cidade do Paraná, criado por Silveira Bueno a pedido de seus fundadores. Tal palavra não significa absolutamente nada. Perderia o seu tempo o pesquisador que tentasse procurar a sua etimologia. O próprio Silveira Bueno mostra-nos por quê:
Caatinga (morro de Itanhaém, SP). De ka'a + ting + -a: mata clara.
Inhacuru (rio do MT). Variedade de milho nativo: "Há porém ainda nesta mesma espécie outras castas de milho [...] já bem conhecidos. Além do graúdo, há o segundo, a que os naturaes chamam mapira inhacuro (...)" (Pe. João Daniel [1757], p. 311)
Mucuri (SE). De mukury: mucuris, plantas gutíferas.
Tapera (SE). De taba + pûer + -a: aldeia extinta. Durante o período colonial, tapera passou a significar também, fazenda abandonada. É com esse sentido que tal palavra aparece mais comumente na toponímia brasileira: "Por que cuidaes que se arruinam e desfabricam, e estão feitos taperas tantos engenhos?" (Pe. Antônio Vieira [1657], 3.° Sermão da Quarta Dominga da Quaresma, p. 69)
CLASTRES, Hélène, A Terra sem Mal - O profetismo Tupi-Guarani. Editora Brasiliense, São Paulo, 1978.
RODRIGUES, Aryon Dall'Igna, Diferenças Fonéticas entre o Tupi e o Guarani. In Arquivos do Museu Paranaense, vol. IV (Curitiba, 1945), pp. 333-354.
BARBOSA, Francisco de Oliveira [1792], Noticias da Capitania de S. Paulo, da America Meridional: escritas no anno de 1792, por Francisco de Oliveira Barbosa. In Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, n. 17, abril de 1843.
PAES LEME, Pedro Taques de Almeida, Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da Mesma Capitania (1954), Livraria Martins, São Paulo.
resistir - (intr.): nheran; nhemobabak; (tr. - resistir a): momarã; popyatã; moabangab2
apupira (t) (s.) - partes sexuais, pudendas (Castilho, Nomes, 38); vagina (VLB, II, 35) ● apupi-îuru (t) - orifício vaginal (Castilho, Nomes, 38)
'atyba (s.) - têmporas; fontes da cabeça (Castilho, Nomes, 30): Ereî'atypetekype amõ abá? - Esbofeteaste as têmporas de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 87); Aî'atypetek. - Esbofeteei suas têmporas. (VLB, I, 56)
'atybaname'yma (s.) - têmporas, fontes da cabeça (Castilho, Nomes, 30; VLB, I, 141)
buîeîa (s.) - BUIJEJA, espécie de lagarta nativa, "a qual é muito resplandescente...; parece uma candeia acesa e, quando anda, é ainda mais resplandescente" (Sousa, Trat. Descr., 270)
itaky (s.) - mó ou pedra de afiar: itaky-nhatimana - pedra de afiar que gira, pedra de afiar de barbeiro (VLB, II, 39)
marakaîamimbaba (s.) - MARACAJÁ XERIMBABO, gato doméstico (VLB, I, 147)
momokõî (v.tr.) - fazer pela segunda vez, repetir (VLB, II, 115)
NOTA - Daí provém o nome geográfico IBITIRUÍ (ybytyra + ro'y, "morro frio"), antigo nome tupi do Serro Frio, em Diamantina, MG, onde viveu a famosa Chica da Silva, personagem histórica do século XVIII.
Serviu-lhes para isso não pouco o aviso e noticia que de tudo lhes tinha dado um TAPANHUNO, escravo do capitão mór de Tapecorú, João de Souza Soleima...
Ariroba (RJ). Variante de araroba, araruba (etim. - pau da arara), planta da família das leguminosas: "Da casca da Araroba, que não só se acha no Pará e Maranhão, como em diversas outras partes, se tira optima tinta encarnada. (Luiz dos Santos Vilhena [1801], p. 764)
Congonhas (bairro de São Paulo, SP). A mesma etimologia de Congonha.
Tucana (AM). De tukana: tucanos, aves ranfastídeas.
Daí, também, os nomes geográficos ACAJUTIBA (BA), ACAJUTIBIRÓ (PB), etc. (v. p. 386)
NOTA - Daí, PAMONÃ, prato do sertão nordestino preparado com farinha de milho ou de mandioca, feijão, peixe ou carne; revirado. (in Dicion. Caldas Aulete)
atîama (s. onomat.) - espirro (VLB, I, 127); (adj.: atîam) (xe) - espirrar: Xe atîam. - Eu espirro. (VLB, I, 126)
'atybaîa (s.) - cabelo crescido que os índios tinham sobre as orelhas (VLB, I, 151)
îeapyká2 (v. intr.) - reproduzir-se, procriar, multiplicarem-se (as pessoas, os animais), descender: Aîeapyká. - Reproduzi-me, procriei. (VLB, II, 44); Onhemoangaîpabeté serã apŷaba... o îeapyká-eté roîré? - Porventura fizeram-se muito maus os homens após se multiplicarem? (Ar., Cat., 41) ● îeapykaba'e - o que se multiplica; o que descende: N'osaûsubaripe Tupã amõ abá îeapykaba'erama resé...? - Não se compadeceu Deus de alguém por causa dos que descenderiam (dele)? (Ar., Cat., 41v); îeapykaba - tempo, lugar, modo, efeito, etc. de se reproduzir, de procriar; a descendência: ...A'e karaibypy îeapykaba... mondyka. - Destruindo a descendência daquele primeiro homem branco. (Ar., Cat., 155)
îe'o2 (v. intr. compl. posp.) - reservar-se, destinar-se (para algo ou para alguém: compl. com -ramo): Nd'e'i te'e o poxye'ymamo... Tupã-Ta'yra syramo o îe'o îanondé. - Por isso mesmo não tinha maldade antes de se destinar para mãe de Deus- Filho. (Ar., Cat., 9)
kamaru (s.) - CAMARU, árvore do sertão nordestino, de grande porte
kumari (s.) - CUMARI, variedade de pimenta nativa (Capsicum frutescens L.), arbusto da família das solanáceas (Sousa, Trat. Descr., 186; Brandão, Diálogos, 195)
kupy2 (s.) - costas (o mesmo que kupé - v.) (Castilho, Nomes, 31)
memẽ3 (adv.) - 1) sempre (às vezes com as partículas nhẽ ou îepi): Te'yîpe memẽ nhẽ ixé aporombo'e.- Sempre eu ensinei as pessoas publicamente. (Ar., Cat., 55v); Tynysẽ memẽ ygasaba. - Estão sempre cheias as igaçabas. (Anch., Teatro, 34); Morubixaba tuîba'e onhe'eng memẽ i xupé... - Os chefes velhos falam sempre a eles. (Anch., Teatro, 34); Memẽ nhẽ i xóû îepi. - Ele sempre vai. (VLB, II, 115); ...Ta xe rarõ memẽ îepi... - Que me guarde sempre. (Ar., Cat., 34v); Osó memẽ n'akó îepi. - Eis que ele sempre vai. (VLB, II, 115); 2) para sempre: ...Oré sumarã reîtyka memẽ. - Nosso inimigo vencendo para sempre. (Anch., Poemas, 126)
moîoakypûer (v.tr.) - fazer um atrás do outro, repetir um depois do outro: Aîmoîoakypûer (mba'e). - Faço as coisas uma atrás da outra (quando são só duas). (VLB, I, 154, adapt.); Aîmoîoakypûé-kypûer. - Faço-as umas atrás das outras (se são muitas). (VLB, I, 154)
momotîasó (v.tr.) - repreender (com rigor): Xe momotîasó ahẽ nhe'enga. - A fala de fulano repreendeu-me. (VLB, I, 124)
mondeb1 (v.tr.) - colocar, pôr, meter, enfiar, vestir (a roupa ou a pessoa), calçar: Opabĩ tekoaíba mondebi-katu o py'ape. - Todos os vícios colocaram bem em seus corações. (Anch., Teatro, 10); Aîaó-mondeb. - Vesti a roupa nele. (VLB, II, 144); ...Îandé py'a pupé sekó mondepa... - Dentro de nosso coração colocando sua lei. (Anch., Poemas, 88); Eîmondeb itangapema surupe.- Enfia a espada na bainha... (Ar., Cat., 54v); Aîmondeb o aîurybo. - Meto-o pelo pescoço. (Anch., Arte, 43); Aîpyapasá-mondeb. - Calcei o sapato; Aîepyapasá-mondeb. - Calcei-me os sapatos. (VLB, I, 63) ● mondepaba - tempo, lugar, etc. de pôr, de colocar, etc.: Okeretápe se'õmbûera o mondebagûerype oupa? - Dormiu demais seu cadáver, estando deitado no lugar em que o puseram? (Ar., Cat., 44v)
mondykyr (ou mondyky) (v.tr.) - fazer gotejar, destilar (VLB, I, 129): Nde resa'y eîmondyky... - Destila tuas lágrimas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
mopy'ir (v.tr.) - fazer soltarem-se os pés (p.ex., tirando-se a escada a alguém) (VLB, I, 122)
NOTA - No P.B., TOCAIA tem, atualmente, o sentido de "emboscada", "espreita ao inimigo ou à caça". Dessa palavra originou-se o nome ITAOCAIA (de município do RJ) (v. p. 386).
patûá (ou patygûá ou patugûá) (s.) - PATUÁ, PATIGUÁ, PICUÁ, canastra, cesta de folhas de palmeira, balaio: Ereru patûá? - Trouxeste patuás? (D'Evreux, Viagem, 245)
sabiîuîuba (ou sabiîeîuba) (s.) - SABIJUJUBA, vinhático amarelo, planta vinhática da família das leguminosas-mimosoídeas (Plathymenia reticulata Benth.) (VLB, II, 146)
serigûaîá (s.) - SIRIGOIÁ, var. de crustáceo marítimo decápodo, da família dos portunídeos (VLB, I, 70)
NOTA - No P.B., IGAÇABA asumiu, também, o sentido de urna funerária: "As urnas funerárias de barro (IGAÇABAS), lisas, de forma globular assentada em fundo cônico, de paredes grossas de um dedo, sem ornamentação gravada ou pintada, arrumadas e enterradas em linhas paralelas no terreno raso, marcavam, na face do solo, inúmeros círculos." (Raimundo Morais, in País das Pedras Verdes, apud Novo Dicion. Aurélio)
Capoeira (GO). De ka'a + pûer + suf. -a: mata extinta.
Itaquaxiara (Itapecirica da Serra, SP). A mesma etimologia de Itaquatiara (v.).
Sarapó (rio do PA). De sarapó - peixes gimnotídeos.
Morfologia do Verbo Tupi. in Letras, no 1. Curitiba, 1953.
FONTES PRIMÁRIAS: EDIÇÕES E MANUSCRITOS UTILIZADOS
(Anch.) ANCHIETA, Joseph de, Arte de Grammatica da Lingoa mais usada na Costa do Brasil. Edição facsimilar da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1933.
aseopyãîa (s.) - paladar ou céu da boca; véu palatino (VLB, II, 62; Castilho, Nomes, 28)
bîar2 (v. intr.) - estar acostumado, estar prático: N'abîari. - Não estou acostumado. (VLB, II, 47)
eîyî (s) (v.tr.) - 1) afastar (de lugar), desviar, tirar de um lugar para outro: Aseîyî (abá) suí. - Afastei-o do homem. (VLB, I, 22, adapt.); ...Sekó-poxy suí îandé reîyîa. - De sua vida má nos afastando. (Anch., Poemas, 88); Ne'ĩ, taûîé, xe reîyîa... - Eia, depressa desviando-me. (Anch., Poemas, 98); 2) repelir: Maria t'îambory, Anhanga rekó reîyîa. - Que a Maria alegremos, a lei do diabo repelindo. (Anch., Poemas, 188); Eseîyî-ukar umẽ iké suí xe retama. - Não o deixes afastar daqui minha morada. (Anch., Poesias, 58)
gûarará2 (s.) - peixe da família dos ciprinodontídeos (Sousa, Trat. Descr., 296)
momaran2 (ou momarã) (v.tr.) - desobedecer a, resistir a, combater: Aîmomaran xe ruba. - Desobedeci a meu pai. (VLB, I, 99); T'oú taûîé xe rarõana xe pysyrõmo i xuí, ...i momarana! - Que venha logo o que me guarda para me livrar dele, combatendo-o. (Anch., Teatro, 178, 2006); N'oîmomarã-mirĩ-angáîpe ybakygûara Tupã remimotara? - Não desobedecem nem um pouco os que moram no céu à vontade de Deus? (Ar., Cat., 27)
pi (-îo-) (v.tr.) - picar (p.ex., um inseto, uma urtiga): Aîopi. - Piquei-o. (Anch., Arte, 6v; VLB, II, 77)
pokuba'ũ (m) (s.) - vão entre os dedos da mão (Castilho, Nomes, 36)
poroŷrõ (v. intr.) - 1) encruar-se (p.ex., pela ingratidão de alguém), encruescer-se; 2) ficar cru (p.ex., o que se assa ou se coze) (VLB, I, 115)
taîuîá (s.) - TAJUJÁ, TAIUIÁ, caiapó, purga-de-gentio, planta da família das cucurbitáceas (Cayaponia tayuya (Vell.) Cogn.), trepadeira herbácea de grande porte, de propriedades medicinais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 27)
Tupi2 (s. antrop.) - nome de um personagem mítico "que dizem ser donde procede toda a gente do Brasil" . Dele "... umas nações tomaram o nome de Tupinambás, outras de Tupinaquis, outras de Tupiguaés e outras Tupiminós". [Vasconcelos, Crônica [Not.] I, §149, pp. 109-110]
NOTA - Daí se origina, no P.B., a palavra ABATIRÁ ('aba + tyrá, "cabelos arrepiados"), nome de um antigo grupo indígena de Porto Seguro.
Jabuti Mirim, Lago do (PA). Do nheengatu, jabutis pequenos.
Tumiritinga, São Geraldo de (MG). De ytu + mirĩ + ting + -a: cachoeira pequena e clara.
LORENZI, Harri et al., Palmeiras no Brasil (nativas e exóticas). Editora Plantarum, Nova Odessa, 1996.
embaixo (de) - (ponto preciso): gûyri; gûyrype; (sentido difuso): gûyrybo
apûã (s.) - beiço de cima, lábio superior (Castilho, Nomes, 29)
apỹîgûara (s.) - ventas, narinas, fossas nasais (Castilho, Nomes, 29) ● apỹîgûaraba - pêlos das ventas, do nariz (Castilho, Nomes, 29); apỹîgûaru'uma - muco nasal (Castilho, Nomes, 29)
eroîebyr (v.tr.) - 1) devolver; tornar a trazer, restituir: Ogûeroîebyr... o mondasagûera. - Devolve o objeto de seu furto. (Ar., Cat., 73); Aroîebyr aoba. - Torno a trazer a roupa. (Anch., Arte, 48v); 2) fazer voltar em si, voltar com, repetir: Oîmboasy-katu o angaîpaba... seroîeby-potare'yma. - Arrepende-se muito de sua maldade, não querendo repeti-la. (Ar., Cat., 80) ● eroîebysara (t) - o que devolve, o que repete, etc.: O angaîpagûera reroîebysare'yma. - O que não repete seus antigos pecados. (Ar., Cat., 169); eroîebysaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de devolver, de fazer voltar em si, de repetir: ...Tekokatu reroîebysabamo. - Como modo de fazer voltar em si a virtude. (Ar., Cat., 84v)
gûé (interj. de h. Vem posposta ao substantivo.) - 1) ó, oh! (de chamado): Eîori, xe îarĩ gûé...! - Vem, ó meu senhorzinho! (Anch., Poemas, 130); ...Enhemombegûabo ereîur, xe ra'yrĩ gûé? - Vieste para te confessar, ó meu filhinho? (Ar., Cat., 220); Xe rub-y gûé! - Ó meu pai! (Fig., Arte, 9); 2) Valha-nos Deus! (com espanto) (VLB, II, 141); 3) Irra! (VLB, II, 7); 4) Vede isso! (com admiração) (VLB, II, 142); 5) Isso não pode ser! (não crendo no que se diz) (VLB, I, 27)
gûyrybo (loc. posp.) - sob, por debaixo de (em sentido difuso): ...Anhanga pó gûyrybo nhẽ sekóû... - Sob as mãos do diabo está. (Ar., Cat., 31v); pysaîekatu ké-gûyrybo - "sob o sono" da alta noite, nas horas mortas da noite, em que todos dormem (VLB, I, 32)
kokoty2 (conj.) - de um lado... de outro lado (repetindo-se o termo); por um lado... por outro lado: Kokoty tatá rasyeté, kokoty-kokoty ro'y oporomoryryîeteba'e, i moîasegûabone; kokoty ambyasy, 'useîeté... - Por um lado, a grande dor do fogo, por outro lado, um frio que faz as pessoas tremerem muito, fazendo-as chorar; por outro lado, a fome, uma grande sede. (Ar., Cat., 164)
koniã (conj.) - de um lado... de outro lado (repetindo-se o termo): ...Tupã îandé rekomonhang'iré... mokõî nhõ abá rekoabane: koniã ybaka Tupã raûsupara rekoabamo, koniã Anhanga ratá i angaîpaba'e rekoabamono. - Após Deus nos julgar, duas somente serão as moradas dos homens: de um lado o céu, como morada dos que amam a Deus, e, doutro lado, o inferno, como a morada dos que são pecadores. (Ar., Cat., 163)
NOTA - COIVARA passou a ter, no P.B., mais sentidos: 1) restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada, na roça à qual se deitou fogo, e que se juntam para serem incineradas a fim de limpar o terreno e adubá-lo com as cinzas, para uma lavoura; 2) (MA) galhadas e troncos de árvores derrubados pelas cheias e que descem rio abaixo (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - CURIMBABA, no P.B. (MG), também tem o sentido de capanga.
mboryb1 (ou moryb ou mbory) (v.tr.) - 1) alegrar, satisfazer: Maria t'îambory... - Que alegremos a Maria. (Anch., Poemas, 188); 2) alegrar-se de, ter gozo em, deleitar-se com, comprazer-se de: ...O kera pupé o pupukûera morypa... - Deleitando-se com sua polução em seu sono. (Ar., Cat., 72); Arakaîá-te ombory... - Mas os aracajás deleitam-se com eles. (Anch., Teatro, 36); Ereîmborype nde angaîpagûera resé nde ma'enduasaba? - Tiveste gozo com tuas lembranças de teus pecados antigos? (Ar., Cat., 233) ● omboryba'e - o que alegra; o que se compraz em: ...O ké-poxy omboryba'e... - O que se compraz em seu sonho mau. (Anch., Diál. da Fé, 211); mborypara (ou morypara) - o que alegra, o que se deleita com: -Abá abépe oîaby? -Kunhã me'engara... koîpó i mborypara. -Quem mais o transgride? -O que entrega mulheres e o que se deleita com elas. (Ar., Cat., 71); morypaba - tempo, lugar, modo, etc. de alegrar, de deleitar-se com; regozijo, gozo, deleite: ...O morybagûera poepyka... - Retribuindo seu regozijo com ele. (Ar., Cat., 89)
moakangagûá (v.tr.) - fazer cabeça no virote (arma antiga) para não ferir a caça (VLB, I, 61)
NOTA - No P.B., NAMBI pode também ser um adjetivo: 1) de orelha cortada ou atrofiada; 2) que tem as orelhas caídas (fal. de cavalo): cavalo NAMBI (in Novo Dicion. Aurélio).
nhemomotiasó (v. intr.) - emendar-se: Eîeroŷrõ, enhemomotiasó... - Detesta-te, emenda-te. (Anch., Doutr. Cristã, II, 113)
obaún (s) (v.tr.) - pintar de preto o rosto a, entisnar o rosto de, fazer riscos pretos no rosto de: Asobaún. - Entisnei o rosto dele. (VLB, I, 118)
NOTA - Daí, no P.B., PICADA ou PIQUE, com o sentido de "caminho estreito, aberto no mato, sob as árvores, sem as cortar": "[...] entrou a distribuir a gente de trabalho, uns abrir picadas e endireitar caminhos, outros abrir caminhos de carro, outros a cortar madeiras [...]" (desconhecido [1704], Encontrando Quilombos, pp. 59-60).
ro'yrypy'oka (os tupinambás diziam ro'yrypy'aka) (etim. - frio coalhado) (s.) - geada; neve (VLB, II, 49): ...O akanetá-beraba ro'yrypy'aka sosé morotingyba'e reroína. - Estando com seus cocares brilhantes que são mais brancos que a geada. (Ar., Cat., 168v)
Biritinga (BA). De ybyryba, nome de uma árvore + ting + suf. -a: biribas claras. (v. Biriba)
Carapó (MT). De sarapó, nome de um peixe gimnotídeo.
Guaraci (SP). De kûarasy: sol. Nome atribuído artificialmente em 1921. (fonte: IBGE)
Ibiraba, Lagoa da (PI). De ybyraba - árvore lecitidácea.
Timburi (SP). Planta leguminosa cujo fruto é utilizado como sabão; termo da língua geral meridional.
aîpoba'e (dem. pron. n.vis.- somente ouvindo ou sentindo, mas não vendo) - esse (es, a, as), aquele (es, a, as); aquilo, isso: Aîpoba'e ri, ko'y asaûsu xe îara Îesu. - Por causa disso, agora amo a meu senhor Jesus. (Anch., Poemas, 108); Abápe aîpoba'e oîmomaran? - Quem desobedece àquele? (Ar., Cat., 67)
apŷuban (v.tr.) - forrar por fora (p.ex., barrete, vestido, etc.): Aîapŷuban. - Forrei-o. (VLB, I, 142)
'asyb (v.tr.) - tosquiar os cabelos (de modo particular, ou seja, por toda a moleira, quase rente e tudo o mais ao comprido até o pescoço ou, pelo menos, muito mais alto) (VLB, II, 137) ● 'asypaba - tempo, lugar, modo, etc. de tosquiar; tosquia (VLB, II, 137)
aybõ (v.tr.) - fazer agouro para, fazer prognósticos para: Asaybõ. - Faço agouros para ele. (VLB, I, 27)
îeîukaaíb (ou îeîukaíb) (v. intr. compl. posp.) - insistir, ficar insistente, esforçar-se; (fig.) matar-se [por alguém ou por algo: compl. com esé (r, s)]: Oîeîukaaíb-eté serã serasoaretá a'ereme, oposẽ-posema? - Acaso insistiram muito, então, os que o levaram, ficando a gritar? (Ar., Cat., 58v); Aîeîukaíb (abá) resé. - Matei-me pelas pessoas. (VLB, II, 33, adapt.)
NOTA - Daí, o nome do Parque Nacional do ITATIAIA (RJ) (v. p. 386).
karaku (s.) - pasta ou suco produzidos pela mastigação de raízes picadas de aipim-macaxeira, que eram depois cuspidos em vasilha para a fabricação de cauim (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272; Nieuhof, Mem. Viag., 305)
kuakub (ou kuaku) (v.tr.) - 1) esconder, ocultar, omitir, calar, negar, encobrir: ...O mũetéramo sekó kuakupa. - Escondendo ser parente legítimo dela. (Ar., Cat., 71v); Aûîé kunumĩgûasu o ekoaibeté oîomim, oîkuaku... - Enfim, os moços escondem seus muito maus procedimentos, calam-nos. (Anch., Teatro, 38); Mosapy ipó xe boîáramo nde rekó ereîkuakub mokõî gûyrá sapukaî'e'ymebéne... - Na verdade, três vezes negarás ser meu discípulo antes de o galo cantar duas vezes. (Ar., Cat., 57); 2) recusar: ...Pitanga kuakupa... - Recusando uma criança (que iria nascer). (Ar., Cat., 66v); 3) dissimular, disfarçar a existência de: O a'yra kuakupa emonã sekóû. - Assim procede para disfarçar a existência de seus filhotes. (VLB, I, 104); O embiara kuakupa aîpó i 'éû. - Para disfarçar a existência de suas presas ele disse isso. (VLB, I, 104) ● emikuakuba (t) - o que alguém esconde, nega, etc.: ...O emimombe'upûera o emikuakugûera irũmo bé i mombe'uîebyrine. - Os que confessou com os que escondeu voltará a confessar. (Ar., Cat., 90); kuakupaba - tempo, lugar, modo, etc. de ocultar, de recusar, etc.; ocultamento: ...mba'e kuakubagûera... - o ocultamento das coisas (Ar., Cat., 161v); i kuakubypyra - o que é (ou deve ser) escondido: ...I kuakubypyre'yma i nhyrõngatu i xupé. - Os que não são escondidos perdoa bem a eles. (Anch., Teatro, 158)
nhemoîegûak (v. intr.) - enfeitar-se, adornar-se: Xe Parati 'y suí aîu Tupã sy repîaka, gûinhemoîegûá-îegûaka... - Eu vim do rio dos paratis para ver a mãe de Deus, ficando a enfeitar-me. (Anch., Poemas, 110)
NOTA - Daí, também, no português do Brasil, PETITINGA, PETINGA, pequeno peixe de rio ou de mar; PETITICA, PETITICO (famil.), criancinha.
pusu'ã (m) (s.) - espinha, espinhela, espinhaço (Castilho, Nomes, 34); pusu'ã-apyra - ponta da espinhela (Castilho, Nomes, 34); Aîpusu'ã-mogûyr. - Ergui a espinhela. (VLB, I, 126); pusu'ã-'ara - espinhela caída ou derrubada (Castilho, Nomes, 36)
pykuba'ũ (mb) (s.) - vão entre os dedos dos pés (Castilho, Nomes, 30)
-sar(a) [suf. nominalizador. Forma deverbais ativos, com o sentido de agente. Tem os alomorfes -ar(a), -an(a). Corresponde, geralmente, aos sufixos -or, -dor, do português.]: Pesaûsu pe monhangara... - Amai vosso criador. (Anch., Teatro, 54); so'ombo'isara - retalhador de carne, açougueiro (VLB, II, 28); moroîtykara - vencedora (Anch., Poemas, 88); ...Îandé rekobé me'engara... - Doador de nossa vida. (Anch., Poemas, 90); morapitîara... - trucidador (Anch., Poemas, 90)
supi1 (adv.) - de verdade, verdadeiramente, legitimamente, com razão, de fato: Supi aîpó a'é. - Digo isso com razão. (VLB, II, 105); ...Abá resápe nhote... na supi ruã-te. - Aos olhos dos homens somente, mas não de verdade, (Ar., Cat., 160); Supi é, ereîuká-potar é São Lourenço-angaturama. - De fato, quiseste matar mesmo o bondoso São Lourenço. (Anch., Teatro, 90) ● supindûara - o que é verdade: A'epe supindûare'yma resé Tupã renõîndara, marã? - E o que evoca a Deus pelo que não é verdade, que acontece? (Ar., Cat., 67v)
su'u (v.tr.) - 1) morder, abocanhar mordendo; mastigar: Aîxu'u - Mastigo-o. (D'Evreux, Viagem, 158); Aî'asu'u. - Eu lhe mordo a cabeça. (VLB, II, 42); Mboîa oporosu'u. - A cobra morde as pessoas. (Fig., Arte, 6); 2) picar: Xe su'umo marigûi. - Picar-me-ia o marigui. (Anch., Teatro, 62) ● emindu'u [ou emixu'u (t)] - o que alguém morde, mastiga ou pica: ...Mboîa o emindu'u rekobé mokanhemukar-y îanondé, o ekobé reîari o akanga patukasagûerype. - A cobra, antes de fazer destruir a vida daquele que morde, deixa sua própria vida, ao pisarem sua cabeça. (Ar., Cat., 241, 1686); ...Nd'ere'uî xó kori xe remindu'une! - Não beberás hoje o que eu mastigo. (Anch., Teatro, 10)
2 (interj.) - ah! oh! eta! (expressa prazer, satisfação): Té, xe resemõ toryba... - Ah, sobra-me alegria. (Anch., Teatro, 10); Té, aûîé-katutenhẽ! - Ah, excelente! (Anch., Teatro, 24); Té, aûîé nipó! - Oh, muito bem! (Léry, Histoire, 341); Té, temõ oú mã! - Oh, oxalá viesse! (Anch., Arte, 57)
NOTA - Daí, os nomes geográficos CAJAPIÓ (MA), TIJIPIÓ (PE), ARAPIJÓ (PA), etc. (v. p. 386).
Dada a magnitude da influência do tupi antigo na onomástica brasileira, julgamos importante apresentar uma relação, ainda que limitada, de topônimos e antropônimos que tenham origem naquela língua e nas que se desenvolveram historicamente dela, a saber, a língua geral setentrional, a língua geral meridional (uma variante desta, com influências guaranis) e o nheengatu, ainda falado no Vale do Rio Negro, no estado do Amazonas. Daí provêm mais de noventa e cinco por cento dos nomes geográficos brasileiros de origem indígena. As outras línguas indígenas brasileiras têm reduzida participação no sistema toponímico do Brasil.
Nambu (riacho de PE). De nambu: inhambus, aves tinamídeas.
Paratinga (bairro de Praia Grande, SP). De pará + ting + -a: rio claro.
Sapucaí (MG). De sapukaîa - sapucaia, planta lecitidácea + 'y: rio das sapucaias.
SOUSA, Afonso Botelho de S. Paio e [1769], Notícias da conquista e do descobrimento dos Sertões do Tibagi na Capitania de São Paulo, no governo do General D. Luis Antonio de Sá Botelho Mourão, conforme ordens de Sua Majestade. Por Afonso Botelho de S. Paio e Souza no ano de 1768 até o de 1774. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, manuscritos, 9, 3, 14.
aninga2 (s.) - arrepiamento do corpo; excitação, estímulo sexual; (adj.: aning) - arrepiado; (xe) ter arrepio, ter arrepiamento: Xe aning-aning. - Eu tenho arrepiamentos. (VLB, I, 43)
îururá (ou îurará) (s.) - IURARÁ, JURARÁ, JURURÁ, réptil da ordem dos quelônios, da família dos pleomedusídeos, de carne e ovos muito apreciados pelos habitantes da região amazônica (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 241)
nhenupã1 (s.) - 1) auto-flagelar-se, penitenciar-se, castigar-se: Kype anhenupã-nupã. - Fiquei a penitenciar-me longamente. (Anch., Teatro, 172); 2) disciplinar-se (VLB, I, 103)
takó1 (part.) - haver de (com um verbo no indicativo ou no gerúndio): Nã takó îomomoranga re'a...! - Assim havemos de nos acariciar! (Ar., Cat., 234); Abá-angaîpabĩ takó mba'e-katu ogûerekó xe suí mã!... - Ah, um homem pecador há de ter mais coisas boas que eu! (Anch., Doutr. Cristã, II, 102); ...Emonã takó aîkó... - Hei de viver assim. (Anch., Diál. da Fé, 211)
NOTA - TAPEJARA (ou TAPIJARA) tem, também, o sentido de 1) prático, conhecedor de caminhos ou de uma região: "Naquela escuridão fechada nenhum TAPEJARA seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo" (Simões Lopes Neto, in Contos Gauchescos e Lendas do Sul); 2) (RS) aquele que conduz embarcação com segurança, firme ao leme; pessoa hábil e entendida; 3) (adj.) valentão (in Novo Dicion. Aurélio); TAPIARA (SP pop.) estradeiro, velhaco, espertalhão, trapaceiro, donde o verbo TAPEAR, agir como um tapiara, enganar, iludir, lograr.
Guaió (Suzano, SP). É nome de índios tapuias extintos: "Outros que chamão Guayó, vivem em casas, pellejão com frechas ervadas, comem carne humana, têm outra lingua." (Pe. Fernão Cardim [1585], Do Principio e Origem dos Indios do Brasil, p. 104).
Guarapó (ribeirão de SP). De sarapó, peixes gimnotídeos (VLB, II, 12)
Ibirá (SP). De ybyrá: árvores. Nome atribuído artificialmente em 1906.
Siriri (SE). De suîriri, pássaro da família dos tiranídeos.
Tanabi (SP). De tanambi, borboleta, em guarani antigo, o mesmo que panambi: "Mariposa panambi 1. tanambi [Tes. no tiene este]; esta es la polilla que se convierte en mariposilla blanca [...]" (Restivo, Vocabulario de la lengua guarani [1722] (1893), p. 378)
cheiro - (cheiro bom): tyapûana; (cheiro de peixe): pyti'u; (cheiro de mofo): tygynõ; (cheiro de urina): taby'aka; (cheiro mau, bodum): katinga
cortar - 'ab; mondok; (com instrumento cortante): ky
NOTA - Daí, os nomes geográficos ANUM (AL) e ANUTIBA (ES) (v. p. 386).
apé2 (s.) - 1) APÉ, APEÍBA, árvore da família das tiliáceas, "de casca muito verde e lisa,... cuja madeira é muito branca" (Sousa, Trat. Descr., 219). Sua madeira é muito usada para jangadas, e é mais chamada no Norte pau-de-jangada. (Apeiba tibourbou Aubl.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 273); 2) espécie de amoreira silvestre (Sousa, Trat. Descr., 196); 3) fruto da apeíba (v.) (Brandão, Diálogos, 216)
apixab (v.tr.) - ferir (geralmente na cabeça), dar cutilada: S. Pedro itangapema osekyî morubixaba rembiaûsuba Malko seryba'e apixapa... - São Pedro puxou a espada, ferindo um amigo do chefe, chamado Malco... (Ar., Cat., 76, 1686); ...Sabeypora suí bé oîoapixá-pixapa. - Também por embriaguez ficando a ferirem-se uns aos outros. (Anch., Teatro, 34); Ereî'apixabype amõno? - Feriste alguém também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 87)
NOTA - Daí, os nomes de lugares ARARENDÁ (CE), POTIRENDABA (SP), etc. (v. p. 386).
îyko'ẽ (s.) - as duas covas embaixo do queixo (Castilho, Nomes, 32)
NOTA - Daí, o nome geográfico SÃO JOÃO DO MERITI (RJ) (v. p. 386).
obanhana (t) (s.) - mancha no rosto feita com carvão, tinta ou fuligem (VLB, II, 33); (adj.: obanhan) - de rosto manchado, da cara manchada: gûaraobanhana - guará da cara manchada (VLB, II, 56)
oby (t) (s.) - verde, azul, roxo (Não há termos distintos para essas cores no tupi antigo. Usam-se, em certos casos, adjetivos para diferenciá-las.); [adj.: oby (r, s)]: Xe roby. - Eu sou azul; Soby. - Ele é azul. (VLB, I, 49); aoboby - roupa verde, pano verde (VLB, II, 144); ...Mba'epe ké kanindeoby îasûara? - Que há aqui semelhante a um canindé azul? (Anch., Teatro, 62) ● sobyba'e - o que é azul, o que é verde, o que é roxo (VLB, II, 108); oby-kanugûá (t) - roxo furta-cor, isto é, tirante a dourado e que resplandece ou brilha, variando-se segundo lhe atinja o sol (VLB, II, 108): Xe roby-kanugûá. - Eu estou roxo furta-cor. (VLB, II, 108); oby-manisoba (t) - verde-maniçoba: -Aoba. -Marãba'e? -Soby-manisob. -Roupas. -De que tipo? -Elas são verdes-maniçoba. (Léry, Histoire, 342-343)
okytaîuba (lit, coluna amarela) (s. etnôn.) - nome de antiga nação tapuia (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
NOTA - Tal palavra foi incorporada ao tupi antigo a partir do nome próprio Pero, muito comum entre os portugueses que vinham para o Brasil no século XVI. De nome próprio passou a ser nome comum.
porepŷana (m) (s.) - contrato com alguém que estava cativo, após seu resgate (VLB, I, 81)
NOTA - Daí provém o nome próprio de mulher POTIRA, flor, sendo, também, o da personagem da obra indianista de Machado de Assis, Americanas. Dela disse o escritor, nessa obra, referindo-se ao significado de seu nome: Moça cristã das solidões antigas, / Em que áurea folha reviveu teu nome? (in Poesias Completas. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1977)
poxy (m) (s.) - 1) torpeza, abjeção, maldade, desonestidade: ...Oré 'anga poxy reîa. - Lavando a maldade de nossa alma. (Anch., Poemas, 172); 2) feiúra; 3) estrago, deterioração (fal. de alimentos): Nd'ere'uî xûémo; ...i angaîbaratã moxy suí! - Não o comerás; ele está duramente ressequido por deterioração. (Anch., Poemas, 152); 4) maldito, malvado: Eîerok moxy resé... - Arranca-te o nome por causa dos malditos. (Anch., Teatro, 46); Onharõ moxy; xe 'une! - Está bravo o maldito; comer-me-á! (Anch., Teatro, 62); (adj.) - 1) torpe, nojento, abjeto, mau; asqueroso (p.ex., uma ferida ou chaga; um guardanapo, por estar muito sujo), desonesto, imprestável (para se comer): pirá-poxy - peixe imprestável (isto é, que não é bom para se comer) (Léry, Histoire, 297, 1994); "...dão frutos parecidos com as nossas nêsperas, mas muito perigosos; por isso, os selvagens, quando vêem os estrangeiros aproximando-se para colhê-los, repetem muitas vezes seu "i poxy", e advertem-nos para que se abstenham." (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. IX, §6); Eîori, mba'enem, mba'e-poxy! - Vem, coisa fedorenta, coisa nojenta! (Anch., Teatro, 44); Peteumẽ pe poxyramo angiré... - Guardai-vos de serdes maus doravante. (Anch., Teatro, 54); Nde poxype nde remirekó asykûereté amõ resé...? - Tu foste desonesto com alguma irmã verdadeira de tua esposa? (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); 2) feio, disforme: -Emonã abépe i angaîpaba'e reténe? -Aani, i poxy-katune. -Assim também serão os corpos dos que são maus? -Não, eles serão muito feios. (Ar., Cat., 46v); (adv.) torpemente, abjetamente, mal: Penhe'eng poxype pe îoupé...? - Falastes torpemente para vós mesmos? (Ar., Cat., 233); Aîkó-poxy. - Vivo mal. (Anch., Arte, 10v) ● i poxyba'e - o que é torpe, o que é feio, o que é mau, etc.: - Îarekó é rakó mba'e-katu i poxyba'e suí i mouruébo. - Tenhamos as coisas boas, apartando-as do que é torpe. (Ar., Cat., 89); poxŷaba - torpeza, feiúra, abjeção, maldade, etc.: ...o nhe'enga poxŷagûera - a maldade de suas palavras (Ar., Cat., 90)
supikatu1 (adv.) - 1) na verdade, verdadeiramente, legitimamente, com razão: Aîpó eré supikatu... - Isso dizes com razão... (Anch., Teatro, 32); Supikatu serã uîba'e ûyrá-memûã mbouri - Na verdade, esse certamente fez vir o pássaro mau. (D'Abbeville, Histoire, 353)
Guarapiranga (represa de SP). De guará, ave tresquiornitídea + pyrang - vermelho + suf. -a: guarás vermelhos: "E como naquele tempo havia muito pássaro vermelho no rio, e pequenos, intitularam ao rio Guarapiranga [...]". (Caetano da Costa Matoso / Luís José Ferreira de Gouveia [1749], Informação das Antiguidades da Freguesia de Guarapiranga, p. 257). Dizer que um guará é vermelho pode parecer redundância, mas a questão é que a cor dessas aves varia ao longo de suas vidas: "[...] Guará - Nasce preto, e depois vae manxando athé q' fica todo encarnado [...]". (in Anônimo, muito provavelmente Barbosa de Sáa) [1765], p. 171)
Mocoripe (rio do CE). De mukury - mucuri, plantas gutíferas + 'y + -pe: no rio dos mucuris.
Sapucaia, São João da (MG). De sapukaîa, planta lecitidácea.
Tambaúba (riacho da PB). Árvore silvestre, não identificada. De tambá* + 'yba: árvore das conchas, nome devido às listras de sua madeira. (v. Tambaú)
Toriba (SP). De toryba: alegria. Nome atribuído artificialmente no século XX.
NAVARRO, Eduardo de A., Método Moderno de Tupi Antigo - A língua do Brasil dos Primeiros Séculos. São Paulo, Editora Global, 2006, 3ª edição.
(Sousa) SOUSA, Gabriel Soares de, Tratado descritivo do Brasil em 1587. Edição castigada pelo estudo e exame de muitos códices manuscritos existentes no Brasil, em Portugal, Espanha e França, e acrescentada de alguns comentários por Francisco Adolpho de Varnhagen. 5ª edição. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1987.
andyraybîaryba (ou andyraobaîaryba ou andyraybaîaryba) (etim. - árvore que porta os frutos dos morcegos) (s.) - angelim (Andira fraxinifolia Benth.), planta leguminosa, com ação anti-helmíntica, utilizada na medicina popular (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 100; VLB, I, 36)
NOTA - Daí, no P.B., PUNGA, 1) ruim, imprestável, o último a chegar (fal. de cavalos de corridas); 2) mole, inepto, tolo.
(e)tymã (r, s) [variante de etymã2 (t)] (s.) - perna (Castilho, Nomes, 40) ● (e)tymã-o'o (r, s) - barriga da perna (Castilho, Nomes, 40)
Gûaîupîá (ou Ûaîupîá) (s.) - GUAJUPIÁ, 1) nome de uma entidade sobrenatural; espírito dos pajés bons: Ererobîarype... Gûaîupîá moraseîa...? - Acreditas na dança do Guajupiá? (Anch., Doutr. Cristã, II, 83); 2) lugar para onde, na religião dos tupis, iriam as almas após a morte corporal, o qual se localiza além das montanhas e onde se encontrariam os antepassados dos índios (D'Abbeville, Histoire, 323)
NOTA - Daí provém o nome do município de GUARATINGUETÁ (SP) (v. p. 386).
îepysó (v. intr.) - acamar-se, deitar-se, estender-se, estirar-se deitando (ao longo do chão, em cama, etc.): Aîepysó. - Deito-me. (VLB, I, 19); Aîepysó gûitupa. - Eu estou estirado. (VLB, I, 129)
NOTA - Daí provém o nome do município de JUQUITIBA (SP) (v. p. 386).
manati (s.) - peixe-boi, cetáceo da família dos manatídeos. O mesmo que gûaragûá (v.) (Laet, Novus Orbis, Livro XV, cap. XII, §1)
marakaîá2 (s.) - MARACAJÁ, carnívoro felino (Leopardus tigrina Erxl.), também conhecido como gato-pintado-do-mato (D'Abbeville, Histoire, 251v; Marcgrave, Hist. Nat., 233)
moaîu (v.tr.) - importunar, incomodar, molestar, desatinar (VLB, II, 33): Xe moaîu-marangatu... aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me muito aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); Anhanga xe moaîu... - O diabo me importuna. (Anch., Poemas, 132); Oporomoaîu oîkóbo... - Está molestando as pessoas. (Ar., Cat., 83)
nhemongyr (v. intr.) - levantar-se, erguer-se, sair da inatividade, mexer-se (VLB, I, 57)
sapinhagûá (s.) - SAPINHANGUÁ, espécie de molusco comestível (Brandão, Diálogos, 244)
sururu (s.) - SURURU, SURURU-DE-ALAGOAS, molusco comestível da família dos mitilídeos, que vive na lama de certas lagoas (Sousa, Trat., Descr., 292)
NOTA - Daí também provém, no P.B., a palavra JAGUATIRICA ("onça que se afasta"), nome de um animal felídeo que não ataca o homem, como o faz a onça. Frei Arronches confirma tal etimologia na língua geral setentrional: "APARTAR, afastando - moteric".
NOTA - Daí, o nome da localidade de IGARAÇU DO TIETÊ (SP) (v. p. 386).
Jabuti Caá (ig. do AM). Do nheengatu, mata dos jabutis.
Jericoaquara (praia do CE). De îurukûá - tartarugas marítimas + kûara: tocas das tartarugas.
Pariquera (riacho de AL). De pari + pûer + -a: pari extinto.
Piatã (BA). De pyatã (m): coragem. Nome atribuído artificialmente no século XX.
Pitubas, Riacho das (BA). Nome de um peixe não identificado. "...que nenhuã pessoa o vendesse desde a praia de Itapagipe, até o Rio vermelho, e Pituba incluzive..." (Ruy Carvalho Pinheiro [1635], p. 279).
Tapejara (PR). Palavra registrada em textos quinhentistas, mas atribuída artificialmente como nome de uma localidade paranaense: "Na década de 1950 teve início, por meio da Companhia Imobiliária Tapejara, o processo de colonização na região onde se situa o Município de Tapejara." (fonte: IBGE). De tapiîara - morador de um lugar, morador antigo ou que está de assento em algum lugar (VLB, II, 41); tapijara.
______Moluscos do Brasil. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1982.
(Laet) LAET, Joannes de, Novus Orbis seu Descriptionis Indiae Occidentalis Libri XVIII, 1633. Real Biblioteca de Haia, Holanda.
terra - (em seu aspecto físico, natural): yby; (no sentido de pátria): tetama
abakatuaîa (s.) - ABACATUAIA, ABACATUIA, ABACATÚXIA, ABACATINA, peixe da família dos carangídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 161)
aîarõ (xe) (v. da 2ª classe) - parecer bem, fazer sentido: N'i aîarõî Îesu Cristo taté é te'õ suí i îepirapûana, tuba i moingoaba se'õ a'e i aîarõ. - Não parece bem fazer ele a defesa da morte fora de Jesus Cristo, mas faz sentido que sua morte fosse a finalidade com que seu Pai o fez viver. (Ar., Cat., 4)
ati'yba (s.) - ombro: Okarype senosemi, cruz nonga i ati'yba ri. - Retiraram-no para o pátio, colocando uma cruz no ombro dele. (Ar., Cat., 61v); Xe ati'yba ri aîar. - Tomo-o no meu ombro. (VLB, II, 56); O ati'yba ri krusá osupi. - No seu próprio ombro levanta a cruz. (Anch., Poemas, 122) ● o îoati'yba ri - sobre os ombros de duas pessoas, de um e do outro ombro (como a levar uma escada muito comprida) (VLB, II, 56)
kuambe'u3 (v.tr.) - prometer: Aîkuambe'u (abá) supé. - Prometi-o ao homem. (VLB, II, 87, adapt.)
kûara2 (s.) - sol: kûara reîkeaba - pôr-do-sol, poente (etim. - lugar em que o sol entra) (VLB, II, 80); kûara sembaba - lugar em que nasce o sol, o oriente (VLB, II, 59)
mamana (s.) - amarra, laço, enrolamento: Aîmamã-rok. - Retirei as amarras dele. (VLB, I, 98)
moîo'ar (v.tr.) - aumentar; acrescentar (em números), multiplicar, aumentar o número de; desenvolver, dobrar (p.ex., a pena de um degredado) (VLB, I, 21): ...Moropotara nde resá moîo'arype? - O desejo sensual aumentou teus olhos? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95)
r- (pref. de relação usado com alguns substantivos, adjetivos, verbos e posposições para indicar dependência entre estes e os termos que os precedem): Nde porãngatu raûsupa... - Amando tua grande beleza (Anch., Poemas, 84); ...Te'õ rupîara nhẽ... - Adversária da morte. (Anch., Poemas, 88); Xe roryb nde só resé. - Eu estou feliz por tua ida. (Anch., Arte, 27)
rakó2 (part. que expressa o imperfeito do indicativo): Ixé rakó. - Era eu. (VLB, I, 121); Akûeîme rakó pirá asekyî-marangatu... - Antigamente pescava bem os peixes. (Anch., Poemas, 152)
NOTA - Daí provém o nome de um povo indígena extinto, os BIRAPAÇAPARAS (ûyrapara + asab + -ara, "os que cruzam os arcos"), que habitavam a bacia do rio Juruena (MT). Daí, também, o nome geográfico JAIBARAS (CE) (v. p. 386).
tapakurá (s.) - TAPACORA, 1) enfeite de fio de algodão tingido de vermelho usado pelas moças indígenas nas pernas, por baixo do joelho, tecido de maneira que não os podiam tirar, tendo três dedos de largura; liga feita com fio de algodão, com aproximadamente dois pés de comprimento, adornada com penas, sendo colocada pelos índios em torno da perna (D'Abbeville, Histoire, 274); 2) faixa utilizada para atar as pernas dos recém-nascidos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 269; Sousa, Trat. Descr., 306)
NOTA - Daí, o nome do estado brasileiro do TOCANTINS (v. p. 386).
NOTA - Daí, os nomes geográficos ANHANGUERA, TABATINGUERA, etc. (v. p. 386).
NOTA - Daí provém o nome de um povo indígena extinto, os BIRAPAÇAPARAS (ûyrapara + asab + -ara, "os que cruzam os arcos"), que habitavam a bacia do rio Juruena (MT).
NOTA - Daí, o nome da localidade de BUSSOCABA (Cotia, SP) (v. p. 386).
NOTA - "É ũa raiz delgada, cheia de nós, e do feitio do genital dos patos, e daqui vem o chamarem-lhe os naturaes pecacuenha, que quer dizer na sua língua genital do pato." (Pe. João Daniel [1757], (p. 414)
(DHA) DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DO AÇÚCAR. Instituto do Açúcar e do Álcool. Vol. II. Engenho Sergipe do Conde. Livro de Contas [1622-1653]. Rio de Janeiro, 1956.
VILHENA, Luiz dos Santos [1802], Recopilação de noticias soteropolitanas e brasilicas contidas em xx cartas. Imprensa offical do estado, 1921.
akangyapé (ou akangapé) (s.) - casco da cabeça, crânio (Castilho, Nomes, 28)
beémo (part. que expressa o condicional ou o optativo passados): Anhandu beémo erimba'e angûama mã!... - Ah, se tivesse percebido isso outrora! (Ar., Cat., 165v); Îaîuká umã beémo. - Já o teríamos matado. (Fig., Arte, 19)
'ikatu / 'ekatu (v. intr. irreg.) - 1) poder (tanto no sentido de ter permissão, ter possibilidade, ter oportunidade quanto no de ter capacidade ou ter habilidade; leva o verbo do qual é auxiliar para o gerúndio): T'e'ikatu nde kuapa xe ruba Tupinambá! - Que possa conhecer-te meu pai Tupinambá! (Anch., Poemas, 114); A'ekatu mba'e monhanga. - Posso fazer as coisas. (Fig., Arte, 160); Pedro e'ikatu osóbo. - Pedro pode ir. (Fig., Arte, 160); E'ikatupe asé iké bé sepîaka? - Pode a gente vê-lo aqui também? (Anch., Doutr. Cristã, I, 158); A'ekatu sepîaka. - Posso vê-lo. (Anch., Arte, 56); Nd'e'ikatu angáî-tepe asé abá rekó-nhemima mombegûabo? - Mas não pode a gente, de modo nenhum, contar o procedimento oculto de alguém? (Ar., Cat., 73v); 2) (v. intr. compl. posp.) - mostrar-se digno, ser digno, apto, capaz; saber, saber fazer; ter jeito [complemento com a posp. esé (r, s)]: N'a'ekatuî. - Não sei (ignoro). (VLB, II, 8); A'ekatu mba'e resé. - Tenho jeito para a coisa. (VLB, I, 147); Nd'e'ikatu béî aîpó i pe'apyra'uba missa renduba resé... - Também não se mostra digno aquele excomungado mesquinho de ouvir a missa. (Ar., Cat., 179); A'ekatu sesé. - Sei fazê-lo. (VLB, II, 79) ● e'ikatuba'e (ou i'ekatuba'e) - o que pode; o que se mostra digno, o que é capaz, o que sabe, etc.: Arobîar Tupã Tuba, opakatu mba'e tetiruã monhanga e'ikatuba'e. - Creio em Deus Pai, o que pode fazer todas e quaisquer coisas. (Ar., Cat., 14v); ...Pa'i-îemo'esaba Tupã resé i'ekatuba'e. - Padres doutos que saibam acerca de Deus. (D'Abbeville, Histoire, 342). (Também aparece a forma 'ikatu como equivalente a e'ikatu): 'Ikatu bé abá omendá amoaé abaré robaké... - Podem também as pessoas casar-se diante de um outro padre. (Ar., Cat., 128)
NOTA - Daí se originam muitas palavras no P.B.: CAATINGA (ka'a + ting + -a, "mata branca"), formação vegetal do sertão do Nordeste do Brasil); CAPOEIRA (ka'a + pûer + -a, "mata que foi"), terreno em que o mato foi derrubado ou queimado para o plantio; mata secundária que nasceu nas derrubadas de mata virgem e que não atingiu, ainda, porte de floresta autêntica; CAUBI (ka'a + oby), (Amaz.) mato verde; CATANDUVA, CATANDUBA, CATUNDUVA (ka'a + atã + ndyba, "ajuntamento de mata dura"), cerrado ou mato rasteiro, áspero, com características xerófilas; tipo de solo caracterizado por ser arenoso e de baixa fertilidade. Daí, também, os nomes geográficos CAPÃO (BA), CAAGUAÇU (SP), etc. (v. p. 386).
karapîasaba (s.) - CARAPIAÇABA, peixe da família dos dasiatídeos. "...São redondos como choupinhas e pintados de pardo e amarelo e são sempre gordos, muito bons para doentes." (Sousa, Trat. Descr., 288)
NOTA - Daí se originam os nomes de plantas BRACATINGA, ABÓBORA-CATINGA, AÇAÍ-CATINGA, ACAJU-CATINGA, ARATICUM-CATINGA, etc.
kûab1 (ou kûá) (v. intr.) - 1) passar (com os mesmos sentidos que tem esse verbo em português): Ne emongetá nde Tupã t'okûab é amanusu... - Roga a teu Deus para que passe a tempestade. (Staden, Viagem, 66); Akûab îõte. - Passei, somente (sem entrar nem pousar). (VLB, II, 67); Sobabo akûab. - Diante deles passei. (VLB, II, 67); Nhoesembé robabo i kûáî. - Ele passou diante de Ilhéus. (VLB, II, 67); Kûarasy nipó oberá, putunusu kûab'iré. - O sol certamente brilha após passar a grande noite. (Anch., Poemas, 142); ...O membyraragûera kûab'iré, Santa Maria o membyra Îesus rerasóû Tupãokype... - Após passar o seu parto, Santa Maria levou seu filho Jesus para o templo. (Ar., Cat., 3v); 2) ir: T'akûáne pe renondé... - Hei de ir adiante de vós. (Anch., Teatro, 66); Ebokûé rupi ekûab. - Vai por aí. (VLB, II, 81); Xe ranhẽ t'akûáne. - Eu hei de ir primeiro. (Anch., Teatro, 20); Ekûá ké suí ra'a! - Vai-te daqui já! (Anch., Teatro, 32) ● kûapaba - tempo, lugar, modo, etc. de passar, de ir; lugar por onde se passa (VLB, II, 67); passagem: 'y kûapaba - passagem de água, rego para água (VLB, II, 100); kûab-apûan - passar rápido, correr (p.ex., o rio, o navio) (VLB, I, 82)
moaning (ou moanĩ) (v.tr.) - excitar, causar arrepio a, estimular (os órgãos sexuais): Ereîmoanĩpe nde remimborará, kunhã resé nde ma'enduaramo? - Excitaste teu órgão sexual, lembrando-te de mulheres? (Ar., Cat., 104)
mongakuab1 (ou mongakugûab) (v.tr.) - dar as novas a, dar notícia a, informar [sobre algo: compl. com esé (r, s)]: Aîmongakuab (mba'e) resé. - Informo-o acerca das coisas. (VLB, II, 51, adapt.)
nhemongaraibe'yma (s.) - paganismo, o tempo em que não se era batizado: ...Nde nhemongaraibe'yma pupé oîkoba'e mosema nde 'anga suí. - Fazendo sair de tua alma o que havia no teu paganismo. (Ar., Cat., 188)
nhemũ1 (s.) - paz (como entre os que eram inimigos e tinham guerra entre si) (VLB, II, 68)
potiry (s.) - 1) PATURI, PATURÉ, ave da família dos anatídeos (D'Abbeville, Histoire, 241v); 2) ganso (VLB, I, 21)
NOTA - Daí, no P.B., BITUCA (mbytu + morfema não identificado), a parte que resta do charuto, do cigarro depois de fumados, a parte deles pela qual se aspira a fumaça.
rana (s.) - 1) coisa grosseira, grosseria; rudeza, rusticidade, bruteza; (adj.: ran) - grosseiro, rude, mal feito: Xe ran. - Eu sou grosseiro. Xe ranusu. - Eu sou muito grosseiro, eu sou grosseirão. (VLB, I, 20); I ranusu nhẽ kûé nde remimonhanga. - É muito mal feito aquilo que fazes. (VLB, II, 29); 2) parecença, semelhança; (adj.: ran) - parecido com, semelhante a; o que parece; (xe) parecer (o que não é) (VLB, II, 115): abá-rana - o que parece pessoa (mas não o é); upá-rana - o que parece lago (mas não o é): brejo (VLB, I, 59); îuky-rana - o que parece sal (mas não o é): salitre (VLB, II, 112), okaî-rana (t) - o que parece choça ou curral (VLB, II, 121); Xe ran (ou Xe rã-xe-ran). - Pareço o que não sou. (VLB, II, 65)
NOTA - Daí, os nomes geográficos SAPETUBA (SP), SAPETIBA (RJ), etc. (v. p. 386)
suîriri (s.) - SUIRIRI, SIRIRI, pássaro da família dos tiranídeos, de hábitos migratórios (Sousa, Trat. Descr., 234; Theat. Rer. Nat. Bras., I, 140)
NOTA - Daí se originam os nomes geográficos TABATINGUERA, antiga rua de São Paulo (SP) e TABATINGA (AM), este último pelo nheengatu (v. p. 386). TABATINGA, no P.B. (GO), pode ser também terra argilosa de cores variegadas (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - TAUÁ ou TAGUÁ, no P.B., também podem ser adjetivos, com o sentido de amarelo. Daí, IPECUTAUÁ, pica-pau-amarelo, UIRATAUÁ (ûyrá + taûá, "pássaro amarelo"), nome comum a certas aves passeriformes, icterídeas da Amazônia.
OBSERVAÇÃO - Os IGARAPÉS são um elemento hidrográfico típico da bacia amazônica e são mais seguros para pequenas embarcações, dado o seu menor volume d'água, além de servirem como atalho para se chegar a muitos lugares.
ypy5 (s.) - tronco, pé (de árvore): Ybyrá-ypype aín. - Estive assentado no tronco de uma árvore. (VLB, II, 68) ● ypypûera - resto do tronco de árvore que fica na terra após o seu corte (VLB, II, 68); tronco de pau ou árvore que fica na terra depois que perdeu os ramos (VLB, II, 137)
Caeté-Açu (BA). De ka'a-eté + suf. -ûasu: grande mata legítima (i.e., a que nunca foi roçada) (VLB, II, 33).
a'ypaba (t, t) - esfalfamento, esgotamento (pela muita atividade sexual); [adj.: a'ypab (r, t)] - esfalfado (pela muita atividade sexual): Xe ra'ypab. - Eu estou esfalfado. (VLB, I, 124)
emykaîapé (ou embykaîapé) (t) (s.) - assento das nádegas (Castilho, Nomes, 39); cadeiras (do corpo), quadris (VLB, I, 62); ancas (p.ex., de cavalo) (VLB, I, 35)
endyendyîab (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - chamejar (o fogo), cintilar (as estrelas) (VLB, II, 25)
etãme'engaba (t) (s.) - lugar em que se dá morada, terra prometida, terra dada: Ta peîkó irã mba'ekatu-eté rerekoaramo... îandé retãme'engápe. - Que sejais futuramente os que terão a verdadeira felicidade na nossa terra prometida. (Ar., Cat., 166); ...So'o, pirá, gûyrá retãme'engaba é ikó 'ara... - Este mundo é a terra prometida dos animais quadrúpedes, dos peixes e dos pássaros... (Ar., Cat., 166v)
îaratitá (s.) - nome genérico de insetos e vermes comestíveis que nascem dentro de troncos de palmeira (VLB, I, 55)
pekãî (v.tr.) - cutucar, tocar às escondidas, tocar furtivamente (como para advertir de alguma coisa): Aîpekãî. - Cutuquei-o. (VLB, II, 118)
NOTA - Daí, os nomes geográficos ITARIRI (SP) e RERITIBA (ES) (v. p. 386).
Daí, também, os nomes geográficos TAGUÁ (CE), TAGUATINGA (serra de GO), etc. (v. p. 386).
ybygûá (s.) - ventre, barriga, do umbigo para baixo (Castilho, Nomes, 32)
Guarus (RJ). De gûarugûaru, nome de peixes ciprinodontídeos e rivulídeos.
_____Estudos sobre Línguas Tupi do Brasil. Série Lingüística, n. 11. SIL, Brasília, 1984.
______Peixes da Água Doce. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1987, 4ª ed.
Daí também, pelo nheengatu, o nome geográfico AUATI-PARANÁ (AM) (v. p. 386).
amotaba (s.) - bigode (do homem, do gato, do peixe, etc.) (Castilho, Nomes, 28; VLB, I, 51)
apixa'ĩ1(s.) - bolotas pequenas que faziam da mandioca curtida, com que depois davam cor à farinha de guerra (VLB, II, 71)
apy1 (adv.) - completamente, totalmente (na forma negativa, expressa o nunca terminar de fazer algo, como que gastando muito tempo): O'u-apy ahẽ mba'e. - Fulano come completamente as coisas; Nd'o'u-apyî ahẽ mba'e. - Nunca acaba de comer, não come fulano completamente as coisas. (VLB, II, 52)
NOTA - Daí, talvez, o nome do povo indígena IAUALAPITI (îaûara + apiti, "os amarradores de onças"), da família linguística aruaque, que vive no MT.
'ãur (xe) (v. da 2ª classe) - ter alento, alentar-se, sentir alívio, respirar aliviado (com boa notícia): Xe 'ãur. - Tive alento. (VLB, II, 103)
karaná (s.) - CARANÁ, CARANDÁ, palmeira parecida ao buriti; o mesmo que karana'yba (v.) (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1935-1938)
NOTA - Daí, ABAREMANDOAVA, nome de cachoeira do rio Tietê (SP) (v. p. 386).
marakugûara (s.) - MARACUGUARA, peixe da família dos monocantídeos. "...Roncam no mar como porco; ...são muito carnudos e tesos e de bom sabor." (Sousa, Trat. Descr., 284)
NOTA - No P.B., MORUBIXABA pode ser, também, chefe político, coronel, mandachuva (In Dicion. Caldas Aulete).
nhyrõ (s.) - 1) paz (como entre os que eram inimigos e tinham guerra) (VLB, II, 68); 2) perdão: Oré rerekomemûãsara supé oré nhyrõ îabé... - Como o nosso perdão aos que nos tratam mal. (Anch., Dial. da Fé, 230); (adj.) - pacífico; (xe) estar em paz; perdoar [pessoa a quem se perdoa: com supé; coisa perdoada: com esé (r, s)]: ...T'i nhyrõ Tupã orébo. - Que perdoe Deus a nós. (Anch., Poemas, 144); Xe rybyt, nde nhyrõ xebo. - Meu irmão, perdoa tu a mim. (Anch., Teatro, 46); Nde nhyrõ oré angaîpaba resé. - Perdoa tu nossas maldades. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139) ● nhyrõaba (ou nhyrõsaba) - tempo, lugar, modo, objeto, etc. de perdoar; perdão: N'aîkuabi... ixébo Tupã nhyrõagûera. - Não sabia do perdão de Deus a mim. (Ar., Cat., 112); N'oîkotebẽî amõba'e Tupã nhyrõsabe'yma? - Não ficam receosos os outros de não serem objetos do perdão de Deus? (Anch., Teatro, 160, 2006)
oîopytera (s.) - metade, meio: Oîopytera rupi aîasy'ab. - Parti-o pelo meio. (VLB, II, 73); Oîopytera rupi aîmoîa'ok.- Reparti-os pela metade. (VLB, II, 73) ● oîopyterybo - no meio, no centro, pelo meio, pela metade (de comprido, de uma extremidade à outra) (VLB, II, 34, 73): Itá oîeká-îeká oîopyterybo. - As pedras ficaram-se quebrando pelo meio. (Ar., Cat., 64)
pata'yba (s.) - ripa para casas do tronco da palmeira pati, "...que é tão dura que com trabalho a passa um prego..." (Sousa, Trat. Descr., 198)
Cardim, por outro lado (p. 26), fala-nos sobre o "Tayaçutirica, sc., porco que bate e trinca os dentes", termo que inclui o verbo tirik (v.) e não a forma nominal tyryk.
OBSERVAÇÃO - Anchieta diz que o uso de upi (r, s) com o sentido de com, de companhia, era próprio dos carijós, índios do Paraguai (Arte, 43v).
NOTA - Daí provêm muitos nomes geográficos: VOTORANTIM, VOTUPORANGA, BOTUCATU, etc. (v. p. 386).
Cocuera (Mogi das Cruzes, SP). De kó + pûer + -a: roça extinta.
Jabaroca (ilha do PA). De îababa + oka (r, s): casa de fugitivos.
HAENSCH, Günther et al., La Lexicografia de la Lingüística Teórica a la Lexicografia Prática. Madrid, Gredos, 1982.
A reduplicação em Tupi. In Gazeta do Povo, Curitiba, 31-III-1950. Esboço de uma introdução ao estudo da Língua Tupi. In Logos, ano VI, nº 13, Curitiba, 1951, pp. 43-58.
NOTA - Daí, no P.B., APICUM, APICU, PICUM, com o mesmo sentido. Daí, também, o nome geográfico APECUM (BA) (v. p. 386).
ekobîarõ (s) (v.tr.) - mudar (o propósito, a promessa, etc.), substituir, trocar; desdizer (fal. de palavras): Asekobîarõ xe nhe'enga. - Desdisse minhas palavras. (VLB, I, 97); E'ikatupe asé... ogûera rekobîarõmo? - Pode a gente trocar seu próprio nome? (Ar., Cat., 83v); Asekobîarõ seîmbaba i xupé. - Troquei-lhe uma criação. (VLB, II, 103) ● sekobîarõmbyra - o que é (ou deve ser) substituído, o que é (ou deve ser) trocado: Sekobîarõmbyrape temirekó-eté...? - Deve ser substituída a esposa verdadeira? (Ar., Cat., 96)
Em Montoya (Tesoro, p. 175) vemos que, em guarani antigo, uma das variedades dessa ave era o ynambûtimĩtã (lit., inambu do bico avermelhado), que deve ser também a etimologia de inambuxintã ou nhambuxintã, forma corrompida que chegou até nós e não se encontra nos textos quinhentistas e seiscentistas.
kuraîu (s.) nome de uma ave noturna, da família dos nictibídeos (Wagener, Zoobiblion, prancha 42)
mba'eeté (s.) - 1) coisa verdadeira, coisa preciosa, coisa ótima, coisa de estima (VLB, I, 129); coisa prezada (VLB, II, 86); 2) verdade: Îesu, mba'eeté, pe'ĩ, pesaûsu! - Eia, amai a Jesus, a verdade! (Anch., Poemas, 108); Sorybeté rakó abá mba'eeté amõ resé o îekosub'iré. - É muito feliz, certamente, o homem, após alcançar alguma verdade. (Ar., Cat., 126); Tupã anhõ mba'eeté... - Somente Deus é a verdade. (Ar., Cat., 117v)
moîasuk (v.tr.) - 1) lavar (VLB, II, 19); 2) lavar na água do batismo; batizar: Xe moîasuk îepé, pa'i... - Batiza-me tu, padre. (D'Abbeville, Histoire, 349v) ● i moîasukypyra - o batizado (VLB, I, 53)
monhan (v.tr.) - fazer correr: ...Moxy oînupã, i monhana... - Castiga o maldito, fazendo-o correr. (Anch., Poemas, 188)
peîu (v.tr.) - assoprar, soprar, abanar (VLB, I, 46): O îuru timbora pupé asé robá peîuû. - Com o bafo de sua boca sopra-nos o rosto. (Ar., Cat., 81)
tenhẽ3 (adv.) - mesmo, antes do que imaginas, de fato, muitíssimo: Og uba îakatu tenhẽpe asé i moetéû? - A gente o honra mesmo como a seu próprio pai? (Ar., Cat., 82); Setá tenhẽ erimba'e opab aîpó 'îarûera... - Eram muitos, mesmo, todos os que diziam isso. (Ar., Cat., 157v); ...I mara'a tenhẽ... - Eles estarão muitíssimo doentes. (Ar., Cat., 161); A'e tenhẽ nde nupãmone. - Vou mesmo castigar-te. (VLB, II, 110)
Arapijó (rio do PA). De ará - ave psitacídea + ypyó - multidão: multidão de arás.
Camaru (cach. do PA). De kamaru, árvore do sertão nordestino.
Carapanatuba (AM). Da língua geral setentrional, carapaná (Martius, Gloss. Ling. Bras., p. 38) + tyba: ajuntamento de carapanás.
Guajuvira (PR). De gûaraembira, peixe da família dos gimnotídeos. Pode ser também uma palavra da língua geral meridional que designa um arbusto da família das poligonáceas.
Jacaregueaú (rio do MT). De îakaré + agûeá - dente molar (Castilho, Nomes, 28) + 'y: rio do dente molar do jacaré.
agûapé (s.) - AGUAPÉ, UAPÉ, UAPÊ, nome comum a plantas aquáticas flutuantes de flores violáceas e ornamentais, que crescem nos rios pantanosos, das quais a Eichhornia crassipes (Mart.) Solms e a Nymphaea ampla (Salisb.) DC. são as mais comuns. Também conhecidas como golfão, mururé, AGUAPÉ-DAS-LAGOAS, nenúfar, orelha-de-veado, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 23; VLB, I, 149)
amandaba (s.) - redondeza (de coisa plana); círculo: - Akó morotinga, i amandaba bé asé osepîak... - A gente vê aquela coisa branca e sua redondeza também. (Anch., Doutr. Cristã, I, 216); (adj.: amandab) - redondo, circular: Xe amandab. - Eu sou redondo. (VLB, II, 99)
arukangûyra (s.) - a ponta ou a parte branda das costelas (Castilho, Nomes, 29); o vão das costelas da parte de baixo (Castilho, Nomes, 30)
aso'i (v.tr.) - cobrir, abafar cobrindo, tapar: Yby opá ybytinga ybaka suí o'aryba'e i aso'iûne. - Todas as nuvens que caem do céu cobrirão a terra. (Ar., Cat., 7); Aîaso'i. - Cubro-o. (VLB, I, 76); I xy i aso'ikatûabo, oîopîá ro'y suí. - Sua mãe, cobrindo-o bem, defende-o do frio. (Anch., Poemas, 162)
e- (pref. de 2ª pess. do sing.) 1) (pref. do modo imperativo): Eîuká! - Mata-o! (Anch., Arte, 18); Enhemim!... - Esconde-te! (Anch., Teatro, 32); Eîepe'a! Ekûá ké suí ra'a! - Afasta-te! Vai-te daqui já! (Anch., Teatro, 32); Emoîerekûab orébo... - Faze perdoar a nós. (Anch., Poemas, 84); 2) (pref. do gerúndio com verbos intransitivos da 1ª classe): Tupãnamo eîkóbo bé. - Sendo tu Deus também. (Anch., Poemas, 100)
ebira2 (t) (s.) 1) sodomia passiva; 2) sodomita passivo, o patiens (VLB, II, 68): Ereîkópe tebira amõ resé? - Tiveste relações sexuais com algum sodomita? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
gûetependûara (s.) - inteireza, completeza; coisa inteira, não partida (VLB, II, 130): I pupé Îesu Cristo rekóû, i Tupã, seté abé gûetependûara pupé... - Dentro dele está Jesus Cristo, sua divindade e seu corpo em inteireza. (Ar., Cat., 85)
NOTA - Lemos em Euclides da Cunha, referindo-se aos últimos dias de Canudos: "A soldadesca, varejando as casas, pusera fora, às portas (...) toda a ciscalhagem de trastes em pedaços, de envolta com a farragem de molambos inclassificáveis: pequenos baús de cedro; bancos e jiraus grosseiros; redes em fiapos; berços de cipó e balaios de taquara; JACÁS sem fundo; roupas de algodão..." (In Os Sertões. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1997)
îe'aîtyk (v. intr.) - acenar com a cabeça, chamando ou assentindo: ...Ereîe'aîtykype kunhã amõ supé? - Acenaste com a cabeça para alguma mulher? (Anch., Doutr. Cristã, II, 91)
îeí1 (adv.) - certo tempo, longo tempo: Îeí xe rekóû. - Estive longo tempo; tardei. (VLB, II, 13, adapt.)
itatîãîa (s.) - lança, ferro aguçado: Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com lanças. (Anch., Teatro, 120)
kûapo'yba (s.) - QUAPÓIA, pau-gamela, árvore da família das gutíferas (Clusia insignis Mart.), que cresce na mata, de folhas obovadas e arredondadas, e que produz visco, isto é, suco vegetal glutinoso com que os caçadores untam pequenas varas para nelas prender as aves que aí pousem (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 131; VLB, II, 146)
kuruatá2 (s.) - CURUATÁ, peixe da família dos tunídeos, de ótima carne (VLB, I, 29)
mikûatiara (s.) - carta, escrito (VLB, I, 68) [o mesmo que emikûatiara (t) - v. kûatiar]
mo'anga'ub2 (v.tr.) - fingir, inventar: Ererobîarype paîé porapiti mo'anga'uba...? - Acreditas no pajé ao fingir assassinar as pessoas? (Anch., Doutr. Cristã, II, 83); Peteumẽ mendara moarupaba mo'anga'upa supindûare'yma mombegûabo... - Guardai-vos de inventar impedimentos ao casamento, contando o que não é verdade. (Ar., Cat., 132)
muîepereru (s.) - MUIEPERERU, pássaro da família dos trogloditídeos (Sousa, Trat. Descr., 237)
NOTA - Daí, no P.B., IPECUPARÁ (ipekũ + pará, "pica-pau multicor"), nome de um pássaro piciforme; JACUPARÁ (îaku + pará, "jacu variegado"), nome de uma ave cracídea.
ri'a (s.) - homem que parece mulher; mulher que tem testículos (VLB, II, 40)
NOTA - Daí, no P.B., TAMUANA (taba + ymûan + -a, "aldeia antiga"), povo indígena extinto que habitava a margem direita do rio Amazonas (AM).
Atibaia (SP). De atybaîa - cabelo crescido que os índios tinham sobre as orelhas (VLB, I, 151). Talvez uma referência a índios da região, que tinham essa característica.
Bucuri (rib. de SP). De mukuri - bacuri, nome de planta gutífera.
Pirajuí. Nome guarani dado em 1907 à vila de São Sebastião do Pouso Alegre, atravessada pela EF Noroeste do Brasil, e que significa rio dos pirajus, dos dourados. (fonte: IBGE)
A composição em Tupi. In Logos, ano VI, nº 14, Curitiba, 1951, pp. 63-70.
aby2 (v.tr.) - errar, falhar com; enganar-se em, deixar de atingir, desviar-se de, não acertar em: Tatapynha n'oîabyî; oîeí bé muru kaî... - As brasas não falham com eles; ainda hoje os malditos queimam... (Anch., Teatro, 88); Aîaby-îaby. - Fiquei-as errando (isto é, as flechas atiradas.) (VLB, I, 38); T'oîaby umẽ Tupã o monhangara. - Que não se desvie de Deus, seu criador. (Ar., Cat., 187)
arasari (s.) - ARAÇARI, ave piciforme da família dos ranfastídeos, cuja espécie mais comum é o Pteroglossus aracari aracari L., das matas brasileiras. Suas ventas são visíveis na superfície do bico; alimenta-se de pequenos frutos e bagas na floresta. (D'Abbeville, Histoire, 238; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 217)
esebé (r, s) (posp.) - com, juntamente com, assim como: São Matias... S. Pedro o irũetá resebé tari apóstoloramo. - São Pedro, com seus companheiros, tomou São Matias como apóstolo. (Ar., Cat., 121-122); Asaûsub Pedro ta'yra resebé. - Amo Pedro, assim como a seu filho. (Anch., Arte, 44v); ...Anhanga pe'abo, te'õ resebé. - Afastando o diabo, assim como a morte. (Anch., Poemas, 108); Îaîpó-asá-sá i py resebé, krusá sosé nhẽ xe Îara moîá. - Atravessam suas mãos, assim como seus pés, sobre a cruz pregando meu Senhor. (Anch., Poemas, 122)
NOTA - Daí, GUARAQUEÇABA (nome de município do PR), GUARATIBA (nome de localidade do RJ), etc. (v. p. 386).
Irãmaîé (s. antrop.) - nome de personagem mitológico dos antigos tupis, o único homem que se salvou de um incêndio que teria originado o mundo; personagem mitológica da qual teriam provindo todos os homens que viviam antes do dilúvio (Thevet, Cosm. Univ., 913v)
(interj.) - Ah!, Ó! Oh! (Diz o que deseja, admira ou lastima-se.) (Fig., Arte, 147): Xe moaîu-te i nema mã! - Ah, como me importuna o fedor dele! (Anch., Teatro, 8); N'aîukáî xûé temõ mã. - Ah, oxalá não o mate eu! (Fig., Arte, 27); Xe reîtyk korine mã! - Ah, vencer-me-ão hoje! (Anch., Teatro, 26); Ogûerasó temõ sapy'a ybakype Tupana xe ruba mã! - Ah, oxalá Deus logo levasse meu pai para o céu! (Fig., Arte, 99)
Monã (s. antrop.) - nome de personagem mitológico dos antigos tupis (Thevet, Cosm. Univ., 913v)
NOTA - Daí, no P.B. (PE), coisa de pouca monta, pequena quantia (por alusão às espécies pequenas (desse peixe), usadas como isca) (in Dicion. Caldas Aulete). Daí, também, o nome do estado do PIAUÍ (v. p. 386).
syryk2 (ou tyryk) (v. intr.) - afastar-se, arredar-se, recuar, retirar-se (VLB, II, 99): Tupã robaké eîkóbo, xe suí nd'eresyryki. - Estando diante de Deus, de mim não te afastas. (Valente, Cantigas, VI in Ar., Cat., 1618)
Itambacuri (rio de MG). De tabacuri, nome de povo indígena extinto: " (...) os que com elles confinão pello Norte, nas cabeceiras e visinhanças do rio de S. Matheus, são Capoxi, (...) Curuxú, Tabacuri e o Apinxó." (Luiz dos Santos Vilhena [1801], p. 590)
anha'yba (s.) - castanheiro-do-pará, planta da família das lecitidáceas (Bertholletia excelsa Bonpl.) (Lisboa, Hist. Anim e Árv. do Maranhão, fl. 183-183v)
atimung (v. intr.) - oscilar, balançar: I ku'a-bok serã moxy oatimunga? - Por acaso estava com a cintura fendida o maldito, balançando? (Ar., Cat., 57v)
îasûaramo (conj.) - como, como se, como que (às vezes com as partículas n'aé ou n'aémo): Oîoasykûera ri îasûaramo oîoerekóbo. - Tratando-se uns aos outros como que numa fraternidade. (Ar., Cat., 127v); Xe só îasûaramo n'aé... - Como se eu fosse... (Anch., Arte, 26); Xe 'é îasûaramo n'aé... - Como se eu dissesse... (VLB, II, 15)
îatimung (v. intr.) - oscilar, balançar: I ku'a-bok serã moxy oatimunga? - Por acaso estava o maldito com a cintura fendida, balançando? (Ar., Cat., 57v)
îekotyar (ou îekotyá) (v. intr. compl. posp.) - aliar-se, tomar partido, ter amizade, ter comunicação, ter conversação, ter familiaridade [compl. com esé (r, s)]: ...Sesé nhẽ aîekotyá. - Com eles alio-me. (Anch., Teatro, 22); -Ereîekotyápe abá-angaîpaba resé? - Tiveste amizade com um homem pecador? (Ar., Cat., 234); Ereîekotyápe nde nhemõîa resé? - Aliaste-te com tua comborça? (Ar., Cat., 106v) ● îekotyarixûera - o que tem amigos, o que é sociável: Xe îekotyarixûer. - Eu sou sociável. (VLB, I, 35)
îia (s.) - JIA, nome comum a rãs da família dos leptodactilídeos (Brandão, Diálogos, 257)
îu'i (s.) - JUÍ, nome comum aos anuros do gênero Leptodactilus, de pele nua, comestíveis, que vivem sempre à beira d'água. São também chamados rãs. (Sousa, Trat. Descr., 265): Ikó îu'i, xe rupîara, t'ere'u... - Estas rãs, minhas presas, que as comas. (Anch., Poemas, 158)
kampûaba (s.) - planta da família das labiadas, do gênero Hyptis (Sousa, Trat. Descr., 210)
nãmo2? (interr.) - de que tamanho? (VLB, II, 91); quanto? (em quantidade) (VLB, II, 91)
NOTA - Daí, o nome JURUPARI (îuru + parĩ, "boca torta"), entidade da cosmologia dos antigos tupis.
NOTA - Daí, no P.B., a palavra MIÇANGA, contas de vidro, multicolores e pequenas; enfeite feito com essas contas.
posangu'u (ou mosangu'u) (v. intr.) - tomar remédio, purgante, feitiço, veneno, etc.: Ereposangu'upe nde puru'apotare'ymamo? - Tomaste remédio, não querendo ficar grávida? (Ar., Cat., 102); Eremosangu'upe nde membyra akyrara potá? - Tomaste veneno, querendo abortar teu filho? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88)
tenhẽ1 (adv.) - em vão, debalde, à toa, sem resultados, sem motivos, sem razão, de graça, por engano: Oú tenhẽ xe pe'abo... - Vêm em vão para me afastar. (Anch., Teatro, 8); T'asendu tenhẽ... - Hei de ouvir em vão... (Anch., Teatro, 34); Agûatá-gûatá tenhẽ. - Fico andando à toa. (VLB, II, 140); Îandé ramỹîa remiepîá-potá tenhẽ our é. - O que nossos avós quiseram ver, sem resultado, veio mesmo. (Léry, Histoire, 356); Aîme'eng tenhẽ. - Dei-o de graça. (VLB, I, 105); Aîuruîuba mokaba ogûeru tenhẽ... - Os franceses trouxeram pólvora em vão. (Anch., Teatro, 52); Ereîar tenhẽpe abá mba'e amõ...? - Tomaste, sem razão, alguma coisa de alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 99) ● marã... 'é-tenhẽ (ou marã... 'é-tenhẽ-tenhẽ ou 'é tenhẽ-tenhẽ marã) - dizer ociosidades, falar parvoíces, asneiras (VLB, II, 54): A'é tenhẽ marã gûi'îabo. - Dizendo, digo asneiras (isto é, quando digo algo, digo asneiras). (VLB, II, 54)
tiruã2 (part.) - qualquer, quaisquer: -Ma'epe ereîpotar? -Ma'e tiruã. -Que queres? -Qualquer coisa. (Léry, Histoire, 347); -Ma'e resé îandé mongetáû? -Sé, ma'e tiruã resé. -A respeito de que conversamos? -Sei lá, a respeito de qualquer coisa. (Léry, Histoire, 358) (o mesmo que tetiruã - v.)
No P.B. (AM), TUCURA pode ser, também, beijo curto e repetido.
urubu1 (s.) - URUBU, nome comum a aves da família dos catartídeos, que se alimentam de carniça (D'Abbeville, Histoire, 316v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 207)
Carumbé (MT). Da língua geral setentrional, o macho do jabuti, jabuti-carumbé.
Ibicuã (CE). De yby + pu'am1 (ou pu'ã): terra erguida. (A substituição de pwa por kwa, pwe por kwe é comum em muitas línguas da família tupi guarani). É nome atribuído artificialmente à estação de Miguel Calmon, (Piquet Carneiro, CE).
Ibitupã (BA). De yby + tupã: terra divina. Nome atribuído artificialmente no século XX.
Iguaraci (PE). De 'y + kûara + asy (r, s): fonte ruim, fonte pestilenta. Nome atribuído em 1948.
O Sistema Pessoal do Tupinambá. In Ensaios Lingüísticos 1, 167-73. Belo Horizonte, 1978.
apysakûara (s.) - buracos das orelhas, orifícios auriculares (Castilho, Nomes, 28): Asé apysakûá-puka potá. - Querendo furar os buracos das orelhas da gente. (Ar., Cat., 81v); Xe apysakûá-kanhem. - Eu tenho os buracos das orelhas perdidos (isto é, não ouço nada). (VLB, I, 118) ● apysakûaru'uma - cera do buraco das orelhas (Castilho, Nomes, 28); apysakûarygugûá - cera de ouvidos (VLB, I, 70); apysakûá-îe'o - buraco das orelhas tapados (VLB, I, 118)
atiman (v.tr.) - fazer girar; fazer voltar; fazer retornar ● atimandaba - tempo, lugar, modo, etc. de retornar, o retorno: xe atimandápe - por ocasião de meu retorno (VLB, II, 132)
(-îo-, -s-) (v.tr. irreg. Incorpora -îo- (ou -nho-) e -s- no indicativo e formas derivadas deste.) - lavar: ...Og ugûy pupé xe reî... - Com seu sangue me lavou. (Anch., Teatro, 172); Oîepó-eî te'yîa remiepîakamo. - Lavou-se as mãos à vista da multidão. (Ar., Cat., 61); T'aîeîuru-eî. - Que eu me lave a boca. (Léry, Histoire, 367); Eîori xe 'anga reîa... - Vem para lavar minha alma. (Anch., Poemas, 170)
en2 (-îo-, -s-) (v.tr. irreg. Incorpora -îo- (ou -nho-) e -s- no indicativo e formas derivadas deste.) - derramar, fazer verter, entornar (p.ex., o líquido, a farinha): Anhosen. - Entornei-o. (VLB, I, 118; II, 142)
gûaraembira (s.) - GUARAVIRA, GUAIVIRA, peixe da família dos gimnotídeos (Lisboa, Hist. Anim. Árv. do Maranhão, fl. 165)
îabebyra (s.) - nome genérico das arraias ou raias, peixes cartilaginosos da família dos rajídeos (VLB, II, 95; D'Abbeville, Histoire, 244v) ● îabebyrasyka - arraia pitoca (nome de uma aldeia) (Léry, Histoire, 349)
îakugûará (s.) - peixe da família dos calorrinquídeos, do Atlântico (VLB, II, 70)
kori2 (s.) - CURI, variedade de argila vermelha usada para tingimentos (Ferreira, América Abreviada, in RIH LVII [1984], 49)
moeté (v.tr.) - honrar, dignificar; reverenciar, comemorar, santificar, louvar, prezar; fazer caso de; adorar, glorificar, venerar (VLB, II, 143) [Para se referir a coisas más, isto é, louvar o vício, também se usa este verbo. Já momba'eté (v.) somente se emprega com relação a coisas boas. (VLB, I, 113)]: Îandé moetébo apŷaba nhemosaraî. - Para nos honrarem os índios fazem festa. (Anch., Teatro, 24); ...N'omoetéî o monhangara... - Não honram seu criador. (Anch., Teatro, 30); Eîmoeté nde ruba nde sy abé. - Honra teu pai e tua mãe. (Bettendorff, Compêndio, 10; Anch., Teatro, 54) ● moetesara - o que honra, o que louva, etc.: Tupã o monhangareté moetesare'yma... - O que não honra a Deus, seu verdadeiro criador. (Ar., Cat., 66); moetesaba (ou moeteaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, causa, etc. de honrar, de louvar; louvor, honra: ...Nde rupiri nde moetesápe. - Fez-te subir por te honrar. (Anch., Poemas, 126); Turagûera moetesabamo... kó 'ara îamoeté. - Como modo de honrar sua vinda, comemoramos este dia. (Ar., Cat., 5); i moetepyra - o que é (ou deve ser) honrado, glorificado, venerado, etc.: S. Filipe, S.Tiago kó 'ara i moetepyra... - São Filipe e São Tiago são os que devem ser honrados neste dia... (Ar., Cat., 5v); I moetepyramo nde rera t'oîkó... - Santificado seja teu nome. (Ar., Cat., 13v); (fig.) o que é íntimo, o que priva com: I moetepyramo aîkó (abá) supé. - Eu privo com os homens, isto é, eu sou o que é honrado junto deles, o que tem intimidade com eles. (VLB, II, 87, adapt.); emimoeté (t) - o que alguém honra, etc.; (fig.) o íntimo, o que priva com: Semimoetéramo aîkó. - Sou íntimo deles, isto é, sou o que eles honram. (VLB, II, 87)
NOTA - No P.B., PANEMA significa, também, "encosto" ou "a vítima de feitiço", "o que tem encosto ou mal-feito". PIRAPANEMA é, no P.B., trecho de um rio onde há pouco peixe.
NOTA - Daí, no P.B., o nome da histórica localidade de PARATI (RJ) (v. p. 386).
sabiîeitá (s.) - nome de uma árvore amarela, muito rija, que dá tinta da mesma cor, talvez o mesmo que sabiîuîuba (v.) (Brandão, Diálogos, 171)
tarakoba (s.) - TARIOBA, TARCOBA, molusco acéfalo bivalve, comestível, da família dos donacídeos (Sousa, Trat. Descr., 292)
tiá! (interj.) - Vai! Ide! Sus! Vai adiante! (Anch., Arte, 23v) ● Tiá nde ko'ema! - Bom dia! (D' Evreux, Viagem, 143)
ûaîxó (s.) - variedade de TUCANO, ave da família dos ranfastídeos (D'Abbeville, Histoire, 237v)
Jambuaçu (PA). De îambugûasu (inhambu grande), nome de uma ave tinamídea (D'Abbeville, Histoire, 237)
Tamaquaré (ilha do AM). Em nheengatu, tamacoaré tem vários sentidos, designando um lagarto iguanídeo, uma planta gutífera, um óleo medicinal, etc. (Stradelli, 657-659)
______Entre o Gambá e o Macaco. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1984.
'apititinga (s.) - malhas ou manchas na cabeça (VLB, II, 29); (adj.: 'apititing) - malhado na cabeça: Xe 'apititing. - Eu sou malhado na cabeça. (VLB, II, 29)
biãé (conj.) - pois se - ...Abá biãé o a'yra ogûerekó-katu, memetipó Tupã... - Pois se um homem trata bem seu próprio filho, quanto mais Deus. (Ar., Cat., 25v); Îagûara biãé ererasó, gûa'ysé o îoesé posé o ẽme, oîepysyrõ bé'ĩ... - Pois se levas cães, se estiverem eles ao lado um do outro da sua própria raça, acolhem-se um pouco mais. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111)
kamusi3 (s.) - cova, caverna onde eram postas as urnas que continham a ossada dos índios mortos (Brandão, Diálogos, 67)
obanhan (ou obanhang) (s) (v.tr.) - manchar o rosto de (com carvão, tinta ou fuligem, etc.) (VLB, II, 33)
NOTA - Daí provêm muitos nomes geográficos no Brasil: BERTIOGA (SP), AJURUOCA (MG), MOCOCA (SP), ITAOCA (RJ), MERUOCA (SP), TATUOCA (PA), etc. (v. p. 386).
pati (s.) - nome genérico de certos insetos e vermes comestíveis que nascem dentro de troncos de palmeiras (VLB, I, 55)
sama (s.) - corda; trela (p.ex., do cão), fio: Opá sama pupé i apytĩû... - Com toda uma corda amarraram-no... (Ar., Cat., 62v); I xama ri arasó. - Levo-o na sua trela. (VLB, II, 136); urapá-sama - corda de arco; inĩ-xama; upá-sama - corda de rede (VLB, I, 82); (adj.: sam) (xe) - ter corda; formar fios (p.ex., o visgo, a clara de açúcar, etc.) (VLB, I, 139)
tinga1 (s.) - 1) brancura: Akó aoba i putukapyra sosé o 'anga tinga. - Mais que a roupa batida é a brancura de sua alma. (Ar., Cat., 188, 1686); 2) coisa branca: Mba'e-tepe kûé tinga asé remiepîaka abaré hóstia rupireme...? - Mas que é aquela coisa branca que vemos quando o padre ergue a hóstia? (Bettendorff, Compêndio, 84); 3) claridade; (adj.: ting) - 1) branco [irregular: xe ting - eu (sou) branco; ting - ele é branco - O t- vale pelo pronome de 3ª p.]: Osobá-syb aó-tinga pupé. - Limpou seu rosto com um pano branco. (Ar., Cat., 62); ...ybyku'i-tinga gûyri... - sob a areia branca (Anch., Teatro, 170); ...Ûyrá-tinga our xebe. - Um pássaro branco veio a mim. (D'Abbeville, Histoire, 353); 2) claro: Xe resá-ting. - Eu tenho olhos claros. (VLB, I, 147)
tyba1 (s.) - Forma nominal que expressa o aspecto frequentativo, indicando ação costumeira, frequente, contínua. É usada com nomes deverbativos: xe rekoatyba - lugar onde eu comumente estou; xe soatyba - lugar aonde eu comumente vou; minha ida costumeira (VLB, I, 78; II, 7); xe pindaeîtykatyba - lugar costumeiro de minha pescaria (VLB, II, 75); mba'e o emimboraratyba... - coisas que costuma sofrer (Anch., Diál. da Fé, 231); ...Eboûĩ abá 'anga rupîatyba a'e... - Eis que ele é o adversário costumeiro das almas dos homens. (Ar., Cat., 89); ...Opakatu mba'e-aíba rasy-abaeté porarasatyba... - Lugar de sofrimento contínuo de dores terríveis de todas as coisas más. (Bettendorff, Compêndio, 49); xe remi'utyba - o que eu como costumeiramente (VLB, I, 78)
- forma irreg. do verbo îub, ub(a) (t, t) (v.), no modo indicativo circunstancial
unhẽ (s.) - impigem; erupção cutânea (VLB, II, 10) (o mesmo que titinga e mbititinga - v.)
RELAÇÃO DE TOPÔNIMOS E ANTROPÔNIMOS COM ORIGEM NO TUPI ANTIGO, NAS LÍNGUAS GERAIS COLONIAIS E NO NHEENGATU DA AMAZÔNIA.
Capoeirana (MG). De ka'a + pûer + ran + -a: - o que parece mata extinta, falsa capoeira.
Iacanga (SP). De 'y + akanga: cabeça do rio (nome atribuído artificialmente, no século XX, em 1909).
Ibiracatu (MG). De ybyrá + katu: árvores boas, nome atribuído artificialmente ao povoado de Gameleiras, em 1925.
Macucaua (ig. do AM). De makukagûá (ou makukaûá): macucauás, aves tinamídeas.
Nhandeara (SP). De îandé + îara: Nosso Senhor. Nome atribuído artificialmente em 1935 (fonte: IBGE).
Paranatinga (rio de Goiás). Da língua geral meridional paraná + tinga: rio claro (v. Paraná).
Taguatinga (serra de GO). De tagûá - tauá, taguá, barro amarelo + ting + -a: tauá claro.
NÓBREGA, M., Cartas do Brasil, 1549-1560. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 1988.
aûîekatutenhẽ (interj.) - está bem mesmo assim! (Diz isso o que se lastima de não ter conseguido aquilo que queria, mas ainda esperando consegui-lo.) (D'Evreux, Viagem, 246)
aŷpy1 (s.) - cerviz, cachaço, a parte posterior do pescoço (Castilho, Nomes, 28): ...I aŷpy atyká-tykábo... - Sua cerviz ficando a esmurrar. (Ar., Cat., 56v); (adj.) (xe) - ter cerviz, ter cachaço: Xe aŷpygûasu. - Eu tenho cachaço grande. (VLB, I, 62) ● iî aŷpype (adv.) - pelo cachaço (VLB, II, 100)
gûatukupá (s.) - GUATUCUPÁ, nome de um peixe da família dos otolitídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 177; VLB, I, 83): Akûeîme rakó pirá asekyî-marangatu: ku'uka, gûarapuku, kamuri, gûatukupá. - Antigamente pescava bem os peixes: garoupas, cavalas, camuris, guatucupás. (Anch., Poemas, 152)
îeporero'ypok (v. intr.) - ter a segunda menstruação: Aîeporero'ypok. - Tive a segunda menstruação. (VLB, I, 84)
nhapupé (s.) - ENAPUPÊ, variedade de perdiz, ave da família dos tinamídeos, "do tamanho de uma franga, de cor aleonada; tem os pés como galinha...; põe muitos ovos de fina cor aleonada..." (Sousa, Trat. Descr., 237)
NOTA - Daí provêm muitos nomes de lugares no Brasil: ITAPETININGA, PIRATININGA, etc. (v. p. 386).
Caipora (PE). De ka'a + porá: habitante do mato (nome de uma entidade mitológica do Brasil colonial).
Japaratuba (rio de SE). De îaparandyba: japarandubas, árvores lecitidáceas.
Pirapema (rio de PE). De pirapema: peixes angulosos, peixes marítimos elopídeos.
Quajuá (rio do PA). De kereîuá: querejuás, guiruás, pássaros cotingídeos de cores brilhantes e vistosas.
Tejucupapo (PE). "...destroida a Capaoba foram ao Tujucupapo, aonde tiverão a maior briga de todas." (texto apócrifo [1585], p. 1). De tyîuka + upaba + -pe: no lago da água podre, no lago do tijuco.
_____(org.) Estudos sobre Línguas Tupi do Brasil. Série Lingüística Nº 11. SIL, Brasília, 1984.
EDELWEISS, F.G., Tupis e Guaranis. Estudos de Etnonímia e Lingüística. Salvador, Secretaria da Educação e Saúde, 1947.
A categoria da voz em Tupi. In Logos, ano II, nº 6, Curitiba, 1947, pp. 50-53.
______O Mundo dos Artrópodes. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1982.
______O mundo dos artrópodes. (Col. Zoologia Brasílica). Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1982.
ekosûer (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - durar muito, ser longevo, existir muito tempo: Na xe rekosûeri. - Eu não duro muito. (VLB, I, 147); Xe rekosûé-katu. - Eu sou muito longevo. (VLB, II, 145)
gûará1 (s.) - GUARÁ, ave ciconiforme da família dos tresquiornitídeos, que vive em mangues e áreas pantanosas. "Quando nasce é preto e depois se faz pardo; quando já voa faz-se todo branco e, depois, faz-se vermelho claro e, enfim, torna-se vermelho... e nesta cor permanece até a morte." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 62; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 270)
îepytasoka (s.) - firmeza: ...Îepytasokûera eroîeby. - Devolvendo sua antiga firmeza. (Ar., Cat., 40)
NOTA - CANINDÉ pode designar, também, no P.B., faca longa e pontiaguda usada pelos sertanejos do Ceará, em referência, certamente, ao longo bico da ave (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Daí, no P.B., MARABÁ, 1) filho de francês com índia; 2) mestiço de índio com branco; 3) (Amaz.) filho das ervas, i.e., de pai desconhecido (in Dicion. Caldas Aulete). Daí, também, o nome do município de MARABÁ (PA) (v. p. 386).
meeru2 (s.) - MERU, EMBIRI, BERI, BIRU-MANSO, planta ornamental cultivada, da família das canáceas (Canna indica L.) (Marcgrave, Hist. Nat., 4)
Caetés (PE). De ka'aeté - nome de povo indígena do Nordeste, extinto. A mesma etim. de Caeté (v.).
Juá, Barra do (PB). De îuá, juazeiro, árvore do sertão nordestino.
O nome Ubatuba vem do século XVI, sendo que ubá, no sentido de canoa, só aparece em textos no final do século XVII, o que faz a primeira etimologia ser mais plausível.
(Ferreira) FERREIRA, Pe. João de Sousa, América Abreviada. Suas notícias e de seus naturaes, e em particular do Maranhão [1693]. Publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, LVII, 1894, pp. 5-145.
_____Naturalien-Buch. In Brasil Holandês, vol. III (comentários de Dante Martins Teixeira). Editora Index, Rio de Janeiro, 1998.
agûaí (s.) - 1) AGUAÍ, arbusto da família das apocináceas [Thevetia ahoua (L.) A. DC], com flores amarelo-pálidas e com látex e sementes venenosos. É também chamado AGAÍ, AUAÍ, cascaveleira, tingui-de-leite; 2) nome de sua fruta, de cuja casca faziam-se colares (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 271; VLB, I, 68)
aîpi (s.) - AIPIM, peixe da família dos percofidídeos, do Atlântico sul-ocidental (VLB, I, 120)
îarok (ou îearok) (v.tr.) - consumir-se, gastar-se, acabar-se (uma quantidade de algo): ...I îaroketé rupibé amoaé sapixara rerasóbono. - Levando uma outra semelhante a ela tão logo se consuma muito. (Ar., Cat., 353, 1686)
îurukûá (ou îurukugûá) (s.) - designação comum das tartarugas marítimas, da família dos quelonídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 241; Sousa, Trat. Descr., 288)
momorandub (v.tr.) - avisar, informar (algo ou alguém) (VLB, II, 12); dar notícias a (VLB, II, 97): Tupã karaibebé mbouri São José mosaûsuba pupé i momorandupa... - Deus fez vir um anjo no sonho de São José para o avisar. (Ar., Cat., 140); Aîu nde momorandupa xe porapiti resé. - Vim para informar-te sobre minhas chacinas. (Anch., Teatro, 142, 2006) ● momorandupara - o que informa, o que avisa (VLB, II, 35)
Tamandûaré (s. antrop.) - nome de um grande pajé da mitologia dos antigos tupis da costa (Vasconcelos, Crônica [Not.], I, §75, 80)
Daí provêm, também, muitos nomes de lugares no Brasil: CURITIBA, ITATIBA, ARAÇATUBA, SAPETUBA, CARAGUATATUBA, SEPOTUBA, ITAMARATI, etc. (v. p. 386).
ubapûãa'yĩa (s.) - lagarto da perna, a parte mais carnuda da coxa (Castilho, Nomes, 41)
xebe (pron. pess. dat. de 1ª p. do sing.) - 1) a mim, para mim: ...Ûyrá-tinga our xebe. - Um pássaro branco veio a mim. (D'Abbeville, Histoire, 353); ...Tupã îepîakukari xebene... - Deus revelar-se-á a mim... (Ar., Cat., 38); 2) para junto de mim: ...xebe teîkeara... - o que entra para junto de mim (Ar., Cat., 85v)
Amanari (CE). De amana + y (t, t): água de chuvas. Nome atribuído artificialmente por decreto-lei de 1943, substituindo o nome de Pocinhos. (fonte: IBGE). Esse topônimo também existe há séculos no Amazonas, mas não deve ter origem na língua geral: "Dos rios e riaxos, que dezaguão nas suas margens, até a dita caxoeira, sei eu, porque vi, na austral os dous riaxos Cubaticuni, e o Amanari." (Alexandre Rodrigues Ferreira [n.d.], p. 249)
Aracatu (BA). De 'ara + katu: ar bom, tempo bom. Nome atribuído artificialmente em 1933. (fonte: IBGE)
Itapacurá (PA). De y + Tapacurá: Tapacurás do rio, povo indígena extinto do PA. Nome da língua geral setentrional.
Macuco (riacho de Santos, SP). De makukagûá, ave da família dos tinamídeos.
Mucuripe (AM). De mukury + 'y + -pe: no rio dos mucuris, plantas gutiferáceas.
Patatiba (rio da BA). Nome de um pássaro em língua geral: [...] patatibas, coleirinhos, canarios, e outros, que em menos ajustada solfa, tambem agradavelmente cantaõ. (Rocha Pitta [1730], p. 28).
_____Análise morfológica de um texto Tupi. In Logos, ano VII, nº 15. Tip. João Haupt & Cia. Ltda., Curitiba, 1952, pp. 55-57.
Poesias (Edição documentária de Maria de Lourdes de Paula Martins). Museu Paulista, Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, São Paulo, 1954.
endy3 (ou eny) (t) (s.) - cuspo, saliva (VLB, I, 88): Mba'erama ripe asé tĩme o endy moíni? - Por que põe sua saliva no nariz da gente? (Ar., Cat., 81v); [adj.: endy (r, s)] - salivoso, salivante; (xe) salivar: Xe rendy-rendy. - Eu fico salivando. (VLB, I, 85)
îagûasagûaré (s.) - espécie de peixe carnívoro da família dos quetodontídeos, com grande número de representantes encontrados nos recifes, parcéis e bancos coralíneos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 156)
îukuryûasu (s.) - nome de uma árvore de madeira dura, pesada, incorruptível (Sousa, Trat. Descr., 221)
îuruba (s.) - JURUVA, JERUVA, JIRIBA, nome comum a certas aves momotídeas, espécie de papagaio do tamanho do canindé (D'Abbeville, Histoire, 234v; Brandão, Diálogos, 229)
Vem, vem das águas, mísera Moema, / Senta-te aqui. As vozes lastimosas / Troca pelas cantigas deleitosas, / Ao pé da doce e pálida COEMA. (in Poesias Completas. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1977)
NOTA - O verbo CUTUCAR (ou CATUCAR), no P.B., tem os seguintes sentidos: 1) tocar ligeiramente (alguém) com o dedo, o cotovelo, etc., ou algum objeto, principalmente para fazer uma advertência que não se quer ou não se pode fazer de viva voz; 2) introduzir a ponta do dedo, ou objeto fino, pontiagudo, em (orifício do corpo, fechadura, etc.): CUTUCAR o ouvido; 3) (fam.) coçar ou bulir insistentemente em (ferida, machucado); 4) machucar levemente; incomodar: O broche mal fechado CUTUCAVA-lhe o seio. (in Novo Dicion. Aurélio)
NOTA - No P.B. (N.), PIXÉ pode ser, também, mau cheiro. Pode ser adjetivo, significando esfumaçado, que tem fumaça: comida PIXÉ, "comida que tem fumaça".
NOTA - Daí, no P.B., BOICININGA (mboîa + sining + -a, "cobra que retine"), a cascavel, que tem um chocalho na cauda.
syb (-îo-) (v.tr.) - limpar: Aîosyb. - Limpo-o. (Fig., Arte, 73); Osobá-syb aó-tinga pupé... - Limpou seu rosto com um pano branco. (Ar., Cat., 62)
tuindara (s.) - TUINDARA, SUINDARA, ave estrigiforme da família dos titonídeos, do grupo das corujas (v. suindara) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 205; VLB, I, 88)
Jacitara (AM). No nheengatu, nome de uma var. de palmeira: "(...) vai ao tipiti que é um cilindro tecido, ou de casca do talo de guaruman, ou de jassitara, que é a melhor, porque dura (...)" (Alexandre Rodrigues Ferreira [n.d.], p. 693)
Morumbi (bairro de SP). Da língua geral meridional, com a mesma etimologia de Marumbi (v.).
Paranapiacaba (SP). De paranã + epîak + -aba: lugar de ver o mar. Nome antigo da Serra do Mar na capitania de São Vicente: "Subio a escabrosissima serra de Paranapiacaba: (este nome quer dizer, sitio donde se vê o mar.") (Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], p. 176).
îeseî (v. intr. compl. posp.) - irritar-se, querer brigar, fazer-se hostil [com alguém: compl. com esé (r, s)]: Aîeseî (abá) resé. - Irritei-me com o homem. (VLB, I, 115)
maîé (s.) (forma absol. de paîé ou o mesmo que paîé - v.) - PAJÉ, feiticeiro indígena, xamã: Osekyî kunhã maîé Karûara. - Invocam as mulheres o pajé Caruara. (Anch., Teatro, 148)
NOTA - Daí, no P.B., BOITATÁ (mba'e + tatá, "coisa fogo"), nome de entidade sobrenatural dos antigos tupis; BAEPENDI (mba'e + apina + 'y, "rio da coisa pelada", i.e., de uma entidade sobrenatural), localidade de MG.
mombor (v.tr.) - 1) fazer pular, fazer saltar, projetar, lançar fora, atirar, lançar (VLB, II, 18): ...Tekoaíba oromombó. - A vida ruim lançamos fora. (Anch., Poemas, 84); Îasó umẽ, îandé nupã, tatápe îandé mombómo. - Não vamos, ela nos castiga, fazendo-nos saltar no fogo. (Anch., Teatro, 130); Aîmombor ybype. - Lancei-o no chão. (VLB, I, 110); 2) expulsar: Nde reroŷrõ, nde mombóne. - Odeiam-te, expulsar-te-ão. (Anch., Teatro, 136); 3) botar (ovos a ave): Aîupi'a-mombor. - Botei-me os ovos. (VLB, II, 81); 4) tirar, retirar: Naînanĩ temiminõ... o erumûana mombó. - De modo nenhum os temiminós tiram seus nomes antigos. (Anch., Teatro, 144)
potuká (v.tr.) - lavar (p.ex., roupa) batendo ● i potukapyra - lavado, batido: Morotĩngatu nde 'anga, aoba i potukapyra rame'ĩ ... - Tua alma está muito branca, como roupa lavada. (Ar., Cat., 81v)
NOTA - Daí, no P.B., o termo chulo SIRIRICA, masturbação feminina; TIRIRICA ("que se arrasta"), erva daninha, ciperácea, que invade rapidamente terrenos cultivados, sendo difícil de ser erradicada. TIRIRICA (PA) pode ser, também, uma agitação incessante das águas do rio Pará, com ondas desencontradas e mais altas que em outras partes dele.
tetiruã (part.) - 1) qualquer, quaisquer: Oporandupe Herodes mba'e tetiruã resé i xupé? - Perguntou Herodes sobre qualquer coisa para ele? (Ar., Cat., 59); 2) todos (as): Mba'e tetiruã asé saûsuba sosé, asé Tupã raûsubi. - Ama a gente a Deus mais do que ama a todas as coisas. (Fig., Arte, 96)
Abaiara (CE). De abá + îara: o senhor dos homens. Nome atribuído artificialmente para homenagear D. Pedro II: "O município foi denominado primitivamente São Pedro, depois Pedro Segundo com o Decreto-Lei nº 448, de 20 de dezembro de 1938 e, posteriormente denominou-se Abaiara, pelo Decreto-Lei nº 1.114, de 31 de dezembro de 1943. (fonte: IBGE).
Catete (MA). De ka'a + eté-eté: mata imensa. Catete (ou cateto ou batité) designa, também, uma variedade de milho miúdo. Primeira datação: "Dada neste Arrayal do Cathete aos 15 dias do mez de Janeiro de 1711." (Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho [1710], III - Cartas De Sesmaria, p, 261.)
Sapucaetaba (morro de Itanhaém, SP). De sapukaîa - sapucaia, planta lecitidácea + suf. -(t)ab/a + -a: lugar de sapucaias.
Tupãciretama (PE). De Tupã + sy + etama (t): terra da mãe de Deus. Nome artificial, atribuído no século XX.
MORAES, Pe. José de [1759], História da Companhia de Jesus na extinta província do Maranhão e Pará. Colégio do Pará. Rio de Janeiro: Editorial Alhambra, 1987.
apûar (ou apugûar) (v.tr.) - 1) liar (defunto para sepultar ao modo antigo dos índios; qualquer coisa com muitas voltas de corda em diversas partes, como um vaso para levar na mão, etc.) (VLB, II, 21); 2) embrulhar, entrouxar amarrando ou fazendo envoltório: Aîapugûar. - Embrulhei-o. (VLB, I, 119)
erekoabanhẽ (t) (s.) - naturalidade; [adj.: erekoabanhẽ (r, s)] - natural; não artificial (VLB, II, 48)
kupy4 (s.) - CUPIRA, variedade de abelha menor, escura, que produz ótimo mel (Piso, De Med. Bras., 64)
NOTA - Daí, no P.B., PROMOMBÓ (pirá + mombor, "fazer o peixe pular"), tipo de pescaria em que os peixes são atraídos pela luz de fogueira feita dentro da canoa do pescador, fazendo-os saltar para dentro dela. (in Dicion. Caldas Aulete)
momoroting (v.tr.) - branquear: T'onhemoma'enduá-katu Tupã o 'anga momorotingûera resé... - Que se lembre bem de que Deus branqueou sua alma. (Ar., Cat., 188)
mytakory (s.) - baluarte, guarita (VLB, I, 51); cubelo, torreão que, nas fortificações antigas, acompanhava o lanço dos muros (VLB, I, 86)
periná (s.) - PERINÁ, nome de uma planta; outro nome para a pakoka'atinga (v.)
OBSERVAÇÃO - Os temiminós do Espírito Santo deviam considerar-se geneticamente relacionados aos tamoios do Rio de Janeiro: com efeito, se o significado do termo temiminó é neto, o de tamoio é avô...
urupé (s.) - URUPÊ, orelha-de-pau, var. de cogumelo grande e não comestível da família das poliporáceas (Pycnoporus sanguineus (L. ex Fr.) Murr.) (VLB, I, 86)
Cariucanga (AM). Da língua geral setentrional, cariú - povo indígena extinto + kanga: ossos de cariús.
Cariutaba (CE). Da língua geral setentrional, cariú - povo indígena extinto + taba: aldeia dos cariús.
Cuipéua (PA). De kuîa + peb + -a: cuias chatas, cabaças compridas partidas pelo meio.
Itarema (CE). De itá + rem + -a: pedras fedorentas. Nome atribuído artificialmente por lei de 1937.
Jaguarembé (RJ). De îagûara + 'yemby: rego das onças. Nome atribuído artificialmente em 1904 por lei estadual. Era, antes, o povoado de "Valão da Onça", nome do córrego que corta a vila. (fonte: IBGE)
COUTO, José Vieira [1801], Appendice sobre a nova lorena diamantina - descripção das minas contidas no terceiro cofre, e dispostas segundo os systemas de linnco, wallerio, e bergman. In Memória sobre as minas - Capitania de Minas Geraes. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994.
akapé (t) (s.) - 1) o espaço que há do umbigo até a virilha, púbis (Castilho, Nomes, 37) ● akapé-aba (t) - os pêlos do púbis (Castilho, Nomes, 37); 2) a frente do corpo, em geral (Léry, Histoire, 365)
'apỹînhugûana (s.) - o risco que atravessa a cabeça de orelha a orelha (Castilho, Nomes, 29)
e'ymeté (conj.) - 1) como se não: ...Oîosuí i kûá e'ymeté? - Como se não estivessem longe uns dos outros? (Bettendorff, Compêndio, 56); 2) se: Marãpe sepîaki, setee'ymba'eramo sekó e'ymeté? - Como o viu se ele não tem corpo? (Ar., Cat., 31); 3) sendo assim como é (Fig., Arte, 148): Aîpó e'ymetépe peẽ bé ybŷa pe tymagûama na peîkuabi? - Sendo isso assim como é, vós também não reconheceis que vos enterrarão? (Ar., Cat., 155v); Aîpó e'ymeté, ko'arapukuî, pysaré nde maînanĩ nde 'anga resé...-ne. - Sendo isso assim, o dia todo e a noite toda tu cuidarás de tua alma. (Ar., Cat., 158-158v)
gûe'y (interj. de h.) - ó! (do que chama, dizendo o nome ou um designativo qualquer para a pessoa chamada): Pero gûe'y! - Ó Pero! (VLB, II, 60)
puraké2 (m) (s.) - cotovelo (entre os tupis de São Vicente) (VLB, I, 84; Castilho, Nomes, 37)
rame'ĩbé (conj.) - assim como, do mesmo modo que: Kûesenhe'ym xe porapitiagûera o'ar xe resápe, ko'y abé rame'ĩbé i apiti arekó... - Minhas matanças de outrora caíram diante de meus olhos, assim como agora, também, o assassinato delas guardo comigo. (D'Abbeville, Histoire, 350)
NOTA - Daí, no P.B., o verbo TUTUCAR, produzir som surdo e o substantivo TUTUQUE, som surdo: "Ouvia-se o TUTUCAR dos atabaques." (Júlio Ribeiro, in A Carne, apud Novo Dicion. Aurélio)
ûapakari (s.) - raiz com a qual se produz uma espuma branca, que era utilizada pelos índios para limpar os cabelos, a cabeça e tudo o mais (D'Abbeville, Histoire, 267v)
upîara (t) (s.) - 1) adversário, inimigo: São Lourenço rupîarûera. - Os antigos inimigos de São Lourenço. (Anch., Teatro, 64); Marã e'ipe supîarûera osóbo? - Que disseram seus adversários, indo? (Ar., Cat., 64); 2) matador (VLB, II, 33); perseguidor (p.ex., o cão perdigueiro); caçador: paka rupîara - caçador de pacas (VLB, II, 73); 3) presa, prisioneiro: Ikó îu'i, xe rupîara, t'ere'u... - Estas rãs, minhas presas, que as comas. (Anch., Poemas, 158); 4) armadilha, tudo o que serve para a destruição ou para a captura de alguém ou de algo (VLB, II, 97): gûabiru rupîara - armadilha de ratos, ratoeira (VLB, II, 97) [v. tb. obaîara (t) e sumarã]
-usu1 (suf. de temas terminados em consoante) - expressa o aumentativo: Pytunusupe émo i xóûmo. - Para uma grande escuridão é que iriam. (Ar., Cat., 80); okusu - casarão, casa grande (Anch., Arte, 13v); Xe, anhangusu-mixyra... - Eu, o diabão assado... (Anch., Teatro, 6); Kó xe 'akusu... - Eis meus chifrões... (Anch., Teatro, 40); Kó xe musuranusu. - Eis aqui minha grande muçurana. (Anch., Teatro, 64)
Canapi (AL). De canabi, conabi, arbusto da família das euforbiáceas, tida por medicinal. Devia ser termo da língua geral meridional e da setentrional.
Ibaiti (PR). De 'yba + ayty (t): ninhos das árvores. Nome atribuído artificialmente em 1943 por um decreto-lei. (fonte: IBGE)
Mogi-Guaçu (SP). De moîa, mboîa - cobra + 'y - rio + -ûasu - suf. de aumentativo: rio grande das cobras.
NOTA - No P.B. (Amaz.), CARUARA é 1) mal ou enfermidade causada por feitiço; quebranto, mau-olhado; 2) achaque, doença; 3) dor reumática; 4) doença neurológica conhecida como dança de São Guido (In Novo Dicion. Aurélio).
oobapybo (adv.) - de bruços; emborcado, de boca para baixo (p.ex., o vaso, a tigela, etc.): Oobapybo aîub. - Estou deitado de bruços. (VLB, I, 90); Oobapybo aîmoín. - Coloquei-o de boca para baixo. (VLB, I, 111)
ymana (ou ymûana) (s.) - velho (VLB, II, 104); (adj.: yman ou ymûan) - velho, antigo, que tem muita idade: Îesu, xe posangymana... - Jesus, meu antigo remédio... (Valente, Cantigas, I, 1618); ...I mendarymana kuaba potá. - Querendo conhecer seus casamentos antigos. (Ar., Cat., 94v); Xe ymûan. - Eu sou velho. (VLB, II, 8)
Açu (Ig. do AM). Do sufixo -ûasu combinado com o termo ygarapé, omitido com o tempo: (igarapé) grande.
Guarabira (PB). De gûaraembira - guaraviras, peixes da família dos gimnotídeos.
Jaguaretama (CE). De îagûara + etama (t): terra das onças. Nome atribuído artificialmente por lei de 1956. (fonte: IBGE)
Moacyr (nome próprio de pessoa). De moasy: arrependimento; inveja. A etimologia dada por José de Alencar em Iracema não procede.
Toritama (PE). De toryba + etama (t): terra da alegria, nome atribuído artificialmente no século XX.
abaíba (s.) - dificuldade, pena, inconveniência: ...T'aîabaíbokyne... - Hei de tirar-lhe as dificuldades. (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); (adj.: abaíb ou abaí) - 1) difícil, arrevezado, complicado (de entender, etc.): I abaí xebo sa'anga.- É difícil para mim tentá-los. (Anch., Teatro, 16); I abaíb aîpó nhe'enga. - É difícil essa língua. (Anch., Poemas, 196); Iîabaíbeté aîpó! - Isso é muito difícil! (Anch., Teatro, 156); A'e iîabaíbymo abá supé xe ro'o 'u... - Mas seria difícil para as pessoas comer minha carne. (Ar., Cat., 84v); 2) molesto, penoso, fragoso, íngreme (p.ex., o caminho, a montanha, etc.): Ikó pé bé iî abaí... - Este caminho também é penoso. (Anch., Teatro, 162, 2006); Iîabaíbeté nhẽ rakó... asé atá mysakanga... - São muito molestos, certamente, os tropeços de nossa caminhada. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); 3) inadequado, inconveniente: Nd'erékatuî xûé angiré nde remirekó rerobyka, ã tekó-abaíbeté-katureme. - Não poderás doravante juntar-te a tua esposa por ser isso um procedimento muitíssimo inconveniente. (Anch., Doutr. Cristã, II 94); 4) confuso: Xe abaíb. - Eu sou confuso. (VLB, I, 80)
inhûapupé (s.) - ENAPUPÊ, nome de ave semelhante à perdiz, da família dos tinamídeos; o mesmo que nhapupé (v.) (Brandão, Diálogos, 227)
tubixaba2 (s. irreg.) - coisa grande; o que é grande, o muito maior (superlativo) (VLB, II, 28): ...Oîmombe'u o angaîpá-mirĩ anhõ. Tubixabeté oseîá, abaré suí i mima. - Confessam seus pecadilhos somente. Os que são muito grandes deixam-nos, escondendo-os do padre. (Anch., Teatro, 160, 2006); (adj.: tubixab) - grande, imenso; enorme; principal; grosso (p.ex., o mato); membrudo: Tubixabeté. - Ele é muito grosso. (VLB, I, 151); abá-tubixaba - homem membrudo (VLB, II, 35); ...Xe angaîpá-tubixagûera amosẽne. - Meus antigos e grandes pecados farei sair. (Anch., Teatro, 38) ● tubixabeté - (o) muito maior (superlativo) (VLB, II, 28)
Camacã (BA). Não é palavra de origem tupi. É nome de povo indígena extinto que habitava a margem esquerda dos rios Pardo e Colônia, no S. da BA.
Caraíba (BA). De karaíba, homens brancos. Podia ser, também, o profeta-santidade dos antigos tupis.
Humaitá (SP). Da língua geral meridional, por influência do guarani antigo, mbaitá, nome de pássaro verde (Montoya, Tes., 212).
Jaciara (MT). De îasy + iara, a senhora da lua. O nome foi atribuído artificialmente em 1953, tendo sido extraído da obra do escritor Humberto de Campos, Lenda da Índia Jaciara, a Senhora da Lua, no texto Vitória Régia. (fonte: IBGE)
Paxiúba (ig. do AM). Da língua geral setentrional paxi + yba: pés de patis, var. de palmeiras.
Piacatu (SP). Nome atribuído em 1944 (fonte: IBGE). Foi tomado do tupi antigo: de py'a - fígado, coração + katu - bom: bons corações.
_____ LIBRI PRINCIPIS. In Brasil Holandês, vol. II (org. de Dante Martins Teixeira). Editora Index, Rio de Janeiro, 1995)
NOTA - Daí, no P.B., ANHANGUERA, valentão (in Dicion. Caldas Aulete). Sua etimologia é "diabo velho", sendo alcunha dada por índios de Goiás ao bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva); INHAMBUANHANGA (inhambu + anhanga, "inhambu diabo"), nome de uma ave tinamídea. Daí, também, os nomes geográficos ANHANGUERA, ANHANGABAÚ, etc. (v. p. 386).
api'aîuru'uma (t) (s.) - esmegma, secreção branca que cobre a base da glande (Castilho, Nomes, 29)
apupa'ũ3 (t) (s.) - parte do corpo entre a cintura e os joelhos, regaço (Castilho, Nomes, 38)
gûabiru (s.) - 1) GUABIRU, GABIRU, espécie de mamífero roedor; 2) rato doméstico (VLB, II, 97) ● gûabiru-mo'asaba (ou gûabiru rupîara) - armadilha para pegar guabirus (VLB, II, 97)
karipirá (s.) - CARAPIRÁ, GRAPIRÁ, nome comum de aves da família dos fregatídeos, também conhecidas como tesouras e que fazem grande luta com os peixes-voadores (D'Abbeville, Histoire, 241v; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 61)
kûesenhe'ymĩkaé (interj. - Expressa saudade do tempo passado. Aparece com a partícula mã no final do período.) - bom tempo aquele em que: Kûesenhe'ymĩkaé xe sóû a'epe mã! - Ah, bom tempo aquele em que lá fui! (VLB, II, 120)
kuruka (s.) - resmungão; resmungo; (adj. - kuruk): Nde nhe'ẽ-kuru-kurukype...? - Tu tiveste palavras muito resmungonas? (Ar., Cat., 100v)
mba'e9 (ou ma'e) (s.) - alfaia, móvel ou utensílio de uso ou adorno doméstico (VLB, I, 31)
mogûaî (v.tr.) - 1) cortar (com faca, espada, ferramenta, machado, etc.); dar cutilada (com espada, machado) (VLB, I, 83); 2) ferir (o corpo em geral, exceto a cabeça, para o que se emprega o verbo 'apixab, v.); ferir gravemente (VLB, I, 88; 137)
tiruã1 (part.) - 1) mesmo, ainda, até, até mesmo: Abá-tepe oîkó xe oîá, Tupã tiruã momburûabo? - Mas quem há semelhante a mim, desafiando até mesmo a Deus? (Anch., Teatro, 18); Ixé tiruã asó. - Até eu vou. (VLB, I, 46); Tupã resé tiruã kó nhe'enga reîtyki... - Até mesmo em Deus este lança palavras. (Ar., Cat., 56v); 2) nem sequer, nem mesmo, ao menos (com o verbo na forma negativa): I xy na sugûyî tiruã... - Sua mãe nem sequer sangrou. (Anch., Poemas, 184); Oîepé tiruã abá nd'e'ikatuî oîepysyrõmo te'õ suí. - Nem sequer um só homem pode livrar-se da morte. (Ar., Cat., 155); Oîepé tiruã nd'aruri. - Não trouxe nem mesmo um só. (VLB, II, 49); 'Y tiruã n'arekóî. - Nem mesmo água eu tenho. (VLB, II, 124)
Angaturama (rua de SP) - De angaturama - bondade, virtude. Nome atribuído artificialmente no século XX.
Piaçaguera (Cubatão, SP). De peasab/a + ûera: porto velho, desembarcadouro antigo. "[...] Hoje chamão-lhe Piassaquéra, nome composto do substantivo piassaba, que significa porto, e do adjectivo aquéra cousa velha, ou para melhor dizer, antiquada". (Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], p. 175)
Tamandaré (PE). De Tamandûaré, nome de um grande pajé da mitologia dos antigos tupis. Talvez de tamanduá + é: tamanduá diferente. "As Aldeas, que então o Irmão visitava, erão tres: huma de um principal chamado Simão, [...] a outra chamava-se Tamanduaré [...]." (Ir. António Blázquez [1557], Carta [...] ao P. Inácio de Loyola, pp. 380-381).
_________________, Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1980.
îemoún (ou nhemoún) (v. intr.) - pintar-se de preto, pretejar-se, escurecer-se; tingir-se de jenipapo (num ritual): Moraseîa é i katu, îegûaka,... îemoúna... - A dança é que é boa, enfeitar-se, pintar-se de preto. (Anch., Teatro, 6); Aûîeté-pakó aîegûak ûinhemoúna... - Na verdade hei de me enfeitar, pintando-me de preto... (Anch., Teatro, 60)
i'yraty (r, s) (s.) - 1) mulher do sobrinho (de h.); 2) mulher do primo, filho do tio ou da avó (de h.) (Ar., Cat., 114v)
NOTA - Daí, no P.B., CANGUARA, aguardente, pinga: "O velho Mané Lucídio metia as suas canguaras, sentava na beira da calçada e falava feito reza de igreja." (M. Cavalcanti Proença, in Manuscrito Holandês, apud Novo Dicion. Aurélio).
ku'ĩ (s.) - CUIM, espécie de cuandu, mamífero roedor da família dos eretizontídeos. "É todo cheio de espinhos até o rabo... os quais espinhos são amarelos e têm as pontas pretas e mui agudas." (Sousa, Trat. Descr., 257)
memẽ2 (conj.) - quanto mais (Anch., Arte, 57; Fig., Arte, 137) (o mesmo que memetipó - v.)
1 (forma braquissêmica da posposição supé [v.], com os mesmos sentidos desta) - a, para, junto de, em busca de, etc.: Miapé tekobé îara Tupã raûsupara pé. - Pão que porta a vida para os amigos de Deus. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar. Cat., 1618); Peîkoeté pe robaîara pé. - Sede corajosos junto de vosso inimigo. (Ar., Cat., 89); Aîme'eng xe ruba pé. - Dei-o a meu pai. (Anch., Arte, 42); Asó xe ruba pé. - Vou em busca de meu pai (isto é, por meu pai). (Anch., Arte, 42); Oré ma'e îara ahẽ pé. - Nós somos portadores de riquezas para ele. (Léry, Histoire, 362)
peká (v.tr.) - abrir (sem cortar, como o que abre caminho por meio à multidão ou como o que abre a mata cerrada, sem a cortar); arrombar, fazer rombo ou buraco sem cortar: Nd'e'i te'e oá nhote i xuí, nd'i pekábo ruã... - Por isso tão somente nasceu dela, não lhe fazendo rombo. (Anch., Doutr. Cristã, I, 194); Erepokokype nde rapopé resé, i pekábo? - Passaste a mão nas tuas pudendas, abrindo-as? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95)
NOTA - Daí se originam inúmeros nomes geográficos (v. p. 386) e substantivos comuns no P.B.: PIRAÍ, município situado no Vale do Paraíba, (RJ) (v. p. 386); PIRAPANEMA, trecho de rio onde o peixe é escasso; PIRAQUARA, alcunha que se dá aos habitantes das margens do rio Paraíba do Sul (RJ e SP), etc.
tyabor (v. intr.) - estar na penúria, padecer miséria, sofrer falta de mantimentos: Atyabor. - Estou na penúria. (VLB, I, 128)
ysyka2 (s.) - ICICA, 1) ICICARIBA, árvore da família das anacardiáceas (Protium icicariba (DC.) Marchand), de madeira mole, o mesmo que almécega-verdadeira. "Onde está, cheira muito bem por um bom espaço.... Estila um óleo branco que se coalha. Serve para emplastos... e em lugar de incenso. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42); 2) a resina extraída dessa árvore (Piso, De Med. Bras., IV, 180; VLB, I, 32)
Ipanguaçu (RN). De ypa'ũ + ûasu: ilha grande. "...Nome de um pajé, guerreiro potiguar, que decisivamente auxiliou a fixação colonizadora dos portugueses no Potengi (...)." (fonte: IBGE)
Vamicanga, Córrego do (SP). "Uma legoa mais adiante está a cachoeira Tambatiririca, e com mais 3 legoas de navegação se chega á de Uamicanga." (Vasconcellos de Drummond [1797], p. 240). Nome da língua geral meridional. De uaimĩ* + kanga: osso de velha, talvez o nome de uma árvore de madeira clara, como é a sûasukanga (etim. - osso de veado) (v.), que tem "madeira alvíssima como marfim..." (Sousa, Trat. Descr., 214).
CORREIA, Manuel Pio, Diccionário das Plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro, 1926-1975, 5 vols.
NOTA - Daí, no P.B., TEMIMINÓ ("os descendentes"), nome de povo indígena extinto, muito importante na história do Espírito Santo e ao qual pertencia o famoso cacique Arariboia; TUPIMINÓ (de Tupi + emiminõ, "descendentes dos tupis"), nome de povo indígena extinto do Brasil colonial.
ikoé / ekoé (t) (v. intr. compl. posp. irreg.) - diferir, ser diferente, ser distinto (de algo ou de alguém: compl. com suí): ...N'oîkoéî o îosuí... - Não diferem uns dos outros. (Ar., Cat., 118); -Anga îápe pe roka? -Oîkoé-katu. - Como estas são vossas casas? -Diferem muito. (Léry, Histoire, 363)
kuîpeúna (ou kuîpuna) (s.) - CUIPUNA, árvore da família das mirtáceas (Myrcia tingens O. Berg) (Sousa, Trat. Descr., 205)
mba'easybora (s.) - doente, enfermo: Kûesé paîé mba'easybora subani. - Ontem o feiticeiro chupou o enfermo. (Fig., Arte, 96); Mba'easybora repîaka. - Ver os doentes. (Ar., Cat., 18)
moaparar (v.tr.) - derrubar, fazer cair: Sekoaba'e kûé kunhã oré akanga i apiti... oré moapará-pará... - O que é comum é aquela mulher espedaçar nossas cabeças, ficando a derrubar-nos. (Anch., Teatro, 182)
poapyîa (m) (s.) - ligeireza de mãos; (adj.: poapyî) - ligeiro de mãos (p.ex., para atirar o arco): Xe poapyî. - Eu sou ligeiro de mãos. (VLB, II, 22)
porapitîara (m) (s.) - matador (VLB, II, 12); trucidador, assassino: anhangaíba, morapitîara... - diabo mau, assassino (Anch., Poemas, 90); Ahẽ morapitîarûera tatenhẽ anhẽ ybŷá oîuká. - Mataram erradamente a fulano em lugar do assassino. (VLB, II, 12); (V. tb. apiti)
NOTA - Daí, no P.B., ABU (pref. a- do port. + pu), usado no Amazonas com o sentido de silêncio, falta de ruído.
xerorõ (s.) - NHAMBUXORORÓ, INHAMBUXORORÓ, NAMBUXORORÓ, ave da família dos tinamídeos, parecida com a perdiz (VLB, II, 73)
Bauru (SP). De 'ybá - fruta + uru - cesto; celeiro: celeiro de frutas. Há etimologias antigas controvertidas: "Sahimos huma hora Itaupaba de cima isto baixio, e logo a Cachoeira de Baurú, que quer dizer que Baú cahio na agoa por ser Cachoeira grande, em que antigamente sempre se perdia canôa, e tem sua sirga por ser baixio por baixo da dita". (desconhecido [1754], Relaçaõ da chegada, que teve a gente de Mato Groço..., p. 246)
Cauaçu (RN). De ka'a + -ûasu: folhas grandes, nome de certas plantas arbustivas.
Jabaquara (bairro de SP). De îababa (do v. îabab - fugir) + kûara: toca de fugitivos, i.e., quilombo, reduto de escravos fugidos.
Juarana (BA). De îuá + ran + -a: falsos juazeiros, nome de árvores não identificadas.
(Theat. Rer. Nat. Bras.) THEATRUM RERUM NATURALIUM BRASILIAE, org. de Christian Mentzel (1660). Reprodução dos originais pela Editora Index, São Paulo, 1993.
'a3 (s. voc., usado por reverência, somente) - 1) mano: xe 'a - meu mano (Castilho, Nomes, 27); 2) companheiro: Mamõ suípe ereîur, xe 'a? - Donde vieste, meu companheiro? (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277); 3) senhor: Xe 'a! - Meu senhor! (VLB, II, 116)
'angaingaíba (s.) - mania, loucura (VLB, II, 31); (adj.: 'angaingaíb) - maníaco, doido, desatinado, sem juízo, enlouquecido; (xe) endoidecer: Xe 'angaingaíb. - Eu sou (ou estou) doido. (VLB, I, 115; II, 31) ● 'angaingaibora - desatinado, sem juízo, enlouquecido, maníaco (VLB, I, 96; II, 31)
apy2 (s) (v.tr.) - 1) queimar (o fogo ou com fogo; queimar tocando com brasa, tição, azeite ou água quente); inflamar, pôr fogo; abrasar: Asapy. - Queimo-o. (VLB, II, 93; Fig., Arte, 2); Xe, Tatapytera, xe tatagûasu îabé, asapy nhemoŷrõmbûera. - Eu, Tatapitera, assim como meu grande fogo, inflamo os antigos ódios. (Anch., Teatro, 128); Asapy nhũ. - Queimei o campo. (VLB, I, 140); T'îasó, mbegûé, îapu'ama, t'ixapy moxy retama. - Vamos, devagar, para fazer o assalto, para queimar a terra dos malditos. (Anch., Teatro, 24); ...Pe rapy tatá-endyne! - Queimar-vos-ão as chamas! (Anch., Teatro, 42); Nde 'anga osapy satá... - Abrasou tua alma o fogo dele. (Anch., Poemas, 124); 2) ferrar, marcar (p.ex., o gado): Asapy. - Ferrei-o. (VLB, I, 138) ● osapyba'e - o que queima: ...N'i porangyba'e ruã a'e tatá: sun, i poxy, oporoapyeteba'e... - Aquele fogo não é aquilo que é belo: ele é escuro, ele é feio, é o que queima muito as pessoas. (Ar., Cat., 163v); apŷara (ou apysara) (t) - o que queima, queimador: Ixé aé sapysarûera, sekobeaba resé. - Eu mesmo sou quem o queimou, no tempo em que ele vivia. (Anch., Teatro, 18); sapypyra - o que é (ou deve ser) queimado: Aîpó îandé ratá gûyra porama, sapypyrama. - Aqueles serão os futuros habitantes do fundo do nosso fogo, os que serão queimados. (Anch., Teatro, 160, 2006)
NOTA - Daí, no P.B. (SP, pop.), SAPIEIRA (sapypyr-era, "o que foi queimado"), quantidade de sapé e vegetais secos nas capoeiras; CAPUAVA, CAPUABA (ka'a + apy+ -aba, "lugar de queimar a mata"), 1) propriedade rural composta, em geral, de terras de semeadura, montados e casa de habitação; 2) terreno limpo para roças; 3) (RN, PB) cabana; casa mal construída ou em ruínas; 4) (SP) capoeira muito rala, de madeira branca ou só de arbustos; SAPUÁ (SP), pequena porção de terreno cultivado (in Dicion. Caldas Aulete)
NOTA - Daí, no P.B., a palavra PIRABEBE (peixe voador), da família dos exocetídeos. Daí, também, a alcunha ABARÉ-BEBÉ (padre voador), com que o jesuíta Leonardo Nunes era conhecido pelos índios da capitania de São Vicente em meados do século XVI, pela extrema rapidez com que fazia suas viagens missionárias.
îekuakuba (s.) - 1) couvade, conjunto de restrições alimentares e de ritos praticados por um homem durante a gravidez da mulher e logo depois do nascimento da criança; 2) jejum (significação assumida após a chegada dos missionários): Îekuakuba oîkoé so'o gûabe'yma suí... - O jejum difere de não comer carne. (Ar., Cat., 10v); Aîá pá îekuakuba... - Guardei todos os jejuns. (Anch., Teatro, 172)
îetipemena (s.) - marido da sobrinha (filha da irmã de h.) ou da prima (filha da tia de h.) (Ar., Cat., 114)
kyre'yma (s.) - 1) diligência, presteza, destreza, habilidade (VLB, I, 103); 2) valentia (VLB, II, 127); (adj.: kyre'ym) - 1) destro, habilidoso, diligente: Xe kyre'ym. - Eu sou habilidoso. (VLB, I, 101); 2) valente (VLB, II, 127)
matu'ĩtu'ĩ (s.) - MATUIM, MUTUÍ, BATOVI, BATUÍRA, nome comum a certas aves do continente americano, que vivem nas praias e margens de rios (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 217)
porekobîara (m) (s.) - o filho que há de ficar por chefe por morte do pai; o substituto, o sucessor (VLB, II, 122)
NOTA - Daí se originam muitas palavras no P.B.: ACUERA (s. e adj.), coisas antigas, abandonadas ou extintas; TAPERA (taba + pûer + -a, "taba que foi"), casa ou aldeia abandonada; casa em ruínas; fazenda totalmente abandonada e em ruínas; CAPOEIRA, terreno em que o mato foi roçado ou queimado; mato que cresceu onde a mata virgem foi derrubada; QUIRERA (kuruba + -ûer + -a, "o que foi grão"), milho ou arroz quebrado; CATANGUERA, CATAMBUERA (ka'a + atã + mbûer + -a, "o que foi folha dura"), fruto atrofiado. Daí provêm, também, muitos nomes de lugares: IBIRAPUERA, CANGUERA, TABATINGUERA, PARIQUERA, ANHANGUERA, PIAÇAGUERA, etc. (v. p. 386).
Cunhambebe (RJ). Era o nome de um famoso chefe tamoio do século XVI: "Foi continuando a derrota até á Ilha dos Porcos, a que uma sesmaria antiga chama Tapéra de Cunhambéba, por nella ter existido uma aldêa, de que era cacique Cunhambéba, aquelle indio, que na sua canôa conduzio para S. Vicente ao veneravel Padre José de Anchieta, quando voltava de Iperoyg." (Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], Memorias para a Historia da Capitania de S. Vicente hoje Chamada de S. Paulo, p, 118.). De kunhã + mbeb (forma nasalizada de peb) + -a: mulher achatada (i.e., sem seios, de seios muito pequenos). Tal etimologia não parecerá estranha se se lembrar que há o termo kambeba (kama + peb + -a: seio achatado), que designa uma fêmea estéril (VLB, II, 31). Cunhambeba devia ter um peito bem desenvolvido e musculoso.
Manuscrito guarani da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro sôbre a primitiva catequese dos índios das missões, composto em castelhano pelo Pe. Antônio Ruiz de Montoya, vertido para o guarani por outro padre jesuíta, e agora publicado com a tradução portuguesa, notas, e um esboço gramatical do Abáñeê. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI. Rio de Janeiro, 1879.
ãîbitir (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - arreganhar os dentes (como o cão): Xe rãîbitir. - Arreganhei os dentes. (VLB, I, 42)
OBSERVAÇÃO - Na sua Arte, 50, Anchieta afirma que não se poderia dizer xe moroting, i moroting, mas, sim, xe ting, ting, o que seu próprio exemplo acima contradiz.
nhẽ2 (part. que dá ênfase e muitas vezes não se traduz) - com efeito; efetivamente: ...Setá nhẽ ygasabusu... - São muitas, com efeito, as grandes igaçabas. (Anch., Teatro, 24); A'epe kunumĩgûasu kunhã oîmomosemba'e, miaûsuba potá nhẽ...? - E os rapazes que perseguem mulheres, querendo escravas? (Anch., Teatro, 36); Aîpó resé nhẽ, ko'y asaûsu... - Por causa disso, com efeito, agora o amo. (Anch., Poemas, 108)
posanga2 (m) (s.) - 1) enfeite: tobá posanga - enfeites do rosto (VLB, I, 22); 2) cosméticos de rosto (VLB, II, 83)
NOTA - Daí, IPUPIARA ('y + pupîara, "o que está dentro d'água"), nome de entidade sobrenatural dos antigos índios tupis do Brasil.
suban (v.tr.) - chupar, sugar (a parte molesta do corpo de um doente, para retirar-lhe o mal, prática comum entre os feiticeiros): Kûesé paîé mba'easybora subani. - Ontem o feiticeiro sugou o enfermo. (Fig., Arte, 96); Aporosuban. - Chupo gente. (Fig., Arte, 89) ● oîxubanyba'e - o que chupa, o que suga: Paîé-a'uba supé... amõ abá oîxuban-ukaryba'e... - O que manda um falso pajé sugar outra pessoa. (Ar., Cat., 66v); i xubanymbyra - o que é (ou deve ser) chupado, sugado (Fig., Arte, 107)
tygûera (s.) - assolamento, arrasamento (p.ex., de uma aldeia, de um campo de cultivo, etc.), TIGUERA; (adj.: tygûer) - acabado, arrasado, consumido, assolado, destruído: Oré tygûer. - Nós estamos arrasados; Oré tygûé-katu. - Nós estamos bem arrasados. (VLB, I, 45)
Ipupiara (BA). De 'y + pupé + yûara: o que mora dentro do rio, nome de uma entidade sobrenatural dos antigos tupis: "Estes homens marinhos se chamão na lingua Igpupiára; têm-lhe os naturaes tão grande medo que só de cuidarem nelle morrem muitos, e nenhum que o vê escapa (...)." (Pe. Fernão Cardim [1585], p. 50)
Juçara (nome de mulher). De îeîsara, palmeira alta e delgada da mata atlântica (VLB, II, 63).
Morangaba (RJ). De poranga (m) + suf. -aba: beleza, lugar de belezas. Não é nome antigo.
Tapiratiba (SP). De taperá + tyba: ajuntamento de andorinhas. Nome atribuído artificialmente: "Em 6 de dezembro de 1906, por Lei Estadual no 1028, o Distrito Policial de Soledade passou a denominar-se Tapiratiba". (fonte: IBGE)
Manuscripto guarani da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro sôbre a primitiva catechese dos indios das Missões, vertido para o guarani por outro padre jesuita, e agora publicado com a traducção portugueza, notas, e um esbôço grammatical do Abáñeẽ por Baptista Caetano de Almeida Nogueira. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, vol. VI, Rio de Janeiro, 1879.
(Libri Princ.) LIBRI PRINCIPIS. In Brasil Holandês, vol. I (org. de Dante Martins Teixeira). Editora Index, Rio de Janeiro, 1995)
îekosub1 (v. intr. compl. posp.) - regozijar-se, gozar, deleitar-se, ter prazer ou satisfação [compl. com esé (r, s) ou ri]: Sekó-katu rerekóbo, îandé 'anga îekosubi. - Sua vida bondosa tendo, nossa alma regozija-se. (Anch., Poemas, 180); Nd'e'i te'e... mba'e-katu... resé oîekosube'yma... - Por isso mesmo eles não se deleitam com as boas coisas. (Ar., Cat., 179); Ta pesó peîekosupa i potarypyra ri... - Que vades regozijar-vos com o que é desejado. (Anch., Teatro, 56) ● îekosupaba (ou îekosubaba) - tempo, lugar, modo, causa, etc. de regozijar-se; regozijo: T'oré angaturãne... oré îekosubagûama ri. - Que sejamos dignos do lugar futuro de nosso regozijo. (Ar., Cat., 14v)
îeraba (s.) - frouxidão; (adj.: îerab) - solto, frouxo, desatado: -Marã e'ipe Tupã i tĩ-îeraba repîaka? -Que disse Deus vendo seu frouxo pudor? (Ar., Cat., 41)
paraturá (s.) - PARATURÁ, erva ciperácea, comum em grande parte do litoral marítimo do Brasil (Piso, De Med. Bras., IV, 201; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 185)
pitaûá (ou pitaûã ou pitangûá) (s.) - PITAUÃ, PITANGUÁ, pássaro da família dos tiranídeos (Sousa, Trat. Descr., LXXXIV)
py'i1 (m) (s.) - rapidez, destreza, habilidade; (adj.: py'i) - rápido, destro, hábil, atilado: Xe pó-py'i emonã gûitekóbo. - Eu tenho mãos rápidas para assim agir. (VLB, I, 34); Xe nhe'ẽ-mby'i. - Eu tenho fala rápida. (VLB, I, 133)
Inhaí (rio de MG). Da língua geral meridional inhaíba* - grande árvore lecitidácea + 'y: rio das inhaíbas.
NOTA - Daí provém, pelo nheengatu, AUAETÊ, povo indígena da família linguística tupi-guarani, que habita a margem direita do médio rio Xingu (PA). Daí, também, ABAETETUBA (PA) (v. p. 386).
(e)miaûsuba2 [ou (e)mbiaûsuba)] (r, s) (s.) - o que alguém ama, o amado de, o amigo (no sentido ativo): Marã oîkóbo-tepe asé Anhanga rembiaûsubamo sekóû? - Mas procedendo de que modo se está como amigo do diabo? (Ar., Cat., 26v); T'arasó pá xe ratápe... sembiaûsuba resebé. - Hei de levar todos para meu fogo, com seus amigos. (Anch., Poesias, 269)
erokûer (v.tr.) - deter consigo: Ererokûé-rokûerype abá amõ...? - Ficaste detendo contigo alguma pessoa? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88)
etapokanga (t) (s.) - pouquidão (em relação a outra coisa); [adj.: etapokang (r, s)] - relativamente poucos, poucos em relação a algo que se toma por referência (e não absolutamente), raro: ...Gûyrá setapokang... - Os pássaros eram relativamente poucos. (Ar., Cat., 41v); Oré retapokang. - Nós somos poucos (em relação ao número de pessoas que seriam necessárias). (VLB, II, 83) ● setapokãba'e - o que é raro, poucas vezes visto ou que se não acha a cada passo (VLB, II, 96)
moîeapyká (v.tr.) - 1) fazer reproduzir-se, criar (animais para abate) (VLB, I, 85); 2) multiplicar: ...Îandé moîeapykáû ikó 'ara pupé ranhẽ. - Multiplicou-nos neste mundo, primeiro. (Ar., Cat., 166v)
nhamby (ou îamby) (s.) - NHAMBI, planta da família das umbelíferas, Eryngium foetidum L. É também chamada coentro-do-pará, coentrão, coentro-caboclo ou coentro-do-maranhão. "...Parece na folha com coentro, e queima como mastruços, a qual os comem índios e os mestiços crua, e temperam as panelas dos seus manjares com ela, de quem é mui estimada." (Sousa, Trat. Descr., 200). Era "remédio para os doentes de fígado e pedra". (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 47)
Bicuíba (MG). Na língua geral meridional, nome de árvore da família das miristicáceas.
Coité (PB). De kuîeté - cuité, cuitezeira, cuieira, árvore bignoniácea (Crescentia cujete L.), que dá cuias, cabaças ou cuités.
Jurucê (SP). Do nheengatu iuru-ceên: bocas doces, i.e., afáveis (nome atribuído artificialmente em 1944). (fonte: IBGE)
Pacajá (rio do PA). De paka + îá: repleto de pacas. Nome de grupo indígena extinto que habitava as margens daquele rio.
abé3 (adv.) - também; mais (é usado, às vezes, com o valor de uma conjunção aditiva e): Onheŷnhang umã sesé kunumĩetá kagûara,... gûaîbĩ, tuîba'e abé... - Já se juntaram por causa disso muitos moços bebedores de cauim, velhas e velhos também. (Anch., Teatro, 24); Xe abé taîasugûaîa... - Eu também sou um porco... (Anch., Teatro, 44); ...Kó aîkó sygepûera t'arasó i nhy'ãbebuîa abé xe raîxó-gûaîbĩ supé. - Aqui estou para levar seu ventre e também seus pulmões para minha sogra velha. (Anch., Teatro, 66); Osó S. Pedro, São João abé. - Foram S. Pedro e São João. (Ar., Cat., 55)
'abebó (s.) - grenha, cabelo em desalinho; cabelos embaraçados, despenteados (Castilho, Nomes, 27); Xe 'abebogûasu. - Eu tenho uma grande grenha. (VLB, I, 150)
bebuîtaba (s.) - 1) BUBUITUBA, bóia (tanto de anzol quanto de âncora) (VLB, I, 56); 2) cortiça de rede, pedaços de cortiça que sustentam à tona d'água uma das bordas de certas redes de pesca (VLB, I, 83)
îaramẽ (conj.) - como se: ...Mutu'u resé Tupã îekosu-berame'ĩ Tupã kane'õ mba'e tetiruã monhanga îaramẽ. - Deus parece obter descanso, como se fazer quaisquer coisas fosse cansaço de Deus. (Ar., Cat., 11v); A'epe xe só îaramẽ... - Como se eu fosse lá... (VLB, I, 78)
îeupir (v. intr.) - elevar-se, subir, ascender, trepar, montar (p.ex., em cavalo): ...São Matias, ybakype Tupã Ta'yra îeupir'iré, S. Pedro o irũ-etá resebé... tari apóstoloramo. - São Pedro, com seus companheiros, tomou como apóstolo a São Matias, após subir Deus-Filho ao céu. (Ar., Cat., 121) ● îeupiraba - tempo, lugar, modo, etc. de subir; subida: Arobîar ybakype i îeupiragûera... - Creio na subida dele ao céu. (Ar., Cat., 16)
NOTA - Como se vê, daí provém, em português, a palavra MINGAU, que, em tupi antigo, era oxítona.
kyrirĩ (s.) - silêncio (VLB, II, 117); QUIRIRI; (adj.) - silencioso, quieto, calado, pensativo, QUIRIRI: Enhemim, nde kyrirĩ... - Esconde-te, fica quieto. (Anch., Teatro, 32)
-pe1 (posp. átona. Forma nasalizada: -me. Há também o alomorfe -ype.) - 1) em (locativo): Sygépe o eterama Tupã tari .... - Em seu ventre Deus tomou seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); ...Xe pópe nhote arasó. - Nas minhas mãos, somente, levei-as. (Anch., Teatro, 46); Tynysẽ Tupã raûsuba nde nhy'ãme erimba'e. - Abundava o amor de Deus em teu coração outrora. (Anch., Teatro, 120); ...setãme... - em sua terra (Anch., Teatro, 122); 2) a, para, em (de direção, com movimento): Asó okype. - Vou para a casa. (Anch., Arte, 40); Eîké kori xe nhy'ãme... - Entra hoje em meu coração. (Anch., Poemas, 92); Asó-potá nde retãme... - Quero ir para tua terra. (Anch., Poemas, 92); ...Mundépe i porerasóû... - Para as armadilhas eles levam gente... (Anch., Teatro, 36); Gûaîxará t'osó tatápe!... - Que vá Guaixará para o fogo! (Anch., Teatro, 56); 3) com deverbais em -sab(a) para construir orações subordinadas finais, causais ou temporais (a fim de, para; por causa de; por ocasião de, quando): ...N'aker-angáî sekasápe... - Não dormi, absolutamente, para procurá-los. (Anch., Teatro, 48); Memẽ anhanga popûari pe ri sembiá-potasápe. - Sempre atam as mãos dos diabos quando querem em vós suas presas. (Anch., Teatro, 54); Pe 'anga raûsukatûápe, o boîáramo pe rari. - Por amar muito vossas almas, como seus discípulos vos tomaram. (Anch., Teatro, 54); Kó oroîkó oronhemborypa nde 'ara momorangápe. - Aqui estamos alegrando-nos para festejar teu dia. (Anch., Teatro, 118); ...xe îukasápe - por ocasião de minha morte, quando me matarem (Anch., Arte, 33)
pokarugûara (s.) - 1) sagacidade (VLB, II, 111); 2) habilidade; (adj.: pokarugûar) - 1) sagaz, sutil: Xe nhe'ẽpokarugûar. - Eu tenho palavras sagazes. (VLB, II, 111); 2) hábil, destro, hábil de mãos: Xe pokarugûar. - Eu sou hábil. (VLB, I, 18)
sapukaîa (ou 'ybasapukaîa) (s.) - SAPUCAIA, SAPUCAIEIRA, nome comum de plantas lecitidáceas do gênero Lecythis. Uma das sapucaias, de fruto grande e achatado, e talvez a mais comum, é a Lecythis pisonis Cambess., que se distingue da Lecythis lanceolata Poir., a sapucaia branca, que é uma espécie que tem o fruto oblongo. (Sousa, Trat. Descr., 192) "A madeira da árvore é muito rija, não apodrece e é de estima para os eixos dos engenhos." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 39)
tining1 (v. intr.) - ser seco; ser ou estar mirrado (VLB, II, 38); secar (VLB, II, 114): Atining-atã. - Sequei muito, sequei duramente. (VLB, II, 114)
umanĩ2 (part. Leva o verbo para o gerúndio. É usada com verbos na forma negativa.) - acabar de começar: Nd'a'éî umanĩ mba'e gûabo. (ou A'é umanĩ mba'e'ue'yma.) - Não acabei de começar a comer. (Anch., Arte, 56v)
Caá Iari (rio do RS). De ka'a + îara: senhor da mata, louva-a-Deus, inseto mantídeo + 'y: rio dos louva-a-deuses.
Coivara (MA). De kó + 'yb/a + ar + -a: cata-paus de roça, técnica indígena de plantio; ramagens empilhadas para queimada após limpeza da terra.
Iandara (SP). Do nheengatu iandára: meio dia (Stradelli, p. 453). Nome atribuído artificialmente, no século XX.
Itamarandiba (MG). Nome dado em 1923 (fonte: IBGE). Apesar de o ato de nomeação ser artificial, neste caso, o topônimo é antigo: "(...) ao mesmo Dom Rodrigo fêz entrega da feitoria do Arraial de São João e das Minas até Itamirindiba." (Pedro Taques, Notícias das Minas, p. 82); "(...) deixando descuberto todo aquelle espaço partirão para Itamarandiba que hé Rio muito fertil de peixe e propriamente significa Pedra pequena e buliçosa (...)." (Luiz dos Santos Vilhena [1801], p. 677). De itá + mirĩ + tyba: ajuntamento de pedras pequenas.
(Staden) STADEN, Hans, Viagem ao Brasil. (Tradução do texto de Marburgo Wahrhaftige Historia, de 1557 por Alberto Löfgren, notas de Teodoro Sampaio). Publicações da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro, Oficina Industrial Gráfica, 1930.
senemby (s.) - SENEMBI, SENEMBU, SINIMBU, SINUMBU, designação comum a répteis lacertílios da família dos iguanídeos, que vivem em árvores e mudam de cor; uma variedade de lagarto (D'Abbeville, Histoire, 248v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 236)
NOTA - Daí, no P.B., TAPUIO, que, além de ser sinônimo de TAPUIA, no primeiro sentido apresentado acima, também significa: 1) índio em geral; 2) mestiço de índio; 3) (BA) qualquer mestiço de pele morena e cabelos escuros e lisos; caboclo. Daí, também, TAPUITAPERA (nome de localidade do MA), TAPUIÚ (nome de localidade do CE), etc. (v. p. 386).
tininga1 (s.) - coisa seca (VLB, II, 114); coisa mirrada ou muito seca (VLB, II, 38); (adj.: tining) - seco: Nd'e'i te'e... opá abá tiningamo... - Por isso mesmo todos os homens estarão secos. (Ar., Cat., 160); Xe ase'o-tining. - Eu tenho garganta seca. (VLB, II, 114); Topé-tininga - vagem seca (pronta para ser colhida) (VLB, II, 140) ● tining-atã - coisa mirrada ou muito seca (VLB, II, 38)
Cati (ribeirão de GO). Da língua geral meridional, designando uma erva aromática ciperácea.
Itaparica (ilha do litoral baiano). De itá + pirik + -a, registrado na forma iterativa piririk (VLB, I, 133): pedra faiscante, isto é, pederneira. Mas a forma simples pirik também era usada com esse sentido: Frei Vicente do Salvador (in História do Brasil, livro IV, cap. xxxviii), menciona o nome "João Vaz Tataperica". Tataperica significa fogo faiscante.
cheirar - (intr.) - (cheirar bem): yapûan (r, s) (xe); (cheirar mal): yapûanusu (r, s) (xe); (tr. = sentir o cheiro de): etun (s)
aîereba1 (s.) - JEREBA, AIEREBA, espécie de arraia pardo-escura, da família dos dasiatídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 175; VLB, I, 41)
asykab (v.tr.) - cortar em pedaços, picar: Pepo'i i xuí, aîpó n'opoasyk-asykabi. - Parti dele, para que não vos corte em pedaços! (Anch., Teatro, 178)
îaeté (s.) - o máximo, o fino “em qualquer arte ou habilidade, em bom ou mau sentido” (VLB, II, 33; 76); obra-prima, coisa muito bem feita: Ixé-tene îaeté. - Obra-prima sou eu. (VLB, II, 86); (adj.) - máximo: Kó-tene i îaeté. - Este é o máximo. (VLB, II, 86); (adv. - tem valor de superlativo junto a nomes) - ao máximo: Kó-tene i angaîpab-y îaeté. - Este é ruim ao máximo; este é péssimo. (VLB, II, 86)
NOTA - Daí, no P.B. (Amaz.), pelo nheengatu, INAMBUQUIÇAUA, árvore da família das gutíferas, da região do rio Negro. Daí, também, os nomes geográficos GUARAQUEÇABA, URUBUQUEÇABA, etc. (v. p. 386).
kûatiara1 (s.) - 1) livro (D'Evreux, Viagem, 250); 2) escultura (VLB, II, 19); 3) pintura: i kûatiara - pintura dele (VLB, II, 78); 4) letra (D'Abbeville, Histoire, 184); (adj.: kûatiar) - escrito; pintado; desenhado; esculpido: Kó bé ingapé-kûatiara. - Eis aqui também a ingapema pintada. (Anch., Teatro, 66)
mana'yba (s.) - MANAÍBA, tolete do caule do aipim ou da mandioca, cortado para plantio; muda de aipim ou mandioca (Vasconcelos, Crônica [Not.] II, § 72, 148)
moting2 (v.tr.) - enjoar-se de, ficar enjoado de (inclusive falando-se de comida): Eîmoting nde rekopûera! - Enjoa-te de teu velho modo de ser! (Anch., Doutr. Cristã, II, 111)
nhemoaîu3 (s.) - 1) estrondo, ruído (VLB, I, 43), vozerio (VLB, I, 131); falatório, reboliço, matinada (VLB, II, 33); 2) revolta (VLB, I, 150)
uba3 (t, t) (s.) - 1) pai: Enhe'eng nde ruba supé. - Fala a teu pai. (Fig., Arte, 6); Asopatĩ xe ruba. - Armo a rede a meu pai. (Fig., Arte, 88); Korite'ĩ Pedro xe ruba mongetáû. - Agora Pedro com meu pai falou. (Fig., Arte, 96); 2) tio paterno (Ar., Cat., 116v); 3) primo paterno (Ar., Cat., 116v); 4) padrinho de pia (VLB, II, 62); 5) os pais, os progenitores (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276); [adj.: ub (r, t)] (xe) - ter pai: Xe rub. - Eu tenho pai; Nde rub. - Tu tens pai; Tub. - Ele tem pai. (Fig., Arte, 39) ● tugûera - o que foi pai (VLB, II, 62); o pai extinto, antigo (Anch., Arte, 33v); xe ruba xe monhangara - meu pai, o que me gerou (para não haver confusão com outros parentes que também eram chamados tuba) (Anch., Cartas, 459); xe membyra ruba - o pai de meus filhos (isto é, meu marido legítimo) (Anch., Cartas, 459)
urumbeba (s.) - URUMBEBA, URUMBEVA, nome comum a plantas cactáceas dos gêneros Opuntia Tournefort e Nopalea Salm. Dyck., conhecidas vulgarmente também como palmatória, IURUMBEBA, URURUMBEBA e IURUROBEBA. No Brasil as espécies mais comuns são a O. brasiliensis (Willd.) Haw. e a O. monocantha (Willd.) Haw. (Piso, De Med. Bras., IV, 195)
Gurinhatã (MG). De gûyranhe'engetá: pássaros dos muitos cantos, grunhatás, pássaros tiranídeos.
Murutinga (AM). Da língua geral setentrional muru*, erva da família das canáceas + tinga: murus brancos.
'apirypé (s.) - certa caspa negra que toma grande parte da cabeça das crianças (Castilho, Nomes, 29)
endyîaîab (r, s) (xe) (v. da 2ª classe) - resplandecer, brilhar extensamente (como uma multidão de lumes, de candeias, de lâmpadas, etc.) (VLB, II, 25)
îerobîara2 (s.) - glória humana (VLB, I, 148); fantasia (de pessoa presunçosa) (VLB, I, 134); altivez, arrogância (VLB, I, 33): ...Kó aîkó nde akanga kábo nde îerobîara suí. - Eis que aqui estou para quebrar tua cabeça por causa de tua arrogância. (Anch., Poesias, 57)
2 (adv.) - aqui; o mesmo que iké (v.): Rerityba, xe retama, i xuí xe ruri ké. - Reritiba, minha terra, dela venho aqui. (Anch., Poemas, 150); Ké abá rekóû anhẽ... - Aqui os homens estão, na verdade. (Anch., Teatro, 26); Ekûá ké suí ra'a! - Vai-te daqui já! (Anch., Teatro, 32); Xe anama poepyka ké ixé aîkó. - Para vingar minha família aqui eu estou. (Staden, Viagem, 157) ● keygûara - habitante daqui, o daqui: tupinakyîa keygûara - os tupiniquins, habitantes daqui (Anch., Teatro, 140)
kûapara'yba (s.) - GUAPARAÍVA, árvore da família das rizoforáceas (Rhizophora mangle L.), típica dos manguezais (Sousa, Trat. Descr., 212-213)
makukagûá (ou makukaûá) (s.) - MACUCAGUÁ, MACAGUÁ, MACUCAU, MACUCAUÁ, ave da família dos tinamídeos, muito comum no passado em várias partes do Brasil. É parecida à perdiz. (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 37): -Esenõî gûyrá ixébe. -Îaku, mutũ, makukagûá... -Nomeia as aves para mim. -Jacu, mutum, macucaguá. (Léry, Histoire, 348)
maranungara (s.) - parente, parentela: Ereîeîopyk-ukarype nde maranungaramo? - Tu te permitiste cobri-la, sendo tua parenta? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98; Ar., Cat., 114v)
mba'emeémo (part.) [o mesmo que meémo (v.), mas abrindo período]: Mba'emeémo asó... - Se eu tivesse ido... (Anch., Arte, 25v)
moerapûanaíb (v.tr.) - difamar: Nde remo'emype nde rapixara resé... i moerapûanaípa? - Tu mentiste acerca de teu próximo, difamando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100)
NOTA - No P.B., POCEMA pode ser, também, algazarra, brado, vozearia, grito: "Soam festivos gritos, e as POCEMAS / Dos guerreiros, que sôfregos escutam / Do piaga os ditos, e o feliz augúrio / Da próxima vitória." (Gonçalves Dias, Os Timbiras. In Poesia e Prosa Completas. Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1998.)
tukana (s.) - TUCANO, nome comum a diversas aves trepadoras da família dos ranfastídeos, de grande porte. É ave com bico enorme, desproporcional ao corpo, de belas cores. Vive em pequenos bandos. (D'Abbeville, Histoire, 237v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 217)
Mooca (bairro de SP). De mũ + oka (r, s): casa de parentes. Ou, talvez, do pref. causativo mo- + oka: fabricação de casas.
apupé (ou apopé) (t) (s.) - partes erógenas entre as pernas (do h. e da m.); pudendas (Castilho, Nomes, 38): Erepokokype kunhã rapupé resé sesé enhemomotá? - Tocaste nas partes erógenas de uma mulher, atraindo-te por ela? (Ar., Cat., 105); Erepo'ẽpe nde rapixara rapupé resé...? - Meteste a mão nas partes erógenas de teu próximo? (Ar., Cat., 105v); Erepokokype amõ rapopé resé i moîarûabo?- Tocaste nas pudendas de alguma, brincando com ela? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89)
NOTA - Daí, no P.B. (AM, desus.), MUIRAÍRA (ybyrá + a'yra, "filhos das árvores") - replantio.
ikatupe2 (adv.) - nuamente, sem roupa, a nu, despido: ...Ikatupe nhẽ temõ mã...! - Oxalá ela estivesse sem roupa! (Ar., Cat., 104); ...ikatupe nde moĩndara... - o que te põe a nu (Ar., Cat., 187); ...Ikatupe nhẽpe sekóû te'yîpe? - Estava ele despido, sem mais, em público? (Ar., Cat., 62); Ikatupe aîkó. - Ando despido, vivo despido. (VLB, II, 51) ● ikatupendûara [ou ikatupesûara ou ikatupe (nhẽ) tekoara] - o que está ou anda despido (VLB, II, 51)
kakuaba (s.) - idade adulta: O pitangĩnamo bépe a'e Îandé Îara Îesu Cristo mba'e tetiruã kuaparamo sekóû o kakuaba îabé? - Ainda sendo criancinha aquele Nosso Senhor Jesus Cristo era conhecedor de quaisquer coisas, como em sua idade adulta? (Ar., Cat., 42v)
mirukaîa (s.) - MIRAGAIA, MURUCAIA, MIRAGUAIA, peixe da família dos cianídeos do Atlântico ocidental. Emite sons que lembram o bater de um tambor. (Sousa, Trat. Descr., 288)
nhemoryba (s.) - diversão: ...Mo'ema nde resemõ: moraseîa, nhemoryba, gûe'ena, ka'uaíba... - Mentiras sobejavam-te: danças, diversões, vômitos, bebedeiras. (Anch., Teatro, 170)
pysó (ou pysok) (v.tr.) - 1) estender (o que estava dobrado, enrolado ou encolhido); estirar (VLB, I, 28; VLB, I, 29): Oîpysó ybyraîoasaba 'arybo... - Estiraram-no sobre a cruz... (Ar., Cat., 62); 2) alastrar pelo chão, acamar (p.ex., a cana, a erva que estava em pé) (VLB, I, 19; 29)
ûá (t) (s.) - 1) canto (p.ex., de parede, sempre do lado de dentro da casa): sûá'ĩ - cantinho dela (VLB, I, 66); 2) fundo (de qualquer vaso ou recipiente, do lado de dentro) (VLB, I, 145)
uke'i (s.) - 1) cunhada (de m.), mulher de seu irmão; 2) mulher de primo (de m.) (filho de tio materno); 3) concunhada (Ar., Cat., 117)
Iracema (AM). Do nheengatu irá + sema: saída de abelhas, enxame (Stradelli, p. 475). A etimologia lábios de mel, dada por José de Alencar, não procede.
Jaguaribara (CE). De îagûara + 'y + yûara: moradores do rio das onças, povo indígena extinto que habitava as margens do rio Jaguaribe, próximo à costa do CE.
Mucuruna (riacho do MA). De mukury - mucuri + un (r, s) + -a: mucuris escuros, plantas gutiferáceas.
Tajatuba (MA). De taîá + tyba: ajuntamento de tajás, plantas aráceas de raízes comestíveis.
aîry (s.) - AIRI, IRI, COCO-DE-IRI, espécie de palmeira silvestre [Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret], também chamada brejaúva ou brejaúba (VLB, II, 63)
NOTA - A palavra CAJU ainda é usada no Norte e no Nordeste do Brasil com o sentido de ano: -Quantos CAJUS você tem? Ele tem lá seus cajus. De CAJU em CAJU (isto é, de ano em ano). Isso porque o cajueiro frutifica somente uma vez por ano e era uma prática dos índios tupis da costa guardar a castanha dessa fruta para saber se já eram velhos.
etobapé (t) (s.) - bochechas (naturais, não as que se incham com ar ou comida), faces (Castilho, Nomes, 39): A'e ipó asetobapé-pyténe... - A ele eu beijarei suas faces... (Ar., Cat., 54); [adj.: etobapé (r, s)]; (xe) ter bochechas: Xe retobapegûasu. - Eu sou muito bochechudo, eu tenho bochechas grandes. (VLB, I, 56)
-'ĩ1 (ou -ĩ) (suf. que expressa o aspecto lusivo, isto é, indica que uma ação é praticada sem propósito especial, sem finalidade, por fazer, sem problemas, sem mais, como no castelhano "no más". A oclusiva glotal ' cai após tema em consoante, ficando o sufixo com a forma -ĩ.): Aîme'engĩ. - Dei-o por dar (isto é, de graça). (VLB, I, 90); Aîmonhangĩ nhẽ. - Fi-lo por fazer (sem algum fim, sem mais, porque quis). (Anch., Arte, 54); Osó nhẽmope asé ybakype o nhemongaraibireme? - Iria a gente para o céu ao batizar-se, sem mais? (Anch., Doutr. Cristã, I, 201); -Mba'epe sepyrama? -Arurĩ. -Qual é o preço delas? -Trouxe-as por trazer. (Léry, Histoire, 344)
îoîrarõ (s.) - briga com punhadas ou agarrando-se os cabelos (não com flechadas ou cutiladas, que é nhoepenhana - v.) (VLB, II, 71)
manõ2 (v. intr.) - 1) morrer: Abá omanõ. - Um homem morreu. (Fig., Arte, 69); Tupã omanõ, memetipó asé omanõmo. - Deus morreu, quanto mais nós morreremos. (Fig., Arte, 163); Te'õ suí amanõ. - Morro de morte natural; Amanõ é (ou Amanõ teé). - Morro eu próprio (sem que me matem). (VLB, II, 42); 2) esmorecer (VLB, I, 125); 3) doer: Morubixaba, nde akanga omanõ? - Senhor, tua cabeça dói? (D'Abbeville, Histoire, 327); 4) desmaiar de todo (VLB, I, 99); 5) perder a sensibilidade: Omanõ xe îybá. - Meu braço perdeu a sensibilidade. (VLB, II, 130) ● manõ-memûã - morrer súbita ou desastradamente: Amanõ-memûã. - Morro subitamente. (VLB, II, 43); omanõba'e - o que morre: Omanõba'epûera suí sekobeîebyri. - Voltou a viver dos que morreram. (Anch., Doutr. Cristã, I, 141)
morotinga (s.) - alvura (VLB, I, 33); brancura; coisa branca: -Mba'e-tepe asé osepîak? -Akó morotinga... -Mas que vê a gente? -Aquela coisa branca. (Anch., Doutr. Cristã, I, 216); (adj.: moroting) - branco: ...I morongatu nde 'anga... - Tua alma está muito branca... (Anch., Doutr. Cristã, I, 204).
tym (-îo- ou -nho-) (v.tr.) - 1) enterrar, sepultar: ...Tekopoxypûera tyma... - Enterrando os antigos maus hábitos. (Anch., Teatro, 58); Marãpe serekóû i tym-y îanondé? - Que fizeram com ele antes de o enterrarem? (Ar., Cat., 64v); 2) plantar, semear (VLB, II, 115): Ereîkó kopira resé kó tyma. - Estiveste no roçado para plantar roça. (Anch., Teatro, 166) ● tymara (ou tymbara) - o que sepulta, o sepultador; o que enterra, o que planta: Abá abépe i pyri i tymbaramo? - Quem mais junto deles foram seus sepultadores? (Ar., Cat., 64v); tymaba (ou tymbaba) - lugar, tempo, modo, etc. de enterrar, de plantar: ...Itá karamemûã abá tymagûere'yma pupé i mondepa. - Colocando-o dentro de um túmulo de pedra em que ninguém estava enterrado. (Ar., Cat., 64v); i tymbyra (ou i tymymbyra) - o enterrado, o que é (ou deve ser) enterrado, sepultado; o plantado: Ybyraîoasaba resé i moîarypyrûeramo sekóû, i îukapyrûeramo, i tymbyrûeramo. - Foi pregado na cruz, foi morto, foi sepultado. (Ar., Cat., 15); emityma (t) - o que alguém enterra, o que alguém planta; a plantação, a sementeira (VLB, II, 115): O emitymbûerypy pupé Tupãpotá-me'engano. - Dar também o dízimo naquilo que plantou primeiro. (Ar., Cat., 17) [Pode-se omitir o pronome incorporado -îo-: Otym. - Enterra-o. (Fig., Arte, 14)]
Às vezes houve dificuldades em se saber se uma palavra provinha do tupi antigo ou se era herança das línguas gerais coloniais ou do nheengatu. Quando o termo passou inalterado do tupi quinhentista e seiscentista para aquelas outras línguas, somente um estudo histórico poderia, talvez, dirimir tais dúvidas. Com relação à língua geral meridional, escassíssimos são os textos escritos nela. O que podemos dela saber provém principalmente dos nomes geográficos e dos brasileirismos meridionais. Assim, muitas tentativas de resgate de seus vocábulos não poderiam passar do plano da hipótese.
Caxinduba (ig. do PA). Da língua geral setentrional caxinga + tyba: ajuntamento de caatingas.
Gargaú (RJ). De gûarugûaru, nome comum a certos peixes das famílias dos ciprinodontídeos e dos rivulídeos.
Guaraqueçaba (PR). De guará + ker + -sab + -a: lugar de dormir dos guarás, aves tresquiornitídeas.
Guaratiba (RJ). De gûará + tyba: ajuntamento de guarás, ave da família dos tresquiornitídeos.
Jarina (rio do MT). Da língua geral meridional, nome de uma palmeira baixa e de estipe grosso.
îa-6 (pref. num.-pess.) - 1) (pref. da 1ª p. do pl. inclusiva. Pode ser usado com o indicativo, o imperativo, o permissivo e o gerúndio): Îaîuká. - Matamos. (Anch., Arte, 17v); Aîmbiré, îarasó muru taûîé... - Aimbirê, levemos os malditos logo. (Anch., Teatro, 40); Ene'ĩ, t'îasó taûîé... - Eia, vamos logo. (Anch., Poemas, 182); ...Îasó tubixaba akanga kábo. - Vamos para quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); Îamanõmo - Morrendo nós. (Anch., Arte, 29); Îaru! - Tragamo-lo! (Anch., Arte, 23); 2) (pref. de 3ª p. quando o foco do discurso é o objeto e não o sujeito): Mboîa Pedro îaîxu'u. - A cobra mordeu a Pedro. (Anch., Arte, 36v); Xe ruba tobaîara îa'u. - Meu pai os inimigos comeram. (Anch., Arte, 36v); Ygasápe kaûĩ-tuîa, a'e ré, îamomotá... - O cauim transbordante nas igaçabas, depois disso, atrai-os. (Anch., Teatro, 28); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30); Îapopûar-atã... - Amarram suas mãos fortemente. (Anch., Poemas, 120); Sugûy mombukapa, îaînupã-nupã. - Derramando o seu sangue, ficaram a açoitá-lo. (Anch., Poemas, 120); 3) (pref. de 3ª p. usado para indeterminar o sujeito): Îaîuká. - Matam (ou mataram). (Anch., Arte, 36v)
kurikaka (s.) - CURACACA, CURICACA, CURUCACA, ave ciconiforme da família dos tresquiornitídeos, da América do Sul, de hábitos gregários e vôo possante, encontrada nos brejos e pantanais (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 191)
mbyryki (s.) - BURIQUI, BURIQUIM, macaco da família dos cebídeos, o maior macaco do continente americano, de pêlo amarelo. Vive em bandos. É também chamado MARIQUINHA, MARIQUINHAS, MURIQUINA, MARIQUINA, MURIQUINHA ● mbyryki-oka - reduto de buriquis (Staden, Viagem, 55)
okara (r, s) (s.) - 1) área aberta entre as ocas nas aldeias dos índios tupis; OCARA, pátio, terreiro: ...Aûnhenhẽ eresó nde rokápe enhe'engá... - Imediatamente vais para teu terreiro para cantar. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111); Osem okarype oîase'oasykatûabo. - Saiu para o pátio chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v); okarusu - ocara grande (Staden, Viagem, 109); 2) rua (VLB, II, 109) ● okara koty - de fora, do lado da rua (VLB, I, 92); okarype - fora, na rua (VLB, I, 141)
Jurupencém (GO). Jurupensém* é nome de peixe silurídeo, jurupoca. De îuru + pesẽ: boca partida. Talvez um nome da língua geral meridional.
Membeca (rio do MT). Da língua geral setentrional, uma variedade de bacuri, árvore gutiferácea: "[...] as quatro castas de bacurí, reté, parí, membeca, e curuba [...]" (in Alexandre Rodrigues Ferreira [n.d.]: Baixo Rio Negro, p. 702.)
Paquetá (ilha do RJ). De paka - paca + etá (r, s) - muitos (as): muitas pacas. Nome muito antigo: "Defronte do rio Macucú está uma ilha, que se chama Caiaiba, e d'esta ilha a uma está outra, que se chama Pacatá." (Sousa, Trat. Descr., p. 92).
Xororó (nome de pessoa). De xerorõ - nhambuxororó, inhambuxororó, ave da família dos tinamídeos.
MATOSO, Caetano da Costa / Luís José Ferreira de Gouveia [1749], Informação das Antiguidades da Freguesia de Guarapiranga. Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro; Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1999. 2v.
NOTA - Em Iracema, de José de Alencar, lemos "O coração de Iracema está como o ABATI n'água do rio", significando, aí, arroz.
aîká (s.) - boto, nome comum aos cetáceos odontocetos, delfinídeos (de mar) e platanistídeos (de rios) (VLB, I, 58)
'ara6 (s.) - entendimento, juízo: ...Asé îemongaraíme o 'ara moíni?... - Quando a gente se batiza, põe seu próprio entendimento?... (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); Eresabeyporype kaûĩ suí 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v); T'asabeypóne 'ara mokanhema... - Hei de me embebedar para perder o juízo. (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
NOTA - Daí, TUPINIQUIM (de tupinakyîa: Tupi + ekyî + -a, "os que invocam Tupi", uma entidade cosmológica - v. Tupi2).
NOTA - Daí, no P.B., a palavra CAIPIRA, o roceiro, o habitante do campo ou da roça, particularmente o de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, de pouca instrução e de convívio e modos rústicos, vivendo numa economia de subsistência.
NOTA - Daí, no P.B. (AM), pelo nheengatu, MEUÃ, careta: fazer MEUÃ, "fazer careta" (para intimidar) (in Dicion. Caldas Aulete).
NOTA - Daí se originam muitos nomes de lugares e pessoas no Brasil: MACAÉ (RJ), Quintino BOCAIÚVA, expoente da República Velha no Brasil, etc.
nhatimanĩ (v. intr.) - girar em círculos, rodear (p.ex., o navio para o lugar donde saiu): Anhatimã-timanĩ. - Fico girando em círculos, fico rodeando (como o que se perdeu ou que busca alguma coisa). (VLB, I, 43)
Ocara (CE). De okara (r, s), área aberta entre as ocas nas aldeias dos índios tupis; pátio, terreiro.
Paraná (estado do Brasil). Paraná é palavra das línguas gerais coloniais. Em tupi antigo (séculos XVI e XVII), paranã significava mar (Fig., Arte, 130-131) ou água do mar (VLB, I, 24). Nos textos setecentistas o termo paraná ou paranã já aparece, inclusive na toponímia, com o sentido de rio (rio Paranapanema, rio Paraná, Ji-Paraná, etc.). "(...) A palavra que significa rio é Paraná" (Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio [1774], p. 113).
îé3 (part.) - sim, está bem, de acordo, é isso aí: Îé, aîpó xe moytarõ. - Sim, esses me satisfazem. (Anch., Teatro, 60); -Nde ranhẽ eporandub. -Îé. Marãpe nde retama rera? -Tu primeiro pergunta. -De acordo. Qual é o nome de tua terra? (Léry, Histoire, 361); Kó xe 'akusu, xe ranha... Îé, kó bé xe pûapẽ... - Eis aqui meus chifrões, meus dentes... Sim, eis aqui também minhas garras... (Anch., Teatro, 42, 2006)
marangatu1 (s.) - 1) bondade, afabilidade, virtude: ...Oîkuab i marangatueté. - Conheceu sua autêntica bondade. (Ar., Cat., 8v); 2) boa disposição; 3) preço; 4) favor; (adj.) - 1) bom, bondoso, afável, virtuoso naturalmente: I marangatu supi é i mombe'upyra rekóreme é. - Ele é bom se o que é contado é mesmo verdade. (Ar., Cat., 67v); T'i marangatu apó abá pé. - Sejamos bons para aqueles homens. (Léry, Histoire, 355); 2) bem disposto; com saúde: Na xe marangatuî (ou N'aîkó-marangatuî). - Eu não estou bem disposto. (VLB, I, 19; II, 28); 3) precioso, alto (fal. de preço): Na xe repy-marangatuî. - Eu não tenho preço alto. (VLB, I, 51); 4) favorável: Xe nhe'ẽ-marangatu (abá) supé. - Eu tenho palavras favoráveis ao homem. (VLB, I, 22, 135, adapt.); (adv.) bem, muito bem (Fig., Arte, 136), muito: Akûeîme, rakó, pirá asekyî-marangatu. - Antigamente pescava bem os peixes. (Anch., Poemas, 152); Xe moaîu-marangatu... aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me muito aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); Nd'e'i te'e moxy onhana... oîoa'o-marangatûabo... - Por isso mesmo as malditas correm, insultando-se muito umas às outras. (Anch., Teatro, 128) ● marangatu-eté - largamente (VLB, II, 18)
nhemondá (s.) - furto, roubo: ...Sekomemûãagûera serekóbone sobaké bé... i nhemondá bé... - Seus antigos pecados fazendo estar diante deles, seus furtos também. (Ar., Cat., 161v)
NOTA - Daí provém, no P.B., o nome da árvore GUARAPICICA ("pega-guará"), além da palavra TIPISCA (ty + pysyka, "segura água") (AM), lagoa que se forma na época da enchente, no rio Amazonas e em seus afluentes ocidentais, dum lado pela sinuosidade do leito fluvial e de outro pelo impulso da água, que tende a correr em linha reta, convertendo em lençóis de água as curvas forçadas que as margens apresentam. (in Novo Dicionário Aurélio).
timbor (v. intr.) - fumegar, soltar fumaça (p.ex., o fogo), soltar vapor, bafejar (com a boca): Atimbor. - Bafejo. (VLB, I, 144)
'yba5 (s.) - cabo (como de foice ou qualquer ferramenta ou instrumento) (VLB, I, 61): 'Yba ting. - Os cabos são brancos. (Léry, Histoire, 346) ● 'y-pûã - cabo de espada (lit., cabo de dedos) (VLB, I, 62)
NOTA - Daí provém, no P.B., a palavra ABARÉ-GUAÇU, designando, na quimbanda, um grande feiticeiro.
'atybakã (s.) - os ângulos que formam os cabelos na parte superior do rosto; entradas (Castilho, Nomes, 30): Aî'atybakã-moín. - Pus entradas nele. (VLB, I, 119)
embe'ytá (t) (s.) - talabardão, alcatrate, série de pranchões que servem de remate dos revestimentos externo e interno do casco das embarcações (VLB, I, 30)
gûatar (ou gûatá) (v. intr.) - faltar (como no comprimento ou no número); não alcançar, não atingir, não chegar: Ogûatá îepé serã i îybá mokõîa itapygûá soarama resé? - Por acaso não chegava seu segundo braço ao lugar de irem os pregos? (Ar., Cat., 89, 1686)
îeîsara (ou îusara ou îusûara) (s.) - JUÇARA, IUÇARA, palmeira alta e delgada da mata atlântica (Euterpe edulis Mart.): îeîsaru'ã - palmito de juçara (VLB, II, 63) (o mesmo que îusara - v.)
nhatimana (s.) - tornada, retorno de algum lugar para onde se foi; giro, volta, curva; (adj.: nhatiman) - que gira em círculos, que roda: itakynhatimana - pedra de amolar que gira, pedra de barbeiro (VLB, II, 39)
pe'a (v.tr.) - 1) desterrar, degredar: Xe pe'a umẽ îepé - Não me desterres tu. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618); 2) afastar, desviar, repelir, apartar (p.ex., os que lutam, os que brigam): ...anhanga pe'abo... - afastando o diabo (Anch., Poemas, 108); Aîpe'a umûã emonã xe angaîpaba. - Já afastei dessa maneira minhas maldades. (VLB, II, 129); Oîpe'ape i angaîpaba'e i angaturamba'e suíne? - Afastará os que são maus dos que são bons? (Ar., Cat., 47); Eîpe'a pabenhẽ mba'e-memûã oré suí. - Afasta todas as coisas más de nós. (Thevet, Cosm. Univ., II, 925); 3) separar, reservar, preservar: I 'anga seté pupé i mondepa bé, Tupã i pe'aû. - Assim que pôs sua alma em seu corpo, Deus a preservou. (Ar., Cat., 9); 4) deixar de: ...Tupã osaûsupe'a... - Deus deixou de amá-los. (Anch., Teatro, 28); 5) evitar (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277) ● i pe'apyra - o que é (ou deve ser) desterrado, degredado, afastado, etc.; excomungado: Orosapuká-pukaî i pe'apyramo... - Ficamos bradando, como desterrados. (Ar., Cat., 14); ...I angaturamba'e suí i pe'apyra (..). - Afastados dos que são bons. (Ar., Cat., 49v); pe'asaba - tempo, lugar, modo, etc. de desterrar, de afastar, etc.; desterro: ...Ikó îope'asagûera syk'iré esepîakukar orébe. - Após acabar este desterro comum, faze a nós vê-lo. (Ar., Cat., 14v); emipe'a (t) - o que alguém desterra, repele, separa, etc.: Sasyeté niã Tupã remipe'apûera... - Eis que sofrem muito os que Deus repeliu. (Ar., Cat., 163)
Caruaru (PE). Yves D'Evreux, (op. cit., p. 157), diz que karûarabora significava gotoso, epiléptico, donde se conclui que karûara era epilepsia. Anchieta, contudo, dá o nome Karûara a um pajé (Na Aldeia de Guaraparim, v. 289) que era invocado pelas velhas que buscavam sortilégios. Na Amazônia ocorre o sentido de mal ou enfermidade causada por feitiço; quebranto, mau-olhado. Talvez o termo já tivesse esse sentido no século XVI. Assim, cremos que Caruaru deva compor-se de karûara + 'y: rio dos feitiços. Outro sentido possível é o que tomamos nos modernos dicionários da língua portuguesa: nome (oriundo da língua geral setentrional) comum a certos répteis lacertílios, também chamados jacuaru, jacuruaru, jacruaru.
Guaviruva (rio de SP). De gûabiru + 'yba: árvore dos guabirus, nome de uma planta não identificada.
Muriaé (rio de MG). O rio Muriaé banha região que foi habitada por índios Puris, já extintos. Não é nome tupi.
Pirajibu (SP). De pirá + îereb/a + 'y: rio dos peixes lisos, rio das pirajebas, peixes lobotídeos.
a'erame'ĩ (part.) - e outro tanto, e da mesma maneira, e igualmente, e do mesmo modo: ...I mbo'a tiruã, i mbo'ar' e'ymebé, a'erame'ĩ i mbo'ar'iré, omarane'ymamo. - Estando virgem, mesmo dando-o à luz, antes de dá-lo à luz e, igualmente, após dá-lo à luz. (Ar., Cat., 35)
egûyrõ (t) (s.) - cio; sensação carnal, excitação sexual: -Nde regûyrõpe nde agûasá resé? - Tu tiveste excitação com teu amante? (Ar., Cat., 235); [adj.: egûyrõ (r, s)] - excitado; (xe) estar no cio; ter sensação carnal, ter excitação ● segûyrõba'e - o que está no cio; o que tem excitação: A'epe o agûasá resé segûyrõba'e, marã? - E o que tem excitação por sua amante, que acontece? (Ar., Cat., 72)
gûaîraká (s.) - JAGUACACACA, cachorro-d'água, lontra brasileira, mamífero mustelídeo semi-aquático, de pelos longos, pardo-acinzentados. Alimenta-se de peixes. (VLB, II, 24)
marandé3 (conj.) - além de, e além disso, e também: Kunhã, marandé tunhaba'e, kunumĩ, kunhataĩ tiruã. - Mulheres, além de velhos, meninos e até meninas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 207)
NOTA - No P.B., -MIRIM é um elemento de composição que significa pequeno, diminuto, infantil, etc.: GUARDA-MIRIM, OFICIAL-MIRIM, ESCRITOR-MIRIM, ABELHA-MIRIM, etc. Tal palavra está presente, também, em muitos nomes de plantas e animais no Brasil: ABATIMIRIM, AÇAÍ-MIRIM, AÍ-MIRIM, AIRIMIRIM, ARAÇÁ-MIRIM, BACABAMIRIM, BAIACUMIRIM, BURITIMIRIM, etc.
embyra1 (s.) - IMBIRA, ENVIRA, nome comum a arbustos ou árvores brasileiras da família das timeleáceas, anonáceas, esterculiáceas ou malváceas que se caracterizam por produzir boa fibra na entrecasca, a qual é usada na fabricação de cordas, etc. Ocorrem nas matas úmidas. (Piso, De Med. Bras., IV, 185)
ruã1 (part. de neg. Nega partes da oração que não são o predicado. Nega, também, substantivos. É acompanhada pela partícula na (nda), que precede o termo ao qual ruã se pospõe.) - 1) não: N'asé ruba ruã-tepe asé reté oîmonhang? - Mas não foi nosso pai que fez nosso corpo? (Ar., Cat., 25); Na abaré ruã ixé. - Eu não sou padre. (Anch., Arte, 46v); Na ixé ruã asó. - Não sou eu que vou. (Anch., Arte, 47v); Na xe ruba supé ruã aîme'eng. - Não foi a meu pai que o dei. (Anch., Arte, 47v); Na ixé sóreme ruã turi. - Não porque eu fui veio ele. (Anch., Arte, 47v); Na mba'e 'u potá ruã aîur. - Não querendo comer, venho. (Anch., Arte, 47v); Xe resaraî é gûitekóbo, n'aseîá-potá ruã! - Eu estava-me, mesmo, esquecendo e não querendo omiti-lo. (Anch., Teatro, 180, 2006); 2) Após uma negativa significa não deixando de, não que: "Mba'epe pesekar?" e'i, na semiekara kuabe'yma ruã. - Disse: "-Que procurais", não que não soubesse o que eles procuravam. (Ar., Cat., 75)
Carajeru (ig. do AM). De karaîuru, grajuru, planta da família das bignoniáceas, que fornecia tinta para se pintar o corpo.
Catuaba, Serra da (BA). De katûaba: virtude, bondade; designa também uma planta bignoniácea tida por afrodisíaca, termo de língua geral colonial.
apiti (v.tr.) - 1) matar (gente), fazendo grande estrago, assassinar, chacinar, trucidar: Eporapiti umẽ ... - Não assassines gente. (Ar., Cat., 16v); Kûeîsé kó aporapiti, aîuruîuba îukábo. - Eis que ontem trucidei gente, matando europeus. (Anch., Teatro, 66); 2) espedaçar, esmagar, quebrar em pedaços: Sekoaba'e kûé kunhã oré akanga i apiti... - O que é comum é aquela mulher esmagar nossas cabeças. (Anch., Teatro, 182) ● oîapitiba'e - o que assassina, o que esmaga, etc.: ...Tekoangaîpaba oporapitiba'e... - Pecado que assassina as pessoas. (Ar., Cat., 220, 1686); apitîara - o que assassina, trucidador, matador, assassino: Gûaîxará kagûara ixé, mboîtiningusu, îagûara,... morapitîara. - Eu sou Guaixará bebedor de cauim, grande cascavel, onça, trucidador de gente. (Anch., Teatro, 26); apitîaba - tempo, lugar, modo, etc. de assassinar, de chacinar; assassinato, chacina: Abá-mondá morapitîagûera repyramo mundeokype i mondebypyrûera. - Um homem ladrão que foi posto na prisão como pena de chacinas. (Ar., Cat., 59v)
aterẽ (s.) - coisa rasa ou tosada de todo (VLB, II, 97); (adj.) - raso (como o milho do qual se retiraram os grãos); mocho de todo, sem orelhas (como que se as cortassem sem ficar ponta): Xe aterẽ. - Eu sou mocho. (VLB, II, 97); Xe aterẽngatu. - Sou muito mocho. (VLB, II, 39)
îetipera (s.) - 1) sobrinha de homem, filha de sua irmã ou prima (VLB, II, 119); 2) prima, filha de tia de homem (Ar., Cat., 114)
kûatiar (v.tr.) - 1) escrever, registrar, lavrar: Kó santo o mbo'esara rekopûera erimba'e oîkûatiar îandébo, seîá. - Esse santo a vida de seu mestre escreveu para nós, deixando-a. (Ar., Cat., 134, 1686); 2) pintar; desenhar: Aîkûatiar. - Pintei-o. (VLB, II, 19); 3) esculpir (VLB, I, 124); 4) traçar (a planta de uma edificação) (VLB, II, 134) ● i kûatiarypyra - o que é escrito, desenhado; o escrito, o texto (VLB, I, 68); emikûatiara (t) - o que alguém escreve, etc.: Aîpoepyk semikûatiara. - Retribuí o que ele escreveu (isto é, escrevi-lhe como ele fez a mim). (VLB, I, 90)
pok (v. intr.) - 1) estalar, arrebentar (VLB, I, 127) ESPOCAR, PIPOCAR, PAPOCAR; 2) disparar (p.ex., tiro) (VLB, I, 100); 3) estourar, dar estouro, ESPOCAR (VLB, I, 129)
roba (s.) - amargor; (adj.: rob) - amargo, amargoso: ...Mba'e-rob-eté tuku-tuku okûapa... - Estando a destilar coisa muito amarga. (Ar., Cat., 164); Xe rob. - Eu estou amargo. (VLB, I, 34; Fig., Arte, 38)
ûará2 (s.) - GUARÁ, nome de peixe (o mesmo que gûará2 - v.): -Setápe pirá seba'e? -Nã: kurimã, parati, ...ûará, kamurupyûasu. -São muitos os peixes que são gostosos? -Ei-los: curimã, parati, uará, camurupi-guaçu. (Léry, Histoire, 348-349)
ybyku'yba (s.) - IBICUÍBA, BICUIBEIRA, BICUÍBA, BICUÍBA-DE-FOLHA-MIÚDA, árvore da família das miristicáceas (Myristica bicuhyba Schott ex Spreng.), de boa madeira, usada para a marcenaria e de caule e casca com propriedades medicinais. É também chamada BICUÍBA-VERMELHA, BOCUBA, BOCUUVAÇU, BOCUIABÁ*, BUCUUVA. (Soares, Coisas Not. Bras. [ms .c], 1872-1883; Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §81, 153)
Irituia (PA). Da língua geral setentrional iri*, coco-de-iri, espécie de palmeira silvestre + tiua: ajuntamento de iris. Distrito criado em 1839. (fonte: IBGE)
a'i (s.) - 1) mãe: Kó a'i Tupã Marie. - Eis a mãe de Deus, Maria. (D'Evreux, Viagem, 73); 2) s. vocativo de 1ª p. - minha mãe! (h. e m.): A'i, eîori! - Minha mãe, vem! (Ar., Cat., 268)
'arebo (adv.) - cada dia (VLB, I, 62; Fig., Arte, 128) ● 'arebondûara (ou 'arebonhẽndûara) - coisa cotidiana, o que é de cada dia (VLB, II, 94); 'arebo nhẽ (adv.) - cotidianamente (VLB, II, 94); cada dia (VLB, I, 62); 'aré-'arebo - todos os dias, a cada dia: T'e'ikatu oré 'anga serobîá... i mombegûabo 'aré-'arebo... - Que possa nossa alma crer nele, anunciando-o todos os dias. (Anch., Poemas, 84)
ikotebẽ1 / ekotebẽ (t) (v. intr. irreg.) - afligir-se, estar aflito; estar triste; estar receoso, angustiar-se: Akûeîme aîkotebẽ, xe rekopoxy purûabo. - Antigamente estava aflito, praticando meus vícios. (Anch., Poemas, 130); A'epe Îudas n'oîkotebẽî Îudeus supé o îara me'engagûera resé? - E Judas não se afligiu junto aos judeus por entregar a seu senhor? (Ar., Cat., 57v); Putunusu porarábo, oroîkotebẽngatu. - Suportando a escuridão, estamos muito aflitos. (Anch., Poemas, 142) ● oîkotebẽba'e - o que se aflige, o aflito: Oîkotebẽba'e moapysyka. - Consolar os aflitos. (Ar., Cat., 18v); ekotebẽsaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de afligir-se; aflição: ...A'e xe rekotebẽsaba oîme'eng ixébene... - Ele dará para mim minha aflição. (Ar., Cat., 25v)
kaûĩmakaxera (s.) - variedade de bebida fermentada feita de aipim-macaxeira socado e fervido, que tinha cor branca e era tomada morna (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274)
mondyk2 (v.tr.) - destruir, eliminar, acabar com: Aîpotá-katutenhẽ opabĩ taba mondyka. - Quero muitíssimo todas as aldeias destruir. (Anch., Teatro, 6); O ekopoxy resé, opabĩ abá mondyki... - Por sua maldade, todos os homems destrói. (Anch., Poemas, 178) ● mondykaba - tempo, lugar, causa, modo, etc. de destruir, de eliminar, de acabar: ...Tatá asé angaîpaba repy mondykaba. - Fogo em que se elimina a dívida de nossos pecados. (Ar., Cat., 48v)
poatasaba (m) (s.) - intervalo entre as espáduas (VLB, I, 125); as costas entre as duas espáduas (Castilho, Nomes, 34)
Ibotirama (BA). De 'ybotyra + ama (t), corruptela de etama (t): região de flores. Nome atribuído artificialmente em 1943 para o arraial Bom Jardim.
Mauriti (CE). Esse nome se deve à presença de índios tapuias pertencentes à tribo dos Buritis. Buriti é uma palmeira (more, em tupi antigo). O primeiro nome foi Buriti Grande. Por lei de 1924, a vila passou a ser chamada Mauriti. (fonte: IBGE)
Mundaú (rio de AL). De mondá - ladrão; roubo + 'y - rio: rio dos ladrões. "Alem do referido Putisatuba dezagoa tãobem nesta lagoa o rio Mundahú, que nascendo das faldas da serra chamada Barriga vem correndo quasi paralelo aquelle por muitas legoas athé dezaguarem na lagoa..." (Luiz dos Santos Vilhena [1801], p. 808). É, certamente, uma referência aos quilombolas de Palmares, na serra da Barriga, onde o dito rio nasce.
(Cardim) CARDIM, Pe. Fernão, Tratados da Terra e Gente do Brasil. Introduções e notas de Baptista Caetano, Capistrano de Abreu e Rodolpho Garcia. 3ª edição. Companhia Editora Nacional / MEC, 1978.
NOTA - Daí, no P.B., CAJUÍ (akaîu'ĩ, "cajuzinho"), nome de planta anacardiácea; IPEQUI (ypekĩ, "patinho"), ave heliornitídea, também conhecida como patinho-d'água; CURURUÍ ("sapinho"), nome comum a várias espécies de sapos ou anuros de pequeno porte; TAMANDUAÍ ("tamanduazinho"), variedade de tamanduá, animal mirmecofagídeo. Daí, também, os nomes geográficos ITAIM (bairro de SP), BOIM (PA), BARRA DO PIRAIM (MT), etc. (v. p. 386).
momokõîndûara (s.) - o segundo: I momokõîndûara mendara moîekosupaba. - A segunda (virtude) dele é a satisfação dos cônjuges. (Ar., Cat., 283, 1686)
opabẽ (part.) - todo (os, a, as), tudo: ...Opabẽ taba mondyki... - Todas as aldeias abrasou. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618)
Itassucê (BA). É também conhecida como Itacucê. Havendo a Ponta do Itassucê, conclui-se que a etimologia deva ser faca de pedra (de itá + kysé).
apererá2 (s.) - coisa rasa e baixa (como o mato, a barba, etc.); (adj.) - raso e baixo (como o mato, a caatinga); tosado (fal. de barba) (VLB, II, 133)
îebyr (v. intr.) - voltar, tornar: Oú-îebype erimba'e o boîá reîasagûerype? - Voltou a vir aonde tinha deixado seus discípulos? (Ar., Cat., 53); Aîur gûiîeby. - Vim, voltando. (VLB, II, 133); Omanõba'epûera suí sekobé-îebyri. - Voltou a viver dos que morreram. (Anch., Doutr. Cristã, I, 141) ● îebyraba - tempo, lugar, modo, causa, etc., do voltar; volta, retorno: ...Ebapó ta peîkó pe îebyragûama resé ixé nde momorandube'yma pukuî. - Ali ficai enquanto eu não vos informar acerca de vossa futura volta. (Ar., Cat., 10v); îeby benhẽ - voltar atrás: Aîeby benhẽ, gûixóbo. - Indo, voltei atrás. (VLB, I, 43)
mangará (s.) - MANGARÁ, nome comum a diversas espécies de plantas aráceas com tubérculos comestíveis (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 47). "...Quando se colhem, arrancam-nos debaixo da terra em touças... e tiram-se de cada pé duzentos e trezentos juntos." (Sousa, Trat. Descr., 181)
mukuîé (s.) - MUCUJÊ, planta da família das apocináceas (Couma rigida Mull. Arg.), cuja característica mais notável é fornecer um látex adocicado e potável, usado como leite. "Quando se hão de escolher, sempre se corta toda a árvore por serem muito altas e se não fora esta destruição houvera mais abundância." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 39)
naînanĩ (adv.) - de modo algum: Nainanĩ temiminõ... o erumûana mombó. - De modo algum os temiminós tiram seus nomes antigos. (Anch., Teatro, 142)
Mauá (SP). Talvez de Magûeá, nome de aldeia tamoia da Baía da Guanabara, no século XVI, de etimologia obscura (Anchieta, in Auto de São Lourenço, v. 124).
api'a1 (s.) - 1) circuncidado: Xe api'a. - Eu sou um circuncidado. (VLB, I, 74); 2) pênis circunciso (Castilho, Nomes, 28) ● i api'aba'e - o que é circuncidado (VLB, I, 74)
apupa'ũ2 (t) (s.) - lanço, isto é, porção ou extensão de coisas construídas ou de áreas abertas contidas entre elementos arquitetônicos de referência, como pilastras, cantos, moirões, cercas, etc.: okarapupa'ũ - lanço da ocara, a parte da ocara contida entre, por exemplo, duas ocas (VLB, II, 18)
NOTA - Daí, no P.B. (AM), ARACATU, dia de tempo firme. Daí deve originar-se, também, a palavra ARACATI, vento que, em regiões nordestinas, (especialmente no CE) sopra de N.E. para S.O.: "Era o tempo em que o doce ARACATI chega do mar, e derrama a deliciosa frescura pelo árido sertão." (José de Alencar, in Iracema). Daí, também, os nomes geográficos ARACATI, ARACATIMIRIM (CE), etc. (v. p. 386).
arũaíba (ou arãíba) (s.) - 1) rufião, janota: Ereîubype erimba'e nde agûasá 'arybo nde arãíbamo? - Estiveste deitado outrora sobre tua amante como um rufião? (Anch., Doutr. Cristã, II, 95); 2) atos de rufião; janotice: Moropotara semipokuabe'yma, ...arũaíba, tekó-poxy... anga Îandé Îara îandé 'angyme îandé ogûar'iré ybŷá potara oîmoaruab... - O desejo sensual tornado costumeiro, a janotice, o vício, isso Nosso Senhor, após o recebermos nós em nossa alma, impede de se querer. (Ar., Cat., 88v-89); (adj.: arũaíb) (xe) - ser ou agir como rufião [compl. com esé (r, s)]; falar como rufião (compl. com supé): Xe arũaíb (abá) resé. - Eu ajo como rufião a respeito das pessoas. (VLB, II, 109, adapt.); Xe arũaíb (abá) supé. - Eu falo como rufião às pessoas. (VLB, II, 109, adapt.); Xe nhe'engarũaíb. - Eu tenho palavras de rufião. (VLB, II, 109); 3) chocarrice, gracejo, motejo, escárnio; (adj.: arũaíb) - chocarreiro, gracejador, motejador, escarnecedor; folgazão, vanglorioso, garrido: Nde arũaípe nde rapixara 'arybo eîupa? - Tu foste chocarreira, estando deitada sobre teu próximo? (Ar., Cat., 235); Xe arũaíb. - Eu sou garrido. (VLB, II, 141)
kaûĩ (s.) - 1) CAUIM, bebida indígena, feita de caju (ou mandioca ou aipim) fervido e, depois, mastigado e cuspido por mulheres, para se fermentar com a enzima da saliva (Staden, Viagem, 58): Irũmbûera, ...kaûĩ repyrama ri, aîme'eng abá supé. - Seus antigos companheiros dei para os índios em troca de cauim. (Anch., Teatro, 46); 2) vinho (V. tb. kaûĩaîa1): ...Miapé o pópe o emiîara i moîebyû o etéramo, kaûĩ og ugûyramo. - O pão que apanhou em suas mãos devolveu-o como seu corpo e o vinho como seu sangue. (Ar., Cat., 5); (adj.) - embriagado de cauim; (xe) ter cauim: I kaûĩgûasu-pipó xe ramũîa Îagûaruna? - Tem muito cauim, porventura, meu avô Jaguaruna? (Anch., Teatro, 60) ● i kaûĩgûasuba'e - beberrão: Serapûan kó mosakara, i kaûĩgûasuba'e. - São famosos esses moçacaras, que são uns beberrões. (Anch., Teatro, 6)
nheran (v. intr. compl. posp.) - 1) fazer ataque, fazer agressão, ser bravo (VLB, II, 31), agredir, resistir atacando [a algo ou a alguém: compl. com esé (r, s)]: Anheran sesé. - Resisti-lhe (atacando-o). (VLB, II, 103); Abá marã sekoagûerĩ resé nherane'yma. - Não fazer ataque às pequenas maldades dos homens. (Ar., Cat., 18v); 2) resistir (defendendo-se), opor resistência, estrebuchar (como que para se soltar) (compl. com supé): Anheran i xupé. - Resisti-lhe (defendendo-me). (VLB, II, 103); ...N'onherani xûéne o îoupéne. - Não oporão resistência um ao outro. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); A'epe a'e kunhã n'onherani i momarana? - E aquelas mulheres não resistem, combatendo-os? (Anch., Teatro, 152); O emimotarybo épe erimba'e i nheme'engi og upîarama pé onherane'yma? - Por sua vontade é que ele se entregou aos seus adversários, não resistindo? (Anch., Dial. da Fé, 164) ● onheranyba'e - o que resiste, o que faz ataque, o que agride: Tekokatueté rerekoara onherane'ymba'e. - O que tem a bem-aventurança é o que não agride. (Ar., Cat., 18v-19)
NOTA - Daí, no P.B., a palavra PETECA, 1) pequeno saco de areia ou de serragem, de couro ou plástico, encimado por penas coloridas amarradas num molho, que é usado em brincadeiras infantis, sendo espalmada ou lançada ao ar com raquete. Quem a deixa cair perde pontos no jogo. 2) (fig.) Pessoa que é objeto de escárnio.
sarapó (s.) - SARAPÓ, SARAPÓ-TUVIRA, CARAPÓ, nome comum a peixes de água-doce, da família dos gimnotídeos, que aparecem em todo o Brasil. Produz pequenas descargas elétricas. (D'Abbeville, Histoire, 247v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 170; VLB, II, 12): sarapó 'y - rio dos sarapós (Léry, Histoire, 349)
tyryrygûara (s.) - verme que se infiltra em materiais como madeira, abrindo cavidades enormes a partir de um pequeno furo quase imperceptível (D'Abbeville, Histoire, 258)
Itarapuá (SP). De ybytyra + apu'a: morro redondo. (Há localidade com o mesmo nome em MG, chamada Itirapuá.)
Teatro de Anchieta (Organização, tradução e notas de Eduardo de Almeida Navarro). Editora Martins Fontes, São Paulo, 1999. (cotejado com a edição documentária de Maria de Lourdes de Paula Martins)
tingir - (com urucu): gûang (-îo-); (de preto): moún; (de amarelo): moîub; (de vermelho): mopyrang; (de branco): moting
oîabo (conj.) - assim como... do mesmo modo: Oîabo asé santos 'ara kuabi, oîabo bé asé i kangûerĩ tiruã momba'etéû, o aîuri serekóbo. - Assim como a gente reconhece o dia dos santos, do mesmo modo, também, até mesmo seus ossinhos a gente cultua, tendo-os no pescoço. (Ar., Cat., 12v)
tak (v. intr.) - soar, estalar, fazer barulho, fazer ruído seco “conhecido pela sua forma causativa motak” (VLB, I, 53)
tapinhûã (s.) - TAPINHOÃ, árvore da família das lauráceas, o mesmo que tapapinhûã (v.) (Manifesto de utilidades do Brasil (1687), in Brasilia, VII (1952), 184)
'yba3 (s.) - origem, princípio (VLB, II, 59): Moroaûsubara 'yba... - Princípio da compaixão... (Valente, Cantigas, VII, in Ar., Cat., 1618); amanyba (ou amandyba) - começo de chuva (Anch., Arte, 3)
Itarumã (GO). Nome atribuído a uma localidade de Goiás em 1943 por decreto-lei. Mas é um nome antigo, da língua geral meridional: "Itaruman- São húas frutas do tamanho e feitio de húa azeitona (...)". (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa [1765], p. 30, folio 8v.)
NOTA - Daí, no P.B., JACAREÚBA, JACAREÚVA (îakaré + 'yba, "planta do jacaré"), nome de uma árvore gutífera; Daí, também, os nomes geográficos JACAREÍ (SP), JACAREGUABA (SP), etc. (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B., AMOIPIRA (amõ + oŷpyra, "os que ficaram no lugar de outros"), povo indígena extinto, de língua do tronco tupi, que vivia na Bahia, às margens do rio São Francisco. Seu nome indica que deve ter ocupado a região de um povo indígena anterior, que a abandonou.
NOTA - Daí, no P.B., JURUPENSÉM (îuru + pesẽ, "boca-de-colher"), peixe pimelodídeo de boca com prognatismo acentuado, também chamado jurupoca e boca-de-colher.
NOTA - Tal termo estava presente nas línguas gerais coloniais: [...] Disse: -vai-te já, já daqui, patife - Equen uan yke cui tibiró. (Pe. João Daniel [1757], p. 223).
STRADELLI, E., Vocabulário da Língua Geral: Português-Nheengatu e Nheengatu-Português. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 104 (158). Rio de Janeiro, 1929.
arumará (s.) - ARUMARÁ, pássaro da família dos icterídeos, do tamanho de um pombo, de hábitos parasíticos, com cabeça, asas e dorso emplumados de negro (D'Abbeville, Histoire, 239)
poru1 (ou puru) (v.tr.) - 1) usar, empregar (Anch., Arte, 2v; Fig., Arte, 111): Mosangape ereîpuru...? - Usaste feitiço? (Anch., Teatro, 12); 2) praticar, exercitar: Eîporu nde nhembo'eagûera. - Pratica o que tu aprendeste. (VLB, I, 131); Eîori sa'anga... t'oîpuru tekó-poxy. - Vai para prová-los, para que pratiquem maus atos. (Anch., Teatro, 16); Anhandu beémo erimba'e angûama mã, pe 'erama purûabo! - Ah, se eu tivesse percebido outrora isso, praticando o que dizíeis! (Ar., Cat., 165v); 3) tomar emprestado: Aîporu aoba karaíba suí. - Tomei emprestada a roupa do homem branco; Aîporu abá ygara. - Tomei emprestada a canoa do índio. (VLB, I, 113); 4) aproveitar, usufruir, gozar de (VLB, II, 24) ● oîporuba'e - o que usa, o que pratica, etc.: Tamyîa rekopûera oîporubyteryba'e... - O que pratica ainda os velhos hábitos dos avós. (Ar., Cat., 66v); emiporu (t) - o que alguém usa, pratica, etc.: Eresepyme'engype nde remiporupûera? - Pagaste aquilo que tu usaste? (Ar., Cat., 107v)
pyîaso'o (mb) (s.) - 1) lombo, parte carnosa dos lados da espinha (VLB, II, 24); lombo da parte de fora (Castilho, Nomes, 36): Xe kori i pyîaso'o. - Eu hoje (quero) o lombo deles. (Anch., Teatro, 64); 2) espinhaço (VLB, I, 126)
taîá (s.) - TAIÁ, 1) nome comum a várias plantas da família das aráceas, que possuem raízes comestíveis "as quais se comem cozidas na água, mas sempre ficam tesas" (Sousa, Trat. Descr., 181); 2) a raiz dessas plantas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 35)
NOTA - O verbo 'u, no deverbal 'ûara / gûara, do tupi, está presente em muitas palavras no P.B.: POTIGUAR (potĩ + gûara, "comedor de camarões"), o natural do Rio Grande do Norte; CERNAMBIGUARA (serinambi + gûara, "comedor de cernambis"), nome de um peixe; BURITIGUARA ("comedor de buritis"), nome de povo indígena extinto; PACAGUARA ("comedor de pacas"), nome de povo indígena extinto; MANIUARA ("comedor de manis"), saúva, var. de formiga; PIRAGUARA ("comedor de peixes"), outro termo para designar o caipira, etc.
Ipiíba (RJ). Da língua geral meridional, ipeúba*: "Madeira de grande duração, e só o fogo a pode extinguir (...)" (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa) [1765], p. 221).
Peri-Peri (serra da BA). De piripiri ou piripirĩ - espécie de junco: "As embarcações, de que este gentio usava, eram de uma palha comprida como a das esteiras de tabúa, que fazem em Santarem, a que elles chamam periperí (...)." (Sousa, Trat. Descr., XIX).
(Griebe) GRIEBE, Jacob Wilhelm, Naturalien-Buch. In Brasil Holandês, vol. I (comentários de Dante Martins Teixeira). Editora Index, Rio de Janeiro, 1998.
aru2 (s.) - ARU, SAPO-ARU, anfíbio anuro pipídeo que vive na água, onde se alimenta de animais aquáticos em geral (D'Abbeville, Histoire, 187)
'ekatu (s.) - força, poder: ...Nde 'ekatu kó 'ara moapysyki. - Teu poder aquietou este mundo. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618)
kity (s.) - pau-de-sabão, planta sapindácea (Sapindus saponaria L.). "A polpa... acha-se rodeada de uma cutícula mole e glutinosa, fazendo as vezes de sabão porque também produz espuma." (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 113)
memetipó (conj.) - quanto mais, (e) mais ainda, também com maior razão, ainda mais, e principalmente: ...memetipó ebapó - ainda mais ali, quanto mais ali (Fig., Arte, 137) (Leva o verbo para o gerúndio.): Tupã omanõ, memetipó asé omanõmo. - Deus morreu, quanto mais nós morreremos. (Fig., Arte, 163); Abá abiã é o a'yra ogûerekó-katu, memetipó Tupã... asé raûsubáne... - Pois, se um homem guarda seu próprio filho, quanto mais Deus compadecer-se-á de nós. (Ar., Cat., 25v); I mba'ee'ymba'e memetipó tube'yma i mene'õba'e bé asé serekomemûãmo. - Tratando-se mal os pobres e, principalmente, os órfãos e as viúvas. (Bettendorff, Compêndio, 17) (v. tb. abiã... memetipó)
mondarõ3 (s.) - furto, ladroeira: Mondarõ, nhe'engaíba, mo'ema nde resemõ. - Ladroeira, palavras ruins, mentiras sobejavam-te. (Anch., Teatro, 170); Abá mondarõ osepîakĩba'e. - O que vê o furto de alguém, sem se importar. (Ar., Cat., 72v)
obagûá (t) (s.) - entradas do rosto, os ângulos que formam os cabelos na parte superior do rosto (Castilho, Nomes, 40): Asobagûá-moín. - Pus entradas no rosto dele. (VLB, I, 119)
soroka (s.) - rompimento, rasgadura; (adj. - sorok) - rompido, rasgado: I ku'a-sorok serã moxy...? - Porventura tinha o maldito sua cintura rompida? (Anch., Dial. da Fé, 177)
tamûatá (s.) - TAMUATÁ, TAMBUATÁ, CAMOATÁ, TAMBOATÁ, nome comum a certos peixes da família dos caliquitídeos (D'Abbeville, Histoire, 247v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 151; Gândavo, Hist., VIII, fl. 28v-29)
embó (t) (s.) - vergôntea (p.ex., da batata), vara tenra, rebento, verga: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha... -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v); itá-embó - verga de ferro, arame; kará-embó - vergôntea de cará (VLB, II, 144); [adj. embó (r, s)] - vergonteado, delgado (como uma vara tenra): Xe rembó nhẽ. - Eu sou muito delgado. (VLB, II, 144)
gûarugûaru (s.) - GUARU-GUARU, GARGAÚ, nome comum a várias espécies de peixes das famílias dos ciprinodontídeos e dos rivulídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 169; Lisboa, Hist. Anim. e Árv. do Maranhão, fl. 166v)
NOTA - Daí, no P.B., PIPOCA (v. pok); JURUPOCA ("boca arrebentada"), peixe pimelodídeo de boca com prognatismo acentuado, também chamado boca-de-colher; MAIPOCA ("estouro de mani") (AM) replantação de roça de mandioca, arrancando-se os pés da planta pela raiz. Daí, também, os nomes geográficos IBITIPOCA, IPOPOCA, etc. (MG) (v. p. 386).
(Col. Niedenthal) COLEÇÃO NIEDENTHAL - "Animaux et Oiseaux". In Brasil Holandês (org. de Dante Martins Teixeira), Editora Index, Petrópolis, 1998.
NOTA - Em Gonçalves Dias lemos: "Brilhante enduape no corpo lhe cingem, / Sombreia-lhe a fronte gentil CANITAR." (in Antologia Poética. 5ª edição. Rio de Janeiro, Ed. Agir, 1969.)
obakûatiara (s. etnôn.) - nome de grupo indígena que vivia, no século XVI, em ilhas do rio São Francisco e tinha casas como cafuas debaixo do chão (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 124)
paraba2 (mb) (s.) - variedade, diversidade: ...Esepîak tekó paraba. - Vê tu a variedade de coisas. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1686); (adj.: parab ou pará) - variado, variegado, multicor: I angaîpá-pará-pará... - Ela tem pecados variadíssimos. (Anch., Poemas, 112)
tupi1 (s. etnôn.) - TUPI, 1) nome de povo indígena da capitania de São Vicente (Anch., Arte, 1v); 2) designativo genérico dos índios falantes da língua brasílica: -Asó tupi moangaîpapa. -Mba'e apŷabap'aîpó? -Tupinakyîa keygûara. -Vou para fazer os tupis pecarem. -Que índios são esses? -Os tupiniquins, habitantes daqui. (Anch., Teatro, 140)
una2 (t) (s.) - negror, cor preta; [adj.: un (r, s)] - negro, preto: -Aoba. -Marãba'e? -Sobyeté, ...sun. -Roupas. -De que tipo? -Elas são azuis, elas são pretas. (Léry, Histoire, 342-343); Xe run tatatinga suí. - Eu estou preto de fumaça. (VLB, I, 92); Xe run. - Eu sou preto. (VLB, II, 49)
NOTA - Daí, no P.B., pela língua geral amazônica, TAPIRAUA ("pelo de anta"), nome de um povo indígena extinto do Pará. Daí, também, EMBOABA (mbó + ab + -a - "patas peludas"), alcunha que os paulistas davam aos portugueses que disputavam consigo a posse das minas de ouro e pedras preciosas das Minas Gerais, no início do século XVIII, o que provocaria a famosa Guerra dos Emboabas; TAPIRANGA (taba + pyrang + -a - "penas vermelhas"), nome de um pássaro traupídeo.
aîaîá (s.) - AJAJÁ, AIAIÁ, colhereiro, variedade de cegonha, ave ciconiforme da família dos tresquiornitídeos, de praias, rios e lagoas. Tem um bico vermelho que parece uma colher. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 204; VLB, I, 88)
amby (s.) - ventrecha, parte inferior da barriga, parte do corpo entre o umbigo e a virilha; colo (Castilho, Nomes, 38): Xe ambyî arekó. - Trago-o no meu colo. (VLB, I, 77)
naná (s.) - 1) ANANÁS, ANANASEIRO, ANANÁ, planta da família das bromeliáceas (Ananas comosus (L.) Merr.), cultivada ou selvagem. Também é conhecida como ANANÁ, ANANAS, NANÁS, NANASEIRO, abacaxi-branco, abeiras. (Thevet, Les Sing. de la France Antart., 89); 2) o fruto do ananaseiro (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 33; Piso, De Med. Bras., IV, 191) ● naná-'y - NANAÚ, NANAUÍ, licor de ananás, bebida fermentada que os índios faziam com tal fruta (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274; VLB, II, 146); naná-kakaba - ananás amadurecido pela força do calor e que não é bom para ser comido (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 33)
tymakambira (s.) - MACAMBIRA, planta da família das bromeliáceas, de folhas espinhosas e duras, comum na caatinga nordestina (Libri Princ., vol. II, 27)
O verbo 'u, no deverbal 'ûaba / gûaba, está presente em nomes geográficos: ARARITAGUABA (nome antigo de Porto Feliz, SP), JACAREGUABA (localidade de SP), etc. (v. p. 386).
(Vasconcelos) VASCONCELLOS, Pe. Simão de, Chronica da Companhia de Jesu do Estado do Brasil: [...] e alguãs noticias antecedentes curiosas & necessárias das cousas daquelle Estado. Lisboa, anno 1663.
BRAUN, Sargento-Mór Engenheiro João Vasco Manoel de [1784], Roteiro corographico da viagem que martinho de sousa e albuquerque, governador e capitão general do estado do brasil, e determinou fazer ao rio das amazonas, em a parte que fica comprehendida na capitania do grão-parã: tudo em destino de ocularmente observar e soccorrera praça, fortalezas e povoações que lhes são confrontantes. Revista trimensal de historia e geographia, ou, Jornal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Volume 12, 3º trimestre, 1874.
No P.B., JENIPAPO pode ser, também, mancha escura na parte inferior da região dorsal das crianças, tida como sinal de mestiçagem (in Dicion. Caldas Aulete).
irũmo (loc. posp.) - com, em companhia de; o mesmo que irũnamo (v.): Ne'ĩ, t'asó nde irũmo... - Eia, hei de ir contigo. (Anch., Teatro, 64); Nde abé... Îesu irũmo t'ereîu. - Que tu também venhas com Jesus. (Anch., Teatro, 118); Orébe t'oré mondyki, nde irũmo t'oroîkobé. - Que ela nos destrua para que vivamos contigo. (Anch., Poemas, 148) ● Pode aparecer com as partículas nhẽ ou bé: Irũmo nhẽ aîkó (ou Irũmo bé aîkó). - Estou com ele. (VLB, II, 114)
1 (dem. pron. e adj.) - este (es, a, as); esse (es, a, as), isto: Akûeîme kó tabygûara xe pó gûyrybo sekóû. - Antigamente esses habitantes da aldeia sob minhas mãos estavam. (Anch., Teatro, 126); Kó a'e ybaka îandé remiepîakûama oîmonhang. - Esse fez aquele céu que vemos. (Ar., Cat., 86); ...Aseîá kûesé xe roka kó pupé missa rendupa. - Deixei ontem minha casa para ouvir a missa dentro desta (igreja). (Anch., Poemas, 112); 2) (dem. adv.) - eis, eis que, eis que aqui (Fig., Arte, 134), eis que este: Pysaré kó i kere'ymi... - Eis que a noite toda ele não dormiu. (Anch., Teatro, 32); Kó xe 'akusu, xe ranha... - Eis aqui meus chifrões, meus dentes... (Anch., Teatro, 40); N'asapîari kó xe rubeté... - Eis que não obedeço a meu pai verdadeiro. (Ar., Cat., 25v); Kó xe rekóû nde reká... - Eis que aqui estou para te procurar. (Anch., Poemas, 104); 3) (dem. adv.) - aqui: Xe ra'yt, aîmo'ang nde re'õaûama kó nde eîupa ko'yté. - Meu filho, penso que tu morrerás, enfim, estando aqui deitado. (Bettendorff, Compêndio, 118); Kó sekóû kó. - Eis que está aqui; Kó tuî kó. - Eis que aqui ele está deitado. (VLB, I, 109); kó rupi - por aqui (VLB, II, 81) ● kó amoaé - este outro (VLB, I, 130); kó amoaé-te (ou kó amõ-te) - este outro (e não ele) (VLB, I, 130); kó é - eis cá, eis aqui, eis que aqui (e não lá onde tu buscas ou olhas): Kó é turi. - Eis que aqui ele vem; Kó é i xóû. - Eis que aqui ele vai; Kó é aîkó. - Eis que aqui estou. (VLB, I, 109); kó-te - este outro (e não ele) (VLB, I, 130)
NOTA - Daí, no P.B., CIPÓ-SUMA ("cipó escorregadio"), cipó da família das violáceas (Anchietea salutaris), nativo da floresta atlântica, também chamado PIRIGUARA e de propriedades medicinais. Daí, também, TATUXIMA ("tatu liso"), var. de tatu, tatu-de-rabo-mole.
Tarumirim (MG). De língua geral colonial, tarumã-mirim*, árvore da família das verbenáceas, da floresta atlântica, idêntica ao tarumã (in PDBLP, p. 1173).
îeremary (s.) - JUREMARI, JUREMA, árvore da família das leguminosas-mimosoídeas (Chloroleucon tortum (Mart.) Pittier), muito comum na costa nordestina, "delgada no pé e muito grossa em cima;... dá umas favas brancas". (Sousa, Trat. Descr., 220)
NOTA - Daí, no P.B., IGAPUITARIIARA ("os que têm dom de remadores de canoas"), nome de um povo indígena extinto.
Guiricema (MG). De guiri*, guri* (em tupi kuri) nome comum aos bagres + sema: saída dos bagres. "O povoado, primitivamente chamado Bagres, em virtude da grande quantidade de peixes dessa espécie, que viviam nas águas do rio local, teve o topônimo alterado para Guiricema pela Resolução nº 84, de 20 de novembro de 1895." (fonte: IBGE)
îamakaîy (s.) - JAMACAJI, pássaro da família dos icterídeos, de canto ameno e bela plumagem, que vive nas caatingas e em zonas campestres de todo o Brasil leste-setentrional (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 198)
kûandu (s.) - CUANDU, ouriço-cacheiro, porco-espinho, cuim, nome comum a mamíferos roedores da família dos eretizontídeos, dos gêneros Coendou Lac., Sphiggurus e Chaetomys Gray, os únicos que ocorrem no Brasil, dentre os quais o Coendou prehensibis L. Vivem sobre árvores, com pés com calosidade preensora, cauda preênsil. (D'Abbeville, Histoire, 249v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 233)
mapuîkuaaîxûara (s.) - braceletes feitos com fios de algodão, em torno dos quais os índios colocavam longas penas tiradas das caudas das araras, utilizando-os em festas e colocando-os um pouco acima dos cotovelos (D'Abbeville, Histoire, 275)
moro- [forma absol. ou nasalizada do prefixo poro- (v.). Aparece como índice de forma absoluta de substantivos, em geral, e de deverbais.]: Morombo'esara ixé. - Eu sou mestre. (Anch., Arte, 47); morotinga - brancura (Anch., Arte, 50); moroîuba - amarelidão (Anch., Arte, 50); morosema - saída de gente (Anch., Arte, 50); Asó morapépe. - Vou ao caminho das pessoas. (VLB, II, 111); ...Morosumarã, Anhanga... - O inimigo da gente, o diabo. (Ar., Cat., 89); Gûaîxará kagûara ixé,... morûara, moroapŷara, ...anhanga morapitîara. - Eu sou Guaixará bebedor de cauim, comedor de gente, queimador de gente, diabo trucidador de gente. (Anch., Teatro, 26); Maria, Tupã sy, moroîtykara... Maria, mãe de Deus, vencedora. (Anch., Poemas, 88); moropysyrõana - salvador da gente. (Ar., Cat., 15v)
OBSERVAÇÃO - Pyrang não é sinônimo de pytang, como vemos, erradamente, em muitos dicionários que apresentam etimologias.
Tamboré (Santana do Parnaíba, SP). "...veo o juis dos orfãos dõ simão de toledo a paragen chamada tambore sitio e fazenda de maria leite..." (Maria da Silva [1655], Inventário e Testamento de Maria da Silva, p. 200). Talvez provenha de tamburi, nome de árvore da família das leguminosas; termo das línguas gerais coloniais.
ekopoxy (t) (s.) - maldade, pecado; vida má, mau hábito, mau proceder, vício: ...Tekopoxypûera tyma... - Enterrando os antigos vícios. (Anch., Teatro, 58); Oré 'anga t'oîosu, sekopoxy mosasãîa. - Que nossa alma ele visite, dispersando os vícios dela. (Anch., Teatro, 118); [adj.: ekopoxy (r, s)] - maldoso, pecador: Na xe rekopoxyî xûé angiréne. - Não serei pecador doravante. (Ar., Cat., 237)
1 (interj.) - ã... (Usada quando, pensando-se no que se ouve, deseja-se responder. Cala-se, porém, para não ser tido por importuno.): -Mba'epe sepyrama? -Arurĩ. -Hé... -Qual é o preço delas? -Trouxe-as por trazer. -Ã... (Léry, Histoire, 344)
NOTA - Daí provém o nome da árvore CABREÚVA, isto é, o pau do caburé. CABURÉ também tem, no P.B., muitos sentidos, entre os quais 1) cafuzo, caboclo, caipira; 2) indivíduo atarracado; 3) pessoa que só sai de noite.
OBSERVAÇÃO - Segundo o VLB, I, 42, essas orelheiras compridas seriam nambipora (v.) e a nambipaîa seria de outro tipo, um brinco menor. Mas admite que elas se confundem.
narinari (ou narinari-pinima) (s.) - NARINARI, raia-pintada (Aetobatus narinari Euph.), peixe da família dos miliobatídeos, dos mares da região equatorial, também chamado arraia-pintada, papagaio. (D'Abbeville, Histoire, 245; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 175)
Finalmente, ao pedir as bênçãos do Padre Anchieta, na contracapa da 5ª edição de seu livro, ele, além de admitir que misturou duas línguas no mesmo dicionário, comete um grave erro histórico:
Maritiapina (ilha do PA). "(...) atravessando pelas oito horas a bocca do Limão, e meia hora depois a bocca do Muritiapina (...)" (João Vasco Manoel de Braun [1784], Roteiro Corographico, p. 330). De muriti + apin + -a: muricis pelados, i.e., sem folhas.
Orindiúva (SP). Segundo o IBGE, tal localidade "em 1935, passou a denominar-se Orindiúva (...) devido à grande quantidade, na região, de aroeiras, árvore de lenho muito duro." De urindeúva, um nome da língua geral meridional.
AYROSA, P., "Apontamentos para a Bibliografia da Língua Tupi-guarani". Etnografia e Tupi-guarani, no. 28, Boletim no. 169. São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,USP, 1954.
kereîûá (s.) - QUEREJUÁ, GUIRUÁ, CREJUÁ, nome comum a pássaros do litoral do Brasil oriental, da família dos cotingídeos, de cores brilhantes e vistosas, de rara beleza. São também chamados CATINGÁ, CREJICA, SUIRUÁ, QUIRUÁ, CURUÁ. (D'Abbeville, Histoire, 239; Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 36): Aó-kereîûá kûarasy sosé oberaba'e nungara... - Semelhante a uma roupa de querejuá que brilha mais que o sol. (Ar., Cat., 37v)
uban (v.tr.) - envolver, embrulhar: Aobybĩ pupé sobá ubana... - Envolvendo seu rosto com véus. (Ar., Cat., 79, 1686); Aó-tinga pupé i nhubani... - Em roupas brancas envolveram-no... (Ar., Cat., 64v)
Embu (SP). De mboîa: cobras ou, ainda, mboîa + 'y: rio das cobras. É corruptela de Mboy, nome da aldeia jesuítica que lhe deu origem: "Os Jezuitas q̃. tiveraõ Sempre o maior Cuidado em possuir Indios, deraõ Origem as Aldeas de Carapucuyba, Mboy, Itapecirica, Taquaquecetyba, e S. Joze." (Joze Arouche de Toledo Rendon [1802], Plano em que se Propoem o Melhoramento da Sorte dos Indios, p. 92).
CABRAL, A.V., Bibliografia da Lingua Tupi ou Guarani, também chamada Lingua Geral do Brazil. Rio de Janeiro, Tipographia Nacional, 1880.
Poemas - Lírica Portuguesa e Tupi (Organização, tradução e notas de Eduardo de Almeida Navarro). Editora Martins Fontes, São Paulo, 1997 (cotejado com a edição documentária de Maria de Lourdes de Paula Martins).
(Col. Niedenthal) COLEÇÃO NIEDENTHAL - "Animaux et Insectes". In Brasil Holandês, vol. II (org. de Dante Martins Teixeira), Editora Index, Petrópolis, 2000.
PINHEIRO, Ruy Carvalho [1635] (ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
arapabaka (s.) - ARAPABACA, espigélia, lombrigueira, planta da família das loganiáceas (Spigelia anthelmia L.), catártica e vermífuga (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 34)
îambu (ou inambu ou nambu ou nhambu) (s.) - INHAMBU, INAMBU, NAMBU, NHAMBU, INAMU, LAMBU, designação comum a aves tinamiformes da família dos tinamídeos. Duas de suas espécies menores são o NHAMBUXORORÓ e o NHAMBUXINTÃ (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 192)
kumaru (s.) - CUMARU, CUMBARU, árvore da família das leguminosas, própria da mata úmida, de grande porte e de ótima madeira (D'Abbeville, Histoire, 226)
suindara (s.) - SUINDARA, SUINDÁ, SUINARA, SONDAIA, TUIDARA, TUINDÁ, var. de coruja, ave estrigiforme da família dos titonídeos, também chamada coruja-de-igreja (VLB, I, 88)
Guataporanga, Nova (SP). De guatá - caminhar, caminhada + porang - bonito + suf. -a: caminhada bonita. Nome atribuído artificialmente em meados do século XX.
Tapanhunacanga (MG). De tapy'yîuna (ou tapy'yînhuna) + akanga: cabeça de negro. Nome dado ao minério de ferro: "O revestimento das muralhas é de uma pedra côr de ferro a que nesse país chamam em língua Tupinambá: Tapanhu-acanga, o que quer dizer Cabeça de Negro." (Antônio Pires da Silva Pontes [1781], p. 380); "[...] suposto q.' as Minas Geraes sejão quasi todas de ferro, q.' os Naturalistas nomeão por Emathytis, eos naturaes Tapanhuacanga, q. ^e quer dizer na língua Brasileira Cabeça de preto [...]" (Pontes Leme [n.d.], Memorias sobre a Extracção do Ouro na Capitania de Minas Geraes, p. 420)
a'ynha1 (ou a'ỹîa) (t) - 1) semente; grão ou caroço (VLB, I, 150): Asa'ỹî-ok. - Arranquei-lhe as sementes. (VLB, I, 123); 2) testículos (VLB, II, 35)
kane'õ (s.) - cansaço: ...Turusu xe kane'õ. - Muito é o meu cansaço. (Anch., Poemas, 152); ...Ambyasy, 'useîa, kane'õ, mba'e tetiruã porarábo îandé resé. - Fome, sede, cansaço, quaisquer coisas sofrendo por nós. (Ar., Cat., 42v); ...N'îaîandubi kane'õ... - Não sentimos cansaço. (Ar., Cat., 167); (adj.) - cansado, esgotado; (xe) cansar-se, esforçar-se: Xe kane'õ. - Eu estou cansado. (VLB, I, 65); Setá, sesé oîopuru-purûabo o kane'õ-ne'õnamo. - Eram muitos, para se revezarem uns aos outros nisso, ficando cansados. (Ar., Cat., 60) ● kane'õaba - tempo, lugar, modo, objeto de cansar-se, de se esforçar: Marãpe ereîpysyrõ oré kane'õagûera? - Por que libertas aquele por quem nos cansamos? (Anch., Teatro, 180, 2006)
taté1 (interj.) - cuidado!: Taté, taté, kunumĩ, na nde nupãî karaíba... - Cuidado, cuidado, menino, para que não te castigue o homem branco. (Anch., Poemas, 194)
'useî (v.tr.) - 1) querer comer; querer beber; querer ingerir; ter sede (Fig., Arte, 2): Marãba'e so'o ereî'useî? - Que tipo de caça queres comer? (Léry, Histoire, 347); Ereî'useîpe u'i-puba? - Queres comer farinha puba? (Anch., Teatro, 44); Kaûĩaîa 'useîa é, opakatu amboapy. - Querendo beber vinho, tudo esgotei. (Anch., Teatro, 46); 2) desejar: T'oî'useî-katu Tupã rekó... - Que ele deseje muito a lei de Deus. (Ar., Cat., 81v) ● 'useîtara - o que quer comer; o que quer beber; o que deseja: ...tekokatu 'useîtara... - o que deseja a justiça (Ar., Cat., 19); 'useîtaba - tempo, lugar, modo, etc. de querer comer, de querer beber, de desejar; desejo: A'epe muru'apora 'y 'useîtápe... marã? - E as grávidas ao quererem beber água, que acontece? (Ar., Cat., 77v); 'useîbora - sedento: 'Useîbora mbo'y'u. - Dar de beber aos sedentos. (Ar., Cat., 18)
Miracatu (SP). "A denominação Miracatu... foi adotada em 1944, por ter desaparecido a "prainha" que originou o antigo nome, e também por existir, no norte do País, outra cidade com a mesma denominação." (fonte: IBGE). Da língua geral setentrional mira - gente (Frei Arronches, Caderno da Língua, p. 144) + catu - bom (ibidem, p. 83): gente boa.
(Soares) SOARES, Pe. Francisco, Coisas Notáveis do Brasil. Vol. I. Reprodução facsimilar dos manuscritos quinhentistas da Biblioteca da Real Academia de Historia de Madrid (ms. M, de 1590) e da Biblioteca da Universidade de Coimbra (ms. C de 1594). Edição preparada por Antônio Geraldo da Cunha, vol. 6 da Coleção Dicionário da Língua Portuguesa - Textos e Vocabulários, do Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1966. (Foram citados nas transcrições os números das linhas do manuscrito.)
inimigo - amotare'ymbara; tupîara; (inimigo de uma nação indígena, pertencente a grupo diferente, considerado hostil): tobaîara1; (inimigo pessoal): sumarã
ku'uka (s.) - peixe da família dos serranídeos, garoupa: Akûeîme rakó pirá asekyî-marangatu: ku'uka, gûarapuku... - Antigamente pescava bem os peixes: garoupas, cavalas... (Anch., Poemas, 152)
NOTA - Daí, no P.B., IPÊ ('yb + pé, "pau cascudo"), nome de certas árvores bignoniáceas, de madeira duríssima; JABUTIPÉ ("casco de jabuti"), árvore cuja madeira é utilizada em construções.
A maior parte dos topônimos que apresentamos nesta relação foram tomados do Índice dos Topônimos contidos na Carta do Brasil 1:1000 000 do IBGE, publicado por Vanzolini e Papavero em 1968. Selecionamos cerca de dois mil e duzentos topônimos e também alguns antropônimos e demos suas etimologias. As etimologias de muitos nomes são muito evidentes. Alguns não podem ser mais etimologizados pois foram muito alterados ao longo dos séculos. Alguns são artificiais, composições incorretas e sem nenhum valor histórico. Outros foram atribuídos artificialmente, mas são nomes pré-existentes à atribuição do nome oficial. A etimologia destes nomes tem interesse histórico pela sua antiguidade.
Peruaçu (rio da BA). De yperu + -ûasu: tubarões grandes. "(...) escrevo a vosa altesa o que me socedeo na guerra que tive com o gentio do peroaçu (...)" Mem de Sá [1560], Carta de Mem de Saa, governador do brazil para El Rey..., p. 227).
Teçaindaba (rua de São Paulo, SP). De tesaî/a + -sab/a (forma nasalizada: ndab/a) + -a: lugar de alegria. Nome atribuído artificialmente no século XX.
No Nordeste há a expressão PEGAR UM PEBA, isto é, cair, levar um tombo, achatando-se (in PDBLP, 920). Como adjetivo, no P.B. (NE), PEBA pode significar reles, ordinário; NAPEVA é "curto de pernas, nanico" (em referência, geralmente, a galináceos ou a cães); PEVA, raça de galinha de pernas curtas; JAGUAPEVA ou JAGUAPEBA (S.) (îagûar + peb + -a), variedades de cães domésticos de pernas curtas; PEBADO (CE pop.)
Marabá (PA). De maraba - filho de francês com índia; bastardo (D'Evreux, Viagem, pp. 142-143). O nome foi atribuído artificialmente a cidade do Pará: "Em 1897, Francisco Coelho da Silva, maranhense residente em Grajaú, acreditando poder enriquecer com o comércio do caucho, transferiu-se para a colônia. Um ano mais tarde, em desavença com o dirigente da colônia, foi estabelecer-se na foz do Itacaiúnas. À sua nova moradia deu o nome de Marabá, em lembrança de sua antiga casa comercial em Grajaú." (fonte: IBGE). Esse nome, contudo, foi inspirado num poema de Gonçalves Dias intitulado Marabá: Eu vivo sozinha, ninguém me procura! / Acaso feitura não sou de Tupá! / Se algum dentre os homens de mim não se esconde: / — "Tu és", me responde, "Tu és Marabá!"
Urubupungá (salto do rio Paraná). " [...] na altura de 20 gráos e ½ fas o grande salto do Urubúpungá [...]." (Azeredo Coutinho (1804) [n.d.], p. 47]. De urubu + pungá: urubu inchado.
agûasá (s.) - 1) mancebia: Agûasá pupé aîkó. - Vivo na mancebia, vivo amancebado. (VLB, I, 17); ...I agûasá repîakĩamo... - Permitindo sua mancebia. (Ar., Cat., 69); 2) mancebo (a), amante, adúltero (a) (VLB, II, 30): Ereîpe'ape nde ra'yra, nde remiaûsuba i agûasá suí? - Afastaste teu filho e teu escravo de suas amantes? (Ar., Cat., 100v); 3) (adj.) - amante (VLB, II, 46); amancebado; (xe) amancebar-se, cometer adultério: Xe agûasá gûitekóbo. - Eu estou-me amancebando. (VLB, I, 33) ● i agûasaba'e - o que se amanceba: -Abápe aîpoba'e oîaby? -I aguasaba'e, o mendasabe'yma resé oîkoba'e abé. -Quem transgride aquele? -O que se amanceba e também o que tem relações sexuais com o que não é seu cônjuge. (Ar., Cat., 71); agûasá membyra - filho bastardo, filho do amante (VLB, I, 53)
apysakûaraby (xe) (v. da 2ª classe) - chegar aos ouvidos imperfeitamente, entreouvindo: Xe apysakûaraby moranduba. - Uma notícia chegou-me aos ouvidos. (VLB, I, 119)
ingapema (s.) - INGAPEMA, tacape indígena: ...Ingapema bé peru! - Trazei também a ingapema! (Anch., Teatro, 64); Kó bé ingapé-kûatiara, t'aîakã-mombuk muru. - Eis aqui também a ingapema pintada, para que arrebente a cabeça dos malditos. (Anch., Teatro, 66) (o mesmo que ybyrapema - v.)
Cotinga, Ilha Rasa da (PR). Capim de folhas largas, aproveitadas pelos tropeiros para palha de cigarros (de ka'a + tinga: folhas claras).
Parati (RJ). Os textos coloniais de que dispusemos não dão a explicação do nome da localidade. O termo tupi parati tem dois sentidos: 1) peixe da família dos mugilídeos, do Atlântico sul (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 181); 2) uma variedade de mandioca, comestível a partir de oito meses de plantio, apta para cultivo em terras fracas e de areia; o mesmo que mandi'yparati (v.) (Sousa, Trat. Descr., 173). Uma das ocorrências mais antigas do nome é a que vemos em Antonil: "Houve atè agora Caſa de quintar em Taubatê, na Villa de Saõ Paulo, em Paratij, & no Rio de Janeiro." (André João Antonil [1711], p. 13). Isso nos permite supor a seguinte etimologia: parati + 'y: rio dos paratis.
aîé2 (ou aîeî) (r, s) (posp.) - através de, de través; de revés: Xe raîé i xemi. - Saiu-me de través (p.ex., a flecha que me atingiu). (VLB, I, 102); Our xe raîeî. - Veio-me de través. (Fig., Arte, 125)
NOTA - Daí, o nome próprio de mulher GUACIARA (v. p. 386). Daí, também, no P.B., ARAGUIRÁ ('ara + gûyrá, "pássaro do dia"), tico-tico-rei.
ekó3 (t) (s.) - estado, condição: Marã sekó resépe i angekoaíba îekuabi? - Por qual estado seu transparecia sua angústia? (Ar., Cat., 53); Xe rekó anhẽ nhẽ nakó emonã. - Eis que minha condição, na verdade, é assim. (VLB, I, 79)
so'o1 (s.) - 1) animal (quadrúpede), bicho, caça: ...So'o, pirá, gûyrá retãme'engaba é ikó 'ara... - Este mundo é a terra prometida dos animais quadrúpedes, dos peixes e dos pássaros... (Ar., Cat., 166v); Okûabépe irã so'o...? - Escaparão futuramente os animais quadrúpedes? (Ar., Cat., 46); 2) carne de caça, carne vermelha de animal: Nd'o'uî asé so'o îekuakuba 'ara pupé. - A gente não come carne de caça no dia de jejum. (Ar., Cat., 10v); Aîeruré so'o resé. - Peço por carne (de caça). (D'Evreux, Viagem, 144); So'o resé aîkó. - Estou em busca de caça. (VLB, II, 41) ● so'o-Îurupari - animais com que Jurupari convive, que só andam à noite, soltando gritos horríveis, servindo àquele sexualmente, ativa ou passivamente (D'Evreux, Viagem, 293); so'o-aíba - animal quadrúpede que não se come (VLB, I, 36); so'o-kugûaba - conhecedor de animais, bom de caça (fal. de cão) (VLB, I, 62)
tyryka (s.) - recuo, afastamento, fuga; (adj.: tyryk) - arredio, arisco, que foge, que se afasta: tu'ĩ-tyryka - tuim arisco, TUITIRICA, periquito da família dos psitacídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 206)
urupema (s.) - URUPEMA, URUPEMBA, GURUPEMA ou JURUPEMA, espécie de peneira com que os índios coavam mandioca, também utilizada para outros fins culinários (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); joeira (VLB, II, 14) ● urupemusu - var. de peneira (VLB, I, 74); urupẽ-mby'i - var. de peneira (VLB, I, 86; II, 14); urupẽ-mokanga - peneira rala (VLB, II, 14)
NOTA - No P.B. (N.E.), JEQUI é um cesto para pesca, muito oblongo, afunilado, feito de varas finas e flexíveis. Como adjetivo significa (Amaz. e N.E.) justo, apertado, o mesmo que JEQUITO: roupa JEQUI, roupa JEQUITA - roupa apertada. Há também a expressão BOTAR NUM JEQUI (AL), deixar em situação difícil, em apuros (in Novo Dicion. Aurélio).
mangaba (s.) - 1) MANGABA, MANGABEIRA árvore apocínea (Hancornia speciosa Gomes), comum nos cerrados e no litoral nordestino, com flores amarelas, produtora de látex. É aplicada na medicina popular brasileira no tratamento da tuberculose e de afecções da pele e do fígado. 2) MANGABA, fruto polposo e muito doce dessa árvore (D'Abbeville, Histoire, 218v; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 121) ● mangaby - licor de mangaba (VLB, II, 146)
NOTA - Esse sufixo aparece em inúmeros nomes de lugares no Brasil: GUARAPUAVA, BAREQUEÇABA, CAÇAPAVA, IGARAPAVA, POTIRENDABA, PINDAMONHANGABA, PARANAPIACABA, PIAÇAGUERA, GUARAQUEÇABA, PIRACICABA, etc. (v. p. 386).
îomomorangaíba (s.) - carícias desonestas: Nde serã i poepyka... îomomorangaíba ereîapi ko'arapukuî. - Tu, talvez para retribuir, atiras nele sempre as carícias desonestas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
pysã (m) (s.) - dedo do pé: ...mosapyr mysã... - três dedos dos pés... (Ar., Cat., 3) ● pysã-apyra (m) - as pontas dos dedos dos pés (Castilho, Nomes, 33); pysãgûasu (m) - dedo polegar do pé (Castilho, Nomes, 33); pysãgûasu-ybyrixûara (m) - dedo indicador do pé (Castilho, Nomes, 33); pysã-kytã (m) - nós dos dedos dos pés (Castilho, Nomes, 33); pysã-mirĩ (m) - dedo mínimo do pé (Castilho, Nomes, 33); pysã-mytera (m) - dedo médio do pé (Castilho, Nomes, 33); pysã-myterybyrixûara (m) - dedo anular do pé (Castilho, Nomes, 33)
Bertioga (SP). De mbyryki - macaco buriqui + oka (r, s) - casa, refúgio: casa de buriquis: "[...] O territorio d'esta barra distinguião os Indios com o appellido Buriquioca, que quer dizer casa de Buriguis (Buriquis são uma especie de macacos)." (Frei Gaspar da Madre de Deus [1767], p. 119)
ang (dem. adj.) - este (es, a, as), esse (es, a, as): Marã-tepe ang mba'e-katupabẽ orogûerekóne? - Mas que faremos com estas muitíssimas riquezas? (Ar., Cat., 7)
Piranga1, Rio (MG). De pyrang/a: vermelho. Durante a fase de emprego das línguas gerais coloniais, foi comum o uso de adjetivos tupis com substantivos portugueses: Monte Piranga, Rio Una, etc.
NOTA - Daí, no P.B., CAMBURIAPEVA (kamuri + 'a + peb + -a, "camuri da cabeça achatada"), nome de um peixe centropomídeo; POTIATINGA (potĩ + 'a + ting + -a, "camarão da cabeça branca"), espécie de camarão da família dos peneídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 188); IPECUATI (ypeku + 'a + atĩ, "pica-pau da cabeça pontuda"), nome de uma ave.
-'ĩ2 (ou -ĩ) (suf. A oclusiva glotal ' cai após tema em consoante, ficando o sufixo com a forma -ĩ.) 1) expressa o diminutivo: Pitangĩ repîaka'upa, aîur xe roka suí. - Tendo saudades do nenenzinho, vim de minha casa. (Anch., Poemas, 102); Asaûsub nde membyrĩ. - Amo teu filhinho. (Anch., Poemas, 102); ...xe rubĩ ... - meu paizinho (Anch., Poemas, 104); xe mba'e'ĩ - minhas coisinhas (Anch., Arte, 54); 2) um pouco, um pouquinho: ...T'oîmoîa'ok nde membyra tekokatu'ĩ amõ orébe. - Que reparta teu filho um pouquinho de virtude conosco. (Ar., Cat., 32v); 3) bem fininho, bem miudinho, bem pouquinho: Aîmopoîĩ. - Afilei-o bem fininho. (VLB, I, 21); 4) só, único, tão somente, somente: -Mobype abá remirekóne? -Oîepé'ĩ. -Quantas serão as esposas de um homem? -Uma somente. (Anch., Doutr. Cristã, I, 226); ...Nd'e'ikatuî oîepé'ĩ tiruã Tupã nhe'enga abŷagûera o îoupé i mombe'upyrûera mombegûabo abá supé... - Não pode sequer uma única vez contar para alguém a transgressão da palavra de Deus que foi contada para si. (Ar., Cat., 98); 5) mais ou menos, medianamente: Turusu'ĩ. - Ele é medianamente grande. (VLB, II, 34)
NOTA - Daí, no P.B., CAIOVÁ (ka'i + obá, "cara de macaco caí"), nome de um ramo dos índios guaranis, do sul do Brasil; TOPATINGA (tobá + ting + -a, "caras brancas"), nome que se dava aos holandeses no tempo da invasão holandesa do Nordeste (1630-1654).
teînhẽa (ou tenhẽa) (s.) - fábula (Fig., Arte, 76); lorota, bravata, patranha (VLB, II, 68), ficção: Tenhẽngatupabẽ osykyî i xupé. - Muitíssimas lorotas invocaram contra ele. (Anch., Dial. da Fé, 180); (adj.: tenhẽ) - fictício, vão: îerobîá-tenhẽa - glória vã (VLB, I, 148); nhe'ẽ-tenhẽa - palavras vãs (VLB, II, 54)
uke'imena (s.) - 1) o marido da cunhada (de m.), ou seja, o irmão; 2) o irmão casado do marido; 3) primo casado (de m.), filho de seu tio materno (Ar., Cat., 116v)
uruku (ou urukũ) (s.) - URUCU, URUCUM, 1) árvore bixácea (Bixa orellana L.), planta das matas tropicais e subtropicais do continente americano. Das sementes de seus frutos os índios produziam uma tinta vermelha com que se tingiam para se protegerem do sol e dos insetos e coloriam sua cerâmica e suas peças de algodão. Também é conhecida como URUCUZEIRO, URUCUEIRO, URUCUUBA, bixe; 2) nome da tinta que se extrai do urucuzeiro (D'Abbeville, Histoire, 226; Knivet, The Adm. Adv., 1228)
apare'yba (s.) - árvore de mangue do gênero Rhizophora. "...Tem a madeira vermelha e rija, de que se faz carvão.... Serve para curtir toda a sorte de peles." (Sousa, Trat. Descr., 205)
eîori - 2ª p. sing. irreg. do imper. de îur / ur(a) (t, t) (Anch., Arte, 57v): Eîori i mosykyîébo... - Vem para amedrontá-lo. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618); Eîori nde retamûama repîaka. - Vem para ver tua futura terra. (Léry, Histoire, 341); Eîori, mba'e-nem...! - Vem, coisa fedorenta! (Anch., Teatro, 44); Eîori, eîori! - Vem, vem! (Carder, The Rel., 1188)
ekó6 (t) (s.) - vida: Tekó-katu arekó. - Tenho vida boa. (VLB, II, 145); ...xe 'anga rekó-puku. - vida longa de minha alma (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); Asekó-monhang Pedro. - Faço Pedro ter vida (isto é, dou ordem de vida a Pedro). (Fig., Arte, 88)
Se traçarmos uma linha cronológica desde 1500 até os dias de hoje, podemos dizer que, em termos gerais, o tupi antigo foi falado até o final do século XVII, após o que foi perdendo terreno para a língua geral em seus dois ramos, o do Norte e o do Sul. A língua geral do Norte transformou-se no nheengatu e a do Sul desapareceu completamente no início do século XX.
Ibitipoca (MG). De ybytyra - montanha + pok - estourar + suf. -a: montanhas estouradas (i.e., com grutas). O Parque Estadual do Ibitipoca possui a segunda maior gruta de quartzito do planeta. É nome do século XVIII: "Neste dia se me mostrou para a parte de oeste uma altíssima serra chamada da Ibitipoca, de que nasce o rio Paraibuna [...]" (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 894)
Potirendaba (SP). De potyra + endaba (t) [v. in / en(a) (t)]: assentamento de flores, lugar em que estão as flores. Nome atribuído artificialmente, em 1919, a distrito do município de Rio Preto (fonte: IBGE). Em correto tupi antigo dir-se-ia 'ybotyrendaba.
akanga (s.) - cabeça: Oîké îugûasu, i akanga kutuka. - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça. (Anch., Poemas, 122); Xe parati 'y suí aîu, rainha repîaka, xe akanga moîegûaka. - Do rio dos paratis vim para ver a rainha, enfeitando minha cabeça. (Anch., Poemas, 152); Aîakangeky-ekyî. - Fiquei-lhe puxando a cabeça (pelos cabelos). (VLB, I, 42); A'e ré kori îasó tubixaba akanga kábo. - Depois disso, vamos quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); Mba'epe onong i akanga 'arybo? - Que puseram sobre sua cabeça? (Ar., Cat., 60v); Aîakangok mboîa. - Corto a cabeça à cobra. (Fig., Arte, 88) ● akangûera - cabeça fora do corpo, cabeça arrancada: pirá akangûera - cabeça (arrancada) de peixe (VLB, I, 61)
ebokûé (ou ebokûeî) 1) (dem. adj.) - esse (es, a, as): A'epe ebokûé nde îuraragûaîa pupé eremoerapûã abá amõ? - E com essa tua mentira tornaste alguém famoso? (Ar., Cat., 99v); 2) (adv.) - eis que esse (es, a, as); eis aí, eis que lá (Pode levar o verbo para o modo indicativo circunstancial se o anteceder.): Ebokûeî Pedro sóû. - Eis que lá vai Pedro. (Fig., Arte, 94); Ebokûé nde membyra, kunhã gûé!... - Eis aí teu filho, ó mulher! (Ar., Cat., 63); Ebokûé asó. - Eis que vou. (VLB, I, 109); Ebokûeî i xóû. - Eis que aí ele vai. (VLB, I, 109); Ebokûeî xe sóû. - Eis que vou. (Fig., Arte, 165); 3) (adv.) aí, lá: Ebokûé rupi ekûab. - Vai por aí. (VLB, II, 81) ● ebokûé aé - esse mesmo (VLB, I, 127)
îá1 (s.) - totalidade, repleção; (adj.) repleto; (xe) estar à medida de, ser segundo a capacidade de, ser de acordo com a quantidade ou o número de, ser de conformidade com (medida, número ou peso): ...Xe îá nhote. - Está segundo minha medida, somente. (VLB, I, 79); N'i îáî pirá sembiara. - Não são segundo a quantidade deles os peixes que ele apanha (isto é, o que ele pesca é muito aquém dos peixes que há). (VLB, II, 16); Na xe îáî. - Não está em conformidade comigo, não é igual a mim. (VLB, I, 99)
NOTA - TABOCA, no P.B., além do significado já apresentado, também designa: 1) recipiente feito com o colmo da taboca: "...Destilam aquelas árvores este licor que o gentilismo domado aproveita espremendo aquele algodão em TABOCAS grossas e ocas." (Caetano da Costa Matoso, Descrição do Bispado do Maranhão, p. 933, 1749); 2) instrumento de sopro, feito com taboca: "...Então sopram fortemente, e costumam persuadir aos outros que bebam e dancem ao horrendo som de uma TABOCA e tambor." (D. Fr. João de S. José, Viagem e Visita do Sertão em o Bispado do Grão Pará em 1762 e 1763, 1762, p. 368). Daí, TABOCAS (nome de localidade da BA) (v. p. 386).
Canguaretama (RN). De kangûer + etama (t): região de esqueletos. "A história de Canguaretama registra o episódio denominado "Martírio de Cunhaú", em 1645, durante o domínio holandês, quando o judeu alemão Jacob Rabi, delegado do Conde Maurício de Nassau junto a tribo dos Janduís, ali chegou, convocando os moradores para um encontro pacífico, após a missa dominical. Nesse domingo, por ocasião da elevação da hóstia, mandou que os índios invadissem a capela, matando todos os presentes, e até os que se encontravam na casa grande do engenho foram massacrados." (fonte: IBGE)
NOTA - CARAPINA é nome de uma variedade de pica-pau. Com tal acepção, porém, não tem registro em textos coloniais. No sentido de carpinteiro, contudo, é palavra muito usada: "Este foi João Pereira Barbosa, CARAPINA de officio." (Bettendorff [1698], p. 166.)
momara'ar2 (v.tr.) - fazer doente, deixar doente, fazer adoecer: ...O moaîureme o momara'areme a'e i arybeba'erama biã sasyeté, memetipó i arybeba'erame'yma... - Se ele tem muita dor quando o empalidece e quando o deixa doente aquilo que se abrandará, quanto mais aquilo que não se abrandará. (Ar., Cat., 165); Aîmomara'ar. - Faço-o doente. (Anch., Arte, 48)
îase'o2 (v. intr.) - 1) chorar: Ereîase'o îepi. - Choravas sempre. (Anch., Poemas, 96); Osem okarype, oîase'o-asy-katûabo. - Saiu para o pátio, chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v); Ta sasẽ, oîasegûabo! - Que eles gritem, chorando! (Anch., Teatro, 56); T'oroîase'o memẽ... - Choremos sempre. (Anch., Teatro, 122); 2) ganir (o cão) (VLB, I, 146) ● oîase'oba'e - o que chora: Tekokatueté rerekoara oîase'oba'e. - Os que têm a bem-aventurança são os que choram. (Ar., Cat., 19); îasegûaba - tempo, lugar, modo, etc. de chorar: ...ikó ybytygûaîa îasegûaba pupé - neste vale, lugar de chorar (Ar., Cat., 14v)
îemoabangab (ou îemoabangá) (v. intr.) - acovardar-se, desencorajar-se: Asé aé oîemoabangá i mborypa... - A gente mesma acovarda-se, consentindo-o. (Anch., Diál. da Fé, 231)
NOTA - Daí, no P.B., INHAMBUQUIÁ, INAMBUQUIÁ, NAMBUQUIÁ, NHAMBUQUIÁ, INAMUQUIÁ (inhambu + ky'a, "inhambu sujo"), nome de uma ave tinamídea); MERUQUIÁ (me'eru + ky'a, "meru sujo"), nome de planta gramínea.
yku (t, t) (s.) - 1) líquido; coisa líquida (Fig., Arte, 75); 2) coisa rala como polme (VLB, II, 95); [adj.: yku (r, t)] - líquido, ralo; derretido; (xe) derreter-se: Xe ryku. - Eu me derreti. (VLB, II, 95; Anch., Arte, 13) ● tykuba'e - o que é líquido, o que é ralo (VLB, II, 95)
DESCONHECIDO [1798], Bahia -Devassas e Seqüestros. Ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
arybé (s.) - 1) tranquilidade, bonança, quietação; (adj.) tranquilo; quieto, bonançoso (falando-se do mar) (VLB, I, 18); 2) abrandamento, mitigação, melhora, cessação: ...Asé mba'easy arybé potá. - Querendo o abrandamento de nossa doença. (Ar., Cat., 91v); (adj.) (xe) - amainar (p.ex., a fúria), mitigar-se; aquietar-se, sossegar; parar de, cessar (p.ex., a doença): Nde arybé. Anheté kó nde rapé... - Aquieta-te. Verdadeiramente este é teu caminho. (Anch., Teatro, 162); Xe arybé (mba'e) suí. - Eu sosseguei das coisas. (VLB, I, 127, adapt.); Akanunduka porarasara... "-I arybé temõ xe suí mã" e'i... - O que sofre febre diz: -Ah, oxalá ela cessasse! (Ar., Cat., 165) ● i arybeba'e - o que se aquieta, o que melhora, o que se mitiga: ...Opakatu sasyeteba'e i arybeba'erame'yma porarábo. - Sofrendo tudo o que é doloroso, que não se mitigará. (Ar., Cat., 164)
NOTA - SARARÁ, no P.B., assumiu outros significados: 1) diz-se da cor alourada ou arruivada do cabelo muito crespo, característico de certos mulatos; 2) diz-se do cabelo crespo e dessa cor: cabelo sarará; 3) diz-se de mestiço com cabelo sarará: mulata sarará (in Novo Dicion. Aurélio).
Pituna, Ilha (AM). De pytun + -a: (ilha) escura. Durante a fase de emprego das línguas gerais coloniais, foi comum o uso de adjetivos tupis com substantivos portugueses: Monte Piranga, Rio Una, etc.
moîyb2 (ou moîy) (v.tr.) - cozer, assar, cozinhar: ...A'epe i moîypa, i gûabo. - Ali assando-os e comendo-os. (Anch., Teatro, 140); ...O emi'urama tiruã moîybe'yma... - Não cozendo sequer sua comida. (Ar., Cat., 11v); Emoîyb pirá. - Coze o peixe. (Léry, Histoire, 367); Emoîyb kaûĩ amõ. - Coze algum cauim. (Léry, Histoire, 367); Oú bé senha'ẽpepó t'omoîy xe renondé. - Veio também sua panela para que os cozinhe adiante de mim. (Anch., Teatro, 66)
NOTA - Daí, no P.B., PIRAPUCU ("peixe comprido"), nome de um peixe caracídeo; ACARAPUCU ("acará comprido"), nome de um peixe balistídeo.
NOTA - Daí, o nome do chefe TAMANDIBA, um dos morubixabas aliados dos portugueses quando da fundação de São Paulo de Piratininga, em 1554.
(Marcgrave) MARCGRAVE, George, História Natural do Brasil. (Tradução do Mons. Dr. José Procópio de Magalhães da primeira edição latina intitulada Historia Naturalis Brasiliae, Ludovicum Elzevirium, Amsterdam, 1648.). Imprensa Oficial do Estado, São Paulo, 1942. (cotejada com a edição original existente na biblioteca do IEB - USP no que tange à grafia das palavras tupis)
moŷrõ (v.tr.) - 1) irar, irritar, agastar: Xe moaîu-marangatu, xe moŷrõetekatûabo, aîpó tekó-pysasu. - Importuna-me bem, irritando-me muitíssimo, aquela lei nova. (Anch., Teatro, 4); ...Pemoŷrõ Pa'i Îesu... - Irritastes o senhor Jesus. (Anch., Teatro, 42); 2) indispor (contra algo ou contra alguém: compl. com supé): Aîmoyrõ-yrõ (abá) supé. - Fiquei-o indispondo contra o homem. (VLB, I, 48, adapt.); 3) escandalizar (VLB, I, 122)
NOTA - Dessa palavra origina-se, também, o nome de uma palmácea, o BABAÇU, que produz frutos com sementes oleaginosas e comestíveis, das quais se extrai um óleo, usado principalmente na alimentação. Das sua folhas e espatas são fabricados cestos, esteiras, chapéus, etc., sendo também chamada BAUAÇU, BAGUAÇU, OAUAÇU, AUAÇU, AGUAÇU, GUAGUAÇU, UAUAÇU.
NOTA - Daí, no P.B., INIMBÓ ('y + enimbó, "corda d'água"), nome de uma planta trepadeira da família das leguminosas, comum nas restingas.
NOTA - A palavra JAGUAR, de origem tupi, está presente em muitas línguas do mundo, passando a designar felinos de outros continentes, como a África. É o nome, também, de uma marca britânica de automóveis. Dali originam-se, no P.B., muitas palavras: JAGUARAÍVA (îagûar + aíb +-a, "cão ruim"), cão que não serve para a caça; JAGUAPITANGA ("cão cinzento"), raposa-do-campo; JAGUAPEBA, JAGUAPEVA (îagûar + peb + -a), variedade de cães domésticos de pernas curtas. Dali originaram-se, também, muitos nomes de lugares no Brasil: JAGUANAMBI (CE), JAGUAQUARA (BA), etc.
mbogûatá (ou mogûatá) (v.tr.) - fazer andar: Xe katûagûama ri ene'ĩ xe mbogûatábo. - Eia, faze-me andar nas minhas virtudes. (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1686)
kakuab2 (ou kakugûab) (v. intr.) - conduzir-se bem, ter vida direita (a mulher): N'akakuabi. - Não tenho vida direita (isto é, sou uma prostituta). (VLB, II, 27)
NOTA - A palavra CURUMIM, do P.B., provém da língua geral setentrional, do século XVIII, um desenvolvimento histórico do tupi antigo. (Frei Arronches, O Caderno da Língua, p. 172). Daí, talvez, provenha GURI, menino. Há também as formas variantes COLOMIM, CULUMIM, COLOMI e CULUMI. Podem também significar, além de menino, criado jovem (Amaz.).
museta'yba (ou musuîta'yba) (s.) - MUCITAÍBA, árvore da família das leguminosas (Zollernia ilicifolia (Brongn.) Vogel), de madeira incorruptível e que cheira bem. Era chamada em Pernambuco de pau-santo. (Sousa, Trat. Descr., 221)
pyky'yra (m) (s.) - 1) irmã mais moça (de m.): O me'engabeté pyky'yra koîpó tykera... resé obykyba'e n'e'ikatuî omendá o me'engabeté resé tiruã... - O que tocou na irmã mais moça ou na irmã mais velha de sua noiva não pode casar-se nem mesmo com sua noiva. (Ar., Cat., 131); 2) prima mais moça (de m.): Oîmombe'u uman karaibebé i pyky'yra pé i puru'aramo sekó. - Já anunciara o anjo a sua prima estar ela grávida dele. (Ar., Cat., 6v); 3) sobrinha mais moça (de m.) (Ar., Cat., 270)
Canhima (arroio do RS). De kanhema: sumiço, sumidouro, abertura por onde um rio desaparece terra adentro, ressurgindo em outros sítios mais baixos; escoadouro. Termo do tupi antigo que assumiu tal sentido na língua geral meridional. No nheengatu, sumidouro é mucanhemotyua, termo que também inclui o verbo kanhem (sumir), do tupi (Stradeli, p. 333).
Itapararoca (RN). De itá + aparar + oka: casa de pedra vergada. É nome de mais de três séculos: "(...) S. Joſeph da Itapararocas" (Dom Sebastião Monteyro da Vide [1707], Catalago, p. 30).
Tambaú (SP). "Legoa e meia acima d'este salto se encontra a cachoeira Avanhandava-mirim, e logo a do Campo, da qual se navega o Tieté pelo espaço de 14 legeas de rio limpo, até à cachoeira Cambayu-voca, a que se seguem as duas Tambaú-mirim, e Tambaú-uassú..." (Vasconcellos de Drummond [1797], Descripção geographica da capitania de mato-grosso: anno de 1797, p. 240). Da língua geral meridional, tambá*, concha bivalve + 'y: rio das conchas.
CARVALHO, Antônio de Albuquerque Coelho de [1710], (ex Biderman, M.T.C., (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
moabangab2 (v.tr.) - 1) desobedecer a: Aîmoabangab. - Desobedeci a ele. (VLB, I, 99); 2) vencer com razões (ou doutra maneira) (VLB, II, 143); 3) resistir a (VLB, II, 103)
umbykyra (t) (s.) - 1) rabadilha, uropígio SAMBIQUIRA; 2) pequeno osso que termina inferiormente à coluna vertebral do homem, cóccix (Castilho, Nomes, 40)
ekó2 (t) (s.) - cultura, conjunto de valores: Nde rekokatu potá, aroŷrõ xe rekopûera. - Querendo tua virtude, detesto minha cultura antiga. (Anch., Poemas, 104); Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava de acordo com a cultura primeira. (Anch., Poemas, 114)
îukeri (s.) - JUQUERI, nome comum de ervas leguminosas-mimosoídeas do gênero Mimosa L., de flores e frutos venenosos, que têm como antidoto oposto suas próprias raízes. Engordam ovelhas e cabras e são nocivas ao homem. Uma das espécies é a Mimosa pudica L., denominada vulgarmente dormideira, sensitiva, malícia-de-mulher, caaicovê, etc. (Piso, De Med. Bras., III, 170; IV, 202)
kaba2 (s.) - gordura (p.ex., do corpo); nata (do leite) (VLB, II, 48): xe kaba, nde kaba, i kaba - minha gordura, tua gordura, a gordura dele (Castilho, Nomes, 31); (adj.: kab) - gorduroso, que tem gordura (VLB, I, 149)
moingoé (v.tr.) - 1) diferenciar, fazer diferente: ...Amõ kunhã suí i moingoébo... - Diferenciando-a das outras mulheres. (Anch., Poemas, 86); 2) distinguir, tratar com distinção ● moingoeara - o que diferencia; o que distingue, o que trata com distinção: Emonã serekopyra..., rakó opytá-katu, o apysykamo o moingoeara ri... - Assim tratado, certamente fica bem, satisfazendo-se com o que o distingue. (Ar., Cat., 85v)
yky'yra (ou yke'yra ou eky'yra) (t, t) (s.) - 1) irmão mais velho (de h.): ...Xe ryky'yra pyri. - Junto de meu irmão. (Fig., Arte, 131); Gûixóbo asobaîtĩ nde ryke'yra. - Indo eu, encontrei teu irmão. (Fig., Arte, 164); 2) primo mais velho (de h.); filho do irmão do pai (de h.); 3) sobrinho mais velho, filho do irmão (de h.) (Ar., Cat., 116v)
Mantiqueira (serra de MG). De amana - chuva + tykyra - gota: gotas de chuva. "E dahi vem o dizerem, que todo o que paſſou a Serra de Amantiquira, ahi deixou dependurada, ou ſepultada a conſciencia." (André João Antonil [1711], p. 161).
DESCONHECIDO [1704], Encontrando quilombos (transcrição por Maria Filgueiras Gonçalves e introdução de Ana Lúcia Louzada Werneck - Notícia diária e individual das marchas [,] e acontecimentos ma(i)s condigno(s) da jornada que fez o senhor mestre de campo, regente[,] e guarda(-)mor Inácio Correa Pamplona, desde que saiu de sua casa[,] e fazenda do Capote às conquistas do sertão, até se tornar a recolher à mesma sua dita fazenda do Capote, etc., etc.etc. Anais da Biblioteca National, 108 (1988), pp. 47-113
NOTA - Daí, no P.B., ANGAPORA ('anga + pora, "habitante das abrigadas", nome de tartaruga amazônica. Daí, também, o nome geográfico ACUTIANGA (AM) (v. p. 386).
kurimã (ou kuremã ou koîrimá) (s.) - CURIMÃ, CURUMÃ, nome comum a várias espécies de peixes da família dos mugilídeos, do oceano Atlântico (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 181; Léry, Histoire, 348-349)
NOTA - Daí provêm muitas palavras do P.B.: BOICAÁ (mboî + ka'a, "erva de cobra"), hortelã; BOICININGA (mboî + sining + -a, "cobra que retine"), cascavel; BOIQUATIARA (mboî + kûatiar + -a, "cobra pintada"); BOIRU (mboî + irũ, "cobra companheira"), outro nome da muçurana, que come outras cobras venenosas; BOIÚNA (mboî + un + -a, "cobra preta"), figura mitológica de índios da Amazônia, que toma a forma de cobra e faz virar as embarcações.
ykera (t, t) (s.) - 1) irmã mais velha (de m.): O me'engabeté pyky'yra koîpó tykera... resé obykyba'e n'e'ikatuî omendá o me'engabeté resé tiruã... - O que tocou na irmã mais moça ou na irmã mais velha de sua noiva não pode casar-se nem mesmo com sua noiva. (Ar., Cat., 131); 2) prima mais velha (de m.): Kó 'ara nungara pupé Santa Maria sóû o ykera amõ ybá Santa Isabel supa. - Num dia semelhante a este, Santa Maria foi para visitar uma certa prima sua, Santa Isabel. (Ar., Cat., 6v)
îepé1 (conj.) - ainda que, embora, por mais que, apesar de, mesmo que: Pesa'ang îepé, peuî korite'ĩ nhote xe pyri... - Embora tentásseis, estivestes deitados só pouco tempo junto a mim. (Ar., Cat., 53); Îepémo asó... - Ainda que eu fosse... (Anch., Arte, 23v); Îepémo xe só umani... - Embora eu já tivesse ido... (Anch., Arte, 24); Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Isso não seria possível enumerar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); I Tupãok îepé, Tupãmongetá-ngetábo, aîmomoxy pabenhẽ ... - Embora eles tenham igrejas para ficar rezando, a todos arruinei. (Anch., Teatro, 132); Ereîpysyrõ îepéne, nde pó suí anosẽne. - Ainda que os libertes, retirá-los-ei de tua mão. (Anch., Teatro, 40); Té! Morapitîara ixé, angaîpaba sykyîeba, morubixaba îepé. - Oh, eu sou assassino, causa do temor aos pecados, mesmo dos reis. (Anch., Teatro, 90)
karimã (s.) - CARIMÃ, CARIMÁ, massa de mandioca puba, que é feita colocando-se raízes frescas na água, que apodrecem ali e, depois de retiradas e postas para secar na fumaça, são finalmente socadas (D'Abbeville, Histoire, 305; Staden, Viagem, 141; Knivet, The Adm. Adv., 1232): karimã ku'i - farinha de carimã (Staden, Viagem, 86)
katûaba (s.) - excelência, boa qualidade, virtude, bondade: Katunhẽ eîerurébo oré katûagûama ri! - Eia, roga por nossa virtude! (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); Abámo... mba'e-katu 'uagûera n'oîkuabi xûé... sé katûagûera resé o esaraîamo...? - Alguém não reconheceria ter comido algo bom, esquecendo-se da excelência de seu sabor? (Ar., Cat., 88v)
kopisaba (s.) - lavoura, roça, capixaba (VLB, II, 19); local apropriado para plantação, roça (Rodrigues, Relação, in S. Leite, Novas Cartas Jesuíticas, 219)
moín1 (v.tr.) - 1) pôr, colocar, fazer estar, assentar: Opukubo taba amoín. - Assento a vila de comprido. (Anch., Arte, 43); Mba'erama ripe asé tĩme o endy moíni? - Por que põe sua saliva no nariz da gente? (Ar., Cat., 81v); Tupana ri nhõ nde 'anga eîmoín... - Em Deus somente faze estar tua alma. (Ar., Cat., 141); Aîpepó-moín. - Pus-lhe penas. (VLB, I, 112); 2) edificar: Nde rokangaturamûama oroîmoĩ ... - Tua casa santa edificamos. (Anch., Poemas, 146); 3) prender: O îoybyri aîmoín. - Prendi-os um ao lado do outro. (VLB, II, 85); O îoaîuri aîmoín. - Prendi-os um ao pescoço do outro. (VLB, II, 85); Aîmoín itá resé. - Prendi-o a uma pedra. (VLB, I, 23) ● moĩndara - o que põe, o que prende, etc.: ...Ikatupe nde moĩndara. - O que te põe nu. (Ar., Cat., 187)
NOTA - Daí, no P.B., CAABOPOXI (ka'a + oba + poxy, "folhas feias do mato"), nome de uma planta trepadeira convolvulácea, com folhas partidas; MANIÇOBA ("folhas de mani"), prato típico da região Norte do Brasil, preparado com folhas de mandioca cozidas durante vários dias e, depois, misturadas com carne ou peixe; PACOBA ("folhas das pacas"), nome indígena dado à bananeira; CAPERIÇOBA, ACARIÇOBA, nomes de plantas brasileiras, etc.
NOTA - Daí, no P.B., CAABOPOXI (ka'a + oba + poxy, "folhas feias do mato"), nome de uma planta trepadeira convolvulácea, com folhas partidas.
pu'am1 (ou pu'ã) (v. intr.) - estar levantado ou de pé; levantar-se (o que estava deitado), empinar-se, erguer-se: ...Pepu'am, t'îasó sapépe sobaîtĩamo... - Levantai-vos, vamos em seu caminho para encontrá-lo. (Ar., Cat., 53v); Koromõ ybytu pu'amine. - Logo o vento se levantará. (VLB, II, 143)
remebé (posp.) - durante, enquanto: O sy rygépe sekó remebé Tupã i mongaraíbi. - Durante a estada dele no ventre de sua mãe, Deus o santificou. (Ar., Cat., 6); Ixé serasó remebé. - Enquanto eu o levo. (VLB, I, 118)
tubyra (ou tybyra) (s.) - pó, poeira (Anch., Arte, 14; Fig., Arte, 76): Eîpytybyrok xe roka... - Arranca de minha casa a poeira dos pés. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); yby tubyra - poeira da terra (VLB, II, 80)
(Rodrigues) RODRIGUES, Pe. Jerônimo, A Missão dos Carijós. Relação do Pe. Jerônimo Rodrigues (1607). Publicada por Leite, Novas Cartas Jesuíticas, 1940, pp. 196-246.
NOTA - Daí provêm, em português, ABAÚNA (abá + un + -a, "índio escuro"), índio não miscigenado; ABAJU (abá-îuba, "homem amarelo"), pardo, mestiço de índio e branco; ABANHEÉM, ABANHEENGA ("língua de índio"), nome dado no século XIX ao tupi antigo; ABAÍBA (abá + aíb + -a, "índios brutos", i.e., ferozes), povo indígena extinto que ocupava a região da atual Zona da Mata (MG).
apysá2 (xe) (v. da 2ª classe) - 1) ouvir, dar ouvidos a, importar-se: Na xe apysáî. - Não dou ouvidos, não me importo. (VLB, II, 46, 122); 2) na negativa também significa teimar, porfiar, insistir, não desistir (VLB, II, 125): Kunhã rakypûemondóbo, apŷaba n'i apysáî... - Seguindo o rastro das mulheres, os índios não desistem. (Anch., Teatro, 150); Na xe apysáî. - Insisti. (VLB, I, 118)
é4 (part.) - pois, uma vez que: -Ogûerobîarype asé eboûinga? -Nd'ogûerobîari, mo'ema é. -Acredita a gente nisso? -Não acredita, pois é mentira. (Anch., Doutr. Cristã, I, 220)
îurebeba (ou îurepeba ou îuripeba) (s.) - JURUBEBA, nome comum a várias espécies de árvores do gênero Solanum, da família das solanáceas, tidas como de valor medicinal (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 89; Piso, De Med. Bras. IV, 190)
îytó (s.) - JITÓ, árvore da família das meliáceas (Guarea macrophylla subsp. tuberculata (Vell.) T.D. Penn.) cuja casca tem propriedades anti-sifilíticas depurativas. É também chamada ataúba, utuaúba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 120)
komixã (s.) - 1) GRUMIXAMA, GRUMIXAMEIRA, planta da família das mirtáceas (Eugenia brasiliensis Lam.), com frutos pequenos, à feição de murtinhos; 2) o fruto dessa árvore (Brandão, Diálogos, 217)
tybyrok (v.tr.) - limpar de pó, arrancar a poeira de (VLB, II, 22): Eîpy-tybyrok xe roka... - Arranca de minha casa a poeira dos pés... (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618)
NOTA - Daí, no P.B., pelo nheengatu ou pela língua geral meridional, MANAUARA ("o morador de Manaus", AM); MARAJOARA, pertencente ou relativo à ilha de Marajó (PA); PARNANGUARA, pertencente ou relativo a Paranaguá (PR); XINGUARA, o que é do Xingu ou nele mora. Daí, também, IGARUANA (ygara + -ygûana, "morador de canoa"), canoeiro navegador.
FERREIRA, Alexandre Rodrigues [n.d.], Viagem Filosófica ao Rio Negro. Edição fac-similar da primeira edição publicada na Revista do Instituto Histórico e Etnográfico Brasileiro: 48(1):1-234, 49(1):123-288, 50(2):11-141 e 51(1):5-166. [Belém], Museu Paraense Emílio Goeldi, 1983.
marãbirĩ (ou marãmirĩ) (adv.) - mal, perversamente, no mal: O a'yra marãbirĩ sekóreme senonhene'yma. - Não corrigindo seu filho quando ele estiver no mal. (Anch., Diál. da Fé, 206); N'abasẽ-mirĩ-angáî marãbirĩ ikó abá rekopûera amõ supé... - Não encontrei nem um pouquinho, absolutamente, algum ato deste homem no mal. (Ar., Cat., 58v)
mondó (v.tr.) - 1) mandar, fazer ir, enviar de cá para lá: -Mamõpe Pilatos senosemi a'ereme? -Okarype... i mondó-nhẽ-motá. -Para onde Pilatos o retirou, então? -Para a a praça, querendo fazê-lo ir, sem problemas. (Ar., Cat., 60v); Aîmondó-aíb. - Mandei-o afrontado. (Fig., Arte, 138); Eîori t'eremondó xe suí tekoangaîpaba. - Vem para que faças ir de mim a maldade. (Anch., Poemas, 128); Pedro osó o mondóreme. - Pedro vai porque o mandam. (Fig., Arte, 84); ...Kori é t'oromondóne. - Hoje mesmo hei de te fazer ir. (Anch., Teatro, 32); 2) largar (p.ex., a corda, algo da mão) - Aîmondó-mondó. - Eu os fui largando. (VLB, II, 18); 3) repelir, expulsar, enxotar (compl. com suí): ...pe 'anga suí i mondóû. - enxota-os de vossas almas. (Anch., Teatro, 50) ● mondoara - o que manda, o que envia; o que enxota, etc. (Fig., Arte, 70): Aîkobé pe mondoarama... - Eis que aqui estou, o que vos enxota. (Anch., Poesias, 56); mondoaba (ou mondosaba) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de fazer ir, de mandar, de enxotar, etc.: Osó o mondoápe. - Vai aonde o mandam. (Fig., Arte, 84); mberu mondoaba - instrumento de enxotar moscas, abano de moscas (VLB, I, 48); emimondó (t) - o que alguém manda: Xe remimondó. - O que eu mando. (Fig., Arte, 70)
NOTA: -GUAÇU e -AÇU aparecem como elementos de composição em muitas palavras do P.B.: ABARÉ-GUAÇU (termo usado na quimbanda), grande feiticeiro; ANDIRÁ-GUAÇU, nome de um morcego; CAMBARÁ-GUAÇU, nome de uma planta; SABIÁ-GUAÇU, nome de uma ave; TIMBÓ-AÇU, nome de uma planta, etc. AÇU também é usado como adjetivo: "...No Catete ...pontifica o chefe AÇU." (Graciliano Ramos, in Linhas Tortas, apud Novo Dicion. Aurélio).
Araponga (nomes de localidades de vários estados). De gûyrá - pássaro, ave + ponga - som de coisa oca, som cavo: pássaro do som cavo. O sentido de ponga é conhecido indiretamente: Montoya, em seu Tesoro, p. 314, dá-nos essa informação que apresentamos.
andá (s.) - ANDÁ, árvore frondosa da família das euforbiáceas (Joannesia princeps Vell.). Também é conhecida como ANDÁ-AÇU, coco-de-purga, cutieira, cutieiro, fruta-de-arara, fruta-de-cutia, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272). "Da fruta se tira um azeite com que os índios se untam." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 43)
gûariba (s.) - GUARIBA, nome de muitos símios da família dos cebídeos, de cor escura, com barba na maxila inferior e com grito característico. São herbívoros e alimentam-se de folhas e frutas, vivendo em grupos de mais de 12 indivíduos, comandados pelo capelão, o macho mais velho do bando. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 226; Sousa, Trat. Descr., 253)
îapika'i (s.) - JAPICAÍ, var. de barbasco, planta cujo veneno entorpece ou mata os peixes, usado pelos índios em suas pescarias; espécie de timbó (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272; VLB, I, 51)
Sapopemba (SP). De sapó + pem + -a: raízes angulosas. " [...] as mesmas raízes crescendo fora da terra, e unidas ao tronco umas conchas do feitio de grandes orelhas, a que os naturaes chamam sapopemas [...]." (Pe. João Daniel [1757], p. 39)
apỹîa2 (ou apynha) (s.) - 1) argola, aro, círculo; argolas das cadeias das cordoalhas dos navios (VLB, I, 143): -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îuatĩ-embó apynha. -Que puseram sobre sua cabeça? -Uma argola de vergônteas de espinhos. (Ar., Cat., 60v); itá-apynha - argola de ferro (VLB, I, 41); 2) redondeza (VLB, II, 99); (adj.: apỹî) - redondo, circular: Xe apỹî. - Eu sou redondo. (VLB, II, 99)
ekomemûãaba (t) (s.) - maldade: Nde rekomemûãagûera repyme'ẽngatu roîré, t'ereîekosubeté tekoporanga resé. - Após resgatares bem tuas maldades antigas, que te regozijes muito com a virtude. (Ar., Cat., 250)
nhemopysasu (v. intr.) - fazer-se novo, renovar-se: T'îanhemopysasu, tekopûera pe'apapa. - Que nos renovemos, repelindo completamente os costumes antigos. (Anch., Poemas, 164)
opé2 (t) (s.) - vagem (p.ex., de fava, feijão, etc.): sopé - vagem dele; topé-kyra - vagem verde; topé-pungá - vagem intumescida, cheia de feijões; topé-tininga - vagem seca, pronta para ser colhida (VLB, II, 140)
pindá2 (s.) - PINDÁ, ouriço-do-mar, nome dado a muitas espécies de equinodermos equinoides, animais de corpos globulares, hemisféricos, revestidos por espinhos móveis (Sousa, Trat. Descr., 294)
umeri (s.) - UMIRI, MERI, UMIRIZEIRO, árvore alta da família das humiriáceas (Humiria floribunda (Mart.) Cuatr.), de flores brancas, fruto comestível. Verte óleo ao chão no princípio do inverno, sendo de aroma excelente e de propriedades medicinais e usado também como perfume e aromatizante. (D'Abbeville, Histoire, 225)
Cacatuba (riacho de PE). De ka'a + katu - limpo (VLB, II, 22) + tyba: ocorrência de mata limpa. No guarani também existe caá catu, com esse sentido (Batista Caetano, p. 63) e, igualmente, no Tembé-Tenetehar (Boudin, I, p. 92).
Itacoatiara (AM). "Nas margens do Amazonas há ũa paragem, entre Pauxiz, e a foz do Rio Madeira, chamada na língoa dos índios naturaes — Itacotiara — que quer dizer — pedra pintada ou debuxada; vem-lhe o nome de várias figuras, e pinturas delineadas naquelas pedras; e pouco mais acima estão estampadas em outras pedras algũas pegadas de gente." (Pe. João Daniel [1757], pp. 61-62). De itá + kûatiar + -a: pedras pintadas. São marcas do homem pré-histórico brasileiro.
Tietê (rio de SP). "[...] no dia 28 de Julho de 1767 voltou com as canoas do seu transporte pelo rio Anhambí, que em São Paulo se chama Tieté [...] (Pedro Taques, Nobiliarquia Paulistana, p. 18). De ty + eté: rio muito bom, rio a valer.
a'ysé (t) (s.) - 1) parente, parentela, nação, raça: Îagûara biãé ererasó, gûa'ysé o îoesé posé o ẽme, oîepysyrõ bé'ĩ... - Pois se levas cães, se estiverem eles ao lado um do outro da sua própria raça, acolhem-se um pouco mais. (Anch., Doutr. Cristã, II, 111); 2) parente da nação ou geração da mulher: xe ra'ysé - os parentes de minha mulher (Ar., Cat., 115v)
erekoara2 (t) (s.) - 1) guardião, o que toma conta de; tutor (como de órfão) (VLB, II, 129); Iesu toryberekoara - Jesus, guardião da alegria. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618); Oré oroîkó pe rerekoaretéramo. - Nós somos vossos verdadeiros guardiães. (D'Abbeville, Histoire, 341v); 2) governante, regedor (de um povo, de uma aldeia): Ereîporakápe taba rerekoara nhe'enga...? - Cumpriste as palavras do governante da aldeia? (Ar., Cat., 101); 3) aprisionador: Marã e'ipe Pilatos serekoaretá supé? - Como disse Pilatos aos seus aprisionadores? (Ar., Cat., 58v); 4) guia, o que guia, regente (de música ou dança): Îasytatá serekoarama resé... pé kuabe'ẽsaramo... - Pela estrela que os guia, como a que mostra o caminho. (Ar., Cat., 121); 5) o responsável por: 'Ikatu bé abá omendá amoaé abaré robaké abaré ogûerekoara remimotara rupi. - Podem também as pessoas casar-se diante de um outro padre, de acordo com a vontade do padre responsável por elas. (Ar., Cat., 128)
mondyk3 (v.tr.) - 1) abrasar, queimar: Akusu-mondyk. - Queimo campinas. (VLB, I, 140; II, 93); ...Opabẽ taba mondyki. - Todas as aldeias abrasou. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618); 2) acender: ...Tatá... îaîmondyk... - Acendemos o fogo. (Ar., Cat., 6)
mono'ong (v.tr.) - ajuntar, reunir (VLB, I, 29): ...T'osó xe 'anga îepi tekokatu mono'onga. - Que vá sempre minha alma ajuntando virtudes. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618)
NOTA - Daí, no P.B., CAPINAR (ka'a + pin + -a, "rapar o mato"), limpar a terra de ervas indesejáveis que crescem entre as plantas que se cultivam.
urapegûasu (s.) - jito, planta meliácea (Guarea macrophylla subsp. tuberculata (Vell.) T.D. Penn.), de cuja raiz é extraído um remédio de efeito purgativo (Piso, De Med. Bras., IV, 188)
NOTA - A palavra URU designa hoje, no P.B., cesto de palha de carnaúba, dotado de alça; bolsa, saco. No romance "Iracema", José de Alencar utilizou o termo: "...Iracema colheu sua alva rede de algodão com franjas de penas, e acomodou-a dentro do URU de palha trançada."
aupaba1 (s.) - páreas, membrana que envolve o feto ou parte do cordão umbilical, que fica na mãe depois do nascimento do bebê (VLB, II, 65; Castilho, Nomes, 30)
ybakuna (s.) - nuvem escura, nuvem cerrada (VLB, II, 52): Karaíba osapukaî tenhẽ "-Terre, terre". Ybakuna supinhẽ. - Os homens brancos gritam, sem motivo, "-Terra, terra". Na verdade, são nuvens escuras. (D'Abbeville, Histoire, cap. LI)
Itamarati (ilha do PA). Da língua geral setentrional itá + mirim + ty: rio das pedras pequenas: "E assim por ele e já sem pedras viemos ao sítio chamado Itamarati, que quer dizer pedra pequena, que fica imediato a um pequeno rio chamado do mesmo nome, que atravessei." (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 886).
_____ Histoire d'un Voyage fait en la Terre du Bresil autrement dite Amerique. Reveue, corrigee et bien augmentee em ceste seconde edition, tant de figures, qu' autres choses notables sur le sujet de l'auteur. Genève, Antoine Chuppin, [1580]. (Edição diplomática com texto estabelecido, apresentado e anotado por Frank Lestringant. L.G.F., Le Livre de Poche, Bibliothèque Classique, Paris, 1994.) (Sempre que não for mencionado o ano de publicação, a edição utilizada foi a de 1578.)
'apytera1 (s.) - o alto da cabeça: Îandé 'apytera 'arybo 'ara rume, xe ruri. - Quando o sol estava no alto de nossas cabeças, eu vim. (VLB, I, 112; Castilho, Nomes, 29)
îaborandy (ou îaborandyba) (s.) - JABORANDI, 1) nome comum a vários arbustos da família das rutáceas (Pilocarpus jaborandi Holmes, Pilocarpus pennatifolius Lem. e outras espécies); 2) espécies de plantas piperáceas dos gêneros Ottonia e Piper, a bétele (Piper eucalyptifolium Rudge) e a cutia (Piper tenue Kunth), a Ottonia anisum Spreng., a Ottonia propinqua Kunth, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 36; 69; Sousa, Trat. Descr., 209)
poru2 (v.tr.) - revezar-se com [em algo: compl. com esé (r, s)]: -Setápe i nupã-nupãsara? -Setá, sesé oîoporu-porûabo... - Eram muitos os que estavam a castigá-lo? -Eram muitos, ficando a revezar-se uns com os outros nisso. (Ar., Cat., 60); Oroîoporu. - Revezamo-nos uns com os outros. (VLB, II, 104)
Guaxupé (MG) - nome de uma abelha da família dos meliponídeos, termo das línguas gerais coloniais: "Abelhas - Se-tem descoberto 24 especies: Jatíhí, Jatihi merim, Mombuca (...) Uraxupé, q' faz caza nos gr^es arvoredos [...] (Anônimo - muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa [1765], p. 175). Stradelli (op. cit., p. 385) registra a forma axupé, com o mesmo sentido.
Itaíba (PE). "Pelo decreto-lei nº 92, de 31-03-1938, o distrito de Pau Ferro, aparece com a denominação de Itaíba. (fonte: IBGE). Houve, aí, uma tentativa malograda de algum tupinista amador e despreparado de traduzir um topônimo em língua portuguesa para o tupi. Acontece que pau-ferro, em tupi antigo, é ybyraitá, planta da família das leguminosas (Caesalpinea ferrea Mart.) (Sousa, Trat. Descr., 217). Assim, a toponímia brasileira ganhou mais um nome sem sentido...
aíba1 (s.) - 1) maldade, ruindade; AÍVA, coisa vil (VLB, I, 136; II, 145); ...Îandé aíba t'oîpe'a. - Que afaste nossa maldade. (Anch., Poemas, 182); 2) feiúra: Anotĩ xe aíba. - Envergonho-me de minha feiúra. (VLB, I, 83); 3) grosseria (VLB, I, 151); 4) aspereza (do mato, do caminho) (VLB, I, 44); 5) incompleteza, superficialidade; (adj.: aíb) - 1) mau, ruim, AÍVA, podre (em geral), desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80): Aûîé kunumĩgûasu o ekó-aíbeté oîomim... - Enfim, os moços escondem seus muito maus procedimentos. (Anch., Teatro, 38); I îasear apŷabaíba... - Uniram-se os homens maus. (Anch., Teatro, 54); anhangaíba... - diabo mau (Anch., Poemas, 90); 2) grosseiro, rústico, tosco, bruto: Xe aíbusu. - Eu sou grosseirão. (VLB, I, 151); 3) áspero, impraticável (fal. de mato, de caminho): pé-aíba - caminho impraticável (VLB, I, 45); 4) debilitado, enfraquecido, de saúde corrompida, estragado com o uso: Xe aíb. - Eu estou debilitado. (VLB, I, 83; 130); 5) envelhecido (com o uso; fal. de coisas) (VLB, I, 119); velho: Gûyrá-aibusu - pássaro muito velho (antropônimo) (D'Abbeville, Histoire, 187); 6) incompleto, superficial: mba'easy-aíba - doença superficial, indisposição, doença fraca (VLB, II, 28); (adv.) - 1) mal: Aîkó-aíb. - Vivo mal. (Fig., Arte, 138); Arekó-aíb. - Trato-o mal. (Fig., Arte, 138); 2) falsamente, não completamente, superficialmente: Amanõ-aíb. - Morro falsamente, isto é, desmaio, desfaleço. (VLB, I, 125); Asendub-aíb nde nhe'enga. - Entreouvi tuas palavras (isto é, ouvi-as superficialmente). (VLB, I, 119); 3) com afronta: Aîmondó-aíb. - Mando-o com afronta. (Fig., Arte, 138); 4) tirante a, que tende a: pyrangaíb - tirante a vermelho (VLB, II, 128)
eromanõ (v.tr.) - morrer com, fazer morrer consigo: Serobîara bépe asé ogûeromanõne? - A gente morrerá com sua crença também? (Ar., Cat., 51); Irõ, oîepé tiruã pecado n'aromanõî! - Portanto, não morri com um pecado sequer! (Anch., Teatro, 172); Aromanõ tekokatu. - Morro com virtude. (Anch., Arte, 49) ● ogûeromanõba'e - o que faz morrer consigo, o que morre com: ...Pabẽ abá tetiruã Cristo raûsuba bé ogûeromanõba'epûera... - Todos e quaisquer homens que morreram com o amor a Cristo. (Ar., Cat., 161v)
matueté1 (s.) - 1) coisa agradável, coisa bela (VLB, I, 54); formosura; elegância; 2) riqueza, luxo; 3) suavidade (fal. de música); (adj.) 1) agradável, elegante; ótimo, bem feito; fino, apessoado; vistoso (VLB, II, 147): Xe matueté. - Eu sou agradável. (VLB, I, 27); Xe nhe'ẽ-matueté. - Eu sou elegante nas palavras. (VLB, I, 109); I matueté nhẽ! - Está muito bem feito! (Fig., Arte, 136); Morubixaba ri é taba matuetéramo. - É por causa do chefe que a aldeia é ótima. (VLB, I, 117); kunhã-matueté - mulher fina; abá-matuetegûasu - homem apessoado, gentil-homem (VLB, I, 148); 2) rico, luxuoso (VLB, II, 105); 3) suave (p.ex., música) (VLB, II, 122); (adv.) ricamente: Xe aó-mondé-matueté. - Eu estou ricamente vestido de roupas. (VLB, II, 105) ● matueté! - está muito bem feito! (Fig., Arte, 136)
moîaru (v.tr.) - zombar de, brincar desonestamente com: "-T'aîkóne nde resé" erépe, i moîarûabo nhote? - Disseste: "-Hei de ter relações sexuais contigo", somente brincando desonestamente com ela? (Ar., Cat., 104v) ● moîarûaba - tempo, lugar, modo, companhia, etc. de zombar, de brincar desonestamente: Ereîmomorangype nde kunhã'yba nde i moîaruagûera? - Acariciaste tua namorada com quem brincaste desonestamente? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103)
poraûsubara (ou poroaûsubara) (m) (s.) - 1) compadecedor, clemente, misericordioso, compassivo: Eîori xe poraûsubara... - Vem, compadecedor de mim. (Valente, Cantigas, VIII, Ar., Cat., 1618); 2) compaixão, misericórdia (VLB, II, 38); piedade (VLB, II, 76): Salve Rainha, moraûsubara sy... - Salve Rainha, mãe de misericórdia. (Ar., Cat., 14); moroaûsubara 'yba... - princípio da compaixão (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); [adj.: poraûsubar (m)]: Nde resá-poraûsubara erobak ixé koty. - Teus olhos misericordiosos volta em minha direção. (Anch., Poemas, 146); I poraûsubá-katu Tupã sy... - É muito misericordiosa a mãe de Deus. (Anch., Poemas, 182); pitangĩ-moraûsubara - neném compadecedor (Anch., Poemas, 160)
aragûagûá (ou aragûagûa'i) (s.) - ARAGUAGUÁ, ARAGUAGUAÍ, 1) peixe-serra, nome comum a vários peixes marinhos das regiões tropicais, da família dos pristídeos; 2) peixe-espada, espadarte, nome genérico de vários peixes da família dos xifídeos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 159; VLB, I, 125; II, 70)
NOTA - No P.B., CAIÇARA hoje designa também 1) ramos de árvores, postos dentro da água como armadilha de peixe; 2) curral, galhos de árvores abatidas no corte de madeira; 3) cercado de madeira, à margem de um rio ou igarapé navegável, para embarque de gado; 4) palhoça, junto à praia, para abrigar as embarcações ou apetrechos dos pescadores; 5) cerca tosca de troncos e galhos, em torno de uma roça, para impedir a entrada do gado; 6) recesso onde o caçador se embosca; 7) malandro, vagabundo; 8) caipira; 9) praiano; 10) natural ou habitante de Cananéia (SP) (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Daí, no P.B., o nome do beija-flor GUARACIABA (kûarasy + (t)aba, "penas de sol"); COARACIUIRÁ (kûarasy + ûyrá, "pássaro de sol"), nome de ave cotingídea. Daí, também, o nome próprio de pessoa GUARACI e também o de um município de São Paulo (v. p. 386).
(Bettendorff) BETTENDORFF, João Filipe, Crônica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, 1698. (Publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, LXXII, 1909.)
DESCONHECIDO [n.d.], Cartografia das Monções dos Séculos XVII E XVIII. Ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
angaturama (s.) - 1) bondade natural, afabilidade, virtude: Eîori xe poreaûsubara, nde angaturama ri... - Vem, meu compadecedor, por tua bondade... (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); Aromanõ xe angaturama. - Morro com minha virtude. (Fig., Arte, 92); 2) homem franco, liberal (VLB, I, 143); nobre (s.) (VLB, II, 50); título dado a homem e atribuído àquele que se mostra excelente sobre todos os outros (Thevet, Cosm. Univ., 920v); (adj.: angaturam) - bom, bondoso, virtuoso naturalmente, próspero, santo, digno, afável, sagrado, honrado: 'arangaturam-eté... - dia muito bom (Anch., Poemas, 94); Rerityba, xe retama, tabangaturãngatu. - Reritiba, minha terra, aldeia muito boa. (Anch., Poemas, 112); I angaturam, ko'yré,... xe remiarõ îandune. - Serão bons, doravante, os que eu guardo de costume. (Anch., Teatro, 50); ...T'oré angaturãne Cristo remienõîûera resé. - Que sejamos dignos do que Cristo prometeu. (Ar., Cat., 14v); Xe nhe'engangaturam. - Eu tenho palavras afáveis. (VLB, I, 22); Nde angaturam. - Tu és bondoso. (Fig., Arte, 38); (adv.) perfeitamente (VLB, II, 73) ● i angaturamba'e - o que é bom: ...i angaturamba'e remimonhãngatu - as boas obras dos que são bons (Ar., Cat., 1686, 67); angaturambaba - tempo, lugar, causa, modo, companhia, etc. da bondade; bondade: Tupã syramo oîkóbo é i angaturambabetéramo sekóû. - Sendo mãe de Deus é que ela é a causa verdadeira da bondade dele. (Ar., Cat., 1686, 36)
îuá (s.) - JUÁ, 1) nome de algumas plantas solanáceas do gênero Solanum; 2) árvore ramnácea (Ziziphus joazeiro Mart.), o JUAZEIRO do sertão nordestino, que nunca perde suas folhas durante as secas e que serve de alimento ao gado (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 63)
îur / ur(a) (t, t) (v. intr. irreg.) - 1) vir: Ybaka suí ereîur... - Vieste do céu. (Anch, Poemas, 100); Kurusá xe pópe sekóreme... t'our é Îurupari. - Se a cruz estiver em minha mão, que venha o diabo. (D'Abbeville, Histoire, 357); Aîune ixé, pe remi'urama! - Venho eu, a vossa futura comida! (Staden, Viagem, 67); Aîur xe kó suí. - Venho da minha roça. (Fig., Arte, 9); Mba'e resépe ereîur xe remiaûsukatu gûi?... - Por que vieste, ó meu muito amado? (Ar., Cat., 54); 2) fórmula de saudação para o que chega: -Ereîupe? -Pá, aîur. -Vieste? -Sim, vim. (Léry, Histoire, 341); 3) ir (em fórmulas de saudação daqueles que partem): Ne'ĩ, xe aîur kó. - Eia, eis que vou. (D'Evreux, Viagem, 144); Ne'ĩ, oroîur kó. - Eia, eis que vamos. (D'Evreux, Viagem, 144); Aîur ikó. - Eis que me vou. (Fig., Arte, 141); 4) crescer, subir (a maré): Our paranã. - Subiu a água do mar. Ourusu 'y. - Cresceram muito as águas (isto é, subiu a maré). (VLB, I, 85); 5) ficar de vez, morar: Gûitu aîur. - Vim para ficar de vez (isto é, para morar). (VLB, II, 41); 6) No permissivo, na 3ª p., pode ter o sentido de deixa que, deixai que, levando o verbo para o modo indicativo circunstancial: T'oú turi. - Deixa-o que venha. T'oú turi ranhẽ. - Deixa que venha primeiro. (VLB, I, 92); T'oúne turi. - Deixa que venha. (VLB, I, 92) ● usaba (ou uraba) (t, t) - tempo, lugar, modo, etc. de vir, a vinda: Kó xe 'anga, nde rusaba, nde rupabamo t'oîkó. - Eis que minha alma, lugar de tua vinda, há de estar como teu leito. (Anch., Poemas, 128); Turagûera moetesabamo... kó 'ara îamoeté. - Como modo de honrar sua vinda, este dia honramos. (Ar., Cat., 5); îurusu - virem muitos juntos: Oroîurusu. - Viemos muitos. (VLB, II, 146) [No imperativo tem as formas irregulares eîori! ou eîor! - vem! peîori! ou peîor! - vinde! Na 1ª pess. do sing. do gerúndio é gûitu - vindo eu. Não admite o prefixo s- nas formas nominais: tura - a vinda dele (e não sura).]
NOTA - Daí, no P.B., POCAR, estourar, bater com força em; rebentar; PIPOCA, "pele estourada" (de milho) - v. pira. ESPOCAR também pode ser usado figurativamente no sentido de desabrochar, desabotoar com força: "espocar para a vida".
amokó (s.) - MOCÓ, roedor sem cauda da família dos caviídeos (Kerodon rupestris, Wied) (D'Abbeville, Histoire, 251v). É importante na sociedade nordestina pois sua carne, pelagem e banha são amplamente utilizados para diversos fins. (D'Abbeville, Histoire, 251v)
NOTA - Daí provêm, no P.B., CATAPORA (tatá-pora, "marcas de fogo"), doença que produz bolhas pela pele; BOITATÁ (mba'e + tatá, "coisa-fogo"), mito dos antigos índios tupis da costa do Brasil; TATARANA ou TATURANA (tatá + ran + -a, "falso fogo", "o que parece fogo"), lagarta urticante dos insetos lepidópteros megalopigídeos; TATAÍRA (tatá-eíra, "abelha de fogo"), nome de inseto meliponídeo; TATAREMA (tatá + rem + -a, "fogo fedorento"), nome de árvore morácea, etc. Daí, também, provêm os nomes geográficos TATAÍRA (SP), TATAJUBA (CE), etc. (v. p. 386).
mokó (s.) - MOCÓ, mamífero roedor da família dos caviídeos (Kerodon rupestris). É como um coelho pequeno, sem orelhas nem cauda. Os índios o domesticavam para apanhar ratos. (Brandão, Diálogos, 255)
mopy'atytyk (v.tr.) - fazer palpitar o coração: Na xe mopy'atytyki Anhanga xe rapekóbo. - Não me faz palpitar o coração o diabo, visitando-me. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618)
NOTA - Daí, no P.B., PIRAROBA, nome de um peixe com os dois olhos de um mesmo lado do corpo; GUIRARÓ (gûyrá + ró, "pássaro vesgo"), nome de uma ave tiranídea.
sapé (s.) - SAPÉ, SAPÊ, JUÇAPÉ, nome comum a plantas gramíneas do gênero Imperata (I. brasiliensis Trin. e Imperata contracta (Kunth) Hitchc.), esta última conhecida como SAPÊ-MACHO. Suas folhas são muito utilizadas para a cobertura de habitações rústicas. Cresce em terrenos pobres e é mal aceito pelo gado como alimento. (Piso, De Med. Bras., IV, 194)
Caiapó (Jandira, SP). Nome, talvez da língua geral meridional, de uma trepadeira herbácea, da família das cucurbitáceas, também chamada purga-de-gentio.
Icatu (rio do MA). De 'y + katu: águas boas. Entre os anos de 1757 e 1759, confirmado por lei provincial de 1835, transfere-se o nome da sede da antiga vila de Águas Boas para Icatu.
RENDON, Joze Arouche de Toledo [1802], Plano em que se propoem o melhoramento da sorte dos indios, reduzindo-se a freguezias as suas aldeas, e extinguindo se este nome, e esta antiga separaçaõ em que tem vivido a mais de dois séculos. Documentos Interessantes para a História dos Costumes de São Paulo (DIHCSP). São Paulo: Editora da Unesp, 1990, p. 91-110. 1802.
ekó7 (t) (s.) - ser, modo de ser: A'e anhẽ mosapyr pessoaamo i îa'oki, oîepé og ekó-karaíba îese'ara pupé nhẽ. - Eles, na verdade, em três pessoas se distinguem, na união de seu único ser divino. (Anch., Doutr. Cristã, I, 134); Xe rekó-aé arekó. - Tenho meu modo de ser diferente. (VLB, I, 103)
ymûanĩ1 (adv.) - finalmente, enfim; nunca acabar de, nunca terminar de (como que gastando muito tempo); muito devagar (É usado com o verbo 'i / 'é na negativa, levando sempre o verbo principal para o gerúndio.): Nd'e'i ymûanĩ ahẽ aoba moaûîébo. - Ele nunca acaba de completar as roupas (lit., não se mostra ele, enfim, completando as roupas). Nd'e'i ymûanĩ osóbo. - Nunca acaba ele de ir (lit., não se mostra finalmente indo). (VLB, II, 52); Nd'e'i ymûanĩ ahẽ i îukábo. - Muito devagar ele o mata (lit., não se mostra ele finalmente matando-o). (VLB, II, 140)
Amanaiara (CE). Homenagem ao padre Francisco Pinto, trucidado na chapada da Ibiapaba em 1608: "Foi tão grande o conceito que os Indios fizerão da santidade do Venerável Padre (Francisco Pinto), que dali por diante lhe não derão outro nome que o de Amanayára, que quer dizer, Senhor da Chuva." (Pe. José de Moraes [1759], p. 85). É nome de um distrito de Reriutaba (CE), atribuído em 1943.
Ararendá (CE). De arara + ena - estar pousado, sentado [v. in / en(a) (t)] + -aba: lugar de estarem pousadas as araras, pouso das araras. Era o nome de uma antiga aldeia dos tabajaras, quase no pé da serra de lbiapaba, onde foram hospedados os jesuítas missionários Francisco Pinto e Luis Figueira. Chamou-se, inicialmente, Canabrava e Canabrava dos Mourões, substituído o nome por Ararendá por decreto-lei de 1943 (fonte: IBGE).
Baepina (nome de vários acidentes geográficos do Brasil). De mba'eapina: coisa tosquiada, homem marinho, monstro marinho que os índios supunham existir: "Baéapina — Estes são certo genero de homens marinhos do tamanho de meninos, porque nenhuma differença têm delles; destes ha muitos, não fazem mal." (Pe. Fernão Cardim [1585], I - Do Clima e Terra do Brasil - E de algumas Cousas Notaveis que se Achão assi na Terra como o Mar, p. 56).
DRUMMOND, Conselheiro Antonio de Menezes Vasconcellos de [1797], (ex Biderman, M.T.C., (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. CNPq (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
amundaba (s.) - 1) aldeias vizinhas, arrabaldes, cercanias, vizinhanças, lugar vizinho do outro (VLB, II, 25): ...Taba Belém pora pitanga i amundaba pora abé apiti-ukari... - Mandou trucidar as crianças habitantes da aldeia de Belém e também as habitantes das vizinhanças dela. (Ar., Cat., 139); 2) vizinho: Amundabamo aîkó. - Sou um vizinho; O îoamundabamo oroîub. - Somos vizinhos uns dos outros. (VLB, II, 145)
îeamĩ (ou nheamĩ) (v. intr.) - espremer-se, apertar-se: Ereîeamĩpe nde resé abá rekó riré nde memby-potare'ymamo? - Espremeste-te após alguém fazer sexo contigo, não querendo filhos? (Ar., Cat., 1686, 235)
upi'a (t) (s.) - ovo (Anch., Arte, 6v): Oîoupi'a-erub. - Choca seus ovos; está deitada com seus ovos. (VLB, I, 73, adapt.); ysá rupi'a - ovos de içá (VLB, I, 142) ● upi'a-tinga (t) - clara de ovo (VLB, I, 75); upi'a-îuba (t) - gema de ovo (VLB, I, 147)
urende'yba (s.) - URUNDEÚVA, URINDEÚVA, URIUNDUBA, árvore da família das anacardiáceas (Myracrodruon urundeuva Allemao), também chamada aroeira-do-campo e lentisco (Brandão, Diálogos, 171)
Japara (rio da BA). De 'y + apar + -a: água torta, rio torto. O PDBLP (p. 874) define japara como um "terreno arenoso, à beira-mar, alagado no inverno", sentido este que deve ter assumido o termo no Brasil colonial: "Entra este rio ou braço de mar pela ilha dentro três léguas, pouco mais ou menos, até os sítios de Aracanga, e se divide em vários braços, a saber: Japara, o rio das Bicas, o rio Itã e o rio que entra para as fazendas do Bonfim." (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 927)
O Conceito de Língua Indígena no Brasil, I: Os Primeiros Cem Anos (1550-1650) na Costa Leste. ANPOLL, mesa redonda inter-GTs sobre idéias lingüísticas no Brasil, 1996. Estrutura do Tupinambá. Inédito.
Caraguatatuba (SP). De caraûatá + tyba: ajuntamento de gravatás. (v. Caraguatá). Topônimo dos tempos coloniais:"Que passei a Villa de S.^m Vicente, e a de S.^m Sebastiaõ proseguindo até Craguatatuba [...]." (Franca e Horta [1803], Para o exmo. snr. Visconde de Anadia, p. 103)
îepun (v. intr.) - reavivar-se, renovar-se, avivar-se, recrudescer (p.ex., chaga, ódio, inimizade, etc.) (VLB, II, 101): ...T'oîepun xe marandûera! - Que recrudesça minha antiga maldade! (Anch., Teatro, 18)
apapûara (s.) - dobra [como de pano, cobra, etc. Falando-se de fio, usa-se oîoybyri (v.).]; rosca; (adj.: apapûar) - dobrado; enroscado: -Mba'epe onong i akanga 'arybo? -Îua-apapûara apynha... - Que puseram sobre sua cabeça? - Uma coroa de espinhos enroscados. (Anch., Diál. da Fé, 184)
a'y (s.) - AÍ, AÍGUE, preguiça, mamífero edentado da família dos bradipodídeos. Vive em muitas partes do Brasil e sua espécie mais comum na Mata Atlântica é a Bradypus tridactylus L., arborícola, de pêlos densos e longos, onde vivem carrapatos e microlepidópteros ou traças. Possui membros compridos e cauda curta e movimenta-se com extrema lentidão. Alimenta-se das folhas da imbaúba. É também chamado bicho-preguiça ou cabeluda. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 221; VLB, II, 73)
Itajibá (BA). Era um antropônimo tupi: "no anno de ſeiſcẽtos, & dez, hũ Carlos de Vóhus Frances, que ſe criàra antre eſtes lndios,& hera grande tapijar,& practico na ſua lingoa (à que o Gentjo pos nome ITÀJUBÀ, que quer dizer braço de ferro) veyo a França (Cap. Symão Estacio da Sylveira [1624], Relação, p. 7). Nome dado a uma localidade da Bahia em 1947, alusão à coragem de seu povo... (fonte: IBGE)
Piracicaba (SP). Da língua geral meridional, pirá + sykaba: lugar de chegar dos peixes, chegada dos peixes. "Chegar por rio", como fazem os peixes, em tupi antigo, é îepotar. Na língua geral do século XVIII o verbo syk passou a ser usado com esse sentido: "...continuou a penetrar o sertão a parte oriental seguindo o Rio Piracicaba que é o mesmo que dizer lugar onde o peixe chega vindo das barras do mar e dali não passa a subir para cima, por impedido das cachoeiras mui altas que não podem avançar..." (Manuel José Pires da Silva Pontes [n.d.], p. 32].
ene'ĩ (interj.) - Eia!, Vamos! Sus! [Usada com a 2ª p. do sing. para exortar, ordenar, incitar ou rogar. Leva o verbo para o gerúndio. Talvez seja forma imperativa de 'i / 'é, segundo nos diz Anchieta (Arte, 56v).]: -Ene'ĩ esóbo! - Eia, vai! (Anch., Arte, 56v); Ene'ĩ t'asóne! - Eia, que eu vá! (Anch., Arte, 56v); Ene'ĩ, t'îasó taûîé! - Eia, vamos logo! (Anch., Poemas, 182)
i4 1) (pron. pess. de 3ª p.) - a) (pron. sujeito) - ele (s, a, as): ...I ndibé nde moetébo. - Com ele honrando-te. (Anch., Poemas, 84); ...I apysy-katueté. - Eles se consolam muitíssimo. (Anch., Poemas, 96); I ma'enduar. - Ele se lembra. (Anch., Arte, 20v); b) (pron. objeto - Assume a forma î quando precedido de vogal.) - o (a, os, as): Aîpysyk-atã. - Segurei-o fortemente. (VLB, I, 38); Aîkutuk. - Feri-o. (VLB, I, 137); Abá sosé pabẽ i momorangi... - Acima de todas as pessoas embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); 2) (poss.) - seu (s, a, as); dele (s, a, as): i îara - seu senhor (Anch., Arte, 12v); ...I 'anga seté monhangi. - Suas almas e seus corpos fez. (Anch., Teatro, 28); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30)
mosãî (v.tr.) - 1) espalhar, difundir, dispersar: Apŷaba abá mombegûara oîmosãî taba rupi... - Espalham pelas aldeias homens que pregam às pessoas. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); O koty suí mba'epoxy reîtyk'iré, abá nd'ogûeroîebyri o kotype, i mosãîa... - Após lançar fora de seu meio os vícios, o homem não os faz voltar consigo para seu meio, dispersando-os. (Ar., Cat., 250); 2) tornar notório: ...Abá rekopoxy mosãîa... - Tornando notórios os vícios das pessoas... (Ar., Cat., 241) ● i mosãîmbyra - o que é (ou deve ser) espalhado, difundido, etc. (Fig., Arte, 107); mosaĩndara - o que espalha, o que difunde, etc. (Fig., Arte, 119); mosaĩndaba - tempo, lugar, modo, etc. de espalhar, de difundir, etc. (Fig., Arte, 119)
ubukaba (ou ybykaba) (s.) - UBACABA, planta da família das mirtáceas (Psidium radicans O. Berg). Sua madeira é mole e "...dá umas frutas pretas e miúdas como murtinhos, que se comem..." (Sousa, Trat. Descr., 194)
é3 (part.) - mas, mas sim: -E'ikatupe morerokarûera omendá o emierokûera...? -Nd'e'ikatuî, o a'yretéramo é serekóû. -Pode o padrinho casar-se com aquele que batiza? -Não pode, mas o trata como seu verdadeiro filho. (Ar., Cat., 149); -Tupã Espírito Santo anhẽ a'e tatá? -Nda Tupã Espírito Santo ruã, tura îekuapaba é. -Deus Espírito Santo era, na verdade, aquele fogo? -Não era Deus Espírito Santo, mas, sim, um sinal da sua vinda. (Anch., Doutr. Cristã, I, 170)
îetykopé (s.) - JATUCUPÉ, JACUTUPÉ, JOCOTUPÉ, trepadeira da família das leguminosas (Pachyrhizus tuberosus (Lam.) Spreng.), de raízes tuberosas, feculentas e alimentícias (Anch., Cartas, 135)
irũ1 (posp.) - com (de companhia): Ne'ĩ, t'ereîkó pa'i Nikorá irũ. - Eia, que mores com o senhor Nicolau. (Léry, Histoire, 352); T'aîkó nde irũ. - Que eu esteja contigo. (Léry, Histoire, 372)
nhuá (s.) - árvore alta, "de casca griséia... Produz um fruto do tamanho de uma bola de jogo, redondo, alvacento". Talvez seja o castanheiro-do-pará (Bertholletia excelsa Bonpl.). (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 100)
moín2 (v.tr.) - 1) apontar (para alguém: com supé): Aîmoín u'uba (abá) supé. - Apontei a flecha para o homem. (VLB, I, 39, adapt.); 2) dirigir (palavra), entoar (canto ou cantiga) (a ou para alguém: com supé) (VLB, I, 118): Aîmoín xe nhe'enga (abá) supé. - Dirigi minha fala ao homem. (VLB, II, 84, adapt.); Oîmoín-y bépe Pilatos o nhe'enga îudeus supé...? - Dirigiu de novo Pilatos sua fala aos judeus? (Ar., Cat., 59v)
agûãî (v.tr.) - morder com as gengivas, abocanhar sem morder (como a criança sem dentes): Anhagûãî. - Mordo-a (com as gengivas). (VLB, I, 18); Anhagûã-nhagûãî. - Fico-o mastigando (sem dentes). (VLB, II, 33)
NOTA - Daí, no P.B., MARANDUBA, MARANDUVA (marana + ndyba, "guerras que houve"), 1) história de guerra ou de viagem; 2) (N. e NE.) história inverossímil, patranha, mentira (in PDBLP)
takurandá (s.) - TARACUÁ, TACUÁ, TRACUÁ, TRAGUÁ, nome comum a certas formigas que fazem formigueiros nas árvores e que, ao serem tocadas, fazem barulho característico de sopro forte e prolongado (Sousa, Trat. Descr., 239)
ymûanĩ2 (adv.) - por longo tempo, em muito tempo, por longo intervalo de tempo: Ymûanĩ ahẽ rekóû. - Por longo tempo ele se deteve. (VLB, I, 125); Ymûanĩ xe rekóû. - Estive por longo tempo. (VLB, II, 13); Nd'a'éî ymûanĩ. - Não estou por longo tempo; não tardo. (VLB, II, 124); Nd'a'éî ymûanĩ i monhanga (ou A'é ymûanĩ i monhange'yma). - Não o estou fazendo em muito tempo; não estou tardando em fazê-lo. (VLB, II, 125); E'i ymuanĩ ahẽ i monhanga. - Ele o faz em muito tempo. (VLB, II, 81)
NOTA - Daí, no P.B., UVAIA, UBAIA ('ybá + aî + -a, "fruta azeda"), nome de árvore mirtácea e de seu fruto, muito azedo, do tamanho de uma pequena pera. Daí, também, TIAIA (nome de rio do CE) (v. p. 386).
(e)miapé (r, s) (s.) - pão ou bolo de qualquer farinha (VLB, II, 64): xe remiapé - meu pão; semiapé - o pão dele (Fig., Arte, 79); ...Miapé-ybakygûara, apŷabebé remi'u... - Pão celestial, comida dos anjos. (Valente, Cantigas, VII, in Ar., Cat., 1618) ● miapé-apara (ou miapé-apynha) - rosca de pão (VLB, II, 108); miapé-mirĩ - bolinho de pão (VLB, I, 57)
murisi (s.) - MURICI, MURUCI, 1) nome comum a várias árvores e arbustos do cerrado brasileiro, da família das malpiguiáceas, do gênero Byrsonima, de fruto comestível e propriedades medicinais. Há também muricis de praia, como o Byrsonima verbascifolia, (L.) DC., de flor amarela e fruto pequeno e ácido. 2) o fruto de tais plantas (D'Abbeville, Histoire, 224; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 118; Piso, De Med. Bras. IV, 188)
asanga (s.) - curteza, qualidade do que é curto; (adj.: asang) - 1) curto; 2) rechonchudo, baixo e largo de corpo: Xe asang. - Eu sou rechonchudo. (VLB, II, 98) ● asangĩ - curtinho (VLB, I, 88); rechonchudinho (isto é, de corpo medianamente largo) (VLB, I, 37); asangusu - rechonchudão: Xe asangusu. - Eu sou rechonchudão (isto é, de corpo muito largo). (VLB, I, 37); asangusugûasu - muitíssimo rechonchudo (VLB, II, 98)
gûaxima (s.) - GUAXIMA, GUAXUMA, GUAXIÚMA, GUANXUMA, UAICIMA, nome comum a numerosas espécies de plantas de diversas famílias afins que fornecem fibras têxteis utilizadas na fabricação de cordas, cabos, vassouras, etc. "Postas sobre chagas e coçaduras das pernas que têm fogagem, as desafogam..." (Sousa, Trat. Descr., 205)
îa'ok (v. intr.) - 1) apartar-se, separar-se (p.ex., os caminhantes, etc.): Oroîa'ok oré îosuí. - Separamo-nos uns dos outros. (VLB, I, 38); Aîa'ok. - Aparto-me. (Fig., Arte, 102); 2) distinguir-se: ...A'e anhẽ mosapyr pessoaamo i îa'oki... - Eles, na verdade, em três pessoas se distinguem. (Anch., Doutr. Cristã, I, 134)
îata'ymondé (s.) - nome de árvore da família das leguminosas-cesalpinoídeas, variedade de jataí que produz madeira amarela, "...muito rija e doce de lavrar e incorruptível..." (Sousa, Trat. Descr., 214)
(interj. usada somente pela 1ª p.) - sei lá! não sei (VLB, II, 47) -Abá ra'yrape ûĩ?! -Sé! -Filhos de quem eram esses?! -Sei lá! (Anch., Teatro, 48); -Marãba'e oka? -Sé! -Que tipo de casa? -Sei lá! (Léry, Histoire, 352) ● Sé ruã! - Sei lá! (VLB, II, 8)
NOTA - Da reduplicação de syryka (syryryka), provém, no P.B. (AM), PINDÁ-SIRIRICA ("anzol escorregadio"), 1) disfarce do anzol com penas de cores; 2) anzol com isca artificial e linha curta. Daí, também, pela língua geral meridional, a palavra XIRIRICA (ou PIRIRICA), trecho de rio onde as águas, dada a inclinação do terreno, correm céleres, e que, muitas vezes, corresponde à última etapa de uma queda-d'água; cachoeira, carreira, correntada, corrida, corredeira, rápido. (in Novo Dicion. Aurélio). PIRIRICA pode ser, também, ligeira ondulação ou tremura à superfície da água, produzida pelos peixes (in Dicion. Caldas Aulete).
'aputu'uma (s.) - cérebro, miolos; massa encefálica: I 'aputu'uma t'a'u. - Hei de comer seus miolos. (Anch., Teatro, 66) ● 'aputu'ũ-aoba - saco, teia ou teagem dos miolos (Castilho, Nomes, 29; VLB, II, 125); 'aputu'ũ-mbira - tecido dos miolos (Castilho, Nomes, 29); 'aputu'umbok - arrancar o miolo de (p.ex., de cabaços novos): Aîputu'umbok. - Arranquei o miolo dele. (VLB, I, 125)
ekomonhang (s) (v.tr.) - 1) governar, comandar, dar leis para, determinar, dar determinações para, dar ordens para...: Îori xe rekomonhanga... - Vem para me governar... (Valente, Cantigas, VII, in Ar., Cat., 1618); Osekomonhangype a'ereme Tupã îandé rubypy? - Deus deu, então, determinações para nosso pai primeiro? (Ar., Cat., 39v); 2) julgar, sentenciar: Oîkobeba'e, omanõba'epûera pabẽ rekomonhanga. - Para julgar todos os que vivem e os que morreram. (Ar., Cat., 47); 3) aconselhar (VLB, I, 20); 4) reformar nos costumes (VLB, II, 99)
itá (s.) - 1) pedra: ...Itá karamemûã... pupé i mondepa. - Pondo-o dentro de um túmulo de pedra. (Ar., Cat., 64v); itá kasara - quebrador de pedras, cavouqueiro (VLB, I, 69); itá-atĩ - ponta de pedra (Anch., Arte, 9); itá-kûara - buraco de pedra (Fig., Arte, 6); itá-kysé (etim. - pedra-faca) - pedra de que se faziam facas (Nieuhof, Ged. Reize, 219-220); 2) metal; ferro (VLB, I, 138); ferros de prisão (VLB, I, 138); Ererupe itá kysé amõ? - Trouxeste algumas facas de ferro? (Léry, Histoire, 346); Itá resé aín. - Estou preso nos ferros. (VLB, II, 85); 3) penedo: itagûasu - penedo grande; itá-tyba (ou itá-tybusu) - jazimento de pedras, pedreira; itagûasutyba - jazimento de pedras grandes, penedia (VLB, II, 69, 72)
aysó (s.) - formosura: ...O aysó abé osepîak. - Sua própria formosura também viram. (Ar., Cat., 37v); (adj.) - formoso, airoso, vistoso, polido, agradável, bem feito (p.ex., coisa artificial, comida): Xe aysó. - Eu sou bem feito. (VLB, I, 54); Î aysó, nipó, îasy, og obagûasu reru. - É formosa, certamente, a lua, vindo com sua grande face. (Anch., Poemas, 142); Xe aysó-katu. - Eu sou muito formoso. (VLB, I, 138); (adv.) - formosamente: ...Oberab-aysó... - Brilhou formosamente. (Ar., Cat., 4v)
karana'yba1 (s.) - CARNAÚBA, CARANAÍBA, CARANDÁ, 1) nome comum a palmeiras do Norte do Brasil, dentre as quais a Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore, especificamente distinta da espécie Copernicia alba Morong ex Morong & Britton, encontrada no Mato Grosso e regiões limítrofes; 2) cera extraída da folha dessa palmeira, de muitas utilidades (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 130; Piso, De Med. Bras.,IV,181)
tapuîa2 (ou tapu'yîa ou tapy'yîa) (s.) - 1) TAPUIA, indígena de grupo tribal não tupi; índio não falante do tupi da costa (Anch., Arte, 14; Knivet, The Adm. Adv., 1226); 2) cativo (VLB, I, 69); escravo (VLB, I, 124): ...tapuîa rara - prender escravos (Anch., Teatro, 8)
(Piso), PISO, Wilhelm, De Medicina Brasiliensis Libri Quatuor, in Marcgrave, George, Historia Naturalis Brasiliae. (Tradução de Alexandre Correa, publicado com o título História natural do Brasil Ilustrada. Edição comemorativa do primeiro cinqüentenário do Museu Paulista. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1948.)
ko'ema (ou ko'ẽ) (s.) - manhã, o amanhecer, as primeiras horas do dia: Mamõpe erimba'e te'yî-katupabẽ Îandé Îara rerasóû Kaiphás roka suí ko'em'iré? - Para onde a multidão numerosíssima levou Nosso Senhor da casa de Caifás após o amanhecer? (Ar., Cat., 58); ...Nde ko'ema, 'ara rorypabeté. - Tu és a manhã, verdadeira alegria do dia. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618) ● ko'emĩneme - ao amanhecer, de manhãzinha; ko'emĩnemebé - de manhãzinha, ao amanhecer; ko'em iã - eis que é manhã; ko'ẽ ã - eis que é manhã, eis que amanheceu; ko'ẽ kó - eis que amanheceu (VLB, I, 33); ko'ẽme - ao amanhecer (VLB, I, 102); pela manhã (Fig., Arte, 128): ...Ko'ẽme gûemi'urama resé onhemosaînana... - De manhã, cuidando de sua comida. (Ar., Cat., 11v)
NOTA - Daí, no P.B., TUAIÁ, termo usado na Amazônia, que designa a região mais distante de seringais do alto Xingu e, por extensão, um lugar longínquo, rio acima; CUTIAIA, CUTIUAIA (akuti + ûaî + -a, "cutia de rabo"), nome de um mamífero dasiproctídeo.
Marumbi (serra do PR). Talvez de um termo de língua geral colonial, maromba* + 'y: rio das marombas, i.e., dos peixes grandes. O PDBLP, p. 786, registra maromba com o sentido de sardinhas grandes. Marumbi pode ser, também (BA), uma lagoa cheia de taboas (PDBLP, 788).
Tamanduateí (SP). De tamandûá + eté (r, s) + 'y: rio dos tamanduás verdadeiros. "[...] lhe foram concedidos por sesmaria todos os pontos devolutos, pelo caminho velho da antiga vila de Santo André, rio Jarobatiba, continuados ao longo de Tamanduatihí [...] (Pedro Taques, Nobiliarquia Paulistana, p. 267)
enoĩ (ou enoín) (v.tr.) - estar (parado ou sentado) com, fazer estar consigo (parado ou sentado): Îandé monhangara nhẽ erenoĩ nde îybápe. - Nosso criador fazes estar contigo em teus braços. (Anch., Poemas, 102)
moubixab (v.tr.) - fazer chefe, fazer rei: -Mba'epe oîme'eng i 'ekatûápe? -Takûara..., i moubixa-bixaba'upa... -Que deram em sua mão direita? -Uma cana, ficando a fazê-lo rei de mentira. (Ar., Cat., 60v)
urukatu (s.) - URUCATU, planta da família das amarilidáceas, de espécie indeterminada, que nasce sobre outras árvores e também no chão. Tem um bulbo muito grande e útil. Secreta uma seiva, que é potável. Segundo Piso, é o mesmo que tupãypy (v.). (Piso, De Med. Bras., IV, 202; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 35; 104)
Ituiutaba (MG). De 'y + tuîuk + taba: aldeia do rio enlameado. Da língua geral meridional, em referência a índios do tronco macro-jê que ali viviam às margens do rio Tijuco.
mote'e (v.tr.) - 1) estranhar, não reconhecer: Teumẽ xe mote'ebo. - Guarda-te de me estranhares. (VLB, I, 130); 2) repudiar, abandonar: Aîmote'e xe ruba rekopûera. - Repudiei a antiga lei de meu pai; Teumẽ nde rekó mote'ebo. - Guarda-te de abandonar tua obra. (VLB, I, 130); 3) deitar a perder: Amote'e umẽpe xe ruba ká... - Não hei de deitar a perder a meu pai. (Anch., Diál. da Fé, 220)
Tupinambarana (ilha do AM). "A nação Topinambarana é muito parenta da dos topinambases, senão é a mesma com alguma corrupção da língoa pela comunicação de outras nações. Tinha esta nação o seu domicílio em uma grande ilha, que forma o Amazonas na foz do Rio Madeira, que deles tomou o nome de Ilha dos Topinambaranas [...]." (Pe. João Daniel [1757], p. 270). De tupinambá + ran + -a: falsos tupinambás.
NOTA - Daí, no P.B., PIÚCA ('yb + îuk + -a, "pau podre"), 1) pau seco que se esfarela, próprio para ser queimado; 2) tronco semicarbonizado. Daí, também, os nomes geográficos TIJUCA (rio do RJ), TIJUCO (nome de ribeirão de SP), etc. (v. p. 386).
NOTA - Esta forma deu origem a um elemento de composição (ji) muito encontrado em topônimos do Nordeste brasileiro e que significa rio: POTENGI (RN), ARAÇAGI (PB), PARATIJI (BA), etc. (v. p. 386).
karagûatá (ou karaûatá ou karûatá) (s.) - 1) CARAGUATÁ, CRAGUATÁ, GRAVATÁ, nome comum a várias plantas bromeliáceas, de diversos gêneros. A mais conhecida delas, a Bromelia antiacantha Bertol., tem folhas compridas, grossas e espinhosas, com frutos muito amarelos, arredondados, do tamanho de pêssegos, dispostos em forma piramidal. São também chamadas CARUATÁ, COROÁ, CRAUAÇU, CARUATÁ-DE-PAU, COROÁ-VERDADEIRO, GRAGUATÁ, CRAUATÁ, CURUATÁ, etc. "...Dá grande cópia de linho fino e assaz proveitoso." (Brandão, Diálogos, 203); 2) erva-babosa, aloés, liliáceas do gênero africano Aloe, introduzidas no Brasil; 3) licor fabricado com o suco dessas plantas (D'Abbeville, Histoire, 228; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 37)
Aracaju (capital de SE). É nome de um povo indígena do Pará: "Vieram logo os principaes dos Aracajus dar-nos as boas vindas em casa do sargento-mór da aldêa onde nos tinhamos agasalhado." (Bettendorff [1699], p. 339). A ocorrência desse topônimo em Sergipe é bem mais recente, do século XIX. Talvez de ará + akaîu - caju, cajueiro: cajueiro dos arás, aves psitacídeas.
îemomotar (ou îemomotá ou nhemomotar ou nhemomotá) (v. intr. compl. posp.) - atrair-se, ter cobiça [por alguém ou algo: compl. com esé (r, s) ou ri]: Ereîemomotápe abá mba'e resé? - Tiveste cobiça pelas coisas de alguém...? (Ar., Cat., 109v); Na nde ruã-te p'akó kunhã ri ereîemomotá? - Não foste tu, certamente, que te atraíste pelas mulheres? (Anch., Teatro, 176); Onhemomotá xe 'anga nde 'anga poranga ri. - Atraiu-se minha alma pela beleza de tua alma. (Anch., Poemas, 140) ● onhemomotaryba'e - o que se atrai; nhemomotasara - o que se atrai: Mene'yma resé oîkoba'e abiã koîpó sesé onhemomotaryba'e oîabyeté Tupã nhe'enga, memetipó mendara momoxysara koîpó sesé nhemomotasara. - Se o que tem relações sexuais com uma solteira ou por ela se atrai transgride muito a palavra de Deus, tanto mais o que perverte uma casada ou o que se atrai por ela. (Ar., Cat., 109); nhemomotaraba - tempo, lugar, modo, etc. de se atrair; a atração: ...Sesé nde nhemomotaragûera ranhẽ t'ereîmombe'u... - Hás de confessar primeiro tua atração por eles. (Ar., Cat., 103v)
kunapu (s.) - CANAPU, CANAPU-GUAÇU, peixe da família dos serranídeos. São "peixes a que chamam, em Portugal, meros, os quais são muito grandes". (Sousa, Trat. Descr., 281) Pode atingir até 3 metros de comprimento: ...kunapu rekyî-etébo... - pescando bem os canapus (Anch., Poemas, 152)
Coribe, São Félix do (BA). Parece provir do nome de um rio. De kori + 'y + -pe: no rio do curi, i.e., da argila vermelha. Já o nome do município de Coribe (BA) foi atribuído artificialmente em 1938.
HORTA, Antonio Joze da Franca e [1803], Para o dito snr. Visconde de Anadia - m.co 24. Ex Biderman, M.T.C., (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. CNPq (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
NOTA - Daí, no P.B., BAITA (mba'e + etá, "coisa demais, muita coisa"), grande, enorme, imenso, crescido, desenvolvido: uma baita casa. Daí, também, PAQUETÁ (nome de ilha do RJ); GUARATINGUETÁ (município de SP); ITAETÁ (arroio do RS), etc. (v. p. 386).
NOTA - Daí, no P.B. (N.E.), TAGUAÇU ("pedra grande"), pedra que serve de âncora às jangadas. Daí, também, muitos nomes geográficos: ITAPORANGA (SP), ITAPEVA (SP), ITAPOROROCA (PB), ITAQUATIARA (RJ), etc. (v. p. 386).
nhũ (s.) - campo; campina (VLB, I, 65), prado: Nhũ rupi agûatá. - Ando pelo campo. (Fig., Arte, 123); nhũasyma - campo limpo (VLB, II, 84); ...Nhũ-myterype i mbo'îabo. - Em meio de campo repartindo-os. (Anch., Teatro, 140); -Umãmepe Tupã aîpó îandé rubypy reterama monhangi? -Nhũ Damasceno seryba'epe. -Onde Deus fez o corpo daquele nosso pai primeiro? -No chamado "Campo Damasceno". (Ar., Cat., 38v) ● nhũbondûara (ou nhũmendûara) - natural dos campos, o que vive no campo (pessoa, animal, erva, etc.) (VLB, II, 41)
ara'a2 (s.) - agitação, excitação, açodamento, pressa: ...Mba'e-poxy resé nde ara'a... - tua excitação pelas coisas más (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); (adj.) - agitado; açodado, lampeiro, vivo; ativo; ágil; lesto, sôfrego: I ara'a îagûara îá, îandé rakypûemboú. - Ele é lampeiro como uma onça, seguindo nosso rastro. (Anch., Poemas, 188); N'i xandoki marana ri; i ara'a. - Não se desunem na guerra; são ágeis. (Anch., Teatro, 154); Xe ara'a (mba'e) resé. - Eu sou sôfrego pelas coisas. (VLB, II, 119, adapt.)
mo'ang2 (v.tr.) - fingir, simular, disfarçar: ...Oporomoingobé-mo'anga... - Fingindo fazer viver as pessoas. (Ar., Cat., 160); Nde remo'emype nde nhemombegûápe, nde angaîpaba mo'anga? - Tu mentiste ao te confessares, disfarçando teus pecados? (Ar., Cat., 108); Asó-mo'ang. - Finjo que vou. (Fig., Arte, 143)
Itaberaba (MG). De itá + berab + -a: pedras brilhantes, pedras luzentes: "(...) Acharam mostras de ouro na povoação que hoje é chamada Itaverava, e já então assim a denominava o gentio; é vocábulo de língua brasílica que quer dizer: Pedra luzente". (Manuel José Pires da Silva Pontes [n.d.], p. 25)
NOTA - O nome GUARANI ("os guerreiros"), de nação indígena da América do Sul, deve provir de palavra do Proto-Tupi-Guarani, língua pré-histórica da qual se originou o tupi antigo.
piriana (m) (s.) - listra (VLB, II, 23); (adj.: pirian) - listrado (ao comprido): -Mba'epe ereru nde karamemûã pupé? -Aoba. -Marãba'e? -(I) pirian. -Que trouxeste dentro de tua caixa? -Roupas. -De que tipo? -Elas são listradas. (Léry, Histoire, 342-343)
aír (s) (v.tr.) - fazer incisão em, riscar: Eresaírype nde ra'yra îasy semypyreme? - Fizeste incisões em teu filho quando a lua começou a sair? (Ar., Cat., 99); Opá nde reté raíri itatiãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120) ● aisaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de riscar; risco, risca, incisão (VLB, II, 106)
etobapy (t) (s.) - topete, cabelo ou pêlo levantado na parte anterior da cabeça (de cavalo, de pessoa, etc.): xe retobapy-'aba - cabelo de meu topete; Tetobapy-apûá - ponta de topete, pontinha aguda de cabelo que alguns têm na testa (VLB, II, 131)
SAMPAIO, Francisco Xavier Ribeiro de [1642], Relação Geographica Historica do Rio Branco da America Portugueza. Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. 2ª série, tomo sexto, 1850.
NOTA - Daí, no P.B., BEIJU-MEMBECA ("biju mole"), var. de biju; CAAMEMBECA ("folha mole"), arbusto da família das poligaláceas; PIRAMEMBECA ("peixe mole"), peixe cianídeo da costa atlântica do Brasil, também chamado boca-mole.
nema (s.) - fedor, mau cheiro: Xe moaîu-te i nema mã! - Ah, mas como me importuna o fedor dele! (Anch., Teatro, 8); îurunema - fedor de boca (VLB, I, 136); (adj.: nem) - fedorento, mal-cheiroso, fétido: Eîori, mba'enem! - Vem, coisa fedorenta! (Anch., Teatro, 44); -Akó tubixanẽmbûera? - Aqueles velhos reis fedorentos? (Anch., Teatro, 64); Xe nem. - Eu sou fedorento. (VLB, I, 136)
Turiassu (MA). "Correndo do Maranhão para a Capitania do Pará se estende a costa a Es-noroeste até chegar ao rio Tury-assú [...]" (Pe. José de Moraes [1759], p. 16). De turu* (no tupi antigo, turuygûera - v.) + -ûasu: turus grandes, vermes que crescem na madeira podre: "...turu, minhoca d'água, peste da madeira por mais dura que seja, e traça das embarcações [...]". (Pe. João Daniel [1757], p. 359).
gûatapy (s.) - GUATAPI, VATAPU, UATAPU, búzio marinho muito grande, concha univalve de grande abertura de molusco gastrópode (VLB, I, 60) ● gûatapy-tyba - ajuntamento de búzios (nome antigo de Cabo Frio, RJ) (VLB, I, 62)
Itaipaba (CE). De itá + upaba: lagoa das pedras, itaupaba, itaupava, barra transversal, recife ou rocha, por cima da qual passam as águas de um rio. "Este primeiro rio, a que chamam Tieté, é o mais cheio de cachoeiras e das peores. O fundo d'elle é quasi todo pedra, quando esta é assentada por igual, mas com pouco fundo, de modo que algumas partes era calháo, onde roçam as canôas; chamam a isto itaupaba (...)." (D. Antonio Rolim [1751], Relação, p. 475).
MENEZES, Jozé Cezar de [n.d.], Resumo das Freguezias da Comarca de Goyana, e Capitania de Itamaracá. Ex Biderman, M.T.C., (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
OLIVEIRA, Amtonio d' [1553]. Confirmação das terras doadas pelo ir. Pero correia ao colégio de s. Vicente, 22 de março 1553. Apontamentos históricos, geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo seguidos da cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de São Vicente até o ano de 1876. Publicados por deliberação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. São Paulo, Livraria Martins Editora, 1952.
kûeîkûeîbo (adv.) - em toda a parte, por toda a parte: ...I îogûerekó kûeîkûeîbo... - A consorciação deles em toda a parte. (Ar., Cat., 49v); ...Kûeîkûeîbo o îosuí i kûá e'ymeté - Como se eles não estivessem por toda a parte, longe uns dos outros. (Bettendorff, Compêndio, 56)
marigûi1 (ou maringûĩ) (s.) - MARUIM, MARIGUI, MERUÍ, BIRIGUI, BARIGUI, nome comum a insetos da família dos ceratopogonídeos. As fêmeas são hematófagas. Picam o homem e os animais domésticos, produzindo violenta comichão e inchando a pele. É também chamado MERUIM, MARINGUIM, MIRUIM, MURUIM, mosquito-do-mangue, etc. (D'Abbeville, Histoire, 255; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 257; VLB, II, 43): - Xe su'umo marigûi... - Picar-me-ia o marigui... (Anch., Teatro, 62)
quê? (= que coisa?): mba'epe? marãpe? (referindo-se a mais de um): mba'e-mba'epe? marã-marãpe ● que mais?: mba'epe amõ? de quê?: mba'e suípe?; com quê?: mba'e pupépe?; por quê?: mba'e resépe? (com sentido futuro): mba'erama resépe? mba'erama ripe?
taŷaíba (ou taŷgaíba) (s.) - terribilidade (VLB, II, 127); coragem; força: Oîkó bé xe taŷaíba. - Minha coragem ainda existe. (Anch., Teatro, 22); Xe 'anga taŷaíba... - Força de minha alma. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); (adj.: taŷaíb ou taŷgaíb) - terrível, corajoso, forte: Xe taŷgaíb.* - Eu sou terrível. (VLB, II, 127)
Congonha (riacho da BA). Da língua geral meridional, por influência guarani, nome de vários arbustos cujas folhas servem para chás; mate-falso; (no Sul) erva-mate: "Foraõ esperallo ao sitio das Congonhas, assim chamado por huma herva, que produz deste nome, da qual fazem os Paulistas certa potagem, em que achaõ os mesmos effeitos do xâ." (Rocha Pitta [1730], p. 376)
ekó1 (t) (s.) - lei, determinação, regra, costume (VLB, II, 19): Îori, t'ereîá sekó. - Vem, para que recebas a lei deles. (Anch., Teatro, 46); Ã tekó a'ereme moreroka. - Eis que era costume, então, batizar. (Ar., Cat., 3); ...Tekó-katu aby potare'yma - Não querendo transgredir a boa lei. (Ar., Cat., 125v); ...Asé 'anga rekorama oîmonhang asébe. - As leis de nossa alma fez para a gente. (Anch., Doutr. Cristã, I, 224) ● sekoba'e - o que é costume, o que está acostumado: Sekoba'e ixé. - Eu sou acostumado. (VLB, II, 140)
NOTA - Daí, no P.B. (AM), CARUANA, gênio benfazejo e serviçal que os indígenas crêem habitar o fundo dos rios e igarapés, e que os pajés invocam para curar doentes ou esconjurar feitiços, fumando e cantando uma toada monótona. (In Novo Dicion. Aurélio)
ekûá (2ª p. sing. irreg. de só, ir, indicando uma certa ênfase no que se diz, ou indignação) (Anch., Arte, 58) - Vai!: ...Ereîmorype amõ, "-Asó-potar i posé", i 'ereme, "-Ekûá", e'îabo? - Deste consentimento a alguma, ao dizer ela "- Quero ir com ele", dizendo tu: "-Vai."? (Ar., Cat., 104v)
irũ2 (s.) - companheiro, parceiro no mesmo ofício: ...Îandé maranirũ... - Nossa companheira de guerras. (Anch., Poemas, 88); Peîori, xe irũ-etá... - Vinde, meus companheiros. (Anch., Poemas, 182); São Sebastião irũ... - companheiro de São Sebastião (Anch., Teatro, 40) [Acompanhado do pronome i, absorve-o: i irũ → irũ - companheiro dele (Anch., Arte, 6)]
Curitiba (capital do PR). Da língua geral meridional kuri* - pinheiro, araucária + tyba - ajuntamento, jazimento: ajuntamento de pinheiros. "Igual remeça faço agora dos Pinheiros de Curitiba; oxalá cheguem em termos, e q̃. prosigaõ avante nesse Clima." (Franca e Horta [1803], Para o ex.mo snr. d. Rodrigo - N.º 16, p. 192); "Anno de nascim.^to de nosso Senhor Jesus christo de mil e sette centos e vinte e seis annos aos nove dias do mes de Sbr.^o do d.^o anno nesta v^a de nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba". (Manuel de Sam Payo et al. [1726], Cap.os de correição que faz o cap.am Manuel de Sam Payo juiz ordinario, p. 51).
_____________ Diário da viagem que em visita e correição das povoações da capitania de S. José do Rio Negro fez o ouvidor e intendente geral da mesma, no ano de 1774 e 1775. Lisboa, na Tipografia da Academia, 1825.
e'õ (t) (s.) - 1) morte (em geral): ...Te'õ rupîara nhẽ... - Adversária da morte (Anch., Poemas, 88); Te'õ rerobyka é, xe angaîpá-tubixagûera amosẽne... - Aproximando-me da morte, meus grandes pecados antigos farei sair. (Anch., Teatro, 38); N'ereîkuabipe ko'yr te'õ nde resé sekó? - Não sabes que agora a morte está contigo? (D'Abbeville, Histoire, 350); 2) morte natural: Te'õ suí amanõ. - Morro de morte natural. (VLB, II, 42); 3) desfalecimento, entorpecimento; [adj.: e'õ (r, s)] - moribundo; desfalecido, entorpecido; (xe) morrer; desfalecer, entorpecer-se: ...Abá 'anga re'õû nhẽ Tupana nhe'enga abŷápe. - As almas dos homens morrem ao transgredirem a palavra de Deus. (Anch., Teatro, 144); Se'õ. - Ele morre. (Anch., Arte, 40); îybá-e'õ-e'õ - braços entorpecidos, quebrantados (com algum sobressalto, grande tristeza, etc.); pó-e'õ - mãos entorpecidas (VLB, II, 93) ● e'õsara (t) - o que morre, o mortal (VLB, II, 42); e'õaba (ou e'õsaba) (t) [no futuro egûama (t)] - tempo, lugar, modo, causa, instrumento, etc. da morte, do morrer; morte (Fig., Arte, 59): ...Abá re'õagûera resé og orybamo... - Alegrando-se com a morte de alguém. (Ar., Cat., 70v); O'u nhẽpe a'e 'ybá, tegûama...? - Comeu aquele fruto, causa de morte? (Ar., Cat., 40v); Nde ma'enduá-katu... nde resé se'õagûera resé. - Lembra-te bem de que morreu por tua causa. (Ar., Cat., 249); e'õ-memûã (ou e'õ-aíba ou e'õ-korine) (t) - morte súbita ou em desastre (VLB, II, 42)
ikó2 / ekó (t) (v. intr. irreg.) - 1) estar (em geral ou em movimento): Oîkó-po'ipe i tupã se'õmbûera pupé? - Deixou de estar sua divindade em seu cadáver? (Ar., Cat., 44); Nde resé memẽ oroîkó... - Contigo sempre estamos. (Anch., Poemas, 84); 2) morar: Kó taba pupé aîkó. - Moro nesta aldeia. Aîkó iké xe roka pupé. - Moro aqui em minha casa. Aîkó Pero irũnamo. - Moro com Pedro. (VLB, II, 41); Umãmepe sekóû? - Onde ele mora? (Ar., Cat., 50v); 3) ser (acompanhado ou não da posposição -ramo): N'i xyîtepe Tupã-etéramo oîkóbo? - Mas não teve mãe, sendo Deus verdadeiro? (Ar., Cat., 22v); -Mba'epe Santa Madre Igreja Católica îekuapabeté? -Oîepé nhõ sekó... - Qual é o verdadeiro sinal da Santa Madre Igreja Católica? -Ser ela uma só. (Bettendorff, Compêndio, 54); Pitangĩnamo ereîkó... - És um nenenzinho. (Anch., Poemas, 100); Asé rarõanamo-tepe karaibebé rekóû? - Mas os guardiães da gente são os anjos? (Ar., Cat., 23v); 4) viver: Aîkó-katupe i îabé ká... - Hei de viver bem como eles. (Ar., Cat., 24); I xupépe asé îeruréû o 'anga rekorama resé? - A ele a gente pede pelo futuro viver de sua alma? (Ar., Cat., 93v); Aîkó tekokatu resé. - Vivo na virtude. (Anch., Arte, 44); -Endépe ereîkó? - Tu vives? (Fórmula de saudação a quem chega.) (VLB, II, 113); 5) proceder, portar-se, agir, fazer (no sentido de portar-se, comportar-se): Aîkó nde nhe'enga rupi. - Procedo conforme tua palavra. (VLB, II, 53); Pysaré serã ereîkó arinhama mokanhema...? - Será que a noite toda ages para fazer sumir as galinhas? (Anch., Teatro, 30); Marã oîkóbo bépe abá i abyû? - Procedendo de que forma o homem o transgride? (Ar., Cat., 69v); Ixé aé emonã aîkó. - Eu mesmo fiz assim. (VLB, I, 135); 6) ter relações sexuais, fazer sexo [é regido, com este sentido, somente pela posposição esé (r, s)]: Aîkó sesé. - Tenho relações sexuais com ela. (Anch., Arte, 44); Oîkó kunhã resé. - Tem relações sexuais com uma mulher. (Fig., Arte, 124); 7) casar [compl. com a posposição upi (r, s)]: Aîkó kunhã rupi. - Caso com uma mulher. (Anch., Arte, 43v); 8) ter a ver, interessar [compl. com esé (r, s)]: Nd'oroîkóî aîpó resé... - Não temos a ver com isso. (Ar., Cat., 57v); N'aîkóî sesé ko'yté. - Não tenho a ver com ele, enfim (isto é, desisti dele). (VLB, I, 99); 9) haver, existir: Nd'oîkóîpe mba'e amõ Tupã 'ara monhang'e'ymebé? - Não havia nada antes de Deus fazer o mundo? (Anch., Doutr. Cristã, I, 159); ...Aûîebeté ereîkó xe îar-y gûé!... - Que bom que existes, ó meu senhor! (Ar., Cat., 86); 10) ocorrer, suceder: Ereîopykype nde remirekó, sugûy sekóreme? - Cobriste tua esposa quando sucedia o sangue dela (isto é, na sua menstruação)? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98); 11) ter pendências, contendas, problemas [é regido, com este sentido, pelas posposições esé (r, s) ou ri]: Aîkó sesé. - Tenho pendências com ele. (Anch., Arte, 44); 12) negociar, trabalhar [com as posposições esé (r, s) ou ri]: Paranãmbora ri aîkó. - Trabalho com mariscos. (VLB, II, 32); 13) acostumar-se, estar acostumado [compl. com a posp. esé (r, s)]: N'aîkóî (abá) resé. - Não estou acostumado com homens. (VLB, I, 95, adapt.); 14) eis aqui estar: Aîkó. - Eis-me aqui, eis que aqui estou. (VLB, I, 109); 15) deter-se: Ymûanĩ ahẽ rekóû. - Por longo espaço de tempo ele se deteve. (VLB, I, 125); 16) buscar, estar em busca [é regido, neste caso, pela posp. esé (r, s)]: So'o resé aîkó. - Estou em busca de caça. (VLB, II, 41); Mba'e resépe ereîkó? - Que coisa buscas? (VLB, II, 92) ● oîkoba'e - o que vive, o que está, o que habita, o que tem relações sexuais, etc.: ...Tupã pyri oîkoba'e - o que está junto de Deus (Anch., Teatro, 16); ...O mendasabe'yma resé oîkoba'e... - O que tem relações sexuais com o que não é seu cônjuge. (Ar., Cat., 71); ekoara (t) - o que está (sempre ou ocasionalmente), o que vive, o que procede, etc.: Opabenhẽ serã erimba'e a'epe tekoara iî a'o-îa'oû...? - Por acaso todos os que estavam ali ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v); Marataûãme tekoara ogûerobîá xe nhe'enga... - Os que moram em Maratauá acreditam em minhas palavras. (Anch., Teatro, 12); ...Emonã tekoarûera îaîpe'a. - Separemos os que assim procederam. (Ar., Cat., 128); ekoaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de estar, de viver, de morar, de proceder, etc.; o viver, o proceder, etc.: Marãpe erimba'e Tupã îandé rubypy rerekóû emonã sekoagûera ri? - Que fez Deus outrora com nosso pai primeiro por causa de seu proceder assim? (Anch., Doutr. Cristã, I, 162)
ka'aponga (s.) - CAAPONGA, erva da família das portulacáceas, cujas folhas novas, bem como os brotos, são usados na alimentação, sendo os caules, as folhas e as sementes vermífugos e diuréticos (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 49)
Mapendipe (BA). De ma'eapina + 'y + -pe: no rio do baeapina. Mba'eapina (i.e., coisa tosquiada), no século XVI, era nome dado a um homem marinho, um monstro marinho que os índios supunham existir, mas que passou, com o tempo, a assombrar também outros lugares. O termo mba'e4 (ou ma'e), por si só, tem esse sentido: coisa má (VLB, I, 85). "Baéapina — Estes são certo genero de homens marinhos do tamanho de meninos, porque nenhuma differença têm delles; destes ha muitos, não fazem mal." (Pe. Fernão Cardim [1585], p. 56).
Serinhaém (rio de PE). De seri + nha'ẽ: bacia de siris, alusão a uma forma de relevo fluvial da região. [...] dá a Freguesia o nome de Serinhaem, que na lingoa nacional quer dizer Seri na tigélla [...]. (Jozé Cezar de Menezes [n.d.], Resumo das Freguezias da Comarca de Goyana, e Capitania de Itamaracá, p. 46).
moarybé (v.tr.) - 1) fazer cessar, acalmar, abrandar: Mba'easybora remimborará moarybé-ukasara bé 'ykaraíba... - A água benta é o que faz abrandar também o que os doentes sofrem. (Ar., Cat., 352); 2) tirar o efeito de, neutralizar (p.ex., o veneno): A'e ipó... oîmoarybé-ukar xe suí... - Ele, certamente, faz tirar-lhe o efeito de mim. (Ar., Cat., 219, 1618)
nhemoapysyk1 (v. intr. compl. posp.) - consolar-se [com algo: compl. com esé (r, s)]: Onhemoapysy-katu rakó abá mba'e ikó 'ara pora resé. - Consola-se muito o homem, de fato, com as coisas que estão contidas neste mundo. (Ar., Cat., 155)
nhemoaûîé (v. intr.) - render-se, dar-se por vencido, entregar-se: Erenhemoaûîépe nde kerype nde resé abá rekó mo'angeme? - Tu te entregaste ao imaginar em teu sono que um homem fazia sexo contigo? (Ar., Cat., 235, 1686)
ekoaba4 (t) (s.) - 1) morada provisória, lugar de estar: ...So'o, pirá, gûyrá retãme'engaba é ikó 'ara; îandé rekoabamo nhote rimba'e pa'i Tupã îandébe i me'engi biã... - Este mundo é a terra prometida dos animais quadrúpedes, dos peixes e dos pássaros; como nossa morada provisória, somente, o Senhor Deus a deu para nós. (Ar., Cat., 166v); 2) morada permanente: Tupã îandé rekomonhang'iré... mokõî nhõ abá rekoabane: koniã ybaka Tupã raûsupara rekoabamo, koniã Anhanga ratá i angaîpaba'e rekoabamono. - Após Deus nos julgar, duas somente serão as moradas dos homens: de um lado, o céu, como morada dos que amam a Deus, e, doutro lado, o inferno, como a morada dos que são pecadores. (Ar., Cat., 163)
îeoî (v. intr. irreg. usado somente no plural) - 1) irem ou passarem sucessivamente, uns atrás dos outros: Oroîeoî. - Vamos (ou passamos) sucessivamente, uns atrás dos outros. (VLB, II, 14); 2) partirem-se, irem-se: ...Seté îukáû, i 'anga-te oîeoî tekobé opaba'erame'yma ri oîekosupa... - Mataram seus corpos, mas suas almas foram-se para encontrar a vida que não acabará. (Ar., Cat., 5v)
monan2 (v.tr.) - borrar (o que está escrito ou pintado) (VLB, I, 58): Nde 'anga... ybaka... rerekoarambûera mba'enẽ-memûã pupé oîmomemûã, sesé i monana. - Tua alma elimina a posse do céu com coisas fétidas e más, borrando-a por causa delas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
Carapicuíba (SP). De karapuku - carapucu ou peziza, cogumelo da família das marasmiáceas (VLB, I, 86) + aíb - mau, ruim, desprezível, vil (VLB, I, 100; II, 80) + suf. -a: carapucu ruim (para comer), não comestível. Também pode ser composição de akará + puku + aíb + -a: carás compridos e ruins, carapicus ruins (para comer), peixes gerrídeos. Também há o arbusto carapicu, talvez nome da língua geral meridional, podendo, então, Carapicuíba significar pé de carapicu: carapicu* + 'yba.
Piranga2, Serra da (PA). Da língua geral setentrional, arvoreta bignoniácea com que os índios preparavam um corante vermelho para a pele. O mesmo que caapiranga: "Há também muitas outras tintas roxas; mas como o caa piranga é tão abundante e tinta muito fina, e viva, não fazem caso de outras..." (Pe. João Daniel, [1757], p. 431)
aani1 (adv.) - não (com ênfase); nunca, de maneira nenhuma, de modo algum, absolutamente (Fig., Arte, 129): Aani! Aîemoŷrõ. - Não! Irritei-me. (Anch., Teatro, 42); -Setápe asé nhemongaraíbi? - Aani. - A gente batiza-se muitas vezes? - De maneira nenhuma. (Anch., Doutr. Cristã, I, 202); -N'asé ruã-tepe o emi'urama oîmonhang? - Aani... - Mas não é a gente que faz sua comida? - De modo algum... (Ar., Cat., 27v) ● aani nhẽ - não (Fig., Arte, 134); aani rakó - não (Fig., Arte, 134); aani re'a - não é assim (de h.) (Fig., Arte, 134); aanirĩ - não é assim (de m.) (Fig., Arte, 134); aani xûémo - não (hipotético): -Nd'oîporaráî xûémop'asé mba'e amõ 'ara pupé oîkóbomo? - Aani xûémo. - Não sofreria a gente coisa alguma vivendo no mundo? - Não (sofreria). (Anch., Doutr. Cristã, I, 162); Aani xûéne - não (com relação a fatos futuros); nunca: -Oîporará bépe mba'e amõ a'epe oîkóbone? -Aani xûéne. - Sofrerão ainda alguma coisa aí vivendo? - Não. (Ar., Cat., 47); aani-xûé ipóne - não há de ser (futuro) (VLB, II, 47); aani xûé ko'yténe - nunca mais (VLB, II, 52); aani ã - isso não (Fig., Arte, 135)
Descripción del Tupinambá en el Período Colonial: El Arte de José de Anchieta. Colóquio Internacional sobre a Descrição das Línguas Ameríndias no Período Colonial. Ibero-amerikanisches Institut, Berlin, 1995.
arará (s.) - ARARÁ, espécie de formiga alada branca, semelhante ao cupim, também chamada irará.... "Não saem do ninho senão depois que chove muito... e quando saem fora é voando e sai tanta multidão que cobre o ar..." (Sousa, Trat. Descr., 239)
nhemima (s.) - ocultamento; (adj.: nhemim) - oculto, escondido: Abá angaîpá-nhemima... mombegûabo. - Contando as maldades escondidas de alguém. (Ar., Cat., 73v); (adv.) - às escondidas, ocultamente, secretamente, furtivamente: Arasó-nhemim. - Levei-o secretamente. (VLB, II, 114); ...A'e i pupé sekó-nhemimi... - Ele dentro dela está ocultamente. (Anch., Doutr. Cristã, I, 216); Nd'e'ikatuîpe abá omendá-nhemima? - Não pode uma pessoa casar-se ocultamente? (Ar., Cat., 94); ...kûybõ oma'ẽ-nhemima... - ...para cá olhando furtivamente... (Anch., Teatro, 138)
NOTA - Daí, no P.B. (ES), CABOROCA (ka'a + poroka, "arrancar o conteúdo da mata"), corte da vegetação do sub-bosque, isto é, da vegetação herbácea ou lenhosa que cresce sob as árvores, para o plantio de cacaueiros.
e'a (interj. de m.) - 1) oh! (como diz a que, caminhando, lembra-se de ter deixado algo); 2) (expressando espanto, admiração ou zombaria) - olhai! (ou olhai-me lá com que me vem!); vede isso! (o homem diz eti - v.) (VLB, II, 56; 142)
nharõ2 1) (v. intr.) ficar bravo, estar bravo, estar zangado (como o animal que provocam) (VLB, II, 95): Onharõ moxy; xe 'une! - Está bravo o maldito; comer-me-á! (Anch., Teatro, 62); 2) (v. intr. compl. posp.) - investir (p.ex., o animal) [contra alguém: compl. com esé (r, s)]: ...Onharõ-berame'ĩ asé ro'o îandé 'anga resé... - Parece investir nossa carne contra nossa alma. (Ar., Cat., 11)
pa'i (s.) - 1) mestre, senhor (forma de tratamento que acompanha um nome próprio): Pa'i Îesu - Senhor Jesus (Anch., Teatro, 42); Pa'i Tupã - o Senhor Deus (Anch., Teatro, 50); 2) padre: Xe reroketé pa'i. - Batizou-me, verdadeiramente, o padre. (Anch., Teatro, 164); 3) s. voc. - meu senhor! meu pai!: Marãnamo-piã xe pe'a îepé, pa'i gûé?... - Por que tu me abandonaste, ó meu senhor? (Ar., Cat., 63; Anch., Arte, 14v)
NOTA - O termo PERERECA, no P.B., formou-se da composição îu'i-perereka ("rã saltadeira"), em que desapareceu o primeiro membro dela (îu'i), fenômeno comum no desenvolvimento histórico do tupi antigo. Isso aconteceu, também, na formação da palavra PITANGA ('ybá-pytanga, "fruto avermelhado"), nome de uma conhecida fruta e da planta que a produz. Dali, também, TERERECA, 1) falador, tagarela; 2) agitado, inquieto; 3) inconstante, volúvel; 4) (SP) pião que gira saltando (in Novo Dicion. Aurélio).
NOTA - Daí, no P.B., pelo nheengatu, PINDOPEUA (pindoba chata), que, nas tapagens de pesca, é a parede achatada lateral, feita de palmas (in Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, o nome geográfico PINDOTIBA (RJ) (v. p. 386).
pûer (adj. - Em ambiente nasal assume a forma mbûer. Embora seja tema nominal, comporta-se, muitas vezes, como sufixo. Apresenta os alomorfes ûer, er, gûer, etc. Expressa o passado nominal.) - 1) antigo, velho, extinto, passado, acabado, que foi, ACUERA: miapepûera - o que foi pão (Ar., Cat., 87); miîukapûera - o que foi morto (Anch., Arte, 19v); Aroŷrõ xe rekopûera. - Detesto minha lei antiga. (Anch., Poemas, 104); xe retãmbûera - minha antiga região (Anch., Poemas, 152); irũmbûera - os que foram seus companheiros, seus ex-companheiros (Anch., Teatro, 46); T'a'u kori i îybapûera... - Hei de comer hoje seus braços (fora do corpo, isto é, o que foram seus braços). (Anch., Teatro, 64); 2) (xe) - passar, acabar, extinguir-se: I pûer tekoaíba - Passou a aflição. (Anch., Arte, 33v); (V. tb. ûer.)
u'ã (t) (s.) - 1) talo (p.ex., de couve, alface, etc.) (VLB, II, 123); 2) palmito (usa-se com o nome da palmeira da qual ele foi extraído): pindobu'ã - palmito de pindoba; paty ru'ã - o palmito da palmeira pati; îeîsaru'ã - palmito de juçara (VLB, II, 63)
NOTA - Daí, no P.B., BURAQUARA (de ybyrá + kûara, "buracos das árvores"), pesca de peixes e moluscos escondidos nos buracos dos troncos de árvores submersas; BAIQUARA, caipira, pessoa que vive metida em lugares retirados. Daí, também, provêm os nomes geográficos JABAQUARA (SP), JAGUAQUARA (BA), etc. (v. p. 386).
moaûîé1 (v.tr.) - vencer, derrotar, render (p.ex., o inimigo) (VLB, II, 101): Îori, anhanga mondyîa, oré moaûîé suí! - Vem para espantar o diabo, para não nos vencer. (Anch., Poemas, 102); Xe abé iî ybõmbyrûera Bastião xe moaûîé. - A mim também o flechado Bastião derrotou-me. (Anch., Teatro, 48); Koromõ, keygûara temiminõ moaûîébo, asapekóne. - Logo, vencendo os temiminós, habitantes daqui, eu os frequentarei. (Anch., Teatro, 136); Tekobé îandébe Tupã remime'enga syka bé, te'õ îandé moaûîéû... - Assim que acaba a vida que Deus nos dá, a morte nos derrota. (Ar., Cat., 154v) ● emimoaûîé (t) - o que alguém vence, o que alguém derrota: Îori, esenõî angá kûeîbo nde remimoaûîé. - Vem, nomeia os que tu derrotas por aí. (Anch., Teatro, 12)
NOTA - Daí, no P.B. (N.), TUPÉ, esteira geralmente feita de talas de purumã, na qual se espalham os produtos da lavoura, para secarem, e empregada também como tolda de canoa, além de ter uso doméstico (in Novo Dicion. Aurélio): "Rosinha... sentou-se num TUPÉ, no chão, junto da sua almofada de renda." (José Veríssimo, in Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio).
(VLB) VOCABULÁRIO NA LÍNGUA BRASÍLICA. (2a edição revista e confrontada com o Ms. fg. 3144 da Biblioteca Nacional de Lisboa por Carlos Drumond). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Boletim no 137, Etnografia e Tupi-Guarani, no 23, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1952.
aku'i (s.) - qualidade do que é enxuto; (adj.) - enxuto, não aguacento, não úmido (mas não seco, ou seja, como árvore, tábua, terra que se molharam ou como batata, mandioca, etc.) (VLB, I, 120): I xy na sugûyî tiruã: i aku'i, n'i kûari nhẽ. - Sua mãe nem sequer sangrou: ela estava enxuta, ela estava virgem, com efeito. (Anch., Poemas, 184)
îekuab (ou îekuá ou îekugûab) (v. intr.) - 1) aparecer, reconhecer-se, mostrar-se, transparecer, ser visível, ser visto: Marã sekó resépe i angekoaíba îekuabi? - Por qual estado seu transparecia sua angústia? (Ar., Cat., 53); -Oîekuápe (asé 'anga)? -Nd'oîekuabi. -É visível (a alma da gente)? -Não é visível. (Anch., Doutr. Cristã, I, 161); 2) ser claro (o dia, o lugar, o que se diz, o que se lê) (VLB, I, 75)
moapysyk (v.tr.) - 1) consolar, confortar: Nde pópe ogûapyka, osó kunumĩ... nde moapysyka... - Em tuas mãos sentando-se, vai o menino, consolando-te. (Anch., Poemas, 120); Xe moapysyk îepé. - Conforta-me tu. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618); Our i moapysyka... - Vieram para consolá-lo. (Ar., Cat., 53v); 2) edificar (moralmente) (VLB, I, 108); 3) deleitar, agradar (VLB, I, 27); Xe moapysy-katu. - Deleita-me muito. (VLB, I, 27; 93); 4) fartar a vontade de, o apetite de, satisfazer (fal. de comida) (VLB, I, 135) ● i moapysykypyra - o que é (ou deve ser) consolado, o consolado: A'eba'e i moapysykypyramo sekóûne. - Aqueles serão consolados. (Ar., Cat., 19); moapysykaba - tempo, lugar, modo, etc. de consolar, de deleitar, etc.; o ato de consolar, o consolo: Nde 'anga moapysykápe, oroîaîubã-îubã. - Para confortar a tua alma, nós o ficamos abraçando. (Anch., Poemas, 134)
îereb (v. intr.) - 1) virar-se; revirar-se, voltar-se; 2) espojar-se, lançar-se em terra de costas e revolver-se, agitar-se para se coçar (p.ex., os cães, os gatos): Aîeré-îereb. - Fico a espojar-me. (VLB, I, 127); 3) investir, fazer ataque: Aîereb (abá) supé. - Investi contra os homens. (VLB, II, 147, adapt.)
sorok (v. intr.) - romper-se, rasgar-se ● sorokaba - tempo, lugar, modo, etc. de romper-se, de rasgar-se; rompimento, fissura: Opakatu serã sygeapûá-kuîamo i ku'a sorokaba rupi? - Por acaso ele teve seu intestino caído totalmente pelo lugar em que se rasgou sua cintura? (Ar., Cat., 57v)
NOTA - Daí, no P.B. (Amaz.), GARERA (ygar-ûera, "o que foi canoa"), utensílio de madeira, parecido a um cocho, no qual se rala mandioca: "...os apetrechos da fabricação da farinha, os ralos, as gurupemas, os tipitis, as GARERAS ou cochos, umas como ubás a que houvessem cortado as extremidades, onde ralam a mandioca." (José Veríssimo, in Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, IGARUANA (ygara + -ygûana, "morador de canoa"), canoeiro navegador.
ereroín (v.tr.) - denominar a si, chamar a si, dar o nome a si ● sereroĩmbyra - o que é (ou deve ser) denominado, chamado, etc.: Sereroĩmbyra abá-mondá apŷabaíba... rekoaba é. - Ser chamado ladrão é característica do homem mau. (Ar., Cat., 107v)
ROLIM, D. Antonio [1751], Relação da viagem que fez o Conde de Azambuja, D. Antonio Rolim, da cidade de São Paulo para a villa de Cuyabá em 1751. Revista de Historia e Geografia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, Rio de Janeiro, t. VII (1845). 2. ed., n º 28 (jan. de 1846), p. 469 - 497, 1866.
NOTA - Daí, no P.B. (ES), CABOROCA (ka'a + por + 'ok + -a, "arrancar o conteúdo da mata"), corte da vegetação do sub-bosque, isto é, da vegetação herbácea ou lenhosa que cresce sob as árvores, para o plantio de cacaueiros.
ybyxuma (s.) - IBIXUMA, fedegoso, arbusto de caule herbáceo (Senna occidentalis (L.) Link), da família das leguminosas, de propriedades medicinais, também chamado lava-pratos, maioba, mamangá, etc. "Serve de ótimo sabão, tendo os mesmos usos que sabão espanhol." (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 131; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 177)
ekyî2 (s) (v.tr.) - pescar ( com linha e anzol): Asekyî pirá. - Pesquei peixes. (VLB, II, 75); Pirá rekyîa suí ké aîur. - Da pesca de peixes venho aqui. (D'Evreux, Viagem, 151); Akûeîme, rakó, pirá asekyî-marangatu... - Antigamente pescava bem os peixes. (Anch., Poemas, 152)
îabab (v. intr.) - fugir: Oîabab i xuí, seîá... - Fugiram dele, deixando-o... (Ar., Cat., 55); Aîabab. - Fujo. (VLB, II, 11) ● îababixûera - fujão: Xe îababixûer. - Eu sou um fujão. (VLB, I, 144); îabapara - o que foge; fugido, fugitivo (VLB, I, 140)
ipuku (adv.) - longamente, por longo tempo: Ipuku erimba'e îandé rubypy rekóû îase'o-monhanga... - Longamente nosso pai primeiro esteve chorando. (Ar., Cat., 84); Ipuku xe rekóû i monhanga. - Longamente eu o estive fazendo. (VLB, I, 102); Ipuku aîkó. - Estive por longo tempo; tardei. (VLB, II, 124)
sem (ou sẽ) (v. intr.) - 1) sair: Osem oîkobébo o tym-y roîré... - Saiu vivendo após o enterrarem. (Anch., Poemas, 124); T'osẽ anhanga i xuí... - Que saia o diabo dela. (Anch., Poemas, 146); Osem okarype... - Saiu para o pátio. (Ar., Cat., 57v); 2) mudar (a casa, indo para outra parte); mudar-se (para longe): Asem. - Mudo-me. (VLB, II, 44); 3) despontar; nascer (o sol): Otĩ kûarasy osema nde beraba robaké. - Envergonha-se o sol, nascendo, diante de teu brilho. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618) ● sembaba - tempo, lugar, modo, etc. de sair; saída: kûara sembaba - lugar de sair do sol, o nascente; kûarasy sembaba - a saída do sol, o nascer do sol (VLB, II, 46); Oîkuá-katupe a'e suí o semagûama? - Sabem bem de sua futura saída dali? (Ar., Cat., 48v)
ybyra6 (t, t) (s.) - irmão mais novo (de h.) (VLB, II, 14): T'oú îandé pytybõmo xe rybyra... - Que venha para nos ajudar meu irmão mais moço. (Anch., Teatro, 130); Aîtyby-nupã. - Açoutei-lhe o irmão. (Anch., Arte, 50v) (No vocativo, a consoante final -r do tema pode mudar-se em -t.): Xe rybyt, nde nhyrõ xebo... - Meu irmão, perdoa tu a mim. (Anch., Teatro, 46)
pe'ĩ1! (interj.) - eia! vamos! pois! pois sim! avante! sus! (com a 2ª p. do pl.): Pe'ĩ, peîpûá muru! - Eia, amarrai os malditos! (Anch., Teatro, 42); Pe'ĩ, îandé bé îaîekuakub... - Eia, nós também jejuemos. (Ar., Cat., 9v) ● Pe'ĩ tîá! - Sus! Avante! (Anch., Arte, 23) (V. tb. pene'ĩ)
anga'o1 (v.tr.) - cuidar de, tratar de, importar-se com ● angagûara - o que se importa com, o que cuida de: Tekokatu angagûara Tupã sy-angaturama. - A que cuida da virtude é a mãe de Deus bondosa. (Valente, Cantigas, III, in Ar. Cat., 1618)
mba'e2 (ou ma'e) (pron.) - 1) (na afirm.) algo: Apokok mba'e resé. - Dou combate a algo. (Fig., Arte, 124); 2) (na neg.) nada: ...Kûesé bé mba'e n'a'uî. - Desde ontem não como nada. (Anch., Poemas, 150); ...N'aîkuakubi mba'e... - Não omiti nada. (Anch., Teatro, 176, 2006) (Pode também ser usado com amõ, com os mesmos sentidos): 1) (na afirm.) algo (VLB, I, 31): Oîporarápe mba'e amõ a'epe oîkóbone? - Sofrerão algo estando ali? (Ar., Cat., 48); 2) (na neg.) nada: Nd'oîkóî mba'e amõ sekoabe'yma. - Não há nada em que ele não esteja. (Bettendorff, Compêndio, 40); ...N'oîkotebẽî ma'e amõ resé. - Não se afligem por nada. (Ar., Cat., 167)
serã (adv.) - 1) talvez, porventura, quiçá: Xe pysy-potar-y bé serã kó gûyragûasu... - Talvez queira agarrar-me novamente este pássaro grande... (Anch., Teatro, 58); 2) sem dúvida, certamente (geralmente com certas partículas): Anhẽ serã îasepîak îepi i py-pora... - Certamente vemos sempre as marcas de seus pés. (Ar., Cat., 138, 1686); Supikatu serã uĩba'e ûyrá-memûã mbouri - Certamente esse fez vir o pássaro mau. (D'Abbeville, Histoire, 353); Nde ro'o xe moka'ẽ serã... - Tua carne será, certamente, meu moquém. (Staden, Viagem, 157); Itá a'e serã. - Aquilo é pedra, certamente. (Vasconcelos, Crônica, I, §149, 253); Ké suí serã i asabi India tapyîtinga retãme... - Daqui, certamente, passou para a Índia, terra dos indianos. (Ar., Cat., 9v); 3) (na interr.) por acaso? será?: Aîpó tekó-pysasu abá serã ogûeru...? - Aquela lei nova, quem será que a trouxe? (Anch., Teatro, 4); Pysaré serã ereîkó arinhama mokanhema? - Será que a noite toda ages para fazer sumir as galinhas? (Anch., Teatro, 30); Ereruretá serã? - Por acaso trouxeste muitas coisas? (Anch., Teatro, 44); Mamõ serã xe sóûne...? - Para onde será que eu irei? (Anch., Doutr. Cristã, I, 221); Marã serã ture'ymi? - Por que será que ele não vem? (VLB, II, 8) ● serã re'a (de h.) ou serã re'ĩ (de m.) - provavelmente, acaso, quiçá, talvez (VLB, I, 87)
paraba1 (mb) (s.) - mancha; (adj.: parab) - manchado, malhado de diversas cores: Xe pará-parab. - Eu sou muito manchado. (VLB, II, 23) ● ũ-mbarab (r, s) - manchado de preto; (xe) manchar-se de preto (p.ex., a uva madura) (VLB, II, 78); tĩ-mbarab - manchado de branco; (xe) manchar-se de branco (p.ex., a barba) (VLB, II, 78); îu-parab - manchado de amarelo: tu'ĩîu-paraba - tuim manchado de amarelo (nome de uma ave) (Theat. Rer. Nat. Bras., I, 171); pará-paraba - manchas diversas (VLB, II, 30)
re'a (part. de h.) - 1) (expressa desprezo) - vamos ver! vê lá!: Oîmonhang ipó kori milagre amõ xe robakéne re'a... - Vamos ver se fará hoje realmente algum milagre diante de mim. (Ar., Cat., 58v); 2) (expressa expectativa, projeção de futuro) - há de ser, se Deus quiser, com certeza, queira Deus, tomara: ...Nd'e'i ipó xe re'õnama ranhẽ re'a. - Minha morte não há de ser ainda. (Ar., Cat., 157v); ...N'aîkóî ipó irã tuîba'eramo ranhẽne re'a... - Tomara não seja eu o que jazerá primeiro... (Ar., Cat., 157v); Oîeruré-pytubaramo kûesenhe'ym, "re'a" o'îabo... - Estando cansados de pedir, havia muito tempo, dizendo: -Queira Deus. (Ar., Cat., 7); Xe irũ ã re'a. - Esta há de ser minha companheira, com certeza. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); 3) (expressa alívio, regozijo): Aûîeteramo rimba'e Tupã xe pysyrõ Anhanga suí re'a... - Ainda bem que Deus me livrou do diabo! (Ar., Cat., 168v); 4) (expressa temor ou má expectativa) - dever, haver de: Omanõ îepémo oîemongaraíb'e'ymebé re'a... - Haveria de morrer, na verdade, antes de se batizar. (Ar., Cat., 81); Emonã ipó sekóû re'a. - Deve certamente ter agido assim. (Anch., Doutr. Cristã, II, 100); Akanhem kó ixé re'a. - Eis que agora eu hei de perecer! (Ar., Cat., 156); 5) (expressa repúdio, ódio) - Maldito! Miserável!: Mendûera kó re'a nd'e'i oîeakakapa. - Os ex-maridos, esses, malditos, não se repreendem. (Anch., Teatro, 154, 2006)
Inhomirim (rio do RJ). Provavelmente de anhuma + mirĩ: pequenas inhaúmas. O nome não deve ser o de um rio, pois não é rio pequeno: "Chegamos à boca do rio de Inhomirim pelas nove e meia. Tem este rio dois tiros de mosquete de largura, com bastante profundidade, entrando por ele embarcações do alto (...)" (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 884).
aoba (s.) - 1) roupa: Oîaobok serã ybŷa katupe nhẽ i moingóbo?... - Por acaso arrancaram sua roupa, fazendo-o estar nu? (Ar., Cat., 59v); Aîeruré aoba resé Pedro supé. - Peço a Pedro por roupa. (Anch., Arte, 44); 2) fato, vestido (VLB, I, 135); 3) pano; vela (de navio): Aroîyb aoba. - Amainei a vela. (VLB, I, 33); Osobá-syb aó-tinga pupé. - Limpou seu rosto com um pano branco. (Ar., Cat., 62); ybyraoba - pano de linho; amynyîu-aoba - pano de algodão (VLB, II, 64) ● aopesembûera - pedaço de roupa, retalho de pano (VLB, II, 104); iî aoba'e - o que está vestido (VLB, II, 144)
aûîebé-te1 (ou aûîebé-temo) (conj.) - ainda que, mesmo que, embora: Aûîebé-te xe só-umani... - Ainda que eu já fosse... (Anch., Arte, 24); Aûîebé-temo asó... - Embora eu fosse... (Anch., Arte, 23v); Aûîebé-temo xe só-umani... - Ainda que eu já tivesse ido... (Anch., Arte, 24); Aûîebé-temo xe nupãû anhe'engĩmo. - Ainda que me castigasse, eu falaria. (VLB, I, 28)
monẽ1 (part.) - mas antes (Fig., Arte, 143): Peteumẽ xe îabé peîkó-potá, ...xe monẽ pe îabé gûitekóbomo opá mba'easy aîporará ikó 'ara pupé Tupã monhyrõmomo! - Guardai-vos de querer ser como eu, ...mas, antes, se eu estivesse como vós, todas as coisas dolorosas sofreria neste mundo para aplacar a Deus. (Ar., Cat., 165v)
Ibitirama (ES). De ybytyra + ama (t), variante de etama (t), usada no nheengatu (Stradelli, 657): região de montanhas. "Pelo decreto-lei estadual nº 15177, de 31-12-1943, o distrito de Caparaó passou a denominar-se Ibitirama." (fonte: IBGE)
a'ub (adv.) 1) (com o verbo ou o nome reduplicados) - folgar em, ficar contente em: Asó-asó-a'ub. - Fico contente em ir. (Fig., Arte, 138); Arasó-rasó-a'ub. - Fico contente em o levar. (Fig., Arte, 139); 2) (com o verbo na negativa com -e'ym) - ter pesar em, lamentar, não ficar contente sem: N'asoe'ym-a'ubi. - Lamento não ter ido. (Fig., Arte, 139); N'aîmonhange'ym-a'ubi. - Lamento não o ter feito, não fico contente sem o fazer. (Fig., Arte, 139)
moingobé (v.tr.) - fazer viver: Îandé moingobé, te'õ porarábo... - Fez-nos viver, sofrendo a morte. (Anch., Poemas, 108); ...Ta xe moingobé-puku... - Que me faça viver longamente. (Ar., Cat., 128) ● moingobesara - o que faz viver: ...Memetipó îandé reté o irũeté o moingobesara o 'anga repîaka'upa... - Ainda mais nosso corpo tem saudades de sua alma, sua verdadeira companheira, a que o faz viver. (Ar., Cat., 156)
pesembûera (ou pese'õmbûera) (s.) - pedaço (VLB, II, 66); caco (de vaso, cerâmica, etc.); lasca (p.ex., de pau) (VLB, II, 19): itá-pesembûera - cacos de pedra (VLB, II, 127); ybyrá-pesembûera - lasca de madeira (VLB, II, 19); A'epe abaré hóstia pese'õ-etá-etáreme i pese'õmbûera îabi'õ Îandé Îara Îesu Cristo rekóû? - E ao partir muitas vezes o padre a hóstia em pedaços, em cada pedaço dela Nosso Senhor Jesus Cristo está? (Ar., Cat., 87v)
poreaûsuba (ou poraûsuba) (m) (s.) - 1) miséria, infortúnio (VLB, II, 38), sofrimento, infelicidade, aflição: tekó poreaûsuba - misérias da vida (VLB, II, 38); 2) aflito: ...moreaûsuba rerekoara - protetora dos aflitos (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); (adj.: poreaûsub) - miserável, aflito, infeliz, coitado: Xe poreaûsukatu gûitekóbo. - Estou sendo muito miserável. (VLB, II, 38); Pe poreaûsu korine. - Estareis aflitos hoje. (Anch., Teatro, 42); Abá-poreaûsubĩ. - Homem coitadinho. (VLB, I, 76); I poreaûsubĩ mã! (ou I poreaûsubeté'ĩ mã! ou I poreaûsubĩ ra'u mã!) - Ah, coitadinho dele! Xe poreaûsubĩ mã! (ou Xe poreaûsubeté'ĩ ra'u mã!) - Ah, coitadinho de mim! (A mulher diz também amaeîu - v.) (VLB, I, 76; II, 53; Ar., Cat., 155v)
Piracaia (SP). De pirá + kaî + -a: peixes queimados. Nome da língua geral meridional. Foi criada a freguesia "com a denominação de Piracaia por Lei Provincial no 44, de 05 de março de 1836, no Município de Atibaia". (fonte: IBGE)
NOTA - Daí, no P.B., BEIJU-POQUECA, var. de BEIJU; MOQUECA, 1) (AM) o peixe moqueado envolto em folha de bananeira; 2) (SP) espécie de cataplasma de folhas de mangueira e de fumo, que se coloca sobre a cabeça para tirar sua dor; MOQUECAR-SE, AMOQUECAR(-SE), ficar abrigado, em lugar coberto ou escondido, ficar pouco visível.
rung (v. irreg. Só usado com objeto incorporado nas formas verbais propriamente ditas. Nas formas nominais, comporta-se como qualquer outro verbo regular.) - pôr, estabelecer, arranjar, preparar, fazer (no sentido de estabelecer): Aîkó-rung xe ruba. - Fiz a roça de meu pai. (Fig., Arte, 145); T'îasó mundé runga. - Vamos para pôr armadilha. (Fig., Arte, 145); Aîypy-rung. - Pus-lhe início (isto é, comecei-o). (Fig., Arte, 145); Atupá-rung abati. - Estabeleci uma plantação de milho. (VLB, II, 81)
Jaguariúna (SP). "Jaguariúna iniciou-se às margens do rio Jaguari (...). Em 1944 o Distrito de Jaguari alterou seu nome para Jaguariúna (...) que significa "rio da onça preta", segundo Theodoro Sampaio." (fonte: IBGE). A etimologia acima fere a gramática da língua tupi. Jaguariúna só poderia significar rio preto das onças. Rio da onça preta, em tupi clássico ou nas línguas gerais dela originárias, seria Jaguaruni.
upir (ou upi) (s) (v.tr.) - levantar, erguer, fazer subir: Karaibebé pyterype supiri... - No meio dos anjos fê-la subir. (Ar., Cat., 132); Endé, nde îybápe, Îesu eresupi. - Tu, em teus braços, Jesus ergueste. (Anch., Poemas, 118); O ati'yba ri krusá osupi. - No seu próprio ombro levanta a cruz. (Anch., Poemas, 122); ...Îesu nde rupiri... - Jesus fez-te subir. (Anch., Poemas, 126)
eroîeupir (ou eroîeupi) (v.tr.) - subir com, fazer subir consigo: Nde reroîeupi kori... - Faz-te subir consigo hoje. (Anch., Poemas, 96); Xe 'anga nde raûsupara erasó seroîeupi... - Leva minha alma que te ama, fazendo-a subir contigo... (Valente, Cantigas, III, IV, in Ar., Cat., 1618)
îamakaru (s.) - MANDACARU, JAMACARU - nome dado, no Brasil, às plantas cactáceas do gênero Cereus que têm caule ereto (Cereus jamacaru, DC, Cereus triangularis (L.) Haw). São grandes cactos de porte arbóreo, característicos da caatinga, servindo como alimento para o gado durante as secas. Os Cereus de caule rasteiro têm os nomes vulgares de cumbebe e iumbeba. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 126)
NOTA - É provável que tal palavra designasse, também, um grande vaso de barro onde os índios colocavam os mortos, grande pote de barro que servia como uma urna funerária. Com efeito, no P.B., CAMOCIM (ou CAMOTIM) tem também esse sentido. Em José de Alencar, lemos: "O CAMUCIM, que recebeu o corpo de Iracema, embebido de resinas odoríferas, foi enterrado ao pé do coqueiro, à borda do rio." (in Iracema. Editora Record, São Paulo, 2006)
marã4 (s.) - labuta, ocupação, trabalho, esforço, afã, sacrifício; (adv.) usado com o verbo ikó / ekó (t) 1) em ocupação, em labuta: Aîmoingó-marã. - Fi-lo trabalhar (ou Fi-lo estar em ocupação). (VLB, I, 21); N'aîkóî marã. - Não estive em ocupação; não trabalhei. (VLB, I, 135); marã tekó: o estar em ocupação; o trabalho, a obra, a dificuldade (tekó, aí, não se mantém invariável, mas pode receber os prefixos de relação r- ou s-, conforme o caso): ...Xe irũnamo bé t'oîkó... marã xe rekóreme. - Que esteja comigo também ao estar eu em ocupação. (Ar., Cat., 32); Ta xe pysyrõ Tupã xe sumarã suí kûepe marã xe rekoápe. - Que me livre Deus de meus inimigos, em toda parte, em minhas dificuldades. (Ar., Cat., 21v); 2) em guerra: Oroîkó marã. - Estamos em guerra; lutamos. (VLB, I, 53)
Cambuci (RJ). De kamusi: camucim, pote, jarro, talha. Também era o nome de uma planta mirtácea e de seu fruto, que tem a forma de uma talha indígena. Era, também, a cova, a caverna onde eram postas as urnas que continham a ossada dos índios mortos (Brandão, Diálogos, 67) ou a própria urna funerária.
ri?1 (part. que expressa dúvida, de h. e m.) - será? por acaso: Asóp'ixéne ri? - Será que eu irei? (VLB, II, 58); Marãngatupakó... xe agûasá rekóû ri...? - Como será que estão minhas amantes? (Ar., Cat., 155v); Marãba'ep'iã ri? - Que tipo de coisa será que é isto? (Anch., Teatro, 162, 2006); Îu, anhangap'ikó ri?! - Oh, por acaso isto é o diabo?! (Anch., Teatro, 164, 2006)
saûîá (ou sagûiá) (s.) - 1) SAUIÁ, nome de um pequeno mamífero roedor. "...Criam em covas no chão; mantêm-se das frutas silvestres." (Sousa, Trat. Descr., 255): ...Xe resemõ sauîá. - Sobram-me sauiás. (Anch., Poemas, 156); 2) rato doméstico ou do mato (Sousa, Trat. Descr., 254)
umûã (ou umûan) (adv.) - já: Aîuká umûã tupi. - Matei já os tupis. (Anch., Teatro, 142); Ixé aé ã a'é umûã nakó peẽme. - Eu mesmo, como se viu, já vos disse isso. (Ar., Cat., 54v); Nde rureme aîuká umûan. - Quando tu vieste, já o tinha matado. (Anch., Arte, 21v)
ipó1 (adv.) - certamente, decerto, decididamente, na verdade (Fig., Arte, 137); resolutamente, de fato: Asó ipó. - Vou resolutamente. (Fig., Arte, 126); Abá ra'yra, ipó... - Filhos de índios, certamente... (Anch., Teatro, 48) ● com as partículas re'a (de h.) ou re'ĩ (de m.): provavelmente, acaso, quiçá, talvez (VLB, I, 87); dever (de probabilidade): Osó ipó re'a. - Deve ter ido. (VLB, I, 102); Osó ipó re'ĩ. - Deve ter ido. (VLB, I, 102); Xe mendûera ipó re'ĩ. - Meu ex-marido há de ser, certamente. (Anch., Teatro, 8) aan ipó (ou aan ipó biã ou naan ipó) - não deve ser; não será assim (VLB, II, 47); emonã ipó re'a - possivelmente, provavelmente (VLB, I, 80)
gûaragûá (s.) - GUARAGUÁ, peixe-boi (Trichechus inunguis Desm.), mamífero da ordem dos sirênios, de grande porte, da família dos triquequídeos. Sua carne era muito apreciada e a espécie Trichechus manatus está quase extinta da costa brasileira. (Sousa, Trat. Descr., 279; VLB, II, 70)
OBSERVAÇÃO - Com a colonização, o cão foi trazido para o Brasil, passando a receber o mesmo nome dado a um animal silvestre, feroz, que os tupis temiam, a îagûara. Para se diferenciar um animal do outro, passou-se a utilizar, muitas vezes, o adjetivo eté (verdadeiro, genuíno) com referência à onça (îagûareté - o jaguar verdadeiro). Isso aconteceu também com outras palavras: taîasu (v.) (taiaçu ou porco doméstico), tapi'ira (v.) (anta ou boi).
NOTA - De xe originaram-se, no P.B., as palavras XARÁ (xe rera, "meu nome"), pessoa que tem o mesmo nome que outra (ou XARAPA, XARAPIM, XERA, XERO); XERIMBABO (xe reîmbaba, "minha criação"), qualquer animal de criação ou estimação; XIRU, CHIRU (S.)
emi- (pref. que forma deverbais passivos): emiîuká (t) - o que alguém mata: îagûara remiîukapûera - o que a onça matou, o morto pela onça (Ar., Cat., 107v); Tupana remimonhanga - o que Deus faz, o feito de Deus (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618)
irumõ (v.tr.) - 1) aumentar: I angaturama nhẽ oîrumõ-rumõ. - Fica aumentando sua bondade. (Ar., Cat., 50); Eru Paraibygûara oré retama irumõmo. - Traze os habitantes do Paraíba para aumentar nossa terra. (Anch., Poemas, 176); 2) multiplicar: Aîrumõ. - Multiplico-o. (VLB, II, 44); 3) ajuntar: Kûeîsé bé nakó aîrumõ... - Eis que o ajunto há dias, na verdade. (Anch., Teatro, 10) ● irumõsara - o que aumenta, o que multiplica, etc.: ...o angaîpaba irumõ-rumõsara... - o que fica aumentando seus pecados (Ar., Cat., 112); irumõmbyra - o que é (ou deve ser) aumentado, multiplicado, etc. (Anch., Arte, 3)
paîurá (s.) - PAJURÁ, árvore de florestas úmidas da família das crisobalanáceas (Parinari montana Aubl.), muito alta, de flor azulada, com fruto de casca e polpa muito amarelas, e cuja amêndoa dentro do caroço é comestível (D'Abbeville, Histoire, 223v)
piara1 (mb) (s.) - caminho (com relação ao lugar aonde conduz): -Umãmepe amõaé reîari? -Mitỹmbiarype. -Onde deixou os outros? -Num caminho do horto. (Ar., Cat., 52v); ...T'oîkuab ybaka piara. - ...Que conheça o caminho do céu. (Valente, Cantigas, V, VI, in Ar., Cat., 1618); Kariîopiara - caminho da (aldeia) Carioca (Léry, Histoire, 352)
Jaguaré (SP). D'Abbeville, Histoire, 183v, diz que é "cão fedorento", de îagûara - onça, cão + rem - fedorento. O termo Jaguaré, contudo, no século XVIII, designava um outro animal: "Antonia Gomes, natural do Piancho, acometida de hum ferocissimo Jaquaré, especie de Tigre muy feroz, summamente alentada rebateo a sua fúria". (Fr. Domingos de Loreto Couto [1757], p. 174)
niã (part.) - 1) com efeito, eis que (às vezes não se traduz): Xe abá niã ixé. - Eis que eu sou homem. (VLB, I, 91); Sepîakypyra... niã aîpoba'e re'ombûera o marane'yma rerekó... - É visto, com efeito, que ela conserva a incorruptibilidade dos cadáveres daqueles. (Ar., Cat., 179v); ...Peîar kó niã xe rugûy pe repyramo... - Tomai este meu sangue como vosso resgate. (Ar., Cat., 84v); A'e niã, Tupã sy irũnamo, Tupã Jesus mongakuasaramo sekóû. - Eis que ele, com a mãe de Deus, foi o que criou a Jesus, Deus. (Ar., Cat., 123, 1686); 2) (expressa confirmação do que se diz): Asó niã. - Vou (como disse). (Fig., Arte, 144)
NOTA - Daí, no P.B. (AM), pelo nheengatu, APECUITÁ, APUCUITAUA (ygá-pukuî-t-aba, "instrumento de remar canoas"), remo das canoas indígenas; IGAPUITARIIARA ("os que têm dom de remadores de canoas"), nome de um povo indígena extinto.
sariama (s.) - SERIEMA, SARIEMA, SIRIEMA, ave da família dos cariamídeos (Cariama cristata L.), que vive nos descampados, comendo insetos, répteis e pequenos roedores. Dorme empoleirada em árvores, em que faz ninhos. É ave típica dos cerrados e das caatingas do Brasil. (D'Abbeville, Histoire, 242; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 203)
'yba1 (s.) - guia (p.ex., na dança) (VLB, I, 152); regente (de canto, dança, etc.) (VLB, I, 66); mestre, dirigente, comandante: Apŷaba nd'e'i te'e o 'ybamo nde mo'ama. - Por isso mesmo os homens erigem-te em dirigente deles. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618)
NOTA - Daí, JACUBA (nome de rio de SP) (v. p. 386). Daí, também, no P.B., JACUBA, 1) café engrossado com farinha de mandioca; 2) bebida preparada com água, farinha de mandioca, açúcar ou mel e, às vezes, com um pouco de cachaça; tiquara (in Dicion. Caldas Aulete)
byk (v. intr. compl. posp.) - 1) tocar; achegar-se (de modo a tocar) [complemento com esé (r, s)]: Osetobapé-pytépe erimba'e, sesé obyka bé? - Beijou suas faces, nele tocando também? (Ar., Cat., 54); 2) ter relação sexual, tocar em sentido sexual: Mbobype abá aîpoba'e oîaby kunhã resé onhemomotar'iré koîpó i mongetá roîré sesé o byke'yma pukuî? - Quantas vezes o homem transgride aquele (mandamento) após atrair-se por uma mulher ou após conversar com ela enquanto não toca nela? (Ar., Cat., 71v) ● obykyba'e - o que toca: ..."T'amendáne nde resé" o îoesé obykyba'e supé... e'îara. - A que diz para o que toca em si: - "Hei de me casar contigo". (Ar., Cat., 279); bykaba - tempo, lugar, modo, objeto, etc., do tocar, etc.: kunhã-angaturama abá bykagûere'yma... - mulher bondosa, não tocada por homem (Ar., Cat., 1686, 22v)
NOTA - Tal palavra deve fazer parte da composição TUPINAMBÁ (provav. de tupi + anam/a + mbá, "todos parentes dos tupis"), um dos povos indígenas mais importantes na história do Brasil colonial e que falava o tupi antigo.
ybŷá (ou ybá ou bŷá) (part. que expressa indeterminação do sujeito ou do objeto. Como sujeito, equivale ao se do português em "Come-se bem aqui" ou à 3ª p. do plural em "falaram bem dele". Como objeto, aparece com partículas de sentido indefinido.): Marãpe ybŷá serekóû aîpó i 'ereme? - Como o trataram ao dizer ele isso? (Ar., Cat., 55v); Kó 'ara nungara pupé Santa Maria sóû o ykera amõ ybá Santa Isabel supa. - Num dia semelhante a este, Santa Maria foi para visitar uma certa prima sua, Santa Isabel. (Ar., Cat., 6v)
îubyk (v.tr.) - enforcar; estrangular: Aîubyk. - Enforquei-o. (VLB, I, 116); A'emo oîubyk-uká? - Eles mandariam enforcá-los? (Anch., Teatro, 62) ● îubykara - enforcador, o que enforca: Akó xe îubykarûera... xe îubyk benhẽ potá! - Esse é meu antigo enforcador, querendo enforcar-me novamente! (Anch., Teatro, 62); moroîubykarûera - o que enforcou gente (VLB, I, 31); i îubykypyra - o que é (ou deve ser) enforcado (VLB, I, 116) (O mesmo que aîubyk - v.)
'ara2 (s.) - sol: Asé 'apyterype 'ara ruî. - No alto de nossas cabeças o sol está. Îandé 'apytera 'arybo 'ara rume, xe ruri. - Quando o sol estava no alto de nossas cabeças, eu vim. (VLB, I, 112); 'Ara yby sokeme, xe ruri. - Ao fustigar o sol a terra, eu vim. (VLB, I, 112)
2 (poss. reflexivo - o mesmo que o1 (v.) antes de temas iniciados em vogal) - seu, seu próprio (s, a, as): ...gûeté-marane'yma... - seu próprio corpo incorrupto (Ar., Cat., 161v); Tupã é abaré oîmoîa'ok gûekobîaramo. - O próprio Deus distinguiu o padre como seu substituto. (Anch., Doutr. Cristã, II, 77)
OBSERVAÇÃO - Com a colonização, o boi foi trazido para o Brasil, passando a receber o mesmo nome dado a um animal silvestre, que os tupis caçavam e não criavam, a tapira. Para se diferenciar um animal do outro, passou-se a utilizar, muitas vezes, o adjetivo eté (verdadeiro, genuíno) com referência à tapira do mato (tapi'ireté - a tapira verdadeira). Isso aconteceu também com outras palavras: taîasu (v.) (taiaçu ou porco doméstico), îagûara (v.) (onça ou cão).
-usu2 (suf. de temas terminados em consoante) - muito, muitos; (com o sujeito): Oroîurusu. - Viemos muitos. (VLB, II, 146); (com o objeto): Arurusu. - Trago muitos. (Anch., Arte, 13v); Aîopoîusu. - Alimento muitos. (Anch., Arte, 13v); (com o predicativo do sujeito): Xe ranusu. - Eu sou muito grosseiro; eu sou grosseirão. (VLB, I, 20); [V. tb. -(g)ûasu]
NOTA - Daí se originam centenas de nomes de plantas, geralmente palavras terminadas em iba, iva, uba, uva: CABREÚVA ("planta de caburé"), JACAREÚBA ("planta de jacaré"), SIRIÚBA ("planta de siri"), ARAÇAÍBA ("pé de araçá"), JABUTIBA ("planta de jabuti"), BUÇU (de 'ybusu, "planta grande"). Muitas delas têm etimologia obscura: AIJUBA, AIÚBA, EMBAÚBA, ANINGAÚBA, ANIBA, CARNAÚBA, CAÚBA, MAÇARANDUBA, PAXIÚBA, COPAÍBA, MACAÚBA, BOCAIÚVA, PINDAÚVA, etc.
NOTA - Daí, no P.B., QUIRIRI, usado na Amazônia e significando "calada da noite", "silêncio noturno" (PDBLP, p. 1020): "...Tudo caiu em enorme silêncio, .... esse silêncio noturno das nossas regiões a que o tapuio chama, talvez imitativamente, QUIRIRI." (José Veríssimo, Cenas da Vida Amazônica, apud Novo Dicion. Aurélio). Daí, também, o nome geográfico IQUIRIRIM (nome de rua de São Paulo) (v. p. 386).
pa'ama (mb) (s.) - 1) atolamento; obstrução: ty-pa'ama obstrução de urina, cálculo renal (VLB, II, 69); 2) engasgamento; (adj.: pa'am) - 1) atolado; obstruído; 2) engasgado; (xe) engasgar-se: xe nhe'ẽ-pa'ama - minhas palavras engasgadas (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618)
Quitinduba (PE). É uma composição híbrida: de quitandê, termo do quimbundo que designa uma var. de feijão miúdo + 'yba - planta, pé: pés de quitandê. "Entrando depois de quatro legoas de costa [...] sobe sete legoas até o Engenho Quitinduba [...]" (Jozé Cezar de Menezes [n.d.], Resumo das Freguezias da Comarca de Goyana, e Capitania de Itamaracá, p. 46).
Uruguai (país sul-americano). "Nos entendemos, que estas Aldeias eram as que então estavam a cargo do Jesuíta o Padre Francisco Dias Tanho, Superior de tôdas as Aldeias até o Uruguai, e Campos dos Guaianazes." (Pedro Taques, Notícias das Minas, p. 68). De urugûá - var. de caracol d'água doce (VLB, I, 66) + 'y: rio dos uruguás. Palavra que deve provir do guarani antigo.
ekomemûã (t) (s.) - 1) mal-estar, infelicidade: ...Sekomemûã potare'yma. - Não querendo sua infelicidade. (Ar., Cat., 75); 2) erro, engano (VLB, I, 116): Sekomemûãneme senonhẽ-nonhena... - Ficando a repreendê-lo por ocasião de seu erro. (Ar., Cat., 127v); 3) injustiça (VLB, II, 12); 4) malícia (VLB, II, 29); 5) opróbrio (VLB, II, 57)
emonãnama (part.) - o seguinte, o que se segue: -Abá supépe asé nhemombe'uû? -Abaré supé. - Marãnamope? -Emonãnama ri: Jesus Cristo rekobîaramo sekóreme nhẽ. -Para quem a gente se confessa? -Para o padre. -Por quê? -Pelo seguinte: por ser substituto de Jesus Cristo. (Anch., Doutr. Cristã, I, 210)
ingá (s.) - 1) INGÁ, ANGÁ nome comum a árvores muito grandes da família das leguminosas, do gênero Inga, que aparecem em todo o Brasil, tendo frutos com sementes brancas e doces, envolvidas numa massa carnosa, geralmente comestível; 2) o fruto dessa árvore (D'Abbeville, Histoire, 226; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 112)
tukũ1 (s.) - TUCUM, nome comum a várias espécies de palmeiras dos gêneros Astrocaryum e Bactris, dentre as quais a espécie Astrocaryum vulgare Mart. (Sousa, Trat. Descr., 225; Staden, Viagem, 139). A Astrocaryum aculeatum G. Mey. era utilizada pelos índios na fabricação de arcos e flechas e das cordas dos arcos. (D'Abbeville, Histoire, 222; Léry, Histoire [1580], p. 340)
irõ2 (conj.) - portanto, pois, enfim: -Ké muru ruri obébo? -Irõ n'i ate'ymangáî! -Não é que o maldito veio voando? -Portanto, não é, de modo algum, preguiçoso! (Anch., Teatro, 24); Irõ oropokosub! - Portanto, prendo-te! (Anch., Teatro, 48); Irõ, oîepé tiruã pecado n'aromanõî! - Portanto, não morri com um pecado sequer! (Anch., Teatro, 172); Irõ bé! - Enfim, de volta! (Anch., Teatro, 134)
NOTA - Daí, no P.B., BORBOREMA (yby + mbor + e'ym + -a, "terra sem habitantes"), lugar despovoado, estéril (in Dicion. Caldas Aulete), donde o nome da Serra da BORBOREMA, no Nordeste; CAIPORA (ka'a + pora, "habitante da mata"), nome de entidade mitológica do Brasil, mas não mencionada nos textos quinhentistas; CAAPORA (Amaz.), homem do mato, roceiro.
akó1 (dem. pron. e adj.) - 1) este (es, a, as), esse (es, a, as), aquele (es, a, as); isto, isso, aquilo (vis. ou n.vis.): N'osa'angi-tep'akó nhembo'e ko'arapukuî? - Mas não tentam esses aprender sempre? (Anch., Teatro, 30); Akó xe îubykarûera... - Esse é meu antigo enforcador. (Anch., Teatro, 62); Akó 'y asé reté moîasuka îabé, akûeîa îabé. - Assim como esta água lava o corpo da gente, também aquela (lava). (Anch., Doutr. Cristã, I, 201); Akó tubixanẽmbûera? - Aqueles velhos reis fedorentos? (Anch., Teatro, 64); 2) (adv.) eis que: Akó ybakype ogûekó îakatu, Îandé Îara... rekóû miapepûera pupé nhẽ abaré pópe re'a... - Eis que, como está no céu, Nosso Senhor está dentro do pão nas mãos do padre, com certeza. (Ar., Cat., 84v); 3) aquele que: Akó oîké rakó Tupãokype... - Aquele que entrava na igreja. (VLB, I, 40) ● akó amõaé - aquele outro (VLB, I, 40)
nong1 (-îo- ou -nho-) (v.tr.) - 1) pôr, colocar: Enhonong nde itaingapema nde ku'aî. - Põe tua espada na tua cintura. (Fig., Arte, 125); Nde morerekoar xe ri, nde pó gûyrype xe nonga. - Sê tu guardião de mim, sob tuas mãos colocando-me. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., 1618); Aó-tinga onong asé resé. - Roupa branca põe na gente. (Ar., Cat., 81v); 2) fazer ser, fazer estar: ...Aîonong ka'umondá... - Faço-os ser ladrões de cauim. (Anch., Teatro, 134); 3) deter: T'orosóne, Anhangusu; oré reîtyk, oré nonga. - Vamos, Anhanguçu; derrotou-nos, detendo-nos. (Anch., Teatro, 172) ● nongaba - lugar, tempo, modo, causa, etc. de pôr, de colocar, ato de pôr, de colocar: ...I pysyrõû tekoangaîpabypy Adão îandé nongaba suí. - Livrou-a do pecado primeiro em que Adão nos pôs. (Ar., Cat., 9); nongara - o que põe, o que coloca, etc.: Mba'easybora o mara'ara kakareme t'osenõîukar abaré, îandykaraíba nongara... - Ao se aproximar o doente de sua agonia, que mande chamar o padre, o que põe o óleo bento. (Ar., Cat., 137v); i nongymbyra - o que é (ou deve ser) posto, colocado, etc.: ...Kaûĩ i pupé i nongymbyra... - O vinho que é colocado dentro dele. (Bettendorff, Compêndio, 85)
tamandûá (s.) - TAMANDUÁ, nome genérico de animais mamíferos desdentados da família dos mirmecofagídeos e, principalmente, do Myrmecophaga tridactyla (D'Abbeville, Histoire, 249v): Akó xe îubykarûera, tataûrana, tamandûá ...! - Esse é meu antigo enforcador, uma taturana, um tamanduá. (Anch., Teatro, 62)
tangaraká (lit, folha de tangarás) (s.) - TANGARACÁ, erva-do-rato, nome dado a várias ervas rubiáceas dos gêneros Psychotria e Palicourea, todas elas caracterizando-se pela elevada toxidez; suas flores e frutos são venenosos e têm como antídoto suas próprias raízes. Também designa uma pequena erva da família das nictagináceas (Boerhavia hirsuta Jacq.) (Piso, De Med. Bras., IV, 193; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 60; Theat. Rer. Nat. Bras., II, 224)
Cametá (PA). De algum termo da língua geral setentrional, designando o cavintau, cametaú, cuintau, outro nome dado à ave anhuma, Anhuma cornuta. Por outro lado, Stradelli (p. 394) informa-nos que Camytá ou Caamytá (de ka'a + mytá) é "restinga, ponte de matta. Aquella parte do banhado que fica secca e dá passagem ou simplesmente serve de refugio aos animaes em tempo de enchente."
aman (v.tr.) - cercar (em roda), circundar, rodear, envolver, abarcar: Anhaman. - Rodeei-o. (VLB, I, 43); Marã e'ipe irã abá a'ereme tobaîá-katupabẽ o amaneme sekyîabone? - Como, então, futuramente, os homens dirão, invocando-o, ao circundarem-nos muitíssimos inimigos? (Ar., Cat., 162); I ndi, kori, t'îasó temiminõ repenhana, aûnhenhẽ setama amana. - Com ele, hoje, vamos atacar os temiminós, cercando imediatamente sua terra. (Anch., Teatro, 138); ...Opá tekotebẽ abá amana ko'yté. - Toda a aflição envolvendo o homem, enfim. (Ar., Cat., 156)
kûepe (ou kûeîpe) (adv.) - 1) longe, para longe: ...T'osó-pá xe mara'ara kûepe xe 'anga suí. - Que vá toda a minha doença para longe de minha alma. (Anch., Poemas, 168); Îasytatá kûepe é i nhemimi... - As estrelas bem longe se escondem... (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat); ...Îaîu kûepe suí. - Viemos de longe. (Anch., Poemas, 96); T'osó umẽ temirekó kûepe. - Que não vá longe a esposa. (Ar., Cat., 284, 1686); 2) por aí; por aí afora; em toda parte: Xe mokõ kûepe mboîusu amõne. - Engolir-me-á por aí alguma cobra grande. (Anch., Teatro, 162); ...kûepe i moerapûanymbyra - o que é afamado por aí (Anch., Teatro, 12); Opakatupe kûeîpe abá nhe'enga kuabukari i xupé? - Todas as línguas dos homens por aí afora fê-los conhecer? (Ar., Cat., 45v); 3) fora, para fora: ...Kûepe osóbo, missa renduba reîá. - Indo para fora, deixando de ouvir missa. (Ar., Cat., 75v); Asó kûeîpe. - Vou para fora. (VLB, I, 141); 4) alguma parte, em alguma parte, em algum lugar, algures; a alguma parte, para algum lugar (VLB, I, 32; Fig., Arte, 130): kûeîpe suí - de alguma parte, dalgures (VLB, I, 89) ● kûé-kûeîpe é - muito longe (VLB, II, 51)
NOTA - Daí provém o nome da famosa personagem da epopéia Caramuru, do Frei José de Santa Rita Durão, a índia MOEMA. Ela era uma das amantes de Diogo Álvares Correia, herói do poema épico, que se casara com a índia Paraguaçu. Partindo estes dois para a Europa num navio francês, MOEMA (isto é, a mentira do amor não sacramentado pelo casamento, segundo Frei Durão) foi, com outras ex-amantes dele, até o navio, nadando em alto-mar, para recriminar Correa por não retribuir seu amor. Ali se afogou.
akaûã (ou kaûã) (s.) - ACAUÃ, MACAGUÃ, MACAUÃ, ACANÃ, NACAUÃ, UACAUÃ, CAUÃ, ave da família dos falconídeos, conhecida por seu canto, que se dá geralmente no crepúsculo e no alvorecer. É predador de cobras, mesmo peçonhentas. "E quando o gentio vai de noite pelo mato que se teme das cobras, vai arremedando estes pássaros para as cobras fugirem." (Sousa, Trat. Descr., 234)
pororoka (s.) - POROROCA, 1) explosão, rebentamento; 2) fenômeno de encontro das águas dos grandes rios com a água do mar durante as marés de sizígia, produzindo ondas muito grandes que provocam destruição ao se deslocarem. Acontece particularmente na foz do rio Amazonas. (Figueira, Missão do Maranhão, in Leite, Luiz Figueira [1940], 189-190; Heriarte, Descr. Maranhão, Pará, in Varnhagen, Hist. [4ª ed., 1951, III, 176])
atypy (t) (s.) - bochecha ● atypygûasu (t) - bochecha que faz alguém, tendo alguma coisa na boca: satypygûasu - a bochecha dele (com a boca cheia); (adj.) - bochechudo; (xe) ter, fazer bochecha: Xe ratypygûasu. - Eu faço bochecha (comendo). (VLB, I, 56; Castilho, Nomes, 38)
ku'a1 (s.) - meio, metade: ...Pé ku'ape, kunumĩ pu'ama'ubi xe ri... - No meio do caminho, meninos assaltaram-me mesquinhamente. (Anch., Poemas, 150); Iî ypy suí-katupe eresendu koîpó i ku'a suí nhote? - Bem desde o começo dela ouviste-a ou somente a partir do meio dela? (Ar., Cat., 110v) ● ku'a rupi - pelo meio, até o meio, pela metade (o vaso): Kamusi ku'a rupi nhote kaûĩ reni. - O cauim está pela metade da vasilha somente. (VLB, II, 34); I ku'a rupi aîmoín. - Coloco-o [o líquido] até o meio dela; I ku'a rupi aseîar. - Deixei-o [o líquido] até o meio dela [a vasilha]. (VLB, II, 34)
py4 (mb) (s.) - pé (de pessoa), pata (de animal): Îaîpó-asá-sá i py resebé... - Atravessam suas mãos juntamente com seus pés. (Anch., Poemas, 122); Mba'erama resépe i nongi... asé pype? - Por que o coloca nos nossos pés? (Ar., Cat., 92); py-apyra - ponta do pé (Castilho, Nomes, 35) ● py resé - a pé: Xe py resé nhẽ asó. - Vou a pé. (VLB, I, 35)
îagûara1 (ou îaûara) (s.) - 1) JAGUAR, onça, onça-pintada, carnívoro americano da família dos felídeos (Panthera onca), de cor amarelo-avermelhada, com manchas pretas simétricas, arredondadas ou irregulares, pelo corpo. É a fera mais terrível do continente americano, tomando grandes presas. É também conhecida no Brasil como JAGUARAPINIMA, JAGUARETÊ, canguçu, acanguçu: Îaûara ixé. - Eu sou uma onça. (Staden, Viagem, 109); Aîuká-ukar îagûara Pedro supé. - Fiz Pedro matar uma onça. (Fig. Arte, 146); 2) nome dado pelos índios ao cão (VLB, I, 65) [Nesta acepção pode ser acompanhado pelo termo eîmbaba (t) - criação, animal de criação, à diferença de quando o termo significa onça, que nunca se cria domesticamente.]: o apixara reîmbaba îagûara remimomosẽgûera - o que perseguiu o cão de seu próximo (Ar., Cat., 73); I mba'e-potar îagûara. - O cão é ávido (isto é, bom de caça, que quer tudo apanhar). (VLB, I, 62); Îagûara-p'ipó? - É este o cão? (Knivet, The Adm. Adv., 1208) ● îagûara'yra - filhote de cão (VLB, I, 62) (V. tb. îagûareté)
NOTA - Daí, no P.B., MUAMBA, 1) roubo feito no mar; 2) furto de mercadorias de navios ancorados e de armazéns aduaneiros; 3) negócio escuso; fraude, velhacaria, roubo; 4) Compra e venda de objetos furtados (in Dicion. Caldas Aulete). Há outros sentidos dessa palavra (cesto para transporte, carga contrabandeada etc.) que devem provir de termo do quimbundo de Angola.
erub (v.tr.) - 1) fazer estar (deitado) consigo, estar (deitado) com: Nã temõ ixé serubi mã! - Quem me dera eu o fizesse estar deitado comigo assim! (Ar., Cat., 235); Eîori, xe îara sy, xe 'anga pupé serupa! - Vem, mãe de meu senhor, para fazê-lo estar contigo dentro de minh'alma. (Anch., Poemas, 102); 2) ter, conter, levar consigo: ...I porang kó tupãoka, îegûakabetá rerupa! - É bonita esta igreja, contendo muitos enfeites! (Anch., Poemas, 112); Tupana rerupa, i por nde rygé. - Contendo a Deus, está cheio teu ventre. (Anch., Poemas, 116); Peîori, pebaka Tupã koty, pe py'a pupé serupa. - Vinde, para vos voltar para Deus, levando-o convosco em vossos corações. (Anch., Teatro, 56)
îepirapûan (v. intr. compl. posp.) - falar a favor, fazer a defesa [de algo ou de alguém: compl. com esé (r, s) ou suí]: Aîepirapûan (abá) resé. - Falei a favor do homem. (VLB, I, 134, adapt.); N'i aîarõî Îesu Cristo taté é te'õ suí i îepirapûana... - Não faz sentido ele fazer a defesa da morte fora de Jesus Cristo. (Ar., Cat., 4); ...Îesu Cristo raûsuba resé i îepirapûaneme, bŷá i îukáû. - Por ele fazer a defesa do amor a Jesus Cristo, mataram-no. (Ar., Cat., 4)
Ipiranga (rib. de SP). De 'y + pyrang + -a: rio vermelho, água vermelha. "No seguinte dia passei as celebres cachoeiras Caracol e Funil, e os Sete Peccados, que são sete pequenas cachoeiras, até entrar pelo ribeirão de Ipiranga á direita." (Martim Francisco Ribeiro de Andrada [1805], Diario de uma Viagem Mineralógica, p. 541).
enopu'am1 (ou eropu'am) (v.tr.) - ameaçar (com pau, espada, etc., não ferindo): Aropu'am. - Ameacei-o. (VLB, I, 34); Ké abá rekóû anhẽ xe renopu'ã-pu'ama. - Aqui os homens estão, na verdade, para me ficar ameaçando. (Anch., Teatro, 26). (Também pode receber -s- no indicativo.): Asenopu'am Pedro ybyrá pupé. - Ameacei Pedro com um pau. (Anch., Arte, 49)
NOTA - Daí, no P.B., JAIBARA, JABARA, JEBARA, JARIBARA ('yb + 'ari + 'yb + 'ara - queda de paus sobre paus), 1) galhada de árvores caídas que ficam presas às ramagens de outras e cobertas de trepadeiras e epífitas; 2) (GO) trecho de vegetação arbustiva ou herbácea, à margem de um rio (in Dicion. Caldas Aulete).
porupi (posp.) - ao longo de (falando-se, p.ex., de dois que dormem em redes diferentes); paralelo a (mas sem estar colado), ao lado de: I porupy aîub. - Paralelo a ele eu estava deitado. (VLB, I, 106); Eké xe porupi. - Dorme ao lado de mim. (Anch., Arte, 43v); Eîotĩ nde kesaba xe porupi. - Amarra tua rede de dormir ao longo de mim. (Anch., Arte, 44); Xe porupi xe ra'yra keri. - Paralelo a mim meu filho dorme. (Fig., Arte, 123)
ne'ĩ (ou ene'ĩ) (part.) - 1) eia! vamos! pois! pois sim! sus! (VLB, I, 33) (Leva o verbo para o gerúndio.): Ne'ĩ taûîé xe reîyîa...! - Eia, afasta-me depressa! (Anch., Poemas, 98); Ne'ĩ sekyîa ko'yté! - Eia, puxa-o enfim! (VLB, II, 58); ...Ne'ĩ t'asó nde irũmo...! - Eia, hei de ir contigo...! (Anch., Teatro, 64); Ne'ĩ t'osó! - Sus, que ele vá! (Anch., Arte, 56v); Ne'ĩ mba'e monhanga! - Vamos, faze algo! (Fig., Arte, 163); 2) tudo bem; de acordo; muito bem; está certo (consentindo) (Fig., Arte, 136): Ne'ĩ a'é. - Digo que está muito bem (aceitando como opinião própria ou concedendo algo). (VLB, I, 19); -Esenõî mbá! -Koromõ! -Ne'ĩ! -Nomeia tudo! -Logo mais! -Tudo bem! (Léry, Histoire, 343) ● ne'ĩ n'endé aé - faze como te parece (VLB, II, 17); ne'ĩ anhẽ (ou ne'ĩ anhẽhengûy) - forma negativa de ne'ĩ (VLB, II, 58); neĩ bé! - outra vez! torna a fazer! (Fig., Arte, 135); ne'ĩ îandé (ou ne'ĩ nehẽ ou ne'ĩ-ne îandé ranhẽ ou ne'ĩ ranhẽ) - saudação do que se despede (VLB, II, 113); ne'ĩ ne'ĩ! - eia! (incitando com ênfase) (VLB, I, 29); ne'ĩ rõ! (ou ne'ĩ-ne rõ!) - eia, pois; pois assim; pois assim o queres (VLB, I, 108)
kunhã (s.) - 1) mulher, CUNHÃ (Amaz.): ...Oka'ugûasu pabẽ, apŷaba kunhã ndibé... - Bebem muito todos, os homens com as mulheres. (Anch., Teatro, 134); ...Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); Marãba'e kunhãpe Santa Maria? - Que tipo de mulher é Santa Maria? (Ar., Cat., 30v.); Mboîa oîuká kunhã. - A cobra matou a mulher. (Fig., Arte, 8); 2) fêmea qualquer (VLB, I, 137): taîasu-kunhã - porca fêmea (VLB, II, 82) ● kunhã-Îurupari - animais com quem Jurupari convive, que só andam à noite, soltando gritos horríveis, servindo a ele de mulheres na relação sexual; a "mulher-diabo" (D'Evreux, Viagem, 293)
ypy'aka (t, t) (s.) - 1) borra de um líquido, isto é, a parte sólida dele que se deposita no fundo de uma garrafa; sedimento (VLB, I, 58); 2) água com matéria coalhada (como, p.ex., mandioca crua); caldo ou líquido coalhado, isto é, que perdeu a fluidez; coalhada, TIPIACA: Typy'a-ku'i - farinha de tipiaca, isto é, feita da mandioca crua coalhada em suspensão na água (VLB, I, 135)
'y (s.) - 1) água: Oîeypyî 'y-karaíba pupé. - Asperge-se com água benta. (Ar., Cat., 24); Erur 'y ixébe. - Traze água para mim. (Léry, Histoire, 367); Asó 'y gûabo. - Vou para beber água. (VLB, I, 154); Aîeruré 'y resé. - Peço por água. (D'Evreux, Viagem, 144); 2) rio: Xe parati 'y suí aîu... - Eu vim do rio dos paratis. (Anch., Poemas, 110); 3) fonte: Kûãî 'ype. - Vai à fonte. (Léry, Histoire, 367) ● 'y-e'ẽ - água salgada (do mar) (VLB, I, 24); 'y-eté - água doce (VLB, I, 24); madre do rio, o leito dentro de suas margens, que às vezes fica descoberto (VLB, II, 27); fonte, água perene (VLB, II, 73); 'y-katu - águas tranquilas, bonança (VLB, I, 57); 'y anhẽ - água sem mistura (VLB, II, 123); 'y rapé - rego d'água (VLB, I, 65); 'y-embe'yba - margem de rio, praia, ourela de mar ou rio (VLB, II, 60); 'y-apé 'arybo - à flor d'água, na superfície da água (VLB, I, 144); 'y-apyra - cabeceiras de rio (VLB, I, 61); 'y-kûabapûana - corrente d'água (no rio ou no mar); 'y-syryka - água corrente (VLB, I, 82); maré descendente; vazante de maré (VLB, I, 91; II, 142); 'y-îebyra - remanso d'água (VLB, II, 100); 'y-pabe'ymba'e - fonte, água perene (VLB, II, 73); 'y-pytera - meio das águas, alto-mar: 'Y-pytera koty asó. - Fui em direção ao meio das águas; fui para o alto-mar. (VLB, I, 112); 'y-akã - braço de rio (VLB, I, 58); 'y-anhangoty - rio acima, a montante (VLB, II, 106); 'y-ape'ara - tona d' água, superfície d'água; 'y-ape'ara rupi - à tona d'água, na superfície da água (VLB, I, 50); 'y-apyrakoty - rio acima, a montante (VLB, II, 106); 'y-embykoty - rio abaixo, a jusante (VLB, II, 106); 'y-mombukaba - sangradouro de rio (VLB, II, 112); 'y-aíba - água ruim, água turva, água velha (D'Abbeville, Histoire, 182v)
Camamu (BA). "A villa pois do Camamú, distante 24 legoas da cidade da Bahia, hé o ponto de reunião de tres grandes rios quaes são Marahú. Serinhaem e Camamú, assim como de sinco outros mais pequenos [...] os quaes todos se juntão naquella villa, motivo por que os Indios formarão o nome de Camamú, vocabulo que na lingua Brasilica quer dizer "agoa do peito da mulher" pela semelhança dos esguichos de leite que reunidos no bico do peito se difundem para diversas partes [...]" (Luiz dos Santos Vilhena [1802], p. 521). De kama - seio + y (t, t) - água, líquido: água do seio.
eropotyrõ (v.tr.) - agir ou trabalhar em conjunto com, fazer agir ou trabalhar consigo: Kó 'ara îamoeté. I pupé îudeus itá reropotyrõû, Santo Estevão apîá-apîábo, i akanga kábo... - Este dia honramos. Nele, os judeus agiram em conjunto, com pedras, ficando a atirar em Santo Estêvão, quebrando sua cabeça. (Ar., Cat., 10)
îanondé 1) (posp.) - antes de (expressando tempo anterior a algo que se realizará depois, necessariamente): Xe îebyr-y îanondé. - Antes de minha volta. (Fig., Arte, 158); ...Oporaseî pysaré, oîemopaîeangaípa, tatápe o só îanondé. - Dançaram a noite toda, fazendo feitiçarias, antes de irem para o inferno. (Anch., Teatro, 14); Abá rokype erekûá, tá, nhemim-y îanondé? - Na casa de quem passaste, tomando-as [isto é, as coisas roubadas], antes de te esconderes? (Anch., Teatro, 44); Marã e'ipe asé o ké îanondé...? - Como diz a gente antes de dormir? (Ar., Cat., 24v); Xe angaturam ybakype xe só îanondé. - Eu fui bom antes de ir para o céu. (Anch., Arte, 45); 2) (adv.) antes (comparação): ...Ybakype i pyri o só îanondé Anhanga ratápe o só suí. - Antes sua ida para junto dele no céu que sua ida para o inferno. (Ar., Cat., 110)
ekoabok2 (s) (v.tr.) - mudar (o propósito, a promessa; o parecer; o trajo, a condição, etc.), modificar: Asekoabok xe nhe'enga. - Mudei minhas palavras. (VLB, II, 44); Xe ikó asaûsu pe 'anga... tekopûera rekoaboka. - Eis que eu amo vossas almas, modificando os costumes antigos. (Anch., Teatro, 186)
moîese'ar (ou moîese'a) (v.tr.) - 1) ajuntar, fazer unir-se, fazer juntar-se: ...Sesé so'o gûyrá aîmoîese'a i mokanhemane... - Com eles os animais e os pássaros ajuntarei para destruí-los. (Ar., Cat., 41); 2) incluir, abarcar: Taba Belém pora pitanga i amundaba pora abé apitiukari, sesebé Îandé Îara moîese'a-potá. - As crianças habitantes da aldeia de Belém e também as habitantes das suas vizinhanças mandou assassinar, nelas querendo incluir Nosso Senhor. (Ar., Cat., 139); 3) flechar [dois com um só tiro de flecha (isto é, flechar dois pássaros ou dois peixes com uma só flechada ou flechar uma pessoa em duas partes de seu corpo (p.ex., o braço e o peito) ficando essas duas partes unidas pela flecha que as trespassou] (VLB, I, 143); 4) misturar (coisas da mesma espécie) (VLB, II, 36; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 277)
_____Tratado da Província do Brasil. Reprodução facsimilar do manuscrito no 2026 da Biblioteca Sloaniana do Museu Britânico. Edição preparada por Emmanuel Pereira Filho. Vol. 5 da coleção Dicionário da Língua Portuguesa - Textos e Vocabulários, do Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1965. (Foram citados nas trancrições os números das linhas do manuscrito.)
NOTA - Daí se origina, no P.B., a expressão DE BUBUIA, usada principalmente no Amazonas e significando boiando ao sabor da corrente, flutuando; (fig.) ao sabor das circunstâncias: "Carregam [as águas], DE BUBUIA, a colheita flutuante, para espalhá-la, erraticamente, em outros lugares, numa tarefa inconsciente de reflorestamento." (in Raul Bopp, Putirum. Ed. Leitura, Rio de Janeiro, 1968)
momemûã1 (v.tr.) - 1) eliminar, apagar (p.ex., sujeira, letra, pintura) (VLB, I, 37): 'Y aé rasaba mby ky'a îaîmomemûã. - Atravessar a água elimina a sujeira dos pés. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); 2) desarranjar, desconcertar (o que se determinou) (VLB, I, 97); 3) esfregar (para tirar algo): Aîpi-momemûã. - Esfreguei a pele dele. (VLB, I, 124); Aîpiku'i-momemûã. - Esfreguei-lhe a caspa. (VLB, I, 124); 4) borrar (o que está escrito ou pintado) (VLB, I, 58)
mongué (v.tr.) - 1) bulir com, agitar, balançar: Aîmongué. - Buli com ele; agitei-o. (VLB, I, 57); 2) fazer menear, afrouxar, abalar (o que estava firme, fixo): ...T'oîkó umẽ oka rupi oré 'anga monguébo. - Que não esteja pelas casas para afrouxar nossas almas. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618)
pene'ĩ (interj.) - eia! sus! vamos! (Fig., Arte, 135): Pene'ĩ, rõ, t'îasó ké îagûapyka îakupa. - Eia, pois, vamos estar sentados aqui. (Anch., Teatro, 144); Pene'ĩ pesóbo. - Sus! Ide! (Anch., Arte, 56v); Pene'ĩ, ta pe rory... - Eia, que estejais alegres. (Anch., Poemas, 94); (Na forma negativa os homens acrescentavam -hengûy e as mulheres, -îu.) (VLB, II, 58)
NOTA - Daí provêm muitas palavras do P.B.: BOIPIRANGA ("cobra vermelha"), cobra coral; ARARAPIRANGA ("arara vermelha"), ave psitacídea; CABAPIRANGA ("vespa vermelha"), marimbondo-caboclo; ITAPIRANGA ("concha vermelha"), designação comum às conchas róseas; JABUTIPIRANGA ("jabuti vermelho"), var. de jabuti; MARUPAPIRANGA ("marupá vermelho"), planta iridácea, etc. PIRANGA, no P.B., pode ser também uma variedade de barro vermelho (in Dicion. Caldas Aulete).
ybỹîa (ou ybỹnha) (s.) - 1) interior, vão, parte de dentro: Tupã-eté rerobîara îaîporaká xe ybỹîa. - A crença no Deus verdadeiro encheu meu interior. (Anch., Teatro, 166); ...Opá okybỹnha supa. - Visitando o interior de todas as ocas. (Anch., Teatro, 20); 2) entranhas (Castilho, Nomes, 32): ...Nde ybỹîa pupé pitangamo oúpa. - Dentro de tuas entranhas como criança estando (deitado). (Anch., Poemas, 116); (adj.: ybỹî) - oco, vão por dentro: Xe kûarybỹî. - Eu tenho um buraco oco. (VLB, II, 53)
ygara (s.) - canoa, IGARA, barco, barca, embarcação (que pode conter trinta ou quarenta homens), almadia, navio (VLB, II, 48): Îarybobõ omonguî, ygara kuabĩ potá. - A ponte derrubam, querendo que a canoa passe. (Anch., Poemas, 154); Ygara setá-katu. - As canoas eram muitíssimas. (Anch., Teatro, 18) ● ybyrá-ygara - canoa de madeira; ypé-ygara - almadia de casca, canoa de casca; piripiri-ygara - canoa de junco (VLB, I, 32); ygara rokabytera - convés da embarcação (VLB, I, 81); ygara rerekoara - barqueiro, condutor de embarcação; ygá-membyra - barco de navio, barco salva-vidas (VLB, I, 53); ygarosara (ou ygá-'osara) - pessoa que calafeta embarcações; calafetador (VLB, I, 63)
îekosub2 (v. intr. compl. posp.) - alcançar, obter, achar [compl. com esé (r, s) ou ri]: Sorybeté rakó abá mba'eeté amõ resé o îekosub'iré. - Muito feliz está o homem, certamente, após alcançar alguma verdade. (Ar., Cat., 126); ...Mba'e-memûãngatupabẽ resé i îekosubyne... - Muitíssimas coisas más eles acharão. (Ar., Cat., 164) ● îekosupaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de alcançar, de obter: ...sesé xe îekosubagûama ri - para alcançá-lo eu (Bettendorff, Compêndio, 29)
Guarapuava (PR). A primeira referência aos Campos de Guarapuava é de 1768: "Por baixo do Salto Grande se acham os Campos de Guarapava [...]" (S. Paio e Sousa [1768], p. 71). Essa região do atual Paraná não é o habitat das aves chamadas guarás, como imaginou Martius (Glossaria, p. 500). Estas vivem nas regiões alagadiças dos litorais e nos manguezais. Essas terras eram, sim, habitat do aguará, também conhecido como lobo guará ou somente guará, mamífero canídeo das regiões abertas do N. da Argentina, do Paraguai e do Brasil. Assim, a etim. do nome Guarapuava, da língua geral meridional, deve ser: agûará + pu + suf. -aba: barulho dos (lobos) guarás ou lugar do barulho dos (lobos) guarás.
embe'yba (t) (s.) - margem, beira, ourela, borda (de qualquer coisa): 'y-embe'yba - margem de rio, beira do mar (VLB, II, 60); ...Ka'a-embe'ype osóbo... - Indo para a borda da floresta. (Anch., Teatro, 150) ● embe'y-rung (s) - pôr borda, guarnecer a borda (p.ex., de canoa, colocando-lhe postiças para evitar a fácil abordagem): Asembe'y-rung. - Pus as bordas dela. (VLB, I, 58); embe'y-kytĩ (s) - aparar, cortar as bordas de (como as de pão, de hóstia, etc.): Asembe'y-kytĩ. - Aparei-o. (VLB, I, 37); [Para aparar cabelo, v. etab (s)]
Daí, também, no P.B. (MG), TAPUNHUNACANGA ("cabeça de negro") (ou TAPANHOACANGA, ITAPANHOACANGA, TAPIOCANGA, GANGA, CANGA), concentração de hidróxidos de ferro na superfície da terra sob a forma de uma carapaça dura, aproveitada, muitas vezes, para se fazerem tijolos; laterita.
Guará (SP). De gûará, aves ciconiformes. "Em 1903 a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro (...) inaugurou uma estação na região, denominando-a Guará. Escolheu esse nome devido à existência de uma lagoa próxima à parada ferroviária, onde havia uma grande quantidade de aves pernaltas de plumagem rósea, chamadas Guarás." (fonte: IBGE)
irõ1 (interj.) - 1) (afirm.) - Olhai isto! (como o que se queixa) (VLB, II, 58); Olhai-me isto! (agastando-se) (VLB, II, 56); Irra! (VLB, II, 7); Olha e verás que te digo a verdade! Não é mesmo? Olha lá! (VLB, II, 55); 2) (interr.) - vedes isto? (Fig., Arte, 148) ● Também vem acompanhada das partículas hẽ, no, nhandu, nhandu hẽ, nhandu gûé (VLB, II, 7)
Sabará (MG). É forma abreviada de Sabarabuçu: "...apresentavam as primeiras mostras de Ouro deste Sertão chamado até aquêle tempo de Cataguazes e Sabarabuçu, que a corrupção do mesmo tempo fêz o seu nome conhecido pelo de Minas de Sabará." (Pedro Taques, Notícias das Minas, p. 89). De (te)sá + berab + usu: grandes olhos brilhantes, referência às pepitas de ouro ali encontradas.
katunhẽ (adv.) - eia! avante! sus! acaba já! vai! (incitando, conclamando) (VLB, I, 17) (Leva o verbo para o gerúndio.): Nde katunhẽ. - Eia tu, avante! (VLB, I, 19); Pe katunhẽ. - Eia vós, avante! (VLB, I, 108); Katunhẽ eîerurébo oré katûagûama ri. - Eia, roga por nossa virtude! (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618)
pytumimbyka (s.) - escuridão: ...Sesaý pytumimbyka rupi pé resapébo. - Fachos para iluminar o caminho pela escuridão. (Ar., Cat., 74, 1686); (adj.: pytumimbyk) - muito escuro (VLB, I, 124): O pytumimbykamo nhẽ nhemongaraibypyre'yma 'anga rekóû. - Muito escura é a alma do que não é batizado. (Ar., Cat., 187, 1686)
umã1 (adv.) - já: I membyra o'ar umã... - Seu fiho já nasceu. (Anch., Poemas, 184); Opá umã tamũîa sóû. - Já todos os tamoios foram. (Anch., Teatro, 16); Tynysẽ umã kaûĩ... - Já transborda o cauim. (Anch., Teatro, 24); Aîuká umã. - Já matei. (Fig., Arte, 13); Aîuká umã a'ereme. - Já eu, então, tinha matado. (Fig., Arte, 14); Aîur umã. - Já venho. (Fig., Arte, 13)
Tapuitapera (MA). De tapuîa ou tapy'yîa - o que é de grupo indígena não tupi, tapuia + tapera - aldeia abandonada: aldeia abandonada dos tapuias. "Præcipuus pagus et provinciæ velut caput, vocatur provinciæ nomine Tapovytepere, quod ipsorum idiomate significat antiquam Tapuyarum sedem." - "O principal povoado, considerado capital da Província, tem o nome Tapuitapera, que significa, em seu idioma, antiga moradia dos tapuias." (Laet, Novus Orbis, Livro XVII, p. 621)
erekorekó (v.tr.) - 1) confundir; misturar, fazer confusão (p.ex., de uma coisa com outra, quando se conta algo); dizer e desdizer: Arekorekó. - Fiz confusão. (VLB, I, 80); Arekorekó i mombegûabo. - Contando-o, digo-o e desdigo-o. (VLB, I, 104); 2) falar com dificuldade (como o que quer mentir), tartamudear (VLB, II, 125)
îemoŷrõ1 (ou nhemoŷrõ) (s.) - raiva, ira, ódio; indignação, irritação (VLB, II, 11): Xe moîoîá xe îemoŷrõ... - Repleta-me minha ira. (Ar., Cat., 41); Nhemoŷrõ robaîara tosanga. - O oposto da ira é a paciência. (Ar., Cat., 18); Xe, Tatapytera... asapy nhemoŷrõmbûera. - Eu, Tatapitera, inflamo os antigos ódios. (Anch., Teatro, 128)
ixé (pron. pess.) - eu: Gûaîxará kagûara ixé... - Eu sou Guaixará, bebedor de cauim. (Anch., Teatro, 26); Aîkobé n'ixé sarõana... - Eu permaneço seu guardião. (Anch., Teatro, 40); Ixé oroîuká. - Eu te mato. (Fig., Arte, 9); 2) meu (s), minha (s) (VLB, II, 37) ● ixé re'a (expressão de h. para enfatizar ou confirmar uma afirmação ou negação): A'é ixé re'a (ou A'é ipó ixé re'a). - Digo que sim; Aan a'é ipó ixé re'a. - Digo que não. (VLB, II, 7). As mulheres diziam ixé re'ĩ. (VLB, II, 7)
NOTA - Desse termo originam-se muitos nomes geográficos no Brasil: PERNAMBUCO, PARANAGUÁ, etc. (v. p. 386). Na língua geral setentrional e na meridional, paranã passou a significar rio (Arronches, O Caderno da Lingoa, p. 230), figurando na toponímia também com esse sentido: rio PARANAPANEMA, rio PARANÁ, JI-PARANÁ (v. p. 386). Hoje, na Amazônia, PARANÃ é braço de rio caudaloso, separado deste por uma ou mais ilhas (in Dicion. Caldas Aulete).
mopu'am (ou mopu'ã) (v.tr.) - fazer erguer, fazer subir, levantar, elevar: ...Paranã momungábo, ybytyra apyra sosé katu i mopu'ama... - ...Enchendo o mar, levantando-o bem acima do cume das montanhas. (Ar., Cat., 41v); ...Ogûetepûera pupé oîkŷabo, i mopu'ama kûeîeténe... - Entrando nos seus antigos corpos, fazendo-os levantar imediatamente... (Ar., Cat., 160v); ...São Lourenço-angaturama osarõ nhẽ pe retama..., pe mopu'ama. - O bondoso São Lourenço guarda vossa terra, elevando-vos. (Anch., Teatro, 52); ...Mo'ema kó omopu'ã... - Mentiras levantam. (Anch., Teatro, 148) ● mopu'ambara - o que levanta, o que faz erguer, levantador: ...mo'ema mopu'ambara... - levantadoras de mentiras (Anch., Teatro, 156)
(Brandão) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes, Diálogos das Grandezas do Brasil. Segundo a edição da Academia Brasileira de Letras, corrigida e aumentada, com notas de Rodolpho Garcia e introdução de Jaime Cortesão. Edições Dois Mundos Editora Ltda., Rio de Janeiro, 1943. (Utilizaram-se também fotocópias do manuscrito L.Q.14 da Biblioteca da Universidade de Leiden, Holanda.)
akypûera (t) (s.) - 1) parte posterior, traseira; retaguarda (VLB, II, 135); 2) pegada, rastro, esteira (p.ex., que faz o navio ao navegar): ygara rakypûera - esteira da canoa (VLB, I, 128); Nde rakypûera rupi t'osó xe 'anga îepi. - Por tuas pegadas há de ir minh'alma sempre. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., I, 1618); Sakypûera rupi é îasó... - Por seus rastros é que vamos. (Anch., Teatro, 138); 3) vestígio: Asé 'anga suí asé angaîpaba... rakypûera kanhemagûama resé. - Para o desaparecimento dos vestígios da maldade de nossa alma. (Ar., Cat., 91-91v)
(Ar.) ARAÚJO Antônio de, Catecismo na Lingoa Brasílica no qual se contem a summa da doctrina christã. Com tudo o que pertence aos Mysterios de nossa sancta Fé & bõs custumes. Reprodução fac-similar da 1a edição (1618), com apresentação do Pe. A. Lemos Barbosa. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1952.
anheté1 (s.) - algo verdadeiro, a verdade: ...Tupã koîpó o 'anga koîpó cruz koîpó anheté renõîa. - Invocando a Deus ou sua própria alma ou a cruz ou algo verdadeiro. (Ar., Cat., 1686, 280); Anheté a'é. - Digo a verdade. (Léry, Histoire, 357) ● anheté-katunhẽ (ou anheté-tekatutenhẽ) - certissimamente (VLB, I, 71)
îepimemẽ (adv.) - 1) sempre: ...Îepimemẽ bé sa'anga i xupé... - Sempre também pronunciando-a para ela. (Bettendorff, Compêndio, 65); Amõ anhangusu-manhana îepimemẽ xe momboî. - Algum diabão espião sempre me ameaça. (Anch., Teatro, 162, 2006) ● îepimemẽndûara - o que é de cada dia, coisa cotidiana (VLB, II, 94)
SÁ, Mem de [1560], Carta de mem de saa, governador do brazil para el rey em que lhe da conta do que passou e passa lá e lhe pede em paga dos seus serviços o mande vir para o reino. (ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
ipeku (ou ipekũ) (s.) - IPECU, pica-pau, carapina, pinica-pau, nome comum às aves da família dos picídeos, bastante numerosas no Brasil, com dezenas de espécies e subespécies. Habitam a mata e o cerrado. Com seus bicos fortes e línguas muito longas, perfuram a madeira e retiram as larvas dos insetos, de que se alimentam. Fazem ninhos nos ocos dos paus ou em buracos que abrem. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 207; VLB, II, 76)
îub / ub(a) (t, t) (v. intr. irreg.) - 1) estar deitado, estendido, fundado, fundamentado, prostrado; jazer; estar fundeado (p. ex., o que navega, o navio): Aîub. - Estou deitado. (Fig., Arte, 57); ...pitangamo oupa. - como criança estando deitado (Anch., Poemas, 116); Ereîubype nde agûasá 'arybo...? - Estiveste deitada sobre teus amantes? (Ar., Cat., 235); Aîké gûitupa. - Entrei para estar fundeado. (VLB, I, 18); Oobapybo aîub. - Jazo de bruços. (VLB, II, 7); T'eresó rõ nde ratápe, aûîerama t'ereîub moreaûsuba monhangápe. - Hás de ir, pois, para teu fogo, para que estejas para sempre prostrado no lugar em que se faz sofrer. (Anch., Teatro, 48); 2) estar subjacente, estar implícito: Marã e'iba'e pupépe aîpoba'e ruî...? - Esses (mandamentos) estão implícitos nos que dizem como? (Ar., Cat., 74v); 3) hospedar-se, agasalhar-se: Aîub (abá) resé. - Hospedei-me com o homem. (VLB, I, 23, adapt.) ● upaba (t, t) - tempo, lugar, modo, causa, etc. de estar (deitado, estendido, fundado), de jazer; estância: ...Tupãokupagûama... - lugar em que estará fundada a igreja (Ar., Cat., 7); tupagûera - antigo jazigo (VLB, II, 7) (No modo indic. circunst. pode apresentar as formas ruî, tuî): Nde pópe oré 'anga ruî. - Em tuas mãos nossa alma está. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618); I îurupe nhõ Tupã rerobîara ruî. - A crença em Deus está somente em suas bocas. (Anch., Teatro, 30); Mba'epe ké tuî opyka? - Que aqui está deitado, aquietando-se? (Anch., Teatro, 42) (O gerúndio tem forma irregular na 1ª pess. do sing.: gûitupa - estando eu deitado.)
mandubi (s.) - MANDUBI, 1) amendoim (Arachis hypogaea L.), nome genérico de plantas leguminosas-papilionoídeas que possuem uma cápsula onde existem duas ou três pequenas nozes ou sementes. São também chamadas MANDOBI, MENDUBI, MENDUÍ, MINDUBI. 2) o nome dessas sementes comestíveis (D'Abbeville, Histoire, 229v)
po'ẽ1 (ou po'em) (v. intr.) - meter a mão, enfiar a mão: Erepo'ẽpe nde rapixara rapupé resé? - Meteste a mão nas partes erógenas de teu companheiro? (Ar., Cat., 105v); Nd'opo'ẽî xûé-tepe asé o îuru pupé i mbo'iragûama reséne? - Mas não enfiará a gente a mão em sua boca para parti-lo? (Anch., Doutr. Cristã, I, 217); Ikó îandé ratá pupé asé po'ema biã iî abaeté, memetaé a'epe... - Se meter a mão neste nosso fogo é terrível, quanto mais ali... (Ar., Cat., 163v)
aûîé5 (interj.) - Que bom! Muito bem! É isso! É certo! Perfeitamente! (em aprovação): Aûîé ipó xe rapixara... mba'e-katuramo... - Que bom que meu próximo tenha coisas boas! (Ar., Cat., 109v); Aûîé a'e! - É certo isso! (aceitando como opinião própria) (VLB, I, 19) ● Pode ser acompanhada por partículas ou por temas nominais, ficando com os mesmos sentidos ou com ênfase: aûîé ipó, aûîé nipó, aûîé é, aûîé-katu, aûîé-katu ipó, aûîé tiruã, aûîé-etéramo, aûîé nhẽ: Aûîé ipó! - Muito bem! (consentindo) (VLB, I, 33); (em aprovação) (VLB, II, 44); Aûîé-katu, erimba'e i xóû oré retama pupé; n'osóî tenhẽ ebapó. - Muito bem, eles foram outrora para nossa terra; não foram em vão para lá. (D'Abbeville, Histoire, 342); Aûîé nipó! Kasianamo t'aîkó. - Muito bem! Hei de ser castelhano. (Anch., Teatro, 74)
enõî (s) (v.tr.) - 1) chamar, invocar, nomear, dar o nome de, chamar pelo nome: Xe renõî umẽ îepé i xupé, na xe îukáî! - Não me chames pelo nome diante dele, senão me mata! (Anch., Teatro, 30); Esenõî mbá. - Nomeia tudo. (Léry, Histoire, 343); Asenõî apŷabetá... - Chamo os homens. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); "Anheté" eré tenhẽ umẽ, Tupã rera renõîa... - Não digas em vão: "-É verdade", invocando o nome de Deus. (Ar., Cat., 67); 2) evocar, trazer à lembrança: ...xe îara re'õ renõîa... - Evocando a morte de meu Senhor. (Anch., Teatro, 168); Mba'epe asé osenõî i xupé, o îerobîasabamo? - Que a gente evoca diante dele como sua esperança? (Ar., Cat., 30); 3) prometer, jurar (VLB, II, 87); 4) culpar: Asenõî tenhẽ. - Culpei-o falsamente. (VLB, I, 87) ● enõîndara (ou enõîtara) (t): o que invoca, o que chama, o que promete, etc.: O'anga koîpó abá 'anga koîpó santo amõ ybakype tekoara renõîndara abé o îuraragûaîamo nhẽ, marãpe? - E mentindo aquele que invoca sua própria alma, a alma de alguém ou também algum santo que está no céu, que acontece? (Ar., Cat., 67); emienõîa (t) - o que alguém chama; o chamamento; o invocado, o que alguém invoca, promete ou jura: ...T'oré angaturãne Cristo remienõîûera resé... - Para que sejamos dignos do que Cristo prometeu. (Ar., Cat., 14v); enõîndaba (ou enõîtaba) (t) - tempo, lugar, modo, etc. de invocar, de chamar, etc.: Our ogûenõîndápe. - Vem aonde o chamam. (Fig., Arte, 84); A'ereme bé opá omanõba'epûera 'angûera ruri o enõîndápe... - Então também as almas de todos os que morreram virão quando forem chamadas. (Ar., Cat., 160v); Marãpe i mongaraibypyramo renõîndabeté? - Qual é o modo verdadeiro de chamar os batizados? (Ar., Cat., 22v); senõîmbyra - o que é (ou deve ser) chamado, prometido, culpado, etc.: Grácia sera, kó nde rainhamo senõîmbyra... - Graça é seu nome, eis que esta é a que deve ser chamada "tua rainha". (Anch., Poemas, 156)
kopa'yba (s.) - 1) COPAÍBA, COPAIBEIRA, pau-de-óleo, bálsamo, árvore frondosa de madeira avermelhada da família das leguminosas (Copaifera llangsdorffii Desf.). Produz um óleo amarelado de propriedades medicinais, bem viscoso. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 130). "...Para feridas é muito estimado e tira todo sinal. Também serve para as candeias, e arde bem." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 41); 2) Designa também a madeira e o óleo ou resina obtidas da seiva de várias das árvores desse gênero, especialmente da copaíba-verdadeira e da copaíba-vermelha. (Piso, De Med. Bras. IV, 178; Sousa, Trat. Descr., 202)
pûar1 (ou pûá) (-îo-) (v.tr.) - amarrar, atar: Aîakã-mbûar. - Amarrei-lhe a cabeça (isto é, fiz-lhe tranças no cabelo, com fita). (VLB, I, 113); ...Peîpûá muru! - Amarrai os malditos! (Anch., Teatro, 42); Aîpepó-pûar. - Atei-lhe penas. (VLB, I, 112) ● pûasaba (m) - tempo, lugar, instrumento, etc. de atar; atadura, atilho (VLB, I, 46)
îakarandá (s.) - JACARANDÁ, nome comum a algumas árvores da família das leguminosas, da subfamília papilionoídea, em que se destaca a Machaerium villosum Vogel, comum no Brasil e também conhecida como JACARANDÁ-PAULISTA. Outras espécies importantes são a Machaerium incorruptibile (Vell.) Benth. e a Machaerium legale (Vell.) Benth. (D'Abbeville, Histoire, 223; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 136). "...É muito pesada e não se corrompe nunca sobre a terra, ainda que lhe dê o sol e a chuva, a qual tem muito bom cheiro." (Sousa, Trat. Descr., 221) ● îakarandá-apé - casca de jacarandá (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 192)
NOTA - "Agora diremos alguma cousa das tartarugas do Amazonas, chamadas pelos naturaes JURARÁ; e alguns europeos, além do usual nome de tartaruga, a chamam galinha do Amazonas. É animal anfíbio, mas a sua principal vivenda é na ágoa, peixe por certo digno de toda a estimação, não só por grande, se não também por gostoso." (Pe. João Daniel [1757], p. 93)
paba1 (mb) (s.) - 1) mortandade; destroços de gente morta (VLB, I, 101); eliminação, matança (como nas guerras) (VLB, II, 33), estrago (de mortes) (VLB, I, 130): so'o paba - a mortandade da caça (VLB, II, 42); mbaba - mortandade de gente (VLB, II, 42); 2) peste: mbabyîara - o que porta pestes, coisa pestilencial (VLB, II, 76)
Itirapina (SP). De ybytyra - monte, morro + apin - depenado, tosquiado, pelado + suf. -a: morro pelado. Em 1885 a Companhia Paulista de Estradas de Ferro inaugurou a estação de Morro Pelado, próxima ao monte de igual nome (fonte: IBGE). Em 1900, essa denominação foi alterada para Itirapina.
(interj. que expressa espanto, admiração, surpresa) - 1) É mesmo! (VLB, II, 7); Ah, sim! (como que entendendo, afinal, alguma coisa ou lembrando-se dela. Diz isso o que se espanta ou cai na realidade.) (VLB, II, 117; Fig., Arte, 147); 2) Que grande! (VLB, II, 91); 3) Oh! Eh! Que! Oh quanto! Que multidão!: Tó te'ĩ kó pirá rekóû mã! - Oh! Que multidão estes peixes são! (ou Quanto peixe é este!) (VLB, II, 57); Tó! Mamõpe ahẽ rekóû? - Eh! Onde ele está? (Anch., Teatro, 10); Tó! Aîpó n'i papasabi! - Ó! Não há modo de contar isso. (Anch., Teatro, 38) ● tó eẽ - ah, sim! ah, já entendi! (VLB, I, 17)
ekoaba1 (t) (s.) 1) modo de ser, essência, natureza: Sekoaba nhẽpe? - É o modo de ser deles? (ou É natural deles?) (Anch., Doutr. Cristã, I, 158); Sekoaba nhẽ. - É natural dele (p.ex., um sinal que tem no rosto, que sempre ali esteve, que sempre foi assim e não é coisa nova). (VLB, II, 48); 2) característica: ...apŷabaíba... rekoaba é... - característica de homem mau (Ar., Cat., 107v)
pab1 (part.) - todo (s, a, as); tudo; totalmente, completamente (às vezes em composição com o verbo): Arasó pab. - Levei todos. (VLB, II, 130); ...Asé re'õmbûera pu'am-pabine? - Nossos cadáveres levantar-se-ão todos? (Ar., Cat., 61, 1686); ...O angaîpagûera repyme'enga-mbapa... - Resgatando totalmente seus antigos pecados. (Ar., Cat., 48v); Aru-pab. - Trouxe todos (ou Trouxe tudo). (Anch., Arte, 54v); Aru-pab pirá. - Trouxe todo o peixe. (Anch., Arte, 54v)
3 (part.) 1) olha lá! cuidado para, olha que eu te aviso! (para que faças ou não faças algo; junta-se aos verbos): Erasó umẽ ké. - Cuidado para não o levares. (VLB, II, 55; VLB, II, 56); 2) não é que: Ké muru ruri obébo? - Não é que o maldito veio voando? (Anch., Teatro, 24) ● Também com as partículas nhandu, ruã, rá (para h.) e raré (para m.): ké nhandu, ké nhandu ruã ou ké rá (para h.), ké raré (para m.): Erasó ké raré. - Leva-o, olha lá! (VLB, II, 56)
kybõ (ou kûybõ) (adv.) - aqui nestes lados, por aqui, cá nestas partes (VLB, II, 91); para cá; mais para cá (Fig., Arte, 129): Té oureté kybõ Reriûasu mã! - Ah, veio mesmo para cá o Ostra Grande! (Léry, Histoire, 341); Abápe ké sobasẽ, kûybõ oma'ẽ-nhemima? - Quem aqui dá a cara, para cá olhando furtivamente? (Anch., Teatro, 138); Mobype tubixá-katu kybõ? - Quantos são os chefes principais por aqui? (Léry, Histoire, 350) ● kybõ-ngoty - para cá; mais para cá (Fig., Arte, 129); aquém (VLB, I, 40); kybõ-ngoty bé - mais para cá (VLB, II, 91); kybõ-ngoty-pyryb - um pouco mais para cá (VLB, II, 91)
rakó3 (conj.) - se, já que: Kype rakó ereín nde raûsupara koîpó nde mũ rapirõmo... marãpe nde rekoangaîpagûera resé é nd'ereîase'o-mirĩngatutenhẽ-motari? - Se longamente ficas pranteando teus amigos ou teus parentes, por que não queres chorar nem um pouquinho por causa de teus antigos pecados? (Ar., Cat., 157)
erok1 (s) (v.tr.) - 1) mudar de nome; dar ou pôr nomes; pôr novo nome: Ã tekó a'ereme moreroka. - Eis que era costume, então, dar nome às pessoas. (Ar., Cat., 3); Ereîamotare'ymype nde rapixara, serok-y -bé-kybémo? - Detestaste teu próximo, ficando a pôr-lhe nomes também? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); 2) batizar: N'asé reroki bépe amõ abá abaré pyri? - Não nos batizam também outras pessoas junto do padre? (Ar., Cat., 82) ● serokyba'e - o que põe nome; o que batiza: Oporoerokyba'epûera nd'e'ikatuî omendá o emierokûera resé... - O que batizou não pode casar-se com aquela que batizou. (Ar., Cat., 129); erokara (t) - o que batiza, o padrinho, a madrinha: Marãpe asé rerokara asé rerekóû? - Que fazem conosco os que nos batizam? (Ar., Cat., 82); -Abápe nde rerokara? -Quem foi tua madrinha? (Anch., Teatro, 166); emieroka (t): o batizado, o que alguém batiza: E'ikatupe morerokarûera omendá o emierokûera resé? - Pode o padrinho casar-se com aquele que batiza? (Ar., Cat., 149); serokypyra - o que é (ou deve ser) batizado, o batizado: Apŷá-serokypyra kó 'ara oîmoeté... - Os homens batizados honram este dia. (Ar., Cat., 9); eró-erok (s) - apodar, pôr nomes, motejando: Aseró-serok. - Fiquei-o apodando. (VLB, I, 38)
i'yra [s. irregular. Na forma absoluta é i'yra e nas formas relacionadas recebe r- e não aceita s-, sendo que a forma i'yra pode também ser relacionada, incluindo o pronome i, assimilado pela vogal inicial do nome: i i'yra → i'yra - sobrinho dele (Anch., Arte, 14).] - 1) primo (filho da tia ou tio paternos): ...São João Batista o i'yra pé onhemoîasuk-ukar'iré... - Após fazer a São João Batista, seu primo, batizá-lo. (Ar., Cat., 12-12v); S. Tiago, Îesu Cristo ri'yra, Apóstolo, o akanga o ekobé me'engi... - São Tiago, primo de Jesus Cristo, Apóstolo, entregou sua cabeça e sua vida. (Ar., Cat., 6v); 2) sobrinho (filho da irmã de h.): xe ri'yra - meu sobrinho (Anch., Arte, 14); [adj.: i'yr (r-)] - ter sobrinho: Xe ri'yr. - Eu tenho sobrinhos (por parte de minhas irmãs). (Fig., Arte, 38); 3) tio (filho da avó do h.); 4) enteado (de h.) (Ar., Cat., 114v); 5) filho de prima (de h.) (VLB, II, 119)
angaba (s.) - o bom de (gabando aquele de quem se fala, o dito ou o feito de alguém, ou enaltecendo-o): "Pe angaturam" e'i xe rubangaba. - Disse o bom do meu pai: "-Sede bons". (VLB, II, 24); Pero angaba - o bom do Pedro (VLB, II, 53); -Marãpe nde rerokaba...? -Frasiku Perera-angaba. -Qual é teu nome de batismo? -O do bom Francisco Pereira. (Anch., Teatro, 168, 2006)
kûara1 (s.) - 1) buraco; furna; furo (inclusive do hímen, por relação sexual): yby kûara - buraco do chão (VLB, I, 60); yby-kûarusu - buraco grande, furna na terra; itá-kûarusu - furna em penedos ou rochas (VLB, I, 145); (adj.: kûar) - esburacado, furado; desvirginada; (xe) ter buraco, ter furo: I xy na sugûyî tiruã: i aku'i, n'i kûari, nhẽ. - Sua mãe sequer sangrou: ela estava seca, não estava desvirginada (lit., não estava furada). (Anch., Poemas, 184); Xe kûarusu. - Eu tenho um buraco grande. (VLB, II, 19); Xe kûar ymûan. - Eu já estou desvirginada. (VLB, I, 83); 2) vagina (VLB, II, 35); 3) covil, toca, abrigo, refúgio (p.ex., de animais, etc.) (VLB, I, 84; II, 129); 4) cova (de defuntos): Tyby-kûara - cova de sepultura (VLB, I, 84); 5) mina: itaîu-kûara - mina de ouro (VLB, II, 142) ● i kûaryba'e - o que está furado; a que está desvirginada (VLB, I, 83)
moabaré (ou mboabaré) (v.tr.) - fazer ser padre, ordenar: Aîmoabaré. - Ordenei-o. (VLB, II, 58); Aîmoabaré Pedro. - Faço Pedro ser padre. (Anch., Arte, 48v) ● emimboabaré (t) - o que alguém torna padre: ...Semimboabaré sekobîara bé missa pupé miapé rari o pópe sobasapa... - Os que ele torna padres e seus substitutos na missa tomam o pão em suas mãos, benzendo-o. (Ar., Cat., 84v)
Umuarama - Cidade do Paraná. Neologismo feito por nós, com elementos tupis e significa: lugar ensolarado para o encontro de amigos. A primeira forma foi EMBUARAMA, de embu, lugar; ara, cheio de luz, de claridades, bom clima. Depois suavizamos (sic) para Umuarama. A terminação ama é um coletivo, equivalendo a muitos, reunião, etc. A palavra cunhada por nós agradou tanto que há hotéis, cinemas, parques, clubes. Mas designa especialmente a progressista cidade do Estado do Paraná.
NOTA - Daí, no P.B., as palavras CICA, adstringência peculiar a certas frutas; travo, travor (in Dicion. Caldas Aulete); ACAJUCICA ("resina de cajueiro"); CURURUCICA ("goma de sapo"), certa resina medicinal; JAUARICICA ("goma de onça"), espécie de resina escura, empregada como breu ou betume; OITICICA ("oiti resinoso"), árvore da família das rosáceas, etc.
NOTA - No P.B. (N., N.E.), PUBA também significa 1) a mandioca enterrada em lama ou posta na água até amolecer e fermentar: mingau de puba; 2) terreno úmido, coberto de capim (in Dicion. Caldas Aulete). Daí, também, CAPIMPUBA ("capim brando"), erva da família das gramíneas; PUBAR, por (mandioca) a curtir na água ou na lama; (N.) apodrecer, fermentar (in Dicion. Caldas Aulete).
puku1 (m) (s.) - extensão, longitude; comprimento, compridão (VLB, I, 78); (adj.: puku ou muku) - extenso, comprido, longo; alto (fal. de pessoas): Xe puku. - Eu sou alto. (VLB, I, 33); ...Kó bé... xe rûaî-puku. - Eis aqui também meu rabo comprido. (Anch., Teatro, 40); Xe 'anga rekó-puku. - Vida longa de minha alma. (Valente, Cantigas, VII, in Ar., Cat., 1618); (adv.) - longamente, por longo tempo; prolixamente (VLB, II, 87): Eîmoingó-puku-katu kó taba Tupã resé. - Faze estar muito longamente esta aldeia em Deus. (Anch., Poemas, 174); ...nde... ate'ỹ-mukuramo - estando tu por longo tempo preguiçoso (Anch., Doutr. Cristã, II, 105)
taté2 (posp.) - (para) outra pessoa que não; (para) outra parte que não, (para) outra coisa que não: Aîme'eng mba'e xe ruba taté nhẽ. - Dei coisas para outra pessoa que não a meu pai. (Anch., Arte, 40v); Gûyrá taté u'uba sóû. - Para outra coisa que não o pássaro a flecha foi. (Anch., Arte, 40v); Ahẽ morapitîarûera taté nhẽ anhẽ ybŷá oîuká. - Mataram, na verdade, a outra pessoa que não aquele assassino. (VLB, II, 12) ● taté é - fora de, a não ser em; muito longe de, fora ou ao revés do que é: N'i aîarõî Îesu Cristo taté é te'õ suí i îepirapûana... - Não parece bem fazer ele a defesa da morte fora de Jesus Cristo... (Ar., Cat., 4); I taté é (ou I taté-taté é). - Fora disso. Longe disso. Ao contrário disso. Tudo menos isso. (VLB, II, 51)
ANÔNIMO, [1748], nº 529 - Data e sesmaria de Jozé Coelho Ferreira de tres leguas de terra no riacho posso da anta, na serra da Uruburetama, concedida pelo capitão-mór francisco da costa, em 29 de março de 1748 (ex Biderman, M.T.C., (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq)
marani (adv.) - na maldade, na perversidade, no mal; mal, perversamente, velhacamente: Marani n'oîkóî îepé, ereropûar ybyrá nde remirekó resé! - Embora não agisse ela velhacamente, bateste com o pau na tua esposa. (Anch., Teatro, 168); Tekopûera t'aîpe'a t'aîkó umẽne marani... - Que eu afaste o proceder antigo para que não esteja no mal. (Anch., Poemas, 142); Marani aîkó. - Ajo mal. (VLB, I, 136)
Cambaúba (GO). Nome de uma variedade de taquara, termo das línguas gerais coloniais: "Tacoára- Hé planta sim^e a Cana; [...] as especies mais comuns são Tacoarusu, Jateboca, Taquapeni, Tacoaboca, Tacoaobú, Tacoaquise, Cambaiuba, Tacoarí [...]" [Anônimo (muito provavelmente Joseph Barbosa de Sáa] [1765], Noticia (p. 36)
aan1 (ou aã) (part.) - não (de h. ou m.): Aan, nd'ereîtyki xóne. - Não, não os derrotarás. (Anch., Teatro, 136); Aã! Xe potaba nde! - Não! Meu quinhão és tu! (Anch., Teatro, 76) ● aan a'e (ou aan a'é nhẽ) - Digo não, digo que não. (VLB, II, 99); aan ipó, aan ipó biã - não deve ser, não será assim (VLB, II, 47); aan-angáî - não (enfático); de modo algum, de maneira nenhuma: -I ambyasy bépe, i 'useî bépe asé îabé?... -Aan-angáî. -Tinha também fome, tinha também sede como nós? -De modo algum. (Ar., Cat., 44v); aan-angáî-katutenhẽ (ou aãngatutenhẽ) - de nenhuma maneira, de nenhuma qualidade (VLB, II, 46)
ero'ar1 (v.tr.) - 1) fazer cair consigo; cair com: Turusukatu. Nd'e'i te'e sero'a-ro'a... - Era muito grande. Por isso mesmo ficava caindo com ela. (Ar., Cat., 61v); Anga îá, angaîpabora aîuká, xe ratápe sero'ane... - Como a esses, matarei os que costumam pecar, fazendo-os cair comigo em meu fogo. (Anch., Teatro, 92); O ati'yba ri, krusá osupi. Membeka suí, Îesu sero'ari. - No seu próprio ombro, levanta a cruz. Por fraqueza, Jesus fá-la cair consigo. (Anch., Poemas, 122); 2) saltear com enganos (VLB, II, 112)
NOTA - Daí, o nome próprio de pessoa MOACIR (ou MOACYR) (de moasy, "lamento", "arrependimento", "o ato de fazer doer", "o que faz sofrer", etc.). É o nome do filho da personagem principal do romance Iracema, de José de Alencar, clássico da literatura brasileira. Alencar apresentou para tal nome a etimologia "filho da dor", que é imprecisa.
akaîgûá (interj. de h.) - 1) (expressa dor) - ai!: Akaîgûá! N'i tyb-angáî xe boîá... - Ai! Não há absolutamente servos meus. (Anch., Teatro, 128); Akaîgûá! Marãpe xe ri erepûá? - Ai! Por que bates em mim? (Anch., Teatro, 32); 2) expressa raiva, incitamento ao ódio: -Akaîgûá! Ne'ĩ, t'asó nde irũmo, ta xe rembiá... -Eia, hei de ir contigo, para que eu tenha presas... (Anch., Teatro, 64) (V. tb. akaî e kaî.)
(D'Evreux) D'EVREUX, Yves, Viagem ao Norte do Brasil. Tradução do Dr. César Augusto Marques do original francês Suitte de l'histoire des choses plus memorables advenues en Maragnan es annéss 1613 et 1614. Rio de Janeiro, 1929 (tradução cotejada com a edição de 1864, anotada por Ferdinand Denis, intitulada Voyage dans le Nord du Brésil fait durant les années 1613 et 1614, Librairie A. Franck, Leipzig et Paris).
petek (v.tr.) - golpear; esbofetear; bater (com a mão espalmada), espalmar: Aîatypetek. - Esbofeteei suas têmporas. (VLB, I, 56); Morubixaba boîá amõ osobá-petek... - Um servo do príncipe esbofeteou sua cara. (Ar., Cat., 55v); Sebira aîpetek. - Esbofeteei suas nádegas. (VLB, I, 21); Aîpó-petek. - Esbofeteei suas mãos (isto é, bati-lhe com palmatória). (VLB, II, 63) ● petekara - o que bate, o esbofeteador, o que esbofeteia: -Opabenhẽ serã erimba'e a'e petekara iî a'o-îa'oû? - Será que todos aqueles esbofeteadores dele ficaram a injuriá-lo? (Ar., Cat., 56v)
uru1 (r, s) (s.) - 1) envoltório: ...Ogûeté suí, o uru suí, asé 'anga sẽme bé, Tupã sekomonhangi... - Tão logo ao sair a alma da gente de seu próprio corpo, seu envoltório, Deus a julga. (Ar., Cat., 159); 2) repositório, depósito, receptáculo, recipiente: Mba'e-poxy-katupabẽ ruru-a'ub-y gûé! - Ó mesquinho repositório de muitíssimas coisas más! (Ar., Cat., 165); mokaku'i-uru - recipientes de pólvora (Léry, Histoire, 343-344); ...Abá opo'ẽ tenhẽ 'y-karaíba ruru pupé. - Uma pessoa em vão enfia a mão num recipiente de água benta. (Ar., Cat., 352, 1686); 3) vasilha (com relação à coisa que está dentro dela): suru - a vasilha dele (i.e., do milho, do cauim, do mingau, etc., mas não de uma pessoa) (Fig., Arte, 79); îukyruru - vasilha de sal (VLB, II, 112); 4) bainha: Eîmondeb itangapema surupe. - Põe a espada na bainha dela. (Ar., Cat., 54v)
eté2 (t) (s.) - 1) corpo: Pedro reté - o corpo de Pedro (Fig., Arte, 74); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); Mba'epe asé reté remi'u? - Qual é a comida de nosso corpo? (Ar., Cat., 27v); Tupã aé, o karaíba pupé, i 'anga seté monhangi. - O próprio Deus, com sua santidade, as almas e os corpos deles fez. (Anch., Teatro, 28); Opá nde reté raíri itatîãîa pupé. - Riscaram todo o teu corpo com ferro pontiagudo. (Anch., Teatro, 120); 2) substância, matéria: Oîaby-eté seté tiruã oîkuabe'ymba'e. - Transgride-os muito o que não conhece sequer sua substância. (Bettendorff, Compêndio, 103) ● seteba'e - o que tem corpo, o que é corpóreo (VLB, I, 82)
nhemosako'i (ou îemosako'i) (v. intr. compl. posp.) - 1) acautelar-se, estar à espreita, estar de sobreaviso: T'onhemosako'i irã yby pora t'ogûerobîar umẽ... - Que se acautelem futuramente os habitantes da terra para que não creiam nele. (Ar., Cat., 160v); 2) aperceber-se, preparar-se (para algo que se espera); fazer preparativos para receber [compl. com esé (r, s)]: Anhemosako'i (mba'e) resé. - Preparo-me para algo. (VLB, I, 38, adapt.); Xe nhemosako'i e'ymebé turi. - Veio antes que eu me preparasse. (VLB, I, 97); Anhemosako'i xe ruba resé. - Fiz preparativos para receber a meu pai; Anhemosako'i tobaîara resé. - Fiz preparativos para receber o inimigo. (VLB, II, 88); Peîemosako'i!... - Preparai-vos! (Ar., Cat., 6); Pa'i Îesus rekobeîebyragûama resé onhemosako'îabo... - Preparando-se para a futura ressurreição do senhor Jesus. (Ar., Cat., 64v) ● nhemosako'îaba - tempo, lugar, causa, etc. de se acautelar, de se aperceber, de se preparar; preparativos [p.ex., artilharia para a guerra ou fogos de artifício para receber um amigo] (VLB, I, 38): Ybaka aé Tupã îandé resé i nhemosako'îaba... - O próprio céu é o que Deus prepara para nós. (Ar., Cat., 167)
u'uba1 (r, s) (s.) - flecha (feita pelos índios com caniços sem nós, onde se prendiam duas penas de cores diferentes, tendo ponta de madeira dura) (D'Abbeville, Histoire, 288v): ...U'uba mongûá-potá. - Querendo fazer passar as flechas. (Anch., Teatro, 132); su'uba - sua flecha (Fig., Arte, 78); ...I abaeté muru supé São Sebastião ru'uba... - Foram terríveis contra os malditos as flechas de São Sebastião. (Anch., Teatro, 52) ● atá-u'uba (t) - flecha de fogo (com que se queimavam as casas durante as guerras) (VLB, I, 141); u'ubanhã (r, s) - entalhe de flecha (VLB, I, 113); u'ubasy (r, s) - flecha envenenada ou ervada (VLB, I, 121); u'u-tapûá-etá (r, s) - espécie de flecha com muitas pontas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278); u'ubora - flechado, cheio de flechas: I maranirũ abé Bastião u'uborûera. - Seu companheiro de guerras também é Bastião, o flechado. (Anch., Teatro, 18)
Ajuruoca (MG). De aîuru + oka (r, s): casa de papagaios: "(...) Aiuruóca, vocábulo de língua brasílica, quer dizer no nosso idioma: Casa de Papagaios, aludindo a um penhasco redondo, e elevado aos ares, sobre um dos mais altos montes daquele lugar, em que os papagaios faziam morada, naquele tempo em que os gentios habitavam aqueles lugares." (Manuel José Pires da Silva Pontes [n.d.], p. 47)
tenipó (conj.) - mas antes (VLB, II, 32): ...Opá yby rupi te'õmbûera rekobé-îebyri ko'yténe. Oîkoé-koé tenipó o îosuí: i angaturamba'e reté i pokangatu kûarasy sosé oberapa... - Por toda a terra os cadáveres voltarão a viver, enfim; mas, antes, estarão diferindo uns dos outros: os corpos dos que são bons serão sutis, brilhando mais que o sol. (Ar., Cat., 160v-161)
NOTA - Daí, no P.B., CONHA, saliência no tronco das árvores, desde a base até certa altura, isto é, um tronco gêmeo; INCONHO, INCÕE, CONHO, 1) Diz-se do fruto que nasce pegado a outro: banana CONHA; morangos INCONHOS; 2) Diz-se de coisas muito ligadas entre si: "Na era dos Descobrimentos, pouco aproveitava distinguir a lenda da História, uma e outra, inconhas e inseparáveis." (João Ribeiro, Notas de um Estudante, apud Novo Dicion. Aurélio).
ebapó (adv.) 1) aí: ebapó suí - daí, desse lugar (em que estás); ebapó rupi - por aí, por essa parte (VLB, II, 82); 2) lá (lugar distante): ...Ebapó o soagûera suí Tupã Espírito Santo mbouri. - De lá do lugar para onde foi fez vir o Espírito Santo. (Ar., Cat., 4v, 5); Ikó 'ara pupé abiã Tupã remimonhangûera i porãngatu, memetipó ebapó ybakypy... - Se o que Deus fez neste mundo é muito belo, quanto mais lá, o céu primeiro. (Ar., Cat., 167 - 167v); 3) para lá: N'osóî tenhẽ ebapó. - Não foram em vão para lá. (D'Abbeville, Histoire, 342); ...Ebapó ûixóbo xe anama mongetábo... - Indo para lá para conversar com minha família. (D'Abbeville, Histoire, 351v)
Vupabussu (lagoa de MG). Vupabussu foi um dos grandes mitos do Brasil colonial, o sonho de muitos bandeirantes, a lagoa das esmeraldas e da prata: "...sulcando por diversas veredas, o mesmo sertão do reino dos Mapáxós, até o lugar da alagoa Vupavuçu [...] quiz antes morrer em uma cadea [...] do que declarar o sitio onde tinha achado as esmeraldas e prata." (Pedro Taques, Nobiliarquia Paulistana, p. 45). Da língua geral meridional, vupaba* + -usu*: lagoa grande.
aba (t) (s.) - 1) penugem, pena miúda [isto é, aquela que a ave tem pelo corpo todo. A pena grande das asas é pepó (v.)]: xe raba - minha pena; saba - sua pena; gûyrá raba - a pena do pássaro (Fig., Arte, 71); -Mba'epe ereru nde karamemûã pupé? - Aoba. -Marãba'e? -Pykasu-aba. -Que trouxeste dentro de tua caixa? -Roupas. -De que tipo? -De pena de pomba. (Léry, Histoire, 342-343); Moraseîa é i katu, îegûaka, ...sa-mongy... - A dança é que é boa, enfeitar-se, untar suas penas. (Anch., Teatro, 6); 2) pêlo ou cabelo do corpo, de homem ou animal (pêlo ou cabelo da cabeça é 'aba - v.) (Castilho, Nomes, 37); 3) lã (VLB, II, 17); 4) felpa: Xe rabusu. - Eu tenho muita felpa. (VLB, I, 137) ● a-ura (t) ou a-popora (t) - penugem fina de ave que começa a emplumar-se (VLB, I, 113; II, 71); agûera (t) - pêlo retirado do corpo (VLB, II, 114); tukana tá-poraseîa - pena de tucano para dança “isto é, pena que os índios levavam comumente quando dançavam” (Léry, Histoire, 283, 1994)
andyrá (ou andurá) (s.) - ANDIRÁ, GUANDIRA, morcego, nome comum a certos mamíferos quirópteros, animal que se alimenta principalmente de sangue e aparece à noite (D'Abbeville, Histoire, 240): Andyrá ruãpe é, panama koîpó gûaîkuíka? - Será que é um morcego, uma borboleta ou uma cuíca? (Anch., Teatro, 42) ● andyrá-'aba - tipo de corte de cabelo dos índios (etim. - cabelo de morcego) (VLB, II, 137)
îá4 (adv.) - de costume, habitualmente, amiúde: Xe poronupã îá. - Eu açouto gente, de costume. (Anch., Arte, 51v); Akanhem îá. - Costumo fugir; fujo amiúde. (Anch., Arte, 51v); Xe îemoŷrõndûer îá. - Irrito-me habitualmente. (Anch., Arte, 51v); Xe memûã îá. - Eu sou mau de costume. (VLB, I, 73); Xe mba'easy-potar îá. - Eu sou enfermiço, doentio (isto é, tenho propensão para adoecer amiúde). (VLB, I, 105); Asó îá. - Vou, de costume. (Fig., Arte, 141)
NOTA - Daí provém, no P.B. (SP), a palavra PIRACICABA, lugar que, tendo uma cachoeira ou qualquer outro acidente natural, impede a passagem dos peixes, sendo, assim, excelente pesqueiro (in Novo Dicion. Aurélio). Tal palavra surgiu mais tardiamente, na fase da língua geral meridional (século XVIII), pois, em tupi antigo, chegar por água, como fazem os peixes, é îepotar e syk é chegar por terra. No século XVIII tal distinção não existia mais. Foi justamente nesse século que foi fundada a povoação de PIRACICABA (SP), em 1767, que recebeu esse nome em referência às grandiosas quedas que bloqueiam a piracema no rio que por lá passa. Daí, também, no P.B., MUCICA (mo- + syk + -a, "o fazer aproximar-se", "puxada") (N.E.), empuxão que o pescador dá à linha, quando sente que o peixe mordeu a isca; puxão dado ao boi pela cauda para o derrubar; empuxão dado à linha do papagaio de papel. (in Dicion. Caldas Aulete)
NOTA - Daí, no P.B., MINGAU [(e)mi- + ka'u, "o que é empapado"), comida feita com farinha de maisena ou com aveia, tapioca, etc., e engrossada ao fogo com água ou leite e açúcar, adquirindo consistência pastosa; papa; MEMBI, MEMI, MEMBÉ, MIBU, MIMÔ, MUBU, MUMU (de (e)mi- + py1, "o que alguém sopra", flauta indígena feita da tíbia dos animais ou dos inimigos.
apekó (s) (v.tr.) - frequentar, visitar amiúde: Koromõ, keygûara temiminõ moaûîébo, asapekóne. - Logo, vencendo os temiminós, habitantes daqui, frequentá-los-ei. (Anch., Teatro, 136); Kûé suí asó mamõ, amõ taba rapekóbo. - Daqui vou para longe, outras aldeias frequentando. (Anch., Teatro, 4); Akûeîme eresapekó oré retama, saûsupa. - Antigamente frequentavas nossa terra, amando-a. (Anch., Poemas, 154)
NOTA - Daí, no P.B., IGAPÓ ('y + apó, "raízes d'água"), parte da floresta amazônica sempre alagada; JACUBA ('y + akub + -a, "água quente"), bebida preparada com água, farinha de mandioca, açúcar ou mel e, às vezes, com um pouco de cachaça. Daí, pelo nheengatu, IARA, UIARA ('y + îara, "a que domina as águas"), nome de uma entidade mitológica da Amazônia, a mãe-d'água e também nome próprio de mulher. Daí, centenas de nomes na geografia brasileira: TATUÍ (SP), PIRAÍ (RJ), ARAÇAÍ (PB), etc. (v. p. 386).
apûá2 (ou apûã) (t) (s.) - 1) ponta, saliência (p.ex., de pau aguçado, de terra) (VLB, I, 61; II, 80): u'u-tapûá-etá - flecha de muitas pontas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 278); Asapûá-mobyr. - Aguço a ponta dela. (VLB, I, 27); 2) pico, cume, topo, extremidade; cabo (termo geográfico) (VLB, II, 80): Xe rory Ybytyrapé, ybytyrapûá suí. - Eu sou o alegre Ibitirapé, do topo da montanha. (Anch., Poemas, 156); [adj.: apûá ou apûã (r, s)] - agudo, pontudo, saliente, ressaltado: Xe rapûá. - Eu sou pontudo. (VLB, I, 27); anhapûá (t) - dentes pontudos; presas, caninos (VLB, II, 85); Xe rapûá-obyr. - Eu tenho a extremidade pontuda. (VLB, I, 27) ● etobapy-apûá (t) - pontinha aguda do cabelo do topete que alguns têm na testa (VLB, II, 131)
ybõ (v.tr.) - 1) flechar: T'aîybõne! - Hei de flechá-lo! (Anch., Teatro, 32); ...Serobîasare'yma potyrõû, iî ybõîybõmo... - Os que não criam nele trabalharam em conjunto, ficando a flechá-lo. (Ar., Cat., 3); 2) espinhar (VLB, I, 126); 3) arpoar (VLB, I, 41); fisgar (VLB, I, 140) ● iî ybõmbyra - o que é (ou deve ser) flechado: Xe abé iî ybõmbyrûera Bastião xe moaûîé. - A mim também o flechado Bastião derrotou-me. (Anch., Teatro, 48); emiybõ (t) - o que alguém flecha: Akó xe remiybõmbûera? - Esse é o que eu flechei? (Anch., Teatro, 18); moro-ybõ - flechar gente (Anch., Teatro, 172, 2006)
ugûy (t) (s.) - 1) sangue: ...Og ugûy pupé xe reî... - Com seu sangue me lavou. (Anch., Teatro, 172); Opá og ugûy me'engi... - Todo seu sangue deu. (Anch., Poemas, 108); N'i tybi tugûy nde membyrasápe. - Não houve sangue em teu parto. (Anch., Poemas, 118); 2) sangue menstrual, menstruação [após a segunda delas. A primeira e a segunda menstruações tinham nomes diferentes: nhemondy'ara (v.) e îeporero'ypoka (v.), respectivamente. (VLB, I, 84)]; [adj.: ugûy (r, s)] - sangrado; (xe) ter sangue; estar menstruada: Xe rugûy. - Eu estou menstruada. (VLB, I, 84) ● tugûygûasu (ou tugûy-pabe'yma) - fluxo de sangue (VLB, I, 140)
anga (dem. pron.) - este (es, a, as), esse (es, a, as), isso: Anga îá, angaîpabora aîuká... - Como a esses, mato os que costumam pecar. (Anch., Teatro, 92); Anga îápe pe roka? - Como estas são vossas casas? (Léry, Histoire, 363); ...Kó anga andupa, aseîá kûesé xe roka... - Eis que percebendo isso, deixei ontem minha casa. (Anch., Poemas, 112); T'irur ma'e tiruã anga pé. - Tragamos quaisquer coisas para esses. (Léry, Histoire, 356)
pysyrõ1 (v.tr.) - livrar, libertar; salvar, socorrer (VLB, II, 119); Oré pysyrõ-te îepé mba'e-aíba suí. - Mas livra-nos tu das coisas más. (Ar., Cat., 13v); ...Nde erimba'e xe pysyrõ îepé. - Tu outrora me salvaste. (Ar., Cat., 86v) ● pysyrõana (ou pysyrõsara) - o que livra, libertador; salvador: Iesu moropysyrõana - Jesus salvador da gente. (Valente, Cantigas, in Ar., Cat., 1618); pysyrõaba (ou pysyrõsaba) - tempo, lugar, modo, etc. de libertar, de salvar; libertação; salvação: ...Oromoeté-katu... nde xe pysyrõagûera resé... - Louvo-te muito por tu me teres salvado. (Ar., Cat., 87)
-mo3 1) part. que expressa o condicional: -I nhyrõ nhẽpemo Îandé Îara i xupé "nde nhyrõ ixébe" o îoupé i 'érememo? -I nhyrõ nhẽmo. -Perdoar-lhe-ia, sem mais, Nosso Senhor, se ele lhe dissesse "perdoa tu a mim"? -Perdoaria. (Ar., Cat., 58); ...Esykyîébomo, ereîkó-katumo. - Tendo medo, farias bem. (Ar., Cat., 112); Nde rurememo, aîuká umûãmo. - Se tivesses vindo, já o teria matado. (Anch., Arte, 22); Xe mondórememo, asómo. - Se me mandasse, iria. (Anch., Arte, 25); Aîpó n'i papasabi, kûarasymo oîké îepémo! - Isso não seria possível contar, ainda que o sol se pusesse! (Anch., Teatro, 38); 2) part. que expressa o optativo: Aîukámo mã! - Ah, quem me dera o tivesse matado! (Anch., Arte, 18); Asómo Tupana pyri mã! - Ah, se eu fosse para junto de Deus! (Fig., Arte, 142)
1 (mb) (s.) - mão: Nde pópe ogûapyka, osó kunumĩ... - Em tuas mãos sentando-se, vai o menino. (Anch., Poemas, 120); ...Opá o boîá nde pópe i mongûapa. - Todos os seus discípulos para tuas mãos fazendo passar. (Anch., Poemas, 124); Nde morerekoar xe ri, nde pó gûyrype xe nonga. - Sê tu guardião de mim, sob tuas mãos colocando-me. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618); Oîme'eng i pópe-katu... - Entregou-o bem em suas mãos. (Ar., Cat., 61) ● pó-pytá - colo da mão (Castilho, Nomes, 36); pó-pyteîkaba - riscos da palma da mão (Castilho, Nomes, 31); pó-pytera - palma da mão (Castilho, Nomes, 31): ...N'aîasabi pó-pytera... - Nem me cruzei as palmas das mãos... (Anch., Teatro, 160); pó-pytera'isaba - riscos da palma da mão (Castilho, Nomes, 31); opá kó mbó... - ambas estas mãos, o número dez... (Ar., Cat., 3); pó-boboka - linhas das palmas das mãos (Castilho, Nomes, 36)
NOTA - Daí, no P.B., JURUPIRANGA (îuru + pyrang + -a - "boca vermelha"), nome de um peixe taquissurídeo; JURUPIXUNA (îuru + pyxun + -a - "boca escura"), nome de um macaco cebídeo; JURUNA (îuru + un + -a - "bocas pretas"), nome de povo indígena do MT e PA; JURUPENSÉM (îuru + pesẽ - "boca-de-colher"), peixe pimelodídeo de boca com prognatismo acentuado, também chamado jurupoca e boca-de-colher. Daí, também, o nome próprio JURACI, os nomes geográficos CAJURU, BOTUJURU, etc. (v. p. 386).
(e)mbiara (r, s) (s.) - aquilo que se apanhou na caça, na pesca ou na guerra; presa (Fig., Arte, 79); prisioneiro, EMBIARA (Amaz.): ...Opakatu xe rembiara xe pó suí serasóû. - Todas as minhas presas de minhas mãos as levou. (Anch., Teatro, 126); Aîpó kó nde rembiarama setá... - Eis que estas tuas futuras presas são muitas. (Anch., Teatro, 130); Ereporapitipe marana pab'iré, mbiarûera nhẽ îukábo? - Assassinaste gente após acabar a guerra, matando prisioneiros? (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); Xe rembiara rembyrûera arurĩ reîa supé. - O resto de minhas presas trouxe para a rainha. (Anch., Poemas, 154); [adj.: embiar (r, s)] - ter presas, apresar: Xe rembiar. - Eu tenho presas, eu faço presas, eu apreso. (VLB, II, 85)
angaîbara (s.) - magreza; coisa magra (VLB, II, 28); (adj.: angaîbar) - 1) magro; (xe) emagrecer: xe remipoîangaîbara - o magro que convidei (Anch., Arte, 52v); Xe angaîbar. - Eu estou magro. (D'Evreux, Viagem, 151); Nd'e'i te'e opá abá angaîbaramo...-ne. - Por isso mesmo todos os homens emagrecerão. (Ar., Cat., 160); 2) ressequido, mirrado, seco: Nd'aruri amõ parati; oîepé xe pysá pora. Nd'ere'uî xûémo, senhora: i angaîbar-atã moxy suí! - Não trouxe nenhum parati; um só é o conteúdo de minha rede. Não o comerás, senhora: ele está duramente ressequido por deterioração. (Anch., Poemas, 152)
gûyrá (ou ûyrá) (s.) - ave, em geral; pássaro, em geral, UIRÁ: ...Xe pysy-potar-y bé serã kó gûyragûasu... - Talvez queira agarrar-me novamente este pássaro grande... (Anch., Teatro, 58); ...Îusana oĩ nhote. Gûyrá aé osó i pupé, o'á. - O laço está quedo. O pássaro é que vai dentro dele, caindo. (Ar., Cat., 29v); gûyrá raba - pena de pássaro (Fig., Arte, 71); ...Ûyrá-tinga our xébe. - Um pássaro branco veio para junto de mim. (D'Abbeville, Histoire, 353) ● gûyrá-mirĩ - passarinho (VLB, II, 67); ûyrá-îurupari - pássaros noturnos que não cantam, que têm um pio queixoso, enfadonho e triste, que vivem sempre escondidos, não saindo dos bosques e que deviam conviver com o Jurupari; "pássaros do diabo" (D'Evreux, Viagem, 293)
îara (s.) - 1) senhor, senhora; o que preside, o que domina: Tupã sy, kó tabyîara, na pemoembiá-potari... - A mãe de Deus, senhora desta aldeia, não queirais apresá-la. (Anch., Teatro, 180); Irõ, xe ratãngatu, anhanga maranyîara... - Como vês, eu sou muito forte, um diabo que domina as guerras. (Anch., Teatro, 142); Nde irũnamo Îandé Îara rekóû. - Contigo Nosso Senhor está. (Ar., Cat., 4); 2) o dono, o que tem, o que segura, o que tem o dom de, o detentor, o que porta, o portador: ogûer-y îara - o que tem seu próprio nome (Ar., Cat., 23v); ...Marane'ymyîaramo sekó mo'anga'upa. - Pensando falsamente que ele é o que tem a saúde. (Ar., Cat., 66v); Aîpó abá ma'e îara îandébe. - Esses homens são os que portam riquezas para nós. (Léry, Histoire, 354); mosanga moeîrabyîara - remédio portador de cura (Anch., Teatro, 38)
moanhan (ou moanhã) (v.tr.) - empurrar, dar encontrão em: ...Oîmoanhã satápe... - Empurra-o para seu fogo. (Anch., Poemas, 188); Xe-te xe mboú kori pe moanhana, pe mondóbo ikó setama suí. - E a mim é que faz vir hoje para vos empurrar, enxotando-vos desta sua terra. (Anch., Teatro, 180); Ereîmomaranype nde mena... "-t'oropyk" i 'éreme, i moanhana? - Resististe a teu marido quando ele disse: "-hei de te cobrir", empurrando-o? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98)
moynysem (v.tr.) - encher (até o limite da capacidade, até não caber mais, à diferença de mopor ou porakar - v.), impregnar [de algo: compl. com esé (r, s) ou ri]: Tupã nde raûsubeté, graça ri nde moynysema. - Deus ama-te muito, enchendo-te de graça. (Anch., Poemas, 144); ...T'ogûenosem mba'e-aíba xe 'anga suí o poroaûsuba resé i moynysema... - Que retire as coisas más de minha alma, enchendo-a com seu amor. (Ar., Cat., 31v)
nhe'enga (s.) - 1) palavra, fala, discurso: N'asendubi nde nhe'enga. - Não ouço tuas palavras. (Anch., Teatro, 44); T'asó aîpó nhe'enga mopó... - Hei de ir para cumprir essas palavras. (Anch., Teatro, 60); Nama'eruã oîmonhang asé 'angamo, o nhe'enga pupé é i monhangi. - Do nada fez nossa alma, com sua palavra é que ele a fez. (Ar., Cat., 25); 2) sons emitidos pelos animais (urro, pio, berro, balido, bramido, canto, etc.): ...Gûyrá koîpó îagûara nhe'enga supé morangygûana o'îabo. - Dizendo que um canto de pássaro ou um urro de onça são agouros. (Ar., Cat., 66v); 3) língua, idioma, linguagem (VLB, II, 22): I abaíb aîpó nhe'enga. - É difícil essa língua. (Anch., Poemas, 196); 4) mensagem (VLB, II, 35); 5) opinião, parecer (VLB, II, 57); 6) resposta (VLB, II, 101); 7) recado que se manda (VLB, II, 98); (adj.: nhe'eng) - falante, o que tem fala, o que tem palavras: Xe nhe'ẽngatu - Eu tenho boa fala, eu sou bom falante. (VLB, I, 133); Xe nhe'engetekatu. - Eu sou muito falante. (VLB, I, 81) ● nhe'engasy - palavras ásperas, palavras más: I nhe'engasy n'opabi. - Suas palavras ásperas não cessam. (Anch., Teatro, 148); Xe nhe'engasy. - Eu tenho palavras ásperas (VLB, I, 40)
atyra (s.) - monte ou amontoado de alguma coisa, pilha: yby-atyra - monte de terra (VLB, II, 41); Pe apysykĩ serã peîkóbo pe rekomemûã aty-atyra pupé?... - Será que estais sossegados, sem mais, nos vossos montes de maldades? (Ar., Cat., 166 ); [adj.: atyr ou aty] - amontoado; (xe) amontoar-se, ser um monte: I aty sekopoxypûera. - São um monte os seus antigos vícios. (Anch., Teatro, 164); Oré atyr. - Nós estamos amontoados. (VLB, II, 41) ● iaty-iatyr (adv.) - aos montes (VLB, I, 34)
Jurumirim (SP). De îuru + mirĩ: boca pequena: "...cheguei no quarto dia a um salto a que chamam Jurumirim, que na língua da terra quer dizer boca pequena; e na verdade assim o é, porque o rio se mete nele e sai por um canal tão estreito, que parece um funil..." (desconhecido [n.d.], XX - Cartografia das Monções dos Séculos XVII e XVIII - Notícias Práticas, p. 118).
NOTA - Daí provêm, no P.B., BURARA (mby + rara, "prende-pés"), 1) emaranhado produzido pelos ramos caídos no meio da mata, ou árvore tombada que dificulta o trânsito; 2) pequena fazenda ou roça de cacaueiros; 3) lamaçal no interior das plantações de cacau; COIVARA (kó + 'yb + ara, "cata-paus de roça") - 1) restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada, na roça à qual se deitou fogo, e que se juntam para serem incineradas a fim de limpar o terreno e adubá-lo com as cinzas, para uma lavoura; 2) técnica indígena de manuseio da terra, que consiste em queimar restos de troncos, galhos de árvores e mato para preparar a terra para a lavoura, limpando-a; 3) (MA) galhadas e troncos de árvores derrubados pelas cheias e que descem rio abaixo (in Novo Dicion. Aurélio).
berame'ĩ2 (conj.) - como, como que, como se fosse, semelhantemente a: Korite'ĩ-aibeté obebébo berame'ĩ... - Como que voando muito rapidamente. (Ar., Cat., 37); ...Akó omanõba'erame'yma berame'ĩ... - Como se fosse aquele que não morrerá. (Ar., Cat., 155); Ypy suí berame'ĩ abur. - Emergi como que do fundo. (VLB, I, 31); ...T'oîese'ar-y berame'ĩ oîkóbo... - Vivendo como se estivessem unidos. (Anch., Doutr. Cristã, I, 228); Xe ra'yra berame'ĩ arekó. - Trato-o como se fosse meu filho. (VLB, II, 88); Itá berame'ĩ ixébo. - A mim é como que pedra (isto é, parece pedra). (VLB, I, 23); Sepîaka nhõ miapé berame'ĩ. - Vendo-o, somente, é como pão. (Ar., Cat., 84v)
kanhem (ou kanhẽ) (v. intr.) - 1) sumir, desaparecer, perder-se (inclusive da vista ou da memória, falando-se do que caminha ou parte): Kûeîsé, rakó, amõ kanhemi... - Ontem, é verdade que alguns sumiram. (Anch., Teatro, 12); Okanhem ygara xe suí. - Sumiu a canoa de mim (isto é, de minha vista). (VLB, II, 72); ...T'okanhẽ pe rekopûera... - Que desapareça vossa lei antiga. (Anch., Teatro, 54); Akanhẽ-kanhem. - Andei sumido. (VLB, I, 48); 2) perecer, morrer: ...Akanhem kó ixé re'a... - Eis que agora eu pereço. (Ar., Cat., 156) ● okanhemyba'e (ou okanhemba'e) - o que some, o que desaparece, o que perece (VLB, II, 73): Xe ra'yrĩ gûé, tesaraîtabamo okanhemba'epûera rekó resé nde ma'enduar. - Ó meu filhinho, lembra-te de que os que pereceram são objeto de esquecimento. (Ar., Cat., 157v-158); kanhembara - fugitivo, o que foge (Anch., Arte, 31); i kanhembyra - o que é perdido, sumido: Kó santo o mongetasara oîmoîekosub i mba'e i kanhembyra... - Este santo faz aquele que roga a ele alcançar suas coisas sumidas. (Ar., Cat., 6); kanhembaba - tempo, lugar, causa, modo, etc. de desaparecer, de sumir; desaparecimento, sumiço: ...Tupã nhe'enga abŷagûera rakypûera kanhemagûama resé. - Para o desaparecimento dos vestígios da transgressão da palavra de Deus. (Ar., Cat., 91-91v); kanhembora - o fugidor, o que costuma fugir, o fujão (Anch., Arte, 15); kanhemixûera - fujão: Xe kanhemixûer. - Eu sou fujão. (VLB, I, 144)
mosem (ou mosẽ) (v.tr.) - 1) fazer sair, expulsar, enxotar, despedir, lançar fora: Aîmosem anhanga xe îosuí. - Lanço o diabo fora de mim. (Fig., Arte, 81); Oîmosem Paraíso Terreal sekoaba suí. - Expulsou-o do Paraíso Terreal, sua morada. (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); Te'õ rerobyka é, xe angaîpá-tubixagûera amosẽne... - Aproximando-me da morte, meus pecados antigos e grandes farei sair. (Anch., Teatro, 38); 2) soltar: ...Peîpotápe Îesus pe rubixaba ixé i mosema peẽme? - Quereis que eu solte para vós a Jesus, vosso rei?... (Ar., Cat., 59v) ● i mosemymbyra - o que é (ou deve ser) expulso, solto, etc.: ...Tupãoka suí i mosemymbyra... - É o que deve ser expulso da igreja. (Ar., Cat., 179); mosembaba - tempo, lugar, modo, etc. de fazer sair, de expulsar, etc.; expulsão: ...Aîpó pytunusu suí Tupã nde mosemagûera kuapa, eîmomba'eté Tupã... - Sabendo que Deus te fez sair daquela escuridão, honra a Deus. (Ar., Cat., 187)
momosapyr (v.tr.) - fazer-se o terceiro, fazer pela terceira vez (VLB, II, 115) ● momosapysaba - tempo, lugar, modo, etc. de se fazer o terceiro; o terceiro: ...'Ara mokõî i momosapysaba pupé o ekobeîebyri... - Em dois dias e no tempo de se fazer o terceiro, voltou a viver. (Ar., Cat., 4v); I momosapysaba mendara moîekosupaba... - A terceira (virtude) dele é a satisfação dos cônjuges. (Ar., Cat., 133); momosapysara - terceiro (VLB, II, 127)
pabẽ1 (part.) - todo (os, a, as); totalmente, completamente: Abá sosé pabẽ i momorangi... - Mais que a todos os seres humanos embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); ...O boîaetá pabẽ serekomemûãmo... - Maltratando-o todos os seus súditos. (Ar., Cat., 59); ...Oka'ugûasu pabẽ... - Bebem muito todos. (Anch., Teatro, 134); ...Te'õ remi'u pabẽ. - É, totalmente, uma comida de morte. (Valente, Cantigas, VIII, Ar., Cat., 1618); Penheŷnhang pabẽ sesé! - Ajuntai-vos todos com eles! (Anch., Teatro, 60)
sebypyra (ou sepepyra ou sapopyra) (s.) - SIBIPIRA, SUCUPIRA, designação comum a três árvores da família das leguminosas (Bowdichia virgilioides Kunth., Diplotropis racemosa (Hoehne) Amshoff e Diplotropis brasiliensis (Tul.) Benth.), da floresta densa e úmida, que se caracterizam pela madeira castanho-escura, de fibras amarelas, muito dura e pesada, utilizada em construção e marcenaria. São também conhecidas como SAPUPIRA-DA-MATA, SAPUPIRA e SICOPIRA. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 100)
taûîé (adv.) - logo, depressa, rapidamente: Aîmbiré, îarasó muru taûîé... - Aimbirê, levemos os malditos logo. (Anch., Teatro, 40); Ne'ĩ, taûîé i aîubyka! - Eia, enforca-os logo! (Anch., Teatro, 60); T'asepîak taûîé! - Que as veja logo. (Léry, Histoire, 345); Xe py'a xe 'anga eîar nde mba'eramo taûîé. - Toma logo meu coração e minha alma como coisas tuas. (Valente, Cantigas, II, in Ar., Cat., 1618) ● taûîé bé - logo mais (Fig., Arte, 128)
korikoria'ub (ou korikoria'u ou korikorinhẽa'ub) (adv.) - 1) muito depressa, logo (Fig., Arte, 137); 2) ansiosamente, com desejo: ...korikoria'u i gûabo îepi... - comendo-o ansiosamente sempre (Anch., Dial. da Fé, 228); 3) indica desejo ou ansiedade em se realizar alguma coisa: Korikoria'ub oroepîak. - Desejo muito ver-te; não via a hora de ver-te. (VLB, II, 48). Às vezes a partícula nhẽ pode intercalar-se: Memeté rakó pé o emingûabe'yma rupi oguataba'e o angekotebẽnamo, korikorinhẽa'ub 'ara repîaki... - Quanto mais um caminhante por um caminho que não conhece se aflige, mais deseja logo ver o dia. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79)
momosem (v.tr.) - perseguir, acossar, ir no encalço de (Anch., Arte, 49): Eîori... i momosema... - Vem para persegui-lo. (Anch., Poemas, 82) ● oîmomosemba'e - o que persegue: A'epe kunumĩgûasu kunhã oîmomosemba'e...? - E os rapazes que perseguem mulheres? (Anch., Teatro, 36); momosembara - o que persegue, perseguidor: Anhanga momosembara - perseguidora do diabo (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); emimomosema (t) - o que alguém persegue: O apixara reîmbaba îagûara remimomosẽgûera. - O que perseguiu o cão de seu próximo. (Ar., Cat., 73)
SAM PAYO, Manuel de (juiz ordinário) Antonio Alvres Freyre (tabelião e escrivão) Thome Pacheco e Abreu (escrivão) [1726], Cap.os de correição que faz o cap.am Manuel de Sam Payo juiz ordinario e orphãos da v.a de pern. E nella e sua comr.a ouvidor geral pella ley. Ex Biderman, M.T.C. (org.), Dicionário Histórico do Português do Brasil. (Projeto Institutos do Milênio do CNPq).
NOTA - Daí, o sufixo -RANA, presente em mais de uma centena de palavras do P.B.: CAJURANA (akaîu + ran + - a, "falso caju"), nome de uma planta; TATARANA ou TATURANA (tatá + ran + -a, "falso fogo", isto é, o que queima sem ser fogo), lagarta de certos insetos lepidópteros; TUPINAMBARANA (tupinambá + ran + -a, "falso tupinambá"), nome de povo indígena extinto; COIRANA (kuîẽ + ran + -a, "falsa pimenta"), nome de certas plantas solanáceas; CUIARANA ("cuia falsa"), árvore da família das combretáceas, etc.
îata'yba (s.) - JATAÍ, JATAÍBA, JUTAÍ, JATOBÁ, nome que designa várias espécies de árvores leguminosas-cesalpinoídeas do gênero Hymenaea L., entre as quais a espécie Hymenaea courbaril L., muito alta, de flores amarelas, que oferece vagens compridas e largas, onde há duas ou três nozes redondas e achatadas, contendo um caroço coberto de polpa comestível. É também chamada árvore-copal, ITAÍBA, JAÇAÍ, JATIBÁ, JETAÍ, JETAÚVA, pão-de-ló-de-mico. (D'Abbeville, Histoire, 225v; Brandão, Diálogos, 171; Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 101)
meémo (part.) - expressa o condicional passado; pode expressar um idéia de dever no passado: Ereîkuá ranhẽ meémo emonã nde rekorama... - Deverias ter sabido antes o que fazias. (Ar., Cat., 57v); Herodes meémo ikó oîme'eng te'õ supé i angaîpaba kuapa... - Herodes teria entregado este à morte, conhecendo suas maldades. (Ar., Cat., 59v); Nde marangatu meémo... - Se tivesses sido bom... (Anch., Arte, 25v); Osó meémo mamõ? - Teriam ido para longe? (Anch., Teatro, 30); ...îandé momburu meémo... - ...ter-nos-iam amaldiçoado... (Anch., Teatro, 38). Pode seguir partícula que precede o verbo: Kori meémo asó... - Se tivesse ido hoje... (Anch., Arte, 25v)
mondar2 (v.tr.) - suspeitar de: Ereîmondá-mondápe nde rapixara nde py'ape? - Ficaste suspeitando de teu próximo em teu interior? (Anch., Doutr. Cristã, II, 100); Aîmondar ahẽ xe itaîuba ri. - Suspeito dele acerca de meu dinheiro (isto é, suspeito que foi ele quem o furtou). (VLB, II, 121); Ereîmondá-mondá tenhẽpe nde remirekó abá resé? - Ficaste suspeitando sem motivo de tua esposa por causa de alguém? (Ar., Cat., 236, 1686)
sabeypor (ou sabeypó) (v. intr.) - ficar bêbado, embebedar-se: T'asabeypó! - Hei de embebedar-me! (Anch., Teatro, 60); Eresabeyporype kaûĩ suí, 'ara mokanhema? - Ficaste bêbado de cauim, perdendo o juízo? (Ar., Cat., 111v) ● sabeyporaba - tempo, lugar, modo, etc. de embebedar-se, de embriagar-se; bebedeira: ...O karûagûera, o sabeypó-ypoagûera repyramo... - Como pagamento de suas antigas comilanças, de suas antigas bebedeiras. (Ar., Cat., 164)
Perequê (SP). De pirá + eîké (t): entrada dos peixes, i.e., para a desova nos altos cursos dos rios. "Não há dúvida que há na dita Ilha bastante peixe para os moradores que nela moram (...), mas se se povoarem com bastante gente, terão o preciso para o sustento, que para secas só as poderão fazer no tempo do piraquê." (Manoel Gonçalves de Aguiar [n.d.], Notícia, p. 214).
apŷaba2 (s.) - 1) homem, varão (Fig., Arte, 3): ...Sory pakatu apŷaba... - Felizes estão todos os homens. (Anch., Poemas, 146); Tapiîara, tuîba'e, gûaîbĩ, kunumĩgûasu, apŷaba, kunhãmuku, xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Os moradores da aldeia, velhos, velhas, moços, homens, moças, como meus súditos todos em minhas mãos os tenho. (Anch., Teatro, 34); 2) índio livre (VLB, II, 11); gentio: Oîkobé xe pytybõanameté,... tubixá-katu Aîmbiré, apŷaba moangaîpapara. - Existe meu auxiliar verdadeiro, o grande chefe Aimbirê, o pervertedor dos índios. (Anch., Teatro, 8); Abá-tepe, erimba'e, pe mba'erama resé apŷaba me'enga'ubi? - Mas quem, outrora, como vossas coisas os índios deu? (Anch., Teatro, 28); Apŷaba karaíba atûasaba kori oîkó. - Os índios e os cristãos hoje são companheiros. (D'Abbeville, Histoire, 342); 3) nação (de gente) (VLB, II, 46) ● apŷabusu - homem maduro na idade e no juízo (VLB, II, 141); apŷabeté - nome genérico dado aos índios que falavam tupi, em oposição aos tapuias: "Os mais barbaros se chamão in genere Tapuhias, dos quaes ha muitas castas de diversos nomes, diversas lingoas, e inimigos huns dos outros. Os menos barbaros, que por isso se chamão Apuabeté, que quer dizer homens verdadeiros, posto que tambem são de diversas nações, e nomes; [...] comtudo todos fallão hum mesmo lingoagem e este aprendem os Religiosos que os doutrinão por huma arte de grammatica que compoz o Padre Joseph de Anchieta [...]" (Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, I, cap. xii)
ko'yr (ou ko'y) (adv.) - agora; hoje (Fig., Arte, 128): ...Aîkuá-katu Tupã ko'y nde rerekokatu. - Bem sei que agora Deus te favorece. (D'Abbeville, Histoire, 350); A'e ko'y, xe resé, ó-mirĩ pupé ereîkó. - Mas agora, por minha causa, dentro de uma casinha estás. (Anch., Poemas, 128); Anhanga t'îaîpe'a ko'yr aûîeramanhẽ... - Que afastemos o diabo agora e para sempre. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); Enhe'eng ko'yr! - Fala agora! (Staden, D.V.B., 154) ● ko'yr é; ko'yr é é; ko'yr é-katueté - agora mesmo (depois de tanto tempo): Ko'yr é... i 'anga aîuká-potá. - Agora mesmo suas almas quero matar. (Anch., Teatro, 144); ko'yr-y bé - agora mesmo, agora neste instante (VLB, I, 24); ainda agora (VLB, I, 28); hoje em dia (VLB, II, 55): A'epe emonã pe rekopûera repyrama resé koyr-y bé penhemosako'i... - E preocupai-vos hoje em dia com as futuras penas de vosso agir assim? (Ar., Cat., 165); ko'yr é-katuetépe? - E agora? (VLB, I, 24); ko'yr amõ - agora pela primeira vez (Fig., Arte, 129)
paranã (s.) - 1) mar: Opá ybaka ereîmopó, paranã, yby abé. - Todo o céu preenches, o mar e a terra também. (Anch., Poemas, 128); Asó paranãme. - Vou ao mar. (Fig., Arte, 130-131); O îoybyri se'õmbûera paranã ybyri i kûáî. - Lado a lado seus cadáveres ao longo do mar estavam. (Anch., Teatro, 52); 2) água do mar (VLB, I, 24) ● paranãmbora - coisas que se criam no mar, a fauna marítima (Anch., Arte, 31v); paranãmbotyra - flor do mar (D'Evreux, Viagem, 181); paranãysyka - resina do mar (D'Evreux, Viagem, 181); paranãngûá - enseada ou baía de mar (VLB, I, 50); paranãendy - reflexo ou resplendor do mar (VLB, I, 40)
NOTA - Daí se originam nomes de lugares como PERI-PERI (BA), PIRITUBA (SP) (v. p. 386) e nomes de pessoa, como PERI. Daí, também, no P.B., PERI, 1) sulco formado pelo escoamento de águas em declive; 2) (MT) a parte baixa de terreno alagada pelas águas de um rio; PERIANTÃ, PARIATÃ (Amaz.), 1) lugar onde há peris; 2) ilha flutuante que desce os rios, formada de plantas aquáticas, camalote; 3) barranco flutuante despegado da margem do rio, e que desce nas enchentes, coberto de canaranas, marurés e outras plantas; matupá (in Novo Dicion. Aurélio).
ekó4 (t) (s.) - fato, coisa; acontecimento: ...Tekorama mombegûabo. - Anunciando os acontecimentos futuros. (Ar., Cat., 159v); Nd'e'ikatuî abá îuru Anhanga ratápe tekó-asyeté mombegûabo. - Não pode a boca de ninguém contar as coisas muito dolorosas no inferno. (Ar., Cat., 163); Oîepé mi'u pupé esepîak tekó paraba... - Dentro de um só pão vê tu a variedade de coisas. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); Nd'e'ikatuîpe abaréramo oîkoe'ymba'e emonã tekó monhanga? - Não pode o que não é padre fazer as coisas assim? (Ar., Cat., 93v); I porangeté ã tekó îandébe. - São muito belas estas coisas para nós. (Léry, Histoire, 355)
-ndûar (suf. que nominaliza complementos circunstanciais) - 1) o que é, o que está: Oîerokype asé... santos ybakypendûara... supé bé? - A gente se inclina para os santos que estão no céu também? (Ar., Cat., 22); Oré remi'u 'ara îabi'õndûara eîme'eng kori orébe. - Nossa comida, a que é de cada dia, dá hoje para nós. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); Opakatupe Tupã asé py'apendûara tiruã repîaki? - Tudo, mesmo o que está no coração da gente, Deus vê? (Anch., Doutr. Cristã, I, 158); ...O îoesendûara pabẽ... - Todos os que estão consigo... (Bettendorff, Compêndio, 103); mba'e ybybondûara - coisa que está no chão (Fig., Arte, 139); Ikendûara n'ikó. - O que é daqui é este. (VLB, II, 74); 2) o referente a, o que diz respeito a, o que toca a: Ereîmombe'u ymã mene'yma resé nde rekoangaîpagûera; ko'yr t'ereîmombe'u mendara resendûarûera. - Já confessaste teus pecados com as solteiras; que confesses agora os que dizem respeito às casadas. (Ar., Cat., 109); xe soremendûara - o que toca a quando eu fui (Anch., Arte, 10v); 3) natural, o que é ou está naturalmente, habitante (animal ou planta): nhũbondûara (ou nhũmendûara) - natural dos campos, o que está (naturalmente) pelos campos (VLB, II, 41) (V. tb. -sûar)
(e)kuîa (r, s) (s.) - CUIA (Anch., Arte, 13v); cabaço, cabaça, fruto da cuieira, vaso feito desse fruto maduro depois de esvaziado do miolo: Ygasápe kaûĩ-tuîa a'e ré îamomotá, oîoîá gûaîbĩ rekuîa... - O cauim transbordante nas igaçabas, depois disso, os atrai, e, igualmente, as cuias das velhas... (Anch., Teatro, 28); xe rekuîa - meu cabaço; sekuîa - seu cabaço (Fig., Arte, 78); Kuîa nhẽ i -ngá--ngábo, ereîanga'o abá... - Das cuias ficando a quebrar as pontas, afrontaste os homens. (Anch., Teatro, 168)
ka'a (s.) - 1) mata, mato: Okûabépe irã so'o, gûyrá, pirá, ka'a...? - Escaparão futuramente os animais de caça, os pássaros, os peixes, as matas? (Ar., Cat., 46); Asó ka'abo. - Vou pelos matos. (Fig., Arte, 7); 2) ramo (de árvores ou plantas) (VLB, II, 96); 3) erva, folha, folhagem, planta: ka'a-roba - folha amarga (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 42); 4) território de caça. Forma, com tal sentido, muitas expressões: Ka'abo aîkó. - Ando à caça (lit., estou pelas matas). Ka'abo asó. - Vou à caça. (VLB, II, 41) ● ka'a-pa'ũ - ilha de mato em meio a um descampado, CAPÃO (Léry, Histoire, 360; VLB, II, 9); moita de mato (VLB, II, 43); ka'ape só - ir defecar (lit., ir ao mato): Ka'ape asó. - Fui defecar. (VLB, I, 62); ka'aygûana (ou ka'abondûara) - animais da mata; o que vive ou vaga pelas matas (VLB, II, 41)
oîepé2 (adv.) - 1) uma vez: Oîepé asó. - Fui uma vez. (Anch., Arte, 10v); Oîkuakumo amõ abá tekopûera oîepé'ĩ nhõmo, Tupana n'i nhyrõî xómo. - Se alguém escondesse os atos passados uma só vez, Deus não perdoaria. (Anch., Teatro, 176, 2006); 2) a uma, em uníssono, a uma só voz, todos juntos, todos de uma vez (Fig., Arte, 5): Peîori apŷabetá, oîepé... - Vinde índios, em uníssono. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618)
îeaseîa (s.) - irritação, agastamento (VLB, I, 24); (adv.: îeaseî) - com ira, de má vontade; com indignação, rispidamente, irritadamente: Arasó-îeaseî. - Levo de má vontade. (VLB, II, 14); Aîopoî-îeaseî. - Alimentei-o rispidamente. (VLB, II, 106); Aîmonhang-îeaseî. - Fi-lo rispidamente. (VLB, II, 106); Anhe'ẽ-îeaseî. - Falo irritadamente. (VLB, I, 133) ● îeasé-aseîa (s.) - grande irritação ou agastamento contínuo (VLB, I, 24)
oŷpyra (r, s) (s.) - 1) zelador da casa (de pessoa ausente); o que está ou fica na casa (de pessoa ausente): Aîmbiré, îarasó muru taûîé, îandé roŷpyra moesãîa. - Aimbirê, levemos os malditos logo, para alegrar os que ficaram em nossas casas. (Anch., Teatro, 40); T'o'u îandé roŷpyrûera. - Que os comam os que ficaram em nossas casas. (Anch., Teatro, 64); 2) o que fica no lugar de, substituto (p.ex., o ovo que se põe no lugar onde se quer que a galinha vá botar; indez) (VLB, I, 115): Nd'e'i te'e abá... soŷpyra abaré supé onhemombegûabo. - Por isso mesmo o homem se confessa a seu substituto, o padre. (Anch., Doutr. Cristã, II, 77); Aîkó nde roŷpyramo. - Estou em teu lugar; sou teu substituto. (Anch., Arte, 44v)
gûatá (v. intr.) - 1) andar, caminhar: Agûatá ko'arapukuî... - Caminhei o dia todo. (Anch., Poemas, 150); Nhũ rupi agûatá. - Ando pelo campo. (Fig., Arte, 123); Eregûatápe nhaîmbiara rupi kunhã resé? - Andaste pelos caminhos de fontes com mulheres? (Ar., Cat., 234); 2) passar: Koromõ ipó eregûatá xe rekoápe... - Logo, decerto, passarás no lugar onde moro. (Anch., Poemas, 156); 3) seguir, andar (no sentido de deslocar-se em meio de transporte): Paranã rupi agûatá. - Segui pelo mar (em navio). 'Y rupi agûatá. - Andei pelo rio (de barco). (VLB, II, 48); 4) passear: Abaregûasu ogûatá. - O bispo passeia. (Fig., Arte, 6) ● ogûataba'e - o que anda, o que caminha, o caminhante; o que passeia, o que passa: ...pé rupi ogûataba'e... - os que andam pelo caminho (Ar., Cat., 63); gûatasaba - tempo, lugar, modo, etc. de andar, de passar, de passear; caminhada, passeio, etc.: Xe anama gûatasápe, nde morerekoá sesé. - Ao passar minha família, tu cuidavas dela. (Anch., Poemas, 154); guatá-tenhẽ - andar à toa, andar de cá para lá, vaguear: Agûatá-gûatá-tenhẽ. - Fico andando à toa. (VLB, II, 140)
pindoba (s.) - PINDOBA, nome comum a diversas palmeiras do gênero Attalea, dentre as quais a Attalea phalerata Mart. ex Spreng., espécie de belo porte encontrada em amplos palmeirais em grande parte do Nordeste e do Centro-Oeste do Brasil, onde é, muitas vezes, também chamada oacuri ou coqueiro-tuí. Apresenta nozes muito duras, com algumas sementes, ricas em óleo utilizável. Outra espécie designada por esse nome é a Attalea humilis Mart. ex Spreng., também denominada catolé ou coqueiro anajá-mirim. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 133; VLB, II, 63): Aîopûaî amõ abá pindoba resé. - Mandei um homem em busca de pindoba. (VLB, I, 114)
amỹîa (ou amũîa) (t, t) (s.) - 1) avô (de h. ou m.) (Ar., Cat., 116): ...xe ramũîa Îagûaruna - meu avô Jaguaruna (Anch., Teatro, 60); 2) os antepassados, os avós: Opá xe ramỹîa ma'epûera aîtyk. - Todos os bens de meus avós joguei fora. (Léry, Histoire, 356); Aîkó xe ramỹîa rekóbo. - Vivo pelos costumes de meus avós. (Fig., Arte, 7); Ta xe momotar umẽ xe ramỹîa rekopûera. - Que não me atraia a lei antiga de meus avós. (Anch., Poemas, 168)
abaeté2 (ou abaîté) (s.) - 1) ABAETÉ, terror, terribilidade; fereza, fúria, crueldade; coisa medonha: Sãî xe îukae'ymi Tupã sy rera abaîté. - Apenas não me matou o terror ao nome da mãe de Deus. (Anch., Teatro, 126); (adj.) - terrível, espantoso, furioso, tremendo, medonho, temível (VLB, II, 34): I abaeté sepîaka ixébo... - É terrível para mim vê-los. (Anch., Teatro, 26); ...I abaeté muru supé São Sebastião ru'uba... - Foram terríveis contra os malditos as flechas de São Sebastião. (Anch., Teatro, 52); I abaeté-katupe irã i angaîpaba'e supé?... - Será muito terrível futuramente para os que são maus? (Ar., Cat., 46v); I abaeté pa'i Îesu, îandé sumarã mondyîa. - É terrível o senhor Jesus, fazendo tremer nosso inimigo. (Anch., Poemas, 186); Îagûarabaeté - cão furioso (nome de um índio) (D'Evreux, Viagem, 86); I abaeté-katupe Anhanga...? - É muito medonho o diabo? (Anch., Doutr. Cristã, I, 220); ...I abaeté-katu xe rera. - É muito terrível meu nome. (Anch., Teatro, 144); 2) força, poder, valentia, bravura: Xe abé iî ybõmbyrûera Bastião xe moaûîé. N'i tybi xe abaetepûera... - A mim também o flechado Bastião derrotou-me. Não existe mais minha antiga bravura. (Anch., Teatro, 48); (adj.) forte, robusto, valente, poderoso, audacioso: Tupã oîepé nhõ nhẽ gûekó-karaibetéramo, abaetéramo. - Deus é um só, de fato, sendo santíssimo, sendo poderoso. (Anch., Doutr. Cristã, I, 134); Ybytu îabé osunung, i abaeté suí osyîa. - Zune como o vento, tremendo por causa de sua bravura. (Anch., Poemas, 190) ● iî abaeteba'e - o que é temido (VLB, II, 125); abaîtesaba (ou abaîtéba) - tempo, lugar, modo, etc. de bravura, de terror; terror; força; bravura, etc.: ...Îandé maranirũ, îandé abaîtéba... - Nossa companheira de guerras, causa de nossa bravura. (Anch., Poemas, 88)
pyryb1 (forma nasal: mbyryb) (adv.) 1) pouco, um pouco: ...korite'ĩ-mbyryb - agora há pouco (VLB, I, 24); Xe retobapé-pyryb. - Eu sou um pouco bochechudo. (VLB, I, 56); Karaíba, ipó, n'oîkoangaîpá-pyrybi. - Os cristãos, na verdade, não pecam pouco. (Anch., Teatro, 20); 2) um pouco mais, um tanto mais (VLB, I, 154); 3) algum tanto, um tanto: Turusu-pyryb. - É algum tanto grande. (VLB, II, 35); 4) muito (tb. com adjetivos que levem o pref. moro-): Moroũ-mbyry nakó. - Isto era muito preto, de fato. (VLB, II, 128); I katu-pyryb*. - Ele é muito bom. (VLB, II, 35) ● pyrybĩ - um pouquinho mais (VLB, I, 154); um tanto mais (VLB, I, 31); pyrybĩ nhõte - mais um pouco; algum tanto (VLB, II, 28)
NOTA - Daí, no P.B., GURANHÉM (ou GUARANHÉM, GURAÉM, EMBIRAÉM, EMIRAÉM, IVURANHÊ) (ybyrá + e'ẽ, "madeira doce"), pau-doce, monésia, árvore da família das sapotáceas (Pradosia glycyphloea), habitante da mata pluvial e conhecida pela casca grossa, leitosa e de sabor adocicado; CAAEÉ (ka'a + e'ẽ, "planta doce"), subarbusto da família das compostas, a Stevia, de flores com glicirrizina, tida como adoçante; PIRAÉM (Amaz.) (pirá + e'ẽ, "peixe salgado"), o pirarucu salgado e seco.
kõîa (ou koîgûera) (s.) - gêmeos (de qualquer sexo), irmão ou irmã gêmeos (Ar., Cat., 114) (Usa-se também ûera por se entender que estavam juntos no ventre da mãe e que, ao nascerem, separaram-se.): xe kõîgûera - meu irmão gêmeo, o que nasceu juntamente comigo (Ar., Cat., 268, 1686); Kõîgûera oré. - Nós somos gêmeos. (VLB, I, 147); (adj.: kõî) - gêmeo: Oré kõî. - Nós somos gêmeos. (VLB, I, 147); Xe membykõî. - Tive filhos gêmeos. (VLB, II, 66)
NOTA - Daí, no P.B., BIBOCA, BABOCA, BOBOCA (yby + bok + -a, "terra rachada") 1) buraco, cova, grota, fenda da terra, feitos pelas enxurradas; 2) baixada profunda e de acesso difícil; 3) casa pequena, pobre, modesta, afastada, remota; baiúca, toca: "Em torno de mim, as velhas taperas, as medonhas BIBOCAS do morro, fechadas, silenciosas, fúnebres, desfaziam-se em miasmas." (Olavo Bilac, in Crítica e Fantasia, apud Novo Dicion. Aurélio); 4) pequena venda ou botequim modesto; bodega.
anga'o2 (v.tr.) - 1) ameaçar: Aîanga'o (ou Anhanga'o). - Ameacei-o. (VLB, I, 34; Fig., Arte, 118); 2) ofender, vituperar: Ereîanga'ope nde ruba, nde sy, nde ramũîa, nde aryîa? - Vituperaste teu pai, tua mãe, teu avô, tua avó? (Ar., Cat., 100v); Pe poroanga'o umẽ, xe ra'yr-y gûé, ta perekó i mba'e. - Não vitupereis as pessoas, ó meus filhos, para que tenhais seus bens. (Léry, Histoire, 356); 3) afrontar: Kuîa nhẽ i -ngá--ngábo, ereîanga'o abá... - Das cuias ficando a quebrar as pontas, afrontaste os homens. (Anch., Teatro, 168) ● angagûara - o que ameaça, o que vitupera, etc.; o ameaçador; angagûaba - tempo, modo, lugar, etc. de ameaçar, de vituperar, de afrontar (Fig., Arte, 118) (O gerúndio de anga'o é angagûabo)
(adv.) - 1) assim, deste modo, desta maneira (Fig., Arte, 5): Nã e'i memẽ îepi... - Assim dizem sempre. (Anch., Poemas, 194); Nã e'iba'e... - Os que assim dizem... (Ar., Cat., 16v); (Pode levar o verbo para o gerúndio.): Kori, nã, îandé rekó îandé moarûapa angá. - Hoje, assim, de modo nenhum nos impedem nossa estada. (Anch., Teatro, 148, 2006); 2) é o seguinte; são os seguintes: Setápe pirá seba'e? -Nã: kurimã, parati, akaraûasu... -São muitos os peixes que são gostosos? -São os seguintes: curimã, parati, acaraguaçu... (Léry, Histoire, 348-349); 3) tantos; tantas vezes, tanto (mostrando-se o número com os dedos) (VLB, II, 124; Anch., Arte, 10v) ● nã-te (ou nã-tene) - desta maneira (e não dessa) (VLB, I, 101); não assim, senão assim (VLB, II, 47); nã nhõ (ou nã nhote) - assim somente; basta (Fig., Arte, 135; VLB, II, 50); nã nhõ ranhẽ! - basta! (Fig., Arte, 135)
NOTA - Daí, no P.B., NHEENGATU ("língua boa"), língua geral falada atualmente no Amazonas, às margens do Rio Negro, principalmente em vilas e comunidades ribeirinhas e nas cidades de Barcelos, Santa Isabel e São Gabriel da Cachoeira, onde é uma das línguas oficiais. Desenvolveu-se da língua geral amazônica, surgida no século XVIII, como um desenvolvimento histórico do tupi antigo; NHEENGAÍBA ("língua ruim"), povo indígena extinto que habitava a ilha de Marajó (PA).
moka'ẽ1 (s.) - 1) ato de MOQUEAR, técnica indígena de preparo de carnes (Sousa, Trat. Descr., 338); 2) MOQUÉM, MOQUETEIRO (SP), grelha onde, a fogo lento, os índios assavam a carne dos inimigos, a caça ou o peixe, formada por quatro forquilhas de madeira, fincadas no chão em forma de quadrado ou retângulo, erguida três pés acima do chão, possuindo largura e comprimento proporcionais à quantidade que seria moqueada (D'Abbeville, Histoire, 294); 3) MOQUÉM, carne assada em grelhas; tostado (VLB, II, 134): Nde ro'o xe moka'ẽ serã... - Tua carne será meu moquém. (Staden, Viagem, 157)
NOTA - Em Confederação dos Tamoios, epopéia de Gonçalves de Magalhães, lemos "Outras [velhas] cavam o chão, e nos buracos / Lançam a carne ou peixe envolto em folhas, / Depois de terra os cobrem, sobre a terra / Fogo acendem; destarte as carnes torram, / E a isto dão de BIARIBI o nome." (Confederação dos Tamoios [Edição fac-similada seguida da polêmica]. 1ª ed., Editora da UFPR, Curitiba, 2007)
supé (posp.) (após i ou y assume a forma xupé) - 1) diante de, perante, junto de, junto a: ...Ybyrá supé nhẽpe asé îerokyû? - Diante de uma madeira a gente se inclina? (Ar., Cat., 22); Ta sasy muru supé! - Que eles sofram junto dos malditos! (Anch., Teatro, 56); Mbype erebasẽ i xupé? - Chegaste perto junto a eles? (ou Achaste-os por perto?) (Anch., Teatro, 46); 2) para, a (dat.): Irũmbûera... aîme'eng abá supé. - Seus antigos companheiros dei aos índios. (Anch., Teatro, 46); A'e iî abaíbymo abá supé xe ro'o 'u... - Mas seria difícil para as pessoas comer minha carne. (Ar., Cat., 84v); Enhe'eng nde ruba supé. - Fala a teu pai. (Fig., Arte, 6); Aporombo'eukar Pedro supé. - Faço a Pedro ensinar gente. (Fig., Arte, 146); 3) contra: Anhanga supé Tupã asé mopyatãgûama resé. - Para Deus nos encorajar contra o diabo. (Ar., Cat., 82v); ...I abaeté muru supé São Sebastião ru'uba... - Foram terríveis contra os malditos as flechas de São Sebastião. (Anch., Teatro, 52); 4) para junto de: ...Karaibebé reîkéû i xupé. - O anjo entrou para junto dela. (Ar., Cat., 30v); 5) por, em busca de: Xe ruba supépe eresó? - Vais em busca de meu pai? (Anch., Arte, 36); Kûaî nde ruba supé. - Vai em busca de teu pai. (Fig., Arte, 122). [Tal posp. usa-se apenas com a 3.ª p.: Pero supé - a Pedro (ou para Pedro). Pode ocorrer com outras pessoas, o que não é errado, mas passa por licença poética: Ixé supé - a mim (ou para mim). (VLB, II, 64)] ● mba'e supé? - para quê? para que coisa? a quê? (VLB, I, 39): Mba'e supépe asé graça i 'éû? - A que coisa chamamos graça? (Ar., Cat., 31); abá supé? - para quem? a quem?: Abá supépe asé îeruréû...? - Para quem a gente reza? (Ar., Cat., 23)
erĩ (interj.) 1) (expressando raiva, desgosto, irritação) - irra! (VLB, II, 15); Oh! Ah! Ai! Que nada!: Erĩ, aani! Amorambûé; opá xe nhe'engendubi. - Oh não! Frustrei-os; ouviram-me as palavras todas. (Anch., Teatro, 12); Erĩ, sarigûeîa é! - Irra, gambá! (Anch., Teatro, 42); Erĩ! Xe rapy Tupã...! - Ai! Queima-me Deus! (Anch., Teatro, 90); Erĩ! Aîmoaûîé îandune. - Que nada! Vou vencê-los, como sempre. (Anch., Teatro, 138); 2) (expressando satisfação): Erĩ, aûîé! - Ah, muito bem! (Anch., Teatro, 143, 2006)
pak (v. intr.) - acordar: Nd'eréî epaka ranhẽ. - Ainda não acordaste. (Fig., Arte, 25); Nd'a'éî gûipaka ranhẽ. - Ainda não acordei. (Fig., Arte, 25); Opaka bé sesé o ma'enduaramo... - Lembrando-se dele assim que acorda. (Ar., Cat., 74v); Apak gûitupa. - Estou acordando. (VLB, I, 20) ● pakaba - tempo, lugar, modo, etc. de acordar: "...-I katupe nhẽ temõ mã!" erépe nde pakagûerype? - Disseste quando acordaste: "-Oxalá ela estivesse nua!"? (Ar., Cat., 104v)
Araraquara (SP). De arará - var. de formiga + kûara - buraco, toca: buraco das ararás, ou ainda, pela língua geral meridional, arara + kûara: toca das araras. Distrito criado com a denominação de São Bento de Araraquara por alvará de 30 de outubro de 1817 no Município de Piracicaba. É também nome de morro próximo de Piracicaba: [...] pouzo no mato perto do morro de Arara coara, onde tem gentio, porèm trataõ de sua lavoira, e naõ fazem mal algum aos viagantes [...] (desconhecido [1754], Relaçaõ da chegada que teve a gente de Mato Groço..., p. 246).
NOTA - Daí, no P.B., JACUMAÍBA, JACUMAÚBA (PA e MA, pela língua geral setentrional) (îakumã + 'yba, "comandante do jacumã", i.e., do lugar de guiar a canoa), piloto de canoa que navega pelas baías e lagos onde a navegação é arriscada (in Dicion. Caldas Aulete): "O jacumaúba amazonense... ficou largo tempo constrangido entre as barracas dos rios" (Euclides da Cunha, in À Margem da História. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999); CÃIBA (akang + 'yba, "comandante de cabeça"), cada uma das partes laterais do freio dos animais de montaria.
apyrĩ (ou apyrĩ'i ou apyri'ĩ) (part.) - prestes, a ponto de, na iminência de, já para (fal. de coisas que se realizam posteriormente, ao contrário de sûer (v.), que se refere a coisas que não se realizam); daqui a pouquinho; já, já: A'ar apyrĩ. - Estou prestes a cair. Our apyrĩ. - Está já para vir. Asó apyri'ĩ. - Estou a ponto de ir. Vou daqui a pouquinho. (VLB, II, 75); Aînupã apyri'ĩ. - Daqui a pouquinho castigo-o. (VLB, I, 89)
NOTA - Daí, no P.B., PIPOCA (pir + pok + -a), a pele estourada (de milho). Os primeiros exemplos de emprego dessa palavra no P.B. apresentam-na junto com o termo milho: ...uma pipoca de milho que do seu borralho saltou para o do outro" [...] (in Manuel José Pires da Silva Pontes [século XVIII], p. 31); PIRERAS ("peles velhas") (AM), mamas chatas, caídas; peitos caídos; PIRA (AM), sarna, escabiose nos animais; PITINGA (pir + ting + -a, "pele branca"), claro, branco; CUIAPITINGA ("cuia da pele clara"), a cuia que não foi ainda tingida.
eropytá (v.tr.) - ficar com, fazer ficar consigo, deter, fazer parar (p.ex., o cavalo em que se vai) (VLB, II, 64): ...O sy rygépe o pitanga reropytá îabé, t'opytá pe pupé. - Que ele fique dentro de vós como fica com seu estado de feto no ventre de sua mãe. (Ar., Cat., 4); Eropytá nde boîá'ĩ orébo. - Fica com teus suditozinhos junto de nós. (Depoimento de Pero Leitão, ASV, Cong. Rit., Anchieta, nº 303, 110-111, apud Viotti, 180)
a'ang7 (s) (v.tr.) - 1) tentar, experimentar, pôr à prova: I abaí xébo sa'anga. - É difícil para mim tentá-los. (Anch., Teatro, 16); ...Tupã nhe'enga asa'ang. - A palavra de Deus experimentei. (Anch., Teatro, 172); T'isa'ang apŷaba marã îandé irũ. - Experimentemos a força dos homens conosco. (Léry, Histoire, 357); 2) exercitar-se em, ensaiar-se em, esforçar-se por: Pesa'ang îepé peuî korite'ĩ nhõte xe pyri, pekere'yma... - Embora vos tivésseis esforçado, estivestes deitados só pouco tempo junto a mim, não dormindo. (Ar., Cat., 53); N'osa'angi-tep'akó nhembo'e ko'arapukuî? - Mas não se esforçam esses por aprender sempre? (Anch., Teatro, 30); 3) provar (dar provas de), demonstrar poder (com um dos verbos no gerúndio): Esa'ang serasóbo. - Prova-o, levando-o; prova que o levas. (VLB, II, 88); 4) provar, gostar (sentir o gosto de): Marã e'ipe sa'ang' iré? - Que disse após prová-la (isto é, a bebida)? (Ar., Cat., 63v);... E'i mo'ema monhanga, mosanga ra'ã-ra'anga... - Mostram-se a urdir mentiras, ficando a provar poções. (Anch., Teatro, 36) ● a'ang îepé (s) - tentar sem que surta efeito: Asa'ang îepé i monhanga (ou Asa'ang îepé i monhangambûera). - Tentei fazê-lo, sem conseguir. (VLB, II, 13); Mbegûé é ko'yté abá tekokuá kanhemi, sesapysopûera kanhemi, ...o nhe'engabûera ra'ang îepébo... - Lentamente, enfim, o homem perde entendimento, sua vista aguda de outrora desaparece, tentando inutilmente a fala. (Ar., Cat., 156); osa'angyba'e - o que tenta, o que prova, etc.: Apŷaba kunhã resé o ekó osa'angîepéba'e nd'e'ikatuî omendá. - O homem que tenta, sem êxito, ter relações sexuais com uma mulher, não pode casar. (Ar., Cat., 131v); a'angara (t) - tentador: Emokanhem xe ra'angara... - Faze sumir meu tentador... (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1686)
îurumũ (s.) - 1) JERIMUM, JERIMUNZEIRO, aboboreira, nome comum a várias espécies de plantas da família das cucurbitáceas, do gênero Cucurbita, entre as quais a Cucurbita maxima Duchesne, muito importantes para a alimentação. Também são chamadas abóbora, abóbora-amarela, abobreira, abóbora-da-quaresma. 2) o JERIMUM, fruto dessas plantas, muito usado para a fabricação de cabaços e vasilhas para o uso doméstico (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 44)
mendara (s.) - 1) casado(a) - Ereîkópe mendara, mendarûera resé? - Tens relações com uma casada, com uma que foi casada? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89); 2) casamento; matrimônio: -Marãpe amõ îandé 'anga posanga? -Mendara. -Qual é o outro remédio de nossa alma? -O matrimônio. (Ar., Cat., 94); 3) cônjuge: I mendá-mokõîa resé i byk'iré... - Após tocar em seu segundo cônjuge. (Ar., Cat., 280); (adj.: mendar) - casado: Ereîkópe kunhã-mendara resé? - Tiveste relações sexuais com uma mulher casada? (Ar., Cat., 109)
a'e2 (dem. pron. e adj.) - 1) - esse (es, a, as); aquele (es, a, as), isso, aquilo: A'e ré kori îasó tubixaba akanga kábo. - Depois disso, hoje vamos quebrar as cabeças dos reis. (Anch., Teatro, 60); N'aîkuabi a'e abá... - Não conheço esse homem... (Ar., Cat., 57); ...A'epûera nongatûabo é îandé îabé apŷabetéramo i nhemonhangi erimba'e... - Para acalmar aquele, como nós ele se fez homem verdadeiro. (Ar., Cat., 84); 2) ele (es, a, as): Osobá-syb aó-tinga pupé; a'e resé sobá ra'angaba pytáû. - Limpou seu rosto com um pano branco; nele ficou a imagem de seu rosto. (Ar., Cat., 62); Karaibebé a'e, moroîubyka puaîtara. - Ele é o anjo que encomenda o enforcamento. (Anch., Teatro, 62); 3) aquele (es, a, as) que: A'e asetobapé-pyténe... peîpysy-katu kori, i popûá... - Aquele que eu beijar na face, agarrai-o, atando-lhe as mãos. (Ar., Cat., 75) ● a'erama ri - para tanto, para isso: A'erama ri Tupã asé rekomonhangaba resé... o ma'enduaramo... - Para tanto, lembra-se a gente dos mandamentos de Deus. (Bettendorff, Compêndio, 92); a'e îabé - outro tanto; da mesma maneira (VLB, II, 61); a'e îá - assim, desse modo: A'e îá bépe gûá i py rerekóû, itapygûá pupé i moîáno? - Assim também fizeram com seus pés, pregando-os com cravos? (Anch., Diál. da Fé, 189)
îepé6 (adv.) - certamente, sem dúvida, na verdade, com efeito: Xe resemõ îepé itaîuba. - Sobra-me dinheiro, certamente. (VLB, I, 17); Aînhe'engapypyk îepé. - Argumentei contra suas palavras, com efeito. (VLB, I, 17); ...Îamanõ îepémo serã sepîakagûera abá supé mombe'u e'ymebémo. - Morreríamos certamente antes que contasse para as pessoas o que viu. (Ar., Cat., 165v); Kó nhõ anosẽ, îepé, moxy suí. - Somente estas, na verdade, retirei dos malditos. (Anch., Poemas, 150)
puraké1 (ou poraké) (s.) - 1) POROQUÊ, PORAQUÊ, PURAQUÊ, enguia-elétrica, 1) nome comum a peixes elétricos da família dos eletroforídeos. Realizam descargas elétricas, em sua defesa e para facilitar a captura de outros peixes. "Quem quer que o toca, logo fica tremendo... Morto, come-se e não tem peçonha." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 56); 2) gênero de raia conhecida como peixe-viola, da família dos rinobatídeos, peixe cartilaginoso com a parte anterior do corpo em forma de coração e que também produz descargas elétricas (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 151-152)
ky2 (part. de m.) - 1) expressa determinação, resolução, deliberação, não se traduzindo, às vezes. Vai sempre para o final do período. - haver de... pois, haver de... já: ...A'u nhẽne ky... - Hei de comê-lo, pois. (Ar., Cat., 85); Asóne ky. - Hei de já ir. (Fig., Arte, 139); 2) expressa exacerbação daquilo que se quer responder (como se, perguntando alguém se algo já aconteceu há muito tempo, outrem respondesse: Nossa! Ui!, isto é, há muitíssimo tempo!) (VLB, II, 139). Diz o que vê a coisa longe ou fora de propósito. (Fig., Arte, 147)
mongûab (ou mongûá) (v.tr.) - fazer passar: Îamongûá moxy ru'uba... - Fazemos passar as flechas dos malditos. (Anch., Teatro, 26); ...Opá o boîá nde pópe i mongûapa. - Todos os seus discípulos para tuas mãos fazendo-os passar. (Anch., Poemas, 124); T'i rambûer iã xe remimborarama..., t'amongûabyne. - Que se frustre esse meu futuro sofrimento, que eu o faça passar. (Ar., Cat., 53) ● mongûapaba - tempo, lugar, finalidade, etc. de fazer passar: hóstia mongûapagûama resé asé îuru resé... - para fazer passar a hóstia em nossa boca (Anch., Doutr. Cristã, I, 217)
pytera (s.) - meio, centro de um círculo [não de coisa esférica ou com volume, que é apytera (v.)]: ...Kûarasy 'ara pyterype seneme. - Ao estar o sol no meio do mundo. (Ar., Cat., 117); ...Karaibebé pyterype supiri... - No meio dos anjos fê-la subir. (Ar., Cat., 132); ...Amõ 'yba gûemityma pyterype o'amba'e kuabe'enga. - Mostrando-lhe uma certa árvore que estava no meio do seu jardim. (Ar., Cat., 40); ...nhũ-myterype i mbo'îabo. - ...em meio de campo repartindo-os. (Anch., Teatro, 140) ● pyteri - no meio de, no centro de (Anch., Arte, 41); pyterybo - pelo meio de (sentido difuso) (Anch., Arte, 42v)
ahẽ1 (dem. pron. e adj.) 1) aquele, ele (s, a, as): Ahẽ xe re'õ-motareme, aîpotá-katu... - Se ele quiser minha morte, folgo com ela. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Oré ma'e îara ahẽ pé. - Nós somos portadores de riquezas para ele. (Léry, Histoire, 362); ...Oré mo'esara ahẽ t'oîkó... - Que eles sejam nossos mestres (D'Abbeville, Histoire, 342); Tó! Mamõpe ahẽ rekóû?... - Eh! Onde ele está? (Anch., Teatro, 10); N'i mba'e-katuî xûé-temo ahẽ mã!... - Oxalá ele não tivesse coisas boas! (Ar., Cat., 73); Xe momotar ahẽ aoba. - Atrai-me a roupa daquele. (VLB, I, 75); 2) fulano: Marã îasûaramo ahẽ kûepe se'õ mã...? - Ah, como será a morte do fulano por aí? (Ar., Cat., 101v); Anhomim temõ ahẽ mba'e amõ mã!... - Ah, quem me dera esconder alguma coisa do fulano! (Anch., Doutr. Cristã, II, 101); Ahẽ repîaka suí ké aîur. - Veio aqui para não ver fulano. (D'Evreux, Viagem, 144) ● amõ ahẽ - alguém (h.) (VLB, I, 154)
îuba (s.) - o amarelo, a cor amarela; a cor loura; a cor ruiva: tupi'a-îuba - o amarelo do ovo, isto é, a gema (VLB, I, 147); (adj.: îub) - amarelo; louro; ruivo: Xe robá-îub. - Eu estou de rosto amarelo, eu estou pálido. (VLB, I, 34); I îub. - Ele é amarelo. Xe îub. - Eu sou amarelo. (Anch., Arte, 50); Eu sou louro. (VLB, II, 24); -Mba'epe ereru nde karamemûã pupé? -Aoba. -Marãba'e? -Soby-eté, (i) pyrang, i îub. -Que trouxeste dentro de tua caixa? -Roupas. -De que tipo? -Elas são azuis, vermelhas, elas são amarelas. (Léry, Histoire, 342-343)
îanypaba (s.) - 1) JENIPAPO, JENIPAPEIRO, árvore da família das rubiáceas (Genipa americana L.), de grande altura e muito grossa, que aparece em todo o Brasil; 2) JENIPAPO, o fruto dessa árvore, cujo suco era usado por certos indígenas para escurecer a pele, e do qual se faz um licor muito popular no Norte e Nordeste do Brasil (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 92; Piso, De Med. Bras., IV, 183-184; Staden, Viagem, 175). "Desta fruta se faz tinta preta; quando se tira é branca e, em untando-se com ela, não tinge logo, mas daí a algumas horas fica uma pessoa tão preta como azeviche." (Cardim, Trat. Terra e Gente do Brasil, 43)
mara'ara (ou mbara'ara) (s.) - 1) doença (entre os tupinambás era doença grave, mortal) (VLB, I, 105): Abá 'anga mara'ara i pupé opûeîrá-katu... - As doenças da alma do homem com ela saram bem. (Anch., Teatro, 38); ...T'osó-pá xe mara'ara kûepe xe 'anga suí. - Que vá toda a minha doença para longe de minha alma. (Anch., Poemas, 168); Esepîak xe mara'ara t'eresaûsubar xe 'anga. - Vê minha doença para que te compadeças de minha alma. (Valente, Cantigas, VII, in Ar., Cat., 1618); 2) agonia: Mba'easybora o mara'ara kakareme, t'osenõîukar abaré... - Ao se aproximar o doente da agonia, que mandem chamar o padre. (Ar., Cat., 137v); (adj.: mara'ar ou mara'a) 1) doente (na variante dialetal tupinambá era doente grave, perto do fim), agonizante; (xe) adoecer, ficar doente, agonizar: ...I mara'areté e'ymebé t'osó abá xe renõîa. - Antes que ele agonize verdadeiramente, que vá alguém me chamar. (Ar., Cat., 142v); -I mara'a-tepe îandé 'anga? -I mara'a. -Mas adoece nossa alma? -Adoece. (Anch., Doutr. Cristã, 199); I xy n'i membyrasyî, nda sugûyî, n'i mara'ari. - Sua mãe não teve dor de parto, não sangrou, não ficou doente. (Anch., Poemas, 162); Xe rybyt, nde nhyrõ xebo; xe rasy, xe mara'a. - Meu irmão, perdoa tu a mim; eu tenho dor, eu estou doente. (Anch., Teatro, 46); 2) envergonhado (VLB, I, 83): Sasyeté niã... ogûekomara'ara reroína. - Eis que sofrem muito, tendo sua vida envergonhada. (Ar., Cat., 163) ● i mara'aryba'e - o que está doente (Anch., Arte, 32); mara'asara - o doente, o que está doente (Anch., Arte, 32); mara'abora (ou marabora) - o que está doente, o doente (VLB, I, 105): ...Eremombûeîrá mara'abora... - Curaste os doentes. (Anch., Teatro, 120)
sok1 (-îo-) (v.tr.) - 1) ferir (com coisa que não entra pela carne ou entra quase nada); dar pancadas de ponta (sem furar) (VLB, II, 63); picar, aguilhoar (p.ex., bois), calcar (sem furar): Aîosok. - Feri-o. (VLB, I, 137); Xe sok îõte. - Deu-me pancada de ponta, somente (isto é, sem me furar). (VLB, I, 129); Pedro nde sok. - Pedro te pica. (Fig., Arte, 151); Pedro osok îagûara. - Pedro aguilhoa a onça. (Fig., Arte, 153); 2) moer, pisando (VLB, II, 40); 3) socar, pilar; (fig.) fustigar: 'Ara yby sokeme, xe ruri. - Quando fustigava o sol a terra, eu vim. (VLB, I, 112); Aporosok. - Soco gente. (Fig., Arte, 89); abati soka - pilar milho (Fig., Arte, 73) ● i xokypyra - o que é (ou deve ser) pilado, socado (Fig., Arte, 108); o que é moído, coisa moída (VLB, II, 40)
umbu (s.) - UMBU, IMBU, 1) nome de duas árvores da família das anacardiáceas (Spondias purpurea L. e Spondias tuberosa Arruda), também chamadas UMBUZEIRO, IMBUZEIRO, AMBUZEIRO; 2) o fruto dessas árvores, o qual tem casca e polpa muito amarelas, quando maduro. É muito empregado no Norte do Brasil para o preparo de uma bebida, a UMBUZADA ou IMBUZADA. "Dá-se esta fruta ordinariamente pelo sertão, no mato que se chama a caatinga." (Sousa, Trat. Descr., cap. LIII).
ekoaba2 (t) (s.) - costume, uso: Kokoty paranã aé rame'ĩ o abaetéramo erimba'e gûekoagûera sosé... - E, por outra parte, semelhantemente, o próprio mar será mais terrível do que foi seu costume. (Ar., Cat., 159v); [adj.: ekoab (r, s)] - costumeiro, usual: Sekoab apŷabangaturama i porerekó-katu. - É usual os bons homens tratarem bem as pessoas. (Léry, Histoire, 353) ● sekoaba'e - o que é comum, o que é usual: Sekoaba'e kûé kunhã oré akanga i apiti... - O que é comum é aquela mulher quebrar em pedaços nossas cabeças. (Anch., Teatro, 184, 2006)
kyre'ymbaba (s.) - 1) QUIRIMBABA, CURIMBABA, homem valente e bravo, homem poderoso e ditoso nas guerras e capaz de grandes coisas; valentão, magnânimo, venturoso, guerreiro; afouto: ...Tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - Destruiu outrora os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52); ...Kyre'ymbaba mondóbo xe retama pupé. - Enviando homens valentes para dentro de minha terra. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Kó a'e xe kyre'ymbaba oîkuá morapiti... - Eis que esses meus valentões sabem assassinar. (Anch., Teatro, 142); 2) valentia, destemor, bravura, audácia: Sekoaba é kyre'ymbaba. - É-lhe natural a valentia. (Anch., Teatro, 164)
NOTA - Daí, no P.B., SAPIRANGA (tesá + pyrang + -a, "olhos vermelhos"), blefarite, inflamação de pálpebras. Em José de Alencar lemos: "...as pestanas, as comera a SAPIRANGA que lhe arroxeava as pálpebras." (in Alfarrábios, apud Novo Dicion. Aurélio); SAPIROCA [(te)sá + pir + ok +-a, "arranca pele dos olhos"], inflamação das pálpebras com queda das pestanas, blefarite ciliar; SAPIROQUENTO, o que tem sapiroca. Daí, também, o nome próprio TIBIRIÇÁ (tebir + esá, "olho das nádegas"), nome de importante chefe indígena de Piratininga, no século XVI.
îemopaîé (ou nhemopaîé) (v. intr.) - tornar-se pajé, fazer-se pajé, fazer pajelança: ...I angaîpabetépe abá onhemopaîé-paîébo...? - Erra muito o homem que se fica fazendo pajé? (Ar., Cat., 66); A'e, rakó, i angaîpá, oîemopaîé-paîébo... - Elas, na verdade, são más, ficando a fazer pajelança. (Anch., Teatro, 14) ● nhemopaîeaba - tempo, lugar, modo, etc. de fazer-se pajé, de fazer pajelança; pajelança: ...i nhemopaîeagûera, i paîé rerobîaragûera... - suas pajelanças, sua antiga crença nos pajés (Ar., Cat., 161v)
Emboabas (MG). Nome que receberam no período colonial, nas Minas Gerais, os portugueses e forasteiros doutras origens. Era nome antes dado, na língua geral meridional, às aves calçudas, isto é, aquelas cujas pernas são cobertas de penas: de mbó (forma absol. de pó - mão, pata + ab/a (r, s) - peludo + -a: patas peludas. Veja-se a explicação para isso nos seguintes textos coloniais: "E voltando dom Fernando as costas com toda a sua comitiva, os reinóis, chamados pelos paulistas emboabas por desprezo, que na sua língua quer dizer galinhas calçudas, o que imitavam pelos calções que usavam de rolos, seguiram-nos em distância que não fossem vistos. (Caetano da Costa Matoso [1749], p. 206); "...eoropeos chamados emboabas, nome dirivado das gallinhas calsudas por naó largarem as meyas e sapatos em todo o serviso... (Barboza de Sá [1775], Relação das Povoaçoens do Cuyabá em Mato Groso de seos Principios thé os Prezentes Tempos, p. 5).
3 (part. de 1ª p., de h. Expressa decisão, intenção, resolução ou determinação. Muitas vezes não se traduz. Pode vir acompanhada de ênclises, como -pe ou -ne, ocupando, geralmente, o final do período.) - pretendo, hei de, intento: T'anhemombe'une kori bé, te'õ xe resapy'a e'ymebé ká... - Hei de me confessar ainda hoje, antes de me surpreender a morte. (Ar., Cat., 76v); Asó ká. - Intento ir. (Fig., Arte, 139); Xe remo'em ká é aîpó ûi'îabo... - Eu hei de mentir, dizendo isso. (Anch., Diál. da Fé, 215); Asóne-ká. - Hei de ir. (Anch., Arte, 23) (Excepcionalmente pode ser usada com outras pessoas que não a primeira.): ...T'omanõ ká!... - Ele há de morrer! (Anch., Doutr. Cristã, II, 88); Te'inhẽne oîkóbo ká. - Que o deixem estar. (VLB, I, 92)
upi (r, s) (posp.) - 1) segundo, de acordo com, conforme: Tupã remimotara rupi... - Segundo a vontade de Deus... (Ar., Cat., 23v); Supi nhẽ aîkó. - Estou de acordo com ele. (VLB, II, 114); 'ara rupi - conforme o dia (Anch., Arte, 43v); aîpó rupi - de acordo com isso; dessa forma (VLB, II, 16); Xe ruba rupi é emonã aîkó. - Assim ajo conforme meu pai. (VLB, II, 115); 2) à semelhança de, como: ...Gûupi-katupe i monhangi? - Bem à sua semelhança o fez? (Ar., Cat., 39); Og uba rupi ahẽ resatingamo. - Ele tem olhos claros como seu pai. (VLB, II, 131); Xe ruba rupi é xe angaîpabamo. - Eu sou pecador como meu pai. (VLB, II, 111); Supi bé eremombûeîrá mara'abora... - Como ele, também, curaste os doentes. (Anch., Teatro, 122, 2006); 3) por, per, através de: ...T'oîkó umẽ oka rupi oré 'anga monguébo. - Que ele não esteja pelas ocas a agitar nossas almas. (Anch., Teatro, 120); pé rupi - pelo caminho (VLB, II, 81); Yby rupi bépe sugûy syryki? - Pelo chão também escorreu seu sangue? (Ar., Cat., 60); 'ara rupi - pelos dias, a cada dia (Anch., Arte, 43v); ...ikó 'ara rupi oîkoba'e... - os que estão por este mundo (Bettendorff, Compêndio, 53); Nhũ rupi agûatá. - Ando pelo campo. (Fig., Arte, 123); Kamusi ku'a rupi nhote kaûĩ reni. - O cauim está pela metade da vasilha, somente. (VLB, II, 34); ...Mosapy reîá reru îasytatá rupi é. - Vindo com os três reis pela estrela. (Anch., Poesias, 272); 4) com (v. nota): T'orosóne nde rupi. - Havemos de ir contigo. (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); 5) ao longo de, durante: ...'ara rupi... - ao longo dos dias (Ar., Cat., 7); Abaré nd'ogûerobîari, putuna rupi okagûabo. - Não crêem no padre, bebendo cauim ao longo da noite. (Anch., Teatro, 136-150); 6) em (temp.): Domingo anhõ i pytera rupi okûaba'e... - Somente o domingo que está no meio dela (isto é, da Quaresma). (Ar., Cat., 122); Eîori oré retama 'ara rupi nhẽ, i xupa. - Vem no dia de nossa terra, para visitá-la. (Anch., Poemas, 146) ● 'ara rupindûara - o que é de cada dia, o que está ao longo dos dias (VLB, I, 91)
NOTA - Daí, no P.B., CANGUÇU (akangusu, "cabeça grande"), outro termo que designa caipira; ACANGAPEVA (akanga + peb + -a, "cabeça achatada"), nome comum a várias espécies de peixes tricomicterídeos; GANGA, CANGA, formas reduzidas de TAPUNHUNACANGA ("cabeça de negro") ou TAPIOCANGA, TAPANHOACANGA, ITAPANHOACANGA, concentração de hidróxidos de ferro na superfície da terra sob a forma de uma carapaça dura, aproveitada, muitas vezes, para se fazerem tijolos; laterita.
akaîu (s.) - 1) CAJUEIRO, nome dado principalmente a uma árvore da família das anacardiáceas, gênero Anacardium (Anacardium occidentale L.), de flores pequenas, avermelhadas e perfumadas, que exalam um odor muito forte; 2) CAJU, ACAJU, o fruto dessa árvore e das demais espécies de cajueiros (D'Abbeville, Histoire, 217): Mbobype îasy kanhemi koîpó akaîu 'aîubamo...? - Quantas vezes a lua desapareceu ou o caju madurou? (Ar., Cat., 104v); 3) pedicelo tuberizado, comestível, do fruto do cajueiro (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 94) ● akaîu 'y - licor de caju (VLB, II, 146); akaîu-kaûĩ - vinho feito pelos índios com o suco do caju (D'Abbeville, Histoire, 218); akaîu-'akaîá - castanha de caju (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 269)
nhemonhang - 1) (v. intr.) a) fazer-se, realizar-se: T'onhemonhang nde remimotara. - Faça-se tua vontade. (Ar., Cat., 13v); b) nascer, gerar-se: Pitanga nhemonhanga suí oîeposanõ-sanonga. - Ficando a tomar poções para não se gerar uma criança. (Ar., Cat., 97); Anhemonhang. - Nasci. (VLB, II, 46); Na tubi; onhemonhang é o sy i atõîmbyre'yma rygépe. - Não teve pai; gerou-se, na verdade, no ventre de sua mãe intocada. (Ar., Cat., 23); c) criar-se, crescer: Xe Îetu'u ra'yrûera. Anhemonhang i pupé. - Eu sou antigo filho de Jetuú. Criei-me dentro dela. (Anch., Poemas, 152); d) desenvolver-se (p.ex., planta, plantação); 2) (v. intr. compl. posp.) - tornar-se, converter-se, transformar-se (em algo: compl. com -ramo): Ybyramo i nhemonhangyne. - Em terra ele se transformará. (Anch., Doutr. Cristã, I, 161); Anhemonhang a'eramo. - Converti-me naquilo. Anhemonhang gûyráramo. - Converti-me num pássaro. (VLB, II, 133); Emonãnamope anhanga remiaûsubamo pabẽ asé nhemonhangi? - Portanto, como escravos do diabo tornamo-nos totalmente? (Anch., Doutr. Cristã, I, 162) ● onhemonhangyba'e - o que se gera, o que se transforma: O membyra gûygépe onhemonhangyba'e 'arama osepîaka'ub... - Deseja ardentemente ver o nascimento de seu filho que se gera em seu ventre. (Ar., Cat., 9v); nhemonhangaba - tempo, lugar, causa, etc. de gerar, de transformar; concepção, geração; progenitor (i.e., a causa do gerar): Ko'y, nde nhemonhangaba ogûeru torybeté. - Agora tua concepção trouxe grande alegria. (Anch., Poemas, 146); Toryba nhemonhangaba... - Geração da alegria... (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1618); Nd'e'i te'e îandé rubypyrama monhanga îandé nhemonhangabamo. - Por isso mesmo fez nosso pai primeiro como nosso progenitor. (Anch., Doutr. Cristã, I, 193)
îabé1 (conj.) - como; da mesma maneira que, semelhante a: Soryb, xe îabé, xe ruba Tupinakyîa. - Está alegre, como eu, meu pai tupiniquim. (Anch., Poemas, 110); ...Abápe 'ara pora oîkó nde îabé? - Que habitante do mundo há como tu? (Anch., Poemas, 116); Nde îabé ixé i kugûabi. - Sei-o tão bem como tu. (VLB, II, 124); ...apŷab-eté îandé îabé - homem verdadeiro como nós (Ar., Cat., 22v); Xe, Tatapytera, xe tatagûasu îabé, asapy nhemoŷrõmbûera. - Eu, Tatapitera, assim como meu grande fogo, inflamo os antigos ódios. (Anch., Teatro, 128) ● îabendûara - o que é igual a algo ou a alguém, a igualha de, o igual de (VLB, II, 123) (V. tb. îakatu e îá) (VLB, II, 9)
NOTA - Daí, no P.B. (Amaz.), pelo nheengatu, MOJICA (mo- + îyk + -a, "endurecimento"), 1) processo de engrossar o caldo, ou o mingau, submetendo-os a lenta cocção e, de ordinário, adicionando-lhes féculas; 2) o caldo, ou o mingau, engrossado por esse processo; 3) peixe cozido ou moqueado, em pedacinhos, sem as espinhas, que se usa, de mistura com a tapioca ou a farinha-d'água, para engrossar o caldo (in Novo Dicion. Aurélio); PIRAJICA ("peixe resistente"), peixe cifosídeo do Atlântico.
NOTA - Daí, no P.B., QUIRERA e CRUEIRA (kurubûera, "o que foi grão"), o milho ou o arroz quebrados; BEIJUCURUBA ("beiju de bolota"), var. de biju; CRUBIXÁ (kurubĩ + saba, "lugar de seixinhos"), coral negro que se acha em muitos lugares da costa brasileira; ITACURU (itá + kuruba, "grãos de pedra"); ITACURUMBI (itá + kurubĩ, "grãozinhos de pedra"), lugar onde há muitos pedregulhos e seixos pequenos; ITACURUBA (caroços de pedra) (ou TACURUBA, ITACURUA, TACURUA, TACURU), trempe constituída por três pedras soltas em que se põe a panela.
erobyk (v.tr.) - juntar-se a, aproximar-se de; chegar-se a, achegar-se a, tocar em: Aroby-katupe ká i porangepîá-katûabo. - Hei de me aproximar muito dela para ver bem sua beleza. (Anch., Poemas, 110); Te'õ rerobyka, syaî-tekatu. - Aproximando-se da morte, suou bastante. (Anch., Poemas, 120); Nd'erekatuî xûé angiré nde remirekó rerobyka...-ne. - Não poderás doravante juntar-te a tua esposa. (Anch., Doutr. Cristã, II, 94); Te'õ rerobyka é, xe angaîpá-tubixagûera amosẽne... - Aproximando-me da morte, meus antigos e grandes pecados farei sair. (Anch., Teatro, 38); Arobyk tatá. - Chego-me ao fogo. (Anch., Arte, 49); Oroîoerobyk. - Achegamo-nos um ao outro. (VLB, I, 73)
asy (t) (s.) - 1) dor, pena: 'Y berame'ĩ ikó îandé ratá rasy: n'osyki Anhanga ratá rasy resé. - Eis que a dor de nosso fogo parece a da água: não se equipara à dor do fogo do diabo. (Ar., Cat., 163v); Oîporará Tupã repîake'yma rasy. - Sofrem a dor de não verem a Deus. (Ar., Cat., 48); 2) mal, ruindade; problema: Na sasyî. - Não faz mal, não há problema. (Anch., Teatro, 148, 2006); [adj.: asy (r, s)] - 1) dolorido, doloroso, penoso, trabalhoso, árduo; (xe) doer, ser penoso, ser causa de pesar; pesar; ter dor, sentir dor; sofrer: T'oré pyatã, angá, mba'e-asy porarábo... - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas. (Anch., Teatro, 120); Sasy nakó ygá-pukuîa. - É penoso, de fato, remar canoa. (VLB, II, 134); Sasy nde só ixébe. - Dói-me tua ida. (Também se emprega com o gerúndio.): Sasy-eté ahẽ osóbo. - É doloroso ir-se fulano. Sasy-eté ahẽ oure'yma ixé o enõîndápe. - É muito doloroso não vir fulano ao meu chamado. (VLB, II, 75); Xe rybyt, nde nhyrõ xebo; xe rasy, xe mara'a. - Meu irmão, perdoa tu a mim; eu tenho dor, eu estou doente. (Anch., Teatro, 46); Ta sasy muru supé! - Que eles sofram junto dos malditos! (Anch., Teatro, 56); Mba'epe sasyeté a'epe tekoara supé?... - Que é mais penoso aos que estão ali? (Ar., Cat., 47v); Sasy ixébe. - Dói a mim; pesa-me (alguma coisa). (VLB, I, 105); Anhanga ratá îabépe satá rasyramo? - Como o fogo do diabo o fogo dele é penoso? (Ar., Cat., 48v); Sasy Peró supé. - Pesa a Pedro (alguma coisa); dói a Pedro (alguma coisa). (VLB, I, 105); Sasy-eté abá supé ogûe'õnama anduba. - Dói muito ao homem perceber sua morte. (Ar., Cat., 156); 2) mau, ruim: nhe'engasy - palavra ruim (VLB, I, 40); tobasy - cara ruim, mau humor (VLB, I, 140); (adv.) - demais, de doer, dolorosamente: Saîasy. - Ele está azedo demais (lit., azedo de doer). (VLB, I, 143); Osem okarype oîase'o-asykatûabo. - Saiu para o pátio chorando muito dolorosamente. (Ar., Cat., 57v) ● mba'e rasy - dor (em sentido genérico) (VLB, I, 106)
poraseîa (m) (s.) - dança ritual, PORACÉ, dança exclusivamente masculina: Moraseîa é i katu... - A dança é que é boa. (Anch., Teatro, 6); Moraseîa rerobîara i py'a îaîporaká... - A crença na dança enche os corações deles. (Anch., Teatro, 30); T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma, moraseîa, mbyryryma... - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés, em danças e rodopios. (Anch., Teatro, 118); Ererobîápe... maraká poraseîa? - Acreditas na dança do maracá? (Ar., Cat., 98v) ● poraseî-tapuîa - dança tapuia, tipo de dança realizada pelos tupinambás do Maranhão no séc. XVII, caracterizada por muitos deslocamentos, movimentos da cabeça e das mãos, por batidas dos pés na terra ao som da voz e do maracá. (D'Evreux, Viagem, 173)
MATTOS, Libanio Augusto da Cunha [1786], Diario da diligencia do reconhecimento do Paraguay desde o logar do marco da boca do Jaurú até abaixo do presidio de Nova Coimbra, que comprehende a configuração das lagoas Gaíba, Uberaba, Madioré, e das serras do Paraguay, e igualmente o reconhecimento do rio Cuyabá até a villa d' este nome, e d' ella por S. Pedro d' el-Rei até a Villa-Bella; pelo capitão engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra, no anno de 1786. Revista do Instituto Histórico e Geográphico Brasileiro, volume 20, 1857.
pyk1 (v. intr.) - 1) calar-se: Opyk o'ama, i nhe'engobaîxûare'yma. - Estava-se calando, não respondendo as palavras deles. (Ar., Cat., 56); 2) acalmar-se (o vento, etc.); amainar (p.ex., a fúria) (VLB, I, 19); aquietar-se: Mba'epe ké tuî opyka? - Que aqui está deitado, aquietando-se? (Anch., Teatro, 42); 3) cessar, cessar de, parar de, deixar de ser: N'opyki i nhe'engatã... - Não cessam suas palavras duras. (Anch., Teatro, 148); Opyk amana. - Cessou a chuva. (VLB, I, 122); Nde angaturama n'opyki. - Tua bondade não cessa. (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618); ...Marã 'é n'opyki xóne... - Não cessarão de dizer maldades. (Anch., Teatro, 36); Îandé-te îapyk umẽ senõîa... - Mas que nós não paremos de chamá-la. (Anch., Poemas, 186); N'opyki nhemombegûara îandé pó suí sembiara. - Não deixam de ser presas de nossas mãos os que se confessam. (Anch., Teatro, 158, 2006); 4) ficar pensativo, ficar absorto: Apyk gûitekóbo. - Eu estou ficando pensativo. (VLB, II, 72); (v.tr.) calar: Aîîuru-pyk. - Calei a boca dele. (VLB, II, 124); Aîopyk xe nhe'enga. - Calei minhas palavras. (VLB, I, 19) ● pykaba - tempo, lugar, modo, etc. de calar, de cessar, etc.; cessação: ...Aîpó sábado pysyrõû i pupé ybŷá morabyky suí o pykápe... - Eis que o sábado reservou para a cessação do trabalho nele. (Ar., Cat., 11v)
endub (s) (v.tr.) - ouvir, escutar: Esendu. - Ouve. (Léry, Histoire, 364); N'asendubi nde nhe'enga. - Não ouço tuas palavras. (Anch., Teatro, 44); A'epe missa rendupa, ...eresó. - Ias ali para ouvir a missa. (Anch., Poemas, 154); Serenduba rupibé amongoty xe nhemimi... - Tão logo ao ouvir o nome dela, em outra parte eu me escondo. (Anch., Teatro, 126); T'osendu aîpó nde 'é. - Que ouçam aquilo que tu dizes. (Anch., Teatro, 186, 2006) ● endupara (t) - o que ouve (Fig., Arte, 119): Ogûenduparûera supé o nhe'enga rekobîarõmo. - Sustituindo suas palavras para os que o ouviram. (Ar., Cat., 110); endupaba (t) - tempo, lugar, modo, causa de ouvir, o ato de ouvir, a outiva: Tupã nhe'enga rendubagûama resé... - Para escutar a palavra de Deus... (Ar., Cat., 81v); emienduba (t) - o que alguém ouve: "Aîuká temomã" erépe... abá remiendubamo...? - Disseste "-Oxalá eu o mate", fazendo alguém ouvir? (Ar., Cat., 101v); sendubypyra - o que é (ou deve ser) ouvido: "Xe poreaûsubeté'ĩ mã!"... sendubypyramo a'epe. - "Ah, coitadinho de mim" é o que é ouvido aí. (Ar., Cat., 163v)
îetanong (ou nhetanong) (v. intr. compl. posp.) - fazer oferenda (p.ex., ao pajé, para obter algum favor: vitória na guerra, saúde, etc.), ofertar, dar presente [a alguém: compl. com esé (r, s)]: Anhetanong paîé resé. - Fiz oferenda para o pajé. (VLB, II, 55); I xy... supé t'îa'é, îaîetanonga: "T'oú îandé posanonga. - Para sua mãe digamos, fazendo oferenda: "-Que venha para nos curar". (Anch., Poemas, 166) ● îetanongaba - tempo, lugar, modo, etc. de presentear, de ofertar; oferenda, presente, oferta (para a Igreja ou para feiticeiros) (VLB, II, 55). "Honra, reverência e presentes que se devem oferecer aos profetas e santos caraíbas a fim de obter deles aquilo que lhes é necessário para manterem sua vida." (Thevet, Cosm. Univ., 914): ...I xupé ogûeru îetanongabamo itaîuba, ysykatã syapûãba'e, mirra... - Para ele trouxeram, como oferendas, ouro, incenso e mirra. (Ar., Cat., 3); ...I îetanongápe, sory nde py'a. - Ao presentearem-no, alegrou-se teu coração. (Anch., Poemas, 118)
nhemosaînan (ou îemosaînan) (v. intr. compl. posp.) - 1) cuidar, preocupar-se [em algo, com algo ou com alguém: compl. com esé (r, s)]: -Onhemosaînan pabẽpe cristãos aîpoba'e kuabaûama resé? - Preocupam-se todos os cristãos em saber isso? (Ar., Cat., 21, 1686); Onhemosaînãpe amẽ asé rerokara asé resé? - Preocupam-se conosco, de costume, os nossos padrinhos? (Ar., Cat., 82); 2) prover-se [de algo: compl. com esé (r, s)]: Anhemosaînan xe mba'erama resé. - Provejo-me das minhas coisas. (VLB, II, 88); 3) ocupar-se, estar ocupado; negociar; ser ativo, ser trabalhador: Anhemosãînan gûitekóbo. - Vivo negociando; N'anhemosãînani. - Não sou trabalhador (isto é, sou negligente); -Eîaso'îabok nde karamemûã t'asepîak nde ma'e. -Anhemosaînan. -Destampa tua caixa para que eu veja tuas coisas. -Estou ocupado. (Léry, Histoire, 346) ● nhemosaînandaba - tempo, lugar, modo, etc. de se ocupar, de se preocupar; cuidado, ocupação; negócio (VLB, II, 49): O nhemosaînandagûera resé o irũagûera resé bé o ma'enduaramo. - Lembrando-se das suas antigas ocupações e de seus antigos companheiros também. (Bettendorff, Compêndio, 92)
ekyî3 (s) (v.tr.) - 1) puxar (p.ex., por corda), arrastar, sacar, arrancar (o que está fincado nalgum lugar) (VLB, I, 41), levantar (p.ex., âncora): S. Pedro itangapema osekyî... - São Pedro puxou a espada. (Ar., Cat., 54v); Asekyî itasama (ou Aitasamekyî). - Levantei a âncora. (VLB, II, 21); ...ogûatápe oré rekyîa - para seu fogo arrastando-nos (Anch., Poemas, 146); Taûîé, xe rekyî-atã. - Depressa, arrastam-me fortemente. (Anch., Teatro, 180, 2006); 2) arrebatar: Eîori oré rekyîa... - Vem para nos arrebatar. (Anch., Teatro, 122) ● îuraragûaîa ekyî (s): urdir mentiras: Eresekyîpe îuraragûaîa abá supé? - Urdiste mentiras contra alguém? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); ekyîtaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de puxar, de levantar, de arrastar: ygara rekyîtaba - lugar de arrastar canoas (D'Abbeville, Histoire, 187)
piringa (m) (s.) 1) arrepiamento: Teté piringa - arrepiamento do corpo; 2) tremor; 3) excitação (VLB, I, 129); (adj.: piring) - arrepiado, trêmulo, excitado; (xe) tremer, arrepiar-se; (por ext.) amedrontar-se, espantar-se; sobressaltar-se: Xe reté-piring. - Meu corpo treme (de medo). (VLB, I, 43); Xe piring. - Eu estou arrepiado; Xe ro'o-piring. - Tenho a carne arrepiada. (VLB, I, 43); Nde piring: nde angekotebẽ umẽ... - Tu tremes: não te aflijas. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); ...Te'õ suí o nhepysyrõ ra'angyîepébo, opiringamo ko'yté. - Da morte tentando inutilmente livrar-se, amedrontando-se, enfim. (Ar., Cat., 158)
urukuri (s.) - URUCURI, OURICURI, ARICURI, ALICURI, ARICUÍ, IRICURI, URICURI, LICURI, URUCURIIBA, LICURIZEIRO, NICURI, nome comum a duas palmáceas: 1) Syagrus coronata (Mart.) Becc., palmeira mediana da costa leste do Brasil. Dá a farinha-de-pau, bom alimento aos que andavam pelo sertão. "Não são muito altas e dão uns cachos de cocos muito miúdos.... Têm o tronco fofo, cheio de um miolo alvo e solto como o cuscuz e mole." (Sousa, Trat. Descr., 198-199); 2) palmeira de grande porte, Attalea phalerata Mart. ex Spreng., que atinge mais de 30 metros de altura e encontrada nos estados do Amazonas, Pará e Maranhão. (Piso, De Med. Bras., IV, 181) ● urukuri 'ybá - fruto do urucuri (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 274); urukuri u'i - farinha de urucuri (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 104)
mombuk (v.tr.) - 1) furar, fazer buraco em (VLB, I, 60): Oîké îugûasu i akanga kutuka, opá i mombuka. - Entram grandes espinhos, espetando sua cabeça, furando-a toda. (Anch., Poemas, 122); ...Omombuk-y bé xe akanga. - Furou também minha cabeça. (Anch., Teatro, 126); 2) arrombar (como arca, cabaço, navio) (VLB, I, 44); 3) desvirginar: Ereîmombukype kunhataĩ amõ...? - Desvirginaste alguma menina? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89); 4) quebrar, arrebentar (VLB, I, 42): Abá mba'e mombuka... - Arrebentando as coisas de alguém. (Anch., Diál. da Fé, 213); Kó bé ingapé-kûatiara, t'aîakã-mombuk muru. - Eis aqui também a ingapema pintada, para que arrebente a cabeça dos malditos. (Anch., Teatro, 66) ● i mombukypyra - o que é (ou deve ser) furado, desvirginado, etc.; a mulher que não é mais virgem, a desvirginada (VLB, I, 83)
momorang1 (v.tr.) - 1) embelezar: Xe ikó asaûsu pe 'anga... i moaysóbo, i momoranga... - Eis que eu amo vossas almas, aformoseando-as, embelezando-as. (Anch., Teatro, 186); Abá sosé pabẽ i momorangi... Mais que a todas as pessoas embelezou-a. (Anch., Poemas, 86); 2) festejar: Peîó pabẽnhẽ, Îesu momoranga... - Vinde todos para festejar a Jesus. (Anch., Poemas, 108); T'îanhe'engá-mirĩ ranhẽ 'ara momorãngatûabo... - Cantemos um pouquinho, primeiro, para festejarmos bem o dia. (Anch., Teatro, 56); 3) enaltecer: ...pe rekopoxypûera momoranga - ...enaltecendo vossos antigos pecados (Ar., Cat., 233) ● momorangaba - tempo, causa, lugar, etc. de festejar, de embelezar, etc.: Kó oroîkó oronhemborypa nde 'ara momorangápe. - Aqui estamos alegrando-nos para festejarmos teu dia. (Anch., Teatro, 118); i momorangymbyra - o que é (ou deve ser) embelezado, festejado, enaltecido: Îamombe'u aîpó i momorangymbyra. - Afirmamos que isso é o que deve ser enaltecido. (Anch., Teatro, 6)
nhe'eng (v. intr. compl. posp.) - 1) falar (a alguém ou com alguém: compl. com a posp. supé): Enhe'eng nde ruba supé. - Fala a teu pai. (Fig., Arte, 6); Aûîé! Anhe'eng, Saraûaî! - Basta! Falo eu, Sarauaia! (Anch., Teatro, 30); Morubixaba tuîba'e onhe'eng memẽ i xupé... - Os chefes velhos falam sempre a eles. (Anch., Teatro, 34); Enhe'eng ko'yr! - Fala agora! (Staden, Viagem ao Brasil, 154); 2) ter questões (VLB, II, 94); 3) responder (VLB, II, 103); 4) saudar, fazer saudação: Anhe'eng (abá) supé. - Fiz saudação ao homem. (VLB, II, 113, adapt.); 5) zunir (a flecha, o projétil, etc.); 6) ladrar (o cão); miar (o gato) (VLB, II, 34); emitir som (quaisquer animais); 7) interceder, tomar a causa [de alguém: compl. com esé (r, s)]: Anhe'eng (abá) resé. - Intercedo pelo homem. (VLB, II, 126, adapt.) ● nhe'engaba - tempo, lugar, modo, etc. de falar; fala, discurso: ...o nhe'engabûera ra'angyîepébo... - ...tentando inutilmente o modo antigo de falar. (Ar., Cat., 156)
îandé 1) (pron. pess. da 1ª p. do pl. Inclui a pessoa com quem se fala.) - a) (pron. sujeito) - nós (Anch., Arte, 11): ...îandé ma'enduaramo... - lembrando nós (Ar., Cat., 5v); b) (pron. objeto) - nos, nós: Îandé repîaka our! - Veio para nos ver! (Léry, Histoire, 341); Îandé moingobé... - Fez-nos viver. (Anch., Poemas, 108); ...Îandé ri oîese'a. - Uniu-se a nós. (Anch., Poemas, 160); Îandé moetébo apŷaba nhemosaraî. - Para nos honrar os índios fazem festa. (Anch., Teatro, 24); 2) (possessivo da 1ª p. do pl. incl.) - nosso (os, a, as): îandé karaibebé - nosso anjo da guarda (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618); îandé rubeté - nosso pai verdadeiro (Anch., Poemas, 90)
Cuiabá (capital de MT). De kuîaba - var. de cuia. Segundo Barboza de Sá [1775], "Destes o primeiro que subiu o rio Cuyabá asim chamado dizem huns que por acharem em suas margens cabaços plantados de que faziam cuias para seus usos, outros que o nome de Cuyabá procedeu de huma cuia que os primeiros que subiram este rio acharam sobre as águas que ia rodando, por donde inferiram que havia gente por ele acima e por esta inferência subiram em procura dela, outros disseram que o nome de Cuyabá é apelido do gentio que nas margens deste rio habitava e cada qual siga a opinião que quiser, que não é ponto de fé nem pragmática de Rei, que eu sempre estou que a nomeação foi derivada dos cabaceiros ou da cuia, que gentio deste nome nunca achei nem tive dele notícia, sendo dos segundos que cultivaram estes sertões e examinei tudo o que neles havia." (in Relação das Povoaçoens do Cuyabá em Mato Groso de Seos Principios thé os Prezentes Tempos, pp. 6-7).
mundé1 (s.) - MUNDÉU, armadilha que tomba com peso ou estalando: Xe t'oropysykatu, xe mundépe nde mbo'a. - Eu hei de bem apanhar-te, fazendo-te cair no meu mundéu. (Anch., Teatro, 172); ...Mundépe i porerasóû... - Para as armadilhas eles levam gente. (Anch., Teatro, 36) ● mundé-arataká - ARATACA, var. de armadilha para prender animais maiores; mundé-piká - mundéu de passarinhos; mundepeba - lájea de pedra de fazer armadilhas para apanhar aves; mundegûasu - var. de mundéu para animais maiores, como cobras; mundé-gûaîa - var. de mundéu para tatus, cutias, etc. (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 272); ûaîamũ-mundé - armadilha de guaiamum (D'Abbeville, Histoire, 182v)
mbo'e (ou mo'e) (v. tr. compl. posp.) - ensinar, instruir, reger (dança ou música) (VLB, II, 100) [O objeto é sempre uma pessoa: ensinar alguém. Ensinar alguma coisa: compl. com esé (r, s), ri, com o gerúndio ou com o permissivo.]: ...Tupã mongetá resé îandé mbo'ebo nhẽ. - Para nos ensinar a orar a Deus. (Ar., Cat., 25); Oporombo'e-a'u Tupã nhe'enga ra'anga. - Ensina falsamente as pessoas a pronunciar a palavra de Deus. (Anch., Teatro, 126); Eîmbo'ekatu xe 'anga t'oîkuab ybaka piara. - Ensina bem minha alma para que conheça o caminho do céu. (Valente, Cantigas, VI, in Ar., Cat., 1618); Pa'i, oré sepîak-y îanondé, oré mo'epotar Tupã nhe'enga ri... - Os padres, antes de nós os vermos, quiseram ensinar-nos na palavra de Deus. (D'Abbeville, Histoire, 341v); Te'yîpe memẽ nhẽ ixé aporombo'e. - Eu sempre ensinei as pessoas publicamente. (Ar., Cat., 55v) ● emimbo'e (t) - o que alguém ensina: xe remimbo'epûera - o que eu ensinei (Anch., Arte, 52v); i mbo'epyra - o que é ensinado; o discípulo (VLB, I, 103); mbo'esaba - tempo, lugar, modo, etc. de ensinar; ensinamento, doutrina: Tupã nhe'enga asé mbo'esaba - o ensinamento a nós da palavra de Deus (Anch., Dial. da Fé, 228); mbo'esara - o que ensina, o mestre: Eîkobé-katu, xe mbo'esar gûy! - Salve, ó meu mestre!... (Ar., Cat., 54); ...Pesapîá abaré, pe mbo'esara... - Obedecei ao padre, vosso mestre. (Anch., Teatro, 188)
-sab(a) (suf. nominalizador) - 1) nominalizador de complemento circunstancial. Traduz-se por tempo, lugar, companhia, modo, causa, instrumento, finalidade, etc. Tem os alomorfes -ab(a), -b(a), -á, -ndab(a), etc.: îukasaba - tempo, lugar, instrumento, causa, modo, companhia, etc. de matar (Anch., Arte, 19); ...N'i papasabi. - Não há modo de contá-los. (Ar., Cat., 38); ...i 'ekatûaba kotysaba é... - o que estava à sua direita (isto é, a companhia do lado da sua mão direita) (Anch., Diál. da Fé, 190); Xe 'angorypaba. - A causa da alegria de minha alma. (Anch., Poemas, 106); 2) Forma substantivos abstratos: angaipaba - maldade (lit. - qualidade da alma ruim) (Anch., Teatro, 34)
ekar (s) (v.tr.) - buscar, procurar: ...T'oroakypûer-eká. - Que eu te busque as pegadas. (Anch., Poemas, 98); Kó xe rekóû nde reká... - Eis que aqui estou para te procurar. (Anch., Poemas, 104); Iesu Nazareno orosekar... - Procuramos Jesus Nazareno. (Ar., Cat., 54); Mba'e-tepe peseká kó xe retama pupé? - Mas que procurais nesta minha terra? (Anch., Teatro, 28); Asekar îepé. - Busquei-o em vão. (Fig., Arte, 142); Ma'epe eresekar? - Que procuras? (D'Evreux, Viagem, 144) ● ekasara (t) - o que busca, o que procura: Se'yî nhẽ nde rekasara. - São numerosos os que te procuram. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618); ekasaba (t) - tempo, lugar, causa, objeto, etc. do buscar, do procurar: Na sekasaba kuabe'yma ruã. - Não que não soubesse o que buscava. (Ar., Cat., 54); N'aker-angáî sekasápe... - Não dormi absolutamente para procurá-los. (Anch., Teatro, 48); emiekara (t) - o que alguém busca; o que alguém procura; meta, alvo, objetivo: xe 'anga remiekara - o que minh'alma busca (Valente, Cantigas, III, in Ar., Cat., 1618); Anheté kó nde rapé a'e nde remiekara. - Verdadeiramente, eis aqui teu caminho, aquele que tu procuras. (Anch., Teatro, 164, 2006)
angá1 (adv.) 1) (na afirm. e neg.) - absolutamente, de modo nenhum, de nenhuma maneira, sequer (VLB, II, 116): Kori, nã, îandé rekó îandé moarûapa angá. - Hoje, assim, de modo nenhum impedem nossa estada. (Anch., Teatro, 148, 2006); -Ké muru ruri obébo? -Irõ, n'i ate'ym-angáî! - Não é que o maldito veio voando? - Portanto, não é, de modo nenhum, preguiçoso! (Anch., Teatro, 24); I 'anga 'u-potá é pysaré n'aker-angáî... - Querendo devorar suas almas, a noite toda não dormi, absolutamente... (Anch., Teatro, 30);... N'i tyb-angáî setãmbûera. - Não existem mais absolutamente suas antigas terras. (Anch., Teatro, 52); N'aîpotar-angáî. - Não quero de nenhuma maneira. (Fig., Arte, 146); N'asó-angáî. - Não fui de modo algum. (VLB, I, 94); 2) (em neg. interr.) - nem mesmo? nem sequer?: N'oîmomarã-mirĩ-angáîpe ybakygûara Tupã remimotara? - Não desobedecem nem sequer um pouco os habitantes do céu à vontade de Deus? (Ar., Cat., 27); 3) (na afirm.) - (oh) sim!, que bom!: T'oré pyatã, angá, mba'e-asy porarábo... - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas. (Anch., Teatro, 120)
poî (-îo-) (v.tr.) - 1) alimentar, dar de comer a, sustentar: Ambyasybora poîa. - Dar de comer aos famintos. (Ar., Cat., 18); ...I poîa-mirĩ nde kama pupé. - Alimentando-o um pouco em teu seio. (Anch., Poemas, 118); Eîori xe poîkatûabo. - Vem para me alimentar bem. (Anch., Poemas, 134); Aruretá kó reri, i pupé nde poî-potá. - Trouxe muitas destas ostras, com elas querendo alimentar-te. (Anch., Poemas, 150); 2) fazer oferendas a: ...Îatyby-poî ma'e amõ nonga... - Fazemos oferendas às sepulturas, pondo algumas coisas (nelas). (Ar., Cat., 8v); 3) convidar para comer (Anch., Arte, 52v); 4) repartir com (alguma coisa: compl. com pupé): Aîopoî ahẽ so'o pupé. - Reparti com ele a carne. (VLB, II, 66) ● emipoîa (t) - o que alguém alimenta, o que alguém convida para comer, etc.: xe remipoîangaîbara - o magro que convido para comer (Anch., Arte, 52v); xe remipoîmembeka - o fraco que convido para comer (Anch., Arte, 52v); i poîpyra - o que é (ou deve ser) alimentado, sustentado, etc. (Fig., Arte, 107); poîtara - o que alimenta, etc. (Fig., Arte, 119); poîtaba - tempo, lugar, modo, etc. de alimentar, de sustentar, etc. (Fig., Arte, 119)
2 (s.) - lavoura, roça (VLB, II, 19); campo semeado (VLB, I, 65): Aîur xe kó suí. - Venho da minha roça. (Fig., Arte, 9); Pedro o kópe sekóû. - Pedro está na sua roça. (Fig., Arte, 81); Aîkó-monhang xe ruba. - Faço a roça de meu pai. (Fig., Arte, 87); Asó xe ruba pyri kópe, nhũ rupi. - Vou para junto de meu pai à roça, pelo campo. (Fig., Arte, 7); Eremondarõpe nde rapixaba kópe? - Furtaste na roça de teu próximo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 98); Aîkó-me'eng Pedro. - Dou roça a Pedro. (Anch., Arte, 33); (adj.) - roceiro; (xe) ter roça: Xe kó. - Eu tenho roça. (Fig., Arte, 67) ● kopûera - roçado antigo, onde o mato cresceu de novo (VLB, II, 33)
moîekosub1 (v.tr.) - 1) fazer regozijar-se, agradar, fazer rejubilar-se, fazer alegrar-se muito: T'îandé rerasó o orypápe o îoesé îandé moîekosupa. - Que nos leve para seu lugar de felicidade para nos fazer regozijar consigo. (Ar., Cat., 5); Îori xe moîekosupa, nde rekokatu me'enga. - Vem para me fazer regozijar, dando tua boa lei. (Anch., Poemas, 130); 2) consolar: Ereîmoîekosupe nde ruba nde sy sekotebẽsaba ri? - Consolas teu pai e tua mãe em suas aflições? (Ar., Cat., 101); 3) ajudar (VLB, I, 29) ● moîekosupaba - tempo, lugar, modo, etc. de fazer regozijar-se; regozijo, satisfação: ...mendara moîekosupaba... - a satisfação dos cônjuges (Ar., Cat., 283, 1686); moîekosupara - o que faz regozijar-se, o que agrada, o que consola, o ajudador (em coisa difícil) (VLB, I, 29): Nd'e'i te'e... mba'e amõ resé i moîekosupara... Tupã nhe'enga abŷabo... - Por isso mesmo, o que os agrada em alguma coisa transgride a palavra de Deus. (Ar., Cat., 179)
a'ang1 (s) (v.tr.) - assinalar, marcar, representar (VLB, II, 102): Marãnamope asé o îurupe sa'angino? - Por que a gente em sua boca a assinala também (isto é, a cruz)? (Ar., Cat., 21v) ● a'angaba (t) - tempo, lugar, modo, instrumento, etc. de assinalar, de marcar; sinal, marca, imagem, símbolo, significado; molde, exemplar (VLB, II, 40): Pa'i, Sumé pypûera'angaba a'e. - Padre, aquelas são as marcas dos pés de Sumé. (Vasconcelos, Crônica, [Not.] II, §20, 123); Santa Cruz ra'angaba resé oré pysyrõ îepé... - Pelo sinal da Santa Cruz livra-nos tu... (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); Osobá-syb aó-tinga pupé; a'e resé sobá ra'angaba pytáû. - Limpou seu rosto com um pano branco; nele ficou a imagem de seu rosto. (Ar., Cat., 89); Nde rokangaturamûama oroîmoĩ, nde raûsupa, nde ra'angaba rerokupa. - Tua casa santa edificamos, amando-te, tua imagem fazendo estar conosco. (Anch., Poemas, 146); abá ra'angaba - estátua (VLB, I, 128); imagem de pessoa (VLB, I, 127); Tupã ra'angaba - imagem de Deus (VLB, II, 10)
apé3 (s.) - 1) casca (de ovo, noz, fruta mole, etc.); 2) vagem, legume: îakarandá-apé - vagem de jacarandá (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 192); 3) concha (de marisco) (VLB, I, 79); 4) crosta, superfície, lado direito (o contrário de avesso): iî apé - o lado direito dele (VLB, I, 103); i apé koty - do lado da superfície de, do lado de fora de (p.ex., de um vaso, de algo que tenha lado interior e exterior) (VLB, I, 92); 5) casco (de embarcação): Aîapé-kytyk. - Breei o casco dele. (VLB, I, 59); apé-'yba - pau do casco (da canoa) (VLB, II, 7); (adj.) - cascudo, de casca, que tem casca, crosta ou casco: sypó-tinga-apé - cipó claro de casca (nome de uma planta) (Theat. Rer. Nat. Bras., II, 197); gûamaîaku-apé - guamaiacu cascudo (nome de peixe que se abriga sob uma carapaça espinhosa sólida, de onde emergem pontas córneas, grossas e resistentes) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 142) ● apepûera - casca arrancada (do ovo, da fruta, etc.); concha vazia (sem o marisco) (VLB, I, 79): ...Inaîagûasu apepûera amõ pupé i nhang'iré... - Após vertê-la dentro de alguma casca de coco... (Ar., Cat., 1686, 353)
NOTA - Daí, no P.B. (NE), IGUPÁ ('y + upaba, "lugar em que jaz a água"), brejo ou lagoeiro produzido pelas águas pluviais; OPABA (BA), terreno arenoso, à beira-mar, que se torna alagado no inverno; PAVUNA (S.), vale profundo e escarpado (In Dicion. Caldas Aulete); ITAIPAVA (itá + upaba, "lagoa das pedras") (ou ITAUPABA, ITAUPAVA, ITAIPABA, ENTAIPAVA, ITUPAVA), rocha que atravessa um rio de margem a margem, causando turbulência na corrente. (In Dicion. Caldas Aulete). Palavra que tem origem na língua geral meridional, do século XVIII: "Este primeiro rio, a que chamam Tieté, é o mais cheio de cachoeiras e das peores. O fundo d'elle é quasi todo pedra, quando esta é assentada por igual, mas com pouco fundo, de modo que algumas partes era calháo, onde roçam as canoas; chamam a isto ITAUPABA..." (D. Antonio Rolim [1751], Relação da Viagem que fez o Conde de Azambuja, D. Antonio Rolim, da Cidade de São Paulo para a Villa de Cuyabá em 1751.)
epy (t) (s.) - 1) pagamento; recompensa, retribuição; troca, troco: Aîme'eng sepyramo. - Dou-o em recompensa. (VLB, II, 98); Ikó îu'i... t'ere'u sepy resé. - Estas rãs, que as comas em retribuição por isso. (Anch., Poemas, 158); Oîme'eng-îeby sepypûera morubixabetá... supé... - Devolveu seu pagamento aos príncipes. (Ar., Cat., 57v); T'otupã-mongetá xe resé ixé o aûsuba, ixé o moeté... repyramo... - Que rezem por mim a Deus como retribuição de eu os amar, de eu os honrar. (Ar., Cat., 12v); Itaîuba repyramo aîme'eng. - Dei-o a troco de dinheiro. (VLB, I, 90); Irũmbûera, akûeîmebé, kaûĩ repyrama ri aîme'eng abá supé. - Seus antigos companheiros, então, em troca de cauim dei aos índios. (Anch., Teatro, 46); 2) preço: Mba'epe sepyrama? - Qual é o preço delas? (Léry, Histoire, 344); 3) pena, reparação (de crime ou falta cometidos), revide: Abá-mondá morapitîagûera repyramo mundeokype i mondebypyrûera. - Um homem ladrão que foi posto na prisão como pena de assassinatos. (Ar., Cat., 59v); ...Sepyramo é anhẽ te'õ rekóû i pupé... - A morte estava dentro deles como sua pena. (Ar., Cat., 85); 4) dívida: -Mba'epe Purgatório? -Tatá asé angaîpaba repy mondykaba. -Que é o Purgatório? -O fogo em que se elimina a dívida de nossos pecados. (Ar., Cat., 48v); 5) remissão: Sepyrama xe pûaîtaba. - Sua remissão foi minha determinação. (Anch., Teatro, 170); [adj.: epy (r, s)] (xe) - ter preço, ter retribuição, ter recompensa, ter reparação: ...Ta sepy nde mondagûera. - Que tenha reparação o teu roubo. (Anch., Teatro, 46); ...T'okaî nde ratá pupé, ta sepy muru angaîpaba. - Que queimem em teu fogo, para que os pecados dos malditos tenham retribuição. (Anch., Teatro, 60); Na xe repy-etéî. - Eu não tenho muito preço; Na xe repy-marangatuî. - Eu não sou caro; Xe repy-mokonhõ'ĩ. - Eu tenho um preço baixinho. (VLB, I, 51) ● sepyba'e - o que tem preço: Nde 'anga sepy-etéba'e... - Tua alma é o que tem muito preço. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112); mba'e repyrama - resgate futuro; despesa, tudo o que se leva para comprar ou resgatar (VLB, I, 100)
era (t) (s.) - nome: Aîpó nhõ-pipó nde rera? - Esse somente é, de fato, teu nome? (Anch., Teatro, 44); Ta setá-katu xe rera! - Que sejam muitos os meus nomes! (Anch., Teatro, 64); Xe rera "Kururupeba". - Meu nome é "Sapo Achatado". (Anch., Teatro, 90); "Santa Maria" sera... - Santa Maria é o seu nome. (Anch., Poemas, 88); I porãngatu nde rera. - É muito belo o teu nome. (Anch., Poemas, 104); [adj.: er (r, s)] - nomeado; (xe) ter nome: Xe rer. - Eu tenho nome. (VLB, II, 50) ● seryba'e - o que tem nome, o chamado: Gûaîxará seryba'e... - o que tem nome Guaixará, o chamado Guaixará (Anch., Teatro, 6); sere'ymba'e - o que não tem nome, o não batizado: Ereîkópe sere'ymba'e amõ resé? - Vives com alguma não batizada? (Anch., Doutr. Cristã, II, 89)
pora4 (mb) (s.) - marca (de pancada ou golpe, que fica no lugar onde se deu); sinal (de cortadura de faca, dentada, unhada, etc.); marca de ferimento, sinal de ferimento, de golpe: kysé-pora - sinal de facada; îyapá-pora - sinal de ferimento com foice; itangapẽ-mbora - marca de espada, sinal de ferimento com espada (Anch., Arte, 31v); mina pora (ou mĩ-mbora) - marca de lança, sinal de ferimento com lança (Anch., Arte, 32); tãî-mbora - marca de dentes, sinal de dentada (VLB, I, 94); itá-pora - sinal de golpe com pedra (VLB, II, 63); ahẽ pûapẽ-mbora - a unhada de fulano, a marca das unhas de fulano (VLB, II, 118) ● porûera - marca antiga, sinal de antigo ferimento ou golpe: itá-kysé-porûera - marca antiga de facada (VLB, II, 118); itá-porûera - marca antiga de pedrada (VLB, II, 63)
aûîerama (ou aûîeramanhẽ) (adv.) - 1) (na afirm.) - para sempre; eternamente, perpetuamente (VLB, II, 74): Xe mopyatã îepé, t'apu'am muru resé, aûîérama i moaûîébo. - Faze-me tu valente, para que eu me oponha ao maldito, para sempre vencendo-o. (Anch., Poemas, 144); Endé, Tupã rorypápe aûîeramanhẽ ereîkó. - Tu, no paraíso para sempre estás. (Anch., Teatro, 122); 'Ara pab'iré i moingobeîebyri o pyri serasóbo aûîeramanhẽne. - Após acabar o mundo, fará voltar a viver (nossos cadáveres), levando-os para junto de si para sempre. (Ar., Cat., 27); Anhanga t'îaîpe'a ko'yr aûîeramanhẽ. - Que afastemos o diabo agora e para sempre. (Valente, Cantigas, VI in Ar., Cat., 1618); 2) (na neg.) - jamais, nunca mais: ...Asé 'anga nhõ nd'opabi xûéne, aûîeramanhẽ omanõba'erame'yma sekóreme. - Nossa alma somente não acabará, por ser a que não morrerá jamais. (Bettendorff, Compêndio, 58)
oryba (t) (s.) - 1) alegria [por algum bem, por algo não natural, à diferença de esãîa (t) - v.] (VLB, I, 30), felicidade: Ybakype toryba. - A felicidade no céu. (Ar., Cat., 20); ...O manõ riré toryba rerekóbo... - Tendo alegria após sua morte. (Anch., Teatro, 54); 2) festa, folgança: Ndebo toryba monhanga xe anama xe mbouri. - Para fazer-te festa minha família fez-me vir. (Anch., Poemas, 154); [adj.: oryb ou ory (r, s)] - 1) alegre, feliz (por causa de algo, por alguma razão) (VLB, I, 30); (xe) alegrar-se: Ta sory îandé ra'yra... ! - Que se alegrem nossos filhos! (Anch., Teatro, 56); Xe roryb nde só resé. - Eu estou feliz por causa de tua ida. (Anch., Arte, 27); 2) divertido, folgazão: Xe roryb. - Eu sou folgazão. (D'Evreux, Viagem, 143) ● orypaba (t) - lugar, tempo, causa, etc. de alegria, de felicidade: ...Ta xe rerasó og orypápe. - Que ele me leve para seu lugar de felicidade. (Ar., Cat., 24v); ...Nde ko'ema, 'ara rorypabeté. - Tu és a manhã, causa verdadeira da alegria do dia. (Valente, Cantigas, IV, in Ar., Cat., 1618)
'ara1 (s.) - dia; luz do dia (VLB, II, 25): 'arangaturameté... - dia muito bom (Anch., Poemas, 94); Osó kó 'ara pupé... - Vai neste dia. (Anch., Poemas, 94); ...Eresó kó 'ara ri. - Vais neste dia. (Anch., Poemas, 94); Sory karaibebé, ikó 'ara momoranga. - Estão felizes os anjos, festejando este dia. (Anch., Poemas, 130); Mba'erama ri bépe asé santos 'ara kuabi? - Por que mais a gente reconhece o dia dos santos? (Ar., Cat., 24) ● 'arybo - de dia, todo o dia (Anch., Arte, 42v): ...Temiminõ 'arybo nhẽ oîmombe'u o angaîpá-mirĩ anhõ. - Os temiminós, de dia, confessam seus pecadilhos, somente. (Anch., Teatro, 160, 2006); 'arybondûara - o que é de dia (VLB, I, 91); 'ara îabi'õ - cotidianamente, a cada dia (VLB, II, 94); 'ara-îabi'õndûara - coisa cotidiana, o que é de cada dia (VLB, II, 94); 'ara pukuî - todo o dia; o dia todo (VLB, II, 130)
kunumĩ (s.) - 1) menino, CURUMIM (Amaz.): Kunumĩ turusu. - O menino é grande. (Fig., Arte, 75); Nde pópe ogûapyka, osó kunumĩ... - Em tuas mãos sentando-se, vai o menino. (Anch., Poemas, 120); 2) meninice, idade de menino, tempo de menino, infância (compreendida entre 1 e 7 ou 8 anos) (D'Evreux, Viagem, 130): xe kunumĩ-era - meu nome de meninice, meu nome de infância (Anch., Arte, 9v); 3) moço, rapaz (VLB, II, 96) (v. tb. kunumĩgûasu): Onheŷnhang umã sesé kunumĩetá kagûara... - Já se juntaram por causa disso muitos moços bebedores de cauim. (Anch., Teatro, 24); kunumĩ-nhembo'e - moço que aprende, moço aprendiz (Anch., Arte, 32) ● kunumĩ-a'uba - rapaz (por desprezo, pejorativo) (VLB, II, 96)
ybyrá1 (s.) - 1) madeira, pau (Fig., Arte, 69); vara: Aînupã xe ra'yra ybyrá pupé. - Açoitei meu filho com uma vara. (Fig., Arte, 125); Ybyrá karamemûã, ygarusu nungara... pupé i mo'ar-uká. - Mandando fazê-los embarcar numa arca de madeira, semelhante a um navio... (Ar., Cat., 41v); ...Ereropûar ybyrá nde remirekó resé! - Bateste com o pau na tua esposa! (Anch., Teatro, 168); 2) árvore: Aybyrá-'ab. - Corto a árvore. (Fig., Arte, 145); 3) madeiro (VLB, II, 27); cruz: ...Ybyrá pupé omanõmo... - Morrendo na cruz. (Anch., Poemas, 90) ● ybyrá-ypypûera - cepo, o toco da árvore que foi cortada (VLB, I, 70); ybyrá'ĩ - vara (VLB, II, 141); ybyrá-pararanga - roda de madeira (de carro, etc.); ybyrá-nhatimana - roda de madeira, como mó de barbeiro, engenho de algodão (que não toca o chão), etc.; ybyrá-babaka - roda de madeira (para algodão) (VLB, II, 107)
potar (v.tr.) - 1) querer, desejar: Nde akanga îuká aîpotá korine. - Tua cabeça quererei quebrar hoje. (Staden, Viagem, 156); N'aîpotari nde só. - Não quero tua ida. (Fig., Arte, 157); Aîuká-potar. - Quero matá-lo. (Fig., Arte, 157); N'asó-potari mamõ… - Não quero ir para longe. (Anch., Poemas, 100); Ma'epe ereîpotar? - Que queres? (Léry, Histoire, 347); 2) desejar sensualmente: Eporopotar umẽ ... - Não desejes gente. (Ar., Cat., 70v); Kunhã potá nhote... - Só desejando mulher. (Ar., Cat., 71); 3) ter propensão para, ser propenso a: Xe resaraî-potar. - Eu tenho propensão a esquecer, eu sou esquecidiço. (VLB, I, 127); Xe mba'easy-potar (ou Xe mba'easy-potar îá). - Eu sou enfermiço, doentio (isto é, eu tenho propensão para doenças). (VLB, I, 105) ● oîpotaryba'e - o que quer, o que deseja: ...omendá-potaryba'e... - os que querem casar-se (Ar., Cat., 132); potasara - o que quer, o que deseja, o desejoso: ...Tekokatu potasara - a que deseja a virtude (Valente, Cantigas, V, in Ar., Cat., 1618); potasaba (ou potaraba) - lugar, tempo, causa, etc. de querer, de desejar (inclusive sensualmente); vontade; desejo: O'ẽpe erimba'e nde membyra nde i potasápe? - Poluiu-se outrora teu filho por tu o desejares? (Anch., Doutr. Cristã, II, 97); ...I angaîpab-eté... kó pe rembiá potasaba. - É muito má a vontade destas vossas presas. (Anch., Teatro, 156, 2006); ...i potarypyra - o que é (ou deve ser) desejado: A'e anhõ opakatu i potarypyra sosé. - Só isso está acima de tudo o que deve ser desejado. (Ar., Cat., 47); i îuká-potarypyra - o que se deseja matar (VLB, I, 79); emimotara (t) - o que alguém quer ou deseja; vontade: Îesu, xe remimotara. - Jesus, o que eu desejo. (Valente, Cantigas, I, in Ar., Cat., 1618)
anhẽ1 (ou aîé) (adv.) - realmente, na verdade, de fato, verdadeiramente; é verdade (VLB, II, 144); assim é (Fig., Arte, 133); (na interr.) - é certo? não é verdade? não é assim?: Tupã ra'yreté anhẽ ikó abá... - Filho verdadeiro de Deus é, de fato, esse homem. (Ar., Cat., 64); Anhẽ ûĩ! - É verdade isso! (Anch., Teatro, 138); Xe abá-aibĩ anhẽ. - Eu sou um mísero índio, de fato. (Anch., Poemas, 154); Aîpó saûsukatupyra, aîpó anhẽ. - Isso é que deve ser bem amado, isso verdadeiramente. (Anch., Teatro, 6); Ké abá rekóû anhẽ xe renopu'ã-pu'ama. - Aqui os homens estão, na verdade, para me ficar ameaçando. (Anch., Teatro, 26) ● anhẽ rakó! - certamente! sem dúvida! assim é! tem razão! é verdade! (certificando o que outra pessoa disse) (VLB, II, 105): -Eresaûsu-potar-etépe Tupã... a'e nde mopûeráme? -Anhẽ rakó! - Queres muito amar a Deus por ele te curar? -Certamente! (Bettendorff, Compêndio, 125); anhẽ anhẽ (ou aîekatu) - é bem certo que, bem certamente, assim é: ...Mba'easybora-te aîekatu i 'uû. - Mas os doentes a comem, bem certamente. (Ar., Cat., 77v); anhẽ kó (ou anhẽ nakó) - assim é (VLB, I, 45); anhẽp'anhẽ - mas, de verdade (VLB, II, 33); anhẽ rakó re'a - assim é (de h.) (Fig., Arte, 134); anhẽ rakó re'ĩ - assim é (de m.) (Fig., Arte, 134); anhẽ ra'u - assim é (Fig., Arte, 133); anhẽ re'a - assim é (de h.) (Fig., Arte, 134); anhẽ re'ĩ - assim é (de m.) (Fig., Arte, 134); anhẽ ruãp'anhẽ - mas, de verdade (VLB, II, 33); anhẽ ipó - nem mais nem menos; absolutamente não (como quem diz: -"não tenhais medo disso" ou "não se mete isso em minha cabeça") (VLB, II, 49)
îoupé (forma refl. ou recípr. da posp. supé): 1) para (o suj.), para si mesmo, a si próprio, para junto de si mesmo: Pe îoupé seîké potá, peîtyk pe angaîpaba... - Querendo que ele entre para junto de vós mesmos, lançai fora vossas maldades. (Ar., Cat., 5); I nhyrõ nhẽpemo Îandé Îara i xupé "nde nhyrõ ixébe" o îoupé i 'erememo? - Perdoar-lhe-ia Nosso Senhor se ele lhe dissesse "-perdoa tu a mim"? (Ar., Cat., 58); Marãngatupe abá rekóû o mondarõ o îoupé Tupã nhyrõ motá? - Como um homem procede querendo a si o perdão de Deus de seu furto? (Ar., Cat. 73); 2) um(s) para o(s) outro(s), um(s) diante do(s) outro(s), um(s) com o(s) outro(s): I îukasarama oîmoîa'ok o îoupé. - Seus matadores repartiram-nas uns com os outros. (Ar., Cat., 62) ● o îoupé-upé - uns aos outros (sendo muitos) (VLB, I, 154)
eburusu (t) (s.) - grandeza; estado de crescido, de adulto: Xe putupá bé nde reburusu resé... - Eu estou admirado também por tua grandeza. (D'Abbeville, Histoire, 342); Nde reburusu riré, Tupã syramo ereîkóne. - Após seres grande, serás mãe de Deus. (Anch., Poemas, 146); [adj.: eburusu (r, s) (irreg.)] - 1) grande, crescido: Xe reburusu. - Eu sou grande. Seburusu - Ele é grande. (Anch., Arte, 13v); (Na 3ª p. pode-se usar a forma variante turusu): Turusu-katupe a'e cruz erimba'e? - Era muito grande aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); Kunumĩ turusu. - O menino é grande. (Fig., Arte, 75); Turusupe? - Elas são grandes? (Léry, Histoire, 363); Turusu xe kane'õ. - Grande é meu cansaço. (Anch., Poemas, 152); 2) muito (em quantidade) (VLB, II, 44): Xe ky'a-te turusu... - Mas minha sujeira era muita. (Anch., Teatro, 172); Sugûy turusu. - Seu sangue era muito. (Anch., Poemas, 120) ● eburusu nhote (ou turusu-nhote ou turusu-katu-nhote) (r, s) - meão, médio, não muito grande (VLB, II, 34): Xe reburusu nhote. - Eu sou médio. (VLB, II, 34); turusu bé'ĩ - maior algum tanto (VLB, II, 28); turusu-eté - maior (com suí ou sosé): Peró turusu-eté nde suí. - Pedro é maior que tu. (VLB, II, 28); Xe roka turusu-eté nhẽ opakatu oka sosé. - Minha casa é maior que todas as casas. (Fig., Arte, 80); turusu-katu-eté - muito maior (VLB, II, 28)
a'yra3 (t, t) (s.) - 1) filho (em relação ao pai): -Abá ra'yrape ûĩ?! -Sé! -Filhos de quem eram esses?! - Sei lá! (Anch., Teatro, 48); Pe rory, xe ra'yretá, xe ri. - Alegrai-vos, meus filhos, por minha causa. (Anch., Teatro, 50); Ata'y-nupã xe atuasaba. - Açoito o filho de meu compadre. (Fig., Arte, 88); Aîta'y-me'eng Pedro. - Dou-lhe os filhos de Pedro. (Anch., Arte, 50v); 2) sobrinho, filho de irmão (de h.) (Ar., Cat., 115v); 3) filho de primo (de h.) (Ar., Cat., 115v); 4) filhote (macho) de animal: Mokõî pykasu ra'yra i xy ogûerasó îetanongabamo. - Dois filhotes de pomba sua mãe levou como oferenda. (Ar., Cat., 3v); 5) originário, natural de, filho (de uma dada terra): Xe Îetu'u ra'yrûera. Anhemonhang i pupé. - Eu sou antigo filho de Jetuú. Criei-me dentro dela. (Anch., Poemas, 152); 6) os filhos, a prole (de h.) (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276) ● xe ra'yra xe remimonhanga - meu filho que gerei (para distinguir de outros que também podiam ser chamados ta'yra - in Anch., Cartas, 459). Pode formar vocativo em -t: Xe ra'yt! - Meu filho! (Anch., Arte, 8v)
atã2 (t) (s.) - o forte, o bravo na guerra e em outras ocasiões; força; coisa tesa (VLB, II, 127): Nd'a'é te'e nde ratãngatu resé gûiîekoka... - Por isso mesmo em tua grande força apóio-me. (Anch., Teatro, 12); tatã - o forte, o bravo (Léry, Histoire, 368); [adj.: atã (r, s) ou (r, t)] - forte, firme, duro, rígido, rijo, teso; (fig.) árduo: Xe posaká, xe ratã... - Eu sou moçacara, eu sou forte. (Anch., Teatro, 162); T'îasó maranatãûãme...? - Havemos de ir à árdua guerra? (Anch., Poemas, 112); kunumĩûasu-atã-atã - rapazes muito fortes (Léry, Histoire, 338, 1994); (adv.) firmemente, duramente, rijamente: Oîar-atã serã i aoba i nupãsagûera i moperé-perebagûera resé? - Pegou-se firmemente sua roupa com que ele foi castigado às suas chagas? (Ar., Cat., 62); Anhe'eng-atã. - Falei duramente. (VLB, I, 40); Esekyî-atã! - Puxa-o rijamente! (VLB, II, 106); Îapopûar-atã, i moangaîpapa. - Amarram suas mãos firmemente, fazendo-lhe mal. (Anch., Poemas, 120)
ndi (posp.) - com, junto com (Se o sujeito for de 1ª ou 2ª pessoas, o verbo deverá sempre ir para o plural.): Orosó Pedro ndi. - Vou com Pedro. (Anch., Arte, 44); ...arupare'aka îurupara ndi seru. - ...trazendo farpas junto com o arco. (Anch., Teatro, 132); T'oroîopytybõne xe remirekó ndi... - Com minha esposa ajudar-nos-emos um ao outro. (Anch., Doutr. Cristã, I, 227); "-Akûeîa temõ our xe posé mã!" erépe moropotara ndi? - Disseste, com desejo sensual: "-Ah, quem me dera aquele viesse para o meu lado!"? (Anch., Doutr. Cristã, II, 96); T'oroîtyk oré poxy, paîé rerobîare'yma, moraseîa, mbyryryma karaimonhanga ndi. - Que lancemos fora nossa maldade, não acreditando nos pajés, em danças, rodopios com feitiços. (Anch., Teatro, 118)
OBSERVAÇÃO - Assim escreveu o jesuíta Fernão Cardim sobre esse fato cultural: "Entrando-lhe algum hóspede pela casa, a honra e agasalho que lhe fazem é chorarem-no. Entrando, pois, logo o hóspede na casa, o assentam na rede e, depois de assentado, sem lhe falarem, a mulher e filhas e mais amigas se assentam ao redor, com os cabelos baixos, tocando com a mão na mesma pessoa, e começam a chorar todas em altas vozes, com grande abundância de lágrimas e ali contam em prosas trovadas quantas coisas têm acontecido desde que se não viram até aquela hora e outras muitas que imaginam e trabalhos que o hóspede padeceu pelo caminho e tudo o mais que pode provocar a lástima e o choro. O hóspede, nesse tempo, não fala palavra, mas depois de chorarem por bom espaço de tempo, limpam as lágrimas e ficam tão quietas, modestas, serenas e alegres que parece (que) nunca choraram e logo se saúdam e dão o seu Ereiupe, e lhe trazem de comer, etc., e depois dessas cerimônias contam os hóspedes ao que vêm." (in Tratados da Terra e Gente do Brasil)
epîak (s) (v.tr.) - ver: Sory-katu xe repîaka... - Estavam felizes ao ver-me. (Anch., Teatro, 10); I abaeté sepîaka ixébo... - É terrível para mim vê-los... (Anch., Teatro, 26); ...Seté anhõ osepîakyne. - Seu corpo somente verão. (Ar., Cat., 46v); ...Îandé repîaka our! - Veio para nos ver!... Eîori nde retamûama repîaka. - Vem para ver tua futura terra. (Léry, Histoire, 341) ● epîakara (t) - o que vê: Marangatuba'e santos ybakype, Tupã repîakaretá, osasá 'ara ro'y remierekó papasaba. - Os bem-aventurados e os santos no céu, que vêem a Deus, ultrapassam o número dos dias que o ano tem. (Ar., Cat., 135); epîakaba (t) - lugar, tempo, modo, etc. de ver; a visão: -Mamõpe Pilatos senosemi a'ereme? -Okarype morepîakápe... -Para onde Pilatos o retirou, então? -Para a praça, para o lugar de ver gente... (Ar., Cat., 60v); emiepîaka (t) - o visto, o que alguém vê: Oîepó-eî te'yîa remiepîakamo. - Lavou-se as mãos à vista da multidão (isto é, como o que a multidão vê). (Ar., Cat., 61); Ereîmombe'upe abá rekopoxŷagûera oîepebẽ nde remiepîakûera abá supé? - Contaste o mau procedimento de alguém, que somente tu viste, para as pessoas? (Ar., Cat., 108); sepîakypyra - o que é (ou deve ser) visto: ...Mo'yrobyeté sepîakypyre'yma. - Colares azuis não vistos (ainda). (Léry, Histoire, 346); sepîakypypabẽ - coisa notória por ser vista totalmente; notório, patente (VLB, II, 51) (Com o verbo 'i / 'é, como auxiliar, significa crer, vendo): Eré sepîakane. - Crerás, vendo. (Fig., Arte, 159)
îar1 / ar(a) (t, t) (v. tr. irreg.) - 1) prender, apanhar, tomar, catar, pegar: ...tapuîa rara... - prender tapuias (Anch., Teatro, 8); Abá rokype erekûá tá, nhemim-y îanondé? - Na casa de quem passaste tomando-as, antes de te esconderes? (Anch., Teatro, 44); Eîá-te xe rubixaba! - Mas apanha, antes, meu chefe! (Anch., Teatro, 76); Nd'ogûar-ukarype Îudeus a'e cruz abá supé...? - E os judeus a um homem não mandaram tomar aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); 2) tomar, ingerir (bebida ou comida): Xe potaba kaûĩ rá. - O que me cabe é tomar cauim. (Anch., Teatro, 22); 3) receber; aceitar: Aîar itaîuba (abá) suí. - Aceitei dinheiro do homem. (VLB, I, 19, adapt.); Ahẽ xe re'õ-motareme, aîpotá-katu,... îasuka rara roîré. - Se ele quiser matar-me, bem o desejo, após receber o batismo. (D'Abbeville, Histoire, 351v); Sygépe o eterama Tupã tari... - Em seu ventre Deus recebeu seu próprio corpo. (Anch., Poemas, 88); ...O boîáramo pe rari. - Como seus discípulos receberam-vos. (Anch., Teatro, 54); 4) acatar, assumir: Aûîé, kó temiminõ nd'ogûari Tupã rekó... - Enfim, esses temiminós não acatam a lei de Deus... (Anch., Teatro, 20); ...N'aîari kó sekó-angaturama... - Não acato essa sua boa lei. (Ar., Cat., 25v); 5) tirar (o fogo, com pederneira, com fuzil): Eresaûsubarype i mba'easyreme, satá-á... - Tu te compadeceste deles quando eles estavam doentes, tirando-lhes fogo? (Anch., Doutr. Cristã, II, 86); 6) tomar as feições de, os traços de, sair a: Og uba ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços de seu pai; Og uba resá ahẽ ogûar. - Ele tomou os traços dos olhos de seu pai. (VLB, II, 131); 7) colher (o que se semeou no chão. Para colher frutas, v. po'o) (VLB, I, 77); 8) resgatar (VLB, II, 102); 9) guardar, observar, praticar: Aîá pá îekuakuba. - Pratiquei todos os jejuns. (Anch., Teatro, 172) ● ogûaryba'e - o que toma, o que apanha, o que recebe, etc.: ...Îekuakubusu îabi'õ Tupã ogûare'ymba'e. - O que não recebe a Deus (isto é, não comunga) a cada Quaresma. (Ar., Cat., 76v); asara (t, t) - o que toma, o que pega, o que recebe: ...I poxyba'e tasara te'õ ogûar o îoupé... - Os que são maus, que o tomam, recebem a morte em si. (Valente, Cantigas, VIII, in Ar., Cat., 1686); ...semiîukapûera rasara - o que apanha o que ele matou (Ar., Cat., 73); emiîara (ou embiîara) (t, t) - o que alguém apanha, toma, pega, etc.: xe remiîara - o que eu tomo (Anch., Arte, 58v); Ogûemimbo'e pyri o karuápe, miapé o pópe gûemiîara i moîebyû... - Ao comer junto dos seus discípulos, o pão que apanhou em suas mãos devolveu-o. (Ar., Cat., 5); tarypyra - o que é (ou deve ser) tomado, pego, etc.: ...Abá remimotara rupi tarypyrama é amoaé mokõî. - Aqueles outros dois deverão ser tomados segundo a vontade das pessoas. (Anch., Doutr. Cristã, I, 223); asaba (ou araba) (t, t) - tempo, lugar, modo, etc. de pegar, de receber, de tomar; tomada, recepção: E'ikatupe asé aîpoba'e rasápe ogûera rekobîarõmo? - Pode a gente trocar seu próprio nome ao receber aquele? (Ar., Cat., 83v)
u'i (s.) - farinha (feita pelos índios com raspas espremidas de raízes como a mandioca ou a macaxeira) (D'Abbeville, Histoire, 305): Ere'upe so'o... u'i rerekóbo nhẽpe...? - Comeste carne de caça, tendo farinha? (Ar., Cat., 111); Aîeruré u'i resé. - Peço por farinha. (D'Evreux, Viagem, 144) ● u'i-abiruru - farinha feita de mandiopuba (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-atã (ou u'itã) - farinha dura de raízes, principalmente de mandioca, feita com a mistura da mandioca apodrecida, antes de seca, com a mandioca seca e com a fresca; farinha de guerra, isto é, a que se levava para as batalhas para nutrir os índios (Staden, Viagem, 142); farinha de mandioca seca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-apu'a - pelouros grandes que se faziam da mandioca curtida, com que depois davam cor à farinha de guerra (VLB, II, 71); u'i-esakûatinga - var. de farinha menos torrada e durável que a u'i-atã, por ser menos cozida (VLB, I, 135; Vasconcelos, Crônica [Not.], II, §73, 148); farinha de mandioca quase seca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-îará - var. de farinha: Eîori u'i-îará gûabo. - Vem para comer farinha. (Fig., Arte, 141); u'ipeba - farinha fresca retirada da mandiopuba (Piso, De Med. Bras. IV, 177); u'i-puba - farinha puba, farinha d'água, ou seja, de mandioca curtida, que se espremia no tipiti e que se passava pela urupema (VLB, I, 135); u'i-puku - var. de farinha de mandioca (VLB, I, 114); farinha feita de mandiopuba; bolas de farinha puba feitas com as mãos e secadas ao calor do sol (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-syka - farinha de mandioca seca (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67); u'i-tinga - farinha de mandioca ainda mole, meio cozida (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 67)
mba'e3 (ou ma'e) (s.) - 1) coisa: O mba'e, nipó, asé o py'a pupé saûsubi. - Suas próprias coisas, na verdade, a gente ama em seu coração. (Anch., Teatro, 28); Mba'e-eté ka'ugûasu... - Coisa muito boa é uma grande bebedeira. (Anch., Teatro, 6); 2) bens, riqueza, haveres, mercadoria, objeto, tudo o que pertence a alguém: Kó abá semirekó abé opá o mba'e mombabi... - Esse homem e sua esposa também fizeram acabar todas as suas riquezas... (Ar., Cat., 7); Aîpó abá ma'e îara îandébe. - Esses homens são os que portam riquezas para nós. (Léry, Histoire, 355); A'epe n'oerekóî pe rubixaba ma'e? - E vosso rei não tem riquezas? (Léry, Histoire, 362); 3) animal, bicho, ser inferior: mba'e-kagûera - gordura de animal (VLB, I, 117); 4) termo usado para chamar alguém de forma depreciativa ou vulgar: Mba'e-embegûasu! - Coisa beiçuda! (VLB, I, 54); Mba'e-mondá! - ladrão! (lit., coisa que rouba); Mba'e-poru! - Comedor de carne humana! (Anch., Arte, 32); Mba'e-u'uma...! - Coisa enlameada! (Anch., Teatro, 44); (adj.) - rico, (xe) ter bens: Xe mba'e. - Eu tenho bens. (VLB, I, 54) ● i mba'eba'e - o que tem coisas, o que é rico: I mba'eba'e ixé. - Eu sou o que é rico. (VLB, II, 105)
eroŷrõ (v.tr.) - 1) detestar, odiar, abominar, desprezar, pôr defeito em: T'aroŷrõ tekomemûã... - Que deteste a vida má. (Anch., Poemas, 92); T'aroŷrõngatu Anhanga... - Que eu deteste muito o diabo. (Anch., Poemas, 98); ...Na xe reroŷrõî îepé. - Tu não me detestas. (Anch., Poemas, 96); Kó temiminó-poxy îandé rekó ogûeroŷrõ... - Esses temiminós malvados nossa lei detestam... (Anch., Teatro, 16); 2) renunciar a, enjeitar, reprovar (VLB, II, 101) ● seroŷrõmbyra - o que é (ou deve ser) detestado, odiado: ...Seroŷrõmbyramo oîkóbo bé... - Sendo também odiados. (Ar., Cat., 179); ...Seroŷrõmo opakatu ikó 'ara pupé... seroŷrõmbyra sosé. - Detestando-os mais que tudo o que se deve detestar neste mundo. (Ar., Cat., 220); emieroŷrõ (t) - o que alguém detesta: O angaîpagûera... o emieroŷrõagûera reroîeby-potare'yma. - Não querendo repetir seu pecado que ele detestava. (Ar., Cat., 188); eroŷrõsaba (ou eroŷrõaba) (t) - tempo, lugar, causa, etc. de odiar, de detestar; ódio: Nde resa'y eîmondyky seroŷrõsápe... - Destila tuas lágrimas, por detestá-los. (Anch., Doutr. Cristã, II, 112)
putuna (ou pytuna ou pyxuna) (s.) - noite; escuridão: O'ar pytuna. - Caiu a noite; anoiteceu. (VLB, I, 36); Kûarasy, nipó, oberá, putunusu kûab'iré. - O sol brilha, certamente, após passar a grande noite. (Anch., Poemas, 142); ...Putuna rupi okagûabo... - Bebendo cauim durante a noite. (Anch., Teatro, 150); (adj.: putun, putũ ou pytun) - escuro: T'amoberab Tupã robá-pytuna xe 'anga supé... - Que eu faça brilhar a face escura de Deus para minha alma. (Ar., Cat., 128, 1686); I pytũ-pytun 'ara. - O dia está muito escuro (como que para chover). (VLB, I, 71); I pytun xe roka. - Minha casa está escura. (VLB, I, 124); (xe) ser ou estar noite (VLB, II, 50); (adv.) de noite, à noite: ...putũ gûixóbo... - indo eu de noite (Anch., Teatro, 160) ● putunybo - toda a noite, pelas noites (Anch., Arte, 42v); putunyme - de noite (não costumeiramente) (Anch., Arte, 42v); Tiá nde putuna! - Boa noite! (D'Evreux, Viagem, 143); Pytũ 'ã (ou Pytun iã). - Eis que é noite. (VLB, II, 50); pytuneme - de noite, às noites (isto é, habitualmente) (Fig., Arte, 128); pytunĩneme (ou pytũ-pytunĩneme) - ao anoitecer (VLB, I, 36)
epyme'eng (s) (v.tr.) - 1) pagar, pagar por, pagar tributo por: Asepyme'eng. - Paguei-o. (VLB, II, 62); Osepyme'engype erimba'e emonã o ekoagûera...? - Pagou outrora por seu proceder assim? (Anch., Doutr. Cristã, I, 163); Asepyme'eng (abá) supé. - Paguei-o ao homem. (VLB, I, 146, adapt.); 2) dar recompensa por, resgatar ● osepyme'engyba'e - o que paga, o que resgata (Ar., Cat., 168v); epyme'engara (t) - o que resgata, o que paga: ...Ikó 'ara pupé bé o angaîpagûera repyme'ẽngatusarûera ybakype aûnhenhẽ serasó-uká... - Fazendo levar imediatamente para o céu os que resgataram bem seus pecados ainda neste mundo. (Ar., Cat., 159); epyme'engaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de pagar, de resgatar; pagamento, resgate: Ndaeroîaî... o ekoangaîpagûera repyme'engagûama resé o putupabamo. - Nem por isso se importa com o resgate de seus antigos pecados. (Ar., Cat., 155)
porará (v.tr.) - 1) sofrer, padecer, suportar, defrontar-se com: ...Te'õ ereîporará. - Sofreste a morte. (Anch., Teatro, 120); T'oré pyatã, angá, mba'easy porarábo. - Que sejamos corajosos, sim, suportando as coisas dolorosas. (Anch., Teatro, 120); Putunusu porarábo, oroîkotebẽngatu. - Suportando a grande noite, estamos muito aflitos. (Anch., Poemas, 142); 2) levar, passar (fal. de vida, situação, etc.); gozar (o que dá grande gosto) (VLB, II, 62): Tekó-katu aîporará. - Levo uma vida boa. (VLB, II, 145) ● emiporará (t) - o que alguém sofre: Mba'epe sasyeté a'epe tekoara supé opakatu semiporará sosé? - Que pesa mais ao que está ali do que tudo o que sofre? (Ar., Cat., 63, 1686); porarasara - o que sofre, o que padece, o que suporta, o que se defronta com, o sofredor: ...Tekokatu resé mba'e porarasara... - Os que sofrem algo pela justiça. (Ar., Cat., 19); Tegûama porarasara... - o que se defronta com a morte (Ar., Cat., 219, 1686); porarasaba - tempo, lugar, modo, causa, etc. de sofrer, de suportar, etc.; sofrimento, paixão: Ereîerobîarype... i porarasagûera resé bé...? - Tens esperança na sua paixão também? (Bettendorff, Compêndio, 123); i porarapyra - o que é (ou deve ser) sofrido, o que se sofre, etc.: Penhemoma'enduá Anhanga ratápe i porarapyra resé. - Lembrai-vos do que se sofre no inferno. (Ar., Cat., 156v)
pytybõ (v.tr.) - ajudar, auxiliar: ...T'oropytybõne... - Hei de te ajudar. (Anch., Teatro, 36); T'oú îandé pytybõmo xe rybyra... - Que venha para nos ajudar meu irmão mais moço. (Anch., Teatro, 130); ...Ereîpytybõpe abá mondá resé? - Ajudaste alguém num roubo? (Ar., Cat., 107); Aînhe'ẽ-pytybõ. - Ajudei-o em suas palavras (isto é, ajudei-o naquilo que dizia, argumentando a favor dele). (VLB, I, 134) ● pytybõsara (ou pytybõana) - o que ajuda, o ajudante: ...São Lourenço pytybõana. - ...ajudante de São Lourenço. (Anch., Teatro, 40); -Mba'erama resépe Tupã semirekorama monhangi? -I pytybõsarama resé... -Para que Deus criou a esposa dele? -Para sua ajudante... (Ar., Cat., 48, 1686); pytybõsaba - tempo, lugar, meio, etc. de ajudar; ajuda, auxílio: Tupã asé pytybõsaba amõ... - algum auxílio de Deus à gente (Bettendorff, Compêndio, 76); Îandé pytybõagûama resé oîerurébo. - Pedindo para nos ajudarem (etim. - pela nossa futura ajuda). (Ar., Cat., 125)
erekomemûã (v.tr.) - 1) maltratar, ofender (com palavras, moralmente, mas sem agressão física): ...abá ogûerekomemûãeté suí onheangûabo... - Tendo medo de que alguém o maltrate muito. (Ar., Cat., 128); 2) estragar: Ererekomemûãpe nde rapixara mba'e...? - Estragaste as coisas de teu próximo? (Ar., Cat., 107v); 3) enganar (VLB, I, 116); 4) escandalizar (VLB, I, 122) ● erekomemûãsara (t) - maltratador, o que trata mal, o que estraga, etc.: Nde nhyrõ oré angaîpaba resé orébe oré rerekomemûãsara supé oré nhyrõ îabé. - Perdoa tu nossas maldades a nós como nós perdoamos aos que nos tratam mal. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); serekomemûãmbyra - o que é (ou deve ser) maltratado: ...Morubixabamo sekóreme serekomemûãmbyramo sekóû. - Quando era ele rei, foi maltratado. (Ar., Cat., 15); erekomemûãsaba (t) - tempo, lugar, modo, causa, ato, etc. de maltratar, de estragar; ofensa, mau trato; estrago: ...Aó-tinga mondebuká sesé serekomemûãsabamo. - Roupa branca mandando colocar nele como meio de maltratá-lo. (Ar., Cat., 59); Nde rorype... abá serekomemûãagûera resé? - Tu te alegraste por alguém estragá-las? (Ar., Cat., 109v)
a'uba (s.) - 1) pessoa ou coisa vil (VLB, II, 145); 2) trampas, sujeira, excrementos; coisa insignificante, desprezível (VLB, II, 46): A'uba nhote i por re'a. - Há de ser coisa insignificante somente. (Ar., Cat., 163v); ahẽ a'uba - excremento de fulano; kunumĩ a'uba - sujeira do menino (VLB, II, 135); 3) falsidade, aparência: A'uba nhote ikó 'ara'uba. - É aparência, somente, este mundo falso. (Ar., Cat., 169); (adj.: a'ub ou a'u) - 1) mesquinho, miserável, vil: Na sa'ubi iké xe robaké nde rur'e'ymebé... - Ele não foi mesquinho antes de tua vinda aqui diante de mim. (Ar., Cat., 249); Nd'e'ikatu béî aîpó i pe'apyra'uba missa renduba resé. - Também não pode aquele excomungado miserável ouvir a missa. (Ar., Cat., 179); Aîrumõ-rumõmo xe rekoangaîpagûera'uba ikó yby pupé gûitekóbomo... - Ficaria aumentando meus miseráveis pecados vivendo nesta terra. (Ar., Cat., 142); 2) falso, na aparência, fingido, fictício, sem consequências: Ererobîápe îetanonga'uba...? - Acreditas em falsas oferendas? (Ar., Cat., 98v); Seba'e-a'uba nhote resé... asé na sesaraî... - A gente não se esquece do que é saboroso só na aparência. (Ar., Cat., 88v); ...Na sa'ubi nde rekopoxy... - Não são sem consequências os teus pecados. (Ar., Cat., 112); N'aîkó-potari ymã ikó 'ara'uba pupé. - Já não quero viver neste mundo falso. (Ar., Cat., 142); (adv.) 1) mesquinhamente, miseravelmente; de má vontade, de modo vil: A'e o mena supé 'ybá-'u-ukar-a'ubi. - Ela fez seu marido comer o fruto de modo vil. (Anch., Poemas, 178); Asó-a'ub. - Vou de má vontade. (Fig., Arte, 138); 2) fingidamente, falsamente, na imaginação, ilusoriamente, na mente, sem consequências, na aparência, sem efeito, em vão: Asaûsub-a'ub. - Amo-o em vão. (Anch., Arte, 35; VLB, II, 127); E'i tenhẽ abaré Tupã resé serobaka potara'upa. - Em vão o padre quer fazê-la voltar para Deus. (Anch., Teatro, 148): ...O Tupãnamo i moeté-a'upa. - Honrando-o falsamente como seu Deus. (Ar., Cat., 66); Oporombo'e-a'u Tupã nhe'enga ra'anga. - Ensina falsamente as pessoas a provarem a palavra de Deus. (Anch., Teatro, 134); Nde rory-roryb-a'u, xe boîá momara'a. - Tu estás muito feliz, ilusoriamente, envergonhando meus súditos. (Anch., Teatro, 172) ● (com o verbo reduplicado ou com o verbo na negativa com e'ym): fingir que, fazer que: Asó-asó-a'ub. - Finjo que vou. (Anch., Arte, 35); Arasó-rasó-a'ub. - Finjo que o levo, faço que o levo. (Anch., Arte, 35); N'asendube'ym-a'ubi. - Fiz que não o ouvi. N'asepîake'ym-a'ubi. - Fiz que não o vi. (VLB, I, 104); N'aîkugûabe'ym-a'ubi. - Fiz que não o conhecia. (VLB, I, 130); N'asepîake'ym-a'ubi. - Faço que não o vejo. (VLB, I, 139); N'aîpotare'ym-a'ubi. - Finjo que não o quero. (Anch., Arte, 35)
na (ou nda) (part. de negação. É acompanhada pelo suf. -i ou pela part. ruã, dependendo do termo negado.) - 1) não: N'i nhyrõî. - Não perdoa. (Ar., Cat., 89v); Na xe rorybi. - Eu não estou feliz. (Anch., Arte, 34v); Na emonani xûémo xe sórememo. - Não seria assim se eu fosse. (Fig., Arte, 143); ...Na xe reroŷrõî îepé. - Tu não me detestas. (Anch., Poemas, 96); N'asó-potari mamõ... - Não quero ir para longe. (Anch., Poemas, 100); Na nde ruã-te...? - Mas não foste tu? (Anch., Teatro, 176); Na mboby ruã. - Não são poucos. (Anch., Teatro, 168); Na tenhẽ ruã... - Não foi à toa... (Ar., Cat., 100); Na marã xe rekóreme ruã. - Não porque eu fizesse algum mal. (VLB, II, 46); Na Tupã ruã-tepe a'e? - Mas ele não era Deus? (Ar., Cat., 43); N'i potare'ỹme ruã - Não porque não queira. (Anch., Arte, 34v); Na ixé ruã. - Eu não. (VLB, I, 30); 2) para que não, para não, senão: Taté, taté, kunumĩ, na nde nupãî karaíba... - Cuidado, cuidado, menino, para que não te castigue o homem branco. (Anch., Poemas, 194); Xe renõî umẽ îepé i xupé na xe îukáî. - Não me chames tu pelo nome diante dele senão me mata. (Anch., Teatro, 32, 2006); Penhemongatu mamõ xe suí n'opoapyî. - Sossegai longe de mim senão vos queimo. (Anch., Poesias, 56) ● na... ruã ymã, na... ruã-eté-ymã (ou na... ruã mã ou na... ruã-eté... mã) - tomara fosse, oxalá fosse: Na xe ruba ruã ymã; Na xe ruba ruã iké ymã - Tomara fosse meu pai aqui; Na xe ruba ruã iké turi mã. - Oxalá fosse meu pai que para cá viesse; Na xe ruã-eté ikó mã. - Oxalá não fosse eu. (VLB, II, 47); na... îanondé ruã - não que, não antes que: ...Na abá o aûsubar-y îanondé ruã, na abá o pysyrõ îanondé ruãne... - Não que alguém se compadecerá deles, não que alguém vá libertá-los. (Ar., Cat., 163v); na... e'ymi - não deixar de: N'aîukae'ymi. - Não o deixo de matar. (Fig., Arte, 34); N'aîmonhange'ymi. - Não o deixo de fazer. (Fig., Arte, 34); N'aîpotare'ymi. - Não o deixo de querer. (Anch., Arte, 34v); N'aîpotare'ymi xûéne. - Não deixarei de o querer. (Anch., Arte, 34v)
memûã1 (s.) - 1) grosseria, gracejo grosseiro; trejeito; zombaria (VLB, I, 73); patranha (VLB, II, 68); 2) maldade, malícia, perversidade; 3) falsidade, fingimento, erro; (adj.) 1) grosseiro, zombeteiro; (xe) zombar (por obras ou palavras), fazer zombaria, fazer trejeitos (compl. com supé): ...Sobaké o memûãnamo... - Fazendo zombaria diante dele. (Ar., Cat., 60v); Xe îuru-memûã. - Faço trejeitos com a boca. (VLB, II, 41); nhe'ẽ-memûã - palavras grosseiras, de zombaria (VLB, I, 73); Xe memûã (abá) supé. - Eu zombo das pessoas. (VLB, I, 149, adapt.); abá-memûã - homem grosseiro, zombeteiro (VLB, I, 73); 2) mau, perverso, malicioso, maldoso: Supikatu serã uîba'e ûyrá-memûã mbouri. - Na verdade, esse fez vir um pássaro mau. (D'Abbeville, Histoire, 353); 3) falso, errado, fingido: abá-memûã - homem falso (VLB, II, 99); N'i tybi mba'e-memûã. - Não há nada errado. (Anch., Teatro, 164, 2006); (adv.) mal, maliciosamente, perversamente: Oîkó-memûãba'e renonhena. - Castigar os que procedem mal. (Ar., Cat., 18v); Aîmonhã-memûã. - Fi-lo mal. (Anch., Arte, 2); Memẽ nhẽ moxy îandébo marã e'i-memûã-memûã. - Sempre os malditos para nós dizem maldades, mui perversamente. (Anch., Poemas, 194)
é1 (part.) 1) mesmo, próprio (e não outro), bem: Endé é aîpó eré... - Tu mesmo dizes isso. (Ar., Cat., 56); Na tubi; onhemonhang é... - Não teve pai; ele mesmo se criou. (Ar., Cat., 23); ...Cristãos rubixaba nhe'enga rupi é... - Bem de acordo com as palavras do chefe dos cristãos. (Ar., Cat., 12v); Kori é. - Hoje mesmo. (Anch., Arte, 54); I xupé é. - Para ele mesmo. (Anch., Arte, 54); 2) de motu próprio, de própria vontade: Aîur é. - Vim de motu próprio, vim de própria vontade. (Anch., Arte, 53v); 3) de fato, na verdade, é que: ...Pytunusupe émo i xóûmo. - Para uma grande escuridão, na verdade, iriam. (Ar., Cat., 80); ...Emonãnamo é "xe sy" asé 'éû i xupé. - Por isso é que se diz para ela: "-minha mãe". (Ar., Cat., 33v); Asóp'ixéne é? - Hei de ir, de fato? (Anch., Arte, 24); Oîpotar épe îudeus o îuká...? - Quis, de fato, que os judeus o matassem? (Bettendorff, Compêndio, 46); 4) até mesmo: Kurusá xe pópe sekóreme... t'our é Îurupari...: n'asykyîéî xûéne i xuí. - Se estiver a cruz em minhas mãos, que venha até mesmo o diabo: não terei medo dele. (D'Abbeville, Histoire, 357); 5) (part. expletiva, de reforço) - realmente; com efeito. Às vezes não se traduz: Kaûĩaîa 'useîa é, opakatu amboapy. - Querendo beber vinho, tudo esgotei. (Anch., Teatro, 46)
amotare'ym (ou amotare'ỹ) (v.tr.) - detestar, odiar, querer mal, mal-querer, ser inimigo de: Oîoa'o-a'o gûaîbĩ, oîoamotare'ỹ... - Insultam-se as velhas, odeiam-se. (Anch., Teatro, 36); I amotare'ym-etébo, perekó-aí-aí. - Detestando-os muito, tratai-los muito mal. (Anch., Teatro, 40) ● amotare'ymbara - o que quer mal, o que detesta (VLB, II, 12); malquerente (VLB, II, 29): Oré pysyrõ îepé... oré amotare'ymbara suí. - Livra-nos tu dos que nos querem mal. (Anch., Doutr. Cristã, I, 139); emiamotare'yma (t) - o que alguém detesta, o que alguém odeia: "Marã îasûaramo ahẽ kûepe se'õ mã" erépe nde remiamotare'yma supé? - Disseste para o que tu detestas: "-Ah, que bom seria a morte do fulano por aí"? (Ar., Cat., 101v); amotare'ymbaba - tempo, lugar, modo, etc. de detestar, de odiar; ódio: Tupã nhe'enga abŷagûera t'ereîmombe'u: ...nde poroamotare'ymagûera, nde poropotaragûera, nde mondarõagûera... - Que confesses a transgressão da palavra de Deus: teu antigo ódio às pessoas, teu desejo sensual, teus furtos. (Anch., Doutr. Cristã, II, 79); i amotare'ymymbyra - o que é (ou deve ser) malquisto (VLB, II, 29)
ma'ẽ (v. intr. compl. posp.) - 1) olhar [para algo ou para alguém: compl. com esé (r, s) ou ri]: Marã e'ipe asé o py'ape ybaka resé oma'ẽmone? - Como dirá a gente em seu coração, olhando para o céu? (Ar., Cat., 26); Ema'ẽngatu oré ri...! - Olha bem para nós! (Anch., Poemas, 102); T'oma'ẽ îandé resé pitangĩ-moraûsubara... - Que olhe para nós o neném compadecedor. (Anch., Poemas, 164); Ema'ẽ-te ranhẽ! - Mas olha primeiro! Olha cá! (como que mostrando alguma coisa notável) (VLB, II, 55); 2) (v. intr.) enxergar, ver: N'ama'ẽî. - Eu não enxergo (isto é, eu sou cego). (VLB, I, 70) ● ma'ẽsaba (ou ma'ẽndaba) - tempo, lugar, modo, causa, objeto, etc. do olhar, da visão: Mba'epe asé oîmoinukar o kotype o ma'ẽsabamo? - Que a gente manda pôr em seu aposento como objeto de seu olhar? (Ar., Cat., 93); Peîmoín amõ cruz oîepé kó mara'abora robaké sesá ma'ẽndabamo. - Ponde uma cruz diante deste doente como objeto da visão de seus olhos. (Ar., Cat., 142); (O imperativo pode ser usado sem os prefixos e- ou pe-): ma'ẽ! - olha!: Ma'ẽne, tupinambá Paragûasupendarûera... opakatu îamombá. - Olha, arrasamos todos os tupinambás que estavam no Paraguaçu. (Anch., Teatro, 14)
-(r)amo (posp. átona - sua forma nasalizada é -namo): 1) como, na condição de; em [Com o verbo ikó / ekó (t) forma locução correspondente ao verbo ser do português.]: ...Ybyramo i moingó-ukare'yma. - Em terra não os fazendo transformar. (Ar., Cat., 179v); ...Serekoaramo ûitekóbo... - Estando como seu guardião (ou sendo seu guardião). (Anch., Teatro, 4); Pitangamo seni Maria îybápe. - Como criança está sentado nos braços de Maria. (Anch., Poemas, 108); Nde manhanamo t'oîkóne! - Ele há de ser (ou há de estar na condição de) teu espião! (Anch., Teatro, 32); ...Xe boîáramo pabẽ xe pópe arekó-katu. - Como meus súditos em minhas mãos bem os tenho a todos. (Anch., Teatro, 34); Pitangĩnamo ereîkó… - Uma criancinha és (ou na condição de uma criancinha estás). (Anch., Poemas, 100); 2) segundo, conforme: Xe anama, erimba'e, tekó-ypyramo sekóû. - Minha nação, outrora, estava segundo a lei primeira. (Anch., Poemas, 114); 3) Forma o gerúndio de predicados nominais: ...o mba'epûeramo... - sendo coisa antiga (Ar., Cat., 74); O angaîpabamo... - Sendo mau. (Ar., Cat., 27); Xe katuramo. - Sendo eu bom; Nde katuramo. - Sendo tu bom. (Anch., Arte, 29); 4) Forma o modo indicativo circunstancial dos verbos da segunda classe: Koromõ xe rorybamo. - Logo eu estou feliz. (Anch., Arte, 40)
mokanhem1 (ou mokanhẽ) (v.tr.) - 1) fazer sumir, fazer perder-se, fazer desaparecer: ...Kori bé t'i mokanhẽ... - Hoje mesmo havemos de fazê-lo sumir... (Anch., Teatro, 16); Pysaré serã ereîkó arinhama mokanhema...? - Será que a noite toda ages para fazer sumir as galinhas? (Anch., Teatro, 30); ...Îandé re'õ mokanhema... - Fazendo desaparecer nossa morte. (Anch., Poemas, 94); Adão, oré rubypy, oré mokanhemeté... - Adão, nosso primeiro pai, fez-nos perder verdadeiramente. (Anch., Poemas, 130); 2) destruir, arruinar, desgraçar... Oporomokanhem ikó... - Este desgraça as pessoas. (Ar., Cat., 66v); 3) perder: ...Sabeypora suí 'ara mokanhema... - Perdendo o entendimento por causa de sua bebedeira. (Ar., Cat., 78) ● emimokanhema (t) - o que alguém perde: ...Xe 'anga rekobepûera xe remimokanhẽûera oîmoîebyrukar ixébone... - A vida de minha alma, que eu perdi, fará devolver a mim. (Ar., Cat., 219); mokanhembaba - tempo, lugar, modo, etc. de destruir, de fazer desaparecer, de perder; destruição, perda: ...Opakatu... asé rekoangaîpagûera... mokanhembaba bé. - É também um modo de fazer desaparecer todos os nossos antigos pecados. (Bettendorff, Compêndio, 80)
erekó1 (v.tr.) - 1) fazer estar consigo, ter: ...Toryba rerekóbo... - Tendo alegria. (Anch., Teatro, 54); ...Saûsuba rerekóbo... - Tendo-lhe amor. (Anch., Poemas, 86); Pitangĩ abé îandé rubypy angaîpaba nhõ ogûerekó. - As criancinhas também têm somente o pecado de nosso pai primeiro... (Anch., Doutr. Cristã, I, 201); Orogûerekó xe ra'yramo. - Tenho-te como meu filho. (Anch., Arte, 41v); 2) cuidar de, pastorear (o gado): Erekó-katu nde ma'easy ko'y. - Cuida bem da tua doença agora. (D'Abbeville, Histoire, 350); 3) tratar, portar-se com: O tupãnamo ta xe rerekó... - Que me tratem como a seu próprio deus. (Ar., Cat., 160); Marãpe i boîá rekóû emonã o îara rerekó repîaka? - Como seus discípulos procederam vendo tratar assim a seu senhor? (Ar., Cat., 54v); I angaîpá kó nde boîá, na xe rerekó-katuî. - São maus estes teus servos, não me tratam bem. (Anch., Poemas, 154); Ererekó-memûãpe nde sabeypora? - Portaste-te mal com tua embriaguez? (Anch., Doutr. Cristã, II, 103); 4) manter, conservar: Sepîakypyra niã aîpoba'e re'ombûera o marane'yma rerekó mosapyr koîpó oîoirundyk seîxu ybŷá o tym'iré... - São vistos os cadáveres daqueles manterem sua incorruptibilidade três ou quatro anos após os enterrarem. (Ar., Cat., 179v); ...Okaî oúpa... o ekobé rerekóbo... - Estão queimando, conservando suas vidas. (Ar., Cat., 248); 5) guardar, reter...: A'e aé ipó xe rerekó... - Ele mesmo certamente me guarda. (Ar., Cat., 25v); 6) fazer com: I aogûerape marã serekóû? - E suas velhas roupas, que fizeram com elas? (Ar., Cat., 62); Marãpe serekóû i tym-y îanondé? - Que fizeram com ele antes de o enterrarem? (Ar., Cat., 64v) ● erekoara (ou erekosara) (t) - o que tem; o que cuida, o que trata, etc.: Tekokatu-eté rerekoara onherane'ymba'e... - O que tem a bem-aventurança é o que é manso. (Ar., Cat., 18v); São Sebastião abé, marana rerekoarûera, tamũîa, kyre'ymbagûera, omombab erimba'e... - São Sebastião também, o que cuidava das guerras, destruiu os tamoios, os valentes. (Anch., Teatro, 52); emierekó (t) - o que alguém tem, o que alguém faz estar consigo, o que alguém guarda, etc.: Xe rureme, asobaîtĩ xe remierekopûera. - Ao vir eu, encontrei o que guardara. (Léry, Histoire, 375); Oîekûabokyba'eramape tekopuku ybakype semierekorama? - A vida eterna que eles terão no céu é a que mudará? (Ar., Cat., 47); erekoaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de ter, de fazer estar consigo, de cuidar, de tratar, de guardar, etc.; a posse, o ter, o trato, a guarda: Eîkuab abaré nde mongaraipápe nde rerekoagûera... - Conhece o modo pelo qual o padre te tratou ao te batizar. (Ar., Cat., 187); serekopyra - o que é tido, guardado, mantido, tratado, etc.: Emonã serekopyra rakó abá obasẽ-porang... - Assim tratada, certamente, uma pessoa chega bem. (Ar., Cat., 85v); -Na peamotare'ymipe oré rubixaba? -Erimã. Serekó-katupyre'ymetémo. -Não detestais nosso chefe? -Absolutamente. Ele não seria muito bem tratado (se o detestássemos). (Léry, Histoire, 353); Mba'epe aûîeramanhẽ serekopyrama ikó 'ara pupé? - Que é o que será mantido para sempre neste mundo? (Ar., Cat., 165)
asab (ou asá) (s) (v.tr. e intr.) - 1) cruzar, atravessar, trespassar (p.ex., com seta, um vau ou rio) (VLB, I, 47): Asasá-benhẽ. - Atravessei-o, sem mais (sem entrar nem pousar). A'y-asab. - Atravessei rios. (VLB, II, 67); Paranãgûasu rasapa,... asó tupi moangaîpapa... - Atravessando o oceano, fui para fazer pecar os tupis. (Anch., Teatro, 140); Asẽ amoĩ i xuí; n'aîeasabi pó-pytera... - Saí há pouco dele; nem me cruzei as palmas das mãos... (Anch., Teatro, 160); Îaîpó-asá-sá i py resébe, krusá sosé nhẽ xe îara moîá. - Trespassaram suas mãos juntamente com seus pés, sobre a cruz pregando meu senhor. (Anch., Poemas, 122); Ybaka rasapa osó, nde reîá... - Atravessando o céu foi, deixando-te. (Anch., Poemas, 124); 2) fazer riscos cruzados em, fazer a cruz em: Asé sybasab i pupé. - Faz a cruz em nossa testa com ele (isto é, com óleo). (Ar., Cat., 82v); 3) ultrapassar: Marangatuba'e, Santos, ybakype Tupã repîakaretá, osasá 'ara ro'y remierekó papasaba. - Os bem-aventurados e os santos no céu, que vêem a Deus, ultrapassam o número dos dias que o ano tem. (Ar., Cat., 135); 4) estar atravessado em (a coisa ou o lugar onde se está é o objeto); jazer atravessado em: Asasab pé gûitupa. - Estava atravessado no caminho. Aînĩ-asab. - Jazi atravessado na rede. (VLB, I, 47); 5) passar: Ké suí serã i asabi India tapyîtinga retãme... - Daqui, talvez, passou para a Índia, terra dos indianos. (Ar., Cat., 9v) ● asapaba (t) - tempo, lugar, modo, etc. de passar, de atravessar, de trespassar; passagem: Quarta-feira tanimbu-karaíba rasápe, îekuakupabusu Quaresma 'îaba nheypyrungi. - Ao passar a quarta-feira das cinzas sagradas, o grande jejum chamado Quaresma começa. (Ar., Cat., 122); 'Y-asapá-tyba - passagem costumeira de rio (VLB, II, 67); ybytu nde rasapápe - ao te trespassar o vento (Anch., Poemas, 130)
mombe'u (v.tr.) - 1) proclamar, anunciar: ...Tupã rekó mombegûabo. - Proclamando a lei de Deus. (Anch., Teatro, 8); 2) contar (p.ex., segredo): Abá angaîpá-nhemima i kuapare'yma supé mombegûabo. - Contando as maldades escondidas de alguém para quem não as conhece. (Ar., Cat., 73v); 3) acusar, denunciar, infamar, queixar-se de (VLB, II, 94): Nd'oromombe'uî xóne. - Não te denunciarei. (Anch., Teatro, 32); Marã e'ipe îudeus i xupé, i mombegûabo? - Que disseram os judeus, acusando-o? (Ar., Cat., 56); Xe kupébo xe mombe'u. - Infamam-me pelas costas. (Anch., Arte, 42v); 4) confessar: Eîmombe'u-katu Tupã ra'yramo nde rekó orébe. - Confessa bem a nós que és o filho de Deus. (Ar., Cat., 56); 5) citar, mencionar: Ereîmombe'upe abá rera... abaré supé? - Mencionaste o nome de alguém para o padre? (Ar., Cat., 108); Opá mendara moarûapaba aîmombe'u ymã... - Todos os impedimentos do casamento já mencionei. (Ar., Cat., 132); 6) determinar, orientar, mandar: Oîemombe'u-potá Santa Madre Igreja i mombe'u rupi. - Querendo confessar-se segundo o que determina a ele a Santa Madre Igreja. (Anch., Doutr. Cristã, I, 210); 7) descrever: Emombe'u nde retama ixébe. - Descreve tua terra para mim. (Léry, Histoire, 360); 8) narrar: Xe moory-katu îepé, inã tekó mombegûabo. - Tu me alegras muito, narrando assim os fatos. (Anch., Teatro, 14); 9) afirmar, declarar: Îaîmombe'u aîpó i momorangymbyra. - Afirmamos que isso é o que deve ser festejado. (Anch., Teatro, 6); 10) dar notícia de: Aîmombe'u (abá) supé. - Dou notícias dela para o homem. (VLB, II, 51, adapt.); 11) prometer (VLB, II, 87); 12) externar: Aîur-y bé xe roryba mombegûabo. - Vim de novo para externar minha alegria. (Anch., Poesias, 57) ● oîmombe'uba'e - o que conta, o que anuncia, o que confessa, etc.: Abá angaîpá-nhemima... oîmombe'uba'e. - O que conta os pecados escondidos de alguém. (Anch., Diál. da Fé, 215); mombegûara - o contador, o que conta, o que proclama, o proclamador, etc.: ...i nhe'enga mombegûara. - ...o que proclama suas palavras. (Ar., Cat., 154); mombegûaba - lugar, tempo, modo, instrumento, etc. de proclamar, de contar, de anunciar: ...Itaîuba morubixaba, Reiamo sekó mombegûaba... - O ouro era o meio de anunciar que ele era um príncipe, um rei... (Ar., Cat., 3-3v); i mombe'upyra - o que é (ou deve ser) contado, anunciado, etc.: I marangatu supi é i mombe'upyra rekóreme é... - Ele é bom quando o que é contado é mesmo verdade. (Ar., Cat., 67v); emimombe'u (t) - o que alguém conta, confessa, proclama, orienta, etc.: ...O emimombe'upûera o emikuakugûera irũmo bé i mombe'uîebyrine. - Todos os que confessou com os que escondeu voltará a confessar. (Ar., Cat., 90) (O gerúndio de mombe'u é mombegûabo.)
katu (s.) - o bem; coisa boa; bondade: …Opabĩ abá raûsubi i katurama resé. - A todos os homens ama para o bem deles. (Anch., Teatro, 158, 2006); A'e aé koba'e katu me'engara re'a... - É ele o que dá o bem desses. (Ar., Cat., 66); (adj.) - 1) bom; bondoso; bonançoso (fal. do mar) (VLB, I, 18): Xe katu. - Eu sou bom. (Fig., Arte, 67); ...Tupã amõ kunhãngatu monhangi. - Deus fez certa mulher bondosa. (Anch., Poemas, 86); (fal. de alimentos): I katu nhẽ, t'ere'u. - Estão bons; que os comas. (Anch., Poemas, 154); Abámo... mba'e-katu 'uagûera n'oîkuabi xûé...? - Quem não reconheceria ter comido algo bom? (Ar., Cat., 88v); Xe katupe ká... - Hei de ser bom. (Anch., Teatro, 38); 2) grande, muito: Nde porãngatu raûsupa... - Amando tua grande beleza. (Anch., Poemas, 84); ...tubixá-katu Aîmbiré - o grande chefe Aimbirê (Anch., Teatro, 8); Aîerekoaibeté xe angaîpá-katu suí. - Piorei muito de meu grande mal. (VLB, I, 112); 3) direito (fal. de tronco de árvore) (VLB, I, 103); 4) limpo (VLB, II, 22); 5) airoso: Xe katu. - Eu sou airoso. (VLB, I, 28); 6) polido (VLB, II, 80); 7) delicado (Marcgrave, Hist. Nat. Bras., 276); (adv.) - 1) muito, bem, largamente (VLB, II, 18): Nde py'ape-katupe aîpó eré? - Bem no teu coração disseste isso? (Ar., Cat., 102); Turusu-katupe a'e cruz erimba'e? - Era muito grande aquela cruz? (Ar., Cat., 61v); Aîemĩngatu... - Escondo-me bem. (Anch., Teatro, 32); Abá 'anga mara'ara i pupé opûeîrá-katu... - As doenças da alma do homem com ele saram bem. (Anch., Teatro, 38); 2) exatamente, perfeitamente, precisamente: Îaîpe'a nhẽmope i xuí a'e roîré katu...? - Apartá-lo-íamos dele precisamente depois disso? (Ar., Cat., 96); -Mbobype tekoangaîpaba oîoaname'yma? -Mosapyr katu... -Quantos são os gêneros de pecados? -Três, exatamente. (Bettendorff, Compêndio, 70); 3) por inteiro, inteiramente (VLB, II, 13); completamente: Xe resaraî-te-katu. - Mas eu me esqueci completamente. (Anch., Teatro, 178, 2006); 4) nomeadamente, particularmente: Nde katu nde renõî. - Ele te chama particularmente. (VLB, II, 50); 5) de fato: Xe syramongatu t'oîkó .... - Que seja minha mãe, de fato. (Anch., Poemas, 86) ● i katu! (ou i katu-eté!) - muito bem! (Fig., Arte, 136)
Dicionário por Eduardo de Almeida Navarro